Quim. Nova, Vol. 32, No. 8, 2034-2038, 2009
Artigo
ALCALOIDES β-INDOLOPIRIDOQUINAZOLÍNICOS DE Esenbeckia grandiflora MART. (RUTACEAE)
Ana Helena Januário*, Paulo Cezar Vieira, Maria Fátima das Graças Fernandes da Silva e João Batista Fernandes
Departamento de Química, Universidade Federal de São Carlos, CP 676, 13565-905 São Carlos -SP, Brasil
Jorge José de Brito Silva e Lucia Maria Conserva
Instituto de Química e Biotecnologia, Universidade Federal de Alagoas, 57072-970 Maceió - AL, Brasil
Recebido em 29/7/08; aceito em 29/4/09; publicado na web em 6/10/09
INDOLOPYRIDOQUINAZOLINE ALKALOIDS FROM Esenbeckia grandiflora MART. (RUTACEAE). The chemical composition
of two specimens of Esenbeckia grandiflora, collected in the south and northeast regions of Brazil, was investigated. In this study,
three β-indolopyridoquinazoline alkaloids from the leaves (rutaecarpine, 1-hydroxyrutaecarpine) and roots (euxylophoricine D) were
isolated for the first time in this genus. In addition, the triterpenes α-amyrin, β-amyrin, α-amyrenonol, β-amyrenonol, 3α-hydroxyursan-12-one, and 3α-hydroxy-12,13-epoxy-oleanane, the coumarins auraptene, umbelliferone, pimpinelin, and xanthotoxin,
the furoquinoline alkaloids delbine and kokusaginine, and the phytosteroids sitosterol, stigmasterol, campesterol and 3β-O-β-Dglucopyranosylsitosterol were also isolated from the leaves, twigs, roots and stems of this species. Structures of these compounds
were established by spectral analysis.
Keywords: Esenbeckia grandiflora; Rutaceae; indolopyridoquinazoline alkaloids.
INTRODUÇÃO
A família Rutaceae compreende cerca de 150 gêneros e 1600
espécies, amplamente distribuídas em regiões tropicais, subtropicais
e temperadas do mundo, sendo mais abundante na América tropical,
Sul da África e Austrália.1 No Brasil, a família está representada por
cerca de 29 gêneros e 182 espécies, com algumas de importância
medicinal, ecológica e econômica.1
O gênero Esenbeckia, pertencente à subtribo Pilocarpinae,
possui cerca de 30 espécies distribuídas nas Américas,2 sendo que
os principais centros de diversidade estão no sudeste do Brasil e no
México.1 Destas, 22 espécies, incluindo E. grandiflora, tiveram sua
constituição química investigada. Dentre os compostos isolados, alcaloides furoquinolínicos (E. alata,3 E. almawillia,2,4 E. berlandieri,5
E. belizencis,6 E. conspecta,7 E. flava,5 E. febrifuga,8 E. hieronimi,9
E. leiocarpa,10 E. litoralis,5,11 E. pentaphylla,12 E. pilocarpoides13 e
E. yaxhoob14), quinolinônicos (E. almawillia,2,4,15-17 E. belizencis,6 E.
flava,5 E. hieronimi9 e E. leiocarpa,10,18,19 E. pentaphylla12 e E. pilocarpoides13) e acridônicos (E. litoralis,5 E. pentaphylla,12 E. pilocarpoides13), derivados alquil-, pirano- e furocumarínicos (E. alata,3,20 E.
almawillia,4 E. berlandieri,5 E. conspecta,7 E. flava,5 E. febrifuga,21
E. hieronimi,9 E. leiocarpa,10 E. litoralis,5,11 E. ovata,22 E. pentaphylla12 e E. yaxhoob23) e os limonoides (E. berlandieri,5 E. flava,5
E. febrifuga,24 E. litoralis,5 E. hartmanni,5 E. ovata25 e E. yaxhoob23)
constituem as classes predominantes e mais representativas sendo,
portanto, consideradas como marcadores químicos para o gênero.
Além destas, outras classes de ocorrência menos freqüente, tais como
alcaloides indólicos (E. leiocarpa),10,18 derivados fenilpropanoídicos
(E. almawillia15,16 e E. leiocarpa10), terpenoides (E. almawillia,2,16 E.
alata,3,26 E. belizencis,6 E. berlandieri ssp. berlandieri,25 E. berlandieri ssp. acapulcensis,27 E. conspecta,7 E. hieronimi,9 E. litoralis,11
E. nesiotica,28 E. ovata,22 E. stephani,29 E. yaxhoob14,23 e E. velutinosa25), flavonoides (E. almawillia,2 E. berlandieri ssp. acapulcensis,30
E. pumila31,32 e E. yaxhoob23), poliprenois e acilfluoroglucinois (E.
belizencis,6 E. nesiotica28), lignoides (E. alata,3,26 E. leiocarpa10 e E.
yaxhoob23), cinamoilamidas (E. almawillia,2 E. alata,26 E. leiocarpa18
*e-mail: anahjanuario@unifran.br
e E. nesiotica10,28), bem como derivados cromanônico (E. alata26) e
antranilato (E. yaxhoob14,33) também foram isolados.
