26/04/2021

A educação ambiental desenvolvida nas escolas é fundamental e deve ocorrer desde os anos iniciais. A Política Nacional de Educação Ambiental e, consequentemente, a Política Estadual de Educação Ambiental estabelecem que, ao trabalhar a educação ambiental formal (ou seja, aquela desenvolvida no campo curricular das instituições escolares), esta  não deve ser implantada como disciplina específica no currículo de ensino, devendo ser inserida de forma transversal no âmbito curricular. Mesmo assim, não é incomum a proposição, por diferentes setores, da instituição da educação ambiental como matéria no currículo escolar como sendo esta a única ou melhor forma para implementar a educação ambiental na sociedade. No entanto, ainda que haja clara determinação legal sobre o assunto, cabe ressaltar que Educação Ambiental como disciplina, compondo o currículo escolar, pode não ser a melhor maneira para sua abordagem na educação formal. Compartilhamos a seguir algumas ponderações sobre isso. Complexidade da questão ambiental Dentre os princípios da educação ambiental, segundo a Política Estadual de Educação Ambiental, está a concepção de meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, o socioeconômico, político e cultural, sob o enfoque da sustentabilidade. Assim, a compreensão deste conceito passa pela percepção da complexidade da questão ambiental, exigindo para isso um olhar sistêmico para ela. A “condensação” em uma disciplina pode incorrer em nova compartimentalização da forma de enxergar o meio ambiente e como o modo de vida adotado se correlaciona com as questões econômicas, culturais, sociais, políticas, e como isso impacta o ambiente em que vivemos, nossa saúde e a saúde do planeta. Formação do corpo docente Outro ponto sobre essa questão é, caso Educação Ambiental seja uma disciplina, a qual formação de docentes estaria a disciplina associada? Por mais que a educação ambiental tenha como princípio ser multidisciplinar, muito possivelmente seria assumida por docentes da cadeira de ciências naturais – Biologia e Geografia, por exemplo. O que não é errado, por sua mais explicita associação com meio ambiente. Mas implica novamente em continuarmos compartimentando conhecimentos que transcendem disciplinas, perdendo a oportunidade de apresentar às outras áreas como trazer esse olhar e identificar o quanto de meio ambiente e educação ambiental estão presentes nas outras disciplinas “menos óbvias”. Transversalidade A proposta de solucionar as questões anteriores está na transversalidade. De maneira simplificada, isso significa relacionar os conhecimentos teóricos, organizados e sistematizados com as questões da vida real, apresentando-a abrangente como é, e não fragmentada.  Ao considerar a educação ambiental como tema transversal, as disciplinas podem ser organizadas em torno de um eixo que unifica o processo educativo. Um grande desafio para a transversalidade da educação ambiental na escola é que a graduação dos professores, em geral, é voltada para a abordagem disciplinar, adicionando obstáculos a uma educação ambiental integrada a todas as áreas do conhecimento. Por isso, sempre é bom ressaltar a importância de começar com esse público para desenvolver educação ambiental no ambiente escolar, começando justamente pelos professores. São eles que conduzem o processo formativo, elaboram os projetos político-pedagógicos, projetos interdisciplinares e estão a par das diferentes realidades que os alunos trazem para a sala de aula e podem relacionar com os conteúdos. São os professores que ficam nas escolas, organizando as bagagens que os alunos vão acumulando em sua passagem na construção de conhecimentos. E os alunos que vão passando se beneficiarão muito mais de todo um corpo docente com valores voltados para sustentabilidade e uma cidadania ambiental. Projetos de educação ambiental nas escolas Desenvolver um projeto que agregue todas as áreas é um começo para se alcançar a abordagem transversal, mas é importante que ele seja pautado nos princípios da educação ambiental como o exercício permanente do diálogo, o enfoque democrático e participativo, a pluralidade de ideias e a constante avaliação crítica do processo educativo. Apenas separar um projeto em capítulos disciplinares tampouco trará a compreensão de que estamos todos no mesmo barco, ou melhor, no mesmo planeta. Além disso, a transformação para os alunos é fortalecida se também acontece no ambiente escolar. O aprendizado não alcançará toda sua potência apenas por abordar a importância da reciclagem em uma aula ou em um projeto, se a separação de resíduos para coleta seletiva não é a maneira com que a escola faz o gerenciamento dos resíduos sólidos ali gerados, por exemplo. Mais do que o enfoque para aprendizagem de conteúdo, a educação ambiental objetiva o envolvimento dos estudantes na transformação da realidade trabalhando a noção de corresponsabilidade e o senso de pertencimento, por meio do diálogo e da percepção do entorno e tudo o que faz parte dele – praças, parques e unidades de conservação, rios, lagos, plantações, e equipamentos públicos. Comunidade escolar Finalmente, ao considerar o pensamento sistêmico para questões relacionadas ao meio ambiente, é importante olhar dessa forma também para a comunidade escolar.  Porque em uma escola não há só professores, e não há só alunos. Devemos olhar para a escola como uma comunidade. Diretores, coordenadores, secretários, inspetores, orientadores, merendeiras, porteiros, equipe de limpeza, pais dos alunos, vizinhos da escola, praças, parques, comércio. Onde há uma escola, pulsa uma comunidade. E cada escola pode ser um ponto de transformação de seu ambiente e do nosso ambiente. Mais sobre esse assunto: Educação Ambiental deve ser desenvolvida dentro e fora do ambiente escolar  ------------------------------------------------------------------ Texto: Rachel Azzari - Coordenadoria de Educação Ambiental

A educação ambiental desenvolvida nas escolas é fundamental e deve ocorrer desde os anos iniciais.

