Reportagem
Rendas brasileiras
Elas já foram signo de status social. Diversas em suas formas, encantam pela minúcia do trabalho artesanal. Herança de colonizações europeias, repassada por gerações, garante o sustento de famílias em vários cantos do país
2 min de leituraNa delicadeza das peças de renda feitas à mão, revela-se a habilidade e a perseverança
das mulheres (e raros homens) que mantêm viva a técnica, passada de mãe para filha há muitas gerações. Os diversos tipos chegaram ao Brasil pelas mãos de imigrantes europeus, espalhando-se por diversos pontos do país e, muitas vezes, definindo o artesanato local. Alguns são praticados em qualquer parte, e outros, em lugares específicos — como a renda de bilro no litoral, por conta de seu método de produção similar ao da tarrafa ou rede de pesca.
Nos relatos das rendeiras, histórias se repetem e se entrelaçam como as linhas que compõem a riqueza de detalhes das tecituras: “aprendi com minha mãe”, “foi minha avó quem me ensinou”, “faço renda desde que me entendo por gente”. Algumas temem que a técnica se perca pela falta de interesse das jovens em aprendê-la. O risco existe, mas há forte movimento de resgate e preservação, segundo o designer têxtil Renato Imbroisi: “A renda está cada vez mais viva e valorizada; é procurada por designers de moda e decoração e recebe incentivo de instituições e governos”.
Pesquisador de artesanato, Renato participou de projetos de apoio ao desenvolvimento da renda e se recorda de que, ao final dos anos 1990, funcionou uma escola de rendeiras na região do Cariri, na Paraíba, para as mães repassarem o conhecimento aos filhos. Em suas pesquisas, o designer identificou seis tipos principais de renda no país: bilro, filé, frivolité, irlandesa,
nhanduti ou tenerife e renascença. Em 2013, apresentou as modalidades na mostra Renda Brasileira, no Sesc Belenzinho, São Paulo. Conheça cada uma.
A renda de bilro é tecida sobre almofada na qual são presos os fios movimentados com a ajuda de pesos de madeira ou bilros. Típica de Florianópolis, Santa Catarina, existe em outras regiões costeiras. A renda filé também flerta com o mar, porém é produzida sobre tela de fios. O maior núcleo está em Fortaleza, Ceará, mas há em outros cantos do Nordeste.
A renda renascença é forte na região do Cariri, na Paraíba, e em Pernambuco. Para fazê-la, a rendeira prende um papel com desenho na almofada. Sobre o traçado, alinhava o lacê, uma fita plana de algodão, e passa a agulha com a linha nas áreas vazadas.
A renda irlandesa é confeccionada da mesma forma, com uma diferença: no lugar do lacê, usa-se o fitilho ou rolotê, uma fita cilíndrica. Por sua produção, a cidade Divina Pastora, em Sergipe, foi declarada Patrimônio Cultural do Brasil pelo Iphan, em 2009.
As rendas nhanduti e frivolité têm menor produção e não são associadas a uma região. Com desenhos radiais, o nhanduti é feito em pequeno tear circular. Acredita-se que chegou ao Uruguai pelas mãos dos espanhóis. Seu nome significa teia dearanha em guarani. A renda frivolité é produzida nas mãos, sem apoio, usando linha e agulha, ou pequenina navete.