A espécie E. grandiflora, conhecida popularmente como limãozinho, gramicho, guarantã, cocão, cipó e garajaú, é uma planta arbórea
com ampla distribuição no Brasil, especialmente em áreas de tabuleiros arenosos, restingas, matas costeiras e lugares úmidos, sendo
que na região Sudeste ocorre principalmente em floresta latifoliada
semidecídua.1 Por ser de pequeno porte e de uso ornamental, pode
ser empregada no paisagismo.34 Do ponto de vista etnomedicinal, a
literatura não registra qualquer atividade para esta espécie. No entanto,
ensaios biológicos efetuados com extratos em clorofórmio e em acetato de etila das folhas revelaram atividade antibacteriana,35 além de
atividade frente a larvas do 4º instar do Aedes aegypti para o extrato em
hexano das raízes (CL50 108,23 ppm).36 O estudo químico deste último
resultou no isolamento dos derivados furocumarínicos pimpinelina e
um dos seus produtos de fotodimerização, o 5,5’,6,6’-tetrametoxi3,3’,4,4’-tetraidro-2H,2’H-3,3’:4,4’-bi(furo[2,3-h][1]-benzopirano)2,2’-diona),36,37 swietenocumarina B, 7-metil-8-(3,3-dimetilalil)
daphnetina, xantotoxina, 5-senecioilxantotoxina, isopimpinelina,
3-(1’,1’)-dimetilalilcolumbianetina e 5-(1’-hidroxi-isopentenil) bergapteno, além do sitosterol e da sitostenona.36 Neste mesmo estudo, uma
mistura constituída pela pimpinelina e pelo produto de fotodimerização
(CL50 45,77 ppm), bem como de pimpinelina e de swietenocumarina B
(CL50 62,23 ppm) também foram efetivos para larvas do A. aegypti.36
Além destes, o extrato em clorofórmio das raízes forneceu os alcaloides
furoquinolínicos maculina, kokusaginina e flindersiamina, a quinolona
4-metoxi-1-metilquinolin-2-ona e as furocumarinas xantotoxina, pimpinelina, 3-(1’,1’-dimetil-alil) columbianetina.
De acordo com Kaastra e colaboradores,38 a espécie E. grandiflora consiste de duas subespécies, E. grandiflora ssp. grandiflora e
E. grandiflora ssp. brevipetiolata, que crescem no Sul e no Nordeste
do Brasil, respectivamente. Os estudos químicos efetuados revelaram
que ambas contêm os derivados cumarínicos cumarina B, anisocumarina H, imperatorina e (-)-heraclenol,38,39 3-(1’,1’-dimetilalil)
columbianetina, isopimpinelina, xantotoxina, pimpinelina e 5-senecioil-xantotoxina38,40, os flavonoides (-)-epigallocatequina, 3-O-α-Lrhamnopiranosilquercetina e 3-O-α-L-rhamnopiranosilkaempferol e
as di-hidrochalconas: F1, F2, F3, 2’,4’,6’,4-tetra-hidroxi-3’-geranil-
Vol. 32, No. 8
Alcaloides β-indolopiridoquinazolínicos de Esenbeckia grandiflora
3-prenildi-hidrochalcona e 2’,4’,6’,4-tetra-hidroxi-3’-geranildihidrochalcona, as quais diferem apenas no padrão de oxigenação
do anel B.38-40 Além destes, alcaloides furoquinolínicos γ-fagarina,
delbina, kokusaginina, skimmianina e flindersiamina também foram
encontrados nas raízes de E. grandiflora ssp. brevipetiolata.38,40
O presente trabalho descreve o estudo químico de dois espécimes
de E. grandiflora, coletados nas regiões Sul (Espécime I: folhas e
galhos) e Nordeste (Espécime II: raízes, caule e folhas) do Brasil,
visando contribuir para um maior conhecimento da sua química,
bem como para a ampliação do perfil quimiotaxonômico do gênero
Esenbeckia. Neste trabalho foram isolados das folhas do espécime
I os triterpenos α- (1) e β-amirina (2), α- (3) e β-amirenonol (4),
3α-hidroxi-ursan-12-ona (5), 3α-hidroxi-12,13-epoxi-oleanano
(6), o alcaloide furoquinolínico delbina (7), os alcaloides do tipo
