Academia.eduAcademia.edu
O Papel da RNV na coleta de dados de espécies nativas que pudessem gerar conhecimento cientíico sobre manejo lorestal, monitorados periodicamente e por longo prazo se iniciou desde cedo nas terras de conhecimento gerado sobre as lorestas de tabuleiros, especialmente no que tange à conservação da FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE pelas suas equipes de proissionais, competentes e zelosos, sempre hospitaleiros e colaborativos com daquela paisagem com suas enormes árvores emergentes foi marcante e deinitivamente dei minha conhecidas em termos lorísticos. encontra a maior diversidade desses mamíferos em toda a Mata Atlântica, o que por si só justiica a sua Além de constituir um dos últimos redutos da espetacular diversidade da lora do norte do Espírito Editores: Samir G. Rolim • Luis F. T. de Menezes • Ana C. Srbek-Araujo Figura 1: Ao lado, mapa da RNV e de outras áreas protegidas vizinhas. Acima, em detalhe: A) Floresta de Tabuleiro, que ocorre sobre argissolos amarelos e onde as árvores atingem mais de 35 m de altura; B) Várzea ou Brejo, áreas sujeitas a alagamentos geralmente permanentes, associadas às bordas dos rios que cortam a RNV, com vegetação herbácea ou lorestal; C e D) Floresta de Muçununga, que ocorre geralmente como enclaves no interior da Floresta de Tabuleiro, sobre depósitos arenosos (espodossolos), onde o dossel atinge cerca de 10 m de altura; E e F) Campos Nativos, uma isionomia variando de herbácea a arbustiva, ocorrendo também sobre solos arenosos e quimicamente pobres. FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Foto capa FLÁVIO LOBOS MARTINS Design e diagramação FLÁVIA GUIMARÃES Revisão de textos RUBEM DORNAS Fotos FLÁVIO GONTIJO (TODAS AS FOTOS COM EXCEÇÃO DAQUELAS DOS CAPÍTULOS) Mapas (FIG. 1 CAP. 11 E FIG. 1 CAP. 06) JOÃO PORTEIRINHA Impressão RONA EDITORA Tiragem 1.000 EXEMPLARES Direitos Livro de divulgação cientíica para distribuição gratuita. Cópias digitais estão disponíveis on-line. Rolim, Samir Gonçalves; Menezes, Luis Fernando Tavares de; Srbek-Araujo, Ana Carolina (Editores). Floresta Atlântica de Tabuleiro: diversidade e endemismos na Reserva Natural Vale. Belo Horizonte. 2016 496p.: Il. color. 28 cm. Inclui bibliograia ISBN: 978-85-62805-63-9 1. Biodiversidade. 2. Endemismos. 3. Floresta Atlântica de Tabuleiro. 4. Reserva Natural Vale. 5. Ecologia. 6. Conservação. I. Título. PEIXOTO & JESUS MEMÓRIAS DE CONSERVAÇÃO SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................... 11 PREFÁCIO............................................................................................................................................. 12 LISTA DE AUTORES E REVISORES .......................................................................................................... 14 PARTE I – HISTÓRIA E AMBIENTE FÍSICO .............................................................................................. 19 1. RESERVA NATURAL VALE: MEMÓRIAS DE 65 ANOS DE CONSERVAÇÃO.......................................................................21 Ariane Luna Peixoto & Renato Moraes de Jesus 2. OS TABULEIROS COSTEIROS DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO: OCORRÊNCIA E COMPONENTES AMBIENTAIS.................................................................................................................................................31 Ademir Fontana, Lúcia Helena Cunha dos Anjos & Marcos Gervasio Pereira PARTE II – ECOLOGIA VEGETAL ............................................................................................................ 45 3. AS FLORESTAS DE TABULEIRO DO NORTE DO ESPÍRITO SANTO SÃO OMBRÓFILAS OU ESTACIONAIS? .....................................................................................................................................47 Samir Gonçalves Rolim, Natália Macedo Ivanauskas & Vera Lex Engel 4. A FLORESTA DE LINHARES NO CONTEXTO FITOGEOGRÁFICO DO LESTE DO BRASIL ..............................................61 Felipe Zamborlini Saiter, Samir Gonçalves Rolim & Ary Teixeira de Oliveira-Filho 5. A PALEOECOLOGIA E A ATUAL BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA DE LINHARES: ESTUDOS INTERDISCIPLINARES NO HOLOCENO .....................................................................................................................................71 Antonio Álvaro Buso Jr., Luiz Carlos Ruiz Pessenda, Marcelo Cancela Lisboa Cohen, Paulo Cesar Fonseca Giannini, Jolimar Antonio Schiavo, Dilce de Fátima Rossetti, Geovane Souza Siqueira, Flávio de Lima Lorente, Mariah Izar Francisquini, Paulo Eduardo De Oliveira, Márcia Regina Calegari, Marlon Carlos França, José Albertino Bendassolli, Cecília Volkmer-Ribeiro, Sonia Maria de Oliveira, Fernanda Costa Gonçalves Rodrigues, Milene Fornari, Carolina Nogueira Mafra, Mauro Parolin, Kita Macario & Alexander Cherkinsky 6. SÃO AS FLORESTAS DO NORTE DO ESPÍRITO SANTO E SUL DA BAHIA AS MAIS RICAS EM ESPÉCIES ARBÓREAS NO DOMÍNIO DA FLORESTA ATLÂNTICA? ..............................................................................................................................91 Samir Gonçalves Rolim, Luiz Fernando Silva Magnago, Felipe Zamborlini Saiter, André Márcio Amorim & Karla Maria Pedra de Abreu 7. FORMAS DE HÚMUS COMO INDICADOR FUNCIONAL DE ECOSSISTEMAS EMERGENTES NA FLORESTA DE TABULEIRO .................................................................................................................................................................................... 101 Irene Garay, Ricardo Finotti , Andreia Kindel, Marcos Louzada, Maria Cecília Rizzini & Daniel Vidal Pérez 8. EFEITO DE BORDA NA FUNCIONALIDADE DOS GRANDES FRAGMENTOS DE FLORESTA DE TABULEIRO DO NORTE DO ESPÍRITO SANTO .................................................................................................................................................... 129 Luiz Fernando Silva Magnago, Fabio Antonio Ribeiro Matos, Sebastião Venâncio Martins, João Augusto Alves Meira Neto & Eduardo van den Berg 9. EXPRESSÃO SEXUAL E RELAÇÕES ECOLÓGICAS DE ANGIOSPERMAS NAS FISIONOMIAS VEGETAIS DOS TABULEIROS DO NORTE DO ESPÍRITO SANTO ................................................................................................................... 141 Gloria Matallana Tobón, Luis Fernando Tavares de Menezes, Euler Antônio de Mello, Izabela Ferreira Ribeiro & Quenia Lyrio PARTE III – FLORA .............................................................................................................................. 155 10. SAMAMBAIAS E LICÓFITAS DA RESERVA NATURAL VALE, LINHARES/ES ................................................................ 157 Lana S. Sylvestre, Thaís Elias Almeida, Claudine Massi Mynssen & Alexandre Salino 11. ANGIOSPERMAS DA RESERVA NATURAL VALE, NA FLORESTA ATLÂNTICA DO NORTE DO ESPÍRITO SANTO ................................................................................................................................................. 167 Samir Gonçalves Rolim, Ariane Luna Peixoto, Oberdan José Pereira, Dorothy Sue Dunn de Araujo, Marcos Nadruz, Geovane Siqueira & Luis Fernando Tavares de Menezes 12. BRIÓFITAS DA RESERVA NATURAL DA VALE, LINHARES/ES, BRASIL ......................................................................... 231 Olga Yano 13. DIVERSIDADE DE MYRTACEAE NA RESERVA NATURAL VALE ...................................................................................... 247 Augusto Giaretta, Amélia Carlos Tuler, Marcelo da Costa Souza, Karinne Sampaio Valdemarin, Fiorella Fernanda Mazine & Ariane Luna Peixoto 14. LEVANTAMENTO E DISTRIBUIÇÃO DAS BIGNONIACEAE NA RESERVA NATURAL VALE ........................................ 259 Alexandre Rizzo Zuntini & Lúcia G. Lohmann 15. EPÍFITAS VASCULARES NAS FISIONOMIAS VEGETAIS DA RESERVA NATURAL VALE/ES ..................................... 269 Samir Gonçalves Rolim, Lana Sylvestre, Evelyn Pereira Franken & Marcos A. Nadruz Coelho 16. ARATICUNS E PINDAÍBAS DA RESERVA NATURAL VALE, LINHARES/ES .................................................................... 283 Jenifer de Carvalho Lopes & Renato de Mello-Silva 17. A FAMÍLIA ARACEAE NA RESERVA NATURAL VALE ......................................................................................................... 297 Marcus A. Nadruz Coelho PARTE IV – FAUNA DE INVERTEBRADOS ............................................................................................. 301 18. DIVERSIDADE E DISTRIBUIÇÃO DE ARANHAS NA RESERVA NATURAL VALE ........................................................... 303 Adalberto J. Santos, Antonio D. Brescovit & João Vasconcellos-Neto 19. BORBOLETAS DA RESERVA NATURAL VALE, LINHARES/ES .......................................................................................... 317 André V. L. Freitas, Keith S. Brown Jr., Olaf H. H. Mielke, Jessie P. Santos & João Vasconcellos-Neto 20. A FAUNA DE ABELHAS E VESPAS APOIDEAS (HEXAPODA: HYMENOPTERA: APOIDEA) DA RESERVA NATURAL VALE, NORTE DO ESPÍRITO SANTO ......................................................................................... 329 André Nemésio, José Eustáquio dos Santos Júnior & Sandor Christiano Buys 21. COLEÓPTEROS E HEMÍPTEROS DA RESERVA NATURAL VALE ..................................................................................... 341 David dos Santos Martins, Paulo Sérgio Fiuza Ferreira, Maurício José Fornazier & José Simplício dos Santos PARTE V – FAUNA DE VERTEBRADOS ................................................................................................. 365 22. A RESERVA NATURAL VALE: UM REFÚGIO PARA A CONSERVAÇÃO DOS PEIXES DA BACIA DO RIO BARRA SECA/ES...................................................................................................................................................................................... 367 Fábio Vieira 23. ANFÍBIOS ANUROS NA RESERVA NATURAL VALE E SEU ENTORNO: INVENTÁRIO FAUNÍSTICO E SUMÁRIO ECOLÓGICO................................................................................................................................................................................ 377 João Luiz Gasparini, Antonio de Pádua Almeida, Cinthia Brasileiro & Célio F. B. Haddad 24. A IMPORTÂNCIA DAS FLORESTAS DE TABULEIRO DO NORTE DO ESPÍRITO SANTO PARA A CONSERVAÇÃO DAS AVES DA MATA ATLÂNTICA ............................................................................................. 397 Luís Fábio Silveira & Gustavo Rodrigues Magnago 25. EFEITOS DA PROXIMIDADE E CONECTIVIDADE DE FRAGMENTOS LINEARES COM UMA FLORESTA CONTÍNUA SOBRE A COMUNIDADE DE PEQUENOS MAMÍFEROS ............................................................................ 421 Mariana Ferreira Rocha, Marcelo Passamani, Ludmilla Portela Zambaldi, Vinicius Chaga Lopes & Sergio Barbiero Lage 26. FRUGIVORIA E DISPERSÃO DE SEMENTES POR MORCEGOS NA RESERVA NATURAL VALE, SUDESTE DO BRASIL ............................................................................................................................................................... 433 Isaac P. Lima, Marcelo R. Nogueira, Leandro R. Monteiro & Adriano L. Peracchi 27. ABUNDÂNCIA E DENSIDADE DE MAMÍFEROS DE MÉDIO E GRANDE PORTE NA RESERVA NATURAL VALE ................................................................................................................................................. 453 Átilla Colombo Ferreguetti, Walfrido Moraes Tomas & Helena de Godoy Bergallo 28. MAMÍFEROS DE MÉDIO E GRANDE PORTE DAS FLORESTAS DE TABULEIRO DO NORTE DO ESPÍRITO SANTO: GRUPOS FUNCIONAIS E PRINCIPAIS AMEAÇAS ...................................................................... 469 Ana Carolina Srbek-Araujo & Maria Cecília Martins Kierulff PARTE VI – DESAFIOS E OPORTUNIDADES ......................................................................................... 481 29. A IMPORTÂNCIA DA BIODIVERSIDADE BRASILEIRA E OS DESAFIOS PARA A CONSERVAÇÃO, PARA A CIÊNCIA E PARA O SETOR PRIVADO..................................................................................................................................................... 483 Fabio R. Scarano & Paula Ceotto FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE APRESENTAÇÃO Em 2016 completam-se 65 anos desde a aquisição das primeiras propriedades que vieram a compor a Reserva Natural Vale (RNV). É uma grande surpresa que uma área adquirida para ins de extração de madeira para produção de dormentes forme hoje, juntamente com a Reserva Biológica de Sooretama e áreas vizinhas, um dos remanescentes mais importantes da Mata Atlântica em termos de diversidade e endemismos. Estas duas características direcionaram o título desse livro e nós realmente queremos chamar atenção para a grande diversidade de espécies que pode ser encontrada naquelas reservas e, com isso, sensibilizar para a importância da conservação dos remanescentes vegetais no norte capixaba como um todo. As cerca de 500 páginas desse livro estão distribuídas em 29 capítulos que descrevem a área, discutem aspectos da ecologia, da diversidade e dos endemismos de plantas e animais, sem esgotar, evidentemente, o conhecimento sobre esses assuntos. Pelo contrário: nosso sentimento, ao inal do trabalho, é de que ainda existe muito a se descobrir e conhecer. Aos 104 autores e 51 revisores pertencentes a dezenas de instituições nacionais e estrangeiras, que colaboraram para tornar esta publicação possível, nosso primeiro agradecimento. Sem o esforço destes colegas o trabalho de reunir as informações aqui compiladas seria literalmente impossível. Agradecemos ainda à Symbiosis Investimentos, à The Nature Conservancy e à Amplo Engenharia pelo apoio, sem o qual não seria possível a distribuição gratuita dos exemplares. Agradecemos também à Vale S.A. e aos gestores da RNV que têm incentivado, apoiado e realizado pesquisas na Reserva por quase 50 anos e, principalmente, por permitirem às futuras gerações conhecer esse patrimônio natural inestimável. Por im, gostaríamos de agradecer especialmente a um grupo de pessoas que dedicou parte de suas vidas à RNV, seja na gestão administrativa, na prevenção e combate a incêndios lorestais, no combate à caça, na coleta de dados de biodiversidade, na manutenção de pesquisas lorestais e na produção de milhões de mudas de espécies de Mata Atlântica. Citamos aqui apenas alguns colaboradores com mais de 25 anos de dedicação à RNV, mas desejamos que todos se sintam representados: Adair Campos, Adeildo Hartuique, Agostinho Paim, Alessandro Simplício dos Santos, Domingos A. Folli, Edson da Costa, Esmael Trevezani, Geovane S. Siqueira, Gilson Lopes Faria, Isaias Silva, Jonacir de Souza, Jorge Piero, José Costa da Silva, José Simplício dos Santos, Luiz Gonzaga dos Reis, Luzia Giacomin do Sacramento, Natalino Correa Rossmann, Oleni Jose da Silva, Orlando de Souza Fernandes, Sebastião Simplício dos Santos, Sérgio Luiz Dettogni, Waldecir Pereira da Fonseca e Zenites Faria da Cruz. Não podemos deixar de destacar também um nome que, décadas atrás, teve uma visão ímpar sobre a importância da RNV no contexto de pesquisa e conservação da Mata Atlântica: Renato Moraes de Jesus. Com apoio da Vale, por 33 anos, se dedicou com obstinação à construção de espaços destinados ao apoio e desenvolvimento de pesquisas, criação de coleções biológicas, produção de mudas de espécies nativas e estabelecimento de procedimentos de proteção ecossistêmica que fazem da RNV uma das mais bem preservadas e conhecidas áreas naturais do Brasil. Além de apresentar um pouco da contribuição da RNV para a conservação da lora e da fauna do bioma, os conteúdos abordados nesse livro nos ajudam a vislumbrar também o quanto continua sendo perdido atualmente na Mata Atlântica em decorrência da destruição histórica dos ambientes naturais pelo homem, além de reforçar a importância de se conservar adequadamente as áreas remanescentes no bioma. Nossa expectativa é que esta obra contribua para estimular o conhecimento da diversidade biológica, bem como dos processos necessários para sua manutenção. Desejamos que todos tenham uma excelente leitura. OS EDITORES 11 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE PREFÁCIO Se você está segurando este livro, Floresta Atlântica de Tabuleiro: diversidade e endemismos na Reserva Natural Vale, em suas mãos, já sabe que a Mata Atlântica do Brasil é considerada um dos “hotspots” mundiais de biodiversidade, ou seja, uma área rica em espécies endêmicas e altamente ameaçada. Esta longa faixa estreita de loresta se estende por mais de 23° de latitude e mais de 3000 km ao longo da costa do Brasil, uma distância equivalente à de Nova Escócia para Cuba ou de Oslo para Gibraltar. Dentro do bioma Mata Atlântica, a maior parte da porção norte, do Rio Grande do Norte até o Rio de Janeiro, cresce em cima de sedimentos Miocênicos da Formação Barreiras, os “tabuleiros”. Estes tabuleiros são planos a ligeiramente inclinados – excelentes para a agricultura e facilmente acessíveis. Consequentemente, as lorestas sobre os tabuleiros estão fragmentadas e ameaçadas. A Reserva Natural Vale (RNV), juntamente com a Reserva Biológica de Sooretama e as Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) Refúgio da Anta e Mutum Preto, compreendem o maior bloco (cerca de 50.000 ha) de Floresta de Tabuleiro da Mata Atlântica e são, portanto, extremamente importantes para a conservação e estudo da diversidade biológica tropical. A RNV é notável por várias razões: 1) a visão que os primeiros conservacionistas tinham quando a RNV foi protegida; 2) seu tamanho e grau de conservação; 3) sua acessibilidade tanto geográica quanto logística; e, 4) a intensidade com a qual tem sido estudada cientiicamente. Como os diversos capítulos deste livro demonstram, a RNV é uma das reservas lorestais mais intensivamente estudadas no Brasil. As políticas postas em prática pela Vale e pelos administradores da RNV para incentivar e apoiar pesquisas na Reserva merecem ser copiadas em reservas públicas e privadas de todo o Brasil. Peixoto & Jesus (capítulo 1) descrevem cuidadosamente o estabelecimento da RNV e sua evolução de uma fonte de dormentes para uma reserva ativa que protege a loresta, estimula estudos da diversidade biológica e de ecologia e auxilia em relorestamentos. No inal, Scarano & Ceotto (capítulo 29) colocam o impacto da RNV no contexto da conservação de toda a Floresta Atlântica e da política de conservação no Brasil. A pesquisa ecológica na RNV enfoca muitas questões diferentes, tais como a classiicação da vegetação, como sua diversidade se compara com a das lorestas da Bahia e com as outras do leste do Brasil e como a sucessão para uma loresta madura é reletida em outros processos ecológicos, tais como formação do solo. Estas questões são tratadas em detalhes nos capítulos 2-9. Pesquisas sobre a diversidade biológica na RNV também têm sido extensas, ao longo de décadas, e os capítulos apresentados nesta celebração da RNV são exemplos de muitos desses estudos. No reino vegetal, os estudos aqui apresentados sobre grupos de angiospermas incluem Myrtaceae (capítulo 13), Bignoniaceae (14), Annonaceae (16), Araceae (17) e epíitos vasculares (15). Também foram estudadas as brióitas (12), as angiospermas (11) e as pteridóitas (10). A fauna de invertebrados está representada por estudos de aranhas (18), borboletas (19), abelhas e vespas (20), além de Coleoptera e Hemiptera (21). Estudos sobre a fauna de vertebrados incluem peixes (22), anfíbios (23), a conservação das aves (24), a ecologia de mamíferos de médio e grande porte (27, 28), o efeito da fragmentação em comunidades de pequenos mamíferos (25) e frugivoria e dispersão de sementes por morcegos (26). As lorestas tropicais são tão ricas e ainda tão mal compreendidas biologicamente que o conhecimento da ecologia de sua vegetação e de sua incrível diversidade biológica é apenas o primeiro passo. Uma vez que tenhamos essa base, poderemos então começar a fazer perguntas mais complexas sobre como as espécies interagem, tais como as relações de insetos e plantas hospedeiras ou a interação de árvores e fungos simbiontes, e sobre os efeitos da fragmentação e mudanças climáticas nas lorestas tropicais. A conservação sábia das lorestas tropicais e sua restauração a longo prazo só poderão ser realizadas com a compreensão da complexa teia de vida que compreende uma loresta. Grandes blocos de loresta, como o formado pela Reserva Natural Vale e áreas vizinhas, são, portanto, chaves para o avanço do nosso conhecimento sobre as lorestas tropicais. WILLIAM WAYT THOMAS The New York Botanical Garden Bronx, NY 10458-5126 USA 12 13 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE EDITORES Samir Gonçalves Rolim – Amplo Engenharia, sgrolim@gmail.com Luis Fernando Tavares de Menezes - Departamento de Ciências Agrárias e Biológicas, Universidade Federal do Espírito Santo, ltmenezes@gmail.com Ana Carolina Srbek-Araujo – Laboratório de Ecologia e Conservação de Biodiversidade, Universidade Vila Velha, srbekaraujo@hotmail.com Andreia Kindel - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente, andreia.kindel@ibama.gov.br Antonio Alvaro Busso Junior - Fundação Florestal do Estado de São Paulo, alvaro.buso.jr@gmail.com Antonio de Pádua Almeida - ICMBio, Reserva Biológica de Comboios, Linhares/ES, antonio.serra-almeida@icmbio.gov.br Antonio D. Brescovit - Laboratório Especial de Coleções Zoológicas, Instituto Butantan, antonio.brescovit@butantan.gov.br Ariane Luna Peixoto - Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, alunapeixoto@gmail.com LISTA DE AUTORES Adalberto J. Santos - Departamento de Zoologia, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais, oxyopes@yahoo.com Ademir Fontana - Embrapa Solos, Rio de Janeiro, ademir.fontana@embrapa.br Adriano Lúcio Peracchi - Laboratório de Mastozoologia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, alperacchi@yahoo.com.br Alexander Cherkinsky - Center for Applied Isotope Studies, University of Georgia, acherkin@uga.edu Alexandre Rizzo Zuntini - Departamento de Biologia, Instituto de Biologia Vegetal, Universidade Estadual de Campinas, zuntini@gmail.com Átilla Colombo Ferreguetti – Departamento de Ecologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, atilla.ferreguetti@gmail.com Augusto Giaretta – Programa de Pós-Graduação em Botanica, Universidade de São Paulo, augustogiaretta@gmail.com Carolina Nogueira Mafra - Instituto de Geociências Universidade de São Paulo, crol_mafra91@hotmail.com Célio F. B. Haddad - Laboratório de Herpetologia, Departamento de Zoologia, Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro, haddad@rc.unesp.br Cecília Volkmer-Ribeiro - Laboratório C-14, CENA, Universidade de São Paulo, cvolkmer1427@gmail.com Alexandre Salino - Departamento de Botânica, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais, salinobh@gmail.com Cinthia Brasileiro - Departamento de Ciências Biológicas, Universidade Federal de São Paulo, cinthia_brasileiro@yahoo.com.br Amélia Carlos Tuler – Programa de Pós-Graduação em Botânica, Escola de Botânica Tropical, Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, ameliatuler@gmail.com Claudine Massi Mynssen - Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, cmynssen@jbrj.gov.br Ana Carolina Srbek-Araujo - Laboratório de Ecologia e Conservação de Biodiversidade, Universidade Vila Velha, srbekaraujo@hotmail.com André Márcio Araujo Amorim - Departamento de Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Santa Cruz, amorim.uesc@gmail.com André Nemésio – Instituto de Biologia, Universidade Federal de Uberlândia, andre.nemesio@gmail.com André Victor Lucci Freitas - Departamento de Biologia Animal, Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas, baku@unicamp.br 14 Ary Teixeira de Oliveira-Filho - Departamento de Botânica, Universidade Federal de Minas Gerais, ary.oliveira.ilho@gmail.com Daniel Vidal Pérez - Centro Nacional de Pesquisa de Solos, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, daniel.perez@embrapa.br David dos Santos Martins - Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural, davidmartins@incaper.es.gov.br Dilce de Fátima Rossetti - Divisão de Sensoriamento Remoto, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, rossetti@ltid.inpe.br Dorothy Sue Dunn de Araujo - Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, dotaraujo@gmail.com Eduardo van den Berg – Departamento de Biologia, Universidade Federal de Lavras, eduardo.lavras@gmail.com Universidade Federal de Viçosa, j.meira@ufv.br Euler Antônio de Mello - Laboratório de Ecologia de Restinga e Mata Atlântica, Universidade Federal do Espírito Santo, euler_mello@hotmail.com João Luiz Gasparini - Laboratório de Vertebrados Terrestres, Universidade Federal do Espírito Santo, CEUNES, gasparini.herpeto@gmail.com Evelyn Pereira Franken - Programa de Pós-Graduação em Biologia Comparada, Universidade de São Paulo, evelynfranken@hotmail.com João Vasconcellos-Neto - Departamento de Biologia Animal, Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas, jvascont@gmail.com Fabio Antonio Ribeiro Matos - Laboratório de Ecologia e Evolução de Plantas, Departamento de Biologia Vegetal, Universidade Federal de Viçosa, fabiomatos82@gmail.com Jolimar Antonio Schiavo – Universidade Estatual do Mato Grosso do Sul, schiavo10@hotmail.com Fábio Rúbio Scarano - Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável, fscarano@fbds.org.br Fábio Vieira - Departamento de Zoologia, Instituto de Ciências Biológicas, UFMG, small.catish@gmail.com Felipe Zamborlini Saiter - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Espírito Santo, fsaiter@ifes.edu.br Fernanda Costa Gonçalves Rodrigues – Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, cgr.fernanda@gmail.com Fiorella Fernanda Mazine – Universidade Federal de São Carlos, iorella@ufscar.br José Albertino Bendassolli - Laboratório Isótopos Estáveis/ CENA/Universidade de São Paulo, jab@cena.usp.br José Eustáquio dos Santos Júnior - Universidade Federal de Minas Gerais, jrsantos140782@yahoo.com.br José Simplício dos Santos - Reserva Natural Vale, Curadoria da Coleção Entomológica Karla Maria Pedra de Abreu, Instituto Federal de Educação, Alegre (ES), bio.pedra@gmail.com Karinne Sampaio Valdemarin - Programa de Pós-Graduação em Recursos Florestais, Universidade de São Paulo, kvaldemarin@gmail.com Flávio de Lima Lorente - Laboratório C-14, CENA, Universidade de São Paulo, limalorente@yahoo.com.br Keith S. Brown Jr. - Departamento de Biologia Animal, Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas, jvascont@gmail.com Geovane Siqueira - Reserva Natural Vale, Herbário CVRD, geovane.siqueira@vale.com Kita Macario – Centro de Estudos Gerais, Instituto de Física, Universidade Federal Fluminense, kita@mail.if.uff.br Gloria Matallana Tobón - Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Tropical, Universidade Federal do Espírito Santo, gloriamatallanatobon@gmail.com Lana da Silva Sylvestre - Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, sylvestrelana@gmail.com Gustavo Rodrigues Magnago - Guia de birdwatching no estado do Espírito Santo, gmagnago@msn.com Helena de Godoy Bergallo - Departamento de Ecologia, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, nena.bergallo@gmail.com Irene E. Gonzalez Garay - Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, garay@biologia.ufrj.br Isaac Passos de Lima - Laboratório de Mastozoologia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, isaaclima@msn.com Izabela Ferreira Ribeiro - Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Tropical, Universidade Federal do Espírito Santo, izabelafribeiro@gmail.com Jenifer de Carvalho Lopes - Departamento de Botânica, Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo, jenifer.clopes@gmail.com Jessie Pereira dos Santos - Instituto de Biologia, Universidade Estadual de Campinas, jessiepereira@gmail.com João Augusto Alves Meira Neto – Departamento de Biologia Vegetal, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Leandro R. Monteiro - Laboratório de Ciências Ambientais, Universidade Estadual do Norte Fluminense, lrmont@uenf.br Lúcia Garcez Lohmann - Departamento de Botânica, Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo, llohmann@usp.br Lúcia Helena Cunha dos Anjos - Departamento de Solos, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, lanjos@ufrrj.br Ludimilla Portela Zambaldi Lima Suzuki - Instituto Federal de Minas Gerais, ludimilla.zambaldi@ifmg.edu.br Luís Fábio Silveira - Museu de Zoologia, Universidade de São Paulo, lfsilvei@usp.br Luis Fernando Tavares de Menezes - Departamento de Ciências Agrárias e Biológicas, Universidade Federal do Espírito Santo, ltmenezes@gmail.com Luiz Carlos Ruiz Pessenda - Laboratório C-14, CENA, Universidade de São Paulo, pessenda@cena.usp.br Luiz Fernando Silva Magnago - Departamento de Biologia, Setor de Ecologia e Conservação, Universidade Federal de Lavras, luiz_fsm@hotmail.com Marcelo Cancela Lisboa Cohen - Instituto de Geociências, Universidade Federal do Pará, mcohen80@hotmail.com 15 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Marcelo da Costa Souza – Departamento de Botânica, Instituto de Biologia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, souza.mc@gmail.com Marcelo Passamani - Setor de Ecologia e Conservação, Departamento de Biologia, Universidade Federal de Lavras, mpassamani@dbi.ula.br Marcelo R. Nogueira - Laboratório de Ciências Ambientais, Centro de Biociências e Biotecnologia, Universidade Estadual do Norte Fluminense, nogueiramr@gmail.com Márcia Regina Calegari - Colegiado de Geograia, Universidade Estadual do Oeste do Paraná, calegarimarcia37@gmail.com Marcos Aurelio Passos Louzada - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro, marco.louzada@ifrj.edu.br Marcus Alberto Nadruz Coelho -Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, mnadruz@jbrj.gov.br Marcos Gervasio Pereira - Departamento de Solos, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, gervasio@ufrrj.br Maria Cecília Martins Kierulff - Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade Tropical, Universidade Federal do Espírito Santo, ceciliakierulff@gmail.com Maria Cecília Rizzini - Instituto de Biologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, rizzini@biologia.ufrj.br Mariah Izar Francisquini - Laboratório C-14/CENA/ Universidade de São Paulo, mariag@cena.usp.br Mariana Ferreira Rocha - Departamento de Biologia, Universidade Federal de Lavras, marianafrocha@hotmail.com Marlon Carlos França - Instituto Federal do Pará, marlon.oceano@gmail.com Maurício José Fornazie - Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural, fornazier@incaper.es.gov.br Mauro Parolin – Departamento de Geograia, Universidade Estadual do Paraná, mauroparolin@gmail.com Milene Fornari - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, milenefornari@gmail.com Natália Macedo Ivanauskas- Seção de Ecologia Florestal, Instituto Florestal do Estado de São Paulo, nivanaus@yahoo.com.br Oberdan José Pereira - Laboratório de Ecologia de Restinga e Mata Atlântica, Universidade Federal do Espírito Santo, oberdan@terra.com.br Olaf H. H. Mielke - Departamento de Zoologia, Universidade Federal do Paraná, omhesp@ufpr.br Olga Yano - Núcleo de Pesquisa em Briologia, Instituto de Botânica de São Paulo 16 Paula Cavalcante Ceotto - Conservation International, pceotto@conservation.org.br Paulo Cesar Fonseca Giannini - Departamento de Geologia Sedimentar e Ambiental, Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, pcgianni@usp.br Paulo Eduardo de Oliveira - Departamento de Geologia Sedimentar e Ambiental, Instituto de Geociências Universidade de São Paulo, paulo.deoliveira@usp.br Paulo Sérgio Fiuza Ferreira - Departamento de Entomologia, Universidade Federal de Viçosa, piuza@ufv.br Quenia Lyrio - Laboratório de Ecologia de Restinga e Mata Atlântica, Universidade Federal do Espírito Santo, Universidade Federal do Espírito Santo, qlyrio@hotmail.com Renato de Mello-Silva - Departamento de Botânica, Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo, mellosil@usp.br Renato Moraes de Jesus - Symbiosis Investimentos, lorestatropical@globo.com Ricardo Finotti - Universidade Estácio de Sá, inottiricardo@gmail.com Samir Gonçalves Rolim – Amplo Engenharia, sgrolim@gmail.com Sandor Christiano Buys - Laboratório de Biodiversidade Entomológica, Instituto Oswaldo Cruz, sandor.buys@gmail.com Sebastião Venâncio Martins - Departamento de Engenharia Florestal, Universidade Federal de Viçosa, venancioufv@gmail.com Sergio Barbiero Lage - Faculdades Integradas São Pedro, sergioblage@gmail.com Sonia Maria Barros de Oliveira - Departamento de Geologia Sedimentar e Ambiental, Instituto de Geociências, Universidade de São Paulo, soniaoli@usp.br Thaís Elias Almeida - Instituto de Ciências da Educação, Universidade Federal do Oeste do Pará, blotiella@gmail.com Vera Lex Engel - Departamento de Ciências Florestais, Faculdade de Ciências Agronômicas de Botucatu, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, veralex@fca.unesp.br Vinicius Chagas Lopes - Empresa Ápice Projetos de Gestão, viniciuscl@live.com Walfrido Moraes Tomas - Laboratório de Vida Selvagem, Embrapa Pantanal, walfrido.tomas@embrapa.br LISTA DE REVISORES Adriana Quintella Lobão - Universidade Federal Fluminense (RJ) Adriano Garcia Chiarello - Universidade de São Paulo, Campus de Ribeirão Preto (SP) Adriano Pereira Paglia - Universidade Federal de Minas Gerais (MG) Andrea Pereira Luizi Ponzo - Universidade Federal de Juiz de Fora (MG) Begonha Eliza Hickman Bediaga - Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (RJ) Camila Righetto Cassano - Universidade Estadual de Santa Cruz (BA) Cristiano Agra Iserhard - Universidade Federal de Pelotas (RS) Daniel Loebmann - Universidade Federal do Rio Grande do Norte (RN) Diogo Loretto - Instituto Oswaldo Cruz / Fundação Oswaldo Cruz (RJ) Dora Maria Villela José - Universidade Estadual do Norte Fluminense (RJ) Lívia Godinho Temponi - Universidade Estadual do Oeste do Paraná (PR) Luiz Felipe Campos - Reserva Natural Vale (ES) Marcelo Ferreira de Vasconcelos - Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (MG) Marcelo Trindade Nascimento - Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (RJ) Maria de Lourdes da Costa Soares Morais - Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (AM) Márlon Paluch - Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (BA) Massimo Giuseppe Bovini - Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (RJ) Mateus Luis Barradas Paciência - Universidade Paulista (SP) Mauro Galetti - Universidade Estadual Paulista (SP) Mércia Patrícia Pereira Silva - Universidade Federal da Bahia (BA) Milene Maria da Silva Castro - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (BA) Orlando Tobias Silveira - Museu Paraense Emílio Goeldi (PA) Everton Nei Lopes Rodrigues - Universidade do Vale do Rio dos Sinos (RS) Ortrud Monika Barth Schatzmayr - Fundação Oswaldo Cruz/ Instituto Oswaldo Cruz (RJ) Fabiano de Carvalho Balieiro - Embrapa Solos (RJ) Paulo Eugenio Alves Macedo de Oliveira - Universidade Federal de Uberlândia (MG) Fábio Sarubbi Raposo do Amaral - Universidade Federal de São Paulo (SP) Fábio Ribeiro Pires - Universidade Federal do Espírito Santo Felipe Zamborlini Saiter - Instituto Federal de Educação (ES) Flávio César Thadeo de Lima - Universidade Estadual de Campinas (SP), Instituto de Biologia, Museu de História Natural Prof. Adão José Cardoso Fresia Soledad Ricardi Torres Branco - Universidade Estadual de Campinas (SP) Pedro Fiaschi - Universidade Federal de Santa Catarina (SC) Pedro Higuchi - Universidade do Estado de Santa Catarina (SC) Pedro Peloso - American Museum of Natural History, New York, USA. Rafael de Paiva Salomão - Museu Paraense Emílio Goeldi (PA) Rafael Rodrigues Ferrari - York University, Canadá Hélcio Reinaldo Gil Santana - Fundação Oswaldo Cruz (RJ) Rodrigo de Andrade Kersten - Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PR) Ines Machline Silva - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (RJ) Rosemary de Jesus de Oliveira - Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (SP) Jerônimo Boelsums Barreto Sansevero - Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (RJ) Rubens de Miranda Benini - The Nature Conservancy (TNC) Jorge Luiz Waechter - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (RS) José Iranildo Miranda de Melo - Universidade Estadual da Paraíba (PB) José Maria Cardoso da Silva - Conservation International (EUA) Lívia Aguiar Coelho - Universidade Federal da Grande Dourados (MS) Sérgio Lucena - Universidade Federal do Espírito Santo (ES) Thiago Gonçalves-Souza - Universidade Federal Rural de Pernambuco (PE) Waldney Pereira Martins - Universidade Estadual de Montes Claros (MG) Wesley Rodrigues Silva - Universidade Estadual de Campinas (SP) Yuri Luiz Reis Leite - Universidade Federal do Espírito Santo (ES) 17 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE 18 PEIXOTO & JESUS MEMÓRIAS DE CONSERVAÇÃO PARTE I HISTÓRIA E AMBIENTE FÍSICO 19 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE 20 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE 1 RESERVA NATURAL VALE: MEMÓRIAS DE 65 ANOS DE CONSERVAÇÃO Ariane Luna Peixoto & Renato Moraes de Jesus INTRODUÇÃO O título escolhido pelo ornitólogo Nigel J. Collar, então diretor de pesquisa do International Council for Bird Preservation (ICEB), para um artigo no qual aborda, de modo enfático, a importância da Reserva Natural Vale (RNV) no cenário da conservação da Mata Atlântica (Collar, 1986) foi The Best-Kept Secret in Brazil (em tradução livre “O segredo mais bem guardado do Brasil”). O entusiasmo desse cientista com o que viu em Linhares é evidente em cada parágrafo do artigo. Collar havia permanecido na RNV por três semanas junto com Luis A. Gonzaga, professor e ornitólogo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, realizando pesquisas sobre o mutum-de-bico-vermelho (Crax blumenbachii) e para tal percorreram a RNV em longas caminhadas. Esse é o primeiro de outros trabalhos que estes dois ornitólogos lá realizaram, publicaram ou apresentaram e discutiram em congressos e conferências. Como estes dois cientistas citados, muitos outros, de diferentes especialidades, tanto do Brasil como do exterior estiveram na RNV realizando estudos e não era rara a admiração que manifestavam pelas atividades de pesquisa, desenvolvimento, conservação e manejo lorestal realizadas na área e principalmente pela acolhida que recebiam. Resgatar uma pequena parte desta memória, olhar o atual papel da RNV no contexto da conservação das lorestas tropicais e tentar visualizar o seu futuro é o que buscamos abordar neste capítulo. Procuramos mostrar a trajetória da RNV, destacando algumas ações e atividades realizadas tanto pelos funcionários locais como em parcerias com pesquisadores, instituições ou organizações diversas. Tais atividades, realizadas por 65 anos, têm possibilitado apontar a RNV como a área protegida não pública que mais concentrou atividades de pesquisa, especialmente no que tange ao conhecimento da fauna e lora, populações de espécies, estrutura de comunidades e em experimentos de silvicultura tropical. Para o sucesso do empreendimento foram essenciais lideranças no âmbito da RNV e da Vale e personagens no ambiente conservacionista do país e na pesquisa cientíica e tecnológica em universidade, institutos de pesquisas tanto do Brasil como do exterior. No capítulo são abordados quatro temas: O Seminário de Belém, realizado em setembro de 1986; a aquisição de terras ao norte do rio Doce e a circulação de ideias conservacionistas; pesquisas desenvolvidas na RNV; a RNV e a conservação da Floresta de Tabuleiros. Concluímos airmando a relevância do legado das ações iniciais de aquisição de terras, opção pela manutenção da integridade da loresta, e implementação de ações de inventários biológicos, manejo lorestal e conservação integrada. O SEMINÁRIO DE BELÉM “Com a diversiicação das atividades da CVRD [Companhia Vale do Rio Doce, atualmente Vale 21 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE S.A.] na década de 1960 e, sobretudo com os trabalhos de relorestamento desenvolvidos na região do Rio Doce, nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, nasceu na Companhia o embrião de uma ação efetiva na área de meio ambiente, através de relorestamentos e também de uma mentalidade conservacionista. Outro fato que viria inluenciar, sobretudo essa mentalidade, foi o estabelecimento da Reserva Florestal da CVRD em Linhares, ES, destinada a princípio para ins econômicos e engajada posteriormente, de maneira deinitiva, como uma importante área de proteção ambiental”. (Carvalho & Borgonovi, 1987). Com a airmação acima, José Candido de Melo Carvalho e Mário Borgonovi, em 1987, iniciam texto no qual relatam as atividades do Grupo de Estudo e Assessoramento sobre Meio Ambiente (Geamam) da Vale. José Candido de Melo Carvalho, do Museu Nacional-UFRJ, coordenava o Geamam que era composto por Aziz Nacib Ab’Saber (USP), Herbert Otto Roger Schubart (Inpa), Italo Claudio Falesi (Embrapa), João Murça Pires (Embrapa), José Galizia Tundisi (USP), Mário Epstein (UFRGS), Warwick Estebam Kerr (UFMA), Angelo Paes Camargo (IAC-Campinas), Paulo de Tarso Alvin (Ceplac) e o Brigadeiro Pedro Frazão de Medeiros Lima (Escola Superior de Guerra). O texto foi publicado nos “Anais do Seminário Desenvolvimento Econômico e Impacto Ambiental em Áreas de Trópico Úmido Brasileiro - A Experiência da CVRD”. O seminário acima referido foi realizado em setembro de 1986, na cidade de Belém, e reuniu, por cinco dias, cerca de 200 cientistas e técnicos, que apresentaram palestras e discutiram em painéis e com a plateia caminhos mais adequados para a utilização de recursos naturais. O documento “Recomendações do Seminário” foi elaborado e aprovado pelos especialistas que participaram do Seminário e também publicado nos anais. No texto de apresentação dos anais do seminário, provavelmente escrito pela sua coordenadora (M. L. Davies de Freitas) consta a airmação: “Essas recomendações devem servir de base para as decisões de política ambiental da CVRD em todas as suas áreas de atuação, assim como precisam ser consideradas por instituições 22 públicas e privadas [...]. Caberá aos eventuais responsáveis por tais instituições a relevante tarefa de atentar para a palavra abalizada dos especialistas em gerenciamento ambiental, sem sucumbir à tentação do lucro fácil e da ganância desmedida e efêmera, já que os recursos naturais não são inesgotáveis [...]. As recomendações fogem ao domínio dos círculos acadêmicos e assumem a sua verdadeira dimensão, nas mesas de trabalho dos planejadores do governo e do setor privado, de cujas decisões pode depender a nossa qualidade de vida e o futuro das próximas gerações. As recomendações para a busca do equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e o uso sustentável dos recursos naturais são agrupadas em quatro conjuntos (Floresta Amazônica, Baixada Maranhense, aves migratórias e ambientes aquáticos, Mata Atlântica) e tratam de ações a serem implementadas ou abraçadas pela Vale, mas também de ações no âmbito de municípios, estados, governo federal e também outros setores da sociedade. Esse documento, que circulou amplamente em diferentes instituições públicas e privadas, foi um facilitador para as inúmeras atividades já em desenvolvimento na RNV, reconhecida e nomeada, durante o seminário, como exitosa em seus objetivos. Para ilustrar, são citadas abaixo quatro das recomendações desse documento dentre outras que tratam da RNV: “Que a CVRD prossiga com o processo de legalização da preservação e reconhecimento público da Reserva Florestal de Linhares, enfatizando-se sua grande importância no estudo e na conservação da fauna e da lora da Mata Atlântica do Espírito Santo”. “Que a CVRD apoie e coordene a execução de projetos multidisciplinares de pesquisa ecológica, de longo prazo, na Reserva Florestal de Linhares, por equipes de pesquisadores provenientes de universidades e outras instituições, assim estabelecendo um contato permanente entre a CVRD e os cientistas interessados no estudo ecológico integrado e na preservação da Mata Atlântica”. “Que a CVRD adquira áreas adicionais adjacentes à Reserva de Linhares, especialmente áreas PEIXOTO & JESUS desmatadas ou ainda lorestadas semi-circundadas pela reserva, para melhorar a integridade e o formato da reserva”. “Que a CVRD ponha à disposição do IBDF [Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal] e de outras agências relacionadas à conservação da natureza sua experiência no manejo da Reserva de Linhares, como um modelo a ser aproveitado no interesse da implantação de um manejo coordenado para essa e outras áreas da Mata Atlântica”. A AQUISIÇÃO DE TERRAS AO NORTE DO RIO DOCE E A CIRCULAÇÃO DE IDEIAS CONSERVACIONISTAS A história da RNV está atrelada à Estrada de Ferro de Vitória a Minas (EFVM). Esta ferrovia, fundada em 1901, foi planejada para ligar Vitória/ ES a Diamantina/MG transportar a safra cafeeira de Minas Gerais e preencher os vazios demográicos na região do rio Doce, sendo tipicamente uma ferrovia de penetração (Espindola et al., 2011). O empreendimento, entretanto, icou apenas um curto período em domínio dos brasileiros – de 1901 a 1910, pois a descoberta de minério de ferro em Itabira/MG, em 1908, despertou o interesse de um grupo de empresários ingleses. Esse grupo formou a Brazilian Hematite Syndicate, posteriormente incorporado pela Itabira Iron Ore Company Limited, adquiriu a maioria das ações da EFVM, mudou o projeto inicial, para terminar em Itabira, e não em Diamantina, e adaptou a ferrovia ao transporte de minério (Barros, 2011). Quando a ferrovia chegou a Itabira em 1942 o governo Vargas, através de um acordo com Inglaterra e EUA, nacionalizou a Itabira Iron Ore Company, incorporou a EFVM e criou a Vale (Espindola et al., 2011). Uma das responsabilidades brasileira neste acordo contemplava a melhoria da EFVM e, para tal, seriam necessários milhares de dormentes. Assim, no início da década de 1950 a Vale começou a adquirir propriedades lorestadas no norte do Espírito Santo, com o objetivo de manter um estoque de madeiras para a produção de dormentes que seriam utilizados na EFVM. MEMÓRIAS DE CONSERVAÇÃO Há escrituras de aquisições de terras datadas de 1951 (Jesus, 1987). Um inventário lorestal da área adquirida foi realizado, por encomenda da Vale, em 1963, coordenado pelo engenheiro lorestal e Conselheiro Técnico da FAO, Dammis Heinsdijk. Portanto, pouco mais de 10 anos após as primeiras aquisições de terras, a Vale tinha em mãos o resultado desse inventário que mostrava, entre outros dados, o número de dormentes possíveis de serem feitos com o potencial madeireiro existente (Heinsdijk et al., 1965). Entretanto, a opção, segundo airmação de Mascarenhas Sobrinho, então diretor técnico da Rio Doce Madeiras S.A. (Docemade), em 1975, e Borgonovi, neste mesmo ano, foi mantê-la de forma permanente e utilizá-la para prospectar informações básicas sobre manejo lorestal, até então inexistentes para as matas de tabuleiros. A Vale havia adquirido 1031 propriedades e alcançado os limites que mantém até hoje. Visando entender o contexto em que se deram estas aquisições de terras, recorremos a uma publicação de Walter Alberto Egler (1924-1961), um dos pioneiros da Geograia Agrária cientíica no Brasil, que realizou expedições ao Espírito Santo nos anos de 1949 e 1950, detendo-se principalmente no norte capixaba. Portanto, um ano antes das primeiras aquisições de terra pela Vale. Entre os resultados dos estudos realizados por este cientista está o artigo “A Zona Pioneira ao Norte do Rio Doce”, publicado em 1951, no qual airma: “Durante muito tempo o rio Doce desempenhou no Estado do Espírito Santo o papel de limite natural entre a zona povoada e a região desconhecida ao norte do mesmo. Os primeiros povoadores, extravasando da zona colonial da serra, desceram pelos aluentes da margem direita já nos primeiros anos de nosso século. [...] Em 1916, entretanto, realiza-se o primeiro ataque a esta grande reserva de terras devolutas, transpondo-se pela primeira vez o rio Doce com o intuito de estabelecer uma colonização regular ao norte do mesmo. Colonos alemães, oriundos da região serrana do Espírito Santo são os pioneiros.” (Egler, 1951). 1 Informações disponíveis no patrimônio da Vale. 23 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Egler se utiliza de extensa bibliograia, citando desde aventureiros que se embrenharam pelos sertões em busca de riquezas até naturalistas viajantes em busca de diversos materiais da natureza e das culturas locais para enriquecer os gabinetes de ciências naturais da Europa, dos séculos XVIII e XIX. começou a ascensão do preço do café, maior ainda tornou-se a procura de terras virgens. O autor airma que a zona norte capixaba tem por principal base econômica a extração de madeiras e encontram-se em expansão as lavouras de café e cacau resultantes do esforço somado de um grande número de pequenas propriedades. Ele informa ainda, que o movimento pioneiro iniciado em 1916 se intensiicou a partir de 1928, quando foi construída a ponte sobre o rio Doce2, como parte do projeto de uma estrada de ferro que ligaria Colatina a São Mateus. O projeto não logrou êxito, e a ponte recebeu inicialmente um piso de tábuas e, só posteriormente, foi revestida de concreto. A partir de 1938, após um período de crise em todo o país, houve um novo surto de expansão. Egler airma ainda: Portanto, quando a Vale iniciou a aquisição de terras lorestadas ao norte do rio Doce, estas já eram escassas. A prática de aquisição de terras e derrubada de lorestas para exploração madeireira já havia consumido a maior parte das áreas lorestadas. Segundo estimativa da Fundação SOS Mata Atlântica (1998), de 1912 a 1958 a cobertura lorestal do Espírito Santo diminuiu de 65% a 30%. Ao norte do rio Doce, famílias de posseiros haviam ocupado parte da área que viria a ser a Reserva Biológica de Sooretama (Rebio Sooretama) e aquela que seria adquirida pela Vale (Aguirre, 1951) em conlitos de difícil solução. Pode-se inferir que o cenário ao norte do rio Doce seria muito diferente se as grandes áreas protegidas - a RNV e a Rebio Sooretama não tivessem sido estabelecidas. O zoólogo e conservacionista Álvaro Coutinho Aguirre (1899-1987) que trabalhou na Divisão de Caça e Pesca do Ministério da Agricultura e desempenhou o cargo de chefe da Divisão de Pesquisas teve destaque na luta pela preservação da vida silvestre e a manutenção de grandes áreas lorestadas. Na década de 1940 haviam sido estabelecidas no norte do Espírito Santo duas áreas protegidas: a Reserva Florestal Estadual do Barra Seca, criada em 1941, e o Parque de Refúgio de Animais Silvestres Sooretama, criado em 1943. Aguirre propugnou em diversos fóruns pela junção delas, o que ocorreu deinitivamente em 1982 quando a Rebio Sooretama foi estabelecida com os limites atuais. Também o pioneiro conservacionista Augusto Ruschi (1915-1986) defendeu a bandeira da incorporação, ampliação e criação de áreas protegidas em diversos fóruns e em publicações (Ruschi, 1950; 1954): Já premente se tornara o problema da obtenção de terras ainda virgens e cobertas de matas, que se prestassem aos métodos da derrubada e queimada, que constituem uma rotina [...]. As últimas grandes reservas de matas e de terras devolutas foram tomadas de assalto e, quando “penso que sobrarão as áreas que hoje constituem as “Reservas Florestais e Biológicas” [aspas do autor] [...] No Espírito Santo muito tenho me interessado para que o Governo aumente a área da Reserva Florestal do Barra Seca, fundindo-a com o Parque de Refúgio Sooretama, levando-a “A região do rio Doce, através das descrições dos viajantes, icou com a fama de ser uma das mais imponentes regiões lorestais do Brasil. No vale propriamente pouco resta da primitiva mata, pois em meio século de exploração desenfreada a paisagem sofreu uma mudança radical. Para encontrar matas contínuas e extensas é necessário subir até a bacia do alto São Mateus, onde se desenrola atualmente o movimento pioneiro. As próprias serrarias já são obrigadas a procurar a madeira a tal distância. Grandes reservas permanecem, também, no município de Linhares, principalmente na sua metade norte, e, no intuito de preservá-las foram criadas duas extensas reservas lorestais, uma federal e outra estadual”. (Egler, 1951). 2 Trata-se da ponte sobre o rio Doce no atual município de Colatina, não no atual município de Linhares, cuja ponte só foi inaugurada em 1954. 