Rio Bairros Zona Norte

Passeio noturno e EcoCirco são novidades no BioParque, na Quinta da Boa Vista

Conservação do restante da área deixa a desejar; recuperação do Museu Nacional está em curso, e aniversário de 203 anos terá celebração virtual

Ilha dos Primatas. Nela, vivem cinco espécies, que transitam por uma ponte suspensa
Foto:
Divulgação/Juan Carvalho
Ilha dos Primatas. Nela, vivem cinco espécies, que transitam por uma ponte suspensa Foto: Divulgação/Juan Carvalho

RIO — Olhos vidrados e ouvidos atentos para não deixar escapar nenhuma novidade. Depois de meses de estudo no sistema híbrido — on-line, em casa, e presencial numa escola na Ilha do Governador, onde mora—, Clarissa Amaral, de 5 anos, participou de uma verdadeira aula a céu aberto no BioParque do Rio, antigo RioZoo, na Quinta da Boa Vista. Após dois anos em obras, o espaço abriu as portas ao público no fim de março com um novo conceito de zoológico.

Baseado em quatro pilares — pesquisa, conservação, educação e entretenimento —,o BioParque tem 1.100 animais de 140 espécies, em uma área de 130 mil metros quadrados, sendo 60 mil abertos ao público. Sem jaulas ou grades, os bichos contam com áreas que simulam seu habitat original e barreiras de vidro ou naturais, como no caso da Ilha dos Primatas. Nela, vivem cinco espécies de pequenos primatas, o macaco-aranha-da-testa-branca, o cuxiú, o parauacu, o sagui e o bugio, que transitam por uma ponte suspensa e ficam bem próximos dos visitantes. No rio que circunda o espaço, há lagos habitados por peixes amazônicos.

As áreas contam com funcionários que passam informações como os hábitos e a alimentação dos animais e sua importância na natureza, explicam se estão em extinção e se fazem parte do programa de refaunação — caso dos guarás, que serão devolvidos à Baía de Guanabara. As aves estão na Imersão Tropical, um espaço de dois mil metros quadrados que tem como ponto alto as revoadas e visa a dar ao visitante a sensação de entrar numa floresta de verdade.


Aula ao ar livre. Marina (à esquerda), Clarissa e Fábio Amaral
Foto: Priscilla Aguiar Litwak
Aula ao ar livre. Marina (à esquerda), Clarissa e Fábio Amaral Foto: Priscilla Aguiar Litwak

A aula de Clarissa ainda não foi oficial, mas contou com noções de biologia e educação ambiental; e, segundo o pai da menina, o servidor público Fábio Amaral, surtiu efeitos:

— Clarissa sempre teve muito medo de animais e hoje ela está tendo a oportunidade de conhecê-los melhor. Além de ver muitos bichos que nunca tinha visto antes, está aprendendo sobre sua importância na natureza. Isso certamente vai estimulá-la a cuidar dos animais.

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Amaral conta que na infância ia com frequência ao Zoológico do Rio e que está surpreso com a mudança. Amaral também levou a sobrinha Marina, de 5 anos.

— Tive uma folga e aproveitei para trazê-las para elas terem uma aula diferente e se divertirem um pouco. E eu também, claro. Estamos encantados — disse.

Clarissa conta que, apesar do medo, o animal mais esperado por ela era o leão Simba, mas o rei da selva estava tirando uma soneca diurna, e o que ela mais gostou de ver mesmo foi a dupla de ursos-de-óculos, Malu e Maia. Ao lado da prima, a pequena parecia uma velha amiga dos animais, que faziam graça e se exibiam ao nadar no tanque.

—O Simba estava dormindo, mas a Malu e a Maia estavam acordadas —contou Clarissa, empolgada.

O parque, que está operando com cerca de 40% do público, como medida de segurança, precisou adiar algumas atrações, entre elas a parceria com as escolas e o passeio de barco na Savana Africana. A grande novidade, porém, de acordo com a gerente de operações, Tainá Bonato, será o passeio noturno, que promete encontros com animais de hábitos noturnos, como o leão.

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— O visitante poderá ver animais, como o Simba, com seu máximo vigor, o que certamente será uma experiência bem diferente. O passeio de barco permitirá chegar ainda mais perto dos hipopótamos. Já a parceria com as escolas vai proporcionar aulas mais estruturadas e a realização de projetos como plantação de mudas — conta.

Tainá ressalta ainda que a área dos animais foi ampliada; e a dos visitantes, reduzida, em comparação ao antigo zoológico.

— A área da elefanta Koala está dez vezes maior do que antes. Ela é idosa e isso propicia um envelhecimento mais adequado. Assim como os outros, ela está sempre sendo monitorada por biólogos e veterinários. Por ser muito extenso, o BioParque poderia receber um público muito maior, mas prezamos a boa experiência. Sugerimos um caminho de visitação, mas devido à pandemia estamos deixando o visitante livre para fazer seu próprio percurso. Para evitar aglomerações, os ingressos só são vendidos no site e com horários predeterminados — detalha.

