Por Memória Globo

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ancora_1O Katrina começou como uma tempestade tropical que se formou sobre as Bahamas. Após cruzar o sul da Flórida (EUA) como categoria 1 na escala Saffir-Simpson de furacões, ganhou força no Golfo do México e se transformou em categoria 5, a mais alta.

Na manhã de 29 de agosto de 2005, o furacão alcançou os estados de Louisiana, Mississipi e Alabama, ao sul dos Estados Unidos. A região metropolitana de Nova Orleans foi a mais atingida, onde mais de um milhão de pessoas deixaram suas casas. Os ventos, que chegaram a 280 quilômetros por hora, deixaram cerca de mil mortos e causaram enormes prejuízos.

Reportagem dos correspondentes Luís Fernando Silva Pinto e Lúcio Rodrigues sobre o resgate de uma família em Louisiana, região arrasada pelo furacão Katrina, Jornal Nacional, 02/09/2005.

Reportagem dos correspondentes Luís Fernando Silva Pinto e Lúcio Rodrigues sobre o resgate de uma família em Louisiana, região arrasada pelo furacão Katrina, Jornal Nacional, 02/09/2005.

EQUIPE E ESTRUTURA

A correspondente da Globo, Graziela Azevedo, percorreu cidades do México e da Flórida (EUA) para cobrir a chegada do furacão. Heloísa Villela e Jorge Pontual, correspondentes nos Estados Unidos, repercutiram a tragédia, levando notícias de Nova York.

Luís Fernando Silva Pinto, correspondente em Washington, e o repórter cinematográfico Lucio Rodrigues permaneceram mais de uma semana na região afetada pelo Katrina, produzindo matérias exclusivas para todos os telejornais da Globo.

Foi difícil chegar à cidade de Nova Orleans, estava toda cercada. Muitas vezes, eu e o Lúcio saíamos do hotel, produzíamos a matéria e depois íamos buscar um caminhão de transmissão”
— Luís Fernando Silva Pinto

A CHEGADA DO FURACÃO

No Jornal Nacional de 26 de agosto foi noticiado por William Bonner e Fátima Bernardes que o Katrina havia deixado sete mortos e cinco desaparecidos em sua passagem moderada pelo sul da Flórida.

“Dois milhões e meio de moradores ficaram sem energia elétrica. O vento chegou a 120 quilômetros por hora. Depois, em direção ao Golfo do México, Katrina se transformou em furacão. A expectativa é que fique ainda mais forte e retorne à Flórida na segunda-feira. Desta vez, na costa noroeste”, anunciaram os apresentadores.

No Jornal Hoje do dia seguinte, o apresentador Evaristo Costa noticiou, ao exibir imagens de ruas alagadas, árvores arrancadas e casas destelhadas, que o furacão já se encaminhava à Flórida. No JN, foi ao ar uma matéria da repórter Graziela Azevedo sobre a chegada da tempestade ao Golfo do México. No domingo, 28, também foi veiculada uma reportagem da jornalista sobre o pronunciamento feito pelo então presidente George W. Bush, pedindo que os moradores das cidades atingidas se abrigassem em locais seguros.

O Jornal Nacional da segunda-feira, dia 29, trouxe uma nova matéria de Graziela Azevedo, desta vez sobre a chegada do furacão aos estados de Louisiana, Alabama e Mississipi. Em Nova Orleans, maior cidade da Louisiana, as ruas estavam inundadas, e as pessoas não haviam conseguido evacuar a cidade. Quase dez mil residentes estavam abrigados no Estádio Superdome, uma arena que já havia servido de refúgio em outras ocasiões. A matéria incluiu, ainda, dados sobre os dois piores furacões das últimas décadas nos Estados Unidos: o Andrew, na Flórida, em 1992; e o Betsy, em Nova Orleans, em 1969.

PRODUÇÃO DE PETRÓLEO NO GOLFO DO MÉXICO

A repórter Graziela Azevedo informou no Jornal Nacional de 30 de agosto que o Katrina havia prejudicado a produção de petróleo no Golfo do México, provocando alta nos preços. O governo norte-americano estudava a possibilidade de usar suas reservas para segurar o valor do barril. Fátima Bernardes abriu o JN anunciando: “Empresas de seguro dos Estados Unidos estimam em até vinte e seis bilhões de dólares os prejuízos deixados pelo furacão Katrina. Se este número se confirmar, terá sido um recorde na história americana.”

No Jornal Hoje do dia seguinte, Graziela Azevedo informou que o barril havia atingido uma alta recorde.

