Esportes Copa 2014

A redenção africana na Copa brasileira

Depois de decepcionar no Mundial realizado em seu continente, seleções africanas caminham para melhor performance na História

O atacante Gervinho é uma das armas da Costa do Marfim
Foto:
ISSOUF SANOGO
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AFP
O atacante Gervinho é uma das armas da Costa do Marfim Foto: ISSOUF SANOGO / AFP

RIO - Há quatro anos, o fato de sediar a Copa do Mundo fez crescer a expectativa de que os países africanos pudessem enfim transformar em resultados a propalada evolução do futebol no continente, prognosticada pelos menos desde os anos 1990. A começar pela anfitriã África do Sul, os times da região mais pobre do planeta fracassaram novamente, mas a redenção parece estar encaminhada para acontecer no Brasil.

Encerrada a segunda rodada, Costa do Marfim, Nigéria e Argélia estão em segundo lugar em suas chaves, dependendo apenas de si próprios para avançar às oitavas de final. E Gana ainda mantém esperanças no grupo G.

Se pelo menos duas delas se classificarem, já será possível apontar o melhor desempenho coletivo dos africanos, que mantêm há sete edições uma regularidade de participação discreta nos mundiais.

Desde 1986, quando a Copa do Mundo passou a adotar o formato de uma fase de grupos seguida pelo mata-mata a partir das oitavas de final, a África classificou sempre apenas uma seleção para as fases eliminatórias. Pela ordem: Marrocos (86), Camarões (90), Nigéria (94 e 98), Senegal (2002) e Gana (2006 e 2010). Apenas Camarões e Gana (2010) avançaram às quartas de final. Nem o fato de a África ter passado a contar com cinco vagas a partir de 1998, quando a Copa começou a ser disputada por 32 seleções, ajudou a melhorar o desempenho. Em 2010, somando o país-sede, foram seis representantes do continente.

O clichê de futebol com muito vigor físico, violento, jogadores habilidosos e irresponsáveis e sistemas defensivos inocentes e mal articulados taticamente não é mais que um conceito carente de correspondência com a realidade. É possível apontar razões variadas, e algumas apenas circunstanciais, como muitas vezes ocorre no futebol, para explicar a, até aqui, boa Copa dos africanos.

TOURÉ E DROGBA, DOIS CRAQUES MARFINENSES

A seleção de Costa do Marfim tem pelo menos dois craques de primeiro nível. Yaya Touré é dos mais completos jogadores de meio-campo da atualidade. O veterano atacante Didier Drogba tem entrado apenas durante os jogos, mas foi fundamental na vitória sobre o Japão, que deixou a seleção às portas da classificação. O atacante Gervinho é outro bom valor individual. O time marfinense enfrenta a Grécia nesta segunda-feira, em Fortaleza, e um empate deverá ser suficiente para garantir a vaga — que, neste caso, só será perdida na improvável hipótese de uma vitória do Japão sobre a Colômbia por dois gols de diferença.

A Nigéria, que viveu seu auge com a ótima geração dos anos 1990, deve se classificar sem apresentar bom futebol. Empatou na estreia com o Irã, num jogo de baixo nível, e depois venceu a Bósnia numa partida em que o time europeu teve um gol mal anulado. Só ficará fora das oitavas de final se perder para a Argentina e os iranianos derrotarem os bósnios na terceira rodada.

ARGÉLIA VEM SURPREENDENDO

A Argélia talvez seja a que tem mostrado melhor jogo coletivo. Vendeu caro, na estreia, a derrota para Bélgica, e neste domingo apresentou futebol envolvente na vitória por 4 a 2 sobre a Coreia do Sul, em Porto Alegre. Foi, aliás, a primeira vez que uma seleção africana marcou quatro gols num jogo de Copa. Agora, joga por um empate com a Rússia para avançar.

Mesmo com poucas chances de classificação, Gana não está decepcionando. Jogou bem na derrota para os Estados Unidos, na estreia, e depois empatou com a poderosa Alemanha num dos melhores jogos da Copa.

Fiasco, mesmo, apenas a seleção de Camarões, que enfrenta o Brasil nesta segunda-feira, em Brasília, como a única africana já eliminada. Foram duas derrotas, incluindo a goleada de 4 a 0 para a Croácia.