24 PEIXOTO & JESUS até o mar, pois com esse acréscimo até o mar, terse-ia uma parte da restinga incluída em área de proteção e conservação dando-se ainda um total geral de 40.000 hectares, área esta prevista pelos estudos e levantamentos de prospecção Botânica e Zoológica, para manutenção em equilíbrio biológico da Flora e da Fauna ali existente. (Ruschi, 1950). Aguirre e Ruschi, além de militantes ambientalistas no Espírito Santo, tinham fortes ligações na capital federal, tanto no âmbito do governo como entre cientistas do Museu Nacional, onde desenvolviam parte de suas pesquisas. Ambos se incorporaram à Fundação Brasileira para a Conservação da Natureza (FBCN), a primeira organização não governamental ambientalista, com escopo nacional, criada em 1958 (Drummond & Franco, 2013). Cientistas do Museu Nacional que envidavam esforços por ações de proteção e conservação da natureza inluenciaram e capacitaram um considerável número de cientistas e pode-se inferir que estes dois cientistas com ações principalmente no Espírito Santo foram por eles inluenciados. José Cândido de Mello Carvalho (1914-1994), anteriormente citado, um destacado zoólogo e ambientalista do Museu Nacional, também foi fundador e membro da FBCN e ocupou, por dois períodos, a presidência da instituição (19661969 e 1978-1981). Assim, a aproximação desse cientista com a Vale e o seu empenho em prol da implementação de ações de conservação ambiental foi uma consequência natural de suas convicções, além da experiência de cientista que circulava em fóruns nacionais e internacionais sobre meio ambiente. Foi por inluência de Carvalho, que o então presidente da Vale, Eliezer Batista da Silva, criou em 1980, o Geamam, cujos objetivos eram: “(a) estudar, discutir e propor medidas que visem a dar bases sólidas ao uso racional dos recursos naturais e sua conservação, em áreas de atividades sob jurisdição ou pertencentes ao patrimônio da CVRD; (b) opinar e sugerir providências preventivas, objetivando evitar ou reduzir possíveis prejuízos ao meio ambiente; (c) apreciar planos, programas ou projetos sobre questões ambientais, uso e conservação dos recursos naturais; (d) fazer recomendações sobre quaisquer assuntos MEMÓRIAS DE CONSERVAÇÃO de natureza técnica que lhe forem submetidos, no âmbito de suas atribuições especíicas”. Em 1981, o Geamam propôs a criação de Comissões Internas de Meio Ambiente (CIMAs) no âmbito da Vale, estabelecendo-as nas seis superintendências (áreas operacionais). Essa ação teve efeito multiplicador, difundiu-se e CIMAs foram estabelecidas nas empresas coligadas e controladas (como a Valesul, Cenibra e outras) levando a discussões sobre a conciliação entre economia e meio ambiente, buscando implantar ações preventivas e corretivas nas suas atividades que interferiam no meio ambiente. AS PESQUISAS DESENVOLVIDAS NA RNV O papel da RNV na coleta de dados e informações iniciou-se desde cedo nas terras adquiridas, para possibilitar a conservação da loresta de tabuleiros e subsidiar a implantação de experimentos com espécies lorestais nativas a serem monitoradas a longo prazo, de modo que pudessem gerar conhecimento cientíico sobre manejo lorestal (Heinsdijk, 1965; Mascarenhas Sobrinho, 1974; Pereira, 1977). Já no primeiro congresso brasileiro sobre lorestas tropicais, realizado em Viçosa/MG, Mascarenhas Sobrinho (1974) apresenta dados de experimentos em silvicultura, com espécies locais, implantados na década de 1960 e início da década de 1970 na RNV, assinalando a idade das árvores (quatro e seis anos) e o aporte de crescimento. Uma estação meteorológica classe I, segundo os padrões técnicos do Instituto Agronômico de Campinas, foi instalada em setembro de 1974, no interior da RNV, como uma importante ferramenta aliada ao monitoramento da área. Desde o início do empreendimento, buscou-se proteger a RNV das atividades de caça e roubo de madeiras, bem como a efetivação de medidas preventivas contra o fogo. Estudos silviculturais, sobre a fauna silvestre e a lora das matas de tabuleiro tomaram impulso a partir de 1978 com o estabelecimento de uma política lorestal local, que tinha como objetivo a realização de pesquisa através da ampliação de acordos com universidades, institutos de pesquisa e outras instituições. Tal política, associada a outras iniciativas, levou a RNV a ser reconhecida pelo IBDF como Área Privada Destinada a Conservação e Proteção da Biodiversidade, em 1978. No ano seguinte, a 25 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE coleção de plantas herborizadas – o herbário – obteve o registro no Index Herbariorum, sendo reconhecido mundialmente pela sigla CVRD (http:// sciweb.nybg.org/science2/IndexHerbariorum.asp). Para tal, o herbário que havia sido criado em 1963 para documentar espécies arbóreas oriundas de inventário lorestal então realizado, foi reestruturado (Jesus & Garcia, 1992; Germano et al., 2000), tomou impulso com coletas sistematizadas, para documentar a lora local, expandindo-se posteriormente para documentar espécies de outros trechos de lorestas do Espírito Santo e Sul da Bahia. Com o auxílio de fotograias aéreas, checagem em campo e alguns inventários de lora, no início da década de 1980 foi elaborado um mapa da área da RNV em escala 1:25.000, delimitando os espaços com as diferentes formações naturais. Esse mapa foi uma ferramenta importante para o estabelecimento de prioridades de pesquisas a serem realizadas, para o monitoramento dos experimentos então implantados e para prevenir e combater as atividades de caçadores. Pesquisas sobre manejo lorestal e silvicultura tropical com diferentes espécies de Mata Atlântica foram implantadas em experimentos envolvendo consórcios, testes de espaçamentos, sistemas agrolorestais, testes de procedência e progênie ou parcelas de observação para avaliar o potencial de crescimento. Experimentos de larga escala (sem considerar espécies de Eucalyptus e Pinus), como estes, eram realizados, na mesma época, pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), pela antiga Estação Experimental de Curuá-Una (pertencente à Sudam), pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e Instituto Florestal de São Paulo, dentre outras poucas instituições do país, o que propiciava a necessária troca de experiências sobre silvicultura tropical. Inúmeros resultados de estudos destas e de outras instituições foram apresentados e discutidos no Congresso Nacional sobre Essências Nativas, realizado em 1982, em Campos do Jordão/ SP, e publicados nos Anais do referido congresso. Um programa de pesquisa amplo, integrando diferentes áreas do conhecimento foi implantado em 1978 - O Programa de Pesquisas em sementes lorestais, iniciado com a instalação de um laboratório de sementes, a marcação de árvores matrizes 26 para coleta de sementes, a produção de mudas e estudos fenológicos. Com ele iniciou-se também as coleções de frutos e sementes. Foram ainda estudados e desenvolvidos técnicas e processos de colheita de sementes, secagem, indicadores de maturação de frutos, beneiciamento, análise de semente, armazenamento, quebra de dormência e, posteriormente, já na década de 90, ecologia de germinação. Já no inal da década de 1980, a RNV passou a receber estudantes, sobretudo de cursos de pósgraduação, para trabalhos de campo de programas de pós-graduação, mais raro em graduações. Gerações de estudantes foram treinadas em ecologia de campo e taxonomia de diferentes grupos de animais e plantas nas áreas da RNV, em cursos realizados através de parcerias com diversas instituições, como: o Museu Nacional-UFRJ, UFMG, Ufes, Unicamp, Unesp e USP. Centenas destes estudantes, nos cursos realizados ou em pesquisas próprias, tiveram a oportunidade de coletar dados, trabalhá-los e apresentá-los em dissertações de mestrado ou em teses de doutorado e artigos cientíicos. Assim, desde o seu estabelecimento e até a realização do Seminário em Belém, em 1986, onde a RNV foi apontada como exitosa, e como um exemplo a ser seguido, diferentes estudos para identiicação e caracterização da biodiversidade e tecnologias silviculturais já haviam sido implantados ou estavam em implantação. Os pesquisadores que iam à RNV, por suas próprias iniciativas ou a convite da coordenação da RNV para realizar pesquisas, eram instados a preparar relatórios contendo não só os resultados das atividades desenvolvidas, como também apontando sugestões para melhoria nas atividades de suas áreas de competência. Hoje, decorridos 65 anos desde a sua criação, pode-se airmar que a ampliação e especialmente o aperfeiçoamento das atividades foram contínuos e crescentes. Embora muito ainda esteja por ser feito, há um legado construído e consolidado no que tange à conservação da Mata Atlântica e sua biota. Através da cooperação sistemática com instituições de ensino e pesquisa desde os seus primórdios, a RNV buscou estabelecer um nicho próprio em diversos ambientes. Ao mesmo tempo em que a cooperação ajudava no conhecimento e conservação da biota PEIXOTO & JESUS local, as ideias conservacionistas associadas ao uso de tecnologias lorestais eram postas em prática e provocavam enormes avanços no conhecimento sobre as lorestas de tabuleiros e as lorestas tropicais como um todo, especialmente em relação ao uso e conservação da biodiversidade. Parte do legado dos estudos realizados na RNV é apresentada nos capítulos seguintes do presente livro. A RNV E A CONSERVAÇÃO DAS FLORESTAS DE TABULEIRO A dinâmica de ocupação do solo e de exploração dos recursos na Floresta Atlântica levou a uma extrema fragmentação de ecossistemas nesse bioma que é considerado um dos hotspots mundiais de biodiversidade e uma das prioridades para a conservação em todo o mundo (Mittermeier, 2004). Medidas para reverter este quadro, especialmente com a restauração de áreas que possibilitem a conexão entre fragmentos, são de extrema relevância. No domínio da Floresta Atlântica apenas 77 remanescentes lorestais possuem mais de 10.000 hectares (ha) (Ribeiro et al., 2009). A RNV, juntamente com a Rebio Sooretama e as Reservas Particulares de Patrimônio Natural (RPPNs) Refúgio da Anta, com 2.240 ha e Mutum Preto, com 370 ha formam um bloco praticamente contíguo de quase 50.000 ha, circundado por uma matriz onde predominam empreendimentos como a criação de gado bovino e plantios de café, mamão e eucalipto, entre outras culturas. O conhecimento sobre a vegetação e a lora deste bloco lorestal possibilitou o seu reconhecimento como um dos 14 Centros de Diversidade de Plantas do Brasil (Peixoto & Silva, 1997). A importância deste bloco de áreas protegidas para a conservação da Mata Atlântica pode ser medida pelo seu reconhecimento pela sociedade: Patrimônio Mundial Natural para a Costa do Descobrimento, título atribuído pela Unesco, em dezembro de 1999; Área Prioritária para conservação de Mata Atlântica, pelo Decreto Nº 5.092 de 2004, Portaria MMA Nº 126 de 2004; Posto Avançado da Reserva de Biosfera da Mata Atlântica pela Unesco em 2008. Ao conceder esse último título, em 2008, a Unesco reconheceu a contribuição da RNV à proteção da biodiversidade, o incentivo e apoio ao MEMÓRIAS DE CONSERVAÇÃO desenvolvimento de conhecimento cientíico e de metodologias e tecnologias para uso sustentável dos recursos naturais. Esse título, além de consolidar a eicácia do modelo de gestão utilizado na RNV para áreas destinadas à proteção da biodiversidade, veio reforçar a sua importância para a conservação da lora e da fauna da Mata Atlântica. O referendo pela sociedade nos leva a pensar em quatro linhas de atividades prioritárias para o futuro da RNV, sem desconsiderar as demais linhas de atividades atualmente em desenvolvimento, nessa área protegida ímpar no país. A primeira certamente é a proteção, atividade básica ligada diretamente à conservação integrada da biodiversidade. Sem a mesma, qualquer linha de pesquisa atual ou futura pode ser severamente comprometida. Tal atividade sempre foi considerada prioritária desde o início das atividades na RNV, com prevenção e combate a incêndios e a ação de caçadores. Hoje pode ser considerada uma atividade inerente e vinculada à própria existência de qualquer área que se queira proteger. A segunda atividade prioritária diz respeito à manutenção dos inventários biológicos e pesquisas taxonômicas em diferentes grupos de animais, plantas e fungos. Tais estudos geram conhecimento, enriquecem as coleções biológicas em todo o mundo, incluindo as coleções da própria RNV, e permitem deinir estratégias de conservação à medida que mapeiam locais de ocorrência de espécies raras, ameaçadas e endêmicas, e muito mais. É largamente conhecido que o norte do Espírito Santo representa uma área de elevada riqueza e endemismo de espécies. Detalhes sobre a riqueza de alguns grupos da fauna e da lora local podem ser vistas nos capítulos seguintes deste livro. No Brasil, um recente estudo mapeou 538 áreas terrestres com papel fundamental para a conservação de 141 espécies de vertebrados terrestres ameaçados de extinção e com distribuição restrita na Mata Atlântica (Paese et al., 2010). Deste total, 24 áreas são consideradas aquelas de maior importância na Mata Atlântica, por serem insubstituíveis. Entre estas está o bloco formado pela Rebio Sooretama, a RNV e as RPPN adjacentes. A terceira prioridade diz respeito ao monitoramento de pesquisas de longa duração já instaladas na RNV ou ainda a serem implementadas. Uma das recomendações do citado Seminário de 27 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Belém diz respeito a pesquisas de longo prazo. Sabe-se que pesquisas de longo prazo podem produzir dados essenciais para o entendimento das alterações ambientais e para subsidiar ações e programas de manejo visando adaptações ou mitigações de impactos de larga escala (Barbosa, 2013). Pesquisas de longa duração instaladas na RNV, algumas com quase meio século, são de importância ímpar e necessitam ser não apenas mantidas, mas monitoradas, de modo a possibilitar respostas a perguntas chave em ecologia, manejo e conservação em lorestas tropicais. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientíico e Tecnológico (CNPq) desde 1999 tem investido em programas de Pesquisa Ecológica de Longa Duração (Peld) e, desde 2004 no Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio), por considerar a importância que estes estudos vêm ganhando no cenário mundial. Acompanhar experimentos, por longos períodos, buscando entender o comportamento das espécies em ambientes naturais e quando submetidas a cultivo e reintrodução em programas de restauração ambiental, são fundamentais para o planejamento de estratégias de conservação para a mata atlântica e para as lorestas tropicais em todo o mundo, especialmente em função dos futuros cenários do clima. A quarta prioridade refere-se à restauração da Mata Atlântica. O Pacto para Restauração da Mata Atlântica propôs um objetivo ambicioso de restaurar mais de 15 milhões de ha até 2050, o que pode aumentar a cobertura vegetal em até 30%, conectar fragmentos e viabilizar a conservação em grande escala (Calmon et al., 2011), embora a legislação brasileira em vigor (Lei Federal 12.651, de 12/05/2012) possa diicultar que esta meta seja atingida (Garcia et al., 2013). No Espírito Santo a área estimada para restauração é de pouco mais de 1,04 milhão de ha. Se fosse admitido plantar em 50% desta área, com uma densidade de 1.111 mudas/ha e estimando-se a mortalidade de mudas em 20%, seriam necessárias quase 700 milhões de mudas. Ou seja, para atingir 50% da meta proposta no Pacto da Mata Atlântica, seriam necessárias 23 milhões de mudas ao ano. Se considerarmos apenas a Floresta de Tabuleiro do norte do Espírito Santo, são cerca de 7 a 10 milhões de mudas ao ano, durante 30 anos. Tecnologia e pessoal treinado 28 não faltam, mas faz-se necessário uma estreita parceria pública-privada, e principalmente, o desejo dos proprietários de terras em adequar suas propriedades agrícolas. Embora a chamada “consciência conservacionista” esteja muito mais difundida hoje na sociedade, ainda são grandes os conlitos de interesses nas negociações e especialmente em práticas que visem conciliar a expansão de atividades ditas geradoras de riquezas econômicas e a conservação de espécies e dos ambientes onde elas vivem. Um traço inicial da RNV – a sua ligação e envolvimento em parcerias com instituições e organizações do Brasil e do exterior, par a par com o setor empresarial e político – possibilitou que circulassem ideias, luíssem debates em atividades de campo diversas, em cursos ou disciplinas de pósgraduação e graduação, em publicações e exposição em eventos. Essa cooperação interinstitucional, ao mesmo tempo em que ajudava a estabelecer um nicho próprio de experimentação em campo na área da RNV, criava possibilidades de levar os resultados para implantação de programas em outros ambientes, enriquecidos pelas discussões que provocava, propiciando a geração de conhecimentos e o desenvolvimento de ações de conservação e restauração ambiental. Tomamos a liberdade de airmar que os ensinamentos foram aprendidos. A equipe de técnicos da RNV e os cientistas e estudantes de diferentes instituições do Brasil e do exterior que lá trabalharam e aqueles que lá trabalham atualmente vêm demonstrando compromisso de preservar as lições aprendidas e disponibilizá-las para a sociedade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aguirre, A. 1951. Sooretama – Estudo sobre o parque da reserva, refúgio e criação de animais silvestres, “Sooretama”, no município de Linhares, Estado do Espírito Santo. Rio de Janeiro: Min. AgriculturaServiço de Informação Agrícola, 49p. 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Proteção à Natureza), Santa Teresa, 16A: 1-45. 29 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE 30 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE 2 OS TABULEIROS COSTEIROS DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO: OCORRÊNCIA E COMPONENTES AMBIENTAIS Ademir Fontana, Lúcia Helena Cunha dos Anjos & Marcos Gervasio Pereira TABULEIROS COSTEIROS E CONCEITOS RELACIONADOS O termo ambiente ou feição de tabuleiros costeiros agrupa importantes informações para diversas ciências, desde as diretamente relacionadas, como a geologia e a geomorfologia, quanto a ecologia e a botânica, e em outros aspectos como a ciência do solo e a ocupação humana da costa brasileira. Os tabuleiros costeiros distribuem-se como uma faixa litorânea e parte da faixa sublitorânea em quase toda a costa do Brasil, desde o estado do Rio de Janeiro até o estado do Amapá (Mabesoone, 1966; Bigarella, 1975). Também são identiicados como materiais ou sedimentos do ‘’Barreiras’’, denominação dada a unidade de materiais de origem Terciária no Brasil. Ainda, segundo Oliveira & Leonardos (1943), UFV (1984) e Rezende (2000), o termo faz menção à carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei de Portugal, Dom Manuel, quando do descobrimento do Brasil, onde em um trecho da carta se refere ao peril das falésias no sul da Bahia: “Tem, ao longo do mar, nalgumas partes, grandes barreiras, delas vermelhas, delas brancas; e a terra por cima toda chã e muito cheia de grandes arvoredos” (Castro apud Rezende, 2000). A sua localização e o aspecto da paisagem favoreceram a ocupação humana e o desenvolvimento de cidades ao longo da história do Brasil. Na publicação “O Homem e o Brejo”, de Alberto Lamego (1945), o autor cita que “Em roda-pé as elevações do Cristalino e acima da planície, em Campos, há o patamar dos tabuleiros”. Na mesma publicação, é registrado uso dominante nesse ambiente “Toda a superfície dos tabuleiros era coberta outrora de floresta virgem, que cedeu lugar aos canaviais”. Do ponto de vista estratigráfico, no que confere a sua composição, o termo ‘’Barreiras’’ foi utilizado pela primeira vez em 1902 por Branner, para indicar as camadas variegadas, que ocorrem na forma tabular e afloram nas diversas barreiras ao longo da costa brasileira (Mabessone et al., 1972). Morais et al. (2006) relatam que a denominação Barreiras vem sendo empregada, com significado estratigráfico, desde Moraes Rêgo (1930 apud Baptista et al., 1984), para descrever depósitos arenosos e argilosos, de cores variegadas, normalmente muito ferruginizados, identificados nos baixos platôs amazônicos e nos tabuleiros da costa do norte, nordeste e leste brasileiro, com variações em escala local e regional. Nas áreas onde afloram junto ao litoral são também identificadas as “falésias”, definidas como “forma costeira abrupta esculpida por processos erosivos marinhos de alta energia, que ocorrem no limite entre as formas continentais e a praia atual, em trechos de costas altas’’ (IBGE, 2009). Do ponto de vista da estratigrafia, na Figura 1 pode-se observar a variação da cor e a distribuição das camadas de uma paisagem com erosão diferenciada da borda do tabuleiro costeiro. 31 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Figura 1: Paisagem erodida de tabuleiros costeiros com detalhe da estratigraia. Foto: Paulo César Teixeira. Tomado como unidade geomorfológica, o termo Barreiras, surge primeiramente como Série Barreiras, depois Formação Barreiras e, inalmente, Grupo Barreiras (Bigarella & Andrade, 1964). O conceito de Grupo é reforçado por Arai (2006), em estudos sobre a evolução desta unidade por datações palinológicas e correlações estratigráicas realizadas principalmente no norte do país, onde destaca ser composto por uma subunidade superior e outra inferior, separadas por discordância. Para estudos ambientais, Schaefer (2013) reporta que o Grupo Barreiras representa um dos principais testemunhos do longo período de climas úmidos e secos, alternantes, em condições tropicais. ORIGEM DO GRUPO BARREIRAS E COMPONENTES AMBIENTAIS Um dos temas que gera maior controvérsia entre as pesquisas e as teorias apresentadas diz respeito à origem do Grupo Barreiras. Nas referências mais antigas, como em Lamego (1945), e em várias outras, é ressaltada a sua origem continental, sendo destacada como evidência a falta de registro de fósseis nos sedimentos. Já Arai (2006), em ampla abordagem sobre a evolução relata evidências irrefutáveis de inluência marinha, tanto de natureza 32 paleontológica, como sedimentológica, envolvendo datação palinológica e sua correlação com as unidades litoestratigráicas das partes submersas das bacias da margem continental brasileira. Para tanto, a composição geológica do grupo Barreiras designa sedimentos clásticos a fossilíferos de cores variegadas, em geral friáveis, predominantemente arenosos, com marcante alternância de depósitos pelíticos e psamo-pelíticos e com espessura que varia de poucas a várias dezenas de metros (Schobbenhaus & Neves, 2003). Segundo CPRM (2015), no estado do Espírito Santo, o Grupo Barreiras é constituído de arenitos esbranquiçados, amarelados e avermelhados, argilosos, inos e grosseiros, mal selecionados, com intercalações de argilitos vermelhos e variegados. Os depósitos dessa unidade são bastante ferruginizados, com cores variadas desde o vermelho ao alaranjado, e essa ferruginização, quando muito intensa, ocorre como crostas ferruginosas. Ribeiro (1991) relata que os arenitos são de granulação média a grossa, constituídos de grãos subangulares e subarredondados, de cores variadas, predominando amarelo, creme e, por vezes, avermelhado, com presença de óxidos de ferro. Morais (2007), estudando os sistemas luviais terciários na área emersa da bacia do FONTANA ET AL. Espírito Santo, entre as formações Rio Doce e Barreiras, observaram que os depósitos areníticos apresentam percentual signiicativo de matriz caulínica, de cor cinza esbranquiçada, cuja origem é atribuída à alteração de feldspatos, e forte mosqueamento por óxido de ferro. Em estudo petrográico na área emersa da Bacia do Espírito Santo, no extremo norte do estado do Espírito Santo, em aloramento próximo à cidade de Pedro Canário, Ribeiro et al.(2007) indicaram que os depósitos da formação Barreiras são constituídos por camadas tabulares, médias a espessas, de arenitos quartzosos, maciços, conglomeráticos na base, intercaladas por camadas lenticulares, médias a espessas, de lamitos arenosos, maciços, mosqueados. Em escala microscópica os depósitos são mal selecionados, com clastos angulosos a subarredondados, de baixa circularidade, compostos predominantemente por quartzo, com reduzida participação de feldspatos (média de 5%) e apresentam aspectos de ferruginização. Outra discussão acrescida ao Barreiras refere-se à idade, sendo comum a variação de Oligoceno–Mioceno a Plioceno, e no tocante ao seu limite superior é colocada por alguns autores no Pleistoceno (Bigarella, 1975; Mabesooneet al., 1972). Muitos pesquisadores consideram que os fenômenos precursores destes sedimentos ocorreram em épocas mais recentes, no Terciário, com possibilidade de inluência ainda mais recente, no Quaternário (período inferior a 600 mil anos), daí serem considerados como Tércio-Quaternário, conforme sugere Ribeiro (1996). Contudo, o mais aceito até o momento é o intervalo de tempo que varia do Mioceno até o Plioceno-Pleistoceno. Arai (2006), por meio da análise estratigráica integrada relaciona a origem do Grupo Barreiras com a elevação eustática global com o máximo (Barreiras Inferior) na parte média do Mioceno (20,3 – 11 Ma). Segundo o autor, a sedimentação foi interrompida no inal do Tortoniano (7,3 Ma), quando houve rebaixamento eustático global que ocasionou um extenso evento erosivo nas áreas emersas e a formação de cunhas fortemente progradantes na porção submersa das bacias. Com a retomada da subida eustática no Plioceno (4 – 5 Ma), depositou-se o segundo ciclo (Barreiras Superior). AMBIENTE FÍSICO Os tabuleiros costeiros são constituídos por sedimentos terrígenos do Grupo Barreiras, que segundo Bigarella (1975), foram depositados sobre a plataforma continental, quando o nível do mar se situava abaixo do atual. A posterior subida do nível do mar e a ação das ondas resultaram na formação das falésias e nos terraços de abrasão que recobrem setores da atual plataforma continental interna (Albino et al., 2001). Para Arai (2006), o soerguimento epirogenético, ocorrido subsequentemente à queda eustática, foi responsável pela atual coniguração topográica, onde a erosão e o retrabalhamento, ocorridos no Quaternário, nos períodos de mar baixo, devem ter sido responsáveis, em parte, pela atual coniguração da plataforma continental. As mudanças climáticas, as transgressões e regressões marinhas, os processos tectônicos e, por consequência, as variações dos níveis de bases regionais e/ou locais, geraram processos de entalhamento no planalto, permitindo a manutenção da forma primitiva com diferenciações locais ou regionais discretas (Ribeiro, 1996). Quanto ao aspecto geral da paisagem, os tabuleiros costeiros apresentam feição característica de topograia tabular dissecada por vales por vezes profundos. Os topos em geral são aplainados e as bordas têm maior declividade, variando em função do grau de dissecação da paisagem desde o relevo suave ondulado a ondulado, menos comum o forte ondulado, e até encostas retilíneas nas falésias (Figura 2). A drenagem caracteriza-se por padrão subdendrítico com canais largos e que formam planícies coluvionadas, que se estendem por outras unidades geomorfológicas, seguindo as linhas estruturais e a inclinação geral dos tabuleiros para o mar (Brasil, 1983; 1987). Associado às feições anteriores, é comum encontrar ao longo do litoral variações suaves quanto à discordância dos sedimentos do Barreiras e às formações das planícies costeiras lúviomarinhas, principalmente como aquelas no delta do Rio Doce, na qual observa-se um leve desnível entre os ambientes e onde a distinção entre eles é destacada pela mudança da vegetação (loresta de tabuleiro e restinga) e pela composição dos sedimentos terciários e quaternários (argilosos e arenosos). 33 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Figura 2: Paisagem geral de tabuleiros costeiros com destaque para o desnível dos vales de dissecação e os patamares na forma de tabuleiro (acima) e paisagem típica com relevo suave ondulado (abaixo) no norte do estado do Espírito Santo. Fotos: Lucas Rodrigues Nicole e Valmir José Zuffo. 