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Sem titubear, a atriz Bianca Comparato responde qual é a causa que mais a define: “A luta das mulheres”. A carioca de 38 anos, cara de menina, jeito doce e fala precisa, conta que desde 2019, quando estreou como cineasta, dirigindo o documentário “Elogio da liberdade”, sobre a acadêmica e imortal Rosiska Darcy de Oliveira, foca em trabalhos com essa temática. “Busco ajudar outras mulheres com a minha arte. Acredito muito nessa função”, diz.

Bianca Comparato — Foto: Maria Júlia Magalhães
Bianca Comparato — Foto: Maria Júlia Magalhães

Bianca aparece agora como uma das protagonistas de “João sem Deus — A queda de Abadiânia”, que estreou semana passada no Canal Brasil e no Globoplay. Na minissérie dirigida por Marina Person, que se passa nos dias que antecedem a prisão de João de Deus (condenado a 489 anos de cadeia por crimes sexuais e posse ilegal de armas), ela interpreta Carmem, funcionária de confiança do criminoso vivido por Marco Nanini. “O que me seduziu no roteiro foi contar a história pelo ponto de vista das vítimas. A série trata dos traumas delas.” Para se conectar com a história, Bianca buscou não ter julgamentos. Simples, não foi. “Me concentrei na fé da Carmem, numa crença quase inabalável que acabou a cegando.”

Contracenar com o Nanini também foi uma celebração. “Tenho enorme admiração, foi uma grande oportunidade”, reconhece. O veterano retribui e conta que teve uma troca extraordinária no set: “Conheci uma excelente atriz. Nossos personagens eram complicados: João se esconde muito e Carmem é fã dele. Mas a gente conseguiu. Bianca é um dos grandes talentos de sua geração”.

Cena de "João sem deus - A queda de Abadiânia' — Foto: Mariana Caldas
Cena de "João sem deus - A queda de Abadiânia' — Foto: Mariana Caldas

O papel não veio fácil. Ao mesmo tempo em que a carinha de 20 e poucos anos atrapalhou, o jeito forte e determinado a ajudou. A diretora Marina Person admite que ficou preocupada se a atriz imprimiria a vivência necessária à personagem (uma mulher de 40, com uma filha adolescente), mas viu o quanto ela se empenhou. “A Bianca sempre fez papel de pessoas mais jovens, mas revelou seu desejo de sair desse lugar, uma vontade de passar de fase, fazer mães e não só filhas”, recorda Person. A diretora reconhece ainda que ela conseguiu criar mais camadas que mostram que poderia, sim, existir uma pessoa que, mesmo tão próxima ao médium, não percebia seus atos criminosos. “Apropriou-se da Carmen, envelheceu e foi em busca de encontrar de onde vinha a fé incondicional daquela que foi o braço direito de João”, diz a diretora. A roteirista Patricia Corso afirma que a dualidade entre a delicadeza e a firmeza da atriz foi fundamental. Precisava ser alguém fisicamente frágil, pequena, mas com força. “A Bianca tem uma doçura, no físico, na voz, mas é muito potente. Eu queria esse contraste”, completa a autora.

Ao refletir sobre gatilhos ou memória de abusos desencadeados pela série, Bianca conta, aliviada, que nunca passou por um assédio sexual. Mas por abusos morais, principalmente profissionais, quando recebia menos do que homens pelo mesmo trabalho. “No entanto, considero isso pequeno diante do que acontece com tantas de nós”, diz, destacando que, apesar de ter passado ilesa, já esteve perto do perigo. “Sergio Penna (denunciado, ano passado, por importunação sexual por diversas atrizes) foi meu preparador de elenco, um profissional que acaba ocupando um lugar de guru na vida do ator. Foi um baque muito grande quando as denúncias vieram à tona. Liguei para todas as mulheres que lembrei ter encontrado lá e dei todo o meu apoio.” No fim das gravações de “João sem Deus”, sentiu uma angústia. “Durante o processo, estava muito envolvida. Depois, fiquei com medo de mexer com esse homem poderoso. Passei um tempo com receio de sofrer algo tanto no físico quanto no energético.”

Ano passado, Bianca trabalhou em uma outra série sobre situações reais de violência física, verbal e sexual contra mulheres. Em “Não foi minha culpa”, dirigido por Susanna Lira, vive uma mulher que passa por abusos em uma relação consensual, um tipo de estupro sobre o qual só começou a falar recentemente, assim como o crime de stealthing (o ato de retirar o preservativo durante a relação sexual sem o consentimento do parceiro). “Muitas amigas já viveram essas situações. Acho que sofri menos violências na vida porque a maioria dos meus relacionamentos foi com mulheres. Fiquei menos tempo exposta aos homens.”

