Carmo Dalla Vecchia e a fofoca no ambiente de trabalho
Reprodução: Rede Globo

Carmo Dalla Vecchia e a fofoca no ambiente de trabalho

Ontem (11), o ator Carmo Dalla Vecchia se assumiu gay no Dança dos Famosos, programa que substituiu o extinto Domingão do Faustão. Essa notícia gerou vários tipos de comentários, mas dois tipos me chamaram atenção.

O primeiro deles é o "eu já sabia", muito popular no Twitter. O segundo é o "esse tema não é relevante", mais comum aqui no LinkedIn, rede social em que, para alguns, nada que não seja vaga de trabalho deve ser postado. Eu até entendo.

Contudo, eu queria refletir sobre esses dois grupos de reações. O grupo das pessoas que "já sabiam" me chateou um pouco. Sabe por quê? Porque eu já sabia que esse ator era gay. Mas, como eu sabia?

Uma vez, eu li no extinto blog do Léo Dias, no jornal O Dia, (sim, eu já li fofoca, tá passada?) que Carmo e o João Emanuel Carneiro "agora eram só amigos", dando a entender que eles haviam terminado um relacionamento secreto.

A forma como o texto foi construído dizia, entre as linhas, que o galã da Globo era gay, mas não de forma explícita, pois, até então, ele não havia dito nada publicamente.

No jargão jornalístico, o "furo" dado era esse: Carmo sai do armário. Assim como aconteceu, recentemente, com o também ator Leonardo Vieira.

Especular se alguém "é", assim mesmo, sem dizer o que se é, é algo comum no ambiente de trabalho — ou pelo menos era, faz tempo que eu trabalho em home office.

Muitas vezes, você até já sabe que a pessoa é LGBT, mas porque corre uma fofoca na empresa e não porque ela deixou claro isso. Agora, imagine o quão cansativo deve ser viver assim?

Imaginemos a vida de homens e mulheres que só queriam trabalhar, mas que precisavam lidar com as insinuações sobre as suas sexualidades. Quanto sofrimento e confusão esses comentários não geraram?

Quando eu trabalhei na falecida GVT, pude conviver com MUITAS pessoas LGBT. O telemarketing é um ambiente que recebe bem essas pessoas, sabe por quê? Porque o cliente só ouve a voz do atendente.

O mesmo cliente que poderia sair da loja se a vendedora fosse uma travesti, recusar-se a comer um salgado de uma cozinheira lésbica, não tem como saber as características de quem o atende. Doido isso, né?

E mesmo lá, em uma empresa com tantas pessoas dessa comunidade, não era raro ver um confronto entre funcionários ditos "conservadores" e os colegas coloridos.

Em um desses casos, uma pessoa comemorou o fato de que um rapaz da sua equipe estava indo para a igreja, depois dela insistir muito, para ele "largar a vida de pecado". Foi assim que ela me contou essa fofoca.

Toda vez que me lembro da cena, eu fico triste, pois me lembro da cara abalada daquele homem que, na época, tinha pouco mais de 20 anos. Ele precisava de acolhimento e não de alguém lhe dizendo, com entusiasmo, que ele iria queimar no inferno.

Aliás, com o aquecimento global, queimaremos todos, aqui mesmo, independentemente da sexualidade.

Sendo assim, respondendo ao segundo grupo de comentários, essa notícia é, sim, muito relevante — e que bom que foi comentada no LinkedIn. Carmo se assumiu, publicamente, aos 49 anos.

Que a empresa na qual você trabalha não espere tantas décadas para ser mais respeitosa e amigável com as pessoas.

Que os membros da comunidade LGBTQIA+ possam ser respeitados, contratados e promovidos quando forem gerentes, supervisores, estagiários e aprendizes.

Ah! E vamos combinar uma coisa? Nada de ser o Léo Dias da sua empresa, ok?

Lisy Muncinelli

Gerente de Projetos | Redatora Sênior | Comunicação | Marketing

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Muito necessária esta dica!

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