Esporte Educacional

Módulo 1

MÓDULO 1

Módulo 1
1.1 Conceitos e contextos dos programas de esporte educacional

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É sempre importante lembrar que o Esporte é um direito social constitucionalmente garantido. Segundo o artigo 217 da Constituição brasileira, as práticas desportivas devem ser fomentadas como direito de cada um. Ainda nesse artigo, é apontado que o Esporte Educacional deve ser promovido com destinação de recursos públicos.

Considerando-se a diversidade cultural, social, econômica, política, física, sensorial, cognitiva, entre tantas outras possíveis de se encontrar nos diferentes contextos em que o Esporte Educacional pode ser proposto, para além do direito previsto em lei é necessário que se tenha políticas públicas e que se tenha claro quais os objetivos dessa práxis.

O Esporte Educacional utiliza o esporte como fator de mudança social para além da performance, buscando o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes considerando sua realidade sociocultural e os considerando como indivíduos capazes de fazer mudanças em sua comunidade, os empoderando e apresentando caminhos por meio das vivências no esporte.

Os programas de Esporte Educacional tem se apresentado como importante meio de transformação social, Oliveira e Perim (2009, p. 09) relatam que:

o esporte educacional deve ser compreendido para além de sua forma institucionalizada, ou seja, como toda forma de atividade física que contribua para a aptidão física, o bem-estar mental, a interação, a inclusão social e o exercício da cidadania. Consequentemente, assume como elementos indissociáveis de seu propósito pedagógico as atividades de lazer, recreação, práticas esportivas sistemáticas e/ou assistemáticas, modalidades esportivas e jogos ou práticas corporais lúdicas da cultura brasileira, de forma a possibilitar ampla vivência e formação humana e de cidadania, sobretudo de crianças, adolescentes e jovens.

Mas qual é a proposta do Esporte Educacional?

A proposta do Esporte Educacional é utilizar o esporte como fator de mudança social para além da performance, buscando o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes, considerando sua realidade sociocultural e os considerando como indivíduos capazes de fazer mudanças em sua comunidade, os empoderando e apresentando caminhos por meio das vivências no esporte.

Agora vamos conhecer seus conceitos e seu papel social?

1.1.1 Conceitos e Papel Social do Esporte Educacional

Podemos conceituar o Esporte Educacional como aquele que se utiliza das diferentes práticas corporais com objetivo educativo, buscando à formação integral das crianças e adolescentes, sem ênfase competitiva, sem objetivo de seletividade, entendendo sua realidade sociocultural, os considerando como indivíduos capazes de fazer mudanças em sua comunidade, os empoderando e proporcionando cidadania e dignidade. O Esporte educacional pode ser realizado na escola ou em outros centros esportivos ou espaços, buscando o desenvolvimento integral do cidadão por meio dos valores intrínsecos do esporte.

Para avançarmos na concepção de esporte excludente historicamente construída é importante entendermos como tem sido tratado os conceitos e princípios do Esporte Educacional. A partir da constitucionalização do Esporte Educacional este tem sido utilizado frequentemente como objetivo de políticas públicas e projetos sociais que visam avançar na inclusão social e formação cidadã.

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TOME NOTA

Para começar, que tal anotarmos as características principais do Esporte Educacional?

Podemos conceituar o Esporte Educacional como aquele que se utiliza das diferentes práticas corporais com objetivo educativo, buscando à formação integral das crianças e adolescentes:

  • sem ênfase na competitiva excessiva,
  • sem objetivo de seletividade,
  • entendendo sua realidade sociocultural,
  • considerando–os como indivíduos capazes de realizar mudanças em suas realidades sociais,
  • empoderando-os e proporcionando cidadania e dignidade.

O Esporte Educacional pode ser realizado na escola ou em outros centros esportivos ou espaços, mas sem a ênfase tecnicista que o esporte carrega em sua história.

Discutir e conceituar esporte não é tão simples, segundo Reis et al (2015, p.719):

O esporte como elemento hegemônico na cultura corporal é emblemático e metafórico da grandeza e complexidade que o marca. Trata-se de uma das mais ricas, controversas e paradoxais dimensões da cultura humana. Conhecê-lo implica apreender sua gênese e seu desenvolvimento, em outros termos significa entender o que ele foi, o que está sendo e o que tende a ser.