β-indolopiridoquinazolínico rutaecarpina (8) e 1-hidroxirutaecarpina
(9), as cumarinas umbeliferona (10) e aurapteno (11) e os fitoesteroides sitosterol (12), estigmasterol (13), campesterol (14) e 3β-Oβ-D-glicopiranosilsitosterol (15); enquanto que dos galhos somente
os compostos 1, 2 e 12 foram obtidos. Por outro lado, do espécime
II foram isolados das raízes as furanocumarinas pimpinelina (16) e
xantotoxina (17), o alcaloide β-indolopiridoquinazolínico euxiloforicina D (18) e o alcaloide furoquinolínico kokusaginina (19); do
caule somente os compostos 12 e 19; ao passo que das folhas apenas
os compostos 1, 2 e 15. De acordo com o levantamento efetuado, a
ocorrência de alcaloides do tipo β-indolopiridoquinazolínicos no
gênero Esenbeckia está sendo relatada pela primeira vez.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os compostos α- (1) e β-amirina (2), α- (3) e β-amirenonol (4),
3α-hidroxi-ursan-12-ona (5), 3α-hidroxi-12,13-epoxi-oleanano (6),41
delbina (7),42 umbeliferona (10),43 aurapteno (11),44 sitosterol (12), estigmasterol (13), campesterol (14), 3β-O-β-D-glicopiranosilsitosterol
(15),45 pimpinelina (16),46 xantotoxina (17)47 e kokusaginina (19)48
foram identificados pela comparação dos dados espectrais obtidos
com os dos respectivos compostos descritos na literatura.
O espectro de massas do composto 8 apresentou o pico correspondente ao íon molecular em m/z 287 (60,3) e o espectro no IV revelou
bandas de absorção que sugeriram a presença de deformação axial
N-H (3342 cm-1) e de carbonila de amida (1656 cm-1). O espectro de
RMN 1H evidenciou sinais para sete hidrogênios aromáticos [δ 7,24
(1H, ddd, J = 0,8; 7,2; 7,2 Hz, H-10), 7,36 (1H, ddd, J = 1,2; 7,2; 7,2
Hz, H-11), 7,43 (1H, J = 1,2; 7,2 Hz, H-3); 7,45 (1H, dd, J = 0,8; 7,2
Hz, H-12), 7,65 (2H, t, J = 7,2 Hz, H1, H-9); 7,71 (1H, dtd, J = 1,2;
7,2; 8,0 Hz, H-2)], além da presença de dois tripletos, integrados para
dois hidrogênios cada, em δ 3,24 e δ 4,59 (J = 7,0 Hz cada) e um
singleto largo em δ 9,22 (N-H) de um núcleo indólico. Observou-se
ainda um duplo dupleto em δ 8,30 (J = 1,6; 8,0 Hz), atribuído ao H-4,
desprotegido em decorrência da anisotropia do grupo carbonila. O
experimento COSY 1H-1H confirmou as interações entre H-3 e H-4,
bem como entre os hidrogênios dos anéis A e E de um alcaloide do
tipo β-indolopiridoquinazolínico.
O espectro de RMN 13C apresentou o sinal de um grupo carbonila
em δ 161,6 e sinais de dois carbonos em δ 41,1 e δ 19,7 compatíveis
com um sistema do tipo -CH2CH2NH-C=O. Os dados obtidos do
espectro de RMN 13C de 8 (Tabela 1) estão em concordância com
os descritos na literatura para a rutaecarpina,49 isolada pela primeira
vez no gênero Evodia.50
O espectro de massas do composto 9 revelou o pico referente ao
íon molecular em m/z 303 (100%) e o espectro de RMN 1H mostrou-se
semelhante ao do composto 8, exceto pela presença de sinais para sete
hidrogênios aromáticos [δ 7,70 (1H, dl, J = 7,9 Hz, H-9), 7,56 (2H,
dt, J =1,2; 7,9 Hz, H-4 e H-12), 7,30 (2H, t, J = 7,9 Hz, H-3 e H-11),
2035
7,22 (1H, dd, J = 1,2 e 7,9 Hz, H-2), 7,12 (1H, t, J = 7,9 Hz, H-10)] e
para um grupo hidroxila sugerido pela presença de um singleto largo
em δ 9,33. Também foram observados sinais para dois tripletos em δ
4,44 (2H, J = 6,8 Hz) e em δ 3,02 (2H, J = 6,8 Hz) referentes, respectivamente, ao H-7 e ao H-8, além de um grupo N-H em δ 11,54 (sl).
