Roteiro de 1 dia em Milão

Se pra muita gente Milão é sem graça, sem atrativos e sem muito o que fazer, eu encontrei uma cidade viva e interessante. Talvez isso não seja de se estranhar tanto considerando que a cidade tem sido um polo cultural, político e histórico desde os tempos romanos (o que já a torna “turisticamente interessante” só por isso).

Afinal, foi em Milão que o Cristianismo foi declarado como a religião oficial no século IV, marcando o início do que seria a Idade Média, período em que também conservaria sua importância. Já na história moderna, foi ali que Mussolini fundou o Partido Fascista em 1919 e onde terminou executado em 1945. Hoje, a cidade é coração financeiro da Itália e uma das capitais da moda do mundo (com nomes como Armani, Versace e Dolce & Gabbana!).

Durante os bombardeios ao final da Segunda Guerra Mundial, muito do centro histórico foi completamente destruído, mas felizmente o que a cidade tinha de mais precioso sobreviveu: a Duomo, a Santa Ceia, o Castelo Sforzesco, que são os principais pontos turísticos da cidade.

Embora Milão seja a segunda cidade mais populosa da Itália (fica atrás apenas de Roma), a parte turística é bem concentrada, de forma que é possível conhecer a cidade em apenas um dia, se o seu tempo estiver apertado. Na verdade, nós tivemos uma tarde e uma manhã, e foi o suficiente pra vermos tudo que queríamos, incluindo a “Santa Ceia”.

Duomo

Normalmente, as pessoas começam o roteiro pela Duomo e acho que faz todo sentido, afinal esse já é o maior atrativo da cidade. Além disso, a cidade tem dois “grupos” de atrações: o primeiro bem perto da Duomo e o outro bem perto do Castelo Sforzesco, o que já divide o roteiro em duas partes (uma manhã e uma tarde).

Nós tínhamos ingressos reservados para a Biblioteca Ambrosiana e Santa Ceia, então apenas passamos em frente da Duomo bem rapidinho (já que nosso hotel ficava a apenas 2 quarteirões) e deixamos pra visitar a igreja e os arredores na nossa última manhã por lá. E aqui eu já conto a novela que é comprar ingressos para visitar a Santa Ceia!

A Santa Ceia (Il Cenaculo) fica na Basílica Convento Santa Maria delle Grazie e, teoricamente, seria possível comprar os ingressos pelo site oficial. No entanto, mesmo eu entrando no site no dia do início das vendas já estavam todos esgotados porque as empresas de turismo compram tudo. Li na internet, que era possível fazer a reserva pelo telefone. Também tentei, mas sem sucesso. Assim, o jeito foi apelar pra algum terceiro que vendesse, mas mesmo quando eu encontrava estava super-mega-faturado. Se o ingresso custava 15 euros, eles revendiam por 45 euros ou mais!

Mas fuçando aqui e ali, achei o TickItaly, que também revendia, mas apenas cobrando uma taxinha a mais. A “pegadinha” era que, na época, apenas vendiam casado com o ingresso para a Biblioteca Ambrosiana, mas ainda assim saía mais barato do que apenas um ingresso e todas as anteriores que encontrei. Então, comprei colocando a visita à Biblioteca antes da visita ao Convento. Assim, caso o vôo atrasasse, ou houvesse algum imprevisto, eu perderia o ingresso da Biblioteca (que também já tinha marcar o horário), mas não o do Convento.

Então, na verdade, nossa primeira parada foi a Biblioteca/Pinacoteca Ambrosiana, que eu provavelmente não teria entrado se não fosse a “condição” pra comprar o ingresso pra Santa Ceia, mas que gostei de conhecer! O local fica a 5 minutos de caminhada da Duomo.

A Biblioteca Ambrosiana foi fundada em 1607 por Cardinal Borromeo e foi uma das primeiras a permitir o acesso a qualquer um que pudesse ler. A ideia é que o lugar serviria como um centro de estudos e cultura e já naquela época reuniu um grande acervo de manuscritos em latim, grego, árabe, chinês, papiros, mapas antigos, etc. Isso já a torna uma das bibliotecas mais importantes do mundo.

Além disso, antes de morrer, o fundador doou toda a sua coleção de artes à Biblioteca. Assim, numa outra parte do prédio foi também inaugurada a Pinacoteca Ambrosiana, completando o sonho do fundador de que o local fosse um centro cultural. Depois, muitas obras foram adicionadas, como por exemplo vários quadros de Leonardo da Vinci.

