Ponte Hercílio Luz: ícone do povo catarinense e a ligação com a história de SC

Ao completar 95 anos, Ponte Hercílio Luz interliga passado, presente e futuro e agrega mobilidade, turismo, patrimônio, cultura, esporte e lazer

Como função precípua e objetiva, toda ponte tem o papel de interligar dois pontos geográficos e tornar possível a travessia de um a outro sobre as águas. Entre as pontes construídas pela humanidade ao longo do processo civilizatório, existe uma feita não apenas com aço e concreto, mas com a magia da Ilha de Santa Catarina, na pequena boca d’água de Y-Jurerê-Mirim, como era chamado o local pelos índios Carijós. Única e especial entre as demais, ícone do povo catarinense, genuinamente manezinha e histórica, a Ponte Hercílio Luz completa 95 anos nesta quinta-feira (13).

O futuro da Ponte Hercílio Luz, que interliga passado, presente e futuro- Foto: Leo Munhoz/NDO futuro da Ponte Hercílio Luz, que interliga passado, presente e futuro- Foto: Leo Munhoz/ND

A maior ponte pênsil do Brasil chega à idade avançada de uma “Velha Senhora” exibindo muita vivacidade, movimento, fluxo de veículos, pedestres e ciclistas – cumprindo muito bem seu papel de grandiosa anciã e indo muito além, com o olhar futurista e subjetivo para o amanhã.

“A ponte representa tudo, é vida, é alegria, é nosso cartão-postal. É um privilégio atravessar a ponte, depois de tantos anos fechada, é muito gratificante”, expressa Márcio Dinarte Vigano, 49 anos, manezinho morador do Ribeirão da Ilha.

Márcio Dinarte Vigano é Manezinho da Ilha e fala com carinho sobre a Ponte Hercílio Luz – Foto: Leo Munhoz/NDMárcio Dinarte Vigano é Manezinho da Ilha e fala com carinho sobre a Ponte Hercílio Luz – Foto: Leo Munhoz/ND

Márcio aproveitou a oportunidade de ir buscar um medicamento para sua filha autista na Policlínica do bairro Estreito e caminhou pela Ponte Hercílio Luz em direção ao Ticen (Terminal de Integração do Centro), pois “gosto de caminhar, fazer exercício físico, é bom para a mente e para o corpo”.

Ele fez questão de comparecer à festa de reabertura, no dia 30 de dezembro de 2019, juntando-se as mais de 50 mil pessoas que visitaram o local. Depois disso, quando a ponte foi aberta para a frota de ônibus, Márcio também contemplou a vista da ponte de dentro do circular e levou a filha para ver a beleza da icônica ponte em operação.

Nesse ínterim de 17 meses desde a reabertura da ponte, o desafio do governo do Estado e da Prefeitura de Florianópolis – responsáveis conjuntamente pelo equipamento e seu uso – está em aumentar a conectividade da ponte com a cidade.

Isso se dá por meio de um plano geral de ocupação urbanística que busca discutir conceitos e estratégias baseados nas características do tecido urbano, conforme explica o secretário municipal de Mobilidade e Planejamento Urbano de Florianópolis, Michel Mittmann.

“A ideia é fazer um projeto de parceria que não só cuide da ponte, mas também desse entorno imediato, para que tenhamos um conjunto harmônico urbanístico que valorize todos os aspectos do patrimônio, da história, da cultura, da mobilidade, geração de oportunidade de lazer e esporte”, afirma.

O ciclista Andrei Luiz da Silva, também natural de Florianópolis, não acreditava que veria finalmente a conclusão da reforma da Ponte Hercílio Luz, depois de quase 30 anos interditada.

“Jamais imaginei que iria ficar pronta essa reforma, achei que nem meu filho iria passar aqui. Depois que ficou pronto deu até uma emoção diferente passar pela ponte”, relata.

Passar pela Ponte Hercílio Luz virou rotina para Andrei Luiz da Silva – Foto: Leo Munhoz/NDPassar pela Ponte Hercílio Luz virou rotina para Andrei Luiz da Silva – Foto: Leo Munhoz/ND

Agora, a travessia é rotineira para Andrei, que reside no bairro Barreiros e costuma pedalar pelo local diariamente. Ele se exercita pelas rotas da Beira-Mar continental, Beira-Mar norte, Morro da Cruz e outros pontos da cidade.

Antes da reativação da Hercílio, a única via para cruzar o trajeto do continente em direção à ilha de bicicleta era a passarela da Ponte Colombo Salles, com muito menos segurança.

Além do plano geral mencionado pelo secretário, ele afirma que estão em andamento ações mais singelas e pontuais, como a valorização do Estreito como um bairro humanizado e sustentável, conexão direta ao centro insular da cidade, substituição de abrigos de ônibus, linhas especiais de transporte coletivo para promover facilidades de acesso ao centro e a inclusão da Avenida Rio Branco como eixo de conexão do transporte coletivo a partir da Ponte Hercílio Luz.