A localização do grupo hidroxila no anel E foi sugerida pela presença
dos fragmentos em m/z 140 (12) e 115 (14,6) no espectro de massas.
O experimento COSY 1H-1H auxiliou na atribuição dos sinais dos
hidrogênios dos anéis A e E. A ausência de um singleto largo entre
δ 12,0-15,0 descartou a possibilidade do grupo hidroxila localizar-se
em C-4. Este fato foi reforçado pela proteção observada para H-4 (δ
7,56). Estas análises permitiram identificar o composto 9 como sendo a
1-hidroxirutaecarpina,51,52 previamente isolada no gênero Euxylophora.3
O espectro de massas do composto 18 mostrou o pico correspondente ao íon molecular em m/z 377 (100%) e o espectro de absorção
na região IV revelou além das bandas indicativas da presença de anel
aromático (1631, 1548, 1511, 866 e 823 cm-1), a presença de grupo
N-H (3404 cm-1) e de carbonila de amida (1693 cm-1). O espectro
de RMN 1H evidenciou na região de aromáticos sinais cujos valores
de deslocamentos químicos, multiplicidades e constantes de acoplamento estão compatíveis com a presença de um sistema ABX [δ
7,20 (1H, d, J = 2,3 Hz, H-9), δ 7,17 (1H, dd, J = 8,8; 2,3 Hz, H-11)
e δ 7,55 (1H, d, J = 8,8 Hz, H-12)] e para dois hidrogênios isolados
[δ 7,38 (1H, s, H-1) e δ 7,75 (1H, s, H-4)]. Adicionalmente foram
observados sinais simples para três grupos metoxilas (δ 4,12, δ 4,0 e
δ 3,88), um grupo N-H [δ 7,75 (1H, s)] e para dois grupos metilenos
do tipo -CH2CH2N- [δ 4,58 (2H, t, J = 6,7 Hz, H-7) e δ 3,30 (H-8,
superposto ao sinal residual do solvente)]. Estes dados, associados
às correlações observadas no espectro COSY 1H-1H permitiram reconhecer o núcleo de um alcaloide do tipo β-indolopiridoquinazolínico.
Os dados obtidos do espectro de RMN 13C (Tabela 1) permitiram
identificar sinais cujos valores de deslocamentos químicos estão
coerentes com a estrutura da euxiloforicina D, isolada anteriormente
em Euxylophora paraensis.53
PARTE EXPERIMENTAL
Materiais e equipamentos
Os espectros de RMN de 1H e 13C dos compostos de 1-15 foram
obtidos em espectrômetro Brüker ARX-400 do Departamento de
Química da Universidade Federal de São Carlos, operando a 400 e
100 MHz, respectivamente; enquanto que dos compostos 16-18 e 19
foram obtidos em espectrômetros Bruker AC-200 e Varian Gemini
300, operando 1H a 200 e 300 MHz e 13C a 50,3 e 75 MHz, respectivamente. Os espectros de massas dos compostos 8 e 9 foram obtidos no
Departamento de Química da Universidade Federal de São Carlos, em
um CG-EM da Hewlett-Packard, 5995 e os espectros de massas dos
compostos 16-19 foram obtidos no Museu Paraense Emílio Goeldi,
Belém-PA, em um CG-EM da Hewlett-Packard, 5890A/5988A. Os
espectros de IV foram registrados em espectrofotômetro Perkin-Elmer
FT-IR-1750, utilizando-se pastilhas de KBr contendo aproximadamente 1% de amostra.
Materiais vegetais
As folhas e galhos de um espécime identificado como E. grandiflora (Espécime I) foram coletadas no estado do Paraná. Paralelamente, folhas, caule e raízes de outro exemplar (Espécime II) foram
coletados na área de restinga do município de Marechal Deodoro-AL
e identificados pela botânica R. P. de L. Lemos, Instituto do Meio
Ambiente do estado de Alagoas, Maceió-AL, onde um exemplar
encontra-se catalogado (MAC-8426).
Januário et al.