Hoje, a Biblioteca/Pinacoteca reune verdadeiras obras primas. É ali, por exemplo, que está o famoso Codex Atlanticus, um conjunto de 12 livros escritos por Leonardo da Vinci, com seus desenhos e anotações para suas invenções, abrangendo uma grande variedade de assuntos, como vôo (a inspiração para o helicóptero surgiu aí), armamentos, instrumentos musicais, matemática, engenharia civil e botânica. Ali também estão os planos dos canais da cidade, alguns ainda em uso até hoje.

E foi super legal ver tudo isso de pertinho, algo que eu talvez não tivesse feito se não pela compra do tal ingresso casado. Depois de visitar (e me surpreender!) com a Biblioteca, fomos para a Basílica porque estava perto da hora da cereja do bolo: a Santa Ceia! (numa caminhada de 20/25 minutos)

Como disse antes, a Santa Ceia (Il Cenaculo) fica na Basilica Convento Santa Maria delle Grazie. O mural foi um dos muitos projetos que Leonardo da Vinci fez a mando de Ludovico Sforza, o Duque de Milão. Já naquela época, pinturas retratando a Última Ceia eram comuns em monastérios e, por isso, Sforza encomendou o mural. Mas o que Leonardo da Vinci fez tornou-se uma obra-prima tão grande, que se tornou uma das pinturas mais conhecidas em todo mundo.

O mural foi entregue em 1498 e dizem que Leonardo levou 4 anos pra completar a obra. Aparentemente, ele passou meses apenas procurando alguém entre os criminosos da cidade para representar o rosto de Judas. Na verdade, a pintura tem muitas curiosidades. Uma delas é que propositalmente Judas está mais na sombra. Outra é que os apóstolos foram agrupados em grupos de 3 para representar a Santíssima Trindade.

Mas o que eu achei mais interessante foi que Leonardo não usou a típica técnica de afresco, mas sim uma técnica “seca”. E por isso, infelizmente, o mural já começou a se deteriorar pouco tempo depois de ser entregue. Para piorar, além do desgaste pelo tempo, sofreu uma série de deteriorações: uma porta foi posta ali pelos padres ( e depois retirada), as tropas de Napoleão também teriam usado o mural como tiro ao alvo, além dos bombardeios da Segunda Guerra Mundial. Aliás, durante a Segunda Guerra, o mural só ficou de pé porque os padres usaram sacos de areia para protegê-lo, enquanto que o resto do monastério foi quase que completamente destruído.

E tudo isso você fica sabendo lá mesmo. O tour é guiado em pequenos grupos de 15 pessoas e dura apenas 15 minutos. A ideia dos pequenos grupos é regular a temperatura interna e evitar maior degradação do mural. E entre um grupo e outro há um espaço de 20-30 minutos sem visitas, novamente para regular a temperatura. Por isso, os ingressos são tão difíceis de conseguir!

Eu li que tem gente que dá sorte e consegue comprar o ingresso lá na hora por ter havido alguma desistência. Quando chegamos tinha uma filinha de gente esperando eventuais desistências, e quando saímos as mesmas pessoas ainda estavam todas lá. Ou seja, pelo visto, realmente depende de dar muita sorte e ter muita paciência!

Santa Ceia visitada, fomos para o Castelo Sforzesco, que fica a apenas 10 minutos a pé do Convento. Originalmente uma fortaleza, o local foi quase que totalmente transformado para ser a residência principal da Flamiglia Sforza, Duques de Milão e governantes da Milão renascentista. As defesas do castelo foram construídas por ninguém menos que Leonardo da Vinci, e ficariam lá até Napoleão drenar o fosso, remover as pontes e destruir as torres.

Hoje o local abriga vários museus, que vão desde o Museu Egípcio até o Museu de Instrumentos Musicais. A entrada para o castelo em si é gratuita, enquanto que o ingresso para os museus custa 5 euros.

Logo atrás do Castelo, fica o Parque Sempione, que além de um lago no meio e muitas estátuas, conta com vários monumentos em volta!

Com o fim da tarde e tudo fechando, demos o dia por encerrado e deixamos para conhecer o resto na manhã que teríamos no nosso último dia de viagem. E essa manhã foi mais que o suficiente para visitar a Duomo, a galeria e passar em outros pontos como o Teatro Scalla e o Quadrilátero de Ouro.

