ARTESÃO da madeira

Decoração. Morador da Estrada Arataca transforma peças de demolição, ou troncos de árvores, em objetos decorativos ou mobiliário rústico

Fotos Fabrício Porto/ND

Arte. Valdemar Vichert, o Xáti, exibe peças que decoram sua casa; no detalhe abaixo, o galpão que abriga o ateliê, bem ao estilo western
 

Para a maioria da população, madeira proveniente de demolições de casas antigas só serve para fazer fogo. Esse não é o caso de Valdemar Wichert, o Xáti, morador na comunidade da Estrada Arataca, na região do bairro Vila Nova. Mestre em marcenaria, ofício que aprendeu a 13 anos de idade ao fazer curso no Centro 15, da Fundamas (Fundação Municipal Albano Schmidt), Xáti sabe transformar madeira velha em peças artesanais de requintado acabamento. “Mas, sempre com o cuidado de preservar a beleza bruta da madeira; não se deve cair na besteira de tentar enfeitar o que é bonito por natureza”, assinala bem humorado. 
Ao usar madeira antiga em seu trabalho, Xáti transforma o material em mesas, bancos, baús e muitas outras peças decorativas de interiores e varandas de casas.  Só para ilustrar, velhos lavadores de roupa com caixas redondas de madeira são transformados em cadeiras estilizadas, com um baú na base.
Com fregueses de perto e de longe, alguns estão em São Paulo, Rio Grande do Sul e no Oeste de Santa Catarina, Xati não economiza na quilometragem na hora de buscar matéria prima para obras artesanais que brotam de suas mãos num ateliê batizado por ele como Rancho Velho Oeste. “É uma homenagem aos bons filmes do western, dos quais sou grande apreciador,”  diz sem conter a risada.
Há poucos meses ele foi à cidade de Formigueiro, perto de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, onde comprou 12 rodas de carroções, daquelas que antigamente eram usados para transportar troncos de árvores com mais de um metro de diâmetro. De Campo Alegre e outras cidades do planalto Norte, Xáti perdeu a conta de quantas copadas de pinheiros araucária trouxe para Joinville a fim de transformá-las em base de mesas com plataforma de vidro.
Outra boa fonte de material para o veterano artesão está nos matos de Joinville. Há 23 anos Xati faz trilhas a bordo de motos de triciclos em antigas picadas de extração de madeira. Guia do grupo de trilheiros “Os Cobras”, ele descobre verdadeiras relíquias nessas andanças. “Já nem sei quantos tocos de cerne de madeiras nobres como araribá, peroba e canela preta descobri e resgatei nessas andadas pelos matos de Vila Nova e Pirabeiraba”.
Aos 51 anos de idade, Xáti é casado com dona Sueli, pai de dois filhos – Scheila e Claiton. Ele mora com a família em uma casa especial. “Na verdade é um rancho, tem minha cara”, assinala ao apontar para os caixilhos das portas, todos feitos com madeira de dormentes descartados pela rede ferroviária. “Comigo, se é bom, nada escapa; tudo é aproveitado para alguma coisa bonita e rústica.” 

“Mas, sempre com o cuidado de preservar a beleza bruta da madeira; não se deve cair na besteira de tentar enfeitar o que é bonito por natureza.”

Relógios e pássaros
Dono de diversos relógios antigos de parede, Xáti se esquece de dar corda à maioria das peças que compõem a coleção. E, nem precisa ficar preocupado em perder a hora de sair da cama. Em sua casa, a aurora é anunciada por bandos de pássaros barulhentos, dentre os quais se destacam dezenas de aracuãs. “Esses são especiais. Além de me tirar da cama com a algazarra que fazem, os desavergonhados sobem na mesa para filar parte do pão do meu café da manhã”, conta o divertido e competente artesão.

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