• Luciana Borges
  • Colaboração para a Marie Claire, do home office
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Christina Amaral em viagem na Patagônia (Foto: Arquivo Pessoal)

Christina Amaral em viagem na Patagônia (Foto: Arquivo Pessoal)

Existe idade limite para se viver a vida que você sempre desejou? Para a capitã de barcos Christina Amaral, de 56 anos, que hoje passa a quarentena por causa da pandemia de Covid-19 em um veleiro ancorado na região do Ushuaia, na Argentina, a resposta é definitivamente: "vá atrás do seu sonho já".

É nessa embarcação que ela vive agora entre aulas online de navegação em mar aberto para alunas mulheres, momentos para ler, escrever e fotografar a fauna local, e trabalhos de manutenção para manter o veleiro em dia. Chris estava em viagem entre o Chile e a Argentina quando o isolamento foi decretado pelos países da América do Sul. "Cheguei a fazer os papéis de saída, estavam carimbando meu passaporte e, de repente, parou tudo. As fronteiras estavam fechadas na América inteira", diz.

Nascida em São Paulo e criada em Minas Gerais, Christina sempre teve uma ligação especial com o oceano. "A primeira lembrança que tenho de mar é de uma brincadeira num barquinho, que depois eu vim saber que era uma jangada, em uma praia de João Pessoa, na Paraíba. Devia ter uns três anos de idade nessa época", conta ela. Há cerca de 20 anos é capitã de barcos e tem habilitação para pilotar em todos os oceanos, desde que as embarcações sejam para esporte, turismo ou lazer. "Quando eu desejei entrar para a Marinha, na adolescência, não existia essa possibilidade porque não se aceitavam mulheres nessa época. Então, essa coisa de pilotar navios ficou meio adormecida", diz. Só aos 36 anos, depois de um filho e dois casamentos, é que ela retomou o plano. "Comecei a me preparar fazendo cursos de primeiros socorros na Cruz Vermelha e revendo outros de elétrica e mecânica básica, que eu já havia estudado há anos. Daí foquei em tirar as habilitações: arrais, mestre e capitão. Lia tudo o que existia na época sobre literatura náutica. Estudava até meteorologia", conta.

Durante a transição de carreira ela foi, quase sempre, a única mulher dentro de embarcações lotadas de marinheiros. "Uma vez, um tripulante (homem, claro) ficou dando indiretas nos jantares com o resto da tripulação do barco sobre eu estar lá, enquanto todos estavam rindo. Nesse momento, eu me levantei e respondi de volta. Ninguém esperava essa reação. Isso foi um marco e depois ninguém mais mexeu comigo".

Christina Amaral (Foto: Arquivo Pessoal)

Christina Amaral (Foto: Arquivo Pessoal)

A história de Christina mostra que nunca é tarde para realizar nossos desejos mais íntimos. E que envelhecer é muito mais saber quem se é, de verdade, do que ficar buscando uma eterna juventude. Acompanhe a entrevista abaixo:

Marie Claire: Você está passando a quarentena dentro de um veleiro porque navegava quando as fronteiras foram fechadas, certo? Como aconteceu?
Christina Amaral: Há dois anos meu projeto é navegar nas regiões de altas latitudes, ou seja, nas áreas mais afastadas da linha do Equador. Tenho uma escola de navegação para mulheres e criei esse projeto com um sócio, que tem o barco. Dividimos as responsabilidades de manter a embarcação e trazer minhas alunas para fazer a ação no temido Cabo Horn, no Chile. Eu deveria passar dois anos nessa região, de 2019 a 2021, e minha base era em Porto Williams, a última cidade austral do mundo, também em solo chileno. Acontece que acabei vindo para o Ushuaia, que são uns 50 quilômetros de distância (mais ou menos umas quatro, cinco horas de navegação) para buscar peças para o motor de popa e aproveitar para embarcar duas alunas. Cheguei a fazer os papéis de saída, os trâmites legais, sabe? E na hora que a gente entrou na migração, eles carimbando o passaporte, de repente parou tudo, o sistema caiu, chamaram no telefone para avisar que as fronteiras estavam fechadas na América inteira. Isso foi dia 16 de março. Estamos aqui até hoje, presos no Ushuaia, sem poder sair, navegar e, tampouco, receber alunos, explorar a região. Também não posso voltar para nossa base, no Chile, porque como as fronteiras estão fechadas, eles não dão saída para a gente. E o Chile também não nos receberia.

