Retratos

Por Giulianna Campos

Hebe Camargo, uma das mulheres mais importantes da televisão brasileira, nasceu, coincidentemente, na data em que se comemora o Dia Internacional das Mulheres. Se estivesse viva nesta quarta-feira, 8 de março – ela morreu em 2012 em decorrência de um câncer no peritônio – festejaria 94 anos e uma jornada em prol das causas femininas e feministas num mundo dominado pelos homens.

Para homenageá-la, Marie Claire escolheu 8 momentos em que a apresentadora se mostrou muito à frente de seu tempo: expondo suas ideais liberais, empoderando e inspirando outras mulheres, batalhando pela liberdade de expressão e sexual, apoiando o movimento LGBTQIA+, defendendo a descriminalização do aborto e muito mais.

Hebe Camargo na TV Tupi — Foto: Reprodução de arquivo
Hebe Camargo na TV Tupi — Foto: Reprodução de arquivo

1. Apresentou o primeiro programa feminino da TV

Depois de ter sido convidada por Assis Chateaubriand para participar da primeira transmissão ao vivo da televisão brasileira, TV Tupi, em 1950, cinco anos depois Hebe lançou o primeiro programa feminino da TV brasileira: O Mundo é das Mulheres. Ao lado de outras cinco apresentadoras, dirigidas por Walter Forster, elas entrevistavam convidados homens que estavam em evidência. Na época, Hebe tinha 26 anos.

Em 1998, numa entrevista ao portal Imprensa, Hebe falou sobre os homens comandarem o mundo da televisão. "Os donos (da TV) são eles, né? É coisa de homem. De uns 10 anos para cá, é que a mulher começou a crescer, evoluir, participar. A mulher era submissa demais", afirmou ela.

Hebe esteve no ar durante o período de Ditadura Militar no Brasil — Foto: Arquivo Agência O Globo
Hebe esteve no ar durante o período de Ditadura Militar no Brasil — Foto: Arquivo Agência O Globo

2. Foi contra a ditadura militar e repressão

Hebe esteve no ar durante o período de Ditadura Militar no Brasil e nunca deixou de expor sua opinião em frente às câmeras e defender a liberdade de expressão. Mesmo sofrendo ameaças de censura, ela criticava à repressão e o governantes da época.

Maurício Farias, diretor do filme Hebe – A Estrela do Brasil, em entrevista coletiva à imprensa no dia do lançamento do longa, disse que a apresentadora sofreu mais de 90 processos. "O deputado Ulysses Guimarães falou que ia cassar o programa dela por considerá-lo inadmissível em uma democracia. Você consegue imaginar o Ulysses Guimarães, um ícone do nosso pensamento democrático falando uma coisa dessas? Ele falou, em pleno Congresso Nacional, que Hebe estava achincalhando os deputados Constituintes.”

Hebe esteve no ar durante o período de Ditadura Militar no Brasil — Foto: Arquivo Agência O Globo
Hebe esteve no ar durante o período de Ditadura Militar no Brasil — Foto: Arquivo Agência O Globo

Em 2016, quando gravou seu milésimo programa no SBT, ela foi entrevistada por Ana Paula Padrão, Adriane Galisteu, Regina Volpato, Amália Rocha, Joyce Ribeiro e Marília Gabriela. Na ocasião, voltou a falar de política.

"Nada de partidarismo. Agora voto em pessoas. Estou muito desapontada com meu país. O povo brasileiro sofre rindo, dançando, brincando. Ele deveria ser melhor tratado. Claro que existem políticos bons, mas os ruins estão se sobressaindo, infelizmente", disse ela, que era conhecida por apoiar Paulo Maluf.

3. Movimento LGBTQIA+

Em 1987, durante uma sabatina no Roda Viva, Hebe defendeu os homossexuais em rede nacional, manifestando seu apoio ao movimento LGBTQIA+. Durante o programa, o mediador, Augusto Mendes, pergunta para a apresentadora o motivo pelo qual ela defenderia o "homossexualismo". A apresentadora então respondeu: “Por que não defender? Por quê? Eles são piores que a gente? Eles escolheram ser assim? São seres humanos iguais à gente. Eles têm pai, têm mãe, irmãos, trabalham, pagam seus impostos".

