Faroeste Caboclo e a universalidade da história

Yann Rodrigues
Revista Subjetiva
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14 min readFeb 6, 2018

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Um dos conceitos mais importantes e básicos de se estudar roteiros é esquecer das fórmulas. Toda dica para iniciantes dirá: esqueça das fórmulas; guarde os termos técnicos para depois; deixe a câmera para a direção.

Essas são dicas cruciais para um início de estudo de roteiros. É crucial também, no entanto, lembrar de um passo anterior. O roteiro é só mais uma das muitas formas de se contar uma história. Quem estuda roteiros, necessariamente, estuda a arte de contar histórias.

Antes de sinopses, argumentos e loglines, veio muita coisa. Dos haikais e poemas aos romances, da dança à pintura, cada forma de arte tem em sua concepção uma história. Histórias tornam o mundo inteligível. Portanto, são um elemento básico da expressão humana.

Não é diferente na música. Nunca entendi porque Djavan não é citado entre os maiores contadores de histórias do Brasil. É só escutar Correnteza. Tenho dificuldade de pensar em um clássico da música que não seja uma história. Seja em primeira pessoa, como Feeling Good de Nina Simone, Like a Virgin de Madonna ou Yesterday dos Beatles. Contada visualmente, com tantas descrições concretas, como Águas de Março na voz de Elis Regina ou na verdade crua de Minha Alma d’O Rappa.

Pode ser uma série antológica feita por Michael Jackson, o rei do pop, em basicamente qualquer música. Thriller e Billie Jean não são só super batidas e super coreografias. São histórias marcantes. O que falar de Bohemian Rhapsody?

É por isso que olhei um dia pro Além do Roteiro — o que significa que olhei para um painel de controle do site, emocionante — e lembrei: aqui tem recomendações de artistas e álbuns, como o conceito BE, de Pain of Salvation (uma história foda); também tem análises de histórias a torto e a direito.

Por que diabos não tinha uma análise da história em uma música?

É claro que esse exercício só podia rolar com Faroeste Caboclo.

O primeiro ponto interessante é a própria alcunha do protagonista. João é o nome de basicamente todo brasileiro, como Maria é de toda brasileira. É o nome da identificação, da coletividade. “de Santo Cristo” é o artifício para dar singularidade à João, seja via sobrenome ou embutindo a geografia na alcunha do rapaz. Conseguimos enxergar João como uma pessoa, ao mesmo tempo em que conseguimos, qualquer pessoa brasileira, nos identificar com ele.

Vamos ver aqui a letra da música de Legião Urbana como se lêssemos o roteiro de um filme que conhecemos. Entendendo onde estão os eventos da história, onde a musicalidade adiciona camadas à narrativa. O vídeo da música é seguido da letra analisada. Dá o play aqui ou aí no seu Spotify e vamo simbora com João de Santo Cristo, nosso protagonista.

ATO UM

Não tinha medo o tal João de Santo Cristo

Era o que todos diziam quando ele se perdeu

Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda

Só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu

Quando criança só pensava em ser bandido

Ainda mais quando com um tiro de soldado o pai morreu

Era o terror da sertania onde morava

E na escola até o professor com ele aprendeu

O primeiro Ato começa com a típica apresentação do protagonista e seu ambiente, requisito quase obrigatório em uma história biográfica do nascimento à morte.

Mesmo Legião sendo uma banda de rock, um triângulo será usado a partir do próximo bloco da música, o que ajuda a ambientar o cenário do sertão nordestino. No caso, o interior da Bahia. O foco no uso de violões compõe o clima de faroeste desde o início da música.

Voltando para os eventos, aprendemos sobre o assassinato do pai de João. Esse acontecimento é o incidente incitante. Tira o equilíbrio da vida do garoto, gera nele a necessidade de ir contra o sistema. Ele não confia no sistema. Esse é seu “fantasma”. Fica forte desde o início o conflito extrapessoal, aquele em que o protagonista enfrenta elementos sistêmicos, instituições, valores sociais.