MC: Você cogitou voltar ao Brasil?
CA: A única forma de voltar para o Brasil era navegando, mas a gente teria que fazer isso sem parar em lugar nenhum, o que dá mais ou menos 5 mil quilômetros até o primeiro porto. Talvez mais, pensando em porto brasileiro. Não temos autonomia para fazer isso de uma vez nessa época do ano, em que as frentes frias são mais fortes. Então, eu e meu sócio optamos por ficar aqui no inverno e a previsão de voltar ao Brasil seria apenas em abril de 2021 quando o projeto acabasse mesmo.

MC: Quando você acha que começou a sua ligação com o mar? Qual sua primeira lembrança?
CA: Desde pequena sempre fui para o mar, vivi a primeira infância em São Paulo, ia muito ao litoral paulista. Cheguei a morar no Nordeste com a minha família, tanto que meu irmão nasceu lá. A primeira lembrança que tenho de mar é de uma brincadeira num barquinho, que depois eu vim a saber que era uma jangada, em uma praia de João Pessoa. Me lembro do vento levantando a areia e os grãos batendo nas minhas pernas. Devia ter uns 3 anos de idade nessa época.

MC: Você sempre quis pilotar navios?
CA: Aos 7 anos de idade eu me lembro, claramente, de querer ser faroleira, viver numa ilha distante, sozinha. Eu falava isso o tempo inteiro na minha casa. Depois descobri que para ser faroleiro tinha que ser da Marinha. Quando eu desejei entrar para a Marinha, na adolescência, não existia essa possibilidade porque não se aceitavam mulheres nessa época. Então, essa coisa de pilotar navios ficou meio adormecida, mas eu ainda queria viajar o mundo, talvez ser comissária de bordo, ser qualquer coisa que me desse essa chance.

"Minha carreira no mar impactou um pouco a vida pessoal. Vamos dizer que os parceiros que eu tive não eram tão apaixonados pelo mar como eu. Mas eu me sentia feliz e completa. Casei quatro vezes, tenho um filho de 35 anos e uma linda neta de 10 meses""

 

MC: Como foi que decidiu estudar o assunto, então?
CA: Quando eu tinha 32 anos, mais ou menos, conheci dois senhores que estavam pintando um veleiro em Belo Horizonte, onde eu morava. Estavam no seco, imagina? E aí, conversando com eles, acabei convidada para ir ao clube da Lagoa dos Ingleses, ali perto, para conhecer o barco a vela que tinham. Cheguei, me encantei e comecei a velejar com os outros. No mesmo fim de semana, acabei comprando um laser – que é um barco pequeno. A verdade é que saí desse encontro e fui direto para a livraria. Comprei três livros de velejar, de técnica e de tudo relacionado. Não existia o YouTube na época, não existia nada para eu aprender de imediato. Isso foi em 1990 e pouco. Fui estudar e na semana seguinte voltei ao clube para tentar aprender na tentativa e erro. Foi muito engraçado.

Christina Amaral (Foto: Arquivo Pessoal)

Christina Amaral (Foto: Arquivo Pessoal)

MC: Como começou a sua carreira de capitã de navios?
CA: O barco à vela, a ida para a lagoa, tudo isso acabou mudando a minha vida. A partir daí eu já queria morar em uma embarcação, fazia planos para isso. Na época, tinha uma loja de comida congelada e um restaurante em Belo Horizonte, trabalhava com isso. Minha vida era completamente diferente. Comecei a me preparar fazendo cursos de primeiros socorros na Cruz Vermelha e revendo outros de elétrica e mecânica básica que eu já havia estudado há anos. Foquei em tirar as habilitações: arrais, mestre e capitão. Lia tudo o que existia sobre literatura náutica, estudava até meteorologia. Cada dia eu estava mais fascinada pelo assunto. Foi assim que decidi: ia morar num barco. Estava me preparando em terra para poder ir para o mar.

