• Vívian Sotocórno
Atualizado em
Roupas de Patchwork

Sentido horário: Dolce & Gabbana, Frank Studio, Stan Clothing, Handred, Etro, Dolce & Gabbana, Marques’Almeida, Cris Barros e Chloé (Foto: Rafael Monteiro, Josefina Bietti, Pedro Loreto, Getty Images, Imaxtree e Divulgação)

Uma das primeiras peças de patchwork conhecidas data de 1718 e foi desenvolvida com retalhos de seda e veludo. Segundo historiadores, usou-se cerca de 120 diferentes matérias-primas em tal colcha britânica, a maioria provavelmente proveniente de antigos vestidos, algumas delas de quase 80 anos antes. Três séculos depois de seu surgimento com alma upcycled, é a técnica ancestral uma das tendências mais vistas tanto nos recém-apresentados desfiles internacionais de inverno 2021 quanto nas coleções disponíveis agora nas lojas. Após um ano de pandemia, o patchwork faz mais sentido do que nunca – seja pelo viés sustentável de reaproveitamento, pelo apelo econômico (em tempos de insumos mais escassos e caros, nada como recorrer às próprias sobras de estoque) ou pela ressignificação do consumo, a partir da qual peças que contem uma história e tenham sido preciosamente desenvolvidas à mão se tornam ainda mais especiais.

“É estimado que cerca de 20% a 30% de tecido seja descartado no processo de corte de uma peça. Portanto, criar com os retalhos e o que a indústria da moda considera restos é, na verdade, revolucionário, pois une inovação e resgate na construção de novas narrativas a partir do fazer roupas”, reflete Fernanda Simon, editora contribuinte de sustentabilidade da Vogue. Foi a técnica um dos destaques da estreia da uruguaia radicada em Nova York Gabriela Hearst como diretora criativa da Chloé, em março passado. Quatro jaquetas no clima fizeram parte da apresentação virtual como uma maneira de chamar a atenção para a Sheltersuit Foundation, organização sem fins lucrativos que confecciona e fornece roupas e sacos de dormir para pessoas em situações vulneráveis, para qual Gabriela (um dos nomes mais importantes da sustentabilidade na moda de luxo) doou antigos tecidos da maison francesa.

Por aqui, Cris Barros lança este mês uma coleção-cápsula em edição limitada com looks de patchwork fabricados a partir de tecidos antigos de diferentes momentos da marca. “Acho lindo pensar que cada pedaço remete a uma memória diferente e, também, que cada nova peça é única devido ao encaixe dos fragmentos”, diz a estilista, que estima que hoje um terço das matérias-primas usadas pela grife sejam de alguma maneira eco-friendly, entre reúso, algodão com certificado da Better Cotton Initiative (organização que promove melhores padrões no cultivo da fibra) e tecidos tingidos de maneira natural, com fervura de beterraba, pitaya ou espinafre.

Já para André Namitala, fundador e diretor criativo da carioca Handred, que foi parte da plataforma de Novos Talentos do Veste Rio e hoje integra o line-up do SPFW, o patchwork foi uma escolha afetiva. “Ele me remete a cuidado, a memórias de cobertores de casa de campo”, conta ele, que criou camisas, calças e vestidos quadriculados de seda para a coleção inspirada em Copacabana e apresentada na última edição da semana de moda paulistana, em novembro passado. “Ninguém imagina o que é fazer patchwork em seda. É meio doideira, mas é quase uma joia. Só a etapa de cortar o tecido e organizar o mosaico demanda um dia inteiro por peça. Em cada pedaço, é usada uma cor de linha, que acaba tendo que ser trocada a todo momento. Além disso, a seda ‘cresce’ um pouco na costura, então temos que aparar todos os quadrados para ficarem perfeitamente iguais.” O processo total leva em média três dias por camisa, e cada item é um exercício de paciência, precisão e carinho que envolve o trabalho de quatro profissionais da equipe da Handred: Elvira, Luciene, Damiana e Delma, respectivamente, modelista, a pessoa responsável pelo corte, a costureira que une os quadrados e a que costura a peça em si. Tem descrição melhor de trabalho precioso?

Abaixo, veja algumas ideias de como usar patchwork:

Marta Cygan com conjunto de patchwork

Marta Cygan (Foto: Getty Images, Imaxtree e Divulgação)

FESTA DO PIJAMA

Assuma o clima pijama das peças de patchwork de seda e use calça e camisa em conjunto – dentro ou fora de casa.

Ambar Cristal Zarzuela com patchwork

Ambar Cristal Zarzuela (Foto: Getty Images, Imaxtree e Divulgação)

RENOVADO
Em uma versão desconstruída da técnica, uma única peça mais parece a junção de dois itens diferentes, caso da saia ao lado.

Blanca Miró com kilt patchwork

Blanca Miró (Foto: Getty Images, Imaxtree e Divulgação)

À LA QUILT
O clima colcha de retalhos protagoniza looks por inteiro e funciona visualmente como a “estampa” da vez.

Patchwork jeans

Candela Novembre (Foto: Getty Images, Imaxtree e Divulgação)

DENIM TOTAL
Renove um dos materiais mais básicos do guarda-roupa, o jeans, apostando em criações que unam recortes de diferentes lavagens.