2036
Quim. Nova
Tabela 1. Dados de RMN dos compostos 8-9 (1H: 400; 13C: 100 MHz, CDCl3, δ, Hz) e 18 (1H: 300; 13C: 75 MHz, CD3OD, δ, Hz)
Posição
8
9
18
δH (DMSO-d6)
δC
δH
δC
1
125,6
7,65 (t, 7,2)
151,9
2
134,3
7,71
(dtd, 1,2; 7,2; 8,0)
116,2
7,22
(dd, 1,2; 7,9)
150,2
3
126,6
7,43 (t, 1,2; 7,2)
124,5
7,30 (t, 7,6)
147,6
4
127,2
8,30
(dd, 1,6; 8,0)
127,3
7,56
(dd, 1,2; 7,9)
115,4
4a
-
120,5
111,7
5
161,6
160,6
-
7
41,1
4,59 (t, 7,0)
39,9
4,44 (t, 6,8)
43,6
4,58 (t, 6,7)
8
19,7
3,24 (t, 7,0)
19,1
3,02 (t, 6,8)
30,63
3,30*
8a
118,4
116,4
117,9
8b
127,4
124,9
123,6
9
120,6
7,65 (t, 7,2)
119,5
7,7 (dl, 7,9)
101,4
10
120,1
7,24
(ddd, 0,8;7,2; 7,2)
119,6
7,12 (t, 7,9)
155,5
11
126,2
7,36
(ddd, 1,2; 7,2; 7,2)
124,5
7,30 (t, 7,9)
108,7
7,17
(dd, 8,8; 2,3)
12
112,0
7,45
(dd, 0,8; 7,2)
111,7
7,56
(dt, 1,2; 7,9)
122,3
7,55 (d, 8,8)
12a
138,2
138,2
138,4
13a
127,2
126,1
135,5
13b
144,9
143,2
156,6
14
147,3
-
128,9
NH
9,22 sl
OH
δC
δH
101,0
7,38 s
11,54 s
7,75 s
7,20 (d, 2,3)
-
9,33 s
MeO-2
56,2
4,12 s
MeO-3
57,6
3,88 s
MeO-10
57,0
4,0 s
* Encoberto pelo sinal do solvente.
Isolamento dos constituintes químicos das folhas e galhos
(Espécime I)
Os materiais vegetais provenientes do espécime I [folhas e galhos
(717 g)] foram sucessivamente extraídos com éter de petróleo, CH2Cl2
e MeOH,. Após secagem a vácuo foram obtidos os extratos em éter
de petróleo (7,6 g), CH2Cl2 (12,2 g) e MeOH (46,2 g). O extrato em
éter de petróleo das folhas (7,63 g) foi cromatografado em coluna de
gel de sílica, usando-se como eluente misturas de hexano e acetona
em polaridade crescente. As frações coletadas foram posteriormente purificadas para fornecer uma mistura dos compostos 1 e 2 (3,0
g), a mistura de 3 e 4 (2 mg), 5 (10 mg) e 6 (20 mg). O extrato em
diclorometano (12,2 g) foi submetido a uma filtração cromatográfica em sílica sob vácuo usando-se sucessivamente como eluentes:
hexano, CH2Cl2, hexano-CH2Cl2 (1:1), AcOEt e MeOH. A fração em
hexano-CH2Cl2 1:1 (2,6 g) após cromatografia em coluna forneceu
1+2 (500 mg), 11 (2 mg), 12 (12 mg) e uma mistura composta por
12, 13 e 14 (30 mg). A fração em CH2Cl2 após ser cromatografada
forneceu 7 (3 mg) e 9 (13 mg). Parte do extrato em metanol (20 g) foi
submetida a uma partição MeOH/H2O/CH2Cl2. A fração metanólica
(6 g) foi cromatografada em coluna de gel de sílica obtendo-se 1+2
(10 mg), 7 (2 mg), 8 (2 mg), 10 (2 mg) e 15 (2 mg). O extrato em
éter de petróleo dos galhos (1,3 g) foi cromatografado em coluna de
gel de sílica usando como eluente misturas de hexano e acetona em
polaridade crescente obtendo-se 1+2 (5 mg) e 12 (6 mg).
Isolamento dos constituintes químicos das folhas, caule e raízes
(Espécime II)
Os materiais vegetais oriundos do espécime II [folhas (500 g),
caule (800 g) e raízes (1700 g)], após secagem a temperatura ambiente
e trituração, foram individualmente extraídos em aparelho de Soxhlet
com EtOH 90%. Após concentração das soluções em evaporador
rotatório, os extratos obtidos [folhas (140,2 g), caule (50,4 g) e raízes
(64,0 g)] foram suspensos em solução MeOH-H2O (3:2) e extraídos
sucessivamente com hexano, CHCl3 e AcOEt. Parte do material
Vol. 32, No. 8
Alcaloides β-indolopiridoquinazolínicos de Esenbeckia grandiflora
proveniente da fração em CHCl3 das folhas (30,0 g), após sucessivos fracionamentos cromatográficos em gel de sílica (70-230 mesh)
utilizando-se misturas binárias de C6H14-CHCl3 e CHCl3-AcOEt em
proporções crescentes de polaridade forneceu uma mistura constituída
de 1+2 (110 mg) e o composto 15 (45 mg).