Começamos a manhã visitando a Duomo di Milano (Catedral de Milão). A construção da Catedral foi iniciada em 1386 e levou quase 600 anos para ser concluída! E mesmo assim, a igreja (e principalmente a fachada) só foram completadas “às pressas” porque Napoleão queria ser coroado Rei da Itália lá (e mesmo isso levou 8 anos!). Hoje, a Duomo está entre as 5 maiores igrejas do mundo.

Toda construída em mármore, a catedral conta com 157m de largura por 108 de altura até o topo da torre principal está a Madonnina, uma estátua de Maria. E se o tamanho já impressiona, a riqueza de detalhes impressiona mais ainda: são 135 torres e 3400 estátuas!

Para visitar a igreja por dentro, a bilheteria fica em um prédio ao lado da Duomo. Os ingressos custam 5 euros e não é necessário reservar com antecedência. Há ingressos separados para subir a torre principal (até o telhado!), visitar o museu da Duomo e o batistério.

Mas já aviso que o que impressiona mesmo na catedral é o seu exterior, com todas aquelas torres, estátuas e detalhes! Ainda mais considerando que tudo é de mármore puro. Por dentro, tem o estilo bem típico de igreja medieval europeia: mais escura e com menos extravagância que o interior. Ainda assim, tem os maiores vitrais do mundo, muitas estátuas e muitas colunas, o que faz valer a pena a visita.

Na Piazza del Duomo (Praça da Catedral), bem em frente à igreja, fica o Palazzo Reale di Milano (Palácio Real), que serviu como sede do governo de Milão por séculos e hoje é um centro cultural com exibições de arte moderna.

Já ao lado oposto, do outro lado da praça fica a Galleria Vittorio Emanuele II, um dos shoppings mais antigos do mundo, tendo sido inaugurado em 1877. A Galeria recebeu esse nome em homenagem à Vittorio Emanuele II, o primeiro rei da Itália.

Foi construída em formato octogonal, com teto em forma de cruz e com uma cúpula de vidro e ferro. Não deixe de olhar também o chão, que conta com 4 mosaicos existem quatro mosaicos com os brasões das quatro capitais do Reino da Itália (Milão, Turim, Florença e Roma).

Símbolo de luxo e modernidade, a Galleria foi um dos primeiros locais a receber energia elétrica no país. Desde aquela época, até hoje, o local abriga marcas de luxos, como Prada, Gucci e Louis Vuitton. Também se encontram restaurantes tradicionais, como o Ristorante Biffi, de 1852.

A Galleria está localizada entre dois dos principais monumentos de Milão: a Duomo e o Teatro Scala. Então saindo da Duomo e passando por dentro da Galleria, do outro lado você já dá de cara com o Teatro alla Scala. Esse teatro, também chamado de La Scalla, inaugurado em 1778 é uma das casas de óperas mais antigas e mais tradicionais do mundo. Por ali passaram Verdi, Pavarotti e muitos outros nomes. E dali mesmo já tivemos que voltar porque nosso tempo estava curto.

Mas se você estiver com mais tempo, o Teatro Scalla já fica na Via Alessandro Manzoni, que a poucos quarteirões dali já forma o Quadrilátero de Ouro (Cuadrilatero d’Oro/della Moda), o bairro da moda mais famoso do mundo. Delimitado pela Via Monte Napoleone, Via Sant’Andrea, Via della Spiga e Via Alessandro Manzoni , o Quadrilátero de Ouro abriga as lojas de grife mais caras do mundo, sendo sinônimo de dinheiro e sofisticação.

Ali perto também fica a Pinacoteca di Brera, um museu de ate que conta com obras de artistas internacionais como Goya e Rembrandt, bem como italianos como Caravaggio.

Na verdade, da Galleria já fomos almoçar um último Ossobuco con risotto alla milanesa, pegar as malas e correr para o aeroporto. E os detalhes mais práticos dessa viajem (roteiro pela região da Lombardia, hotel, como ir e voltar do aeroporto) são assunto do próximo post.

Por fim, para resumir esse post aqui vai uma sugestão de roteiro. E esse roteiro você pode organizar conforme o horário do horário da Santa Ceia, caso queira e consiga ingresso. Assim, seu roteiro pode ficar assim:

  • Parte 1 (manhã): Duomo, Galleria Vittorio Emanuele I, Teatro alla Scala
  • Parte 2 (tarde): Castelo Sforzesco, Parque Sempione e Convento Santa Marie delle Grazie (se conseguir ingresso para Santa Ceia)
  • Bônus: Biblioteca Ambrosiana, Pinacoteca di Brera e Quadrilátero de Ouro

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