• Redação Galileu
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Restam poucos cenários realistas que limitem o aquecimento global a 1,5ºC (Foto: Marek Piwnicki/Unsplash)

Restam poucos cenários realistas que limitem o aquecimento global a 1,5ºC (Foto: Marek Piwnicki/Unsplash)

Existem cada vez menos cenários realistas para impedir que a temperatura média global ultrapasse 1,5 ºC, aponta novo estudo do Instituto Potsdam de Pesquisa de Impacto Climático (PIK, na sigla em alemão), disponível desde a última sexta-feira (7) no site IOP Science. E em todas essas circunstâncias, as metas necessárias foram classificadas como desafiadoras — antes, eram consideradas “razoáveis”.

O objeto de pesquisa dos especialistas do PIK foram os mais de 400 cenários levantados em relatórios do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês). Eles constataram que apenas 20 deles ainda têm condições realistas de seguir o principal objetivo do Acordo de Paris: assegurar que, em relação aos níveis pré-industriais,  o aquecimento global se limite a 2 ºC ou, preferencialmente, a 1,5 °C.

Os cenários foram analisados sob cinco fatores de mitigação, ou seja, ações necessárias para impedir mais impactos do aumento da temperatura global. “Se todas as alavancas de mitigação climática forem puxadas, ainda pode ser possível limitar o aquecimento global a 1,5°C", afirma Lila Warszawski, autora principal do artigo, em comunicado.

Mesmo assim, elas teriam que ser puxadas drasticamente, a níveis desafiadores, e caminhar no sentido do aumento de tecnologias que removam dióxido de carbono (CO2) da atmosfera e transformação das práticas agrícolas e de uso da terra, por exemplo. A redução de outros gases de efeito estufa que não o CO2 também é uma das diretrizes urgentes, neste caso relacionada tanto à produção animal e quanto a vazamentos na extração de petróleo e gás.

“Precisamos de uma revolução sustentável que rivalize com a revolução industrial”, diz o coautor Tim Lenton, da Universidade de Exeter, na Inglaterra. “Esse é um desafio em todo o sistema e ações fragmentadas e compromissos retóricos não serão suficientes”, complementa.

O estudo se debruçou mais a fundo sobre dois cenários apresentados pela Agência Internacional de Energia (IAE, na sigla em inglês) e a Shell, companhia de gás e petróleo. Ambos os cenários prevêem que suas emissões líquidas caiam a nível zero até 2070. Isso, no entanto, não é garantia de contribuição para a meta de 1,5 ºC, já que as duas organizações não estão dentro dos padrões de emissões recomendados para a próxima década. Segundo os pesquisadores, a Shell deve apresentar níveis de emissões em 2030 muito acima de outros cenários avaliados pelo estudo do Instituto de Potsdam.

Alcançando ou não a meta de limitar o aquecimento global, a implementação de altas reduções de emissões permanece essencial, defende o coautor Johan Rockström. Ainda que as chances de fracasso sejam elevadas, manter a meta no radar continua sendo importante para limitar também os impactos sobre ecossistemas inteiros, como a floresta amazônica e as calotas polares. “Por mais técnico que possa soar, trata-se realmente de garantir um futuro climático seguro para todos”, conclui o pesquisador.

Esta matéria faz parte da iniciativa #UmSóPlaneta, união de 19 marcas da Editora Globo, Edições Globo Condé Nast e CBN. Saiba mais em umsoplaneta.globo.com.