Ia pra igreja só pra roubar o dinheiro

Que as velhinhas colocavam na caixinha do altar

Sentia mesmo que era mesmo diferente

Sentia que aquilo ali não era o seu lugar

Ele queria sair para ver o mar

E as coisas que ele via na televisão

Juntou dinheiro para poder viajar

De escolha própria, escolheu a solidão

Aqui a história estabelece os objetos de desejo de João. Ele junta dinheiro para viajar conscientemente. No fundo, no desejo inconsciente, ele quer ir para longe daquele lugar onde seu pai morreu, onde só conheceu dor. É sua resposta para o incidente incitante.

Comia todas as menininhas da cidade

De tanto brincar de médico, aos doze era professor

Aos quinze, foi mandado pro reformatório

Onde aumentou seu ódio diante de tanto terror

No reformatório, ele encara o sistema novamente, após ter encarado pela primeira vez na morte do pai.

É nesse momento que virá a primeira batida da bateria na música, o que reforça o impacto desse acontecimento. A angústia de João cresce, como mostra a próxima estrofe, que referencia o sistema na discriminação.

Não entendia como a vida funcionava

Discriminação por causa da sua classe e sua cor

Ficou cansado de tentar achar resposta

E comprou uma passagem, foi direto a Salvador

João cumpre aqui seu propósito inicial. Segue em direção ao mar, saindo do interior. Aqui, ele cumpre seu objeto de desejo consciente inicial. Não será suficiente para seus desejos mais profundos, no entanto.

Repare onde a batida da bateria toca na estrofe anterior: entendia; cor; resposta.

A primeira batida é no início da frase, me “entendia”. Ficamos esperando por uma batida no início da próxima frase, mas ela não vem. Ocorre apenas em “cor”. Depois, acontece em “resposta”, criando um novo padrão aparente na próxima frase. Para, no último verso, não haver batida. Isso mostra que a batida não está ali apenas para uma rima sonora. Ela serve ao propósito narrativo da letra, intensificando as palavras mais importantes. “Entendia” evidencia o conflito interno de João. “Cor” e “resposta” evidenciam o conflito extra-pessoal que alimenta o conflito interno.

E lá chegando foi tomar um cafezinho

E encontrou um boiadeiro com quem foi falar

E o boiadeiro tinha uma passagem e ia perder a viagem

Mas João foi lhe salvar

Aqui, a batida já segue de maneira mais rimada nos compassos da música. O que também dá um senso de ordem, diferente de quando João ainda não estava em Salvador e se sentia em caos, sem entender como a vida funcionava. Agora, ele pelo menos está em movimento.

Dizia ele “estou indo pra Brasília

Neste país lugar melhor não há

“Tô precisando visitar a minha filha

Eu fico aqui e você vai no meu lugar”

O clímax do primeiro Ato chega, momento que muda a direção de João completamente. Como todo clímax, a melodia se intensifica.

Na chegada em Brasília, terra do rock brasileiro, a primeira nota de guitarra será tocada.

ATO DOIS

E João aceitou sua proposta

E num ônibus entrou no Planalto Central

Ele ficou bestificado com a cidade

Saindo da rodoviária, viu as luzes de Natal

Repare que o triângulo não foi embora. Ele permanecerá um tempo, enquanto João ainda carregar muito de sua vida do interior consigo.

Meu Deus, mas que cidade linda

No Ano Novo eu começo a trabalhar

Cortar madeira, aprendiz de carpinteiro

Ganhava cem mil por mês em Taguatinga

A voz de Renato e o dedilhado de um dos violões fortalecem esse momento positivo de João. Em toda a história, talvez seja o momento mais sonhador do rapaz, assumindo um emprego formal e humilde na cidade grande.

Na sexta-feira ia pra zona da cidade

Gastar todo o seu dinheiro de rapaz trabalhador

E conhecia muita gente interessante

Até um neto bastardo do seu bisavô

Um peruano que vivia na Bolívia

E muitas coisas trazia de lá

Seu nome era Pablo e ele dizia

Que um negócio ele ia começar

Logo após a apresentação de Pablo, a oscilação volta à vida de João. Não por causa de Pablo diretamente, mas porque a rotina de seu trabalho é dura, ele vive na pobreza. Pablo se torna aqui um conflito e uma oportunidade, por exemplificar alguém com melhores condições, mas que vive fora da lei.

