‘Apagão sexual’: entenda por que a geração Z faz menos sexo que as anteriores

De acordo com especialista, jovens da geração Z apostam mais em relações honestas e transparentes, baseadas mais no afeto

A geração Z, que inclui os nascidos entre 1996 e 2010, está fazendo menos sexo. A mudança de comportamento entre as duas gerações reflete, por exemplo, em uma pesquisa feita em 2019 pelo Instituto Datafolha com 1.800 homens. Na época, 24% deles tinham entre 18 a 24 anos e não tinham tido relações sexuais nos últimos anos.

Geração Z, que inclui os nascidos entre 1996 e 2010, está fazendo menos sexo – Foto: PexelsGeração Z, que inclui os nascidos entre 1996 e 2010, está fazendo menos sexo – Foto: Pexels

A realidade é vivida, por exemplo, por Lucas*, paraibano de 18 anos que vê o sexo como algo “extremamente íntimo e único”, e por isso, ainda é virgem. Ele revela que deseja encontrar alguém que o “entenda por completo e que também não veja o sexo como algo simples e até mesmo casual”.

Mesmo com a pressão social e as críticas recebidas por esperar, Lucas revela que não se sente diminuído pela escolha e que também não possui pressa em encontrar alguém. Ele se considera um livro aberto quando a conversa envolve sexo.

“Deixei o tempo me trazer as pessoas que vou conhecendo. Não me importo em encontrar alguém mais tarde”, afirma.

Já Ana*, de 20 anos, que também é da comunidade LGBTQIA+, passou por dois relacionamentos e atualmente está solteira. Foi somente no segundo relacionamento que perdeu a virgindade, já que não se sentia preparada quando esteve com o primeiro. Além disso, revela que demorou para ter relações sexuais porque esta nunca foi uma preocupação ou prioridade.

“No meu primeiro relacionamento, eu gostava muito dele, mas quase não pensava em sexo. Ele também não avançava comigo, sempre respeitou meu tempo”, completa.

Ana também não enxerga o sexo como algo importante e não sente necessidade em cultivar a prática. “Não faz falta. Nunca senti falta, mesmo quando ainda era virgem. Não vejo necessidade”, diz.

A jovem também já foi criticada por pensar de uma forma “diferente” e por ter menos vontade que outras pessoas, e revela que a questão já foi considerada “um empecilho em um relacionamento”. Durante a adolescência ela via o sexo como um tabu, mas hoje comenta abertamente sobre o assunto.

Geração menos adepta ao sexo casual

O contexto é notado não somente no Brasil, mas também nos Estados Unidos. A Universidade de Rutgers fez uma pesquisa, em 2021, que mostra que os americanos entre 18 e 23 anos estavam fazendo 14% menos sexo que os millennials, que correspondem aos nascidos entre 1980 e 1995. Seria um indício de um eventual “apagão sexual”?

Outro dado confirma a mudança de comportamento nos últimos tempos. De acordo com um estudo apurado pelo Instituto Karolinska, na Suécia, em 2020, 31% dos homens e 19% das mulheres, entre 18 a 24 anos, disseram não ter tido relação sexual nos 12 meses que antecederam a pesquisa.

Americanos entre 18 e 23 anos estavam fazendo 14% menos sexo sexual que os millennials – Foto: PexelsAmericanos entre 18 e 23 anos estavam fazendo 14% menos sexo sexual que os millennials – Foto: Pexels

Resultados dessa pesquisa correspondentes a 18 anos antes mostram números bem diferentes. Em 2002, menos de 15% dos homens e 20% das mulheres, da mesma faixa etária, não faziam relações sexuais.

Quando o assunto é sexo casual, por exemplo, Lucas, de 18 anos, revela que não é adepto. Na visão dele, ter uma relação sexual é “algo extremamente íntimo e único”. “Não deveria ser tão simples de se conseguir, pois é literalmente uma entrega do seu corpo à outra pessoa”, afirma.

