Porquê manejar floresta de Araucaria ajuda na sua preservação?

 A Araucaria angustifolia é reconhecida pelo Estado brasileiro como espécie ameaçada de extinção desde 1992 e que a prática do manejo florestal já alimentou debates em todos os níveis, não se limitando aqui tão somente a uma opinião pessoal.

O Poder Judiciário, mesmo antes do advento da Lei da Mata Atlântica, já se manifestou pela insustentabilidade do modelo. Em resposta à Ação Civil Pública promovida por entidades ambientalistas em novembro de 2000, a Justiça Federal de Santa Catarina determinou ao Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) que suspendesse a concessão de autorizações para a exploração de espécies ameaçadas de extinção no domínio da Mata Atlântica.

No entanto, participei da Audiência Pública para o Manejo de Araucaria angustifolia e Florestas Nativas que aconteceu dia 17 de maio, nesta última sexta feira em Lages-SC. E ouvi relatos de muitos produtores rurais que gostariam de explorar a espécie, tanto para madeira quanto a sua semente, que é muito apreciada na gastronomia local. Por conta da proibição do corte o agricultor ou produtor rural, simplesmente passa a foice no pinheiro araucária que está crescendo, pois sabe que não vai poder utilizá-la como gostaria, além disso, as grimpas, que são as folhas da árvore, corriqueiramente machucam o gado.

Diferentemente da década passada, onde o embasamento técnico era precário nesse debate, posso dizer que saímos da inércia científica sobre o Manejo de Florestas Nativas. Pois desde 2007, o Estado de Santa Catarina realiza o Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina - IFFSC aplica uma metodologia compatível com a do Inventário Florestal Nacional (IFN). Esta metodologia é baseada num inventário sistemático de múltiplas ocasiões, repetido a cada cinco anos, para fornecer informações e monitorar o estado de conservação dos recursos florestais, bem como as mudanças ocorridas ao longo do tempo. Atualmente é um programa permanente do governo estadual.

Além desse estudo, o professor Doutor em Manejo Florestal André Hess, possui três áreas de um estudo piloto sobre o manejo de Araucaria angustifolia. Nessas ele aplicou como metodologia o Quociente de Liocourt.

Categorias diamétricas grandes devem ser eliminadas, porque seu incremento está abaixo do ritmo das categorias menores.

No conceito de Liocourt, existe uma previsão segundo a qual categorias diamétricas grandes devem ser eliminadas, porque seu incremento está abaixo do ritmo das categorias menores. Por isso há a necessidade de experimentos para determinar o diâmetro que deve ser mantido na área (critério de madurez ou condição de exploração). A característica deste diâmetro deve permitir que o futuro volume de remoção anual do povoamento resulte no máximo indicado pelo método.

Dessa forma, observa-se que mesmo não realizando a retirada de indivíduos, a floresta com araucária corre risco de perda de diversidade, pela forma como é utilizada, comprometendo a sua sobrevivência e seu crescimento.

A proposta do Plano de Manejo ainda engloba outros pontos interessantes, como, corte de indivíduos a cada 2 anos; acompanhamento técnico por profissional habilitado; e em áreas com poucos indivíduos deve-se realizar o plantio de mudas até atingir o adensamento proposto pelo método de Liocourt.

Como encaminhamento da audiência ficou proposto a criação de um grupo de estudos para aprofundar o conhecimento, tanto técnico como jurídico e será coordenado pelo Serviço Florestal Brasileiro - SBF.

É preciso mostrar que devemos preservar essa espécie através de seu uso e junto a ela, valorizar a origem econômica da região do Planalto Catarinense.