• Diego Bargas
Atualizado em
Marcelo Médici (Foto: Reprodução/Instagram)

Marcelo Médici (Foto: Reprodução/Instagram)

Marcelo Médici e Ricardo Rathsam estrearam, em 2019, a comédia Teatro Para Quem Não Gosta, e apesar de o título brincar com eles terem como público alvo quem foge das salas de espetáculo, a dupla encontrou plateias entusiasmadas que consagraram a peça como uma das mais divertidas daquele ano. Uma pandemia depois, eles reencontram o público enquanto o texto ganha novo significado. “A peça tem uma questão fictícia de o teatro ser extinto, então ficou assustadoramente atual”, diz Médici, em entrevista para a Quem sobre voltar aos palcos depois de dois anos longe dele.

Marcelo Médici celebra 'Vai que Cola' na Globo e enaltece motoboys na pandemia

Teatro Para Quem Não Gosta faz um panorama da história do teatro, com seus clichês, neuras e aspirações. Sobre ela, o ator diz que “quem é público de teatro se diverte, e quem não é, é importante que tenha uma ótima experiência porque quando não gosta, não vai outra vez. O teatro é uma experiência pessoal muito forte, tem uma coisa ritualística, e parte do nosso trabalho é passar a vida convidando as pessoas para isso. E agora está mais complicado porque nunca tivemos tantas formas de nos comunicar e nunca tivemos uma comunicação tão difícil. As pessoas não querem mais falar ao telefone, nem estar juntas, e ainda tivemos a pandemia”.

Veja peças em cartaz e as próximas estreias para conferir no teatro em SP

Ainda que venham as dificuldades, ele deixa claro que o teatro é seu lugar: “A Internet ampliou o alcance de tudo, mas por mais que a tecnologia evolua, nada nunca vai reproduzir a vivência de estar no lugar, ver tudo de verdade. Já veio gente me dizer que entrou em trabalho de parto depois de uma peça minha, ou que vomitou de tanto rir. Quando fiz Rocky Horror Show as pessoas iam vestidas como os personagens, têm essa possibilidade de catarse, é realmente muito intenso. Fernanda Montenegro já dizia que teatro você tem que ver ou acaba e fica só na memória.”

Marcelo Médici em peça (Foto: divulgação / Lenise Pinheiro)

Marcelo Médici em peça (Foto: divulgação / Lenise Pinheiro)

Os relatos que chegam até Médici só confirmam a força que tem a comédia. E ele entende do assunto: Esteve no Terça Insana, fenômeno do humor estilo stand up, fez parte do elenco de Praça É Nossa e está no Vai Que Cola, em participações esporádicas desde a segunda temporada. “A comédia foi a minha especialização na profissão”, conta. “Gosto de um humor mais crítico, mais elaborado, mas não tenho problema em fazer o que é popular, que se comunicar com muita gente”, e pondera: “As abordagens precisam ser revistas, incluir outros olhares. Não faz mais sentido retratar a princesa Isabel como a heroína que nos ensinavam quando estávamos na terceira série, era uma informação precária. O humor também muda, e pode ser popular e com um senso crítico.”

Marcelo não tem medo de se arriscar. “Preconceito só atrasa a vida. Fui fazer A Praça é Nossa enquanto estava em uma peça da Carla Camurati, arrojada, com um texto irlandes de humor pesado, achei que fossem cuspir em mim, mas ficaram fascinados com essa minha versatilidade. Mas também já me disseram que o que eu fazia era uma bosta”. Ele diz não se incomodar com as críticas. “A vida é feita de altos e baixos e a profissão de ator tem muitos baixos. Você só precisa ter uma conduta coerente.”

Marcelo Médici em peça (Foto: divulgação / Lenise Pinheiro)

Marcelo Médici em peça (Foto: divulgação / Lenise Pinheiro)

Marcelo atuou em novelas como Belíssima (2005), Passione (2010), Haja Coração (2016) e Órfãos da Terra (2019), e chegou a ter contrato fixo com a Globo no início dos anos 2000. “Quis ser ator vendo novelas, e quero fazer outras inclusive. Mas quando fui contratado ficou difícil fazer teatro. Fiquei dos 33 aos 40 e não renovei. Não sei se foi muito inteligente do ponto de vista financeiro. Parece arrogante dizer, mas aquilo já não tinha o deslumbre de quando eu tinha 20 e poucos anos, apesar da estabilidade que vem com o tempo de contrato.”

“Foi uma escolha consciente, e adoro fazer TV. Mas fiz uma escolha e não posso reclamar porque as peças vão bem, apesar de as temporadas estarem mais curtas. Cheguei a ficar 8 meses com Irma Vap e outros oito com Sweet Charity, isso em 2008 e 2006”. Os dois espetáculos são bons exemplos da versatilidade dos trabalhos de Marcelo. “Sempre tive curiosidade pelas coisas, e se hoje posso cantar ou consigo pegar a coreografia de um musical, é porque fui curioso com essa possibilidade também. Tenho pavor de bando, de panelinha. Não tenho preconceito nenhum. Fui pra Nova York ver os espetáculos da Broadway, que cada figurino paga uma peça inteira no Brasil, para entender o motivo de o mundo inteiro vai lá ver teatro.”

Graças ao interesse por musicais, ele conseguiu realizar o sonho antigo de protagonizar um clássico da Broadway, Rocky Horror Show. O espetáculo celebra a liberdade sexual e Médici ostentava um visual andrógino. “Essa peça diz 'não sonhe, seja’. Vi em 1992 no Rio com Tuca Andrada no elenco, Claudia Ohana, Léo Jaime, e só se falava neles, como eram bonitos, sexy. Vi três vezes, nem sei como porque não tinha dinheiro. Daí soube que também tinha um filme (Rocky Horror Picture Show, de 1975), e naquela época era difícil encontrar os filmes, tinha que ir à locadora e era um título cult, meio raro. Me disseram que o ator que fazia o personagem principal, Frank, se parecia comigo, e quando assisti achei o Tim Curry parecido mesmo e adorei, fiquei igual criança. Aquilo tudo era muito distante para mim.”

Ele relembra com bom humor os perrengues do início da carreira - que completou 30 anos na pandemia. “Já fiz muita coisa por dinheiro, mas poderia estar rico se tivesse feito tudo para o que me chamaram para fazer. Mas tem coisas que você é tão humilhado que o dinheiro não paga. Tem que lidar com limites e preservar a dignidade”, ele brinca. Depois da temporada em São Paulo, Teatro Para Quem Não Gosta vai viajar pelo Brasil e já tem destinos confirmados como Porto Alegre, Curitiba, Recife, Belo Horizonte e Ribeirão Preto.

SERVIÇO

Teatro para Quem não Gosta
Onde: Teatro Faap (rua Alagoas, 903, São Paulo)
Quando: Sextas e sábados às 21h, domingos às 18h
Quanto: R$80 a R$100 (inteira)
Informações: faap.br/teatro

Marcelo Médici em peça (Foto: divulgação / Lenise Pinheiro)

Marcelo Médici em peça (Foto: divulgação / Lenise Pinheiro)