Conforme reportou Heloisa Villela no Jornal da Globo, a situação em Nova Orleans era tão crítica que, além dos bairros dominados pela água, os moradores estavam saqueando supermercados e criando uma onda de violência. O teto do Superdome, abrigo onde já se encontravam quase dez mil desabrigados, havia sofrido danos, e as pessoas precisavam ser retiradas para cidades vizinhas – mas as estradas estavam inundadas.

No Jornal Hoje do dia 30, Graziela Azevedo mostrou, do estúdio de Nova York, imagens da destruição em Nova Orleans. Além da ventania, do temporal e dos destroços, havia incêndios. No Jornal Nacional, imagens dos estados do Mississippi e do Alabama ilustraram a dimensão da tragédia. “Mais de oitenta pessoas morreram na passagem do furacão Katrina pelo estado americano do Mississippi. E esse número ainda deve crescer. Em Nova Orleans, na Louisiana, o rompimento de pelo menos três diques de proteção deixou a cidade praticamente submersa”, contou Graziela.

Correspondentes da Globo no Golfo do México

O Jornal Nacional de 31 de agosto informou que já devia chegar aos milhares o número de mortos na passagem do furacão Katrina pela costa sul dos Estados Unidos. Segundo reportagem dos enviados especiais à região do Golfo do México, Luís Fernando Silva Pinto e Lucio Rodrigues, o prefeito de Nova Orleans estimava que os moradores só poderiam voltar para casa depois de quarto meses.

Essa foi uma tragédia anunciada, estava todo mundo dizendo que ia acontecer, que o Katrina ia ter uma força enorme. Combinei com a direção do Brasil, com Carlos Henrique Schroder (então diretor-geral da Central Globo de Jornalismo) e Ali Kamel (na época diretor executivo de Jornalismo), que a equipe estaria pronta para viajar a qualquer momento.
— César Seabra | então coordenador do escritório da Globo em Nova York

As matérias que foram ao ar naquele dia no JN e no Jornal Globo, diretamente de Bilox, cidade ao norte de Nova Orleans, traziam o pedido da governadora do estado da Louisiana, Kathleen Blanco, para que a população abandonasse a cidade. Ela explicou que Nova Orleans localizava-se abaixo do nível do mar, cercada pelo Rio Mississipi e por lagos, e com muitos diques e canais. Luís Fernando Silva Pinto entrevistou um morador que testemunhou a inundação repentina de Nova Orleans. “Foi tudo tão depressa, em meia hora a água tomou conta de tudo”, disse.

EQUIPE CHEGA À NOVA ORLEANS

“O Jornal Nacional entra na terra arrasada. Depois da passagem do furacão, depois do rompimento de diques, o estado da Louisiana enfrenta um incêndio num depósito de produtos químicos. Um vazamento de petróleo provoca mais um desastre ambiental e os nossos repórteres mostram o pedido de socorro da população”, anunciou William Bonner no início do JN do dia 2 de setembro. “Quatro dias depois da passagem pelo sul dos Estados Unidos, a memória do furacão Katrina ainda assombra milhões de americanos. A herança que ele deixou você vai ver agora na reportagem dos enviados especiais Luís Fernando Silva Pinto e Lucio Rodrigues. Nesta sexta-feira, eles chegaram a Nova Orleans. A cidade mais atingida pelo desastre, chamada de capital mundial do jazz, é uma terra de desesperados, e sem lei”, completou Fátima Bernardes.

No dia 2 de setembro, o Jornal Nacional começou com o anúncio de que a equipe da Globo havia chegado a Nova Orleans, região que fora arrasada pelo furacão Katrina. Foi, então, ao ar uma emocionante matéria dos correspondentes Luís Fernando Silva Pinto e Lucio Rodrigues sobre o resgate de uma família. O repórter relembra: “Eu estava entrevistando uma senhora, de repente ela falou assim: ‘Queria pegar a minha família’. E eu perguntei: ‘Onde está a sua família?’ ‘A minha família está ali’ Chegamos lá, estava o pai, a mãe e o irmão, que tinha problemas de saúde. Alugamos um barquinho, botamos todos dentro, até os cachorros. E, quando percebemos, tínhamos uma matéria que jamais podíamos imaginar, porque não fomos lá buscar uma história, fomos resgatar alguém. Mas acabamos tendo uma cobertura em todos os aspectos: informação, emoção e o trabalho perfeito do Lucio”.

Na sexta-feira, o governo americano intensificou a retirada de moradores da cidade. “Foi aquele caos que realmente ninguém nunca tinha visto, que revelou ao mundo a pobreza nos Estados Unidos, aquelas imagens chocantes”, comenta César Seabra.

O correspondente Jorge Pontual entrou ao vivo de Nova York dizendo que a demora no socorro às vítimas do furacão vinha gerando muitas críticas. Um dos principais jornais norte-americanos trazia a manchete: “EUA da vergonha”. A ação do presidente George W. Bush estava sendo contestada por políticos do próprio Partido Republicando.