A Política Nacional de Educação Ambiental e, consequentemente, a Política Estadual de Educação Ambiental estabelecem que, ao trabalhar a educação ambiental formal (ou seja, aquela desenvolvida no campo curricular das instituições escolares), esta  não deve ser implantada como disciplina específica no currículo de ensino, devendo ser inserida de forma transversal no âmbito curricular.

Mesmo assim, não é incomum a proposição, por diferentes setores, da instituição da educação ambiental como matéria no currículo escolar como sendo esta a única ou melhor forma para implementar a educação ambiental na sociedade.

No entanto, ainda que haja clara determinação legal sobre o assunto, cabe ressaltar que Educação Ambiental como disciplina, compondo o currículo escolar, pode não ser a melhor maneira para sua abordagem na educação formal. Compartilhamos a seguir algumas ponderações sobre isso.

Complexidade da questão ambiental

Dentre os princípios da educação ambiental, segundo a Política Estadual de Educação Ambiental, está a concepção de meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre o meio natural, o socioeconômico, político e cultural, sob o enfoque da sustentabilidade.

Assim, a compreensão deste conceito passa pela percepção da complexidade da questão ambiental, exigindo para isso um olhar sistêmico para ela. A “condensação” em uma disciplina pode incorrer em nova compartimentalização da forma de enxergar o meio ambiente e como o modo de vida adotado se correlaciona com as questões econômicas, culturais, sociais, políticas, e como isso impacta o ambiente em que vivemos, nossa saúde e a saúde do planeta.

Formação do corpo docente

Outro ponto sobre essa questão é, caso Educação Ambiental seja uma disciplina, a qual formação de docentes estaria a disciplina associada? Por mais que a educação ambiental tenha como princípio ser multidisciplinar, muito possivelmente seria assumida por docentes da cadeira de ciências naturais – Biologia e Geografia, por exemplo.

O que não é errado, por sua mais explicita associação com meio ambiente. Mas implica novamente em continuarmos compartimentando conhecimentos que transcendem disciplinas, perdendo a oportunidade de apresentar às outras áreas como trazer esse olhar e identificar o quanto de meio ambiente e educação ambiental estão presentes nas outras disciplinas “menos óbvias”.

Transversalidade

A proposta de solucionar as questões anteriores está na transversalidade. De maneira simplificada, isso significa relacionar os conhecimentos teóricos, organizados e sistematizados com as questões da vida real, apresentando-a abrangente como é, e não fragmentada.  Ao considerar a educação ambiental como tema transversal, as disciplinas podem ser organizadas em torno de um eixo que unifica o processo educativo.

Um grande desafio para a transversalidade da educação ambiental na escola é que a graduação dos professores, em geral, é voltada para a abordagem disciplinar, adicionando obstáculos a uma educação ambiental integrada a todas as áreas do conhecimento.

Por isso, sempre é bom ressaltar a importância de começar com esse público para desenvolver educação ambiental no ambiente escolar, começando justamente pelos professores. São eles que conduzem o processo formativo, elaboram os projetos político-pedagógicos, projetos interdisciplinares e estão a par das diferentes realidades que os alunos trazem para a sala de aula e podem relacionar com os conteúdos.

São os professores que ficam nas escolas, organizando as bagagens que os alunos vão acumulando em sua passagem na construção de conhecimentos. E os alunos que vão passando se beneficiarão muito mais de todo um corpo docente com valores voltados para sustentabilidade e uma cidadania ambiental.

Projetos de educação ambiental nas escolas

Desenvolver um projeto que agregue todas as áreas é um começo para se alcançar a abordagem transversal, mas é importante que ele seja pautado nos princípios da educação ambiental como o exercício permanente do diálogo, o enfoque democrático e participativo, a pluralidade de ideias e a constante avaliação crítica do processo educativo. Apenas separar um projeto em capítulos disciplinares tampouco trará a compreensão de que estamos todos no mesmo barco, ou melhor, no mesmo planeta.

Além disso, a transformação para os alunos é fortalecida se também acontece no ambiente escolar. O aprendizado não alcançará toda sua potência apenas por abordar a importância da reciclagem em uma aula ou em um projeto, se a separação de resíduos para coleta seletiva não é a maneira com que a escola faz o gerenciamento dos resíduos sólidos ali gerados, por exemplo.

Mais do que o enfoque para aprendizagem de conteúdo, a educação ambiental objetiva o envolvimento dos estudantes na transformação da realidade trabalhando a noção de corresponsabilidade e o senso de pertencimento, por meio do diálogo e da percepção do entorno e tudo o que faz parte dele – praças, parques e unidades de conservação, rios, lagos, plantações, e equipamentos públicos.

Comunidade escolar

Finalmente, ao considerar o pensamento sistêmico para questões relacionadas ao meio ambiente, é importante olhar dessa forma também para a comunidade escolar.  Porque em uma escola não há só professores, e não há só alunos.

Devemos olhar para a escola como uma comunidade. Diretores, coordenadores, secretários, inspetores, orientadores, merendeiras, porteiros, equipe de limpeza, pais dos alunos, vizinhos da escola, praças, parques, comércio. Onde há uma escola, pulsa uma comunidade. E cada escola pode ser um ponto de transformação de seu ambiente e do nosso ambiente.

 

Mais sobre esse assunto: Educação Ambiental deve ser desenvolvida dentro e fora do ambiente escolar

 

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Texto: Rachel Azzari – Coordenadoria de Educação Ambiental