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Acolha o choro do seu filho (Foto: Getty Images)

Menina chorando (Foto: Getty Images)

A violência física e psicológica ainda é um grande problema dentro das famílias, aponta a pesquisa “Primeira Infância para Adultos Saudáveis”, realizada com 7038 cuidadores de crianças de 0 a 5 anos residentes em 16 municípios cearenses, incluindo a capital, Fortaleza. Os resultados do estudo foram divulgados pela primeira vez em junho deste ano.

De acordo com a pesquisa, 49% dos pais entrevistados acreditam ser necessário dar palmadas para educar a criança. Já o castigo foi considerado essencial na educação por 73% e o grito por 25%. No total, 84% dos pais entrevistados acreditam ser necessária a utilização de uma dessas ações ou da combinação delas para educar.

Para a pediatra Sonia Venâncio, diretora-assistente do Instituto de Saúde (SP) e realizadora da pesquisa, os dados apontam a necessidade de discutir a violência dentro da família de forma mais ampla. “Esse resultado mostra que precisamos priorizar políticas públicas que valorizem e reforcem a utilização de métodos de disciplina não punitivos na educação das crianças. A palmada, por exemplo, apesar de ser proibida por lei desde 2014, ainda é considerada necessária por muitos cuidadores”, afirma.

Os dados da pesquisa foram coletados por meio de questionários respondidos pelos cuidadores durante a campanha de vacinação de 2019, que aconteceu entre os dias 7 e 25 de outubro. Aplicadores orientaram os participantes em duas etapas do estudo: a primeira envolvia questões relativas aos cuidados na primeira infância e a segunda avaliava o desenvolvimento infantil da criança com base nas habilidades motoras, linguísticas, socioemocionais e cognitivas adquiridas de acordo com a idade.

Em sua conclusão, a pesquisa aponta ainda que apenas 40% dos bebês foram amamentados exclusivamente até os 6 meses, e somente 35% das crianças que tem entre 0 e 3 anos possui um livro infantil em casa. “Esses dados mostram a relevância de campanhas de conscientização para mostrar como a ler para os pequenos desde cedo contribui para o desenvolvimento infantil", explica Sonia. "Também apontam a necessidade de criação de políticas públicas que possibilitem a amamentação exclusiva por seis meses, como recomenda a Organização Mundial de Saúde por todos os benefícios cognitivos que a prática traz à criança”.

A previsão é de que a pesquisa realizada em um primeiro momento apenas no Ceará se estenda para outras capitais brasileiras em 2021. “Com esses dados sobre a primeira infância no Brasil poderemos preparar de forma mais adequada os profissionais que trabalham com as famílias e planejar ações para estimular o desenvolvimento nas áreas em que temos tido mais dificuldade. Nas últimas décadas, o Brasil esteve focado em reduzir a mortalidade infantil, o que, em grande parte, conseguimos. Agora é o momento de garantirmos um desenvolvimento pleno para nossas crianças, o que não é possível sem informação”, afirma a pediatra.