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Fome no mundo em ascensão: seca e conflitos são ameaças constantes

As principais causas estão ligadas a eventos climáticos extremos, conflitos violentos, guerras, desacelerações e crises econômicas

06/11/2019
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O número de pessoas subnutridas aumentou de 785 milhões em 2015 para 822 milhões em 2018. Além disso, condições imprevisíveis e difíceis estão dificultando a produção dos alimentos necessários para uma população em crescimento

Segundo os dados mais recentes da Organização das Nações Unidas (ONU), mais de dois bilhões de pessoas, ou seja, quase um quarto da população mundial, não tem acesso a uma alimentação segura, nutritiva e suficiente. Pelo menos 820 milhões de pessoas sofrem de fome. A fome está aumentando em quase todas as regiões africanas, o que faz do continente africano a região onde a desnutrição é mais elevada proporcionalmente, em torno de quase 20%. Também está aumentando na América Latina e no Caribe, bem como na Ásia, alertou o diretor da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO na Espanha), Enrique Yeves.

A fome no mundo está em ascensão e as principais causas estão ligadas a eventos climáticos extremos, conflitos violentos, guerras, desacelerações e crises econômicas, que continuam a gerar fome em muitas partes do mundo. O número de pessoas subnutridas aumentou de 785 milhões em 2015 para 822 milhões em 2018. Além disso, condições imprevisíveis e difíceis estão dificultando a produção dos alimentos necessários para uma população em crescimento.

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De acordo com o Global Hunger Index 2019 – The Challenge of Hunger and Climate Change (GHI), boletim anual desenvolvido pela Concern Worldwide, em parceria com a Welthungerhilfe, 45 países correm o risco de ainda sofrer de fome crônica até 2030, o que significa que grande parte do mundo ficará atrás dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O Índice Global da Fome também destaca onde a intervenção pode ser mais necessária. O local com o maior nível de fome é a República Centro-Africana, seguida pelo Iêmen, Chade, Madagascar e Zâmbia. Dos 117 países analisados, 43 têm níveis sérios de fome. Burundi, República Democrática do Congo, Eritreia, Líbia, Somália, Sudão do Sul e Síria – nos quais não se pôde aplicar o índice por não haver dados disponíveis, a situação da fome e da subnutrição é considerada preocupante.

Ainda segundo o relatório, a América Latina foi a região com os menores índices de fome. Com uma média de 14 pontos em 2000, os países latino-americanos reduziram os critérios avaliados para 9 pontos em 2018, um índice considerado baixo pela organização. O documento também analisa a fome no Haiti, um dos sete países que apresentaram um índice classificado como muito grave, e no Níger. Estes países têm níveis sérios de fome e são altamente vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas.

O Brasil está menos vulnerável à fome, segundo o Índice Global e não está entre os 47 países com índices alarmantes de fome. Ao contrário: aparecemos, inclusive, em comparação a outros países, num nível de vulnerabilidade baixo para a fome, apesar dos 13 milhões de desnutridos que apareceram em dados do ano passado publicados em relatório da FAO. Outros exemplos positivos citados no documento foram Angola, Ruanda, Etiópia e Myanmar, com melhorias de mais de 45%.

Fome extrema ameaça mais de dois milhões na Somália

Desde o começo dos anos 1990, a Somália vive um cenário de fome e dor. Atingido por uma grave crise de fome, o país africano registra milhares de mortes, causadas principalmente pelos conflitos armados na região e também pelo alto preço dos alimentos. Somente este ano, pelo menos 302 mil pessoas foram forçadas a deixar suas casas em decorrência da violência e secas severas. De acordo com dados da organização não-governamental do Conselho Norueguês para Refugiados (NRC, na sigla em inglês) e da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), a violência e a insegurança foram responsáveis por mais de metade destas deslocações (158.000), enquanto a seca expulsou mais 126.000 pessoas.

Devido à crise humanitária, mais de dois milhões de pessoas vivem ameaçadas pela fome extrema no país, enquanto outras três milhões não têm a certeza de quando terão acesso à próxima refeição. De acordo com o subsecretário-geral da ONU, Mark Lowcock, dos 15 milhões de somalis, mais de três milhões lutam para responder às necessidades mínimas de alimentos. Especialistas descrevem esta crise como uma emergência climática e dizem que a população ainda tenta se recuperar da longa seca que terminou em 2017.

A FAO informou no início de setembro que a colheita de cereais deste ano na Somália é a pior desde 2011. A organização atribui este resultado a padrões climáticos instáveis, ou choques do clima. As Nações Unidas advertiram que na falta de assistência humanitária, mais de 2,1 milhões de pessoas devem enfrentar fome grave no mês de dezembro. As conclusões fazem parte do último relatório de dados da Unidade de Análise de Segurança Alimentar e Nutrição da FAO para a Somália (FSNAU, sigla em inglês), o qual prevê que este cenário deve alavancar o número total de somalis expostos à insegurança alimentar a 6,3 milhões até o fim deste ano. A comunidade humanitária internacional e o governo lançaram conjuntamente um Plano de Resposta à Seca que teve início em junho e vai até dezembro.

O atual cenário é 40% mais grave do que o estimado pela FAO no começo deste ano a respeito do número de somalis em situação de insegurança alimentar, totalizando uma estimativa de 2,6 milhões de deslocados no país vivendo em assentamentos improvisados nos arredores de áreas urbanas, enfrentando a fome e afetados pela violência durante quase três décadas. A Somália vive em estado de guerra e caos desde 1991, quando o ditador Mohamed Siad Barre foi derrubado, deixando o país sem um governo eficaz e nas mãos de milícias islâmicas radicais.

Fome na Somália: foto que gerou comoção e revolta no mundo

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O fotógrafo norte-americano James Nachtwey foi responsável por escandalizar o mundo ao alertar a situação no país africano. Nachtwey registrou cenas cruéis, entre elas, a cena da fotografia Fome na Somália, de 1992, considerada pela TIME uma das 100 mais influentes imagens de todos os tempos. Pessoas esqueléticas, com ossos muito evidentes em seus franzinos corpos, mostraram o horror do período. Uma mulher está dentro de um carrinho de mão, esperando para ser levada a um centro de alimentação. A imagem foi publicada em um artigo de capa do New York Times e gerou uma comoção e revolta coletiva em todo o planeta. A Cruz Vermelha ressaltou que o choque causado pelas imagens gerou a maior operação humanitária desde a Segunda Guerra.