E o Santo Cristo até a morte trabalhava

Mas o dinheiro não dava pra ele se alimentar

E ouvia às sete horas o noticiário

Que sempre dizia que o seu ministro ia ajudar

Mais uma vez o sistema prendendo João. Na vida adulta, as falsas promessas, as obrigações para sobrevivência, cumprem papeis semelhantes aos dos obstáculos da infância no interior.

Esse conflito com o sistema traz à tona a necessidade inconsciente do protagonista de ir contra o mesmo. O meio para tal? Pablo. Ele toma a decisão de se tornar traficante.

Mas ele não queria mais conversa

E decidiu que, como Pablo, ele ia se virar

Elaborou mais uma vez seu plano santo

E sem ser crucificado, a plantação foi começar

As referências da música a Jesus Cristo não ficam só na alcunha de João. Temos aqui o “plano santo” e a alegoria do crucifixo. É natural que ele não tenha sido crucificado em uma atividade basicamente escondida. O que contrasta fortemente com o final da música, que todos conhecemos, mas um passo de cada vez.

Com o tráfico na rotina, o Reggae tem um breve momento para a ambientação. É aqui que o triângulo cessa, para nunca mais voltar. João está se transformando; passou de um limiar sem volta.

Logo logo os maluco da cidade souberam da novidade

“Tem bagulho bom ai!”

E João de Santo Cristo ficou rico

E acabou com todos os traficantes dali

O apogeu do tráfico, sua vitória pessoal sobre o sistema.

Fez amigos, frequentava a Asa Norte

E ia pra festa de rock, pra se libertar

Mas de repente Sob uma má influência dos boyzinho da cidade

Começou a roubar

As atrações para a queda. Precedendo esse momento, a bateria ganhará força pela primeira vez. O rock começa a crescer, João começa a cair.

Já no primeiro roubo ele dançou

E pro inferno ele foi pela primeira vez

Violência e estupro do seu corpo

Vocês vão ver, eu vou pegar vocês

O segundo bloco da história começa com um João sonhador, encantado com as “luzes de natal”. O encantamento o faz tentar viver dentro do sistema, o que ele considera impossível. Então ele cresce pela margem, superando seu arqui-inimigo. Até ser quebrado por ele.

ATO TRÊS

O rock pesado do fundo do poço.

Agora o Santo Cristo era bandido

Destemido e temido no Distrito Federal

Não tinha nenhum medo de polícia

Capitão ou traficante, playboy ou general

Aqui fica clara uma grande diferença da música para um filme. Uma estrofe entrega completamente uma ideia que poderia durar uma hora no cinema. João sai da prisão, porém, sai em conflito maior com o sistema do que antes. Capitão, traficante, esteja dentro do jogo ou à margem, nada era temor para o protagonista. Todos se tornaram seus inimigos.

Com a mensagem entregue, a melodia se torna suave para representar a mudança causada por Maria Lúcia, o grande amor.

Foi quando conheceu uma menina

E de todos os seus pecados ele se arrependeu

Maria Lúcia era uma menina linda

E o coração dele pra ela o Santo Cristo prometeu

Maria Lúcia se torna a motivação, a esperança, que João pouco tivera na vida. Ele cresceu revoltado pela perda do pai, querendo sair do lugar que o fez sofrer desde cedo. Chegando em Brasília, tenta uma vida nova, mas a esperança que a cidade dá não é suficiente. Ele acaba voltando para a revolta. A menina linda é a segunda esperança, como um segundo teste para João voltar a jogar dentro do sistema.

Ele dizia que queria se casar

E carpinteiro ele voltou a ser

Maria Lúcia pra sempre vou te amar

E um filho com você eu quero ter

Esse terceiro ato funciona como um curto epílogo. A primeira metade da história de João, que começou tão obscura, termina com um tom de esperança.

ATO QUATRO

A letra para, dando espaço a um interlúdio na melodia que ajuda a dividir os eventos da história. A vida de João se estabilizou. Um novo evento precisa puxá-lo, quase como se fosse um novo incidente incitante.

O que seria esse evento? O próprio sistema tentando corrompê-lo após sua estabilização

O tempo passa e um dia vem na porta

Um senhor de alta classe com dinheiro na mão

E ele faz uma proposta indecorosa

E diz que espera uma resposta, uma resposta do João

A música é direta em associar o sistema à elite. “Capitão”, “general”, “seu ministro”, “senhor de alta classe”, “general de dez estrelas”.