34 FONTANA ET AL. A distribuição dos depósitos do Grupo Barreiras e seu contato com os afloramentos cristalinos e com a planície costeira permitiram a Martin et al. (1996) subdividirem a costa do Espírito Santo em três setores: litoral Nordeste, onde os depósitos quaternários são limitados pelas falésias; litoral Central, onde os afloramentos rochosos atingem a costa e o litoral; e litoral Sudeste, onde as falésias voltam a aflorar na linha de costa, sendo localmente precedidas por depósitos quaternários pouco desenvolvidos. Em trabalho de refinamento das unidades geomorfológicas do estado do Espírito Santo, Coelho et al. (2012) aplicaram técnicas avançadas de geoprocessamento, como dados e técnicas de SIG e sensoriamento remoto, juntamente com os relatórios e mapas geomorfológicos anteriores, e classificaram o relevo do estado agrupados em táxons hierarquicamente relacionados, quantificando os Domínios Morfoestruturais, as Regiões Geomorfológicas e também as Unidades Geomorfológicas. Segundo os autores, a unidade geomorfológica Tabuleiros Costeiros está inserida na Região de Piemontes Inumados e no Domínio Sedimentar, a qual ocorre desde o sopé das elevações cristalinas até as planícies quaternárias. A unidade de tabuleiros costeiros ocupa a maior área do estado, representando cerca de 29%, seguida pela unidade Patamar Escalonado Sul Capixaba (28%), onde predomina relevo montanhoso a escarpado. OCORRÊNCIA DOS TABULEIROS COSTEIROS NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO Segundo descrito na publicação Geologia e Recursos Minerais do Estado do Espírito Santo (CPRM, 2015) “o Grupo Barreiras distribui-se segundo uma faixa aproximadamente alongada no sentido N-S, situando-se, em grande parte, entre o embasamento cristalino e os depósitos quaternários da baixada costeira. Também aflora desde um pouco a sul da localidade de Presidente Kennedy e começa a ocupar maior extensão a norte da cidade de Vitória. Ao sul desta, a ocorrência é descontínua, como porções AMBIENTE FÍSICO mais isoladas, principalmente onde as rochas do embasamento afloram próximo ao litoral, como se observa na região entre Vitória e Presidente Kennedy. (...) Associam-se a feições de tabuleiro e, ao longo do litoral, ocorrem em formas de falésias ativas”. A distribuição dos tabuleiros costeiros no estado do Espírito Santo foi objeto de estudo e delimitação apresentada na publicação intitulada ‘’Mapeamento Geomorfológico do Estado do Espírito Santo’’, por Coelho et al. (2012). Este trabalho teve como objetivo aumentar a precisão do mapeamento geomorfológico realizado pelo Projeto Radambrasil, realizado no início da década de 80, e ilustra a ocorrência e ocupação do ambiente de tabuleiros costeiros (Figura 3). A variação quanto à ocupação do espaço continental pode ser observada pela distância dos tabuleiros costeiros da costa para o interior do estado. Na região centro-sul do estado, no município de Guarapari, ocupa a menor faixa, enquanto aumenta em direção ao estado do Rio de Janeiro (Figura 3). Destaca-se, todavia, no sentido norte/noroeste do estado, onde avança para o interior, chegando a mais de 100 km, quando adentram aos estados de Minas Gerais e Bahia. SOLOS DOS TABULEIROS COSTEIROS – FORMAÇÃO E CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS O desenvolvimento dos solos de tabuleiros costeiros apresenta estreita relação com os sedimentos do Grupo Barreiras (e congêneres) e suas variações/segregação quando da deposição dos sedimentos. As pesquisas realizadas por Anjos (1985), Fonseca (1986), Ribeiro (1998) e Manzatto (1998) apontam que os solos de tabuleiros pouco se diferenciaram pedogeneticamente do material de origem (Figura 4). Esses sedimentos passaram por um intenso processo de alteração (pré-edafização), antes do seu desmonte e transporte, o que resultou no material caulinítico e quartzoso muito estável, o qual não se modificou substancialmente com os processos de pedogênese posteriores (UFV, 1984). 35 36 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Figura 3: Mapa da distribuição das unidades geomorfológicas no estado do Espírito Santo. Fonte: Compilado do ‘’Mapeamento Geomorfológico do Estado do Espírito Santo’’ (Coelho et al., 2012). FONTANA ET AL. AMBIENTE FÍSICO Figura 4: Corte de tabuleiros costeiros destacando-se a cor vermelho-amarela do material de origem na posição central (esquerda) e peril de solo amarelo com plintita e/ou petroplintita na parte inferior (direita). Foto: Ademir Fontana. Em trabalho de caracterização, gênese, classiicação e aptidão agrícola de uma sequência de solos do Terciário, na região de Campos dos Goytacazes, no estado do Rio de Janeiro, Anjos (1985) destaca a aparente isotropia vertical dos peris de Latossolos e Argissolos quanto à morfologia (sequência de horizontes, cor, estrutura e consistência). Assim, de acordo com a autora, as características dos solos de tabuleiro, principalmente morfológicas e mineralógicas, estão mais estreitamente relacionadas com o material originário e com os processos geomóricos em detrimento aos processos pedogenéticos. Embora nestes solos a mineralogia (cauliníticos e ausência de minerais primários facilmente intemperizáveis) indique elevado grau de desenvolvimento, estas características também são veriicadas nos materiais subsupericiais dos solos (horizonte C), ou seja, são as mesmas dos sedimentos do Grupo Barreiras (Pereira, 1996). A existência de um modelo pedogenético pré-atual ou pseudo-atual é sugerida por Ribeiro (1998), ligando aos solos de tabuleiros algumas características em processo de transformação, e o autor considera o material de origem (características herdadas) e o relevo como os principais fatores condicionantes dos processos da pedogênese atual. Neste sentido, parece que os solos de tabuleiros apresentam processos pedogenéticos incipientes e aqueles relacionados com a formação de gradiente textural e os horizontes adensados (coesos) são os mais relevantes, haja vista a diferenciação que estes promovem em nível de pedopaisagem (aspecto pedológico de uma paisagem) e na taxonomia desses solos. Na intenção de investigar e inter-relacionar as características mineralógicas, químicas e micromorfológicas dos solos visando a reconstrução do ambiente pedogenético, Duarte et al. (2000) airmam que o ambiente pedogenético atual está propiciando a estabilização da caulinita e formação de goethita, removendo a hematita e possivelmente sendo responsável pelo amarelecimento (xantização) dos horizontes supericiais. O processo de segregação de ferro é evidenciado por seu acúmulo nos nódulos e mosqueados em relação 37 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Figura 5: Peril de Argissolo desenvolvido nos tabuleiros costeiros do estado do Espírito Santo. Foto: Ademir Fontana. à matriz do solo, provavelmente por difusão, sendo a fonte a matriz. Os nódulos e mosqueados vermelhos estão em processo de destruição e não de formação. Para o desenvolvimento dos solos dos sedimentos do Grupo Barreiras no estado Espírito Santo, destaca-se a evidência de pedogênese atual, cuja diferenciação pedológica observada em topossequência esteve relacionada ao retrabalhamento do relevo e a dinâmica interna da água (Duarte et al., 2000), onde soma-se a estes fatores o desenvolvimento da vegetação diferenciada em ambientes abaciados e de composição predominantemente arenosa. Desta forma, as variações pontuais dos fatores relevo e dinâmica de água inluenciam a formação dos solos de forma diferenciada, reletindo no desenvolvimento dos Latossolos, Argissolos, Planossolos e Plintossolos, sob vegetação de loresta de tabuleiros e nos interlúvios tabulares. Em alguns trechos descontínuos, deposições mais espessas de sedimentos arenosos condicionam vegetação diferenciada, levando, no conjunto de fatores, ao desenvolvimento dos Espodossolos, enquanto, em áreas de várzeas relacionadas aos vales ocorrem os Gleissolos. 38 Quanto as classes de solo, destaque para os Argissolos Amarelos e os Latossolos Amarelos (Figura 5), os quais ocorrem frequentemente em associação na paisagem e ocupando a maior parte dos interlúvios tabulares. Esses solos têm várias características herdadas do material de origem - os sedimentos do Grupo Barreiras, quais sejam: baixo conteúdo de óxidos de ferro e alumínio, ausência de minerais primários facilmente intemperizáveis, predomínio de caulinita na mineralogia da fração argila e quartzo na fração areia. A distinção entre os Argissolos e Latossolos se deve principalmente ao tipo de horizonte diagnóstico subsupericial, conforme o Sistema Brasileiro de Classiicação de Solos – SiBCS (Santos et al., 2013a), em que a presença do gradiente textural (teores de argila nos horizontes B/A - relação textural) e, em alguns casos a presença de horizonte E (deinido pela cor clara e textura arenosa) ou a mudança textural abrupta (grande aumento dos teores de argila em um espaço de 7,5 cm), deinem o B textural (Argissolos). Na ausência do gradiente textural, deine-se então, pelas demais características relacionadas ao grau de intemperismo, o B latossólico (Latossolos). De maneira geral os Argissolos apresentam FONTANA ET AL. textura arenosa e média nos horizontes supericiais e textura argilosa nos horizontes subsupericiais, enquanto que os Latossolos com textura média e argilosa, nos horizontes supericiais e subsupeiciais, respectivamente. Outra característica comumente associada a esses solos é a presença do caráter coeso, que no SiBCS (Santos et al., 2013a) é deinido como sendo “horizontes pedogenéticos subsupericiais adensados, muito resistentes à penetração da faca ou martelo pedológico e que são muito duros a extremamente duros quando secos, passando a friáveis ou irmes quando úmidos.” A coesão também é percebida, por vezes, pelo aumento da densidade do solo nos horizontes de transição (AB, BA) e mesmo no topo do horizonte B. Outra classe de solo que ocorre na região norte do estado do Espírito Santo é a dos Planossolos. Em geral, ocorrem como unidades de mapeamento do tipo associação ou complexos com Argissolos acinzentados, ocupando as partes de menor cota da paisagem, como no terço inferior. Segundo o SiBCS (Santos et al., 2013a), nos Planossolos o horizonte supericial apresenta textura arenosa e o subsupericial é de acumulação de argila, destacando-se a mudança textural abrupta para o B textural. Além da drenagem em geral imperfeita, nos Planossolos pode ocorrer a formação de lençol de água suspenso, de existência temporária, como AMBIENTE FÍSICO relexo da permeabilidade lenta ou muito lenta da água no peril, condicionando cores acinzentadas ou com mosqueados na parte superior do horizonte B e em horizontes transicionais. No tocante aos ambientes do terço médio a inferior das encostas, nas bordas dos tabuleiros e/ou em relevo abaciado também ocorrem os Plintossolos. Estes solos são caracterizados pela presença de plintita ou petroplintita no horizonte subsupericial (Santos et al., 2013a). A plintita é identiicada como corpo distinto de material mineral que se destaca da matriz do solo e que apresenta consistência irme quando úmida e dura ou muito dura quando seca, porém pode ser cortada com a faca, ocorrendo comumente com padrão de cor do mosqueado vermelho, vermelho-amarelado e vermelho-escuro, e forma usualmente laminar, arredondada, poligonal ou reticulada (Santos et al., 2013b), enquanto, a pretroplintita é proveniente do endurecimento irreversível da plintita. A associação na paisagem de Argissolos no topo dos tabuleiros e de Plintossolos em porções do relevo abaciadas foi destacada em estudo de Duarte et al. (2000), no município de Aracruz, onde os autores destacam a inluência do relevo e a dinâmica da água na formação dos diferentes solos. A plintita e a petroplintita também podem ocorrer em profundidade, nos peris de Latossolos e Argissolos, e na superfície, na forma de grandes Figura 6: Peril de solo com petroplintita em subsuperfície (esquerda) e canga laterítica em primeiro plano (direita) desenvolvido nos tabuleiros costeiros do estado do Espírito Santo. Fotos: Ademir Fontana e Paulo César Teixeira. 39 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE blocos cimentados denominados de “cangas” ou ”cangas lateríticas”, facilmente observáveis na base das falésias (Figura 6). A ocorrência dos diversos solos e principalmente dos Argissolos e Latossolos, foi destacada no Levantamento de Reconhecimento dos Solos do Estado do Espírito Santo (Embrapa, 1978) e no Levantamento de Recursos Naturais do RADAMBRASIL (BRASIL, 1983; 1987). Além dos trabalhos já mencionados, destaca-se a grande contribuição dos estudos de Embrapa (1995), através da IV Reunião de Classiicação, Correlação e Aplicação de Levantamentos de Solos, cuja excursão de estudos abrangeu áreas de tabuleiros costeiros dos estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia, que englobam os Argissolos, Planossolos e Latossolos. Soma-se a estes trabalhos o levantamento de solos da região de Aracruz, São Mateus e Conceição da Barra (Embrapa, 2000), mostrando com mais detalhe a ocorrência e características de Latossolos, Argissolos e Planossolos e Santos et al. (2004) nas Reservas de Linhares e Sooretama com a ocorrência predominante dos Argissolos. Em ambientes denominados localmente de “muçunungas”, que se diferenciam pela deposição de espessas camadas de sedimentos de composição arenosa, a vegetação pode variar desde graminóide Figura 7: Peril de Espodossolo desenvolvido nos tabuleiros costeiros (esquerda) e vegetação de campo nativo (direita) sobre solo arenoso do estado do Espírito Santo. Fotos: Luiz Pessenda e Ademir Fontana. Figura 8: Peril de solo sem e com mosqueados em subsuperfície (esquerda) e ambiente de ocorrência em várzea (direita) nos vales dos tabuleiros costeiros do estado do Espírito Santo. Fotos: Ademir Fontana e Flávio Gontijo. 40 FONTANA ET AL. até herbáceo-arbustiva (também denominadas de campo nativo) ou arbórea (muçunungas propriamente ditas). Nessa paisagem, o material arenoso, o relevo abaciado (com depressões em geral circulares) e a drenagem imperfeita, associados à vegetação, favorecem o desenvolvimento dos Espodossolos (Figura 7). Pelo SiBCS (Santos et al., 2013a) essa classe é caracterizada por solos profundos de textura arenosa ao longo do peril e que possuem um horizonte subsupericial B espódico, o qual tem como principais características o acúmulo de matéria orgânica, alumínio, podendo ou não conter ferro. É comum a ocorrência consolidada do horizonte B espódico denominada de ortstein, e ainda, em muitos casos, abaixo deste, o fragipã (material endurecido quando seco e com quebradicidade quando úmido e com baixos teores de matéria orgânica). Ademais, outra classe possível no ambiente de muçunungas são os Neossolos Quartzarênicos, os quais se caracterizam pela textura arenosa e ausência de horizonte diagnóstico B espódico, na profundidade em que se deine o peril de solo no SiBCS. A ocorrência de Espodossolos nos domínios dos tabuleiros costeiros do sul da Bahia e norte do Espírito Santo é relatada por Oliveira et al. (2010). Os autores observaram Espodossolos com horizonte E álbico (muçunungas brancas) e sem esse horizonte (muçunungas pretas), ambos com fragipã abaixo do horizonte B espódico. As muçunungas brancas apresentam ortstein, enquanto as pretas se diferenciam pela estrutura pequena granular e de cor escura desde o horizonte A. Na Reserva Natural Vale, Secretti (2013) destaca a ocorrência de Espodossolos nos campos nativos, com variações ao longo da paisagem no tocante a cor, estrutura, consistência, espessuras do peril e dos horizontes, principalmente. Santos et al. (2004) nas Reservas de Linhares e Sooretama, destacam a ocorrência de Espodossolos e citam que as suas variações se devem à ocorrência ou não do caráter dúrico (material com cimentação forte) em profundidade, e a espessura dos horizontes A + E. Compondo as várzeas dos vales de dissecação em drenagem limitada, permanente ou periodicamente saturados por água são observados os Gleissolos (Figura 8). Estes solos são caracterizados por apresentarem horizontes subsupericiais com AMBIENTE FÍSICO cores cinzentadas, sendo comumente observado pontuações vermelho-amarelas e outras cores que indicam a oxidação e remobilização do ferro, principalmente, sem ou com segregação na forma de mosqueados ou plintita (Santos et al., 2013ab). As principais variações estão na espessura e composição dos horizontes supericiais, podendo ser mineral ou orgânico (Santos et al., 2013a). O material subsupericial é conhecido também como ‘’tabatinga’’, o qual apresenta-se predominantemente argiloso ou muito argiloso, que passou por processos de oxidação e redução em ambiente hidromórico. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Albino, J.; Paiva, D.S.; Machado, G.M. 2001. Geomorfologia, Tipologia, Vulnerabilidade erosiva e ocupação urana das praias do Espírito Santo, Brasil. Geografares, 2:63-69. Anjos, L.H.C. dos. 1985. 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Oliveira-Filho (2009) cita que nomes e “atributos” da vegetação são signos linguísticos, abstrações construídas por nós, em busca de ferramentas úteis na comunicação ou no entendimento de padrões da natureza. No norte do Espirito Santo, a Floresta Atlântica foi classiicada por Rizzini (1963) como Floresta dos Tabuleiros Terciários. Esta região tem sido motivo de controvérsia em relação à sua classiicação isionômica. Alguns trabalhos recentes adotam para a região, a classiicação Floresta Ombróila Densa (Oliveira-Filho & Fontes, 2000; Souza et al., 2000; Gomes, 2006; de Paula et al., 2009; de Paula & Soares, 2011; Magnago et al., 2014) enquanto outros assumem como Floresta Estacional Semidecidual (Rizzini et al., 1997; Rolim et al., 1999; Chiarello & Melo, 2001; Kindel & Garay, 2002; Rolim et al., 2006; Silva, 2014). Isso nos leva à pergunta-título deste capítulo. No domínio da Floresta Atlântica, as isionomias de lorestas ombróilas e estacionais apresentam laços lorísticos fortes, formando um contínuo de distribuição das espécies (Oliveira-Filho & Fontes, 2000). Essa discussão isionômica é importante quando se tenta entender as relações lorísticas entre a Floresta de Tabuleiro com as de outras regiões (Peixoto & Gentry, 1990; Siqueira, 1994; Oliveira-Filho & Fontes, 2000; Oliveira-Filho et al., 2005; Jesus & Rolim, 2005; Rolim et al., 2006; Saiter et al., 2016). De fato, o norte do Espírito Santo integra a Floresta Ombróila Densa no mapa de vegetação do Brasil (IBGE, 2004, escala 1:5.000.000). Entretanto, não é nova a percepção de muitos pesquisadores sobre a estacionalidade do clima nessa região. Egler (1951) destacou o caráter semidecidual da vegetação dos tabuleiros no ES, inclusive às margens do rio Doce, e Azevedo (1962) produziu um mapa classiicando a vegetação como “Comunidade Arbórea Mesóila dos Tabuleiros”. Veloso (1966) apresentou um mapa onde boa parte da área costeira foi denominada “Floresta Estacional Tropical Perenifólia da Encosta Atlântica” (ver IBGE, 2012). Heinsdijk et al. (1965) izeram uma ressalva de que a loresta de Linhares poderia ser classiicada como “Floresta Tropical Pluvial”, mas algumas vezes como “Floresta Sazonal Sempre Verde”. Segundo o Manual do IBGE (2012), terminologias como “semiombróila”, “seca sempre-verde”, “estacional sempre-verde”, “pluvial semidecidual”, “ombróila semidecidual” são comuns em vários sistemas de classiicação. Entretanto, é importante ressaltar que termos como seca, estacional, pluvial e ombróila 47 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE estão vinculados a atributos climáticos, enquanto denominações como sempre-verde e semidecidual designam graus de caducidade foliar. Neste trabalho não foram analisados em detalhes os critérios utilizados nas classiicações citadas anteriormente para a Floresta dos Tabuleiros. Seguir a classiicação oicial do IBGE (2004) é, provavelmente, o principal motivo da adoção da denominação Floresta Ombróila Densa. Por outro lado, talvez faltassem análises mais detalhadas para enquadrar a loresta do norte do Espírito Santo como estacional semidecidual. Como colocado por Gentry (1995), realmente existe uma diiculdade de se classiicar as lorestas neotropicais com precipitação anual entre 1.400 e 1.800 mm, bem distribuída ao longo do ano. Walsh (1996a) também considera que lorestas ombróilas são mais bem caracterizadas em áreas com pelo menos 1.700 mm de precipitação e com menos de 4 meses consecutivos de precipitação inferior a 100 mm. Até meados dos anos 80, a média de precipitação anual relatada por Peixoto & Gentry (1990) para a loresta dos tabuleiros em Linhares foi de aproximadamente 1.400 mm, mas com poucos anos de observação climática. Dados posteriores indicaram que a média anual de precipitação em Linhares era ainda menor, entre 1.200 a 1.250 mm (Rolim et al., 1999; Spósito & Santos, 2001; Engel & Martins, 2005). Além disso, a média de precipitação desta região do norte do Espírito Santo está longe de ser bem distribuída, já que menos de 20% da precipitação ocorre de abril a setembro (Engel & Martins, 2005). Assim, uma terceira via é que estas lorestas não seriam nem ombróilas densas nem estacionais semideciduais. Uma classiicação intermediária entre estas é a denominada “Floresta Estacional Perenifólia” ou “Floresta Estacional Sempre-Verde”. Esta classiicação já existia numa proposta de Beard (1955) para a América tropical e foi utilizada no Brasil por Rizzini (1963), mas não constava no sistema de Veloso et al. (1991) adotado pelo IBGE até 2012. A diferenciação entre lorestas ombróilas e estacionais é fortemente correlacionada com o regime de chuvas, com transições que podem ser abruptas ou graduais (Oliveira Filho & Fontes, 2000) e não é difícil admitir uma classiicação intermediária entre estas isionomias. Engel (2001) resgatou a 48 terminologia “Floresta Estacional Perenifólia” para a Floresta dos Tabuleiros do Espírito Santo, a qual também foi utilizada por Jesus & Rolim (2005). Esta seria, provavelmente, uma classiicação mais conciliadora para a vegetação do norte do Espírito Santo, mas que não podia ser adotada oicialmente dentro do sistema brasileiro de classiicação da vegetação (Veloso et al., 1991). Contudo, um importante trabalho na região norte do Mato Grosso (Ivanauskas et al., 2008) propôs a reintrodução desta terminologia no sistema brasileiro de classiicação da vegetação, o qual a aceitou para o Planalto dos Parecis e outras regiões da borda sul amazônica (IBGE, 2012). As análises que justiicam a sua adoção também para o domínio atlântico, na região norte do Espirito Santo, são discutidas a seguir. O RESGATE DA TERMINOLOGIA FLORESTA ESTACIONAL PERENIFÓLIA PARA O SISTEMA DO IBGE O clima é o fator determinante da distribuição geográica em larga escala das plantas, enquanto a topograia e condições edáicas inluenciam as distribuições locais (Ricklefs, 1996). Assim, enquanto o clima age como o maior determinante regional, a topograia e os níveis de nutrientes proporcionam os determinantes subregionais que, por sua vez, são fortemente inluenciados pela relação solo-água (Furley, 1992). Nesse contexto, as áreas de transição da loresta ombróila para a loresta estacional seguem gradientes climáticos, nos quais a precipitação diminui e o clima tornase mais sazonal, e a presença de uma formação ou outra passa a depender da natureza do solo ou da topograia (Richards, 1996). As lorestas ombróilas são descritas como presentes em clima de altas temperaturas e precipitação elevada e bem distribuída durante o ano (IBGE, 2012). Por sua vez, as lorestas estacionais estão sujeitas a um período desfavorável, que pode ser o longo período de estiagem do clima tropical (médias de 22 ºC, 4 a 6 meses secos) ou o frio intenso na faixa subtropical (seca isiológica, com médias de 18 ºC, mas com pelo menos 3 meses de temperaturas inferiores a 15 ºC). Logicamente, não é seguro deinir limites ROLIM ET AL. vegetacionais utilizando exclusivamente classiicações climáticas, pois fatores não climáticos (solo, litologia e relevo) também inluenciam o teor de água no solo e o impacto ecológico de um período seco. Além disso, os sistemas de classiicação baseiam-se em médias climáticas, mas valores extremos de seca, vento ou frio podem exercer maior inluência sobre a distribuição da vegetação (Walsh, 1996a). Somado a isso, a atual distribuição da vegetação brasileira resulta não apenas da zonação climática atual, mas também dos efeitos acumulados dos climas do passado (Ab’Saber, 1977). Ainda assim, o clima de uma região, associado a outras variáveis, como dados fenológicos, podem ser bons indicadores de tipologias regionais, portanto passíveis de investigação. De fato, a caducidade foliar foi outro critério utilizado por Veloso et al. (1991) durante a elaboração do atual sistema itogeográico brasileiro. Nesse sistema, as lorestas ombróilas seriam caracterizadas por manter o dossel perenifólio e ocorrer em clima de elevadas temperaturas e alta precipitação bem distribuída durante o ano. Já as lorestas estacionais seriam semideciduais ou completamente deciduais, sendo a queda foliar ocasionada por longo período de estiagem ou pelo frio intenso (seca isiológica). O aumento da queda de folhas na estação seca pode ser um indicativo de estresse de água no solo, já que redução da copa seria uma resposta da planta para reduzir a perda de água através da transpiração (Reich & Borchert, 1984; Wright & Cornejo, 1990; Borchert, 1994; Rizzini, 1997, Ivanauskas & Rodrigues, 2000). Uma das mais importantes funções do solo é a de operar como reservatório de água, fornecendo-a às plantas na medida de suas necessidades. Como a recarga natural (precipitação) deste reservatório é descontínua, o volume disponível às plantas é variável: com chuvas escassas, as plantas podem chegar a exaurir as reservas armazenadas no solo e atingir o estado de déicit de água (Reichardt, 1985). Usualmente, a planta só consegue absorver a água que o solo retém entre os potenciais mátricos de 0,1 atm (capacidade de campo) e 15 atm (ponto de murcha permanente). A disponibilidade de água é um caráter fundamental na biologia da planta. O estudo FLORESTA OMBRÓFILA OU ESTACIONAL? e o conhecimento do regime de água no solo sob lorestas, e de sua variação anual, é muito importante, uma vez que inúmeros trabalhos têm mostrado que o crescimento da loresta é muito dependente da umidade do solo (revisão em Lima, 1996). Quando a árvore está absorvendo água do solo pelo processo de transpiração, ela está, ao mesmo tempo, absorvendo nutrientes, fazendoos circular internamente, realizando fotossíntese, transportando seiva elaborada, hormônios e outras substâncias para todas as partes da árvore. O crescimento, portanto, está ocorrendo tão vigorosamente quanto permitem os demais fatores do meio (Lima, 1979). Numa simpliicação, a transpiração pode ser considerada como controlada somente por fatores atmosféricos, enquanto a vegetação estiver bem suprida por água. Quando o suprimento de água torna-se limitante, a vegetação sofre “estresse hídrico” e a transpiração diminui, e todos os processos metabólicos citados vão se restringindo. Assim, em