Vastas redes de fungos subterrâneas, também consideradas o “sistema circulatório do planeta", serão mapeadas pela primeira vez, na tentativa de protegê-los de possíveis danos e melhorar sua capacidade de absorver e armazenar dióxido de carbono, um dos principais gases de efeito estufa responsáveis pelas mudanças climáticas.
Os fungos usam carbono para construir redes no solo, que se conectam às raízes das plantas e agem como “estradas” de nutrientes, ajudando a trocar o carbono das raízes por alimentos para as plantas. Por exemplo, alguns fungos são conhecidos por fornecer 80% de fósforo a vegetação que o hospeda.
Redes subterrâneas de fungos podem se estender por muitos quilômetros, mas raramente são notadas, embora cientistas estimem que trilhões de quilômetros delas existem em todo o planeta. Esses fungos são vitais para a biodiversidade e fertilidade do solo, mas ainda pouco se sabe sobre eles.
Acredita-se que muitos pontos críticos de fungos micorrízicos, que são encontrados nos solos e na maioria das plantas, estejam ameaçados devido à expansão da agricultura, urbanização, poluição, escassez de água e mudanças no clima.
O novo projeto da Sociedade de Proteção de Redes Subterrâneas (SPUN) vai coletar 10 mil amostras de lugares críticos, que estão sendo identificados por meio de inteligência artificial. Jane Goodall, a conservacionista que está assessorando o projeto, afirmou ao The Guardian: “uma compreensão das redes subterrâneas de fungos é essencial para nossos esforços para proteger o solo, do qual a vida depende, antes que seja tarde demais.”
A Sociedade para a Proteção de Redes Subterrâneas compreende cientistas da Holanda, Canadá, Estados Unidos, França, Alemanha e da Universidade de Manchester, no Reino Unido. As primeiras coletas acontecerão no próximo ano na Patagônia, e continuarão por cerca de 18 meses para criar mapas de fungos micorrízicos subterrâneos que possam ser usados para pesquisas futuras.
Usando os mapas, os cientistas esperam localizar os ecossistemas mais ameaçados para fazer uma parceria com organizações conservacionistas locais e criar “corredores de conservação” para os ecossistemas subterrâneos. Já foi inclusive demonstrado que ecossistemas com redes de fungos micorrízicos prósperas armazenam oito vezes mais carbono do que ecossistemas sem tais redes.
A agricultura industrial moderna adiciona grandes quantidades de fertilizantes químicos ,que interrompem a dinâmica de troca entre plantas e fungos, alertam os cientistas. Sem prósperas redes de fungos, as lavouras requerem mais insumos químicos, em um círculo vicioso, e se tornam cada vez mais vulneráveis à seca, erosão do solo, pragas e patógenos.
Jeremy Grantham, financiador de pesquisas climáticas que está investindo US$ 3,5 milhões no projeto disse: “Logo abaixo de nossos pés está um aliado inestimável para mitigar as mudanças climáticas: vastas redes de fungos ocultos. Bilhões de toneladas de dióxido de carbono fluem anualmente das plantas para redes de fungos. No entanto, esses sumidouros de carbono ainda são mal compreendidos".