A Grande Ilha de Lixo no Oceano Pacífico

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Imagine um lugar com uma enorme área duas vezes maior que a da França, mas ao invés de ser terra firme, é uma ilha de lixo. Consegue imaginar? Bom, esse lugar existe e os cientistas o chamam de Grande Mancha de Lixo no Oceano Pacífico, localizada dentro do Giro Subtropical do Pacífico Norte. Essa “ilha” de lixo flutuante vem preocupando os cientistas, pois toneladas de detritos vindos do mundo todo carregados pelas correntes oceânicas estão se acumulando cada vez mais rápido.

Na verdade, a Grande Mancha é composta por duas concentrações: a Mancha do Pacífico Ocidental, localizada perto do Japão, e a Mancha do Pacífico Oriental, localizada entre os estados do Havaí e da Califórnia nos EUA. Essas áreas giratórias estão ligadas pela Zona de Convergência Subtropical do Pacífico Norte, ponto de encontro das águas frias do Ártico com as águas mais quentes do Pacífico Sul. Veja o mapa abaixo:

Mapa das correntes que regem o Giro Subtropical de Pacífico Norte (sentido horário) e formação das manchas. Fonte: Copadesc

O Giro Subtropical do Pacífico Norte funciona como um grande sistema extremamente enérgico de correntes oceânicas. Diferente da sua borda, o centro do giro costuma ser estável e calmo, mantendo o lixo confinado no seu interior. Esse giro é formado por quatro correntes superficiais, que juntas formam um grande círculo que se movimenta no sentido horário: Corrente da Califórnia, Corrente Equatorial Norte, Corrente Kuroshio ou Corrente do Japão e Corrente do Pacífico Norte. Mas como todo esse lixo foi parar lá?

Os detritos que se acumulam nos oceanos são resultados do descarte inapropriado de lixo vindo das atividades terrestres ou embarcações. Dizer a origem de cada detrito é impossível, mas podemos desvendar sua trajetória nos oceanos através de um instrumento oceanográfico, chamado derivador.

O Derivador é um instrumento usado na Oceanografia Física e Química lançado na corrente oceânica, que monitora a temperatura, salinidade e velocidade das correntes ao longo de seu percurso. Seus dados são coletados e transmitidos em tempo real via satélite. A ideia é que esse instrumento se comporte como uma partícula qualquer no corpo d’água seguindo os movimentos das correntes e do vento. Na verdade, qualquer objeto flutuando na superfície da água pode servir de instrumento para medir a velocidade de uma corrente.

Imagens do derivador. A boia (em azul) deriva na superfície ligada a uma vela (em vermelho) que fica submersa. Fonte: Nettuno

Através de um caso específico, conseguimos ter uma melhor noção de como um objeto pode derivar no oceano e chegar em lugares inimagináveis. Em 1992, um contêiner com 28 mil patinhos de borracha caiu do navio que o transportava no Oceano Pacífico. Alguns desses patinhos circularam no Giro Subtropical do Pacífico Norte, outros foram encontrados em diversos pontos do mundo!

A jornada dos patinhos de borracha. Fonte: Adaptado

Os estudos a respeito do transporte desses detritos são importantes para conseguirmos mensurar o impacto das nossas atividades nos ecossistemas oceânicos. De fato, estamos recebemos cada vez mais notícias sobre animais encalhados nas praias com quilos de lixo no sistema digestivo ou presos em redes de pesca e cordas.

Animais marinhos de diferentes filos são prejudicados pela enorme quantidade de lixo que encontramos nos oceanos: Mamíferos, Aves, Tartarugas, Peixes, Crustáceos, entre outros. Será que nós também somos impactados?

A “mancha” de detritos cresce cada vez mais, pois o lixo que está se acumulando não é biodegradável. Com isso, nos questionamos: como o oceano se comportará com todo este lixo? Assim como os patinhos de borracha que chegaram no Giro Subtropical do Pacífico Norte, outros milhões de resíduos, principalmente os plásticos, demoram a degradar no meio ambiente. Não se sabe, ao certo, quanto tempo a borracha demora para se decompor, mas sabemos que alguns tipos de plásticos demoram mais de 100 anos!