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Na ocasião, o jornalista José Roberto Paladino interrompe Hebe e a questiona se o comportamento progressista dela não seria um exemplo de interferência para propagação. "Não, meu queridinho. O fato de eu falar não vai mudar. Ou as pessoas nascem assim ou não nascem, não é porque a Hebe Camargo falou", finalizou.

Anos depois, questionado pela conduta da mãe, Marcello Camargo, seu filho, contou que até hoje suas falas são replicadas, principalmente na internet.

“Teve muita repercussão naquela época, mas acho que hoje tem sido ainda mais. É impressionante como isso viralizou. A todo tempo, sempre tem alguém repostando isso nas redes sociais. É incrível ver a força da palavra dela. Uma vez, ela levou a Roberta Close ao programa e a censura caiu em cima por levar para a TV uma travesti, mas ela sempre se posicionou contra esse preconceito.”

4. Fez um aborto e falou publicamente sobre ele

Hebe e o namorado Luis Ramos: a apresentadora revelou um aborto aos 18 anos — Foto: Reprodução Arquivo
Hebe e o namorado Luis Ramos: a apresentadora revelou um aborto aos 18 anos — Foto: Reprodução Arquivo

Na mesma entrevista ao Roda Viva, Hebe revelou que fez um aborto, aos 18 anos, ao engravidar do namorado, Luís Ramos, logo no início da vida artística. Com medo de ser expulsa de casa pela família, por estar grávida e não ter marido, ela procurou uma casa clandestina e fez o procedimento cirúrgico sem anestesia.

“Acho que é uma coisa muito pessoal. Eu não aconselho as pessoas a fazerem, porque acho que cada um tem que saber o que deve fazer. Acho que é uma coisa de conscientização própria”, disse Hebe ao ser questionada na entrevista, deixando claro sua defesa pela descriminalização do aborto.

"Sou católica, mas defendo o aborto em alguns casos. A filha de uma conhecida minha foi estuprada e a família não quis o aborto. Foi pior: o filho nasceu com a cara do estuprador. É um estigma para o resto da vida. Num caso desses, como a Igreja pode ser contra", completou.

Posteriormente, ela sofreu dois abortos espontâneos. Hebe tem somente um filho, Marcello, do primeiro casamento com Décio Capuano.

5. Se casou duas vezes – mesmo sem a Lei do Divórcio em vigor

Hebe e o primeiro marido, Décio Capuano, em 1964 — Foto: Reprodução Arquivo
Hebe e o primeiro marido, Décio Capuano, em 1964 — Foto: Reprodução Arquivo

Hebe se casou pela primeira vez em 14 de julho de 1964 com o comerciante de carros importados Décio Capuano. No ano seguinte, ao dar à luz ao primeiro filho, ela foi obrigada pelo marido - um sujeito ciumento e possessivo -- a desistir de sua carreira na TV para cuidar da família. Os dois ficaram juntos por sete anos num relacionamento conturbado marcado por episódios de machismo e abuso.

Cansada das humilhações, traições e a oposição de Décio à sua carreira, Hebe saiu de casa com Marcello em 1971 e o desquite foi assinado no mesmo ano.

A Lei do Divórcio, rompimento legal e definitivo do vínculo do casamento civil, foi instituído oficialmente no Brasil seis anos depois, com a aprovação da Emenda Constitucional nº 9, de 28 de junho de 1977.

Hebe e o segundo marido, Lélio Ravagnani — Foto: Arquivo Agência O Globo
Hebe e o segundo marido, Lélio Ravagnani — Foto: Arquivo Agência O Globo

Em 1973, a apresentadora começou a namorar o empresário Lélio Ravagnani e seis anos depois, se casaram numa cerimônia civil. Novamente, Hebe teve de lidar com ciúmes e momentos explosivos do segundo marido. Ele também não se dava muito bem com Marcello Camargo. A apresentadora chegou a ser alvo de violência doméstica por parte de Lélio, episódio de sua vida pouco falado em público. Hebe e Lélio foram casados até a morte dele em 2000.

"No meu primeiro casamento, eu fui uma mulher muito submissa. Larguei minha profissão, tive meu filho e virei dona de casa. Mas, não deu certo porque meu marido achava que eu era mais importante do que ele e eu me sentia infeliz. Já com meu outro casório, com o Lélio, quando acabou, eu me virei. Aluguei uma casa, comprei tudo novo e refiz minha vida", contou Hebe, em um dos seus programa do SBT, em papo com Marília Gabriela.