MC: Que tipos de barcos você está habilitada a pilotar?
AC: Minha habilitação permite navegar sem restrição de mar - em qualquer mar, qualquer oceano - desde que a embarcação seja de esporte, lazer e turismo. Não pode ser uma embarcação comercial. Isso não restringe o tamanho também, mas quanto ao peso, a tonelagem desses navios (que são enormes, de 100 metros para cima), é um outro tipo de habilitação que precisa, a de marinha mercante. São quatro anos de estudos e eu não consegui fazer isso pela idade, porque quando comecei já era meio tarde para entrar. Mas vale ressaltar que mesmo na época em que eu era mais jovem não se aceitavam mulheres. Eu me preparei o que eu pude em terra, comprei meu veleirinho e fui morar no mar. Eu fiz muitos deliveries (entrega de barco), trabalhei em regatas, em charter (aluguel de barco). Eu comecei a viver disso em 2000, a viver do mar e morar no mar.

MC: Qual foi a sua sensação, o que você pensou, quando se viu envolvida em uma carreira tão dominada por homens?
AC: Realmente é um lugar muito masculino, muito. Mas eu gostava e não me importava com que as pessoas falavam. Treinava direto, estudava bastante. Tive sorte também, em alguns aspectos, por ser meio intrometida e perguntar como faz, como resolve. Naveguei com pessoas que me ensinaram também. De alguma forma, naveguei com bons professores, aprendi até com os erros deles, com os meus. Em geral, eles me tratavam como iguais. Mas eu sempre mantinha uma distância, sabe? Nunca fui íntima de ninguém, era tudo levado a sério. Mantive, inclusive, uma distância física. Por ser uma área mais masculina, isso me deixava confortável ali, ter minha zona de proteção.

MC: Você sofreu algum tipo de preconceito?
AC: Eu tive muito preconceito, infelizmente. Mas o pior preconceito foi com as mulheres que não gostavam de barco, não estavam no meio e diziam horrores de mim. Aprendi que a opinião dos outros é dos outros e como eu estava fazendo o que queria, eu estava feliz. Você não pode fazer nada quanto a isso, então, eu não me abalava. Uma vez, um tripulante (homem, claro) ficou dando indiretas nos jantares com o resto da tripulação do barco sobre eu estar lá e todos estavam rindo. Nesse momento, eu me levantei e respondi de volta. Ninguém esperava essa minha reação, ficou o maior clima. 

MC: Quais as principais barreiras que conseguiu superar?
AC: Eu dei sorte porque conheci pessoas legais, que viram que meu trabalho era sério, que era comprometida. Com dois anos que eu estava navegando, me convidaram para trabalhar na Europa, como chefe, e as coisas começaram a desenrolar porque lá também tem mais mulheres e aí é outro nível, sabe? São muitas velejadoras, mas ninguém facilita sua vida e isso foi bom para mim também num aspecto. Eu ajudava igual, carregava igual, fazia o mesmo tipo de força. E além do que, quando você faz o que você gosta, as coisas fluem. Me esforçava, sim, mas adorava. Ia dormir exausta, mas feliz da vida. E das barreiras que eu tive, a maior vinha principalmente dos latinos, infelizmente. Eles são muito engraçadinhos, aquelas piadinhas de tripulação, bobas, machistas. Falavam coisas boçais com conotação sexual. Eu fazia de conta que eu não ouvia ou simplesmente ignorava mesmo.