Este mês há uma atração à parte. Aos sábados e domingos, os visitantes poderão assistir ao EcoCirco, um espetáculo do Unicirco de Marcos Frota, em que a natureza e o circo se misturam.

Museu Nacional completa 203 anos

Em obras. A fachada e os jardins frontal e das Princesas deverão ficar prontos em 2022 Foto: Divulgação
Em obras. A fachada e os jardins frontal e das Princesas deverão ficar prontos em 2022 Foto: Divulgação

Passeando pelo Bioparque, o visitante poderá conhecer ainda um pouco da História do Brasil, por meio de monumentos, itens e pisos que foram achados e preservados durante as obras. Um dos monumentos está no espaço Reis da Selva, onde fica o leão Simba, como parte do projeto arquitetônico criado por Indio da Costa. Placas explicativas fazem referência aos achados. Foram encontrados mais de 50 mil itens, que remontam, em sua maioria, ao dia a dia de trabalhadores que serviam a Família Imperial no século XIX. Entre eles estão fragmentos de louças, botões e moedas.

Uma parcela desse acervo está na exposição permanente instalada em um prédio histórico no BioParque. Da edificação dá para avistar o Museu Nacional do Rio de Janeiro, que recebeu como doação a maior parte desse material. A instituição, porém, está com o prédio fechado desde o incêndio de 2018.

Prestes a completar 203 anos, no próximo dia 6, o museu se prepara para comemorações virtuais. Entre as atividades haverá webinários com a participação de representantes de outros museus, para discutir melhorias e a acessibilidade, e uma campanha com personalidades parabenizando a instituição, além de um programa de doações para ajudar na sua reconstrução.

Atualmente o Museu Nacional encontra-se na fase de higienização e proteção dos bens integrados do Paço de São Cristóvão e do Jardim das Princesas. A expectativa é que até o fim de 2022 a fachada, o jardim frontal e o Jardim das Princesas sejam reativados, sendo este último aberto ao público pela primeira vez.

— Não é apenas o primeiro museu, é a primeira instituição científica do país. Chegar a 203 anos é uma marca muito importante. Aproveitamos essa data quase como uma prestação de contas. Não posso dizer que está tudo do jeito que gostaríamos; a pandemia acabou atrasando bastante a obra. Mas não estamos parados. Temos ainda exposição on-line e muitos projetos para o futuro — avalia Alexander Kellner, diretor do museu.

A exposição virtual mencionada por Kellner é “Os primeiros brasileiros” e está fora do ar devido a outro incêndio, que aconteceu mês passado no prédio em que ficavam os servidores de internet na UFRJ. A previsão é que ela volte a ser exibida este mês, no site do museu.

Kellner informa que as instalações deverão ser completamente restauradas e abertas à população somente em 2026. No entanto, a previsão é que antes disso algumas salas voltem a funcionar.

— Queremos desenvolver várias ações on-line e presenciais ao longo desses anos. Precisamos urgentemente devolver o Museu Nacional para a população brasileira — afirma o diretor.

Parque sofre com má conservação

Sinalização. Gato abandonado em frente a placa que proíbe a ação Foto: Priscilla Aguiar Litwak
Sinalização. Gato abandonado em frente a placa que proíbe a ação Foto: Priscilla Aguiar Litwak

Enquanto o BioParque está em alta, com ingressos esgotados todo fim de semana desde que foi inaugurado, e o Museu Nacional segue em uma minuciosa obra de restauração, a Quinta da Boa Vista, onde ambos estão localizados, sofre com a falta de manutenção, queixam-se frequentadores.

Se no BioParque os animais ganham estímulos necessários e tratamento adequado, a poucos metros, na Quinta, eles são largados à própria sorte. Uma placa alerta que “é proibido abandonar animais”, mas a presença de cachorros e gatos sem donos é cada vez maior, afirma um vendedor ambulante que preferiu não se identificar.

—A gente fica até meio assim de dar comida e acabar estimulando outras pessoas a deixarem animais aqui, mas a gente vai fazer o quê? Deixá-los com fome? — questiona.

O problema dos animais abandonados não é o único no parque municipal. Bancos descascados e quebrados, causando risco para os visitantes; grama alta; buracos que acumulam água da chuva; e moradores de rua nas proximidades evidenciam que o parque continua longe dos seus tempos áureos.

O secretário municipal de Defesa e Proteção dos Animais, Vinicius Cordeiro, admite que houve um aumento de pelo menos 30% no número de animais abandonados na área de Quinta da Boa Vista, sobretudo felinos. Além de ampliar a quantidade de placas com alerta sobre bichos abandonados no parque, o secretário informa que vai investir num programa de castração de animais na região.

A prefeitura do Rio assegura que equipes da Comlurb trabalham diariamente na Quinta da Boa Vista, com serviços de varrição, corte de mato e remoção de resíduos. Em relação aos bancos, garante que uma vistoria será realizada para avaliar suas condições e fazer os reparos necessários. Sobre os moradores de rua, informa que a Secretaria de Assistência Social fará mapeamento da região para identificar os locais onde há concentração de população nesta situação e, em conjunto com a subprefeitura, determinará que novas ações serão tomadas.

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