Bianca Comparato — Foto: Maria Júlia Magalhães
Bianca Comparato — Foto: Maria Júlia Magalhães

Ainda que tenha rostinho de menina e corpo definido, Bianca conta que sente cobranças como todas as mulheres, mesmo com os avanços do feminismo. “É meio impossível, ainda mais para uma atriz, não ter que lidar com isso. Existem resquícios de pensamentos totalmente inadequados”, diz ela, que não é muito adepta a procedimentos estéticos e quase não usa maquiagem. “Acho sexy mostrar a pele. Admiro quem aparenta sua idade, como Fernanda Montenegro (de 93 anos), Vera Holtz (71), Andrea Beltrão (60) e Claudia Abreu (53)”, elenca. Bianca vê com ótimos olhos seu amadurecimento e percebe como o tempo trouxe tranquilidade para lidar com os altos e baixos da carreira. “Já fui ultrasseletiva nos meus trabalhos. Se pudesse voltar atrás, teria sido menos. A idade me ensinou que não existe papel pequeno, o legal é a arte do encontro. Fico feliz por não me colocar mais essa pressão. Minha analista arrasou.”

A nova geração desencanada também é admirada pela atriz. Ela bate palma para mulheres como Bruna Linzmeyer, de 30 anos, que mostram seus desejos, sem se importar com padrões impostos. “Acho lindo também essa coisa de ser sem rótulos, não precisar se definir gay, hétero, bi... Demorei muito para me encontrar, não foi fácil aceitar os meus desejos. Essa turma dá uma aula e teria sido mais fácil se eu tivesse nascido nessa geração”, conta ela que, mesmo preferindo não se rotular, se define como bissexual. “Sou apaixonada por pessoas. Sei de todo o clichê que essa frase carrega, mas é isso. Já tive paixões por homens. Mas estou com a Alice (Braga, também atriz, de 40 anos) e sou muito feliz.”

Já são sete anos de namoro, que elas vivem em temporadas entre São Paulo, onde Bianca mora, Los Angeles, onde vive Alice, e as cidades onde gravam. “Fazemos um esforço para nos encontrarmos. Filmamos em muitos lugares. Esse é o lado bom de sermos duas atrizes, temos essa compreensão”, conta. O relacionamento se baseia em uma admiração mútua, que elas, mesmo sendo bem discretas com a vida pessoal, não escondem. “A Bianca é uma pequena gigante. Além de ser uma atriz que sempre admirei, muito completa e dedicada, cheia de alma e de verdade, é extremamente generosa e brilhante em tudo o que faz. Daquelas que se entrega 100% e se esforça para potencializar as pessoas à sua volta. Ela nunca pensa em competição, sempre em somar”, elogia Alice.

Bianca Comparato — Foto: Maria Júlia Magalhães
Bianca Comparato — Foto: Maria Júlia Magalhães

Mesmo com um bom tempo de namoro e da firmeza na parceria, elas ainda não se casaram. Mas, diante do momento em que a Câmara dos Deputados discute um projeto que pode vetar casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, Bianca sente vontade de aumentar a estatística da união estável de duas mulheres também no papel. “Temos que fazer isso. Acho muito louco que, em uma sociedade com tantos abusos, o grande problema seja o casamento gay e não o pai ausente que destrói uma família. Essa onda conservadora me preocupa, mas penso que talvez seja a última estrebuchada do patriarcado. Não vamos recuar, e ainda estamos prontas para uma luta diária.”

Ter filhos também está nos planos dela, que se considera extremamente maternal. “Nunca congelei óvulos, ainda não decidi como vai ser. Mas sei que preciso dar uma planejada para rolar. Não vai acontecer do nada, como poderia ser com um casal hétero. Também sei que não tenho muito tempo e que o relógio biológico está correndo, mas nós duas estamos trabalhando bastante, em uma época de bombação de carreira e queremos aproveitar isso.”

Workaholic assumida, Bianca está gravando o filme “A vida de cada um”, de Murilo Salles, em que faz a filha de um miliciano. Junto com isso, trabalha na produção de uma peça, que deseja estrear em 2024 no Rio, cidade onde viveu até seus 30 anos e sente saudade. “O Rio combina com uma vida mais saudável, com momentos de prazer na praia, na cachoeira e na floresta. Sinto falta de dar um mergulho cedinho e também de ir a sambas, assistir ao grupo Fundo de Quintal, no Cacique de Ramos, ou ao Samba do Trabalhador, no Renascença”, diz ela, que está encontrando maneiras de equilibrar bem-estar e trabalho. Para isso, impôs-se algumas regras: “Não respondo WhatsApp depois das 20h e busco não trabalhar aos fins de semana. Sou totalmente a favor do ócio, é o que me ajuda a ser mais criativa e eficiente.”

A cara pode até ser de novinha, mas ela já tem experiência o suficiente para saber muito bem o que quer.

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