Vamos pegar a garrafa PET como exemplo: PET é a sigla utilizada para Polietileno Tereftalato, um polímero termoplástico da família dos poliésteres desenvolvido em 1941. Apenas na década de 70, este composto químico foi utilizado na fabricação de embalagens de bebidas gaseificadas e por ser um plástico mais resistente, demoraria cerca de 400 anos para de decompor. O PET chegou no Brasil no final da década de 80, ou seja, até hoje, dificilmente alguma garrafa plástica foi inteiramente degradada de forma natural no meio ambiente.  

O plástico vem chamando a atenção dos cientistas devido ao grande impacto na vida marinha e até mesmo na saúde humana. Em seu processo de degradação, o plástico vai se fragmentando em partículas menores até chegar no tão temido microplástico. O microplástico, assim como outros contaminantes, podem favorecer um processo conhecido como bioacumulação, onde substancias vão se acumulando nos tecidos dos animais ao longo da cadeia trófica. Para saber mais sobre os efeitos do microplástico nos oceanos, acesse nosso outro post clicando aqui.

Esquema simples de como a bioacumulação do plástico pode chegar na sua mesa! Fonte: Mar Sem Fim Adaptado

O lixo nos oceanos e seu impacto vem sendo discutido pela ONU nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e até virou uma das metas da ODS14 – Vida na Água. A ONU acredita que há 13.000 fragmentos de lixo plástico em cada quilômetro quadrado nos oceanos!

Meta 14.1: Até 2025, prevenir e reduzir significativamente a poluição marinha de todos os tipos, especialmente a advinda de atividades terrestres, incluindo detritos marinhos e a poluição por nutrientes.

Kamilo Beach, praia da maior ilha do arquipélago do Hawaii. Um ponto de acúmulo da grande ilha de lixo, considerada uma das praias mais poluídas pelo plástico no mundo. Fonte: Amusing Planet

A Grande Mancha de Lixo no Pacífico é apenas um retrato desse nosso consumo desenfreado. Temos que pensar que, mesmo longe, todos nós somos responsáveis pelo lixo que chega nos oceanos. Mas como podemos reverter a situação? Simples, usando a criatividade!

Um exemplo de criatividade é o Stand UPET, que começou como uma atitude socioambiental e logo se transformou em um projeto de extensão da Oceanografia UERJ. O projeto não só constrói pranchas de Stand Up Paddle mais baratas e ecológicas, feitas de garrafa PET e outros materiais, mas também constrói novos sentidos para aquilo que antes pensávamos ser descartáveis, sendo referência na reutilização de resíduos e na educação ambiental.

Grandes resultados do Stand UPET: reutilização de resíduos e educação ambiental.

Enquanto não consumirmos de maneira consciente e sustentável, a produção de lixo não diminuirá. Aos poucos, alguns países vão adotando medidas de redução do consumo de plástico, como por exemplo o incentivo ao uso de sacolas retornáveis nos mercados e a proibição do uso de canudos nos estabelecimentos. Mas e você, o que você faz para consumir menos plásticos? Conte pra gente nos comentários ou em nossas redes sociais! Caso você não saiba como mudar seus hábitos, citamos 7 maneiras de reduzir o consumo de plástico. Para acessar, clique aqui.

Escrito por Roberta Bonturi

Referências:

Jerry T. Mitchell & Danielle Hance (2014) Map Skills, Ocean Currents, Pollution, and … A Rubber Duck?, The Geography Teacher, 11:3, 108-115, DOI: 10.1080/19338341.2014.945609

Lebreton, L., Slat, B., Ferrari, F. et al. Evidence that the Great Pacific Garbage Patch is rapidly accumulating plastic. Sci Rep 8, 4666 (2018). https://doi.org/10.1038/s41598-018-22939-w

ADISSI, Flávia. A contribuição de derivadores oceânicos e simulações numéricas de correntes marinhas e ventos em apoio ao planejamento territorial: o caso da Baía de Guanabara. Orientador: Prof. Rodrigo Rinaldi de Mattos. 2006. 165 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia Urbana e Ambiental) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Engenharia Civil, Rio de Janeiro, 2006.

NOAA
ONU
Unifesp
National Geographic

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