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Cultura Música

Músico lança releituras de Nação Zumbi feitas em um dos primeiros sintetizadores da história

Carlos Trilha, que tocou com a Legião Urbana, faz show com as canções gravadas no Moog
O tecladista e produtor Carlos Trilha, em seu estúdio, o Órbita Foto: Fernando Lemos / Agência O Globo
O tecladista e produtor Carlos Trilha, em seu estúdio, o Órbita Foto: Fernando Lemos / Agência O Globo

RIO — Moog, Yamaha, Roland e ARP: os nomes de alguns dos melhores e mais antigos amigos de Carlos Trilha, de 48 anos. Tecladista da Legião Urbana e de Marisa Monte, ele vive há pelo menos 38 anos com uma ideia fixa: fazer música com sintetizadores.

“Todos os instrumentos que estão aqui fazem parte da minha história, da minha vida. Cada um deles eu conheço intimamente, são meus brinquedos de criança ”

Carlos Trilha
Tecladista

Hoje, depois de mais de 2000 shows e de 150 discos produzidos (entre eles, álbuns de Renato Russo, líder da Legião, pelos quais recebeu recentemente os discos de ouro que lhe eram devidos), e dono de seu próprio estúdio, o Órbita, Trilha tem enfim a oportunidade de brincar novamente com suas queridas máquinas.

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Ele acaba de lançar de forma independente “MOOGBEAT — Nação Zumbi para Minimoog”, disco de releituras de músicas da banda pernambucana feitas com a joia de sua coleção, um dos primeiros e mais queridos sintetizadores da história.

E o disco serviu de estímulo para que ele montasse um show em parte saudosista, reunindo boa parte do seu arsenal eletrônico. Ilhado entre seus sintetizadores no Órbita, o tecladista é só felicidade.

— Todos os instrumentos que estão aqui fazem parte da minha história, da minha vida. Cada um deles eu conheço intimamente, são meus brinquedos de criança — conta ele, que começou a estudar piano clássico aos 9 anos, aos 10 pediu ao pai seu primeiro teclado eletrônico, e, aos 18, já fazia, em Florianópolis, seu primeiro Concerto de Sintetizadores.

Com muito Vangelis, Kraftwerk e Jean-Michel Jarre na cabeça, Carlos Trilha desembarcou no Rio de Janeiro em 1989, para tentar a carreira como músico. Em 1992, conseguiu a vaga de tecladista da Legião Urbana e estabeleceu uma ligação forte com o também tecladista Renato Russo, para quem acabaria fazendo arranjos e produção dos discos solo “The Stonewall Celebration Concert” (1994) e “Equilíbrio distante” (1995).

— Quando eu cheguei no primeiro ensaio da Legião, eu não vim só com os timbres parecidos, mas com os mesmos sons que eles usaram na gravação — gaba-se.

SHOWS EM FLORINANÓPOLIS

Vida que segue, em 2012 Trilha foi chamado por Marisa Monte para fazer parte de sua banda nova, que incluía os seus músicos-fetiche Pupillo (bateria), Dengue (baixo) e Lúcio Maia (guitarra), todos da Nação Zumbi. Nasceu ali uma amizade que se estendeu por participações do tecladista nos Sebosos Postizos, projeto paralelo da Nação para tocar as músicas de Jorge Ben.

Um dia, sem falar com ninguém, Trilha começou a sintetizar e tocar, apenas no Minimoog (um instrumento pré-era digital, sem recursos de memória), o som de cada instrumento da música “Meu maracatu pesa uma tonelada”. Percussões, guitarras, tudo nasceu de um longo processo de busca da combinação certa de chaves e botões que durou dois meses até ficar ser concluído.

— Meu deu vontade de impressioná-los, foi um desafio no meu trabalho de produtor, programador e tecladista — diz ele que, logo após ter cumprido a tarefa, não resistiu e foi fazer o mesmo com outras músicas da Nação, como “Futura”, “Blunt of Judah”, “Cicatriz”, “Bala perdida”, “Hoje, amanhã e depois”, “Quando a maré encher” e “Prato de flores”.

Ou seja: quando viu, Carlos Trilha tinha um álbum que, uma vez gravado, ele começou a ter vontade de mostrar ao vivo. Pensando formas de pôr em prática o espetáculo, o tecladista voltou ao seu arsenal de sintetizadores e baterias eletrônicas, buscando neles os sons que teria que passar horas programando no Minimoog.

Detalhe da capa do álbum "Moogbeat - Nação Zumbi para Minimoog", do tecladista Carlos Trilha Foto: Reprodução
Detalhe da capa do álbum "Moogbeat - Nação Zumbi para Minimoog", do tecladista Carlos Trilha Foto: Reprodução

No primeiro dia de investigações, ele se viu reencontrando o menino de 18 anos que tocava coisas como “The overture”, “Oxigene”, “Equinoxe 4” (Jean-Michel Jarre), “Pulstar”, o tema do filme “Blade Runner” (Vangelis), “The robots” e “Computer love” (Kraftwerk). Não teve jeito: as músicas acabaram entrando no show e o inspiraram a compor temas para um próximo disco.

— Eu voltei a ter liberdade criativa. Tudo o que eu quero relembrar está aqui, todos aqueles sons do show de 1988 — comemora.

Os shows de lançamento serão nos dias 24, 25 e 26 deste mês, no Teatro da UFSC, em Florianópolis.