consequência da ausência de água no solo, em muitos dias as árvores não estarão crescendo à taxa máxima: existem ocasiões em que o crescimento pode cessar completamente (Lima, 1979). No caso das lorestas presentes em áreas ecotonais na borda sul amazônica, constatou-se a presença de duas estações bem deinidas: uma chuvosa e outra seca. A existência de estiagem superior a 120 dias/ano inclui essas lorestas na categoria de Floresta Estacional, segundo o sistema proposto por Veloso et al. (1991). Todavia, essas lorestas são predominantemente perenes (Ratter et al., 1973; Richards, 1996). Como não há elevada caducidade foliar, assume-se que estas lorestas, apesar do longo período de estiagem, não sofrem estresse hídrico (Ivanauskas et al., 2008): são lorestas sempre verdes. A constatação da perenidade foliar e do clima estacional criou um problema itogeográico para essas lorestas, já que a categoria Floresta Estacional Perenifólia não existia no sistema oicial de classiicação da vegetação brasileira até 2012. A primeira versão do atual sistema foi desenvolvida na década de 70, quando um grupo de itogéografos envolvidos no projeto Radambrasil foi encarregado de mapear a vegetação brasileira e organizar a 49 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE nomenclatura de modo compatível com um sistema universal. Assim, o sistema itogeográico adotado na cartograia oicial do país foi publicado por Veloso et al. (1991), baseado na escola itogeográica de Ellemberg & Mueller-Dombois (1967) proposta à Unesco. Esta classiicação obedece a um sistema hierárquico de formações, distribuídas pela ordem de classe até a formação propriamente dita, seguida de subformações. Para as isionomias lorestais aqui abordadas, assume importância o conceito de deciduidade, que se refere ao grau de retenção foliar dos elementos arbóreos e arbustivos do estrato, ou dos estratos principais, encontrados em determinada formação e época (Eiten, 1968). Para a classiicação itogeográica, deve-se levar em consideração a percentagem das árvores caducifólias no conjunto lorestal, e não das espécies que perdem as folhas individualmente. Assim, lorestas perenifólias ou sempre-verdes não apresentam caducidade foliar ou esta é inferior a 20% das árvores do dossel. Florestas semideciduais apresentam queda foliar entre 20 e 50% na época desfavorável. Para as lorestas deciduais, o percentual deve ser de 50% ou mais (Veloso & Góes Filho, 1982). Florestas estacionais perenifólias estão presentes num clima estacional, mas que não provoca queda foliar acentuada para a maioria das árvores do dossel, pois há água disponível no solo mesmo no período seco, em função de algum processo isiográico (Ivanauskas et al., 2008). Assim, as árvores não sofrem déicit hídrico e o dossel se mantém sempre verde. Como já exposto, essa situação peculiar é encontrada tanto no domínio Amazônico quanto Atlântico, em situações de transição entre a loresta ombróila e a estacional. Os limites nem sempre são detectáveis, existindo complexa rede de faixas de contato, ora mais estreitas, por vezes mais largas e complicadas. A substituição de uma ou outra formação ocorre de modo gradual, em função das variações na precipitação, regime pluviométrico e substrato (Mantovani, 2003). Entretanto, a Floresta Estacional Perenifólia possui composição lorística própria, e que a rigor não é similar à lora presente nas formações de entorno (Ivanauskas et al., 2004a; Jesus & Rolim, 2005). No domínio da Floresta Atlântica, a Floresta Estacional Perenifólia situa-se na área de transição 50 entre a Floresta Estacional Semidecidual típica do interior do continente e a Floresta Ombróila Densa que recobre as serras litorâneas. Essa loresta já foi descrita no estado de São Paulo por Eiten (1970), que denominou de Floresta Sempre-Verde do Planalto a loresta perenifólia que se inicia no clima ombróilo da crista da Serra do Mar e estende-se para o interior do Planalto Atlântico, em direção ao clima estacional. Já Engel (2001) detectou padrões fenológicos diferenciados para a loresta atlântica de tabuleiro no Espírito Santo. Com base na sazonalidade climática e nos ritmos de mudança foliar, a autora utilizou a denominação Floresta Tropical Estacional Perenifólia, extraída do sistema de Longman & Jénik (1987), para a classiicação itogeográica. Contudo, é no domínio Amazônico que a Floresta Estacional Perenifólia engloba extensa área contínua, com destaque para a região do Alto Xingu, onde essa formação abrange centenas de quilômetros. Ratter (1992) empregou a expressão Floresta Sazonal Sempre Verde para designar essas lorestas na borda sul amazônica. O clima é estacional, classiicado como Tropical Chuvoso de Savana (Aw), com precipitações anuais em torno de 1.500 mm e período de seca de 4 a 7 meses. A ausência de estresse hídrico acentuado nas espécies de dossel é atribuída às particularidades do ambiente onde esta formação se desenvolve, constituído por densa rede de drenagem num relevo suave, onde predominam latossolos que facilitam o enraizamento profundo, o que permite que as árvores acessem o lençol freático subsupericial (Ivanauskas et al., 2008). Com água disponível, essas lorestas mantêm-se perenifólias mesmo nas áreas de interlúvio, distantes das áreas inundáveis. Os valores de área basal e riqueza de espécies arbóreas são muito inferiores àqueles registrados para trechos de Floresta Ombróila na Amazônia. O porte da loresta é menor, com dossel irregular em torno de 20 m, onde predominam espécies lorestais com madeira de baixa densidade (Ivanauskas et al., 2004a, 2004b). Baseado nos estudos citados e em outros complementares, o IBGE tornou público, em 2012, a segunda edição revista e ampliada do Manual Técnico da Vegetação Brasileira (IBGE, 2012). Dessa maneira, foi incorporado ao sistema oicial ROLIM ET AL. FLORESTA OMBRÓFILA OU ESTACIONAL? de classiicação um novo subgrupo de formação, a Floresta Estacional Sempre-Verde (Floresta Estacional Perenifólia). Entretanto, foram incluídas nesta categoria apenas as lorestas do domínio amazônico, mas a ocorrência dessa mesma isionomia lorestal no domínio atlântico ainda não foi consolidada. A im de contribuir com dados cientíicos para essa argumentação, buscamos divulgar o conhecimento já acumulado sobre a loresta de tabuleiro do norte do Espírito Santo. ANÁLISE DOS DADOS CLIMÁTICOS NA FLORESTA DE TABULEIRO Precipitação e temperatura exercem forte inluência na determinação da cobertura vegetal (Zelazowski et al., 2011). Existe uma grande variação na disponibilidade de precipitação entre diversas regiões tropicais (Walsh & Newbery, 1999; Zelazowski et al., 2011) e na deinição do que pode ser considerado um período ecologicamente seco (Walsh, 1996b), o que torna a classiicação da vegetação difícil em algumas áreas (Ivanauskas et al., 2008). Neste trabalho, além de apresentar os principais resultados de análises de clima em Linhares, com dados do posto meteorológico instalado na Reserva Natural Vale, será calculado o índice de perumidade de Walsh (1996a) e apresentado o balanço hídrico de Thornthwaite & Matter (1955). Walsh (1996b) estima que a precipitação mensal abaixo de 100 mm caracteriza um mês como seco e apresenta uma breve revisão que justiica a adoção deste limite como sendo uma estimativa da transpiração média em lorestas tropicais, abaixo do qual geralmente ocorrem déicits de água. Para o período de janeiro de 1975 a dezembro de 2004, a precipitação média anual foi igual a 1.227 mm (desvio padrão ±273 mm), a temperatura média anual foi de 23,3 oC, variando muito pouco ao longo do ano, entre 20,0 oC e 26,2 oC (médias das mínimas e máximas anuais). A umidade relativa média anual foi de 85,8%, também variando muito pouco ao longo do ano, entre 82,2% e 89,2% (médias das mínimas e máximas anuais). Na Figura 1, observa-se a forte estacionalidade intra-anual com 6 meses consecutivos com precipitação média menor que 100 mm e 4 meses consecutivos com precipitação média menor que 60 mm. Figura 1: Variação mensal da precipitação em Linhares/ ES, de 1975 a 2004. Também existe uma forte variação interanual da precipitação, com mínima de 816 mm no ano de 1990 e máxima de 1.747 mm no ano de 2004 (Figura 2). Geralmente estas secas extremas (como as do período de 1987 a 1989) estão associadas aos anos de fortes “El Niño-Southern Oscillation” (Enso). Durante sua ocorrência, os períodos secos aumentam de intensidade em algumas regiões e vários efeitos sobre os ecossistemas são relatados (Kogan, 2000; Holmgren et al., 2001), inclusive a maior mortalidade de árvores (Rolim et al., 1999) e a diminuição da frutiicação em Linhares (Engel & Martins, 2005). Figura 2: Variação anual da precipitação em Linhares/ ES, de 1975 a 2004. A linha pontilhada corresponde à média do período, igual a 1.227 mm. A estacionalidade da distribuição das chuvas é marcante, com 72% ocorrendo no período de outubro a março, no qual a média mensal de precipitação é de 147 mm, e 28% ocorre no período de abril a setembro, com média mensal de 57,5 mm. De fato, na Figura 3 é possível observar que 77% dos anos da série apresentaram mais de 51 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE 4 meses consecutivos com precipitação inferior a 100 mm (critério de Walsh, 1996a). Uma grande “anormalidade” de precipitação produziu uma sequência de cinco meses secos nos anos de 1986 a 1990, todos com menos de 1.000 mm de precipitação ao ano. Já para Rizzini (1997), são ecologicamente secos os meses com menos de 60 mm, mas cujo mês anterior não teve mais de 100 mm de precipitação. Neste critério, as áreas úmidas são aquelas com até 3 meses secos por ano e as áreas estacionalmente secas aquelas com 4 a 5 meses. Observa-se que em 53% dos anos da série ocorreram períodos estacionalmente secos. Ou seja, podem ocorrer anos sem períodos estacionalmente secos, mas a maioria dos anos também mostra a ocorrência destes períodos, o que pode inluenciar a percepção daqueles que visitam a área apenas nos anos mais úmidos. O índice de perumidade de Walsh (1996a) varia de -24 a +24 e para Linhares é igual a -3. Com uma precipitação média inferior a 1.700 mm e com 6 meses consecutivos com menos de 100 mm de precipitação média, o clima seria classiicado como Tropical Seco-Úmido (índice de perumidade entre -4,5 e 5), favorável ao desenvolvimento da Floresta Estacional. Já a análise do balanço hídrico (Figura 4) foi feita considerando uma capacidade máxima de armazenamento de água no solo (CAD) igual a 200 mm e a evapotranspiração potencial (ETP) foi estimada pelo método de Thornthwaite (1948). Os dados foram digitados no programa “BHnorm” elaborado em planilha EXCEL por Rolim et al. (1998). Nota-se um longo período de déicits hídricos, mas que totalizam apenas 41,4 mm com excedentes de 72,9 mm. Os resultados indicam o tipo climático megatérmico subúmido-seco, com pequeno deicit hídrico e pequeno excedente hídrico. O mapa de unidades naturais do estado do Espírito Santo (Feitosa L.R. et al., 1997; Feitosa H.N., 1998; Feitosa L.R. et al., 1999) deiniu para a região de Linhares que o mês de agosto é considerado seco e todos os outros meses, de janeiro a setembro, são parcialmente secos. Na contabilidade de meses secos, os autores consideraram cada dois meses parcialmente secos como um mês seco, totalizando 5 meses secos para a região. Citam quantidade semelhante de meses 52 Figura 3: Frequência de meses secos entre os anos de 1975 e 2004 em Linhares/ES, de acordo com Walsh (1996b) e Rizzini (1997). O tracejado indica o número médio de meses secos em cada método. Figura 4: Balanço hídrico de Thornthwaite & Mather (1955) para Linhares/ES, de 1975 a 2004. parcialmente secos para quase todos os municípios vizinhos na região Norte do estado (por exemplo, Sooretama, Pinheiros, Jaguaré e São Mateus). Parece não haver dúvidas sobre a estacionalidade do clima no nordeste do Espír ito Santo, mas os métodos tradicionais de classiicação isionômica também parecem não ser adequados. De fato, Borchert (1998) faz uma crítica severa a métodos de classiicação isionômica, baseados apenas na quantidade e sazonalidade da água de precipitação disponível anualmente. É necessário entender como as plantas suportam períodos prolongados de seca e quais seriam as estratégias por elas utilizadas para sobreviver ao período desfavorável, mas nenhum estudo com esses propósitos foi realizado nas lorestas de Linhares. Permanece a questão: como a maior parte das árvores em Linhares podem se manter perenes? Algumas hipóteses podem ser levantadas. Embora possa ser notado o longo período de déicit na Reserva de Linhares, deve ser ressaltado que o ROLIM ET AL. armazenamento de água no solo raramente diminui abaixo de 100 mm para a CAD (capacidade de água disponível) utilizada igual a 200 mm, o que faz com que os déicits sejam pequenos. Assim, o armazenamento de água no solo deve ter papel fundamental para suprir as árvores em períodos prolongados de seca em Linhares. Esta estratégia já é amplamente difundida e árvores na Amazônia podem buscar água em períodos secos, há mais de 8 m de profundidade, através da expansão das raízes (Nepstad et al., 1994). Borchert & Pockman (2005) citam que existem espécies que evitam a seca e outras que são resistentes à seca, cada tipo com diferentes estratégias isiológicas. Concluem que a anatomia da madeira pode ser um importante fator na adaptação à seca. Em algumas espécies que evitam a seca, por exemplo, existe um extenso parênquima ao redor do xilema, que permite o armazenamento intracelular de água. Outra estratégia importante é a denominada redistribuição hidráulica (Dawson, 1996; Burguess et al., 1998; Oliveira et al., 2005), na qual a água pode se mover através das raízes, das partes mais úmidas e profundas do solo, para as partes mais superficiais, que secam primeiro. Pode ser citado ainda que sob condições naturais as raízes são o principal órgão para absorção de água (Breazeale et al., 1950); entretanto, sob condições de seca e alta umidade relativa, as folhas podem contribuir na absorção de água da atmosfera (Burgess & Dawson, 2004). Considerando a alta umidade relativa encontrada em Linhares, de 82 a 89% ao longo do ano, esta hipótese pode ter um peso importante na manutenção da perenidade das árvores nesta região. Finalmente, ressaltamos que pesquisas paleoecológicas recentes indicam que o clima na região de Linhares era mais úmido, equivalente ao de uma loresta ombróila, entre 4 e 7 mil anos atrás, com presença marcante de Cyatheaceae e Arecaceae, as quais diminuíram em abundância de 4 mil anos atrás até o presente (Buso Jr. et al., 2013). Nesse período o inverno se tornou mais seco e o clima mais sazonal em razão do deslocamento da zona de convergência intertropical mais para o norte, na posição em que se encontra hoje (Ledru et al., 1998; Buso Jr. et al., 2013; Lorente et al., 2015). FLORESTA OMBRÓFILA OU ESTACIONAL? ANÁLISE DE DADOS FENOLÓGICOS NA FLORESTA DE TABULEIRO As árvores da loresta da Reserva de Linhares mostram um grau de caducifolia maior do que aquele de uma loresta ombróila, mas menor do que uma loresta estacional semidecidual. Em estudo fenológico realizado com 41 espécies de árvores do dossel da loresta de Linhares, entre 1982 e 1992 (Engel, 2001), 43,9% delas foram classiicadas como brevidecíduas e 12,2% como caducifólias (Tabela 1), ou seja, pouco mais da metade das espécies apresentaram perda de folhas durante o período seco. De acordo com a classiicação de Longman & Jeník (1987), a diferença entre espécies brevidecíduas e caducifólias (ou decíduas) está no fato de que as primeiras perdem as folhas no início da estação chuvosa, junto com a brotação, icando desfolhadas por até uma semana. As últimas perdem as folhas no im da estação seca e brotam na chuvosa, icando desfolhadas por várias semanas. Em Linhares, a época de máxima queda de folhas ocorreu no im da estação seca e início da estação transicional para chuvosa (Figura 5), o que concorda com os resultados de Mori et al. (1982) para o sul da Bahia. Em média, cerca de 30% das espécies e 15% dos indivíduos mostraram queda total ou quase total de folhas na transição entre as estações seca e chuvosa, de setembro a outubro (Figura 5). Uma proporção semelhante foi encontrada com folhas novas na estação chuvosa, cerca de dois meses após o máximo de queda de folhas (Figura 5). A maior parte dos estudos realizados em lorestas tropicais úmidas (que incluíram Floresta Ombróila Densa Sub-montana, Montana e Alto-montana) mostrou que a máxima queda de folhas ocorre no período seco (Alencar et al., 1979; Carabias-Lillo & GuevaraSada, 1985; Morellato, 1992; Pires-O’Brien, 1993). Em outras lorestas atlânticas com distribuição de chuvas mais uniforme, a queda de folhas foi constante ao longo do ano (Talora & Morellato, 2000) ou predominou na estação chuvosa (Jackson, 1978). Em lorestas tropicais estacionais deciduais e semideciduais, a queda de folhas ocorreu no início e no meio da estação seca, respectivamente (Monasterio & Sarmiento, 1976; Martins, 1982; Morellato, 1991; 1992; Fonseca, 1998). A atividade de mudança foliar das espécies 53 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Tabela 1: Categorias de mudança foliar e época de brotação das espécies arbóreas da Reserva Natural Vale, em Linhares. Épocas de brotação: (1) estação chuvosa; (2) transição entre estação chuvosa e seca; (3) estação seca; (4) transição entre estação seca e chuvosa. Fonte: Engel, 2001. Espécie Apuleia leiocarpa (Vog.) Macbr. Aspidosperma cylindrocarpon M. Arg. Astronium concinum Schott. Astronium graveolens Jacq. Bowdichia virgilioides HBK. Cariniana legalis (Mart.) O.Ktze Carryocar edule Casar. Cedrela odorata L. Clarisia racemosa Ruiz et Pav. Cordia trichotoma Vell. Dalbergia nigra (Vell.) Fr.All. Ex Benth. Diplotropis incexis Rizz et Mattos F. Emmotum nitens (Benth) Miers Eriotheca macrophylla (Schum.) A. Robyns Eugenia microcarpa Berg. Hidrogaster trinervis Kuhlman Joannesia princeps Vell. Kielmeyera albopunctata Sadd. Lecythis pisonis Carmb. Licania salzmannii (Hookf.) Fritsch Manilkara bella Monach. Manilkara salzmannii (A.DC.) Lam. Melanoxylon brauna Schott. Myrcia lineata (Berg.) Barroso Ocotea conferta Coe-teixeira Ocotea organensis Mez. Paratecoma peroba (Record.) Kuhlm. Parkia pendula (Willd) Bent.ex Walp. Peltogyne angustifolia Ducke Pterygota brasiliensis Fr. Al. Qualea magna Kuhlmann Qualea multiflora Mart. Schefflera morototoni (Aubl.)Naguirre, Steymark, Frodin Simarouba amara Aubl. Simira rubescens Schum. Tabebuia riodocensis A.Gentry Talisia intermedia Radlk. Terminalia Kuhlmanii Aiwan & Stace Virola gardneri (A.DC.) Warb. Ziziphus platyphylla Reissek Zollernia ilicifolia Vog. Categoria de mudança foliar caducifólia sempre-verde brevidecídua caducifólia brevidecídua brevidecídua brevidecídua brevidecídua brevidecídua caducifólia brevidecídua sempre-verde sempre-verde brevidecídua sempre-verde sempre-verde brevidecídua brevidecídua brevidecídua sempre-verde brevidecídua sempre-verde brevidecídua sempre-verde sempre-verde sempre-verde brevidecídua brevidecídua brevidecídua sempre-verde sempre-verde brevidecídua sempre-verde sempre-verde sempre-verde caducifólia sempre-verde caducifólia sempre-verde brevidecídua sempre-verde estudadas mostrou-se fortemente sazonal. O índice de sazonalidade de Longman & Jeník (1987) para queda de folhas foi de 4,00, para brotação foi 5,26 e para folhas novas foi 2,51. Esses valores foram muito maiores do que de outros estudos da Mata Atlântica no leste brasileiro. No sul da Bahia, os dados de Mori et al. (1982) revelaram que a queda de folhas no outono e inverno foi 1,1 vez maior que na primavera e verão, enquanto a brotação na primavera e verão 54 Época de brotação 2 3 1 x 4 x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x x foi 1,2 vez maior que no outono e inverno. Os dados de Talora & Morellato (2000) para Ubatuba/ SP, permitiram estimar índices de sazonalidade de 1,30 para brotação e 1,04 para queda de folhas. Mesmo considerando que os estudos de Mori et al. (1982) e Tarola & Morellato (2000) não separaram a brotação de espécies sempre-verdes das demais nas análises, ainda assim a loresta de Linhares pode ser considerada mais sazonal, pela análise do índice calculado para as fenofases folhas novas e brotação ROLIM ET AL. em conjunto. Os dados de Jackson (1978) para o Espírito Santo mostraram uma sazonalidade um pouco maior para queda de folhas (índice de 3,01), entretanto, este estudo foi baseado na biomassa de folhas depositada em armadilhas e não na observação direta em árvores. Figura 5: Variação anual média da intensidade da mudança foliar de árvores do dossel da Reserva de Linhares/ES. As proporções apresentadas referemse à porcentagem média de ocorrência quinzenal de espécies (gráico superior) e indivíduos (gráico inferior) com as fenofases: árvore desfolhada (queda de folhas); brotação e copa constituída por folhagem totalmente nova (folhagem nova), no período de maio-82 a dezembro-92. Fonte: Engel, 2001. A época da queda de folhas e da brotação em muitas espécies depende mais do potencial hídrico interno da planta, do que da disponibilidade de água do ambiente (Reich & Borchert, 1984), e a queda de folhas parece ser um mecanismo importante tanto na redução do estresse hídrico da planta quanto na indução da antese (Opler et al., 1976; Borchert, 1983). Em loresta ombróila de planície litorânea (Talora & Morellato, 2000), a queda foliar correlacionou-se negativamente com FLORESTA OMBRÓFILA OU ESTACIONAL? a temperatura do ar e precipitação. Em Linhares, a queda de folhas não mostrou correlação signiicativa com nenhum destes parâmetros; entretanto, o efeito da disponibilidade hídrica foi sentido indiretamente pelas variáveis evapotranspiração real e deiciência hídrica do solo (Tabela 2). Houve correlação signiicativa entre queda de folhas e evapotranspiração real, insolação e deiciência hídrica (todas negativas) e com a evaporação e umidade relativa do ar (ambas positivas, Tabela 2). No im da estação seca em Linhares, a demanda evaporativa do ar aumenta, indicando que, apesar de haver deiciência hídrica no solo, principalmente de maio a agosto, somente no período inal é que as condições se tornam limitantes para as árvores, em função das condições atmosféricas. A correlação observada entre evaporação e queda de folhas faz sentido, já que uma maior demanda evaporativa do ar leva à diminuição do potencial hídrico nas folhas e desenvolvimento de tensões internas, principalmente em árvores do dossel. Se a árvore possui uma pequena capacidade de armazenamento interno de água (características do lenho), se o sistema radicular não é capaz de suprir água para diminuir as tensões, ou se não há água disponível no solo, a tendência é de que haja queda total ou parcial das folhas (Reich, 1995). Uma inluência maior das condições atmosféricas que da disponibilidade de água no solo foi reportada por Wright & Cornejo (1990) e Wright (1991). Embora a inluência da precipitação e deiciência hídrica do solo não tenha icado evidente na análise do padrão médio de queda de folhas, este efeito icou mais evidenciado ao se analisarem as variações não só dentro do ano, mas também entre anos. A queda de folhas mostrou um aumento acentuado nos anos mais secos, de 1986 a 1990, principalmente quanto à proporção de indivíduos. O ano de máxima queda de folhas em Linhares foi 1987, ano que coincidiu com um evento forte de “El Niño”, provocando uma longa seca de cerca de cinco meses entre maio e setembro, além de período de deicit hídrico em janeiro e fevereiro, meses também muito quentes. Em 1987, no im desta longa seca com precipitação praticamente nula, a proporção de indivíduos desfolhados dobrou em relação aos demais anos (Figura 6). A partir daí, este número foi declinando até chegar a níveis 55 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE normais em 1992. Asner et al. (2000) também encontraram relação entre secas provocadas por eventos de El Niño e diminuição de biomassa foliar pela maior queda de folhas da vegetação na Amazônia oriental. Geralmente, a profundidade das raízes é um fator importante, que provoca diferenças na sensibilidade ao estresse hídrico entre indivíduos (Reich & Borchert, 1984; Borchert, 1994), sofrendo inluência de características físicas do solo ou existência de camadas de impedimento. Dependendo das condições de microhabitat, indivíduos da mesma espécie podem perder suas folhas nos anos mais secos. Por im, concluímos que a loresta de Linhares mostra padrões fenológicos diferenciados de outras comunidades de loresta atlântica baixo-montana próximas ao litoral e também de lorestas estacionais semidecíduas do interior. Com características transicionais entre esses dois extremos, se conirma nossa pressuposição da inluência de um clima caracterizado por uma precipitação anual relativamente baixa, semelhante à das lorestas estacionais, combinada a uma deiciência hídrica anual relativamente baixa e umidade relativa do ar mais alta ao longo do ano. Enim, pelos ritmos de mudança foliar, pela sazonalidade climática apresentada e pelas hipóteses de alternativas de disponibilidade de água para as árvores se manterem perenes, seria lógico classiicar a loresta de Linhares na categoria Floresta Estacional Perenifólia, pois embora a estacionalidade do clima possa ser comprovada pelo longo período seco, a maior parte das árvores deve possuir estratégias para absorção Figura 6: Série temporal para proporção de indivíduos com copa desfolhada na Reserva de Linhares, em cada quinzena do período de maio de 1982 a dezembro de 1992. A curva tracejada foi ajustada pelo método dos quadrados mínimos ponderados. Fonte: Engel, 2001. Tabela 2: Sumário da análise de regressão múltipla “stepwise”3 (tendo como variável dependente a queda de folhas das árvores de 41 espécies do dossel da loresta de Linhares, durante um período de 11 anos. Fonte: Engel, 2001. Variáveis Independentes Beta b (inclinação Coeic. de correlação da reta) parcial (r) Evapotranspiração. real -1,614 -0,009 -0,655 0,004 Umidade relativa do ar 0,237 0,009 0,494 0,004 Insolação -0,745 -0,005 -0,801 0,000 Deiciência hídrica -0,588 -0,011 -0,542 0,024 Evaporação 0,661 0,017 0,816 0,000 3 (1) R=0,969; R2=0,939; F(8,15)=28,88; p<0,000; Erro padrão da estimativa=0,0299 56 Probabilidade (p) ROLIM ET AL. FLORESTA OMBRÓFILA OU ESTACIONAL? Figura 7: Vista do dossel da Floresta de Tabuleiro num período seco (2014), evidenciando boa parte das copas com aspecto semidecíduo. de água, mantendo-se perenes. A Figura 7, conclui nossa análise, mostrando o aspecto da Floresta de Tabuleiro na época seca. AGRADECIMENTOS Agradecemos a Felipe Saiter e Rafael Salomão pelos comentários e sugestões que enriqueceram o texto. