DESABAFO

A Pátria de chuteiras e batom: a busca de reconhecimento

jogadoras Rosana e Francielle, medalhistas olímpicas, literalmente abriram não só o jogo, mas os bastidores, revelando o que acontece no futebol feminino brasileiro.

Reprodução

Em vez de salto alto, elas escolheram calçar chuteiras e defender o Brasil dentro e fora dos gramados, vestindo a camisa da Seleção Brasileira de Futebol Feminino. E mesmo após deixar os gramados sem o reconhecimento que lhe era devido para seguir com outros sonhos e projetos pessoais, as jogadoras Rosana e Francielle, medalhistas olímpicas, literalmente abriram não só o jogo, mas os bastidores, revelando o que acontece no futebol feminino brasileiro.

Em uma conversa franca e sem meias palavras com o time do site de apostas esportivas Betway, as jogadoras por meio de um “bate-bola”, falaram sobre a relação com a imprensa especializada, o contato profissional que tiveram com treinadores, CBF, e o véu do preconceito deste universo dominado pelos homens ainda nos dias de hoje. 

O Imparcial teve acesso exclusivo a este material e quis saber as impressões de Rosana e Francielle, sobre o protagonismo da Seleção Brasileira de Futebol  e sua participação na oitava edição da Copa do Mundo Feminina de Futebol que teve como campeã a Seleção dos Estados Unidos, que venceu por 2 a 0 o time da Holanda.

Rosana que jogou Olimpíadas e conquistou medalhas lamenta
falta de reconhecimento por parte dos dirigentes da CBF

Para Rosana, jogadora que conquistou diversos títulos em diferentes competições onde disputou quatro Olimpíadas, conquistou duas medalhas de prata, além de atuação significativa em quatro Copas do Mundo e três Pan-Americanos, ainda falta respeito e reconhecimento a tanta dedicação pela camisa verde e amarela dentro e fora do campo.  “Pelo que eu fiz por nosso país, acho que merecia um reconhecimento muito maior”, disse a jogadora em um tom de lamentação. 

 A jogadora lembrou que foi vítima do preconceito machista durante as competições do Pan do Rio de Janeiro, ocorridas em 2007, onde viveu a maior alegria, seguida da maior decepção da carreira. Segundo Rosana, as jogadoras brasileiras não tinham a menor noção de que os jogos levariam milhares de pessoas aos estádios, alguns deles cheios de torcedores da seleção feminina. “Entramos no Maracanã lotado, com 70 mil pessoas apoiando o futebol feminino. Foi muito marcante. Até hoje me arrepio. Foi um momento em que achei que o futebol feminino ia evoluir a passos largos, mas não aconteceu”, disse a jogadora.

Mesmo com goleada de 5 a 0 sobre os Estados Unidos, e medalha de ouro no peito e uma campanha do bicampeonato no Pan-Americano com seis vitórias em seis jogos marcando 33 gols e nenhum sofrido. Com a conquista, o Brasil atingiu a 35ª medalha de ouro e assumiu o segundo lugar no quadro geral, passando Cuba por ter mais pratas. E por conta da falta de incentivo, Rosana, que atualmente tem 36 anos, aposentou-se no final da temporada passada, quando vivia a fase mais artilheira da carreira, jogando pelo Santos.

Espero mais, sempre, da CBF”

Já Francielle, que é mais jovem, tem 29 anos, quando iniciou sua trajetória pretendia “pendurar a chuteira” após os 30 jogando futebol, mas, por conta da pressão psicológica dentro do segmento pela busca de oportunidades e bons resultados, apesar dos esforços, nem sempre são esperados em forma de reconhecimento.

Francielle tem no curriculum uma medalha de prata nos Jogos de Pequim em 2008

Detentora de títulos pela a Seleção Brasileira, que incluem uma prata nos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, a jogadora também se decepcionou com as políticas e regras voltadas para o futebol feminino no pais da Pátria de Chuteiras, comandado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Reticente, a jogadora, que não gosta muito de falar da CBF, acredita que a instituição pode fazer mais. “Espero mais, sempre, da CBF. Em todos os sentidos. Eles sempre podem dar mais pelo futebol feminino”, disse a jogadora.

Por mais união e força das jogadoras

As jogadoras Rosana e Francielle também foram protagonistas do protesto que contou com a participação de 24 jogadoras contra a demissão da treinadora da  Seleção Brasileira Feminina Emily Souza, em setembro de 2017, motivados pelo fato de explicitar os problemas da modalidade, que segundo a treinadora, trabalhava na época sempre sem o apoio da coordenação de futebol feminino da CBF. 

Para o lugar Emily Souza, a CBF trouxe de  volta Vadão ao comando das meninas: “Era cedo pra falar, mas estava sendo feito um trabalho, e ele foi interrompido”, disse Francielle. A jogadora acrescentou que “as ideias do Vadão eram ultrapassadas”, e que foi “a comissão técnica que mais teve tempo pra fazer o trabalho, e que menos fez”. O episódio fez ambas jogadoras anunciassem a aposentadoria da seleção e deixassem os gramados.

Na opinião Rosana, ainda falta mais união e força das equipes profissionais e amadoras de futebol feminino: “Não adianta apenas 24 assinarem a carta. Todas precisam participar, senão não funciona. Deveríamos ter brigado mais”, disse a jogadora.

De olho na Copa  e no futuro

Rosana e Francielle também concederam entrevista para o Betway, por onde acompanharam atentas a campanha da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de Futebol Feminino 2019, disputada na França. Apesar da eliminação do Brasil pelas anfitriãs da casa nas oitavas de final, as jogadoras participaram do momento que contou com partidas transmitidas em TV aberta, grandes audiências, e o Brasil mobilizado em torno do futebol feminino.

Vale lembrar que tanto Rosana quanto Francielle nunca tiveram nenhum jogo de despedida, nenhuma grande cobertura da mídia, muito menos, segundo elas o reconhecimento da CBF, ressaltando que a competição contou com outras lendas do futebol feminino como: Formiga, Cristiane e Marta, que também estão próximas de sair de cena dos gramados, desejando que as mesmas não sejam vítimas da indiferença que viveram na pele, o que não as impediu de sonhar com um futuro melhor para o futebol feminino no mundo e no Brasil.

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