Esporte Educacional

Módulo 4

MÓDULO 4

Módulo 4
4.2 Esportes e Possibilidades

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Práticas corporais devem ser abordadas como fenômeno cultural dinâmico, diversificado, pluridimensional, singular e contraditório. Desse modo, é possível assegurar aos alunos a (re)construção de um conjunto de conhecimentos que permitam ampliar sua consciência a respeito de seus movimentos e dos recursos para o cuidado de si e dos outros e desenvolver autonomia para apropriação e utilização da cultura corporal de movimento em diversas finalidades humanas, favorecendo sua participação de forma confiante e autoral na sociedade (BRASIL, 2018, p.215).

O Esporte Educacional deve ser direcionado de uma forma que abranja as muitas possibilidades dos elementos culturais esportivos brasileiros, buscando o maior potencial de compreensão e de universalidade possível (BRASIL, 2005, p.25). Utilizando-se das diferentes modalidades esportivas o professor pode ampliar a possibilidade de atender às diferentes expectativas e interesses dos participantes com toda sua diversidade de gênero, idade, deficiência e aptidão (MELO; BRETAS; MONTEIRO, 2009), incluindo práticas como danças, ginásticas, lutas, capoeira, práticas de aventura e circenses.

Segundo Brasil (2018), diferentes dimensões do conhecimento podem ser acessadas com a experiência de cada prática corporal, que quando problematizadas, desnaturalizadas e evidenciadas podem ganhar sentido e significado para os diferentes grupos e realidades sociais.

A Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2018) traz a importância de se abordar cada uma das práticas corporais e as divide em seis unidades temáticas que devem ser abordadas com crianças e adolescentes a fim de abranger as diferentes culturas corporais, sendo elas: jogos e brincadeiras, esportes, ginásticas, danças, lutas e práticas corporais de aventura.

Assim como na Educação Física Escolar, apresentada em Brasil (2018), o Esporte Educacional também deve ser entendido com todas as possibilidades e modalidades das práticas corporais, envolvendo os esportes coletivos (RODRIGUES; DARIDO; PAES, 2013), lutas (RUFINO; DARIDO, 2012), ginástica, dança e atividades circenses (GONZÁLEZ, DARIDO, OLIVEIRA, 2017), e práticas corporais de aventura (FRANCO; CAVASINI; DARIDO, 2017).

4.2.1 Abordagem Educacional dos Esportes

Apresentamos, ainda nesse material, que abordar a cultura corporal para além dos esportes coletivos pode favorecer o Esporte Educacional Inclusivo, tornando-o mais atrativo, mais coerente com a realidade social, mais rico em informações e culturas, e, consequentemente, mais inclusivo. Assim gostaríamos de propor que ao se pensar em Propostas Inovadoras de Atuação Inclusiva que se pense em todas essas possibilidades.

Isso não quer dizer que os esportes coletivos devam ser desconsiderados. Os esportes coletivos trazem diversas possibilidades de trabalhar habilidades sociais e pessoais, como: respeito às regras, cuidado com o colega, companheirismo, buscar um objetivo, aceitar a derrota como aprendizagem, entre outras. Rodrigues, Darido e Paes (2013) realizaram um estudo que teve por objetivo apresentar as contribuições da pedagogia do esporte para o ensino dos esportes coletivos nos projetos educacionais, nas suas dimensões técnico­tática e socioeducativa. Relatam que:

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Na realidade dos projetos esportivos de inclusão social, sem perder de vista as finalidades educativas do ensino do esporte, as propostas do referencial técnico tático podem contribuir sobremaneira para o desenvolvimento da autonomia dos alunos em relação à vivência do jogo, desenvolvendo conhecimentos, habilidades e competências que os instrumentalizem a usufruir e transformar as práticas esportivas de acordo com as suas necessidades. Concomitantemente, as propostas do referencial sócio-educativo contribuem no sentido de evidenciar e tematizar os significados sociais subjacentes às práticas esportivas, os princípios, valores e atitudes que permeiam a vivência do esporte, permitindo aos alunos reconhecer e repudiar as injustiças, os preconceitos, a violência e, por outro lado, participar das práticas esportivas com atenção para a diversidade cultural, a ética das relações, entre outros valores que reafirmem o caráter republicano e democrático da sociedade brasileira (RODRIGUES, DARIDO, PAES, 2013, P.335).

Outra possibilidade de prática corporal a ser trabalhada no Esporte Educacional são as lutas. São muitas as possibilidades e modalidades de lutas que podem enriquecer os projetos/programas. Alguns autores discutem que as lutas são muitas vezes caracterizadas por pessoas leigas como um esporte que pode aflorar a agressividade das crianças, no entanto, estudando os princípios, fundamentos e conhecimentos das lutas, verificamos que o respeito ao outro é bastante presente, discutido e utilizado em sua prática. Rufino e Darido (2012) apresentam a complexidade da análise das práticas pedagógicas das lutas considerando suas possibilidades e objetivos. Esse estudo traz elementos que merecem a leitura de todos os que forem propor projetos de Esporte Educacional que utilizem as lutas, concluem que:

TOME NOTA

Portanto, preciso que a prática pedagógica das lutas corporais seja instituída de sentido. Um sentido que não seja pautado nas formas externas “inquestionáveis”, mas sim no indivíduo que se movimenta, ampliando os conteúdos ensinados por meio da explícita contextualização das dimensões dos conteúdos. Uma prática que atribua sentidos singulares e que compreenda as contribuições que a pedagogia do esporte pode trazer, promovendo a constante ressignificação da própria prática na busca desses sentidos. E sentidos que sejam, sobretudo, mais humanos (RUFINO, DARIDO, 2012, p. 297).