Ao se estudar e discutir o Esporte Educacional muitas variáveis podem ser objeto de estudo, Reis et al (2015) realizaram uma análise da produção científica sobre Esporte Educacional e encontrou três categorias de estudos, sendo eles: Formação Esportiva na Escola, Esporte e Inclusão Social em Projetos Socioeducativos e Política do Esporte Educacional. Os resultados apontam a “necessidade de revigoramento da produção científica sobre o tema”. Ressaltamos e concordamos com as conclusões e entendemos o revigoramento com duas concepções: a necessidade de robustecimento, ou seja, aumento de estudos na área, mas, também, como revitalização, isto é, olhar a partir de um novo paradigma.

É dessa forma que propomos olhar para o Esporte Educacional a partir da ótica inclusiva, onde a diversidade humana precisa ser considerada. Assim, partimos das nossas pesquisas e publicações sobre a inclusão de pessoas com necessidades específicas, entre elas as pessoas com deficiência. Mas fazemos isso com postura crítica e responsável sem privilegiar um grupo ou outro, entendendo todas as pessoas como diversas e como detentoras de eficiências e deficiências. E sem fazer de conta ou tratar com menosprezo aqueles que tenham alguma característica, que não seja a esperada enquanto uma performance adequada ou esperada para o momento.

Oliveira et al (2009, p.238) trazem como preocupação e nos fazem refletir sobre a necessidade de se ter uma visão crítica dos objetivos a serem atingidos com o Esporte Educacional e traçar objetivos por meio do planejamento:

“Fazer de Conta” que sua finalidade é democratizar o acesso ao Esporte Educacional de qualidade como forma de inclusão social, criar espaços de empoderamento, viver com a diversidade, melhorar as habilidades motoras, diminuir a evasão escolar, educar pelo esporte e para o esporte, entre outras finalidades, faz de suas intenções uma grande “força de vontade” que terá pouco resultado.
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O papel social e educacional do esporte já é amplamente discutido na literatura, suas características universais, plurais, culturais, formativas, educativas, pedagógicas, entre tantas outras, o tornam parte importante de Programas Sociais. Daólio e Belozo (2008) propõem um novo olhar para a técnica esportiva, com ênfase na construção cultural desse elemento para repensar a pedagogia do esporte, a partir de referenciais das ciências sociais e humanas, tratando a cultura esportiva ressignificada, mais democrática, singular e autoral. Os autores consideram como técnica o “modo de fazer” e como tática as “razões do fazer”.

1.1.2 Discutir Exclusão, Segregação e Inclusão Educacional

O Esporte pode ser um importante elemento para minimizar um problema muito sério no Brasil: a evasão e exclusão escolar. Com objetivo de propor uma prática diferenciada no Esporte Educacional, nesse material traremos uma discussão e reflexão sobre a exclusão, segregação e inclusão educacional que podem acontecer no ambiente escolar, na Educação Física Escolar e também no Esporte Educacional vivenciado no horário de aula ou no contraturno.

Apesar dos nossos estudos e pesquisas se pautarem no olhar para as pessoas com deficiência, trataremos esse tema aqui buscando e focando na diversidade humana, onde a diversidade física, visual, auditiva e a neurodiversidade é presente em todas as pessoas. Essa discussão também tem como objetivo abrir portas para uma discussão que faremos posteriormente neste livro sobre a intervenção no desenho universal, onde uma mesma atividade busca atender e abraçar o máximo possível de diversidade por meio de estratégias específicas.

A exclusão escolar não é um fato novo, desde a ampliação da educação pública de 1920 a 1950 já vivenciávamos a exclusão escolar, onde as pessoas que não se adequavam à forma de ensino ou ao sistema educacional vigente eram excluídas do ambiente educacional.

Apesar da inegável importância do movimento dessa época, com redução de grupos historicamente excluídos da educação brasileira, o fracasso escolar, amplamente apresentado na literatura, foi gritante. Levando à exclusão de alguns e à criação das classes especiais, que, diferente do que muitos pensam, não foram criadas especificamente para pessoas com deficiência e sim para estudantes com diferentes características que não se enquadravam ao ensino tradicional.