A fração em CHCl3 (19,8 g), procedente da partição do extrato
em EtOH do caule, após sucessivos fracionamentos cromatográficos
em gel de sílica (70-230 mesh) e misturas binárias de eluentes de
diferentes polaridades (C6H14-AcOEt e CHCl3-AcOEt) resultou no
isolamento dos compostos 12 (20 mg) e 19 (15 mg).
A fração em AcOEt (5,21 g), proveniente da partição do extrato
em EtOH das raízes, foi fracionada em gel de sílica com misturas de
CHCl3-AcOEt em proporções crescentes de polaridade. Os materiais
oriundos das subfrações reunidas 1-10 (0,02 g) e 11-16 (0,02 g), após
sucessivas recristalizações com C6H14-CHCl3 forneceram os compostos 16 (9 mg) e 17 (12 mg), respectivamente. O material resultante
das subfrações mais polares, 106-110 (3,75 g), após fracionamento
cromatográfico em gel de sílica (70-230 mesh, CHCl3-MeOH em
proporções crescentes de polaridade), cromatotron em CHCl3-MeOH
(9:1) e CCDP (gel de sílica, CHCl3-MeOH 95:5) forneceu 18 (8 mg).
2037
276 (0,16). IV (KBr,υmax em cm-1): 3342, 2922, 2851, 1739,
1656, 1601, 1466, 1328, 1230, 1085, 730, 691. EM m/z (int. rel.):
287 (60,3), 286 (82,6), 168 (11,6), 143 (14,1), 129 (31), 115 (40,8),
77 (77), 69 (49), 57 (100), 55 (83). RMN RMN (1H: 400; 13C: 100
MHz, CDCl3): Tabela 1.
1-Hidroxirutaecarpina (9)
Sólido amarelado em forma de agulhas, p.f. 293,1-300,2 °C. EM
m/z (int. rel.): 303 (100), 302 (98,2), 140 (12), 129 (15,5), 115 (14,6),
97 (11,4), 85 (10,2), 77 (14,7), 73 (19,6), 69 (17,8), 57 (19,7), 55
(20,1). RMN (1H: 400; 13C: 100 MHz, CDCl3): Tabela 1.
Euxiloforicina D (18)
Sólido amorfo, p.f. 293,3-294 °C. IV (KBr) cm-1: 3404, 2923, 2849,
1693, 1631, 1548, 1511, 1443, 1396, 1321, 1304, 1263, 1212, 1015,
823, 764. EM m/z (int. rel.): 377 (100), 376 (28), 375 (21), 363 (36),
362 (62), 361 (17), 348 (18), 346 (13), 334 (19), 332 (12), 319 (10),
318 (15), 306 (3), 188 (21), 181 (17), 178 (11), 177 (13), 167 (15), 166
(11), 159 (12), 137 (22). RMN (1H: 300; 13C: MHz, CD3OD): Tabela 1.
CONCLUSÕES
A investigação química de E. grandiflora permitiu o isolamento
e identificação dos alcaloides 1-hidroxirutaecarpina, rutaecarpina e
euxiloforicina D. Sendo este o primeiro relato da presença de alcaloides do tipo indolopiridoquinazolínico neste gênero.
O alcaloide rutaecarpina foi isolado anteriormente na família
Rutaceae nos gêneros Evodia, Hortia, Zanthoxylum, Phellodendron,
Tetradium, Spiranthera, Vepris, Metrodorea, Bouchardatia e Fagara
da família Rutaceae e, só mais recentemente foi também isolado nas
famílias Taxus chinensis (Texaceae) e Winchia calophylla (Apocynaceae).54 Por sua vez, a 1-hidroxirutaecarpina foi isolada previamente
em Euxylophora paraënsis, Vepris louissi, Bouchardatia neurococca,
Tetradium glabrifolium, Zanthoxylum integrifoliolum, Z. pistaciiflorum
e Spiranthera odoratissima. Segundo estudos quimiossistemáticos
realizados até o momento, Zanthoxylum é o único gênero de Rutaceae
capaz de produzir a rutaecarpina juntamente com seus derivados, sendo
este fato também inédito no gênero Esenbeckia. Em contrapartida, nos
gêneros Euxylophora, Vepris e Leptotyrsa são encontrados diversos
derivados da rutaecarpina, sem nenhum traço de rutaecarpina.54
AGRADECIMENTOS
Ao CNPq e FAPEAL pelo apoio financeiro concedido, ao CNPq
pela bolsa de Pós-Graduação de A. H. Januário, à CAPES pela bolsa
de J. J. de B. Silva, ao Instituto de Química da USP e Departamento
de Química da Universidade Federal do Pará, pelos espectros de RMN
a 200 e 300 MHz, respectivamente, e ao Museu Paraense Emílio
Goeldi, Belém-PA, pelos espectros de EM.
