Poucas pessoas conseguem resistir à carinha de “pidão” que um doguinho faz quando quer carinho, atenção ou um petisco. Um novo estudo revela características anatômicas fundamentais que podem explicar o que torna os olhares dos cães tão atraentes. Os achados também indicam que os humanos contribuíram para a capacidade dos cachorros de seduzir com expressões faciais através de milhares de anos de reprodução seletiva.

Cães têm o olhar irresistível graças à interferência humana no cruzamento seletivo. Imagem: Flavia Correia

“Os cães são únicos entre outros mamíferos em sua ligação recíproca com os seres humanos, o que pode ser demonstrado através do olhar mútuo, algo que não observamos entre humanos e outros mamíferos domesticados, como cavalos ou gatos”, disse Anne Burrows, pesquisadora Ph.D. e professora do departamento de fisioterapia da Escola de Ciências da Saúde John G. Rangos, na Universidade Duquesne, em Pittsburgh, no estado americano da Pensilvânia. “Nossas descobertas preliminares fornecem uma compreensão mais profunda do papel que as expressões faciais desempenham nas interações e na comunicação entre cães e humanos”, explicou ela, que é autora sênior do novo estudo.

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Burrows apresentou os resultados de sua pesquisa nesta terça-feira (5), último dia da reunião anual da Associação Americana de Anatomia, que aconteceu na Filadélfia desde o último sábado (2). 

Processo de domesticação dos cachorros selecionou músculos faciais de respostas mais rápidas

Cães e lobos estão intimamente relacionados. Embora o momento exato não seja claro, os cientistas estimam que as duas espécies divergiram geneticamente cerca de 33 mil anos atrás, quando os humanos começaram a criar lobos seletivamente, a primeira espécie a ser domesticada.

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O novo estudo se concentra na anatomia de músculos minúsculos usados para formar expressões faciais, os músculos miméticos. Em humanos, esses tecidos são dominados por fibras de miosina que se contraem rapidamente, mas também fadigam rapidamente. Isso explica por que podemos formar expressões faciais de forma tão veloz, mas não segurá-las por muito tempo. Células musculares com fibras de contração mais lenta são mais eficientes para movimentos longos e controlados e não se cansam tão rapidamente.

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Para o estudo, os pesquisadores compararam as fibras de miosina em amostras de músculos faciais de lobos e cães domesticados. Os resultados revelaram que, como os humanos, cães e lobos têm músculos faciais que são dominados por fibras de contração rápida, mas os lobos têm uma porcentagem maior de fibras de contração lenta em relação aos cães. “Essas diferenças sugerem que ter fibras musculares mais rápidas contribui para a capacidade do cão de se comunicar efetivamente com as pessoas”, disse Burrows. “Durante todo o processo de domesticação, os seres humanos podem ter criado cães seletivamente com base em expressões faciais semelhantes às suas, e com o tempo os músculos dos cães poderiam ter evoluído para se tornarem ‘mais rápidos’, beneficiando ainda mais a comunicação entre cães e humanos”.

Segundo a nova abordagem, ter fibras de contração mais rápidas possibilita maior mobilidade facial e movimento muscular mais rápido, permitindo pequenos movimentos, como uma sobrancelha levantada e as contrações musculares curtas e poderosas envolvidas no latido. Fibras de contração lenta, por outro lado, são importantes para movimentos musculares prolongados, como os lobos usam ao uivar.

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Analisando pesquisas anteriores, a equipe descobriu que os cães têm um músculo mimético adicional que está ausente em lobos e contribui para a expressão “olho de cachorrinho”. Os cientistas afirmam que novas pesquisas são necessárias para confirmar suas descobertas, com métodos para diferenciar tipos adicionais de fibras de miosina, o que poderia lançar uma nova luz sobre as diferenças anatômicas entre cães e lobos.

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