FURACÃO COM NOME DE MULHER

No Fantástico de 4 de setembro, os correspondentes Luís Fernando Silva Pinto e Lucio Rodrigues relataram o que haviam visto durante os cinco dias em que estavam na região atingida pelo furacão. Eles haviam começado a cobertura pelo estado do Alabama, seguindo pelo Mississipi. Os habitantes da região reclamaram que o governo americano concentrava os esforços na Louisiana. No segundo dia de viagem, os jornalistas não conseguiram entrar em Nova Orleans por causa das obstruções nas estradas. Percorreram 60 quilômetros de estadas vicinais e testemunharam que todas as cidades por onde passaram haviam sofrido estragos causados pelo vento e pelas águas. No terceiro dia, quando conseguiram acessar Nova Orleans, os correspondentes se depararam com um cenário desolador. No dia seguinte, a situação já era diferente, por causa das equipes de resgate, como comentou Luís Fernando: “Cenas que no dia anterior lembravam a África, agora lembram as operações militares no Afeganistão”. Em seguida, o repórter Jorge Pontual trouxe as últimas informações sobre a onda de violência que assolava a cidade após tragédia, diretamente de Nova York.

O apresentador Cid Moreira explicou as diferenças entre furacão, tufão e ciclone. Também falou sobre a origem dos nomes dos furacões e tempestades tropicais. O primeiro fenômeno do ano sempre ganha um nome que começa com a letra A. Daí em diante, os nomes são, alternadamente, masculinos e femininos. Por exemplo, depois do furacão Katrina, houve a tempestade tropical Lee, nome masculino com a letra seguinte do alfabeto.

Os repórteres Luís Fernando Silva Pinto e Lúcio Rodrigues relatam o que viram durante os cinco dias em que estavam na região atingida pelo furacão Katrina, Fantástico, 04/09/2005.

Os repórteres Luís Fernando Silva Pinto e Lúcio Rodrigues relatam o que viram durante os cinco dias em que estavam na região atingida pelo furacão Katrina, Fantástico, 04/09/2005.

AJUDA ÀS VÍTIMAS E ESTRAGOS

No dia 6 de setembro, o Jornal Nacional noticiou que dez estados americanos estavam em situação de emergência. “O presidente americano anunciou que vai coordenar pessoalmente as investigações para apontar responsáveis pela demora na ajuda às vítimas do furacão”, anunciou William Bonner. “Os moradores que fugiram do furacão Katrina, e agora estão voltando, encontram uma comunidade que virou uma pilha de detritos”, disse Luís Fernando Silva Pinto. O Itamaraty informou que recebera 93 pedidos de localização de brasileiros nas áreas atingidas, dos quais 71 foram encontrados.

A cobertura sobre os estragos causados pelo Katrina seguiu nos telejornais de rede durante toda a semana, com diversas matérias dos correspondentes. O prejuízo calculado pelos especialistas já ultrapassava os cem bilhões de dólares. A rede norte-americana CNN informou que cinco pessoas haviam morrido de cólera em Nova Orleans, por causa das águas paradas.

A correspondente Graziela Azevedo mostrou pessoas que estavam tentando refazer a vida após terem suas casas destruídas pelo furacão. No Bom Dia Brasil do dia 14 de setembro, Heloisa Villela disse, de Nova York, que, apesar de ainda estar 40% debaixo d´água, Nova Orleans começava a se reerguer: já havia sido restabelecida a luz em alguns pontos, e o aeroporto tinha reaberto. No JN do dia 16 de setembro, Luís Fernando Silva Pinto, já de volta a Washington, informou que chegava a 816 o número de mortos.

“Parece Bagdá, mas é Nova Orleans, sob ordem de desocupação total. Quem resiste armado pode acabar algemado e preso. A retirada de moradores avança, e Nova Orleans vai ficando vazia. Debaixo das críticas pela demora em socorrer as vítimas do furacão Katrina, o governo americano substituiu, hoje, o responsável pelos trabalhos de resgate e de recuperação da área do desastre. E a busca por sobreviventes foi encerrada”, informou o correspondente Luís Fernando Silva Pinto no dia 9 de setembro, no Jornal Nacional.

FONTES

Depoimentos concedidos ao Memória Globo por: Luís Fernando Silva Pinto (26/03/2010), César Seabra (23/05/2011); Bom Dia Brasil (23/08/2005 a 20/09/2005); Fantástico (23/08/2005 a 20/09/2005); Jornal da Globo (23/08/2005 a 20/09/2005); Jornal Hoje (23/08/2005 a 20/09/2005); Jornal Nacional (23/08/2005 a 20/09/2005).
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