Sociedade
Publicidade

Por Jennifer Ann Thomas, para Um Só Planeta


Em meio à pandemia do novo coronavírus, qualquer tipo de exposição ou doença que prejudique o sistema respiratório coloca a população ainda mais em risco — Foto: Foto: Brendan O'Donnell/Unsplash
Em meio à pandemia do novo coronavírus, qualquer tipo de exposição ou doença que prejudique o sistema respiratório coloca a população ainda mais em risco — Foto: Foto: Brendan O'Donnell/Unsplash

No Brasil, a poluição do ar (ou atmosférica) mata cerca de 51 mil pessoas todos os anos. De acordo com um estudo coordenado pelo instituto de pesquisa WRI Brasil, estima-se que os custos associados às mortes prematuras equivaleram, em 2015, a 3,3% do PIB. Soma-se a isso o fato de que o ozônio localizado na troposfera, a camada mais baixa da atmosfera terrestre, é responsável por perdas consideráveis na produção agrícola, em especial em regiões próximas aos centros urbanos e naquelas afetadas por queimadas associadas a mudanças de uso do solo.

De acordo com a diretora de Ciências da ONG The Nature Conservancy (TNC), Edenise Garcia, “a poluição atmosférica está associada sobretudo à emissão de gases e de elementos particulados provenientes de diferentes fontes”. Entre elas se destacam o uso de combustíveis fósseis, principalmente por veículos e indústrias, elementos e compostos químicos gerados por processos industriais diversos, aerossóis, fumaça associada a incêndios florestais, queima de lenha e de carvão e cigarro, poluentes biológicos, como mofo, bolor, ácaros e pólen, e o uso de pesticidas.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 90% da população mundial não respira ar de qualidade minimamente aceitável e está exposta a riscos diários, o que leva a 11,6% de todas as mortes no mundo. Anualmente, o índice representa o equivalente a 7 milhões de mortes, sendo que 600 mil são crianças. Em comparação a guerras e outras formas de violência, os números são 15 vezes maiores.

De acordo com a análise feita pelo WRI Brasil, o setor de transporte é um dos principais responsáveis pela emissão de poluentes em centros urbanos. Segundo o estudo, 90% das emissões de gases poluentes e de dióxido de carbono (CO2) são oriundos da queima de combustíveis de veículos do modal rodoviário. O levantamento destacou que o transporte individual corresponde por cerca de 57% das emissões de dióxido de carbono, enquanto o transporte público coletivo é responsável por 27% das emissões.

No Brasil, além da poluição causada pelos centros urbanos, a prática de queimadas mantida no meio rural é outro fator de preocupação. Em agosto de 2019, quando os focos de calor atingiram picos que chamaram a atenção não só da população brasileira, mas também da comunidade internacional, cerca de 3 milhões a 4,5 milhões de pessoas foram expostas ao material particulado fino gerado pelas queimadas. O dado faz parte de um estudo realizado pela Human Rights Watch (HRW), em 2020, com o objetivo de analisar os efeitos das queimadas na saúde das pessoas.

Na pandemia, o material particulado foi um fator agravante para a saúde da população, pois é responsável por causar doenças respiratórias em períodos de seca na Amazônia. De acordo com a HRW, entre julho e outubro de 2019, foram mais de 2 mil internações por doenças respiratórias relacionadas às queimadas, sendo que os mais afetados foram bebês e pessoas com mais de 60 anos. Cada faixa respondeu por 21% e 49% das internações, respectivamente.

Imagens do fogo no Pantanal em 2020 trouxeram preocupação para o clima e os animais da região — Foto: Getty Images
Imagens do fogo no Pantanal em 2020 trouxeram preocupação para o clima e os animais da região — Foto: Getty Images

Em meio à pandemia do novo coronavírus, qualquer tipo de exposição ou doença que prejudique o sistema respiratório coloca a população ainda mais em risco. Um estudo realizado nos Estados Unidos, e publicado em abril de 2020, mostrou que a taxa de mortalidade por covid-19 pode aumentar em 15% em cidades onde as pessoas estão expostas por muitos anos a altas concentrações de poluentes. Mesmo o mínimo aumento de exposição à poluição resultou em um aumento de 8% de taxa de mortalidade. Antes da pandemia, a poluição atmosférica já representava um motivo de preocupação para a sociedade e para governantes.

Da mesma maneira, populações que vivem na região amazônica convivem há décadas com os períodos de seca e de maior intensidade nas queimadas, que têm relação direta com o aumento do número de internações em unidades de saúde. Durante a pandemia, ficou evidente como é imprescindível buscar melhorar os níveis de emissão de gases poluentes na atmosfera, tanto para a saúde do planeta, quanto para a saúde da população.

Assine aqui a nossa newsletter

Li e concordo com os Termos de Uso e Política de Privacidade.

Mais recente Próxima Por que a Amazônia pode ser a origem de uma nova pandemia
Mais do Um só Planeta

Desenvolvido na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, sistema utilizou a cidade de Santos como espaço amostral. E poderá contribuir para maior eficiência da defesa civil em um contexto de eventos climáticos extremos

Modelo combina parâmetros físicos e aprendizado de máquina para prever marés de tempestade

Um dos compromissos é apoiar soluções relacionadas aos impactos das mudanças climáticas na saúde

Fundações Novo Nordisk, Wellcome e Bill & Melinda Gates unem forças em pesquisas de impactos das mudanças climáticas na saúde

Além de conferir maior eficácia e inteligência ao apoio privado em desastres, é essencial que o investimento social corporativo também exerça seu papel estratégico no desenvolvimento de capacidades para a adaptação climática

Investimento social corporativo cumpre papel estratégico na agenda de adaptação climática

O valor representa o maior aporte financeiro realizado pela empresa fora da sua área de abrangência

Itaipu Binacional investirá R$ 1,3 bilhão para melhoria da infraestrutura de Belém, sede da COP30

Relatório elaborado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e publicado em 2023 mostra relação entre mudanças climáticas provocadas pelo homem e as chuvas intensas na região

Eventos extremos deverão ser mais frequentes no Rio Grande do Sul; ação humana contribui para a situação

Déficit habitacional impacta na saúde, saneamento básico, educação e resiliência às mudanças climáticas. Soluções regionalizadas e assistência técnica são defendidas por pesquisadores.

Belém 2025: Na sede da COP30, não faltam apenas hotéis para visitantes, mas também condições dignas de moradia

Isolamento, perdas de casas e de plantações estão entre os prejuízos

"Tragédia sem precedentes no campo", dizem pequenos agricultores do RS

A ferramenta, chamada de ClimateScanner, está avalia três eixos: governança, financiamento climático e políticas públicas

BNDES disponibiliza até US$ 1 milhão para ferramenta de controle de ações sobre mudanças climáticas

Efeitos da crise do clima pelo mundo têm potencial para desestabilizar a economia global em níveis sem precedentes

Impactos da crise do clima não são apenas imediatos: são sistêmicos

Esse mercado pode valer cerca de R$ 126,6 bilhões

Volatilidade climática aumenta busca por contratos financeiros baseados em sol, chuva e vento