Como conviver com o Óbvio!

A indústria está repleta de coisas óbvias! Hum, será mesmo?

Meses atrás eu escrevi um texto falando sobre o óbvio. Acabou ficando um texto pequeno para virar artigo, então acabei postando no Instagram mesmo. Mas sempre achei que esse assunto merecia seu espaço aqui no Blog.

Nós ouvimos, falamos e pensamos diariamente sobre coisas óbvias. É uma palavra importante e aparentemente inofensiva. Porém seja na sala de aula, no trabalho ou conversando com a sua paquera no restaurante, usar esta palavrinha ou seus sinônimos sem o devido contexto pode ser prejudicial.

E o motivo não é tão óbvio assim.

Óbvio

Afinal, o que é óbvio?

Óbvio, evidente, indiscutível! São essas algumas das palavras que usamos quando entendemos que algo é fácil de deduzir. Eu posso deduzir que você está lendo isso agora, porque, enfim, é “óbvio”.

Estamos acostumados a usar essa expressão quando algo faz tanto sentido que não seria possível outra conclusão. Coisas óbvias são resultados de conclusões lógicas, geralmente muito fáceis dentro de um contexto definido.

E esse é exatamente o ponto chave de alguma coisa óbvia: O contexto.

Imagine que em uma convenção de professores de astrofísica, devem ser ditas muitas coisas óbvias. Para eles. Você e eu não vamos entender nada.

Mas eles não são super dotados de inteligência. Experimente colocar um desses professores em uma fábrica de alimentos.

Existe uma pegadinha nas coisas óbvias: Elas dependem da experiência de quem fala. E mais, dependem também da experiência de quem ouve. Isso porque o depende de uma conexão lógica entre os fatos.

E, obviamente, só pode fazer esta conexão quem conhece dos fatos.

Verdades universais

Nós costumamos confundir coisas óbvias com verdades universais. Mas o óbvio as vezes só é óbvio para nós mesmos. Uma coisa simples como 1+1=2. Mesmo ela só é óbvia pra quem aprendeu a somar (E olhe lá. rsrs).

Ainda assim, não deixa de ser uma verdade.

Isso vale para qualquer conhecimento na indústria. Não parece óbvio que se você enfiar sua mão dentro de uma máquina em funcionamento, você pode perder o dedo? Mas mesmo assim, todos os anos, vários acidentes do tipo ocorrem.

Para quem se machucou talvez não fosse tão óbvio daquela vez. Isso porém não impediu o acidente de acontecer (Cuidem da segurança, pessoal!)

Isso acontece o tempo todo, não apenas com os acidentes. Nós desafiamos o óbvio o tempo todo, porque não sabemos as verdades escondidas ali. É natural, afinal não sabemos de tudo.

Ao ferver o leite, ele transborda. É uma “verdade universal”. Mas uma pessoa que só ferveu água até o momento vai terminar o dia limpando o fogão.

E tudo bem. Alguns erros são necessários para que aprendamos.

O óbvio na verdade não existe.

Uma das provas de que o óbvio na verdade não existe são as sinalizações. Você na sua empresa precisa colocar uma placa ao lado da pia ensinando o passo a passo de como lavar as mãos.

Nas máquinas existem uma porção de avisos sobre o que não fazer. E o que dizer sobre aquele balde ao final do corredor escrito LIXO? É só olhar ao redor dele para perceber que as coisas não são tão fáceis de deduzir para todo mundo.

Óbvio
“Será que precisa desenhar?!”

Nós geralmente aprendemos com os erros. Não apenas os nossos próprios erros. As placas de aviso e todos os dispositivos de segurança que você vê hoje são tentativas de prevenir erros que já aconteceram com outros.

A todo momento nós reforçamos que não nascemos sabendo de tudo. Vamos acumulando saberes todos os dias. E não existe uma ordem universal para aprender as coisas.

É por isso que existe um manual de BPF na sua empresa reforçando que se um alimento cai no chão, ele estará contaminado.

É importante entender que nem todo mundo sabe algo, por mais banal que pareça, para que realmente consigamos comunicar as coisas da maneira certa.

Você certamente já passou por uma situação onde explica nos mínimos detalhes algo pra alguém e logo em seguida ele faz tudo errado. Você pensa: “Deve tá de sacanagem!”. Só que não é de propósito na maioria das vezes. Pode ser apenas falta de entendimento e não burrice ou incompetência.

Preciso banir o óbvio da minha vida?

O intuito deste artigo é mostrar que nem sempre as coisas são tão simples de se resolver. Cada pessoa têm sua velocidade de aprendizado e cada situação têm seu próprio contexto.

A palavra em si não faz mal algum. Mas precisamos entender que ela deve ser usada nos momentos certos, com as pessoas que realmente entendem o que estamos querendo dizer.

Nas empresas, geralmente estamos em posição de liderar pessoas. Nestes casos, pensar que tudo é óbvio pode ser bem desgastante, pois você vai sempre tratar seus liderados como inferiores.

E lembre-se que também podemos estar do outro lado. Nós podemos não saber algo que é considerado óbvio para tantos outros. Até entramos em ciladas por isso, por vergonha de dizer que não sabemos. Nós também fazemos coisas de maneira errada por não entender coisas “evidentes”!

Paciência e humildade são dois antídotos contra o óbvio. Precisamos exercitar essas características.

Esquecer que tudo é óbvio também é o remédio para sinalizar as coisas, identificar produtos e prevenir acidentes.

Pense em uma poça de água no meio da sala. Todo mundo consegue ver que ela está lá. É óbvio que você vai escorregar se pisar. Mas pode ser óbvio para o colaborador só depois que ele cair na poça.

Não confie no óbvio: Coloque o aviso ali.

Uma postura educadora

Um cuidado que temos que ter ao “abandonar” o óbvio é manter uma postura de educador.

Eu já vi algumas pessoas que, ao entender que nem todo mundo sabe de tudo, viram verdadeiras babás. Não é para sair por aí tratando todo mundo como se fosse crianças do jardim de infância.

Novamente, as pessoas não são inferiores a nós por não saber coisas óbvias.

A comunicação é uma arte, e deve sempre ser respeitosa.

Para isso, é preciso entender que cada pessoa têm sua velocidade. Não é preciso soletrar cada palavra. E mesmo quando for preciso “soletrar”, existe uma maneira de fazer isso.

Podemos usar isso para personalizar nosso relacionamento dentro da empresa e tirar o melhor de cada colega.

Aproveito para reforçar que este blog é um espaço de “óbvios”.

As vezes você vai se deparar aqui com conteúdos básicos, mas lembre-se, o que é óbvio pra você pode não ser óbvio para os que te cercam. Se você souber sobre o assunto que estamos abordando, contribua com sua opinião, ou indique o conteúdo para aquelas pessoas precisam, e que você sabe.

Também use os comentários para nos corrigir, para podermos construir um debate enriquecedor.

Aqui não julgamos os profissionais, qualquer que seja sua dificuldade. Todos nós podemos aprender. Ou reaprender, já que muitas coisas já nos foram ensinadas em algum momento. Então não se acanhe.

E lembre-se, nosso conhecimento é como uma construção de um edifício, onde vamos empilhando andares. Mas só uma base bem estruturada pode sustentar o prédio (E isso é óbvio! Rsrs)

Paulo Henrique Rodrigues Júnior
Paulo Henrique Rodrigues Júnior

Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos pela Universidade Federal de Viçosa. Atuo no setor de P&D e Processos na indústria desde 2015.
E desde então vivo um caso de amor pelos Processos Industriais. E quando sobra um tempinho, faço uns desenhos.

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