Entenda a dor abdominal recorrente na criança e no adolescente, como identificá-la e como conduzir o tratamento do paciente! Bons estudos!
A dor abdominal recorrente na criança e adolescente é um quadro relativamente comum nas emergências do país. Pensando nisso, é fundamental que o médico saiba conduzir os cuidados a esse grupo de pacientes.
Dor abdominal recorrente (DAR): o que é?
A dor abdominal é uma queixa frequente na infância e na adolescência.
Ela é definida como dor abdominal recorrente (DAR), segundo Apleye Naish, como três episódios de dor, com intensidade suficiente para interferir nas atividades habituais da criança, durante um período mínimo de 3 meses.
Esses episódios são caracterizados por uma dor abdominal sem localização específica no abdome ou região periumbilical e em cólica. A dor acarreta em prejuízo nas atividades diárias desse grupo de pacientes.
A dor recorrente é a dor crônica mais comumente entre as crianças. Seu padrão de evolução é períodos de dor intercalados com outros assintomáticos.
Já a dor persistente, que é outro tipo de dor crônica, possui uma duração maior do que 3 meses, no entanto, é bem mais rara de acometer crianças e adolescentes, e quando ocorre normalmente é secundária a uma doença de base.
Etiopatogenia da dor abdominal recorrente: como compreender?
Na imensa maioria dos casos o médico não vai conseguir estabelecer uma etiologia bem definida, seja estrutural, infecciosa, inflamatória, bioquímica ou metabólica que consiga justificar o quadro clínico.
Hoje vários autores têm reconhecido a importância de fatores emocionais na gênese da DAR.
Anamnese: como investigar a dor abdominal recorrente?
A anamnese deve ser completa, não se deve questionar apenas os aspectos clínicos que envolvem a dor, mas também todos os aspectos sociais e familiares da criança.
Caracterizar essa dor é difícil, devido os sintomas serem vagos e a criança pode apresentar uma limitação para descrever o que está sentindo.
É muito rotineiro que as pessoas associem a ingestão de doces e outras guloseimas como fatores desencadeantes das crises de dor abdominal recorrente nessas crianças. Porém, não existem evidências que sustentem essa associação.
A caracterização da dor é importante para direcionar o nosso raciocínio clínico. Apesar disso, não temos evidências de qualidade que demonstrem que informações sobre frequência, intensidade consigam diferenciar entre uma doença orgânica ou funcional.
A forma que a criança vai expressar a sua dor depende de vários aspectos. Dentre eles,
- Faixa etária;
- Sexo;
- Percepção que a criança tem da dor;
- Experiências anteriores;
- Padrões culturais;
- Relações familiares e comportamento dos progenitores.
“Red flags”: alertas da dor abdominal recorrente da criança e adolescente
A história clínica deve avaliar a presença de alertas que possam levantar a suspeita da presença de uma doença orgânica. Uma investigação mais detalhada sobre sinais/sintomas dos sistema genitourinário e gastrointestinal é necessária. Isso se justifica pela maioria das causas orgânicas estarem relacionadas a esses dois sistemas. Alguns sinais de alerta são:
- Dor de localização periférica no abdome e constante no local, que se irradia para as costas, escápula ou MMII;
- Dor que repetidas vezes desperta a criança do sono;
- Presença de manifestações sistêmicas, como perda de peso, febre, anemia, diarreia crônica, entre outras;
- História familiar de doença relevante (p. ex., anemia falciforme, úlcera péptica, doença inflamatória intestinal);
- Alterações no exame físico;
- Alterações no hemograma, VHS ou PCR, urocultura positiva e/ou alterações na urina tipo I.
Famílias com atitude ansiosa diante da queixa de dor recorrente da criança podem estar contribuindo como fator de manutenção.
Muitos pais e responsáveis podem ter um medo que a criança tenha patologias graves e acabam transmitindo isso as criança. Por isso, é interessante que a família se sinta à vontade para verbalizar suas ansiedades e dúvidas diretamente para a equipe.
Exame físico da dor abdominal recorrente: o que procurar?
No exame físico deve constar medidas de peso, de altura e de pressão arterial (PA), com o objetivo de afastar sinais de comprometimento do estado geral ou de causas extra-abdominais da dor.
Ao examinar o abdome deve-se investigar a presença de massas e visceromegalias, regiões álgicas à palpação. Além disso, as regiões genital e perianal também devem ser examinadas para eliminar a hipótese de que a criança tenha passado por um abuso sexual.
Exames complementares: o que solicitar?
Na primeira abordagem ao paciente deve-se solicitar:
- Hemograma
- Provas de fase aguda, como VHS ou PCR
- Exame de urina
- Urocultura
- Parasitológico de fezes
A investigação extensiva de crianças com DAR, sem red flags, não é necessária, é uma conduta que deve ser evitada. Na presença de sinais de alerta, os sintomas e sinais devem direcionar quais os exames a serem solicitados.
Posts relacionados
- Esclerodermia: da classificação ao tratamento;
- Xeroderma Pigmentoso: o que é, tratamento e mais;
- Leucemia Linfoide Aguda (LLA): uso da citometria de fluxo e mais;
- Rins policísticos: saiba como diagnosticar e mais;
- AVC Isquêmico: diagnóstico e conduta na emergência!
Perguntas frequentes
- Qual a definição de dor abdominal recorrente na criança?
É definida como dor abdominal recorrente (DAR), como três episódios de dor, com intensidade suficiente para interferir nas atividades habituais da criança, durante um período mínimo de 3 meses. - Quais os red flags para dor abdominal recorrente?
Dor de localização periférica no abdome e constante no local, podendo se irradiar para as costas, escápula ou MMI, pode desperta a criança do sono. Além de manifestações sistêmicas, história familiar de doença relevante. - Quais exames solicitar na dor abdominal recorrente?
Hemograma, Provas de fase aguda, como VHS ou PCR, Exame de urina, Urocultura e Parasitológico de fezes.
{ "@context": "https://schema.org", "@type": "FAQPage", "mainEntity": [ { "@type": "Question", "name": "Qual a definição de dor abdominal recorrente na criança?", "acceptedAnswer": { "@type": "Answer", "text": "É definida como dor abdominal recorrente (DAR), como três episódios de dor, com intensidade suficiente para interferir nas atividades habituais da criança, durante um período mínimo de 3 meses." } } , { "@type": "Question", "name": "Quais os red flags para dor abdominal recorrente?", "acceptedAnswer": { "@type": "Answer", "text": "Dor de localização periférica no abdome e constante no local, podendo se irradiar para as costas, escápula ou MMI, pode desperta a criança do sono. Além de manifestações sistêmicas, história familiar de doença relevante." } } , { "@type": "Question", "name": "Quais exames solicitar na dor abdominal recorrente?", "acceptedAnswer": { "@type": "Answer", "text": "Hemograma, Provas de fase aguda, como VHS ou PCR, Exame de urina, Urocultura e Parasitológico de fezes." } } ] }
Referências
- GUSSO, G.; LOPES, J. M. C.; DIAS, L. C. Tratado de Medicina de Família e Comunidade. 2ª Edição ed. Porto Alegre: 2019.
- DUNCAN, Bruce (organizador). Medicina Ambulatorial: conduta de atenção primária baseada em evidência. Bruce B.Duncan; Maria Inês Schmidt, Elsa RJ Guilianiet al. 4ª edição. Porto Alegre: Artmed, 2013. ISBN 8536326182