• Marilia Marasciulo
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A Religião Iiorubá é baseada na ideia de que o criador supremo é Olorum, que reina acima das divindades conhecidas como Orixá (Foto: Dierk Lange/Wikimedia Commons)

A Religião Iiorubá é baseada na ideia de que o criador supremo é Olorum, que reina acima das divindades conhecidas como Orixá (Foto: Dierk Lange/Wikimedia Commons)

É impossível falar em religião na África sem primeiro abordar a variedade étnica do continente e a história de colonização e diáspora. Atualmente, predominam no território africano as religiões abraâmicas: Cristianismo, Islamismo e Judaísmo são as crenças de mais de 91% da população. Já as religiões tradicionais são praticadas por 8% da população, segundo a World Christian Encyclopedia

O Cristianismo se difundiu na África desde o surgimento da religião, por causa da presença Romana no continente. Durante o reinado de Ezana, o Grande, a Etiópia foi declarada uma das primeiras nações cristãs do mundo. Importantes figuras do Cristianismo também nasceram na África, como São Maurício, Santo Agostinho de Hipona, o teólogo Tertuliano e os papas Vítor I, Melquíades e Gelásio I.

O Islamismo também fincou raízes no território africano desde sua origem, no século 7. Remonta ao episódio da Migração à Absínia, quando os primeiros seguidores de Maomé se exilaram no território do Império de Axum, na Etiópia, no ano 615. Mais tarde, a religião se espalhou na África Setentrional a partir da expansão do califado de Omar, que começou em 634.

Apesar do predomínio do Cristianismo e do Islamismo, uma característica comum da religiosidade no continente africano é o sincretismo: ao misturar as crenças da religiões abraâmicas com as práticas tradicionais, os povos conseguem preservar sua cultura ancestral.

Embora variadas, as religiões tradicionais africanas têm algumas características comuns. Em geral, são transmitidas oralmente, de geração a geração, por meio de histórias, músicas e festivais. Acreditam em espíritos, na veneração aos mortos e no uso de feitiçaria. São animistas (crença de que entidades não humanas possuem essência espiritual), politeístas e panteístas (crença de que Deus está em todas as coisas).

Com a colonização europeia e a consequente diáspora africana para as Américas, as religiões tradicionais passaram a sofrer transformações. O sincretismo entre as tradições ancestrais e as crenças coloniais deram origem a novas religiões locais. São exemplos o Candomblé no Brasil, o Vodu no Haiti, a Santería em Cuba e o Rastafári na Jamaica.

Conheça a seguir as principais características de cinco religiões tradicionais da África:

1. Mitologias Bantus

É o sistema de crenças e mitos dos povos Bantu, um dos maiores grupos etnolinguísticos da África. Espalha-se em subgrupos por praticamente toda a África Subsaariana. As diversas mitologias Bantu acreditam em um Deus supremo que vive próximo dos céus, separado dos homens, que vivem na terra. Não há um mito de criação, já que o universo e os animais são eternos. Há também a crença de que os espíritos dos mortos têm influência sobre os vivos, e que sua existência depende do quanto as pessoas se lembram deles.

2. Vodum

Altar Vodum em Benin (Foto: Dominik Schwarz/Wikimedia Commons)

Altar Vodum em Benin (Foto: Dominik Schwarz/Wikimedia Commons)

A religião Vodum ainda é praticada em países da África Ocidental como Benin, Togo, Gana e Nigéria. Para seus seguidores, os voduns são espíritos que governam a Terra obedecendo a uma hierarquia. A divindade suprema, criadora de tudo, é Mawu, uma figura feminina que representa a lua. Sua contraparte é Lisa, o sol. Mawu é mãe de subdivindades que representam elementos e fenômenos da natureza ou da cultura humana, como os trovões, o oceano, a guerra e a justiça.

Com a diáspora africana, o vodum deu origem a outras religiões, como o Vodu haitiano; o Voodoo de Louisiana, nos Estados Unidos; e o Candomblé Jejé no Brasil.

3. Religião Iorubá

A religião Iorubá é o sistema de crenças da etnia de mesmo nome que habita atualmente a África Ocidental, principalmente a Nigéria. É baseada na ideia de que o criador supremo é Olorum, que reina acima das divindades conhecidas como Orixás. Do Iorubá derivam-se muitas religiões brasileiras de matriz africana, como o Candomblé e a Umbanda.

4. Waaqeffanna

Os oromos são o grupo étnico mais numeroso da Etiópia, representando 35% da população. Embora majoritariamente cristãos ou muçulmanos, muitos também seguem a religião que adora o deus Waaq, conhecido como “o Deus do céu” e único criador do universo.

Ele se manifesta por meio dos Ayaana, espíritos que podem possuir homens e mulheres e falar em seu nome. Os seguidores de Waaq creem que quando alguém morre, reúne-se com seus familiares e amigos em Iddoo Dhugaa, que pode ser traduzido como “lugar da verdade”.

5. Religião Sã

Os sãs, conhecidos como bushmen (povo dos arbustos), são um conjunto de grupos de caçadores-coletores da África Meridional. Trata-se de uma das etnias mais antigas do mundo, pertencente à população ancestral a que todos os humanos modernos descendem.

A etnia sã é uma das mais antigas do mudo (Foto: Ian Sewell/Wikimedia Commons)

A etnia sã é uma das mais antigas do mudo (Foto: Ian Sewell/Wikimedia Commons)

Veneram o Sol e a Lua e acreditam em figuras mitológicas que influenciam os eventos climáticos e o comportamento humano. Seus rituais envolvem danças para ativar um estado de transe entre os xamãs.