REFERÊNCIAS
Figura 1.
Rutaecarpina (8)
Sólido amorfo. [α]D +67,7 (25°C; MeOH; c 0,011). UV (MeOH;
λmax em nm (log ε): 360 (0,29), 344 (0,38), 330 (0,34), 288 (0,16),
1. Melo, M. F. F.; Zickel, C. S.; Acta Bot. Bras. 2004, 18, 73.
2. Barros-Filho, B. A.; Nunes, F. M.; Oliveira, M. C. F.; Andrade-Neto, M.;
Mattos M. C.; Quim. Nova 2007, 30, 1589.
3. Cuca-Suarez, L. E.; Barrera, C. A. C.; Biochem. Syst. Ecol. 2007, 35,
386.
4. Oliveira, F. M.; Santana, A. E. G.; Conserva, L. M.; Maia, J. G.;
Guilhon, G. M. P.; Phytochemistry 1996, 41, 647.
5. Dreyer, D. L.; Phytochemistry 1980, 19, 941.
6. Rios, M. Y.; Delgado, G.; J. Nat. Prod. 1992, 55, 1307.
7. Rios, M. Y.; Rosas-Alonso, E.; Aguilar-Guadarrama, A. B.; Biochem.
Syst. Ecol. 2002, 30, 367.
2038
Januário et al.
8. Vitagliano, J. C.; Comin, J.; An. Asoc. Argent. 1970, 58, 59.
9. Delle Monache, F.; Trani, M.; Yunes, R. A.; Falkenberg, D.; Fitoterapia
1995, 66, 474.
10. Monache, F. D.; Monache, G. D.; E. De Moraes e Souza, M. A.;
Cavalcanti, M. S.; Chiappeta, A.; Gazz. Chim. Ital. 1989, 119, 435.
11. Rios, M. Y.; Guadarrama, A. B.; Delgado, G.; Biochem. Syst. Ecol. 2002,
30, 977.
12. Simpson, D. S.; Jacobs, H.; Biochem. Syst. Ecol. 2005, 33, 841.
13. Bevalot, F.; Fournet, A.; Moretti, C.; Vaquette, J.; Planta Med. 1984, 50,
522.
14. Aguilar-Guadamarra, A. B.; Rios, M. Y.; Planta Med. 2004, 70, 85.
15. Guilhon, G. M. S. P.; Baetas, A. C. S.; Maia, J. G. S.; Conserva, L. M.;
Phytochemistry 1994, 37, 1193.
16. Barros-Filho, B. A.; Fátima, M. N. A.; De Oliveira, M. C. F.; Mafezoli,
J.; Andrade-Neto, M.; Silveira, E. R.; Pirani, J. R.; Biochem. Syst. Ecol.
2004, 32, 817.
17. Nunes, F. M.; Barros-Filho, B. A.; de Oliveira, M. C. F.; de Mattos, M.
C.; Andrade-Neto, M.; Barbosa, F. G.; Mafezoli, J.; Montenegro, R.
C.; Pessoa, C.; de Moraes, M. O.; Costa-Lotufo, L. V.; Galeti, F. C. S.;
Silva, C. L.; de Souza, A. O.; Nat. Prod. Commun. 2006, 1, 313.
18. Delle Monache, F.; Di Benedetto, R.; De Moraes e Souza, M. A.;
Sandor, P.; Gazz. Chim. Ital. 1990, 120, 387.
19. Nakatsu, T.; Johns, T.; Kubo, I.; Milton, K.; Sakai, M.; Chatani, K.;
Saito, K.; Yamagiwa, Y.; Kamikawa, T.; J. Nat. Prod. 1990, 53, 1508.
20. Garcia-Beltran, O. J.; Cuca-Suarez, L. E.; Actualidades Biologicas
(Medellín, Colombia) 2005, 27, 71. (CA 145:99555x).
21. Napolitano, H. B.; Silva, M.; Ellena, J.; Rodrigues, B. D. G.; Almeida,
A. L. C.; Vieira, P. C.; Oliva, G.; Thiemann. O. H.; Braz. J. Med. Biol.
Res. 2004, 37, 1847.
22. Rios, M. Y.; Delgado, G.; Biochem. Syst. Ecol. 2002, 30, 697.
23. Mata, R.; Macias, M. L.; Rojas, I. S.; Lotina-Hennsen, B.; Toscano, R.
A.; Anaya, A. L.; Phytochemistry 1998, 49, 441.
