Sabemos que as agências de publicidade e propaganda ajudam a influenciar e impactar a moda, as tendências, os sonhos de consumo e, até mesmo, a estruturar a cultura e a sociedade. Por isso, quando refletimos sobre a indústria da moda, falar sobre agências de publicidade e propaganda é imprescindível.
Mas afinal, quem são as lideranças que pensam, idealizam e lançam os comerciais, produtos e, por vezes, até serviços que tanto almejamos? Recentemente, a Gestão Kairós e o Observatório da Diversidade na Propaganda (ODP) lançaram o Estudo Publicidade Inclusiva: Censo de Diversidade das Agências Brasileiras 2023.
Inédito e vanguardista, esse Censo reúne etapas quantitativas e qualitativas e surge como uma resposta ao compromisso do ODP em contribuir com dados sobre diversidade e inclusão no setor publicitário e, assim, criar estratégias de cooperação para melhorar o cenário ainda desafiador na indústria da propaganda. A pesquisa foi realizada em um período de dois meses, com 29 agências que compõem o Observatório da Diversidade na Propaganda. Como resultado, foi obtida uma amostragem de participação de 24 agências (83% de respondentes), que informaram seus dados de diversidade, representando mais de 6.200 funcionários no total.
Pois bem, segundo o resultado deste estudo, na liderança (nível gerente e acima) das agências, negros são 10,3%, ou seja, o número chega a ser oito vezes menor em relação aos dados de profissionais brancos. Na interseccionalidade de mulheres negras, elas representam somente 4,6% das posições. E, com percentuais ainda menores na análise estatística, indígenas e amarelos seguem ambos com aproximadamente 1%.
Quando analisamos somente presidentes e CEOs das agências, temos 8% de negros, uma única pessoa autodeclarada entre todos os líderes com os quais realizamos entrevistas em profundidade. E, quando analisamos a presença feminina no cargo mais alto, temos 15% de mulheres, o que corresponde à apenas duas profissionais.
Talvez quando olhamos para estes dados e pensamos em vieses inconscientes, inclusive os vieses por afinidade, que nos dizem sobre como inconscientemente sempre vamos preferir pessoas semelhantes a nós, seja possível compreender – embora de forma alguma justificar – porque quase a totalidade (se não a grande maioria) de anúncios que você vê nos sites, redes sociais, bem como nas revistas e mídias on-line e off-line em geral, estão sendo protagonizados apenas por pessoas brancas.
A boa notícia é que o ODP, enquanto movimento e para além de ter buscado sistematizar e lançar o Censo, também está impulsionando a transformação que precisamos por meio de um Compromisso Setorial, de modo que haja metas – de curto, médio e longo prazo – para a contratação, retenção, desenvolvimento, ecossistema de fornecedores e casting e cultura organizacional, tanto nas agências como em sua cadeia de valor.
Nota: Este texto não reflete, necessariamente, a opinião da Vogue Brasil.