Não boto bomba em banca de jornal

Nem em colégio de criança isso eu não faço não

E não protejo general de dez estrelas

Que fica atrás da mesa com o cu na mão

Guitarra, bateria e voz, tudo se intensifica quando o conflito entre João e o sistema se torna mais concreto.

E é melhor senhor sair da minha casa

Nunca brinque com um Peixes de ascendente Escorpião”

Mas antes de sair, com ódio no olhar, o velho disse

“Você perdeu sua vida, meu irmão”

A melodia muda para destacar que a cena do conflito com o senhor de alta classe acabou, começando uma reflexão, portanto, um conflito interno.

“Você perdeu a sua vida meu irmão

Você perdeu a sua vida meu irmão

Essas palavras vão entrar no coração

Eu vou sofrer as consequências como um cão”

O sistema tentou corrompê-lo. Ele negou a tentativa. Contudo, isso não apaga a opressão que ele sente por sua pobreza, sua cor. Como se não fosse suficiente, o sistema o deixou sem alternativa, tirando seu emprego.

Não é que o Santo Cristo estava certo

Seu futuro era incerto e ele não foi trabalhar

Se embebedou e no meio da bebedeira

Descobriu que tinha outro trabalhando em seu lugar

A incerteza do contexto de João muda o toque da bateria, que assume outro ritmo nas batidas, até mais “improvisada”, como João precisa fazer.

Falou com Pablo que queria um parceiro

E também tinha dinheiro e queria se armar

Pablo trazia o contrabando da Bolívia

E Santo Cristo revendia em Planaltina

João passa a encarar o sistema na posição marginal novamente, como traficante. A segunda esperança cessou, ele teve nova transformação em sua vida.

ATO CINCO

Mas acontece que um tal de Jeremias

Traficante de renome, apareceu por lá

Ficou sabendo dos planos de Santo Cristo

E decidiu que, com João ele ia acabar

Agora que João foi pela segunda vez para o tráfico, como que assumindo ser essa sua melhor atividade profissional, um conflito pessoal mais forte surge pela primeira vez na música, dentro do ramo. Jeremias adiciona uma nova camada de conflitos que o sistema sozinho não era capaz de fornecer. Um nêmesis que exemplifica o perigo de caminhar por um ramo violento, à margem do sistema.

Mas Pablo trouxe uma Winchester-22

E Santo Cristo já sabia atirar

E decidiu usar a arma só depois

Que Jeremias começasse a brigar

“E decidiu usar a arma só depois”… essa é uma frase que sempre me deixou curioso quando escutava a música. Com os olhos de roteiro, o que fica claro é a construção do protagonista. João pode estar no tráfico ou mesmo ser um traficante. Pode ter sido revoltado toda a vida. Mas ele não é naturalmente violento. Sempre que pôde, ele estabilizou sua vida. Foi muito mais vítima da violência do que violento, exceto quando o ambiente o pressionou demais.

Sua decisão de usar a arma só depois revela seu caráter. Contrasta-o ainda mais com Jeremias, revelado na estrofe seguinte.

Jeremias, maconheiro sem-vergonha

Organizou a Rockonha e fez todo mundo dançar

Desvirginava mocinhas inocentes

Se dizia que era crente mas não sabia rezar

E Santo Cristo há muito não ia pra casa

E a saudade começou a apertar

Eu vou me embora, eu vou ver Maria Lúcia

Já ‘tá em tempo de a gente se casar

Além de perigos como enfrentar pessoas como Jeremias, outra dura consequência que João carrega por seu embate com o sistema é a distância de tudo que representava sua vida estável.

Chegando em casa então ele chorou

E pro inferno ele foi pela segunda vez

Com Maria Lúcia Jeremias se casou

E um filho nela ele fez

O fim do ato dois deixou João no fundo do poço, “pro inferno ele foi pela primeira vez”. Na segunda metade da história, o quinto arco mostra o mesmo fato por outros eventos. Esse é um elemento da própria estrutura dessa história que revela seu tema. O sofrimento é frequente, rotineiro, cíclico. A história de João é a história de um sofrimento incessante que dá folgas, no máximo.

