O caso da fiscal de caixa de supermercado, Gleice Kelly Gomes Silva, de 24 anos, que se internou para ter bebê e saiu com mão e punho amputados em um hospital no Rio de Janeiro gerou revolta, mas também dúvidas sobre em que condições um procedimento tão radical quanto esse é necessário. O caso está em investigação.
A pedido do GLOBO, o médico João Marcos Fonseca, membro titular e representante da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV) explicou quais doenças ou condições de saúde podem levar à necessidade de amputar um membro. O médico não está envolvido no tratamento da paciente nem falou especificamente sobre o caso registrado no Rio de Janeiro.
Segundo Fonseca, uma amputação é necessária quando há uma isquemia irreversível. O quadro é caracterizado pela deficiência da irrigação sanguínea no membro.
— É como se o membro sofresse um infarto, como acontece com o coração. Qualquer membro, como pé, perna, braço pode sofrer uma isquemia. Mas a amputação só é necessária quando a isquemia é irreversível e há necrose no local — explica o representante da SBACV.
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A causa mais comum de isquemia na população é a aterosclerose ou enrijecimento das artérias ao longo da vida. Complicações graves devido à aterosclerose, que podem evoluir para uma amputação, são mais comuns em pacientes com diabetes e em fumantes.
Há também situações agudas que podem evoluir para uma amputação. Quando um paciente jovem, por exemplo, sofre um trauma que gera uma lesão na artéria, se a lesão for irreversível, pode ser necessário amputar o membro afetado.
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Em situações de choque, quando há oxigenação insuficiente circulando, as extremidades ficam sem receber sangue porque o organismo dá preferência aos órgãos vitais e pode haver isquemia. Isso pode acontecer por diversas causas, incluindo anafilaxia (reação alérgica grave), hemorragia, doenças cardíacas, sepse, entre outras.
— Se o paciente sofre um quadro hemodinâmico instável, ele pode fazer isquemia de extremidade, que pode evoluir para uma amputação se for irreversível — diz Fonseca.
Outra situação que pode gerar isquemia é a a injeção inadvertida de medicamentos ou substâncias, como ácido hialurônico, na artéria.
— A injeção de um medicamento poderia ocluir uma artéria e causar a isquemia de um membro — pontua o médico.
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Basta lembrar do caso do cantor Naldo Benny, que teve um princípio de necrose no nariz após fazer uma rinomodelação. A técnica utiliza ácido hialurônico de alta densidade para alterar o contorno nasal. A necrose devido à oclusão de vasos por aplicação errada é um dos riscos do procedimento. No caso do cantor, o quatro foi revertido com medicamentos. Mas nem sempre isso é possível.
— A irreversibilidade de uma isquemia depende da região afetada, mas quanto mais tempo, pior — explica o cirurgião vascular.
Procurar profissionais habilitados, que tenham um conhecimento técnico da anatomia e experiência nos tratamentos é fundamental para reduzir os riscos de procedimentos injetáveis. Para quadros de isquemia, o ideal é que o caso seja avaliado por um angiologista ou cirurgião vascular.