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Ab’Saber, A.N. 1977. Domínios morfoclimáticos na América do Sul: primeira aproximação. Instituto de Geograia/USP, São Paulo. Geomorfologia 52: 1-21. Alencar, J.C.; Almeida, R.A.; Fernandes, N.P. 1979. Fenologia de espécies lorestais em loresta tropical úmida de terra irme na Amazônia Central. Acta Amazonica 9(1): 163-98. Asner, G.P.; Townsend, A.R.; Braswell, B.H. 2000. Satellite observations of El Nino effects on Amazon forest phenology and proiductivity. Geophysical Reserach Letters 27(7): 981-984. Azevedo, L.G. 1962. Tipos de vegetação do Estado do Espírito Santo. Revista Brasileira de Geograia 24(1): 111-115. Beard, J.S. 1955. The classiication of tropical American vegetation-types. Ecology 36(1): 89-100. Borchert, R. 1983. Phenology and control of lowering in tropical trees. Biotropica 15(2): 81-89. Borchert, R. 1994. 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FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE 4 A FLORESTA DE LINHARES NO CONTEXTO FITOGEOGRÁFICO DO LESTE DO BRASIL Felipe Zamborlini Saiter, Samir Gonçalves Rolim & Ary Teixeira de Oliveira-Filho INTRODUÇÃO A exuberante loresta que cobria os extensos tabuleiros costeiros existentes entre os rios Doce e Barra Seca foi uma barreira intransponível para os primeiros colonizadores do norte do Espírito Santo até o início do século XX (Soares, 1943; Egler, 1951). Contribuiu para isso, não só a expressiva largura do rio Doce e o leito intransitável do rio Barra Seca, mas também o medo de ataques das tribos indígenas (sobretudo de Botocudos) e de “febres” (como a malária), além da falta de contingente humano para a colonização (Soares, 1943; Egler, 1951; Ruschi,1954). A “luta” contra a loresta só começou a ser vencida pelos colonizadores a partir das décadas de 1920 e 1930, quando uma ponte sobre o rio Doce foi construída na cidade de Colatina e uma estrada ligando a então vila de Linhares e a cidade de São Mateus foi aberta (Soares, 1943; Egler, 1951). Esses são marcos históricos de um período de grandes transformações na paisagem natural da região, com tribos indígenas sendo rapidamente exterminadas por doenças e a loresta sucumbindo à exploração madeireira e às queimadas para a abertura de áreas para a agricultura (Egler, 1951; Ruschi, 1954). Atualmente, a Floresta de Tabuleiros entre os rios Doce e Barra Seca, que chamaremos a partir daqui de loresta de Linhares, está reduzida a um bloco lorestal com cerca de 48.000 ha e a pequenos fragmentos lorestais inseridos em uma matriz de atividades agropecuárias (especialmente pastagens, silvicultura de eucalipto e plantios de café e mamão) nos municípios de Linhares e Sooretama (Vicens et al., 2004; Magnago et al., 2014). O bloco lorestal acima referido é composto pela Reserva Natural Vale (22.711 ha), pela Reserva Biológica de Sooretama (24.000 ha) e por duas Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN Recanto das Antas, com 2.212 ha e RPPN Mutum Preto, com 379 ha), constituindo o maior remanescente de Floresta de Tabuleiro do sudeste do Brasil (Germano Filho et al., 2000). A diversidade lorística na loresta de Linhares é elevada (Peixoto & Silva, 1997). Dados mais recentes indicam a ocorrência de cerca de 2.300 espécies de plantas vasculares, dentre as quais destacam-se algumas dezenas de espécies novas para a ciência (Germano Filho et al., 2000; Peixoto et al., 2008). O número de endemismos também é relativamente alto e muitas espécies amplamente distribuídas apresentam biotipos distintos nessa região (Peixoto & Silva, 1997). Embora o conhecimento botânico na loresta de Linhares tenha sido impulsionado nas últimas quatro décadas pelos vários inventários lorísticos e estudos taxonômicos ali desenvolvidos (por exemplo, Peixoto & Gentry, 1990; Barroso & Peixoto, 1995; Jesus & Rolim, 2005; Lopes & Mello-Silva, 2014), ainda são escassas na literatura cientíica as discussões sobre a sua posição no contexto itogeográico do leste do Brasil, principalmente no que tange às relações 61 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE lorísticas com outras regiões. Apoiados nessa realidade, propomos aqui uma revisão sobre o tema e aproveitamos para acrescentar algumas de nossas impressões, na expectativa de que elas possam contribuir para uma melhor interpretação do cenário itogeográico regional. Começamos reunindo informações sobre o ambiente de tabuleiros na região de Linhares e passamos a uma discussão sobre a relação lorística da loresta de Linhares com as lorestas do sul da Bahia (ou Hileia Baiana), do médio vale do rio Doce e do sul do Espírito Santo e norte do Rio de Janeiro (ou Falha de Campos dos Goytacazes). Por im, as características dessas relações lorísticas também serviram para a busca de justiicativas para a elevada diversidade lorística da loresta de Linhares. estação úmida de verão (dezembro a fevereiro) e uma estação seca de outono-inverno (maio a meados de setembro) separadas entre si por estações de transição (Peixoto et al., 1995; Engel & Martins, 2005). Sabe-se também que a precipitação anual na loresta de Linhares tem variado entre 800 a 2.000 mm nas últimas quatro décadas (ver dados em Jesus & Rolim, 2005 e em http://hidrometeorologia. incaper.es.gov.br) e que a precipitação acumulada na estação seca, por vezes, pode cair para menos de 50 mm em anos de estiagem extrema causada por eventos de El-Niño (Jesus & Rolim, 2005; Rolim et al., 2005). O balanço hídrico também pode ser prejudicado quando veranicos causados por bloqueios atmosféricos derrubam os totais de precipitação na estação úmida (para detalhes, ver Cupolillo et al., 2008). O AMBIENTE DE TABULEIROS EM LINHARES Os tabuleiros costeiros que ocorrem em Linhares correspondem a planícies sedimentares originadas no Plioceno (Formação Barreiras) que são entrecortadas por vales amplos e rasos. As altitudes variam entre 28 e 65 m e predominam solos Podzólicos Vermelho-Amarelo, distróicos, com horizonte B textural de atividade baixa (não hidromórico) e horizonte A moderado com textura variável de argilosa a areno-argilosa (Jesus et al., 1992). O clima é quente e úmido, com verões chuvosos e invernos secos, sendo classiicado como Awi de acordo com o sistema de Köppen (Jesus, 1987). Dados meteorológicos de uma série histórica de 24 anos (1986-2010) mostram que a temperatura média anual é de aproximadamente 24 oC e a precipitação média anual é de 1.212 mm (dados extraídos de http://hidrometeorologia.incaper. es.gov.br). Fevereiro é o mês mais quente, com média de 26,5 oC, e julho o mais frio, com média de 21,7 oC (dados extraídos de http://pt.climatedata.org/). As médias mensais de precipitação variam, aproximadamente, entre 190 mm em dezembro e 35 mm em junho (dados extraídos de http://pt.climate-data.org/). Cerca de 80% da precipitação anual está distribuída entre outubro e março (Engel & Martins, 2005; Jesus & Rolim, 2005). O balanço hídrico permite reconhecer uma 62 AS AFINIDADES FLORÍSTICAS COM A HILEIA BAIANA E A AMAZÔNIA Embora tenha sido muitas vezes citada na literatura itogeográica, a relação lorística entre a loresta de Linhares e a loresta de terras baixas do sul da Bahia ainda é um tema que carece de maior investigação. A ideia de que a loresta de Linhares seria parte integrante do que AndradeLima (1966) chamou de Domínio da Hileia Baiana (a loresta pluvial costeira da Bahia que apresenta isionomia semelhante à Floresta Amazônica, ou Hileia Amazônica) encontra suporte nas discussões de Rizzini (1979), Peixoto (1982), Peixoto & Gentry (1990) e Barroso & Peixoto (1991) sobre as similaridades de composição, estrutura e diversidade entre tais regiões. Evidentemente, a loresta de Linhares está geograicamente próxima da Hileia Baiana e as duas se assemelham no que se refere à elevada diversidade lorística e à presença de majestosas sapucaias (Lecythis spp.), jequitibás (Cariniana spp.) e pequis-vinagreiros (Caryocar edule Casar.) emergindo sobre um dossel com cerca de 30 metros de altura. Entretanto, alguns estudos têm sugerido que, em termos lorísticos, a loresta de Linhares pode não ser mais semelhante à Hileia Baiana do que às outras partes no leste do Brasil. Jesus & Rolim (2005) e Rolim et al. (2006), por exemplo, SAITER ET AL. sugeriram que a composição de espécies arbóreas da loresta de Linhares seria mais similar à do interior do vale do rio Doce do que à do sul da Bahia. Em um trabalho de revisão sobre estudos itogeográicos no Brasil, Fiaschi & Pirani (2009) indicaram a latitude de 19oS (onde se encontra a Floresta de Linhares) como o limite entre os blocos sul e norte da Floresta Atlântica. Os autores também citaram que as diferenças de composição lorística entre esses dois blocos estariam ligadas à inluência da lora subtropical-andina sobre o bloco sul e a conexão histórica entre o bloco norte e a Amazônia (ver discussões sobre essa possível conexão em Oliveira-Filho & Ratter, 1995; Fernandes, 2003; e Santos et al., 2007). Considerando essa hipótese de quebra biogeográica na latitude de 19oS, Saiter (2015) utilizou dados ambientais e de composição arbórea para modelar a dissimilaridade ecológica ao longo da porção central da Floresta Atlântica. O autor identiicou um forte turnover ecológico nas imediações da loresta de Linhares e sugeriu a maior similaridade lorística dessa região com as lorestas localizadas entre a bacia do rio Doce e o rio Paraíba do Sul. Apesar disso, é mesmo marcante o fato de essas duas regiões lorísticas compartilharem casos de endemismo. Thomas et al. (1998) encontraram que entre 25 e 30% das espécies vasculares de duas lorestas próximas à cidade baiana de Ilhéus (Serra Grande e Reserva Biológica de Una) são endêmicas do sul da Bahia e norte do Espírito Santo. Saiter (2015) citou algumas espécies arbóreas com esse padrão: canela-coco (Beilschmiedia linharensis Sa. Nishida & van der Werff), jequitibácravinho (Cariniana parvifolia S. A. Mori, Prance & Menandro), bomba-d’água (Hydrogaster trinervis Kulhm.), anete (Kielmeyera occhioniana Saddi), orelha-de-boi (Mollinedia marqueteana Peixoto), batinga-preta (Plinia stictophylla G.M. Barroso & Peixoto), jenipapo-da-mata (Riodocea pulcherrima Delpetre), arariba-vermelha (Simira grazielae Peixoto) e amescla-tapina (Trattinnickia mensalis Daly). Elementos tipicamente amazônicos também ocorrem em ambas, conforme já salientado por Ruschi (1950), Rizzini (1979) e Fernandes (2003). Alguns exemplos de taxa (e respectivos vernáculos populares) com esse padrão são CONTEXTO FITOGEOGRÁFICO os gêneros Glycydendron (frutas-de-arara), Melicoccus (pitombas), Rinorea (tambores), Senefeldera (sucangas) e Symphonia (guanandis), e espécies como fruta-de-juriti (Erythroxylum macrophyllum Cav.), camaçari (Caraipa densifolia Mart.), jenipapo-do-brejo (Macoubea guianensis Aubl.), jueirana-vermelha (Parkia pendula (Willd.) Walp.), adalberto (Pagamea guianensis Aubl.) e amescla-preta (Pseudima frutescens (Aubl.) Radlk.). Recentemente, Buso Jr. et al. (2013) se basearam no pólen encontrado em sedimentos lacustres de Linhares para apresentar uma rica discussão sobre o paleoambiente dessa região. Segundo os autores, alguns gêneros de árvores e lianas típicos da Amazônia já estavam presentes na loresta de Linhares há 7.500 anos, sugerindo que a ligação entre os blocos lorestais Amazônico e Atlântico esteve em curso antes desse período. Buso Jr. et al. (2013) também indicaram que a região apresentou um clima mais úmido durante o Holoceno Médio (cerca de 7.000-4.000 anos atrás) e que o estabelecimento do atual clima sazonal se deu há cerca de 4.000 anos. O clima mais úmido do Holoceno Médio permitiu a ocorrência de uma loresta pluvial marcada pela abundância de palmeiras e fetos arborescentes (Buso Junior et al., 2013). Acrescentando às constatações de Buso Jr. et al. (2013) a afirmação de Carnaval & Moritz (2008) sobre a estabilidade de um clima úmido e da cobertura florestal na região costeira entre os rios Doce e São Francisco durante o Pleistoceno, somos levados a pensar que, no passado, a floresta de Linhares teve ligação florística mais forte com a floresta pluvial da costa da Bahia, talvez como um bloco florístico único. Então, o surgimento de um clima sazonal na floresta de Linhares teria levado a mudanças na composição florística, com efeitos negativos sobre a vigorante influência da flora “pluvial” baiana. Como herança dessa antiga ligação, entretanto, permaneceram na floresta de Linhares espécies endêmicas e elementos tipicamente amazônicos compartilhados com a costa da Bahia, tal como descrito anteriormente. De fato, essa é uma interessante hipótese que poderá ser confirmada se explicações 63 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE plausíveis para a permanência dessa “herança pluvial” forem comprovadas. É possível que espécies com requerimentos fisiológicos incompatíveis com um clima sazonal tenham sobrevivido, sobretudo em trechos onde solos podem se manter úmidos ao longo de todo o ano, tal como às margens de cursos hídricos. Ou que a permanência na floresta de Linhares esteja ligada a uma capacidade de resistir a curtos períodos de seca de algumas espécies pluviais. Por outro lado, o tempo transcorrido desde que o clima passou a ser mais seco pode não ter sido ainda suficiente para a extinção local de tais espécies. AS AFINIDADES FLORÍSTICAS COM O MÉDIO VALE DO RIO DOCE E A FALHA DE CAMPOS DOS GOYTACAZES Como mencionado anteriormente, existem estudos que sugerem uma forte ligação florística da floresta de Linhares com florestas do médio vale do rio Doce. Na verdade, isso foi mostrado primeiramente por Jesus & Rolim (2005) utilizando dados florísticos conjugados de Lombardi & Gonçalves (2000) e Lopes et al. (2002) para a região do Parque Estadual do Rio Doce e Estação Ecológica de Caratinga, ambos localizados no leste de Minas Gerais. Essa é uma região de embasamento Pré-Cambriano caracterizada por fundos de vales e colinas entre 250-600 metros de altitude e clima estacional marcado por um período seco que se estende de maio a setembro e gera déficit hídrico durante 4-5 meses (Cupolillo et al., 2008). No médio vale do rio Doce desenvolve-se uma floresta estacional semidecidual submontana de acordo com a classificação de Veloso et al. (1991). Saiter et al. (2015), entretanto, relataram a importância de diferenças climáticas decorrentes do aumento da distância do oceano sobre a variação florística ao longo da bacia do rio Doce. Segundo os autores, o clima na parte costeira da bacia é menos sazonal do que no seu interior. Esse contexto acaba alimentando dúvidas sobre qual diferença florística seria a mais forte, a existente entre a floresta de Linhares e a Hileia Baiana, ou aquela entre a 64 floresta de Linhares e o médio vale do rio Doce. Esperamos esclarecer tal questão mais à frente, no tópico sobre índices de similaridade. Antes, porém, é pertinente retomar o que já mencionamos sobre o estudo de Saiter (2015). Tal estudo descobriu um forte turnover de espécies arbóreas na latitude 19oS, o que sugere maiores afinidades florístico-ecológicas da floresta de Linhares com florestas semidecíduas do médio vale do rio Doce e do sul do Espírito Santo e norte do Rio de Janeiro, nesse último caso uma região denominada de Falha de Campos dos Goytacazes por Oliveira-Filho & Fontes, (2000). Vale ressaltar que, embora OliveiraFilho & Fontes, (2000) tenham caracterizado a Falha de Campos dos Goytacazes como uma região costeira onde a sazonalidade climática provoca a interrupção de florestas ombrófilas, análises posteriores realizadas por OliveiraFilho et al. (2005) indicaram não haver uma forte interrupção na distribuição de espécies arbóreas na região, uma vez que variações florísticas acompanhavam o aumento gradual de umidade no sentido norte. De fato, Silva & Nascimento (2001) já haviam constatado a semelhança lorística da loresta de Linhares com a Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba (Mata do Carvão), uma loresta semidecídua sobre tabuleiros localizada no município de São Francisco do Itabapoana, norte do Rio de Janeiro. Segundo esses autores, é marcante a presença de peroba-amarela (Paratecoma peroba (Record) Kuhlm.) na Estação Ecológica Estadual de Guaxindiba, uma espécie arbórea decídua típica da loresta de Linhares e do vale do rio Doce, mas que também pode ser encontrada em lorestas estacionais semideciduais do sul do Espírito Santo e norte do Rio de Janeiro (Figura 1). Acrescentamos que estudos também já conirmaram a ocorrência nas lorestas semidecíduas do sul do Espírito Santo (por vezes até do norte do Rio de Janeiro) de outras espécies outrora consideradas endêmicas da loresta de Linhares (Silva & Nascimento, 2001; Nascimento & Lima, 2008; Dan et al., 2010; Curto, 2011; Archanjo et al., 2012; Abreu et al., 2014), como araçá-miúdo (Campomanesia espiritosantensis Landrum.), aroeira-da-mata (Crepidospermum atlanticum Daly), fruta-de- SAITER ET AL. CONTEXTO FITOGEOGRÁFICO Figura 1: Indivíduo de Paratecoma peroba (Record) Kuhlm. em São João de Petrópolis, município de Santa Teresa, Espírito Santo. Foto: Felipe Z. Saiter. arara (Glycydendron espiritosantense Kuhlm.), ipê-preto (Handroanthus arianeae (A.H.Gentry) S.Grose), laranjinha (Swartzia linharensis Mansano) e torradinho (Trigoniodendron spiritusanctense E.F.Guimaraes & J.R.Miguel). ÍNDICES DE SIMILARIDADE E A ALTA DIVERSIDADE FLORÍSTICA DA FLORESTA DE LINHARES Estamos diante de um conjunto de características que nos encoraja a encerrar esse capítulo com alguma abordagem analítica sobre as relações lorísticas da loresta de Linhares. Um forma simples que encontramos para atingir esse objetivo foi calcular índices de similaridade entre as regiões de interesse. A Tabela 1 apresenta a riqueza de espécies arbóreas por região e as similaridades segundo o índice de Sørensen (S). As regiões consideradas foram: loresta de Linhares, Hileia Baiana, médio vale do rio doce e Falha de Campos dos Goytacazes. Para tanto, extraímos da base de dados NeoTropTree (http://www.icb.ufmg.br/treeatlan/, Oliveira-Filho, 2014) dados de ocorrência de espécies arbóreas em sítios relativamente bem coletados em cada região. A base de dados NeoTropTree compreende listas de espécies arbóreas e dados geoclimáticos para sítios previamente selecionados dentro da região Neotropical. As listas lorísticas são obtidas a partir de três fontes primárias de dados: (a) Inventários lorísticos e itossociológicos publicados; (b) Estudos taxonômicos; (c) Registros de herbários disponíveis no herbário vitual da lora e dos fungos – INCT (http://inct.splink.org.br/), dentre os quais são priorizados aqueles sob determinação de taxonomistas. Depois agrupamos os dados dos sítios com o claro objetivo de potencializar as similaridades em um contexto regional, diminuindo assim o efeito de esforços de coleta sobre a composição de cada sítio. Então, obtivemos uma matriz binária composta por quatro regiões (linhas), 65 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE 1.744 espécies (colunas) e 3.641 registros de ocorrência. A relação de sítios agrupados por região também está disponível na Tabela 1. De maneira complementar, utilizamos a mesma matriz binária para realizar uma clássica análise de agrupamento por meio da técnica UPGMA (Unweighted Pair Group Method), utilizando também o índice de similaridade de Sørensen. O resultado dessa análise está no dendrograma da Figura 2. Utilizamos para todas as análises o pacote estatístico PAST 2.15 (Hammer et al., 2001). Uma rápida inspeção nos resultados da Tabela 1 foi suiciente para despertar algumas conclusões. A loresta de Linhares é tão similar à Hileia Baiana quanto à Falha de Campos de Goytacazes. Proporcionalmente, a similaridade em relação ao médio vale do rio Doce também é alta. Embora o dendrograma tenha apresentado a separação da Hileia Baiana em relação ao grupo composto pelas outras três regiões, o coeiciente de correlação cofenética foi baixo (0,61). Segundo Rodrigues & Diniz-Filho (1998), coeicientes menores que 0,80 podem indicar inconsistência entre as matrizes de valores cofenéticos e de valores de similaridade originais, isto é, uma falsa hierarquia entre grupos. Figura 2: Dendrograma obtido por análise de agrupamento (UPGMA) a partir de listas lorísticas de quatro regiões da Floresta Atlântica no leste do Brasil. Coeiciente de correlação cofenética = 0,61. FLIN, loresta de Linhares; HIBA, Hileia Baiana; MVRD, médio vale do rio Doce; FCGO, Falha de Campos dos Goytacazes. Tabela 1: Riqueza de espécies arbóreas e similaridades lorísticas de quatro regiões do leste do Brasil. Riqueza de Espécies Arbóreas Floresta de Linhares (FLIN) 931 Hileia Baiana (HIBA) 1037 Médio Vale do rio Doce (MVRD) 852 Falha de Campos dos Goytacazes (FCGO) 821 Similaridade Florística – Índice de Sørensen FLIN 1 HIBA FLIN MVRD HIBA 0,629 1 MVRD 0,571 0,480 1 FCGO 0,633 0,504 0,617 FCGO 1 Sítios agrupados em cada região FLIN: Floresta Nacional de Goytacazes, Reserva Biológica de Sooretama e Reserva Natural Vale. HIBA: Ilhéus, Itacaré, Porto Seguro, Reserva Biológica de Una e Serra Grande. MVRD: Antônio Dias, Estação Ecológica de Caratinga, Ipaba, Ipanema e Parque Estadual do Rio Doce. FCGO: Castelo, Fazenda do Ouvidor, Floresta Nacional de Pacotuba, Mata Bom Jesus, Mata do Carvão, Reserva Particular do Patrimônio Natural Cafundó e São José de Ubá. 66 SAITER ET AL. Isso signiica que, para a loresta de Linhares, as relações lorísticas estabelecidas por estudos prévios devem ser interpretadas com certo cuidado. Não há como apoiar claramente uma maior ou menor relação lorística da loresta de Linhares com uma ou outra região, ainda que, no presente caso, a similaridade com a Falha de Campos dos Goytacazes tenha sido ligeiramente maior. Estamos, na verdade, motivados a airmar que a lora da loresta de Linhares corresponde a uma “grande mistura” de espécies com diferentes requerimentos isiológicos relacionados à disponibilidade de água no ambiente. Usamos a palavra “grande” com o verdadeiro intuito de expressar a alta diversidade ali encontrada, e a palavra “mistura” no sentido de reportar a equilibrada inter-relação que existe tanto com as lorestas megadiversas da Hileia Baiana, quanto com as lorestas naturalmente mais pobres em espécies do médio vale do rio Doce e da Falha de Campos dos Goytacazes. Contudo, isso não deve ser entendido como uma recusa da quebra biogeográica entre os blocos sul e norte da Floresta Atlântica em plena loresta de Linhares (já discutida nesse capítulo), pois, de fato, não há dúvidas de que várias espécies têm essa região como seu limite latitudinal de distribuição geográica. Além disso, é notório que a composição lorística da Hileia Baiana tem menor relação com a lora do médio vale do rio Doce (S = 0,480) e da Falha de Campos dos Goytacazes (S = 0,504). Tal abordagem apenas reforça a importância da loresta de Linhares para a riqueza itogeográica do leste do Brasil e a necessidade de conservação de seus remanescentes. Apesar de existir um grande bloco lorestal protegido por meio de reservas públicas e privadas (cerca de 48.000 ha), todo o resto da loresta de Linhares já foi destruído ou permanece na forma de fragmentos muito pequenos que estão isolados por uma matriz agropecuária e experimentam os mais diversos tipos de impactos. Nesse cenário, esperamos que nossas discussões possam estimular futuros estudos sobre a elevada diversidade lorística ali encontrada e, quem sabe, projetos destinados à sua conservação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Abreu, K.M.P.; Braga, J.M.A.; Nascimento, M.T. 2014. Tree species diversity of coastal lowland semideciduous CONTEXTO FITOGEOGRÁFICO forest fragments in northern Rio de Janeiro state, Brazil. Bioscience Journal 30(5): 1529-1550. Andrade-Lima, D. 1966. Vegetação. In: IBGE. Atlas Nacional do Brasil. Rio de Janeiro, Conselho Nacional de Geograia. p. 12. Abreu, K.M.P.; Silva, G.F.; Chichorro, J.F.; Soares, C.P.B. 2012. Estrutura do componente arbóreo da Reserva Particular do Patrimônio Natural Cafundó, Cachoeiro de Itapemirim, Espírito Santo, Brasil. Floresta 42(1): 145-160. Barroso, G.M.; Peixoto, A.L. 1991. Novas espécies para o gênero Plinia (Myrtaceae). Atas da Sociedade Botânica do Brasil 3(12): 97-104. Barroso, G.M.; Peixoto, A.L. 1995. 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Petrópolis, Editora Vozes. p. 7-15. 