Esportes Copa 2018

Visão do estádio: França x Bélgica, uma semifinal que “flopou”

Primeira decisão de vaga na final da Copa entregou menos que o esperado
Foi uma semifinal de Copa do Mundo e nem todos os lugares do estádio estavam cheios — no melhor lugar da arquibancada, no meio, perto do campo, vários assentos vazios Foto: CHRISTOPHE SIMON / AFP
Foi uma semifinal de Copa do Mundo e nem todos os lugares do estádio estavam cheios — no melhor lugar da arquibancada, no meio, perto do campo, vários assentos vazios Foto: CHRISTOPHE SIMON / AFP

SÃO PETERSBURGO — ‘Flopar’ é uma gíria fácil de entender. Significa, basicamente, entregar menos do que foi prometido. Em uma palavra informal, foi a sensação mais palpável no estádio de São Petersburgo na vitória da França por a 1 a 0 contra a Bélgica, que classificou os franceses à final contra Inglaterra ou Croácia. Não é que tenha sido um jogo desagradável de ver, mas a falta de emoção, de algum calor na arquibancada, em oposto à quantidade de craques em campo em um duelo de duas seleções capazes de jogar bem, faz com que o apito final traga um gosto bem diferente do esperado quando o juiz autorizou o início da partida.

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Foi uma semifinal de Copa do Mundo e nem todos os lugares do estádio estavam cheios. No melhor lugar da arquibancada, no meio, perto do campo, vários assentos vazios. Talvez um efeito da eliminação do Brasil, que trouxe mais gente à Rússia do que as quatro seleções semifinalistas. O panorama era, claramente, de quatro torcidas na arquibancada. A belga, discreta a ponto de quase não se notar; a francesa, pequena, mas mais animada; a russa, que sempre puxa o grito forte com o nome do país quando o jogo dá uma desanimada; e a brasileira, que já tinha ingresso, e variou o cântico entre o já clássico “mil gols”, o novo do “58 foi Pelé” e um melancólico “pula sai do chão, quem é pentacampeão”. Franceses e belgas permaneceram sentados, ainda com chances de título por aqui.

Naquele clássico exercício de futurismo que se faz logo após o sorteio dos grupos, que foi ainda em 2017, dificilmente teve quem não desenhasse que, em 10 de julho, França e Brasil fariam este jogo em São Petersburgo. Durante a Copa, a impressão permaneceu. O “flop”, talvez, já viesse da definição do confronto. A presença da Bélgica, no entanto, não foi desmerecida, nem mero acaso: da primeira fase à eliminação do Brasil, passando pela virada contra o Japão, o time de Lukaku apresentou o futebol mais interessante entre os quatro classificados, e a promessa era de jogo bom.

O “flop” não veio de início. Um dos exercícios mais legais da Copa é tentar entender, dentro de suas diversas variações táticas, como a Bélgica vai jogar assim que começa a partida. Foi um primeiro tempo interessante, de bastante posse por parte deles, com mais perigo e correria pela França. As chances existiram, mas não foram tantas assim, de nenhum dos lados. Os goleiros apareceram bem (e seguiram assim até o fim) e a promessa era de um segundo tempo melhor.

Nada disso aconteceu. O gol do zagueiro Umtiti, logo aos seis minutos da segunda etapa, saiu da forma mais simples possível: bola parada, escanteio, cabeçada e gol. Vale do mesmo jeito, mas para todas as quatro torcidas presentes no estádio mais valeria uma rápida jogada de Mbappé ou Griezmann, ou algo bem tramado por Hazard, Lukaku ou De Bruyne. Vencer e se classificar para uma final de Copa em um jogo simples é bom, mas é ruim. Ser eliminado em uma partida que não teve nada demais é pior do que sair em um grande duelo.

Aliás, com tantos craques em campo, surpreende-se que o herói, homem do jogo, tenha sido um zagueiro, que é ótimo jogador, mas ainda assim, zagueiro para as narrativas de quem espera mais. De resto, a Bélgica não conseguiu atacar, a França seguiu sendo um time competentemente burocrático que, merecidamente, chega à final em Moscou. Se não vencer e for campeão, surgirá um certo sentimento que, desde o início do torneio, poderia ter jogado mais.

Paredão azul
Numa partida em que teve mais posse de bola e passou 58% do tempo no campo adversário, a Bélgica conseguiu entregar apenas cinco passes para jogadores dentro da área. A França, escalada num 4-2-3-1, defendia-se com uma linha de cinco, concentrando o ataque belga na entrada da área, emparedado.
PASSES RECEBIDOS
Entrada
da área
Dentro
da área
França
França
9
11
17
5
Bélgica
Bélgica
LINHA DEFENSIVA FRANCESA
LINHA DEFENSIVA
De Bruyne
Lukaku
Hazard
Fonte: Footstats e Fifa
Paredão azul
Numa partida em que teve mais posse de bola e passou 58% do tempo no campo adversário, a Bélgica conseguiu entregar apenas cinco passes para jogadores dentro da área. A França, escalada num 4-2-3-1, defendia-se com uma linha de cinco, concentrando o ataque belga na entrada da área, emparedado.
PASSES RECEBIDOS
Entrada
da área
França
9
17
Bélgica
Dentro
da área
França
11
5
Bélgica
LINHA DEFENSIVA FRANCESA
LINHA DEFENSIVA
De Bruyne
Lukaku
Hazard
Fonte: Footstats e Fifa

De bacana, o fato que é a terceira vez em 20 anos que a França vai decidir uma Copa, mas que nenhum dos atuais jogadores estava presente na última decisão, em 2006. Na primeira então, em 1998, o meia Mbappé, maior esperança do “flop” passar longe da final no domingo, nem tinha nascido quando Zidane acabou com o Brasil. O zagueiro Umtiti, autor do gol, tinha só cinco anos de idade, mal lembra, e só há três tinha se mudado de Camarões, onde nasceu, para a Lyon, onde começou a jogar. São provas que o futebol tem histórias mais legais para serem contadas do que o jogo contou em São Petersburgo.