ATO SEIS

Santo Cristo era só ódio por dentro

E então o Jeremias pra um duelo ele chamou

Amanhã às duas horas na Ceilândia

Em frente ao Lote 14, é pra lá que eu vou

Lembra do “sem ser crucificado?”. Agora, o conflito de João se torna público.

E você pode escolher as suas armas

Que eu acabo mesmo com você, seu porco traidor

E mato também Maria Lúcia

Aquela menina falsa pra quem jurei o meu amor

Outro ponto interessante. O primeiro inferno cessou rapidamente na letra, quando João conheceu Maria Lúcia. No segundo inferno, a consequência dura daqui até praticamente o final da música. João perde o chão, qualquer fio de esperança. O caos toma conta.

E o Santo Cristo não sabia o que fazer

Quando viu o repórter da televisão

Que deu notícia do duelo na TV

Dizendo a hora e o local e a razão

A ironia de lutar contra o sistema é a facilidade com que esse lucra com aqueles que sofrem por ele ou o desprezam. João seria o combustível da audiência.

No sábado então, às duas horas

Todo o povo sem demora foi lá só para assistir

Um homem que atirava pelas costas

E acertou o Santo Cristo, começou a sorrir

Mesmo com todo o ódio por dentro, João manteve valores intactos e distintos dos de Jeremias. Ele não era pessoa de atirar pelas costas.

Sentindo o sangue na garganta

João olhou pras bandeirinhas e pro povo a aplaudir

E olhou pro sorveteiro e pras câmeras e

A gente da TV que filmava tudo ali

A história de João tem desfecho de tragédia. O sistema filma, assiste em primeira mão, a queda do garoto que sentira revolta pela primeira vez quando viu o pai ser assassinado por um soldado.

E se lembrou de quando era uma criança

E de tudo o que vivera até ali

E decidiu entrar de vez naquela dança

Se a via-crucis virou circo, estou aqui

A “via-crucis” completando a comparação com “sem ser crucificado” de antes, em nova referência a Jesus.

E nisso o sol cegou seus olhos

E então Maria Lúcia ele reconheceu

Ela trazia a Winchester-22

A arma que seu primo Pablo lhe deu

Maria Lúcia, causa da esperança mais forte de João e de sua queda mais grave, se torna aqui o elemento que une os pedaços de Santo Cristo. Mesmo que seja apenas para finalizar o duelo, João aceita seu destino, aceita quem é, quando a vê voltar.

Jeremias, eu sou homem. coisa que você não é

E não atiro pelas costas não

Olha pra cá filha da puta, sem-vergonha

Dá uma olhada no meu sangue e vem sentir o teu perdão

E Santo Cristo com a Winchester-22

Deu cinco tiros no bandido traidor

Maria Lúcia se arrependeu depois

E morreu junto com João, seu protetor

E o povo declarava que João de Santo Cristo

Era santo porque sabia morrer

E a alta burguesia da cidade

Não acreditou na história que eles viram na TV

E João não conseguiu o que queria

Quando veio pra Brasília, com o diabo ter

Ele queria era falar pro presidente

Pra ajudar toda essa gente que só faz

Sofreeeeeeeeeeeer

Na última palavra, a música entrega e reforça seu tema. João queria falar com o presidente para ajudar toda essa gente, em uma analogia dentro do Cristianismo ao sacrifício que Jesus fez para salvar a humanidade do pecado.

João foi com o diabo ter para salvar a si e, subjetivamente, o povo, de seu sofrimento. Ele representa todo brasileiro. O sistema o quebrou, quebrou, quebrou e ele continuou sofrendo e sofrendo a vida toda. Tal qual o povo.

No fim, a “alta burguesia da cidade”, a elite, não acredita na história que vê na TV. Mesmo com um sofrimento tão forte e duradouro, o povo ainda encanta, surpreende o sistema, por sua capacidade de perdurar. De saber morrer. Como João de Santo Cristo.

Esse texto foi publicado originalmente no meu site, o Além do Roteiro. Se você gosta desse tipo de análises, te convido a conhecer!

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Yann Rodrigues
Revista Subjetiva

Roteirista, editor do Além do Roteiro, podcaster no Homem Também Chora, presente na Revista Subjetiva. Acesse: http://alemdoroteiro.com