69 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE 70 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE 5 A PALEOECOLOGIA E A ATUAL BIODIVERSIDADE DA MATA ATLÂNTICA DE LINHARES: ESTUDOS INTERDISCIPLINARES NO HOLOCENO Antonio Álvaro Buso Jr., Luiz Carlos Ruiz Pessenda, Marcelo Cancela Lisboa Cohen, Paulo Cesar Fonseca Giannini, Jolimar Antonio Schiavo, Dilce de Fátima Rossetti, Geovane Souza Siqueira, Flávio de Lima Lorente, Mariah Izar Francisquini, Paulo Eduardo De Oliveira, Márcia Regina Calegari, Marlon Carlos França, José Albertino Bendassolli, Cecília Volkmer-Ribeiro, Sonia Maria de Oliveira, Fernanda Costa Gonçalves Rodrigues, Milene Fornari, Carolina Nogueira Mafra, Mauro Parolin, Kita Macario & Alexander Cherkinsky INTRODUÇÃO A Mata Atlântica é o segundo maior bioma lorestal do Brasil (IBGE, 2004). Sua distribuição geográica é coincidente com a delimitação das lorestas atlânticas sensu lato apresentada por Oliveira-Filho & Fontes (2000). Segundo esses autores, pelo fato de se distribuirem por uma vasta área (originalmente mais de 1 milhão de km2), as lorestas atlânticas brasileiras localizam-se em regiões com distintas características geográicas e climáticas. Além de ocorrerem em um gradiente de latitude entre seus extremos norte e sul (de 6 a 30ºS), ocorrem também desde áreas litorâneas, até áreas localizadas a cerca de 700 km no interior do continente e a diferentes altitudes (desde o nível do mar até cerca de 2.000 m de altitude). Isso resulta em uma variedade de pressões climáticas relacionadas à precipitação e temperatura e diferenças lorísticas entre as regiões (Oliveira-Filho & Fontes, 2000). Além da alta biodiversidade, a Mata Atlântica apresenta também alto endemismo, sendo que das cerca de 20 mil espécies de plantas vasculares, por volta de 8 mil estão restritas a esse bioma (Conservation International Do Brasil, 2000; Morellato & Haddad, 2000). Entretanto, a alta biodiversidade da Mata Atlântica não é explicada somente como produto das condições ambientais atuais. As histórias de evolução e extinção locais (Prance, 1982; Macdonald, 2003) e fatores estocásticos, como por exemplo, a oportunidade de colonização de um local por determinadas espécies (Ricklefs, 2003), também podem ser explicativos de sua atual biodiversidade. Estudos paleoecológicos baseados em palinologia e isótopos de carbono da matériaorgânica dos solos muito contribuíram para uma melhor compreensão das mudanças de vegetação do bioma Mata Atlântica no sul e sudeste do Brasil desde o Pleistoceno tardio (aproximadamente 50 mil anos antes do presente – anos AP), permitindo inferências sobre as lutuações climáticas durante esse período (Figura 1). Para o Último Máximo Glacial (UMG – há cerca de 20 mil anos AP) e o Holoceno inferior e médio (aproximadamente de 11 a 6 mil anos AP) a maioria dos trabalhos revelou a retração das lorestas e a expansão da vegetação de savana nas regiões mais ao centro e ao oeste da Mata Atlântica e de campos de altitude nas 71 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE regiões ao sul do bioma, o que levou a inferências sobre paleoclimas menos úmidos e/ou mais frios que o atual (Behling, 1997 a, b; 2003; Behling & Lichte, 1997; Behling et al., 2002; 2004; Gouveia et al., 2002; Garcia et al., 2004; Pessenda et al., 2004; Saia et al., 2008; Ledru et al., 2009). Alguns estudos, contudo, não encontraram sinais de retração lorestal durante o UMG (Pessenda et al., 2009) ou durante o Holoceneo (Behling & Negrelle, 2001), inferindo clima úmido para esses períodos. Por im, a maioria dos estudos paleoecológicos mostra a expansão da vegetação lorestal ao longo do Holoceno superior (aproximadamente os últimos 4 mil anos), inferindo uma mudança gradual para climas mais úmidos e similares ao atual. O estudo aqui apresentado procura contribuir para o melhor conhecimento dos fatores pretéritos que inluenciaram os atuais padrões de biodiversidade da Mata Atlântica da região nordeste do estado do Espírito Santo, por meio de um enfoque paleoecológico. A abordagem interdisciplinar utilizada procurou combinar diferentes técnicas para desvendar os padrões e processos ecológicos relacionados à dinâmica da vegetação regional ao longo do Holoceno (últimos 11 mil anos). Entre as questões abordadas estão as lutuações do paleoclima e suas inluências na dinâmica da vegetação, a teoria dos refúgios lorestais e a interação entre os biomas Mata Atlântica e Amazônia no passado. Abordagem interdisciplinar A interpretação paleoambiental é favorecida quando diferentes ferramentas são utilizadas em conjunto, pois os resultados obtidos se complementam. Dessa forma, o presente trabalho baseia-se em uma abordagem interdisciplinar com o emprego das ferramentas analíticas descritas a seguir de modo resumido. Datação 14C O isótopo radioativo 14C (meia-vida de 5.730 ± 30 anos) é formado naturalmente na alta atmosfera. Uma vez formado na atmosfera o 14C é convertido em CO2 e entra no ciclo global do carbono, juntamente com os isótopos estáveis 12C e 13C. Nesse ciclo, o carbono é incorporado aos organismos vivos pela fotossíntese e pela cadeia alimentar. Enquanto a planta ou o animal vivem, 72 continuamente incorporam os diferentes isótopos de carbono aos seus tecidos, mantendo constante a sua relação 14C/12C. Todavia, com a morte do organismo cessa a incorporação de carbono. A partir desse momento somente a desintegração radioativa ocorrerá, o que resulta, ao longo do tempo, na redução do conteúdo de 14C na matériaorgânica restante. O método de datação por 14C fundamenta-se na mensuração da quantidade do isótopo radioativo restante na amostra. A partir dessa mensuração é possível calcular o tempo decorrido desde a morte do organismo. Por apresentar meia-vida relativamente curta, o 14C permite a datação de amostras de até cerca de 57 mil anos (Libby et al., 1949). A medição da quantidade de 14C em uma amostra pode ser realizada pela mensuração da radioatividade emitida pelos átomos restantes, como, por exemplo, na cintilação líquida (Pessenda & Camargo, 1991). Nessa técnica, quanto menor a radioatividade detectada, menor a quantidade de 14C. Mais recentemente, a datação 14C passou também a ser realizada pela técnica de accelerator mass spectrometry (AMS). Essa técnica se baseia na contagem dos átomos de 14C presentes na amostra. Em comparação com a técnica de cintilação líquida, a técnica de AMS permite a datação de amostras um pouco mais antigas, menores e com menor margem de erro. Em meados do século XX, os cientistas veriicaram que nem sempre as idades obtidas pela datação 14C correspondiam às idades reais conhecidas de algumas amostras. Esses desvios foram atribuídos a alterações na relação 14C/12C do CO2 da atmosfera do passado, causadas por perturbações no luxo de raios cósmicos para a atmosfera terrestre. Com essa descoberta foram iniciados os trabalhos de calibração da idade 14C com os anos de calendário (Stuiver et al., 1998). Uma das fontes de comparação das idades 14C com os anos de calendário são os anéis de crescimento de árvores, estudados pela dendrocronologia. As idades não calibradas 14C são expressas pela unidade anos antes do presente (anos AP), enquanto que as respectivas idades calibradas são expressas pela unidade anos calendário antes do presente (anos cal. AP). BUSO JR. ET AL. A partir dos anos de 1950 e 1960, os testes nucleares realizados pelos Estados Unidos e pela União Soviética causaram o aumento da concentração de 14C na atmosfera. Em janeiro de 1963, a concentração de 14C atmosférico havia dobrado em relação ao período anterior aos testes nucleares. Como consequência da alteração na relação 14C/12C causada pelo 14C de origem antrópica, as idades obtidas pela datação 14 C consideram o ano de 1950 como o presente (Godwin, 1962). Análises de carbono e nitrogênio O uso das composições elementar e isotópica do carbono e do nitrogênio em estudos paleoecológicos se baseia na determinação da origem da matéria- PALEOECOLOGIA orgânica preservada em sedimentos e no peril dos solos, a qual pode ser originária de diversas fontes, conforme ilustrado na Tabela 1. O emprego das análises isotópicas e elementares de carbono e nitrogênio em estudos paleoambientais tem permitido a reconstituição da dinâmica da vegetação, sobretudo do ecótono loresta-campo, com base nos distintos sinais isotópicos da matéria-orgânica originada de plantas de diferentes ciclos fotossintéticos (C3 e C4), com as respectivas inferências peleoclimáticas (Boutton, 1991; Pessenda et al., 2004; 2009). As diferenças isiológicas existentes entre as plantas C3 e C4 possuem implicações ecológicas, na medida em que constituem adaptações a condições ambientais distintas, sendo as plantas de ciclo C4 Figura 1: Distribuição dos biomas Amazônia e Mata Atlântica e localização dos estudos paleoecológicos mencionados no texto. 73 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Tabela 1: Características elementares e isotópicas das diferentes fontes de matéria orgânica. Fonte da matéria-orgânica Plantas vasculares C3 Plantas vasculares C4 C/N d13C d15N ≥20 entre -33‰ e -22‰ ≈ +1‰ ≥20 entre -17‰ e -9‰ ≈ +1‰ Fitoplâncton de água-doce entre 4 e 10 entre -33‰ e -22‰ ≈ +8‰ Fitoplâncton marinho entre 4 e 10 ≈ -21‰ ≈ +8‰ Fonte: Rau et al. (1989); Boutton (1991); Meyers (2003); Wilson et al. (2005). (principalmente espécies das famílias Poaceae e Cyperaceae) normalmente mais adaptadas a ambientes mais quentes e menos úmidos. Análises palinológicas O registro palinológico pode fornecer a história da dinâmica da vegetação de um determinado local por meio da identificação e contagem dos grãos de pólen e esporos preservados em sedimentos. Dessa forma, a palinologia permite a inferência das mudanças climáticas da região durante o período analisado, pois o clima é um dos importantes fatores determinantes da distribuição da vegetação (von Post, 1946; Colinvaux et al., 1999). A informação obtida com base no registro palinológico é tanto mais aprofundada quanto maior for o conhecimento sobre a ecologia e a distribuição geográfica das espécies presentes nesse registro e o estudo da precipitação polínica moderna permite a caracterização do conjunto de grãos de pólen e esporos produzidos e depositados por ecossistemas terrestres atuais, tornando mais aprofundada a interpretação do registro da sucessão da vegetação no passado. MATERIAL E MÉTODOS Local de estudo e coletas realizadas De acordo com IBGE (1987), a cobertura vegetal natural da região nordeste do estado do Espírito Santo é representada, principalmente, pela Floresta Ombróila Densa das Terras Baixas (Floresta de Tabuleiros), mas outros tipos de vegetação natural também estão presentes na área da Reserva Natural Vale e em suas proximidades, tais como as Formações Pioneiras com inluência 74 marinha (vegetação de restinga), luviomarinha (manguezais) e luvial (matas aluviais e brejos). Além dessas, intercaladas na Floresta de Tabuleiros ocorrem formações vegetais distintas da matriz lorestal dominante: as comunidades vegetais de muçununga, as quais ocorrem sobre manchas de Espodossolo e apresentam isionomias desde campestres até lorestais (Meira Neto et al., 2005). As comunidades de muçununga com isionomia campestre são algumas vezes denominadas por “campos nativos”, tal como em Peixoto & Gentry (1990). Estudos realizados por Saporetti-Junior et al. (2012) mostraram que a composição lorística e a estrutura das diferentes comunidades de muçununga se relacionam às características do solo, tais como o tamanho dos grãos de areia e a profundidade do horizonte B espódico, pois tais características determinam maior ou menor grau de algamento durante períodos chuvosos e maior ou menor estresse hídrico na estação seca. O material analisado foi um testemunho sedimentar coletado na Lagoa Canto Grande (Figura 2), a qual é formada por drenagens que se originam em áreas localizadas no extremo sul da Reserva Natural Vale. A vegetação do entorno da lagoa apresenta-se bastante alterada pela ação humana, sendo que somente pequenos trechos a noroeste apresentam cobertura de vegetação natural, constituída principalmente por Floresta de Tabuleiros e muçunungas herbáceas. A lagoa apresenta profundidade máxima de cerca de cinco metros e faz limite com cordões litorâneos de origem pleistocênica a leste (IBGE, 1987). Para a coleta do sedimento da Lagoa Canto Grande foi utilizado amostrador de pistão (Livingstone, 1955) montado sobre plataforma lutuante (Colinvaux et al., 1999). No laboratório, BUSO JR. ET AL. PALEOECOLOGIA Figura 2: Lagoa Canto Grande: vista aérea, mostrando a lagoa (1), algumas drenagens que alimentam a lagoa (2), o Nativo da Gávea, área de vegetação de muçununga herbácea (3), e os cordões litorâneos pleistocênicos (4). A estrela marca o local de coleta do testemunho sedimentar (19°16’01,4’’S; 39°56’41,9’’W). os tubos coletores com o testemunho sedimentar em seu interior foram abertos longitudinalmente em duas metades para a retirada das subamostras a cada dois centímetros. Datação C O procedimento adotado nos pré-tratamentos físico e químico das amostras de sedimento lacustre (Tabela 2) consistiu na remoção manual de macrofragmentos contaminantes seguido de hidrólise ácida (HCl 4%, temperatura de 60 °C, durante 4 horas), conforme Pessenda et al. (2008). As amostras foram submetidas à combustão a 600 °C na linha de síntese de benzeno do Laboratório 14C do CENA/USP para obtenção do CO2, o qual foi encapsulado a vácuo e encaminhado para datação AMS na Universidade da Geórgia, Estados Unidos ou para o Laboratório AMS da Universidade Federal Fluminense. Os resultados obtidos (em anos AP) foram calibrados de acordo com Hogg et al. (2013) e são expressos em anos cal. AP, em intervalos com erro de 2s. As idades calibradas das amostras foram utilizadas para a construção de uma cronologia no software Tilia, versão 1.7.16 (Grimm, 1992), 14 com base em interpolação linear. Essa cronologia foi utilizada para a interpolação e extrapolação das idades de amostras não datadas. Análises de carbono e nitrogênio Os resultados das análises isotópicas de carbono e de nitrogênio são expressos pela unidade relativa “d”, determinada em relação aos padrões internacionais VPDB e ar atmosférico, conforme mostrado nas equações 1 e 2: (1) Onde R = 13C/12C para a razão isotópica do carbono. (2) Onde R = nitrogênio. 15 N/14N para a razão isotópica do As análises elementares envolvem a mensuração do carbono orgânico total (COT) e do nitrogênio total (N total), expressos em porcentagem do peso seco da amostra. Através desses valores foram 75 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE também calculados valores de C/N para amostras de sedimento. As análises foram realizadas no Laboratório de Isótopos Estáveis do CENA-USP, em espectrômetro de massas ANCA GSL, com uma precisão de 0,1% e 0,02%, respectivamente. O procedimento adotado no pré-tratamento das amostras utilizadas para análises isotópicas e elementares é baseado em métodos descritos em Pessenda et al. (1996). O testemunho sedimentar foi submetido às análises de C e N a cada dois centímetros. Das amostras de sedimento foram retirados raízes e outros fragmentos vegetais contaminantes. Em seguida, as amostras foram secas em estufa a cerca de 50 °C. Foram utilizadas massas entre 3 e 21 mg para análise de carbono, e entre 21 e 69 mg para análise de nitrogênio. arbóreos/arbustivos, herbáceos e indeterminados e é a base para o cálculo das porcentagens. A identiicação dos grãos de pólen e esporos foi realizada com base na coleção de referência do Laboratório 14C do CENA/USP. Os cálculos de porcentagem, concentração e taxa de acumulação polínica, bem como a construção dos diagramas, foram realizados com o uso do software Tilia, versão 1.7.16 (Grimm, 1992). Para análise de agrupamentos foi utilizado o software CONISS (Grimm, 1987). A interpretação dos dados palinológicos foi auxiliada pela caracterização da precipitação polínica moderna da área de estudo realizada por Buso Jr. (2015). Palinologia O tratamento polínico utilizou um centímetro cúbico de cada subamostra sedimentar e foi baseado no método apresentado por Colinvaux et al. (1999), com adição de pastilhas de Lycopodium exótico (Benninghoff, 1962), dissolução de sílica com HF, remoção de matéria-orgânica com KOH 5% e acetólise. O resíduo inal foi montado em lâminas de microscopia de luz com o uso de glicerina líquida como meio de montagem. A contagem consistiu na leitura de pelo menos três lâminas para cada subamostra analisada, até a totalização de no mínimo 200 grãos de táxons arbóreos ou arbustivos. A soma de pólen inclui tipos Datações 14C A Tabela 2 apresenta os resultados das datações realizadas no testemunho. As idades obtidas para o testemunho sedimentar LCGB da Lagoa Canto Grande variaram de 9.586±72 anos AP (11.157-10.607 anos cal. AP) a 133 cm de profundidade, a 690±25 anos AP (660-559 anos cal. AP) a 3 cm de profundidade e não foram observadas inversões. RESULTADOS E DISCUSSÃO Análise de C e N Os resultados das análises de carbono e nitrogênio realizadas no testemunho LCGB são apresentados na Figura 3. Inicialmente esses resultados são Tabela 2: Resultados das datações 14C realizadas no testemunho LCGB da Lagoa Canto Grande Amostra Prof. (cm) Código do Laboratório Idade 14C (anos AP) Idade calibrada 2s (anos cal. AP) Média (anos cal. AP) LCGB02-04 02-04 UGAMS15856 690±25 660-559 610 LCGB22-24 22-24 LACUFF140160 1841±43 1830-1595 1713 LCGB48-50 48-50 LACUFF140161 4804±149 5887-5044 5466 LCGB60-62 60-62 UGAMS15857 6140±30 7156-6859 7008 LCGB64-66 64-66 LACUFF140162 7768±56 8601-8405 8503 LCGB68-70 68-70 UGAMS15858 8120±35 9126-8779 8953 LCGB78-80 78-80 LACUFF140163 9105±67 10475-9930 10203 LCGB92-94 92-94 UGAMS15859 9200±40 10482-10230 10356 LCGB124-126 124-126 UGAMS15860 9490±40 11062-10562 10812 LCGB132-134 132-134 LACUFF140164 9586±72 11157-10607 10882 Fonte: UGAMS: Laboratório AMS da Universidade da Geórgia; LACUFF: Laboratório AMS da Universidade Federal Fluminense. 76 BUSO JR. ET AL. apresentados e discutidos somente com referência à profundidade. Posteriormente, quando da discussão conjunta com a palinologia, são feitas as referências com relação às idades calibradas. Os valores de COT variaram entre 0,01 e 37,19%, com a maior parte do testemunho apresentando valores entre 0,58% e 10,94%, com um único intervalo, entre 79 e 65 cm, com valores consistentemente mais elevados (23,55-37,19%). Os valores de Ntotal variaram entre 0,08 e 1,73%. De um modo geral, valores mais elevados são observados em dois intervalos: entre 135 e 105 cm (0,28-1,73%) e entre 79 e 65 cm (0,671,16%). As menores concentrações de nitrogênio total ocorrem entre 103 e 87 cm (0,08-0,34%). Há uma tendência geral de aumento das concentrações de nitrogênio a partir de 40 cm até o topo. PALEOECOLOGIA A composição isotópica de carbono variou entre -31,89 e -26,46‰. De um modo geral podem ser distinguidos dois intervalos: o primeiro, entre 135 e 63 cm, apresenta valores mais enriquecidos (de -27,51 a -29,00‰); o segundo intervalo, entre 61 cm e o topo, apresenta valores mais empobrecidos (de -29,71‰ a -31,89‰). Os valores de C/N variaram de 0,34 a 333. Com exceção das amostras 135 cm, 93 cm e 51 cm, que apresentaram valores extremos (0,34, 333 e 0,03, respectivamente), as demais amostras podem ser agrupadas em dois intervalos com valores bastante distintos: de 135 a 105 cm os valores de C/N mostraram-se bastante baixos, variando de 2,16 a 4,46; o segundo intervalo, de 103 cm ao topo, apresenta C/N com valores mais elevados, de 17,37 a 54,67. Figura 3: Análises isotópicas e elementares de C e N no testemunho LCGB. 77 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Esses dois principais intervalos deinidos com base nas diferenças de C/N podem ser relacionados a distintas fontes da matéria orgânica sedimentar, de acordo com Wilson et al. (2005). No intervalo de 135 a 105 cm, os baixos valores de C/N (2,16 a 4,46), juntamente com os valores do d13C (-28,35‰ a -29,00‰), indicam aporte de carbono orgânico particulado (COP) de água-doce e matéria-orgânica originada de bactérias (Figura 4). O segundo intervalo, de 103 cm ao topo, com maiores valores de C/N (17,37 a 54,67) e valores mais empobrecidos de d13C (-27,51‰ a -31,89‰), indicam matéria-orgânica originada principalmente de plantas vasculares C3. Os valores de d15N variaram de -0,42‰ a +4,43‰ ao longo do testemunho. De 133 a 77 cm, o d15N variou de +0,85‰ a +3,70‰, com algumas lutuações. De 77 a 65 cm, o d15N apresentou valores mais empobrecidos, de -0,42‰ a +0,68‰. Por im, a partir de 63 cm, o d15N apresenta tendência de enriquecimento isotópico, com valores de +1,52‰ a + 4,43‰. O d15N permite um reinamento da interpretação dos dois intervalos discernidos com base nos valores de C/N. As amostras com valores mais enriquecidos de d15N no intervalo de 135 a 80 cm podem indicar a mistura de COP originado de itoplâncton de água doce (Tabela 1). Os valores mais empobrecidos de d15N entre 77 cm e 65 cm (-0,42 a +0,68‰), indicam que a matéria orgânica depositada apresenta maior participação relativa de plantas vasculares C3 do que aquela depositada entre 63 cm e o topo, onde a participação do carbono originado de itoplâncton de água doce é maior. Palinologia A Figura 5 apresenta o diagrama polínico de porcentagens do testemunho LCGB. A Figura 6 apresenta fotograias de grãos de pólen de alguns dos táxons mencionados ao longo do texto. A análise palinológica do testemunho LCGB Figura 4: C/N e d13C das amostras do testemunho LCGB. Círculos claros indicam as amostras de 135 a 105 cm; círculos escuros indicam as amostras de 103 a 1 cm. Os intervalos representativos das diferentes fontes de matéria-orgânica são baseados em Wilson et al. (2005). A amostra 93 cm (C/N = 333) não é apresentada no gráico. COP (carbono orgânico particulado); COD (carbono orgânico dissolvido). 78 BUSO JR. ET AL. apresenta predomínio de grãos de pólen de táxons arbóreos/arbustivos (21-77%) e herbáceos (13-73%). Esporos de pteridóitas apresentam frequências entre 2% e 15% e tipos aquáticos apresentam frequências bastante baixas, entre 0% e 2%. As porcentagens de grãos de pólen indeterminados variaram entre 6% e 18%. A análise de agrupamentos realizada pelo CONISS, com base nas contagens dos tipos arbóreos/arbustivos e herbáceos (com exceção de Poaceae e Cyperaceae), permitiu dividir o registro palinológico do testemunho LCGB em três zonas polínicas. Zona polínica LCGB-I (135-77 cm; 111659976 anos cal. AP) Intervalo com predomínio de táxons arbóreos/ arbustivos (37-66%), seguido por táxons herbáceos (17-51%), esporos de pteridóitas (5-15%) e ervas aquáticas (0-1%). Grãos indeterminados variaram de 9% a 18%. Os táxons arbóreo/arbustivos mais frequentes na Zona LCGB-I são Melastomataceae/Combretaceae (11-18%), Myrtaceae (2-15%), Calophyllum (111%), Cecropia (4-7%), Urticaceae/Moraceae (25%), Doliocarpus (1-5%), Ilex (1-2%), Acalypha (0-3%), Gallesia (0-2%), Pera, (0-2%), Rapanea (0-2%), Symplocos (0-2%) e Trema (0-2%). Entre os táxons herbáceos, os mais frequentes são Poaceae (7-27%), Cyperaceae (3-20%) e Asteraceae (3-8%). Esporos terrestres são representados principalmente por monoletes psilados (1-10%), Cyatheaceae (0-4%) e triletes (0-3%). Quando os resultados são comparados com o sinal polínico característico de Floresta de Tabuleiros, conforme o estudo de precipitação polínica moderna apresentado em Buso Jr. (2015), veriicase que com exceção de Celtis, Chrysophyllum, Eriotheca, Ficus, Malpighiaceae, Pera e Sapium, os demais táxons considerados indicadores da Floresta de Tabuleiros estão ausentes ou ocorrem em frequências demasiadamente baixas. No caso especíico de Urticaceae/Moraceae, as frequências encontradas (2-5%) são bastante inferiores àquelas obtidas nos coletores artiiciais localizados dentro da Floresta de Tabuleiros (12%) de Linhares. O intervalo LCGB-I diferencia-se das demais zonas polínicas pela presença, ou maior frequência, de táxons característicos de loresta aluvial, PALEOECOLOGIA tais como Calophyllum, Symphonia, Croton, Macrothumia e Pera (Rolim et al., 2006), táxons encontrados na restinga de Camburi (Pereira & Assis, 2000), tais como Croton, Dodonaea, Doliocarpus, Pera, Polygalaceae, Stylosanthes e Smilax e táxons ocorrentes em muçunungas e campos nativos da região de Linhares, tais como Hymenolobium e Stylosanthes, conforme exsicatas do herbário da Reserva Natura Vale e Doliocarpus, um importante elemento da precipitação polínica moderna, tanto na área de campo nativo quanto na muçununga (Buso Jr., 2015). As altas porcentagens de Asteraceae (3-8%), Cyperaceae (3-20%) e Poaceae (7-27%) são mais ou menos similares àquelas obtidas na precipitação polínica moderna da vegetação de campo nativo (Asteraceae = 5%; Cyperaceae = 10%; Poaceae = 14%). Contudo, as frequências um pouco mais elevadas desses táxons, principalmente Cyperaceae, podem também estar relacionadas a espécies que habitam áreas temporariamente alagáveis (Buso Jr., 2015). Essa interpretação sobre a ocorrência de alagamentos temporários é corroborada pelos resultados das análises de carbono e nitrogênio, segundo os quais as amostras de 135 a 80 cm indicam matéria orgânica originada de itoplâncton de água doce, com maior participação de plantas C3 a partir de 103 cm. É também corroborada pelas características do sedimento observadas entre 135 e 100 cm, onde as intercalações de argila/ silte e areia indicariam mudanças na energia hídrica, talvez resultado de eventos de transbordamento das drenagens em períodos mais chuvosos. A baixa frequência de táxons aquáticos, representados principalmente por Typha e Potamogetom, pode indicar que os alagamentos eram de curta duração, ou também que esses táxons ocupavam áreas relativamente reduzidas. Pereira & Assis (2000), em seu levantamento lorístico em vegetação de restinga no município de Vitória/ES, distinguiram três comunidades: (i) mata seca, composta por vegetação lorestal de porte entre 5 e 10 metros, estrato arbóreo com muitas espécies de Myrtaceae, estrato herbáceo com presença de Bromeliaceae, Capparis e outros; (ii) formação aberta de Ericaceae, relacionada a áreas com lençol freático próximo à superfície, é composta por arbustos e pequenas árvores de até 4 metros de altura organizados em moitas, 79 80 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Figura 5: Diagrama polínico de porcentagem do testemunho LCGB coletado na Lagoa Canto Grande BUSO JR. ET AL. PALEOECOLOGIA Figura 6: Exemplos de alguns grãos de pólen encontrados no testemunho LCGB. Prancha 1: Bonnetiaceae: Bonnetia (1): Calophyllum (2); Dilleniaceae: Doliocarpus (3); Euphorbiaceae: Glycydendron (4); Senefeldera (5); Fabaceae: Macrolobium (6); Parkia – fragmento (7); Icacinaceae: Pleurisanthes (8); Salicaceae: Macrothumia (9); Sapindaceae: Dodonaea (10); Violaceae: Rinorea (11). 81 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE representados por Byrsonima sericea, Humiria balsamifera e outros; (iii) brejo herbáceo, onde a drenagem é deiciente, com predomínio de Poaceae e Cyperaceae, além de Tibouchina urceolaris (Melastomataceae), Sauvagesia erecta e Cuphea sessilifolia. Assim, os dados polínicos obtidos para o intervalo LCGB-I seriam compatíveis com a presença de um ecossistema misto de mata seca de restinga, formação aberta de Ericaceae e brejo herbáceo, com a distribuição espacial dessas comunidades dependente da altitude e da frequência e duração dos alagamentos. Esses resultados sugerem que durante a zona polínica LCGB-I, a vegetação na região da Lagoa Canto Grande era distinta da atual. A ausência ou a baixa frequência da maioria dos tipos polínicos de Floresta de Tabuleiros, tais como Urticaceae/ Moraceae, Sapotaceae, Rinorea, Caryocar, Glycydendron, Hydrogaster, Senefeldera, Virola e outros, indicam que esse tipo de vegetação não ocorria nas proximidades. A presença de táxons de loresta aluvial, de restinga, e de campos nativos e muçunungas sugere que esses eram os principais tipos de vegetação presentes no intervalo aproximado de 11.200 a 10.000 anos cal. AP. Com base em estudo palinológico da Lagoa Durão, localizada ao sul da Lagoa Canto Grande, Nascimento (2012) também observou o predomínio de vegetação herbácea durante o período entre o UMG e o início do Holoceno, com a expansão da vegetação lorestal a partir do Holoceno inferior. A presença da vegetação de restinga, de campos nativos e muçunungas durante a zona polínica LCGB-I pode ser explicada com base na geomorfologia e distribuição dos solos atuais. A Lagoa Canto Grande é formada por dois cursos de água principais, as quais drenam grandes áreas de campos nativos e muçunungas a oeste da lagoa (Figura 2). Os dados de datação 14C obtidos no Nativo da Gávea, próximo a área de estudo (Figura 2), sugerem que essa área de Espodossolo existe há pelo menos 14.000 anos (Buso Jr., 2015), portanto, deveria suportar vegetação de campo nativo e muçununga no início da zona polínica LCGB-I. A leste, a lagoa faz limite com cordões litorâneos de origem pleistocênica (Figura 2), os quais poderiam ter suportado vegetação semelhante a restingas e campos nativos durante essa zona polínica. 