O jovem Luan Thiago da Cruz, 24 anos, que está desempregado no momento, aproveita o tempo livre para caminhar justamente no trajeto exemplificado por Mittmann.

Luan Thiago aproveita o tempo para caminhar no trajeto – Foto: Leo Munhoz/NDLuan Thiago aproveita o tempo para caminhar no trajeto – Foto: Leo Munhoz/ND

“Venho aqui quase todo dia porque aqui é agradável, é muito bom, passo para o lado do continente, dou uma volta pelo Estreito, volto. A ponte integra os dois lados, representa bem a cidade, é muito importante a questão social”, observa.

No intuito de fazer um uso equilibrado da estrutura, estão vigentes neste momento algumas restrições de uso da Ponte Hercílio Luz, como a proibição de tráfego de todos os tipos de veículos aos finais de semana, com circulação exclusiva de pedestres e ciclistas; passagem de carros particulares com dois ou mais passageiros permitido das 9h até as 6h, dedicando o período excludente ao transporte coletivo; e proibição permanente da passagem de motocicletas, por questões de segurança.

De acordo com o secretário de Estado da Infraestrutura e Mobilidade, Thiago Augusto Vieira, o fechamento para veículos aos finais de semana deve ser mantido, mas as restrições quanto à limitação de passageiros nos carros e o horário exclusivo ao transporte coletivo devem ser revistos em breve, assim que finalizar as tratativas com a prefeitura.

Entrega definitiva

O chefe da pasta explica que a ponte foi liberada para uso em 2019 no sentido de melhorar a mobilidade e proporcionar um ponto de convivência à população, no entanto, a obra não foi entregue definitivamente e ainda não tem um contrato de manutenção permanente.

Durante a vistoria de inspeção final, o Estado constatou que alguns serviços precisavam ser refeitos, de forma que, atualmente, a manutenção da ponte é de responsabilidade provisória da construtora que concluiu a reforma, Teixeira Duarte.

Ponte Hercílio Luz durante um dia normal de fluxo – Foto: Leo Munhoz/NDPonte Hercílio Luz durante um dia normal de fluxo – Foto: Leo Munhoz/ND

A empresa também está à frente da responsabilização por problemas recentes gerados por ações criminosas de furto de fios da ponte. Segundo o secretário Thiago Vieira, a empresa garantiu que irá trocar a fiação elétrica e concluir a parte elétrica da obra entre 15 e 20 dias.

“A primeira preocupação é garantir a manutenção da Ponte Hercílio Luz. Não podemos deixar a ponte abandonada. Não se trata dessa gestão, mas de todos que aqui passaram, deixaram um tijolinho de contribuição e precisamos agora garantir isso. Estamos finalizando o termo de referência, está praticamente pronto, para que possamos garantir a manutenção da ponte e as situações emergenciais”, afirma o secretário.

Outra contratação pública envolvendo a ponte que está pendente é a da iluminação cênica, cujo contrato foi rescindido em novembro de 2020 com a empresa Energiluz. Questionada sobre a atual situação do novo processo licitatório, a SIE (Secretaria de Estado da Mobilidade e Infraestrutura) não respondeu à reportagem.

O plano de manutenção da ponte precisa englobar alguns serviços anuais, outros a cada dois anos e ainda aqueles que devem ser feitos a cada cinco anos. Até o final deste ano, em dezembro de 2021, a ponte precisa passar por pintura e lavagem com água doce, conforme prevê o relatório final da obra. O Estado garante que até lá tudo estará resolvido.

Documentário “Em obras”

Em homenagem ao aniversário da Ponte Hercílio Luz, será lançado nesta quinta-feira, às 20h30, o documentário “Em obras”, produzido de forma independente pela Contexto Filmes.

O documentário faz um resgate do valor simbólico da ponte, busca responder questões relacionadas aos prazos e valores da obra, responder alguns por quês da interdição de quase três décadas, além de apontar os benefícios que a sua conclusão trouxe para a cidade em termos de turismo e mobilidade urbana.

O recorte é partir de 2006, quando foi assinada a primeira ordem de serviço para início da revitalização. O documentário narra os acontecimentos entre esse período até a inauguração em 2019, com depoimentos de personagens-chave que atuaram no contexto até a ponte chegar ao que é hoje.

A obra tem direção e roteiro de Gustavo Zinder, direção de fotografia e imagens de Jeferson Vieira, imagens aéreas de Leandro Amaral, montagem de João Lázaro, direção de arte de Lucas Milk, trilha sonora da Modernas Ferramentas de Exploração Científica e imagens de arquivo de Zeca Pires/TVAL.

A transmissão do documentário será feita pelo Canal da Contexto Filmes no YouTube.

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