24. Vitagliano, J. C.; Comin, J.; An. Asoc. Quím. Argent. 1970, 58, 273.
25. Cano, A.; Bucio, J. L.; Espinoza, M.; Ruiz-Cancino, A.; Rev. Soc. Quim.
Méx. 2000, 44, 155.
26. Garcia-Beltran, O. J.; Cuca-Suarez, L. E.; Rev. Colomb. Quim. 2003, 32,
23.
27. Cano, A.; Bucio, J. L.; Espinoza, M.; Ramos, C. H.; Delgado, G.; J. Mex.
Chem. Soc. 2006, 50, 71.
28. Rios, M. Y.; Delgado, G.; Phytochemistry 1992, 31, 3491.
29. Rios, M. Y.; Aguilar-Guadarrama, A. B.; Biochem. Syst. Ecol. 2002, 30,
1006.
30. Cano, A.; Bucio, J. L.; Espinoza, M.; Ruiz-Cancino, A.; Rev. Soc. Quim.
Méx. 2000, 44, 155.
Quim. Nova
31. Kubo, I.; Vieira, P. C.; Fukuhara, K.; J. Liq. Chromatog. 1990, 13, 2441.
32. Kubo, I.; J. Chromatog. 1991, 538, 187.
33. Sharma, S. D.; Sharma, M. L.; Rathee, R.; J. Indian Chem. Soc. 2006,
83, 1158.
34. Da Silva, L. L.; Paoli, A. A. S.; Rev. Bras. Sementes 2006, 28, 1.
35. Novais, T. S.; Costa, J. F. O.; David, J. P. L.; David, J. M.; Queiroz, L. P.;
França, F.; Giullietti, A. M.; Soares, M. B. P.; Santos, R.R.; Rev. Bras.
Farmacog. 2003, 14, 5.
36. Oliveira, P. E. S.; Conserva, L. M.; Brito, A. C.; Lemos, R. P. L.; Pharm.
Biol. 2005, 43, 53.
37. De Oliveira, P. E. S.; Conserva, L. M.; De Simone, C. A.; Pereira, M. A.;
Malta, V. R. S.; Imbroisi, D. O.; Acta Crystallog. Sect. C-Crystal Struct.
Comm. 2004, 60, O900.
38. Kaastra, R. C.; Pilocarpineae (Rutaceae). Flora Neotropica Monography 33, New York Botanical Garden: New York, 1982.
39. Trani, M.; Delle Monache, F.; Delle Monache, G.; Yunes, R. A.; Falkenberg, D. B.; Gazz. Chim. Ital. 1997, 127, 415.
40. Trani, A.; Carbonetti, A.; Delle Monache, G.; Delle Monache, F.;
Fitoterapia 2004, 75, 99.
41. Mahato, S. B.; Kundu, A. P.; Phytochemistry 1994, 37, 1517.
42. Bhattacharyya, J.; Serur, L. M.; Heterocycles 1981, 16, 371.
43. Sankar, S. S.; Gilbert, R. D.; Fornes, R. E.; Org. Magn. Res. 1982, 19,
222.
44. Abulrob, A-N.; Suller, M. T. E.; Gumbleton, M.; Simons, C.; Russell,
A. D.; Phytochemistry 2004, 65, 3021.
45. Tandon, M.; Shukla, Y. N.; Thakur, R. S.; Phytochemistry 1990, 29,
2957.
46. Souri, E.; Farsam, H.; Sarkheil, P.; Ebadi, F.; Pharm. Biol. 2004, 42,
396.
47. Sajjadi, S. E.; Noroozi, P.; Res. Pharma. Sci. 2007, 2,13
48. Pusset, J.; Lopez, J. L.; Pais, M.; Al Neirabeyeh, M.; Veillon, J. M.;
Planta Med. 1991, 57, 153.
49. Bergman, J.; Bergman, S.; J. Org. Chem. 1985, 50, 1246.
50. Kamikado, T.; Murakoshi, S.; Tamura, S.; Agric. Biol. Chem. 1978, 42,
1515.
51. Danieli, B.; Farachi, C.; Palmisano, G. A.; Phytochemistry 1976, 15,
1095.
52. Ayafor, J. F.; Sondengam, B. L.; Ngadjui, B. T.; Phytochemistry 1982,
21, 2733.
53. Danieli, B.; Palmisano, G.; Russo, G.; Ferrari, G.; Phytochemistry 1973,
12, 2521.
54. Lee, S. H., Son, J-K.; Jeong, B. S.; Jeong, T-C.; Chang, H. W.; Lee, E-S.;
Jahng, Y.; Molecules 2008, 13, 272.