“Não vejo a mínima necessidade em fazer com alguma pessoa ‘aleatória’ só por prazer ou por diversão. Tem que ser algo muito bem pensado, conversado, confiante”, completa o jovem.

A explicação do psicólogo Marcos Santos, especialista em sexualidade da plataforma Sexo Sem Dúvida, é de que a geração Z aposta mais em relações honestas e transparentes baseadas mais no afeto do que no sexo.

“A geração Z parece ter uma visão muito pragmática dos relacionamentos em comparação às gerações anteriores e está fazendo menos sexo também em decorrência dos ‘efeitos colaterais’ observados nas relações dos outros, como de seus pais, irmãos mais velhos, amigos”, explica.

Marcos também acredita que “os millenials levaram mais tempo para se casar porque estavam ocupados aproveitando a vida de solteiro, o sexo prioritário”. Algo diferente para a geração Z, que vem com “uma aversão ao modelo tradicional dos relacionamentos de longo prazo”, já que é “mais introspectiva sobre os tipos de relações que desejam ter, onde sexo não é prioridade.”

Principais fatores

O especialista ainda defende que um dos fatores para a mudança de comportamento pode ser o período em que a geração Z se tornou adulta, como a instabilidade financeira, já que “muitos acreditam que precisam atingir a estabilidade sozinhos antes que outra pessoa entre em cena”.

“Eles sabem que são responsáveis pelo seu próprio prazer, sucesso e felicidade e que precisam ser capazes de cuidar de si próprios antes de cuidar dos outros”, completa.

Além disso, na visão do psicólogo, na geração Z há um aumento das pessoas dispostas a explorar a sexualidade de forma aberta e livre. É uma geração mais aberta para manifestações sexuais e relacionamentos diversos, principalmente pela ruptura no padrão dos estereótipos de homens e mulheres do século 20.

Geração Z é considera mais aberta e livre para explorar a sexualidade- Foto: PexelsGeração Z é considera mais aberta e livre para explorar a sexualidade- Foto: Pexels

“A geração Z está rejeitando alguns aspectos da sexualidade, em particular aqueles condicionados a valores e padrões de comportamento aos quais se submeteram seus pais e avós. Se a geração passada procurava alguém da mesma religião ou das mesmas opiniões políticas, a atual está procurando honestidade, paixão e autenticidade.”, completa.

A visão trazida pelo especialista reflete em uma pesquisa realizada nos Estados Unidos, em 2017, pela agência J. Walter Thompson Innovation. O estudo mostra que menos de 50% dos jovens da geração Z se identificam como heterossexuais. Apenas 48% dos adolescentes consultados se declararam 100% heterossexuais – entre os a geração anterior, os millennials, o número chegava a 65%.

Marcos ainda afirma que a tecnologia “não necessariamente impacta a vida sexual dessa geração”. “Por terem nascido em uma era completamente digitalizada, eles já não fazem nenhuma distinção entre o que é o mundo online e o que é o mundo offline, apesar de terem recursos tecnológicos para encontrar uma parceria mais adequada, de forma que as gerações anteriores nunca imaginaram”, completa.

Tendência de comportamento

O psicólogo Marcos Santos conclui que “é difícil distinguir se a geração Z está moldando a sociedade com essa postura ou se é a sociedade que está moldando a geração Z para esta postura”. Além disso, completa que a sociedade está mudando de comportamento e cada geração tem ideias mais flexíveis sobre relacionamentos.

No entanto, para o profissional, a “geração Z está inserida em um mundo incerto, já que os problemas que afetaram os millennials, como a questão política e econômica, se tornaram ainda mais sérios, e novos problemas surgiram, como uma pandemia”.

“Isso poderá fazer com que a estabilidade individual, física, mental e financeira se torne a prioridade número um para a geração Z e para seus descendentes”, afirma.

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