Artes visuais
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Por Nelson Gobbi


'O impossível': érie com figuras em dupla, da década de 1940, é uma das mais conhecidas da escultora Agência O Globo — Foto:
'O impossível': érie com figuras em dupla, da década de 1940, é uma das mais conhecidas da escultora Agência O Globo — Foto:

Reconhecida internacionalmente como representante das vanguardas nacionais da primeira metade do século XX e única brasileira considerada integrante do surrealismo, Maria Martins (1894-1973) demorou a ser relacionada à arte moderna do país. Fatores como a vida no exterior —casada com o embaixador Carlos Martins, desenvolveu sua carreira inicialmente na Europa e nos Estados Unidos — e a própria natureza intrigante de sua obra, sobretudo as célebres esculturas amorfas e de características orgânicas, contribuiram para que seu nome não fosse associado a outros expoentes surgidos a partir da Semana de 1922. A abertura da retrospectiva “Maria Martins: desejo imaginante” hoje, na Casa Roberto Marinho, em meio às celebrações do centenário do evento paulistano, oferece boa oportunidade para traçar os pontos de contato entre a obra da escultura, pintora e desenhista e a produção nacional entre os anos 1920 e 1950. Um paralelo que pode ser traçado no próprio centro cultural do Cosme Velho, que inaugura também a coletiva “Fluxos do moderno”, com 43 obras do acervo, de nomes como Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Portinari, Di Cavalcanti e Ismael Nery.

— Maria sempre defendeu a sua independência artística, o que acabou fizendo com que ela ocupasse um não lugar, seja por ser uma estrangeira em seu próprio país enquanto era vista como exótica lá fora, ou por não se associar a qualquer movimento estético — destaca Isabella Rjeille, curadora do Masp que assina a mostra, produzida em parceria com a Casa Roberto Marinho. — Mas ela também dividia com os modernistas a criação de um imaginário do país, ela levou ao mundo uma ideia mais densa dos trópicos.

Para a curadora, em sua vida pessoal Maria Martins também habitava este não lugar, por se limitar ao papel que era esperado para uma mulher de embaixador e apontar outros caminhos para o feminino que não a docilidade esperada nas primeiras décadas do século XX. Desquitada, a artista manteve um casamento aberto com Martins e se relacionou com o francês Marcel Duchamp, criador do ready made. Detalhes de sua trajetória são mostrados no documentário “Maria — Não esqueça que eu venho dos trópicos” (2016), do Canal Curta!, que será exibido no cinema da Casa durante a mostra.

— Comecei a pesquisa para a exposição em 2020, em meio à pandemia. Chama atenção como ela passou a ser mais pesquisada de 2000 para cá, me deparei com várias teses e dissertações sobre ela, desenvolvidas principalmente por acadêmicas e curadoras. Tem uma perspectiva de gênero neste resgate da figura da Maria — observa Isabella.

‘However!!’: no bronze de 1947, Maria Martins mantém formas humanas Agência O Globo — Foto:
‘However!!’: no bronze de 1947, Maria Martins mantém formas humanas Agência O Globo — Foto:

Com 40 obras, a retrospectiva segue o modelo da montagem do Masp, onde foi exibida no ano passado, com seis núcleos temáticos relacionados a aspectos de sua produção, como Imaginários Amazônicos e Duplos Impossíveis. Esta última seção traz duas esculturas da série “O impossível”, uma das mais conhecidas da artista, produzida entre 1944 e 1946.

— A obra da Maria é sobre o desejo, e as figuras duplas de “O impossível”, criam essa tensão da algo que está para acontecer, não é possível ter a certeza se elas se atraem ou se repelem — destaca Fernanda Lopes, curadora adjunta da retrospectiva. — Maria vai abandonando as formas mais figurativas conforme se volta para dentro, o título das obras, mais profundos, também apontam para essa imersão nas suas próprias questões.

Parceria com o Masp

A retrospectiva conta com obras do Masp e da Casa Roberto Marinho e de coleções particulares, e foi a primeira mostra entre as duas instituições a ser desenvolvida em parceria desde o início — a exposição em homenagem a Djanira (2019) teve sua curadoria iniciada antes pelo museu paulistano. Diretor da Casa e curador da mostra “Fluxos do moderno”, Lauro Cavalcanti acredita que o percurso entre as duas mostras dará ao público um bom panorama da arte brasileira do início do século XX até os movimentos concretos.

— A “Fluxos” começa com uma obra de Victor Brecheret, de 1910 e vai até a produção dos anos 1940. Depois o visitante poderá ver uma produção única da Maria Martins, que também atravessa esse período — comenta Cavalcanti. — Criou-se um debate sobre se a Semana de 1922 foi importante ou não, e queríamos fugir deste Fla x Flu em nossa abordagem. É indiscutível que o evento tem uma enorme importância simbólica, mas é claro que muitos artistas já estavam quebrando cânones antes da Semana.

Visão geral da coletiva 'Fluxos do moderno', com 43 obras do acervo da Casa Roberto Marinho Agência O Globo — Foto:
Visão geral da coletiva 'Fluxos do moderno', com 43 obras do acervo da Casa Roberto Marinho Agência O Globo — Foto:

A mostra com o acervo local traz obras de Anita Malfatti, Milton Dacosta e Di Cavalcanti exibidas na Casa pela primeira vez desde a sua inauguração, em 2018, e seis pinturas de Roberto Rodrigues (irmão do escritor Nelson Rodrigues) pouco vista pelo público.

— Apesar de não relacionadas diretamente à primeira geração modernista, as ilustrações publicadas pela imprensa do início do século já traziam vários aspectos do movimento. Era justamente nos jornais que os artistas experimentavam uma liberdade ainda limitada na academia e no circuito de arte — conclui Cavalcanti.

Onde: Casa Roberto Marinho. Rua Cosme Velho, 1105 (3298-9449). Quando: Ter a dom, das 12h às 18h. Abertura hoje. Até 26 de junho. Quando: R$ 10. Classificação: Livre.

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