Você provavelmente já ouviu várias vezes que o leite materno é o melhor alimento para o bebê e que tem vários benefícios para a saúde e o desenvolvimento - a curto, médio e longo prazo. Porém, nem todas as mães têm a mesma facilidade, já que vários problemas podem atrapalhar o sucesso da amamentação. Felizmente, existem pediatras, enfermeiros, consultoras de amamentação e Bancos de Leite Humano, que podem ajudar a resolver a maioria desses desafios, com orientações e técnicas. A translactação e a relactação são algumas delas. Você conhece?
“A relactação e a translactação são técnicas que permitem que o bebê seja amamentado ao seio com o uso de uma sonda”, explica a pediatra Renata Scatena, da Clínica Casa Crescer (SP). A diferença entre elas, segundo a médica, é que na translactação, o bebê recebe o leite da mãe, previamente ordenhado. Já na relactação, ele recebe outros tipos de leite, que podem ser a fórmula ou leite humano doado.
“Ambas as técnicas têm o objeitvo de alimentar o recém-nascido e, ao mesmo tempo, estimular a produção de leite”, diz a consultora de amamentação e doula, Gil Ramos (SP). Como o leite materno é produzido conforme o bebê faz o estímulo, com a boca, a pontinha da sonda, no bico do seio vai ajudá-lo a receber ou leite ordenhado, doado ou a sonda, ao mesmo tempo em que ele faz o movimento de sucção, dando ao organismo materno o sinal verde, para aumentar a produção e a ejeção.
Quando a relactação ou a translactação podem ser indicadas?
Tanto a translactação, quanto a relactação, podem ser recomendadas pelo pediatra ou pela consultora de amamentação, em alguns casos de dificuldades permanentes ou transitórias na amamentação, como:
- Bebês prematuros ou que ainda não conseguem mamar, que tenham dificuldade na pega e/ou sucção ineficaz.
- Bebês que estejam com baixo ganho de peso, com indicação médica do uso de complemento sem necessitar de mamadeiras ou bicos artificiais.
- Durante o tratamento das fissuras mamárias da mãe.
- Apojadura tardia, que é quando há atraso na descida do leite.
- Bebês com anquiloglossia (“língua presa”) ou outras dificuldades na mamada, até realização da correção.
- Necessidade de aumentar a produção leite materno.
- Casais homoafetivos ou no caso de recém-nascido adotado ou gestado por barriga solidária.
- Qualquer condição em que o bebê não possa ou não consiga fazer muito esforço, como, por exemplo, cardiopatia congênita, obstrução nasal ou infecções virais.
Como funcionam as técnicas
Existem kits prontos para translactação ou relactação no mercado, mas também é possível adaptar com alguns acessórios, de custo, geralmente baixo. Geralmente, se usa uma sonda nasogástrica de número 4-6, um copo ou seringa de 20 ml e micropore para fixar a sonda. Então, se for fazer a translactação, você coloca o seu leite no copo ou na seringa. Se for a relactação, use o outro tipo de leite, disponível e recomendado pelo pediatra. Então:
- Posicione o frasco na altura dos mamilos.
- Coloque a sonda no seio, de modo que a ponta dela, fique na ponta do mamilo, sem ultrapassá-lo, ou posicione a ponta da sonda na lateral da boca do bebê depois de fazer a pega correta
- Fixe a sonda no seio com micropore
- Posicione o bebê adequadamente, barriga com barriga
- Ajude o bebê a fazer uma boa pega. Ele vai começar a sugar o seio, com a pontinha da sonda, e puxar o leite do copinho.
A pediatra lembra que é importante observar o fluxo de leite pela sonda. “Se estiver muito alto, causando desconforto ou engasgo no bebê, você pode dar um nó na sonda (quanto mais firme o nó, menor o fluxo)”, ensina. “Outra opção é deixar o recipiente com o leite abaixo da linha dos mamilos”, diz. Assim, o leite demora um pouco mais para chegar até a boca do bebê. Ela também destaca a importância de garantir que o pequeno faça uma boa pega, para estimular adequadamente a produção de leite e garantir a eficácia da sução: o bebê precisa abocanhar o máximo da aréola, os lábios inferiores e superiores ficam invertidos, como uma boquinha de peixe, e não há covinhas nas bochechas ou barulhos como “estalinhos”. “Caso a pega não esteja adequada, é importante corrigir”, indica.
Cuidado com a higiene!
A consultora Gil reforça a importância da higiene dos componentes usados nas técnicas. “É essencial manter uma esterlização adequada”, diz ela. “O material pode ser reutilizado (desde que bem esterlizado), mas é recomendado que seja descartado após uma semana de uso”, ensina.
No caso de reutilização, você pode esterilizar os itens em água fervida por 15 minutos. Depois do uso, lave com água e sabão e enxágue bem, utilizando uma seringa para lavar a parte interna da sonda. “Armazene em um recepiente, preferencialmente, de vidro e com tampa”, completa Renata.
Funciona mesmo?
Segundo a pediatra as chances de sucesso de o bebê conseguir mamar, com a correta utilização da translactação ou da relactação, são grandes, embora dependa de cada caso. “A relactação e a translactação funcionam melhor quando acompanhadas por um profissional de saúde experiente e apto para atender às demandas e oferecer suporte técnico e emocional para a família”, acrescenta. A especialista lembra ainda que é importante tratar a causa do problema ou a dificulfade. “O uso das técnicas, na maioria das vezes, é transitório. Costumo dizer para as famílias que é como uma ‘muleta’, que usaremos apenas enquanto ajustamos o que precisa ser ajustado”, compara.
O que é indução de lactação?
A indução de lactação é um processo de início da produção de leite em mulheres que nunca engravidaram ou que, pelo menos, não estiveram grávidas recentemente. “A técnica se justifica em alguns casos, como, adoção, barriga solidária, casais homoafetivos ou que tenha alguma outra relação, geralmente transgênera, em que um ou ambos os parceiros desejam amamentar”, explica a consultora Gil. Isso acontece com protocolos específicos de estímulos/ordenha com bombas elétricas, associados ao uso de medicamentos (precritos pelo médico) e ervas galactogogas (que também ajudam a aumentar a produção do leite materno). “É indispensável o acompanhamento de um profissional especialista em amamentação para apoiar essa lactante durante todo o processo”, completa a especialista.
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