Outras práticas corporais podem ser oferecidas no Esporte Educacional, entre elas, as atividades de ginástica, dança e atividades circenses (GONZÁLEZ, DARIDO, OLIVEIRA, 2017). Essas atividades podem proporcionar diversos benefícios como melhora das capacidades físicas, elementos histórico-culturais, proporcionar desafios, entre outros, muitos por meio de suas inúmeras possibilidades.

Rinaldi (2017) relata que as ginásticas podem ser experimentadas como rico e importante elemento educacional, que pode contribuir para que os participantes se tornem transformadores da realidade social em que vivem, mas que dificilmente é abordada no ambiente escolar. Relata que são muitas as possibilidades entre ginásticas fisioterápicas, condicionamento físico, de conscientização corporal, de competição e demonstrativas.

As atividades de aventura também se apresentam como possibilidade e com grande riqueza de potencial para o Esporte Educacional. Franco, Cavasini e Darido (2017, p.139) relatam que as práticas corporais de aventura foram surgindo buscando a superação de obstáculos naturais e que são realizadas com objetivo de “retorno à essência humana, de reaproximação ao meio natural e ao desejo do desafio e superação de limites”.

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As atividades circenses, além de encantar as crianças e adolescentes também apresentam inúmeras possibilidades de vivências corporais, com desafios, controle de movimento e emocional, carga histórico-cultural, entre muitos outros benefícios.

As diferentes modalidades circenses são organizadas de formas distintas: do ponto de vista dos materiais ou de sua utilização, ou ainda conforme a predominância de habilidades (acrobáticas, de equilíbrio...). Uma classificação frequentemente utilizada divide as modalidades em cinco grupos: equilíbrios; aéreos; acrobacias; manipulações de objetos e palhaço (DUPRAT; BARRAGÁN; BORTOLETO, 2017, p. 169).

4.2.2 Esportes paralímpicos como Esporte Educacional

O esporte paralímpico surgiu após a segunda guerra mundial em 1940, como forma de reabilitação de soldados com deficiência. Mas seus muitos benefícios foram expandindo sua utilização e sua procura. Por meio do esporte paralímpico pessoas com deficiência podiam e podem demonstrar suas eficiências e conquistam maior visibilidade e reconhecimento da sociedade em geral.

Dalla Déa et al (2020) apresentam as 22 modalidades do esporte paralímpico, sendo elas: paratriatlo, paracanoagem, atletismo, goalball, natação, tênis em cadeira de rodas, voleibol sentado, basquete em cadeira de rodas, halterofilismo, remo, tiro com arco, bocha, futebol de 5, parabadminton, hipismo, ciclismo (de pista e de estrada), rugby em cadeira de rodas, tiro esportivo, esgrima em cadeira de rodas, judô, tênis de mesa e taekwondo. Com diferentes características, classificações, histórias, exigência de habilidades e capacidades se apresentam como uma rica possibilidade de vivência e desenvolvimento para pessoas com e sem deficiência.

Para participar de uma Competição Paralímpica as pessoas passam por avaliações que as classificam e que verificam se são ou não legíveis para a competição. Mas a participação e vivência do esporte paralímpico pode e deve ser para todos.

Fazer uma experiencia de jogar futebol ou goalball com os olhos vendados é uma experiencia sensorial riquíssima para as crianças e adolescentes sem deficiência. Com desenvolvimento de atenção, comunicação, habilidade auditiva e tátil, ente outros elementos que são importantes para todos nós.

O Goalball é o único esporte paralímpico que não foi adaptado de um esporte convencional, foi criado especificamente para ser praticado por pessoas cegas e com baixa visão. Mas pode ser utilizado nas aulas dos projetos de Esporte Educacional, com todos esses benefícios, também como forma de valorização e respeito pelas pessoas com deficiência.

Entre as muitas possibilidades dos muitos esportes paralímpicos que podemos incluir nos projetos de Esporte Educacional, gostaríamos de chamar a atenção também para a bocha, que é um esporte que todos podem praticar, que costuma ser bem recebido pelas crianças e adolescentes sem deficiência e ainda consegue incluir pessoas com mobilidade reduzida e pessoas com deficiências múltiplas e deficiências mais limitantes.

Miron (2011) realizou uma linda pesquisa que estudou o vôlei sentado em aulas inclusivas com estudantes com e sem deficiência como uma forma de se vivenciar confronto e cooperação numa mesma atividade sem exclusão de estudantes com deficiência física. Verificou que 98% das atividades propostas foram eficazes para proporcionar a interação de estudantes com e sem deficiência, favorecendo a participação e possibilidade de sucesso de todos, despertando valores e conceitos da educação inclusiva.

Convidamos vocês a conhecer os Esportes Paralímpicos em Dalla Déa et al (2020) e realizar uma Proposta Inovadora de Atuação Inclusiva por meio da inclusão desses no Projeto de Esporte Educacional para todos os alunos.