MC: Teve algum caso em especial?
AC: Um dia, vou falar para você que eu estava de "ovo virado", porque estava bastante cansada. Daí um cara começou a fazer essas piadinhas na mesa em que eu estava jantando. Tinham uns doze homens, eu era a única mulher da tripulação. Esse cara, em especial, estava falando bobagens de caráter sexual. Aquilo subiu meu sangue, eu levantei e falei, em alto e bom tom, para mesa inteira ouvir: "Estou cansada dessas suas piadinhas, dessas suas ameaças, do que você é, do que você faz. Põe para fora, então, para ver se vale a pena. Se for pouca porcaria, não vou nem perder meu tempo”. Ele ficou tão sem graça, porque eu fui igual a ele, entendeu? Todo mundo riu dele, mas aquilo foi um marco na minha história náutica. A partir daquele dia, ninguém nunca mais falou nada comigo. Dali por diante, eu era "um dos caras". E acabou que eu usei isso como escudo durante os primeiros anos no mar, porque isso me protegia desse tipo de cantada idiota. E quando comecei a trabalhar e ser comandante dos barcos, já tinha um histórico, todo mundo sabia como eu era, que era profissional, era muito brava com as coisas e isso foi bom de certa forma.

"Eu não sentia falta de ter um relacionamento em terra, algo padrão, como todas as minhas amigas, como as pessoas que eu vejo. Porque eu não as via tão felizes quanto eu""

 

MC: Você já passou alguma temporada sozinha em alto mar? Como lida com a solidão e faz para manter a saúde mental em dia?
AC: Já naveguei meu barco sozinha por dois anos e o maior período que passei sem tocar e ver terra, foi 19 dias navegando em mar aberto. Não é um tédio ficar no mar: a gente sempre está lá para regular a vela, olhar a navegação, a previsão, preparar as coisas, comer, descansar. O tempo inteiro você está trabalhando, não dá para ficar entediado ou ter solidão. E outra, você se integra tanto com a natureza, está tão envolto com tudo ali à sua volta, o horizonte, os animais que aparecem. A vida fica muito simples a bordo. Nossa relação com o mundo é manter o barco acima da água navegando e cabe a você cuidar sempre da sua sobrevivência, de se alimentar bem. Eu não tenho problema de trânsito, de vizinho, sabe? Eu acho que para quem gosta da sua própria companhia, não existe solidão. Ali, navegando, você não tem onde parar, não tem um meio fio, um acostamento para descer. Você vai ter que gostar de você, se fazer algumas perguntas e encarar as respostas. Você não precisa saber tudo, não precisa dar conta de tudo. Ok, eu erro, eu não gosto, posso ficar brava. Às vezes, eu xingava as ondas, o vento, quando estava demais… Em uma ocasião, peguei uma tempestade tão forte que tive de ficar três dias no barco, sem poder ir para o lado de fora. Tirei as velas, deixei o barco à deriva, estava no meio do nada. E aí, naquele momento, descobri que toda tempestade estava do lado de fora do barco e que, uma hora, ela acaba. Nenhuma tempestade dura para sempre. Mas você não pode trazê-la para dentro do barco, para dentro de você, porque senão, ela nunca vai acabar. O mar faz a gente lidar com um problema de cada vez, com um dia de cada vez, e viver esse dia na sua intensidade, porque são dias maravilhoso que a gente tem - não é só a tempestade, lógico (risos).

MC: Por conta das constantes viagens, como sua carreira impactou em sua vida pessoal? Como você lidou com isso?
AC: Impactou um pouco. Vamos dizer que os parceiros que tive não eram tão apaixonados pelo mar como eu. Mas me sentia feliz e completa no mar. Casei quatro vezes, tenho um filho de 35 anos e uma linda neta de 10 meses. Meu filho já navegou e trabalhou comigo. Ele tinha 15 anos quando decidi viver em um barco. Então, de certa forma, essa parte de casar, ter tido filho, estava resolvida. Quando decidi morar no barco estava com meu terceiro companheiro e ele me deu força. Mas, após alguns meses, ele descobriu que não era o que queria. Voltou para a terra e me pediu: “Vamos ficar por aqui e você navega quando quiser”. Foi aí que eu falei: "Não me pede para escolher entre o mar e você, que eu custei muito para descobrir o que eu queria da minha vida”. A verdade é que queria estar no mar, navegar, ser livre para ir aonde o vento me levasse. Depois disso, com as pessoas que conheci - tive um outro relacionamento que durou 10 anos - também passei por esse conflito. Viajava muito, ficava pouco tempo no Brasil e quase não nos víamos. Era ótimo numa parte porque a relação não tinha rotina, mas ele também não era um parceiro que ia fazer essas viagens comigo. Acabamos nos distanciando por isso.