6. Era festeira, adorava bons drinques e não escondia sua felicidade

Lélio e Hebe em uma das festas promovida pelo ex-casal — Foto: Arquivo Agência O Globo
Lélio e Hebe em uma das festas promovida pelo ex-casal — Foto: Arquivo Agência O Globo

Na série Hebe, da Globoplay, mostra que a apresentadora era bem festeira e adorava encher sua mansão, no bairro do Morumbi, com amigos e famosos. Ela apreciava bons drinks -- vodca, champanhe e cerveja -- mas nunca ficava bêbada ou de ressaca.

Segundo ela, conseguia beber quatro doses de vodca sem ficar alterada, e a única pessoa que conseguia acompanhá-la na missão era Lily Marinho, viúva do empresário Roberto Marinho.

Hebe Camargo adorava receber convidados nas festas que fazia em casa — Foto: Arquivo Agência O Globo
Hebe Camargo adorava receber convidados nas festas que fazia em casa — Foto: Arquivo Agência O Globo

Em um dos seus restaurantes preferidos, A Bela Sintra, em São Paulo, tão logo quando chegava, os garçons lhe traziam um bloody mary numa versão mais apimentada, chamada por ela de “meu blodão”.

7. Colocava as pernas de fora e era adepta a cirurgias plásticas: 'Não sinto o peso do tempo'

Hebe era bastante vaidosa e adorava deixar suas pernocas de fora. Cuidava delas com drenagem linfática duas vezes por semana. "Eu só uso salto alto. Seja em casa, no cabeleireiro…nunca uso salto baixo", contou ela durante uma entrevista em 2016.

A apresentadora também se submeteu, ao longo da vida, a uma série de cirurgias plásticas: duas no rosto, duas nos seios e duas lipoaspirações.

Hebe adorava exibir suas pernas e era adepta das cirurgias plásticas — Foto: Arquivo Agência O Globo
Hebe adorava exibir suas pernas e era adepta das cirurgias plásticas — Foto: Arquivo Agência O Globo

"Quero estar bonita para o meu trabalho na televisão. Sempre fui vaidosa. Quando era jovem eu tinha muito peito, mas eu não gostava e tirei bastante. Hoje as menininhas querem colocar peito e eu, naquela época, só pensava em tirar", dizia.

Diferentemente de algumas apresentadoras e atrizes, que costumavam mentir ou não dizer a idade, Hebe falava da sua com orgulho. "Nunca me preocupei em esconder a idade. Aliás, sou muito criticada pelas amigas. Elas dizem que quando eu falo a minha, revelo a delas também", brincava.

"Eu não sinto o peso do tempo, não me sinto uma mulher velha. Diria até que sou uma velhinha sem vergonha."

8. Exercia sua liberdade sexual e distribuía selinhos

O famoso selinho começou em 1997, quando Rita Lee lhe roubou uma bitoca no palco — Foto: Arquivo Reprodução
O famoso selinho começou em 1997, quando Rita Lee lhe roubou uma bitoca no palco — Foto: Arquivo Reprodução

Mesmo sendo bastante censurada e julgada, Hebe Camargo exercia sua liberdade sexual e falava sobre o tema abertamente em seu programa.

Numa ocasião, questionada sobre um possível namoro com Roberto Carlos, por quem sentia um amor platônico, ela respondeu: “Acho que não daria certo. Eu teria muito ciúme. Seria melhor se fosse só sexo.”

Aos 75 anos, durante outra entrevista, ela voltou a falar sobre relacionamentos. 'Gostaria de ter um namorado para me dar uns beijinhos."

Falando em beijinhos, o famoso selinho começou em 1997, quando Rita Lee lhe roubou uma bitoca no palco. "Hebe estava tão rainha tão rainha que minha boba da corte tascou-lhe um beijo na boca", relembrou a cantora em entrevista ao UOL.

O gesto virou marca registrada da apresentadora e, desde então, era impossível famosos saírem de seu sofá sem um estalinho. Hebe já beijou até o galã e ator inglês Jude Law, que passou pelo Brasil no Carnaval do Rio, em 2011.

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