Apesar das primeiras escolas especiais surgirem em torno de 1850, foi na década de 60 a 70 que o número dessas escolas aumentou significativamente. E não atendia apenas pessoas com deficiência, podíamos na década de 80/90 em escolas especiais de pessoas com deficiência intelectual encontrar com facilidade pessoas com doenças mentais e pessoas com dificuldades educacionais vindas de necessidades educacionais específicas, como transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, dislexia, entre outras, além de pessoas com dificuldades educacionais por falta de estímulos socioculturais.

Esses movimentos de exclusão e integração acontecem quando o sistema educacional se pauta na igualdade de oportunidades e acaba por não reconhecer e valorizar as diferenças. A escola não muda como um todo, mas os alunos têm que mudar para se adaptar às suas exigências. Quantas vezes vimos essa mesma realidade acontecer no Esporte? Quantas vezes as regras e o congelamento dos gestos desportivos são colocados acima das condições e características das crianças e adolescentes participantes?

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No meio educacional a integração prevê a inserção parcial das crianças e se baseia na individualização dos programas instrucionais por meio de serviços segregados. Em Programas de Esporte Educacional, mesmo com o objetivo de ampliar o acesso e realizar a inclusão social, muitas vezes o “fazer de conta” acontece com a divisão de turmas por níveis, onde os menos habilidosos são alocados para turmas próximas da porta de saída e com provável exclusão.

Assim, propomos aqui entendermos e abraçarmos no Esporte Educacional os princípios da Educação Inclusiva, muitas vezes pensada exclusivamente para as pessoas com deficiência, mas que em sua essência deveria ser pensada em toda a diversidade humana.

A inclusão supõe a abolição completa dos serviços segregados. Nessa perspectiva, as mudanças seguem para além de questões estruturais, envolvem princípios metodológicos, utilização de instrumentos adequados, leis e regras que atendam às necessidades educativas de todas as crianças, uso de linguagem que atenda a todos e, principalmente, necessita haver uma mudança no olhar de todos os envolvidos acerca da diferença.

Para Rodrigues (2007, p. 101), “incluir não é acabar com as diferenças, na medida em que integramos os alunos com diferenças significativas aos ‘iguais’, mas, pelo contrário, é enfraquecer a ideia de ‘padronização’ e ‘normalização”. A inclusão parte do princípio de que todos somos diferentes e que a sociedade deve se adaptar para atender as diferenças. Talvez uma das causas mais determinantes da insuficiência da educação integrativa seja esta ter-se preocupado exaustivamente com o apoio ao aluno (com a intervenção com o aluno) e não ter cuidado a intervenção com o professor e com a escola no seu todo (RODRIGUES, 2003, p. 74).

EXEMPLO

Em Programas de Esporte Educacional, mesmo com o objetivo de ampliar o acesso e realizar a inclusão social, muitas vezes se "faz de conta" que há inclusão. Um exemplo é a divisão de turmas por níveis, onde os menos habilidosos são alocados para turmas próximas da porta de saída e com provável exclusão.

Entende-se por inclusão a garantia a todos do acesso contínuo ao espaço comum da vida em sociedade, sociedade essa que deve estar orientada por relações de acolhimento à diversidade humana, de aceitação das diferenças individuais, de esforço coletivo na equiparação, de oportunidade de desenvolvimento, com qualidade, em todas as dimensões da vida (BRASIL, 2001, p. 20). Portanto, independente das diferenças e da relação que as pessoas estabelecem entre si, todos os cidadãos de uma nação democrática devem gozar dos mesmos direitos e deveres.

Todos os cidadãos têm direito à educação e igualdade de condições para o acesso e permanência na escola, direito esse, presente em nossa Constituição (1988) nos artigos 205 e 206. A educação inclusiva é um direito de todos, no entanto, para que aconteça com qualidade, proporcionando a aprendizagem dos alunos, a formação inicial e continuada é fundamental. E propomos que o Esporte Educacional seja um caminho para a inclusão.