Esportes Tóquio 2020

Cavalo sacrificado, fuga e ferradura perdida: os incidentes do hipismo na Olimpíada e o trabalho para que sejam raros

Episódios chamaram a atenção nos últimos dias, mas entidades procuram seguir um protocolo que priorize o bem-estar dos animais
O brasileiro Marcelo Tosi conpetindo com o cavalo Glenfly nas provas de hipismo da Olimpíada de Tóquio Foto: YUKI IWAMURA / AFP
O brasileiro Marcelo Tosi conpetindo com o cavalo Glenfly nas provas de hipismo da Olimpíada de Tóquio Foto: YUKI IWAMURA / AFP

Único esporte praticado por animais nas Olimpíadas, o hipismo tem suas peculiaridades. Durante as provas em Tóquio-2020, já ocorreu fuga de cavalo, perda de ferradura e até uma lesão grave. Casos como esses foram registrados em outras edições dos Jogos e provocam debates a respeito da proteção à integridade física dos animais. Apesar de chocantes, os incidentes têm se tornando cada vez mais raros na modalidade, graças a um rigoroso protocolo que prioriza o bem-estar desses "atletas".

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Entre os mais de 300 cavalos levados a Tóquio para as competições do hipismo, alguns passaram por episódios atípicos que chamaram a atenção dos espectadores nos últimos dias. O mais grave deles ocorreu com o cavalo suíço Jet Set, que no último domingo rompeu o ligamento da perna direita durante uma prova de cross-country, e precisou ser sacrificado.

"Devido à gravidade da lesão e à dor que tinha, o cavalo teve de ser sacrificado pouco tempo depois", afirmou o Comitê Olímpico Suíço, em um comunicado.

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Treinador da Equipe Brasileira Militar de Salto, Paulo Franco explica que decisões como essa são tomadas em conjunto por uma equipe que inclui veterinários, o cavaleiro e o dono do cavalo.

— O fato do cavalo ter sido sacrificado não é normal, mas quando há lesão nas patas é muito difícil ter uma recuperação e ele sofre muito. Os veterinários aconselham fazer a eutanásia, mas essa é uma decisão do proprietário do animal. A gente sabe que houve um rompimento dos ligamentos e ele ficou praticamente em três patas. O cavalo não tem esse discernimento de ficar imobilizado para a recuperação — explica o treinador.

Na final do saltos individual na última quarta-feira, um conjunto da Irlanda gerou preocupação após o cavalo sangrar pelo nariz durante a prova. Exames diagnosticaram que a hemorragia foi causada por uma lesão superficial, não relacionada a dilatamento de vasos do pulmão (comum em cavalos de corrida). Só após a verificação do estado de saúde do animal, o conjunto foi autorizado a retornar à competição.

— Os cavalos são submetidos a uma avaliação pós-prova, onde os juízes examinam se os membros estão machucados, se há sangramentos ou lesões no pulmão. Os veterinários da federação avaliam o nível de risco. Se aquilo puder comprometer os movimento ou o bem-estar do cavalo, ele é eliminado — explica Alceu Cardoso, veterinário da Federação Equestre do Estado do Rio de Janeiro, acrescentando que competições desse porte são cercadas de profissionais e ambulâncias específicas para cavalos.

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Todo esse cuidado é para que não sejam ultrapassados os limite dos animais. Seguindo esse protocolo,  o brasileiro Marcelo Tosi desistiu da disputa por equipes do Concurso Completo de Equitação (CCE), depois que seu cavalo, o Genfly, perdeu uma das ferraduras. A decisão foi tomada para evitar que o animal sentisse dores na pata.

Já na prova de Cross Country em Tóquio, a amazona sueca Therese Viklund caiu da égua Viscera durante o percurso, e o animal fugiu. Com a queda, Therese e Viscera foram eliminadas da competição. Nesse caso, o acidente pode ser causado pela falta de sintonia entre cavaleiro e cavalo – na fase qualificatória, a competição conta com conjuntos de países sem tradição no esporte.

— O cavalo e o cavaleiro expressam a arte e a habilidade em perfeita sintonia. É impossível ficar indiferente aos movimentos vigorosos do cavalo durante os exercícios. Então as responsabilidades pelos movimentos são divididos em 50/50. Um tem que ter confiança no outro. Não podemos esquecer também que na natureza, o cavalo é presa. Alguns objetos e barulhos podem assustar — afirma Alceu.

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Para o cavaleiro Fabio Leivas, os protocolos são cruciais para a preservação do bem-estar do animais, mas o caráter da pessoas que lidam com eles é ainda mais importante.

— Antigamente acontecia acidentes, mas hoje é raro. Em 35 anos de carreira nunca aconteceu comigo. Alguns cavalos se machucaram, mas tudo é reversível. Hoje em dia, temos todos os cuidados e acompanhamento necessários. Os cavalos só são colocados na competição se estiverem 100% dentro das condições de saúde.

Chegando próximo ao fim de mais uma edição dos Jogos Olímpicos, o hipismo ainda tem a prova de saltos por equipes a ser finalizada. A final está marcada para sábado, às 7h (de Brasília).