MC: E como foi para você esse rompimento?
AC: Sabe como eu lidei? Estava muito feliz no mar, me sinto em estado de graça, essa é a minha casa. Então, quando você está feliz, se sente completo no que está fazendo, ama o que está fazendo, simplesmente não sentia falta de ter um relacionamento em terra, algo padrão, como todas as minhas amigas, como as pessoas que eu vejo. Porque eu não as via tão felizes quanto eu: estava lá fazendo o que eu queria, a hora que queria, ninguém mandava em mim. Nossa, era tudo de bom (risos). Acho que não, a minha carreira não atrapalhou em nada a minha vida.

MC: Como está a sua vida hoje no que se refere à carreira de capitã? Quais próximos passos você tem em mente?
AC: Acho que estou onde eu queria estar. Tenho reconhecimento do meu trabalho, já realizei muita coisa. Sou co-autora de dois livros, um deles de uma editora portuguesa e outro, no Brasil, de co-autoria com mais treze velejadoras. Escrevemos crônicas nossas do que vivemos no mar, são todas velejadoras. O livro chama “Mulheres Velejando Pelo Mundo”. A verdade é que naveguei por lugares que sonhava conhecer, mas sempre existe outro sonho, sempre tem os próximos passos. Quero continuar navegando nas altas latitudes, que é onde a natureza te desafia, você se sente vivo o tempo inteiro, se descobre. E para o futuro, costumo dizer que acho que só vou sossegar quando conhecer todas as ilhas da Micronésia - e lá tem "apenas" umas seis mil (risos). Ainda não cheguei naquele oceano. Ou seja, vai demorar para sossegar, tenho muito lugar para navegar ainda.

MC: Que conselhos você poderia dar para as mulheres acima dos 45 anos que desejam desbravar o mundo ou fazer algo que nunca fizeram antes?
CA: Eu acho que o único conselho é ouvir a sua intuição, é descobrir aquilo que mais gosta, aquilo que mais quer para você da sua vida e fazer isso. E nunca, nunca é tarde, sabe? Não importa 45, 50 anos: vá fazer! Eu conheci a Patagônia com 53 anos, eu vim navegar nessas altas latitudes, que “só grandes navegadores fazem isso”, eu vim. E descobri, estudei e é possível fazer. Mas, tem que querer fazer, tem que estar de bem com você. Se apaixone por você mesma. E essa é também a vantagem da gente ter mais de 40, a gente já se conhece um punhado, já sabe o que quer e o que não quer, principalmente. Acho que é isso: vale a pena você ir atrás do que gosta, do seu sonho e não se incomode com a opinião de ninguém, nunca.

MC: Como você se sente diante do envelhecimento? Como você encara isso?
AC: Bom, eu tenho um problema sério na minha família, porque a gente não tem cabelo branco (risos). Minha avó morreu com noventa e tantos anos e tinha um pouquinho de cabelos brancos só, assim, nas têmporas. Então, meio que não me vejo envelhecendo, eu mesma devo ter dois fios de cabelos brancos. E isso é um problema, porque como não vejo, a gente não sabe que está passando por isso. Acho que a vantagem do envelhecimento também é que a gente acaba se importando menos com os outros, e mais com você mesma. Eu me agrado mais, faço as coisas por mim, e não pelos outros. Às vezes eu penso: “será que vou conseguir navegar com 70, 80 anos?”. Eu estou com 56 e acho que sim, até o dia que der. E o dia que não der eu reinvento outra história para mim, vou viver outra coisa. Mas envelhecer não é uma coisa que me preocupa, esse futuro distante. Porque a pandemia trouxe isso muito para gente, assim como mar traz essa experiência, a gente tem que viver agora, hoje. Está certo que a gente não pode detonar, porque costuma ter um "amanhãzinho" ali, então... (risos). Hoje em dia, não me preocupa mais a minha idade. Eu estou de bem comigo.

Christina Amaral em viagem na Patagônia (Foto: Arquivo Pessoal)

Christina Amaral em viagem na Patagônia (Foto: Arquivo Pessoal)