82 Por sua vez, a vegetação de loresta aluvial presente na zona polínica LCGB-I deveria ocupar áreas marginais às drenagens. Entretanto, as frequências dos táxons representativos desse tipo de vegetação sugerem que essas áreas seriam então mais amplas, provavelmente ocupando áreas que hoje encontram-se permanentemente alagadas. A ausência de sinal polínico representativo da Floresta de Tabuleiro sugere que esse tipo de vegetação encontrava-se a maior distância do local de estudo. Sabe-se que atualmente, na região de Linhares, esse tipo de vegetação ocorre principalmente sobre os Argissolos. Estudos realizados na Reserva Natural Vale (Buso Jr. et al., 2013) não evidenciaram mudança no sinal do d13C da matéria-orgânica dos Argissolos, indicando uma cobertura constante de plantas C3 durante os últimos 17 mil anos, não havendo indicação clara de expansão de áreas de savanas na região. Portanto, a ausência do sinal polínico da Floresta de Tabuleirosdurante a zona polínica LCGB-I, em conjunto com os valores indicativos de plantas C3 na matéria-orgânica do solo, pode ser interpretada como a ocupação das áreas de Argissolo no entorno da lagoa por uma vegetação com estrutura lorestal, mas com diferente composição de espécies. Zona polínica LCGB-II (77-63 cm; 9.9767.725 anos cal. AP) O intervalo apresenta predomínio de grãos de pólen de táxons herbáceos (41-73%), seguidos de táxons arbóreos e arbustivos (21-48%), esporos de pteridóitas (5-7%) e tipos aquáticos (02%). Grãos de pólen indeterminados apresentam frequências de 6% a 11%. Os tipos herbáceos mais frequentes são Cyperaceae (17-29%), Poaceae (16-24%), Cuphea (3-12%), Asteraceae (2-3%), Sauvagesia (2-4%) e Actinocephalus/Paepalanthus (0-1%). Entre os tipos arbóreos e arbustivos, os táxons mais frequentes na Zona LCGB-II são Melastomataceae/Combretaceae (8-11%), Myrtaceae (1-9%), Urticaceae/Moraceae (46%), Cecropia (1-5%), Ilex (0-3%), Alchornea/ Aparisthmium (0-2%), Rapanea (0-2%), Simarouba (0-2%) e Trema (0-2%). Esporos de pteridóitas são representados em sua maioria por monoletes psilados (1- BUSO JR. ET AL. 3%), Cyatheaceae (0-3%), triletes (0-3%) e Lycopodiella (0-2%). Além das altas frequências de Cyperaceae e Poaceae, a zona polínica LCGB-II é também caracterizada pela presença ou maior frequência de Croton, Hymenolobium, Actinocephalus/ Paepalanthus, Cuphea e Sauvagesia. Os táxons caracterizadores da vegetação de Floresta de Tabuleiros continuam ausentes ou raros, com exceção de Celtis, Caryocar, Chrysophyllum, Eriotheca, Ficus, Malpighiaceae, Schoepfia, Senefeldera e Simarouba. Todos os tipos polínicos, com exceção de Rhizophora e Actinocephalus/Paepalanthus, apresentam redução na taxa de acumulação polínica quando da transição da zona LCGB-I para LCGB-II. De acordo com o trabalho de Gosling et al. (2009) PALEOECOLOGIA e os resultados obtidos no estudo da precipitação polínica moderna apresentados em Buso Jr. (2015), há uma relação entre a estrutura da vegetação e a taxa de acumulação polínica. Assim, as baixas taxas de acumulação polínica encontradas nos grupos arbóreo/ arbustivos, herbáceos, esporos e indeterminados, durante a zona LCGB-II (Figura 7) podem indicar uma vegetação mais aberta que na zona LCGB-I. De acordo com os registros do Herbário da Reserva Natural Vale, os tipos Hymenolobium, Actinocephalus/Paepalanthus, Cuphea e Sauvagesia representam espécies que atualmente ocorrem em campos nativos, muçunungas e restingas na região nordeste do Espírito Santo. Pereira & Assis (2000) veriicaram o predomínio de Poaceae, Cyperaceae, Melastomataceae, Sauvagesia e Cuphea em comunidade de brejo herbáceo de restinga, em Figura 7: Taxas de acumulação polínica dos diferentes grupos do testemunho LCGB. 83 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Vitória/ES. Dessa forma, a zona polínica LCGB-II seria caracterizada pela presença de comunidades de campos nativos, muçunungas e brejo herbáceo de restinga, em um ecossistema caracterizado por uma vegetação predominantemente aberta, com predomínio de Cyperaceae e Poaceae. Essa interpretação é corroborada pela análise de C e N, segundo a qual o intervalo entre 79 e 65 cm apresenta maiores valores de COT e Ntotal, indicando maior acumulação de matéria-orgânica, valores de d13C e C/N típicos de plantas C3 e valores de d15N menos enriquecidos, indicando maior importância relativa de matéria orgânica de plantas vasculares. Essas características da matéria orgânica são compatíveis com um ambiente redutor, em razão da maior duração ou frequência de alagamentos com grande aporte de matéria orgânica originada principalmente de gramíneas e ciperáceas C3. Frequências baixas de grãos de pólen de Rhizophora começam a aparecer a partir da metade superior da zona polínica LCGB-II (67 cm, cerca de 8.750 anos cal. AP). Pelas suas baixas frequências, tais grãos de pólen devem ter sido transportados desde longas distâncias e devem estar relacionados à instalação de manguezais ao leste da planície costeira, em resposta à elevação do nível relativo marinho holocênico. Estudo realizado nessa planície costeira por França et al. (2013) mostra a ocorrência de manguezais compostos principalmente por Rhizophora desde 8.050 anos cal. AP. A elevação do nível relativo marinho durante o Holoceno pode ter sido uma das causas da mudança de vegetação observada entre as zonas polínicas LCGB-I e LCGB-II, levando a uma subida do nível de base, tornando o lençol freático mais próximo à superfície e tornando alagáveis as áreas ocupadas pelas restingas secas. Isso possibilitou a expansão das restingas alagadas semelhantes àquelas descritas por Pereira & Assis (2000). Zona polínica LCGB-III (63-00 cm; 7.725-409 anos cal. AP) Zona polínica com predomínio de tipos arbóreos e arbustivos (62-77%). Táxons herbáceos apresentam frequências menores que aquelas das zonas polínicas anteriores (13-26%). Esporos de pteridóitas apresentam frequências de 2% a 8%, 84 enquanto que os tipos aquáticos variam de 0% a 2%. Grãos indeterminados correspondem de 7% a 15% da soma de pólen. Os táxons arbóreos e arbustivos mais frequentes nessa zona polínica são Urticaceae/Moraceae (1020%), Myrtaceae (8-13%), Cecropia (2-14%), Alchornea/Aparisthmium (3-9%), Ilex (3-8%), Melastomataceae/Combretaceae (2-7%), Rapanea (1-5%), Anacardiaceae (1-3%), Arecaceae (05%), Ficus (0-3%), Gallesia (0-3%), Trema (0-3%), Araliaceae (0-2%), Celtis (0-2%), Coussapoa (0-2%), Doliocarpus (0-2%), Eriotheca (0-2%), Proteaceae/ Sapindaceae (0-2%) e Simarouba (0-2%). Táxons herbáceos terrestres são representados por Cyperaceae (5-16%), Poaceae (2-9%) e Asteraceae (0-2%). Os mais frequentes esporos de pteridóitas são monoletes psilados (0-4%), Polypodiaceae (0-2%) e triletes (0-2%). O conjunto polínico da zona LCGB-III mostra a expansão da vegetação de Floresta de Tabuleiros, pois com exceção de Banara, Garcinia, Guettarda, Moldenhawera, Pachira, Pseudobombax, Rourea, Salacia, Sapium, Stephanopodium, Sterculia e Vismia, os demais tipos indicadores desse ecossistema, de acordo com os dados da precipitação polínica moderna obtidos por Buso Jr., 2015, estão presentes e ocorrem em maiores frequências. São observados aumentos nas taxas de acumulação polínica principalmente nos grupos arbóreos/arbustivos e indeterminados que podem indicar a expansão de vegetação com estrutura lorestal (Figura 7). Os táxons indicativos das comunidades de restinga, campo nativo e muçununga (Dodonaea, Doliocarpus, Hymenolobium, Sauvagesia, Cuphea, Actinocephalus/Paepalanthus, Stylosanthes e Polygalaceae) tornam-se raros ou ausentes, indicando uma retração na área ocupada por esses ecossistemas. As frequências de Croton, Calophyllum, Macrothumia, Symphonia, táxons indicativos de lorestas aluviais, permanecem baixas, sugerindo que esse tipo de vegetação não apresentou expansão. A ausência de expansão da mata aluvial pode ser explicada pela instalação de um ambiente lacustre. As áreas mais deprimidas, que durante a zona LCGB-I eram marginais ao curso d’água e abrigavam a mata aluvial, estariam BUSO JR. ET AL. agora permanentemente alagadas. As análises de C e N sugerem uma tendência de aumento da participação de matéria orgânica originada de itoplâncton de água doce, principalmente a partir de 40 cm (~4.200 anos cal. AP), o que corroboraria a hipótese de formação de uma lagoa. O registro de táxons com disjunção amazônica no testemunho LCGB Alguns autores sugerem que a ocorrência de táxons disjuntos entre a Amazônia e a Mata Atlântica pode ser explicada por conexões entre esses dois biomas durante períodos de climas mais úmidos do Terciário e do Quaternário, quando lorestas poderiam ter se expandido sobre as atuais áreas dos biomas Cerrado e Caatinga (Mori & Prance, 1981; Delprete, 1999; Santos et al., 2007). Alguns estudos paleoecológicos sugerem a expansão de isionomias lorestais nesses biomas durante o Pleistoceno superior e o Holoceno inferior (Ledru, 1993; Ledru et al., 2001; de Oliveira et al., 1999). Táxons arbóreos e arbustivos tipicamente amazônicos, atualmente com distribuição disjunta entre a Amazônia e a Mata Atlântica, estão presentes no registro polínico do testemunho LCGB somente a partir de cerca de 8.500 anos cal. AP (Prancha 1): Senefeldera (8.500 anos cal. AP); Bonnetia e Rinorea (7000 anos cal. AP); Glycydendron (3200 anos cal. AP); Parkia e Pleurisanthes (1200 anos cal. AP); Macrolobium (700 anos cal. AP). Esse registro é um pouco mais antigo que aquele apresentado por Buso Jr. et al. (2013), que observaram a ocorrência de táxons com disjunção amazônica desde cerca de 7.500 anos cal. AP na região nordeste do Espírito Santo. A não observação desses táxons no intervalo entre 11.200 e 8.500 anos cal. AP no testemunho LCGB provavelmente se relaciona ao fato de que tais táxons, além de raros no sinal polínico, são, em sua maioria, árvores ocorrentes na Mata de Tabuleiro, a qual se localizava mais distante do ponto analisado durante esse intervalo de tempo. Portanto, os resultados obtidos no testemunho LCGB corroboram a hipótese sobre uma conexão entre os biomas Amazônia e Mata Atlântica anterior a 8.500 anos cal. AP, mas não permitem conclusões sobre a presença desses táxons PALEOECOLOGIA amazônicos na região de Linhares anteriormente a essa data. Inferências paleoclimáticas com base no testemunho LCGB As mudanças da vegetação no entorno da Lagoa Canto Grande, indicadas pela palinologia e as características da matéria orgânica preservada no testemunho LCGB, permitem a elaboração de hipóteses sobre lutuações do paleoclima na região nordeste do estado do Espírito Santo. A ausência de tipos indicativos da vegetação de Floresta de Tabuleiro durante a zona polínica LCGB-I (11.165-9.976 anos cal. AP) indica que esse tipo de vegetação não ocorria nos arredores do local estudado. Nessa época, os tipos de vegetação mais abundantes eram a loresta aluvial, os campos nativos, muçunungas e diferentes comunidades de restinga. Entretanto, valores empobrecidos de d13C indicam que não ocorreu expansão de vegetação com predomínio de plantas C4. Além disso, os valores elevados da taxa de acumulação polínica sugerem o predomínio de vegetação com estrutura lorestal. Pode-se então supor que as áreas de Argissolo no entorno do ponto estudado fossem ocupadas por vegetação lorestal com diferente composição de espécies, talvez pela Floresta Estacional Semidecidual. De qualquer forma, esse cenário sugere um clima menos úmido que o atual. Essa interpretação concorda com o estudo da composição isotópica de carbono da matéria orgânica dos solos da região, realizado por Buso Jr. et al. (2013), que indicou o predomínio de plantas C3 desde 17.000 anos cal. AP, com base no qual foi inferido um clima úmido o suiciente para manutenção das lorestas durante esse intervalo. Concorda também com vários estudos de reconstituição paleoambiental realizados em região de Mata Atlântica que indicam clima menos úmido no Holoceno inferior e médio (Behling et al., 2004; Gouveia et al., 2002; Garcia et al., 2004; Pessenda et al., 2004; Ledru et al., 2009), muito embora a região de Linhares aparentemente não experimentou expansão de áreas de campo e savanas com predomínio de plantas C4. As principais mudanças ocorridas na vegetação durante a zona polínica LCGB-II (9.976-7.725 anos cal. AP) são atribuídas à elevação do lençol 85 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE freático, em resposta à subida do nível relativo marinho holocênico e à consequente elevação do nível de base. O clima para esse período deve ter sido similar ao do período anterior, concordando com os trabalhos que inferem clima menos úmido para o Holoceno inferior e médio. Contudo, podese também supor uma inluência de climas mais úmidos sobre a vegetação durante esse período, considerando que Stríkis et al. (2011) veriicaram eventos de intensiicação da monção sul americana na região norte de Minas Gerais a partir de 9.200 anos cal. AP, incluindo um evento há 8.200 anos AP. O registro do aparecimento dos tipos representativos de vegetação de Florestas de Tabuleiro durante a zona polínica LCGB-III (7.725409 anos cal. AP), juntamente com a elevação das taxas de acumulação polínica (Figura 7), sugere expansão da vegetação lorestal de tabuleiros para áreas próximas ao local estudado. Essa expansão pode ter ocorrido em resposta a um clima mais úmido iniciado a partir do Holoceno médio. Com base na composição isotópica de espeleotemas, Cruz Jr. et al. (2005) propõem intensiicação das chuvas de monção durante os últimos 7000 anos, uma possível explicação para a expansão da Floresta de Tabuleiros. O período mais úmido no intervalo de 7000 a 4000 anos cal. AP sugerido por Buso Jr. et al. (2013) com base na palinologia da Lagoa do Macuco, localizada 23 km ao norte da Lagoa Canto Grande, não é observado no testemunho LCGB. Todavia, frequências um pouco mais elevadas de pólen de táxons arbóreos/ arbustivos, concomitantes com os valores mais baixos nas frequências de táxons herbáceos nas amostras de 61 a 41 cm (6.950-4.365 anos cal. AP), devem ser melhor investigadas, pois parecem sugerir um momento com maior importância relativa da vegetação lorestal. menos úmido no Holoceno inferior. Essas áreas de Argissolo possivelmente fossem ocupadas por vegetação lorestal com diferentes estrutura e composição de espécies. A partir de cerca de 7.500 anos cal. AP ocorre expansão das Florestas de Tabuleiro na região da Lagoa Canto Grande, provavelmente ocasionada por um clima mais úmido. A elevação do nível relativo marinho durante o Holoceno pode ter tido importante inluência na dinâmica da vegetação, especialmente em áreas com menor elevação em relação ao nível do mar. A zona polínica LCGB-II da Lagoa Canto Grande indica a expansão das áreas de brejos herbáceos de restinga a partir de cerca de 9.000 anos cal. AP. Essa expansão ocorreu em detrimento das matas secas de restinga e da loresta aluvial, as quais devem ter sido deslocadas pela elevação do nível de base e alagamento das áreas mais baixas. Os táxons com distribuição disjunta entre os biomas Amazônia e Mata Atlântica estão ausentes do registro polínico da Lagoa Canto Grande no intervalo de 11.000-8.500 anos cal. AP. Por ocorrerem, em sua maioria, nas Florestas de Tabuleiros, tais táxons devem ter acompanhado a dinâmica dessa vegetação e estariam localizados mais distantes do ponto estudado. Não há indícios sobre a maior ocorrência de plantas C4 e expansão generalizada de savanas e campos desde os últimos 17.000 anos cal. AP na região de Linhares. Essas observações corroboram a hipótese segundo a qual a região de Linhares foi um refúgio de vegetação lorestal durante os intervalos de clima menos úmido do Pleistoceno tardio. A expansão das Florestas de Tabuleiro nas proximidades da Lagoa Canto Grande permite inferir um clima mais úmido para os últimos ~8.000 anos cal. AP, que pode ter sido causado pela intensiicação das monções de verão. CONSIDERAÇÕES FINAIS AGRADECIMENTOS No intervalo aproximado de 11.000-8.500 anos cal. AP, a vegetação na região da Lagoa Canto Grande era constituída principalmente por lorestas aluviais, muçunungas e restingas de diferentes isionomias. A Mata de Tabuleiros provavelmente não ocorria sobre as áreas de Argissolo próximas ao local estudado, talvez em resposta a um clima 86 À FAPESP (2007/03615-5, 2010/180914, 2011/00995-7) e CNPq (2007-3/471751, 2012-5/470210, 2013-0/405060), pelo apoio inanceiro, ao Luiz Felipe Campos, Alessandro Simplicio e toda a equipe de funcionários da Reserva Natural Vale (RNV), pelo imprescindível apoio BUSO JR. ET AL. logístico, atenção e gentileza e ao Samir Rolim e Renato de Jesus, pelo convite e oportunidade de desenvolver pesquisas na RNV e apoio irrestrito em todas as etapas de nossa convivência. Aos Técnicos LizMary B. de Moraes e Thiago Barrios C. Campos, Laboratório 14C do CENA/USP, pelo apoio na preparação de amostras e análises 14C. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Behling , H. 1997a. Late Quaternary vegetation; climate and ire history from the tropical mountain region of Morro de Itapeva, SE Brazil. Palaeogeography, Palaeoclimatology, Palaeoecology, 129: 407-422. Behling, H. 1997b. 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Em seu domínio, as isionomias lorestais ombróilas e estacionais formam um contínuo de distribuição de espécies arbóreas (OliveiraFilho & Fontes, 2000), onde poucas espécies são amplamente distribuídas, resultando numa elevada heterogeneidade regional (Scudeller et al., 2001) e em altos níveis de endemismos de espécies (Forzza et al., 2012). Contudo, a cobertura da Floresta Atlântica atual é representada por paisagens altamente fragmentadas, onde 71% dos fragmentos possuem menos do que 5 mil ha (Ribeiro et al., 2009). Frente à alta diversidade de espécies e ao estado de fragmentação lorestal, existe um interesse natural dos cientistas em saber quais locais/regiões desse domínio detêm as maiores riquezas de espécies. Desta forma, vários estudos são enfáticos em destacar a elevada riqueza encontrada, mas poucas análises compararam a riqueza local, ou diversidade alfa, entre diferentes locais (Gentry, 1988; Phillips et al., 1994; Oliveira, 2006). No domínio da Floresta Atlântica brasileira, maior diversidade alfa é observada para as lorestas ombróilas, mais próximas ao oceano, quando comparadas a lorestas estacionais, mais interioranas, no estado de São Paulo (Oliveira, 2006). Alguns fatores ambientais que explicam variações na riqueza entre sítios são: precipitação, duração da estação seca e altitude (Gentry, 1988; Phillips et al., 1994; Leigh et al., 2004; Oliveira, 2006). Tabarelli & Mantovani (1999) levantaram a hipótese de que a Floresta Atlântica da Serra do Mar em São Paulo apresenta menor riqueza do que a Floresta Atlântica nos estados do Espírito Santo e Bahia. Provavelmente, o maior viés metodológico que restringe este tipo de comparação é que a riqueza é fortemente dependente do tamanho da amostra e mais espécies são esperadas quanto maior o número de indivíduos amostrados (Gotelli & Colwell, 2001). Portanto, para qualquer comparação entre áreas, o primeiro passo é eliminar o efeito da densidade de indivíduos sobre a riqueza (Phillips et al., 1994; Denslow, 1995; Cannon et al., 1998; Vandermeer et al., 2000; Gotelli & Colwell, 2001). De posse de um banco de dados mais atualizado e de análises sobre a riqueza de espécies menos enviesadas, neste trabalho perguntamos: as lorestas do norte do Espírito Santo e sul da Bahia são mais ricas em espécies arbóreas do que outras lorestas do sul e sudeste do Brasil? 91 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE METODOLOGIA Para responder à pergunta selecionamos da literatura 100 levantamentos itossociológicos na Floresta Atlântica (Figura 1). Os levantamentos foram divididos em quatro grupos itoisionômicos: 17 em Floresta Ombróila Mista, 38 em Floresta Estacional Semidecidual (principalmente de MG e SP), 31 em Florestas Ombróilas (de SP e RJ) e 14 nas Florestas do sul da Bahia e norte do Espírito Santo (Florestas Ombróilas na BA e Floresta Estacional Perenifólia no norte do ES). O município de Santa Teresa, um pouco ao sul do rio Doce foi incluído na região norte do Espírito Santo. Não incluímos áreas do nordeste porque não tivemos acesso a uma quantidade razoável de áreas para análise. Quando algum estudo realizou os levantamentos em fragmentos vizinhos, os dados podem ter sido considerados como uma amostragem única para aumentar o número de indivíduos amostrados (p.ex., Pessoa & Oliveira, 2006, 3 fragmentos com 600 m de distância aproximada entre si). A primeira análise consistiu na estimação da riqueza média para amostras de 500 indivíduos (S500), retirados de cada um dos 100 levantamentos, através do método de rarefação (Phillips et al., 1994). A análise foi feita com o Software EcoSim 7.0, com 1.000 reamostragens por levantamento (Gotelli & Entsminger, 2001). Valores estimados de S500 foram normalizados por meio de transformação por raiz quadrada e submetidos à análise de variância para comparação da média entre os quatro grupos isionômicos, sendo utilizado o teste de Tukey. Para esta análise utilizamos o Programa SAS (Statistical Analysis System, 1999). Adicionalmente, agrupamos os valores de S500 em classes de riqueza com 20 espécies para obter uma visão da distribuição e amplitude de variação da riqueza em cada grupo isionômico. Também plotamos curvas de rarefação dos sítios mais ricos em espécies das lorestas estacionais (SP, MG, RJ e ES), das lorestas ombróilas (SP e RJ) e das lorestas do norte do ES e sul da BA. Para estas áreas mais ricas em espécies foram discutidos os possíveis vieses metodológicos. RESULTADOS & DISCUSSÃO As florestas no norte do Espírito Santo e Sul da Bahia são, em média mais ricas em espécies (S500=176,7 + 27,6) que as florestas ombrófilas de SP/RJ (109,3 ± 19,6), as florestas estacionais semidecíduas de SP/MG/ RJ/ES (89,3 ± 19,7) e as florestas mistas (49,7 ± 12,2) (Tabela 1). Tabela 1: Comparação da riqueza média (S500) entre quatro isionomias lorestais da Floresta Atlântica Médias seguidas por letras iguais não apresentam diferença estatística signiicativa (p>0,05). Fisionomia FO Mista FE Semidecídua FO Densa SP/RJ Florestas ES/BA 92 Região N S500 RS 6 44,9 SC 4 54,0 PR 6 52,3 SP 1 45,7 Média 17 49,7 (±12,2 dp) a SP 19 81,9 MG 15 96,9 RJ/ES 4 96,2 Média 38 89,3 (±19,7) b SP 27 108,7 RJ 4 113,3 Média 31 109,3 (±19,6) c ES 7 169,1 BA 7 184,4 Média 14 176,7 (±27,6) d ROLIM ET AL. RIQUEZA DE ÁRVORES Figura 1: Localização de 100 áreas de estudos itossociológicos consideradas nesta análise. 93 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE A distribuição da riqueza (S500) em classes com intervalo de 20 espécies está apresentada na Figura 2. Como pode ser observado nesta Figura, a classe de maior frequência de cada uma das distribuições se desloca de forma crescente da loresta mista para loresta estacional semidecídua, loresta ombróila de SP e RJ e lorestas do sul da BA e norte do ES. A maioria dos sítios em loresta mista apresenta riqueza S500 de até 60 espécies e nenhum ultrapassa 80 espécies. Para a loresta estacional semidecidual, a maioria dos sítios apresenta S500 entre 80 e 100 espécies e dois atingem a classe de 120 a 140 espécies. As lorestas ombróilas de SP e RJ apresentam a maior parte dos sítios distribuídos igualmente em duas classes de riqueza, de 100 a 120 e de 120 a 140 espécies, e apenas um sítio entre 140 a 160 espécies. As lorestas do sul da Bahia e norte do ES apresentam maior número de sítios na classe de 160 a 180 espécies e três sítios na classe acima de 200 espécies. Figura 2: Distribuição de S500 por classes com intervalo de 20 espécies para as isionomias lorestais analisadas. A maior riqueza média obtida para a Floresta Atlântica do sul da Bahia e norte do Espírito Santo, em relação às lorestas do sul/sudeste da Mata Atlântica, conirma a hipótese de Tabarelli & Mantovani (1999). Entretanto, são necessários cuidados na interpretação dos resultados. Primeiramente devem ser considerados os possíveis distúrbios passados. Boa parte da Floresta Atlântica encontra-se bastante fragmentada (Ribeiro et al., 1999), constituindo geralmente lorestas secundárias regeneradas após corte raso ou que foram exploradas seletivamente. Os remanescentes mais bem conservados encontram-se em áreas protegidas ou em regiões de difícil acesso, na Serra do Mar de São Paulo e Paraná. Porém, mesmo estas áreas podem ter 94 sua estrutura alterada pela extração intensiva de plantas e pela caça (Galetti & Fernandez, 1998; Pizo & Vieira, 2004; Wilkie et al., 2011). É provável que essas alterações inluam nas análises de riqueza de espécies, porém, estes efeitos não foram controlados em nossas análises, em razão da diiculdade em se obter informações precisas sobre o histórico de alteração para todas as áreas levantadas. Por outro lado, é provável que esse efeito confundido seja minimizado pelo grande número de áreas utilizadas para as análises. Além disso, descartamos os levantamentos em áreas com regeneração recente, mas não foi possível incluir apenas as lorestas maduras ou bem conservadas, em decorrência do pequeno número de levantamentos disponíveis, principalmente em lorestas estacionais semidecíduas. Também deve ser considerado que lorestas moderadamente perturbadas podem apresentar riqueza superior à de lorestas maduras ou conservadas, conforme pressupõe a hipótese dos distúrbios intermediários (Sheil & Burslem, 2003) e já observados em algumas paisagens da Floresta Atlântica (veja Magnago et al., 2014). Com relação às diferenças metodológicas entre levantamentos, alguns estudos usam como critério de inclusão de árvores na amostragem com o diâmetro mínimo de 5 cm, enquanto que outros usam 10 cm. Uns izeram a amostragem através do método de quadrantes, outros através de parcelas. Alguns trabalhos utilizaram parcela única e outros usaram várias parcelas, distribuídas de maneira aleatória ou sistemática. Para contornar estes problemas e possibilitar as comparações, a opção foi selecionar as áreas mais ricas em espécies de cada isionomia e discutir como cada metodologia pode ter superestimado ou subestimado a riqueza de S500. Entre os 100 estudos selecionados, os mais ricos em espécies (S500) de cada isionomia são apresentados na Tabela 2. Com relação ao critério de inclusão de diâmetros, a maioria dos sítios mais ricos em cada isionomia adotou o critério 5 cm, ou valor próximo, para o menor diâmetro incluído no levantamento. Comparando valores de riqueza para levantamentos em loresta no Panamá, Condit et al. (1996) demonstraram que esse critério não é um fator com grande inluência nos resultados ROLIM ET AL. RIQUEZA DE ÁRVORES Tabela 2: Estimativas de S500 para os sítios mais ricos em espécies vegetais na Mata Atlântica nos grupos isionômicos analisados. Fisionomia Floresta Estacional SP/MG/RJ/ES FlorestaOmbróila SP/RJ Florestas Norte do ES Florestas Sul da BA Sítio*1 Parcelas ou quadrantes (pq) Dap N S S500 Fisher FES 04-MG FES 22-SP FES 11-MG FOD 12-SP FOD 16-SP FOD 10-SP ESBA 27-ES ESBA 25-ES ESBA 23-ES ESBA 26-ES ESBA 24-ES ESBA 33-BA ESBA 30-BA ESBA 31-BA ESBA 34-BA ESBA 28-BA ESBA 32-BA 200 pq 135 pq 20 de 10x50 m 64 de 10x90 m 1 de 100x100 m 600 pq 10 de 20x50 m 1 de 100x100 m 250 de 20x80 m 35 de 20x50 m 3 de 10x340 m 150 pq 1 de 50x100 m 1 de 10x1000 m 2 de 5x200 m 1 de 20x500 m 10 de 2x50 m 4,8 5,0 5,0 5,0 4,8 5,0 10,0 5,0 10,0 5,0 6,4 10,0 5,0 5,0 2,5 5,0 4,8 800 523 1623 9437 1816 2400 581 1519 19532 2532 2173 600 1496 1400 559 2530 516 143 133 209 252 206 260 157 265 403 323 384 178 279 264 202 459 227 118,7 130,4 130,5 136,2 138,6 147,8 147,0 171,7 177,7 184,6 215,3 164,9 170,6 172,0 191,5 220,0 223,1 50,71 57,54 63,83 47,59 59,78 74,12 70,67 92,85 71,85 98,26 135,40 85,52 101,10 96,20 113,60 164,00 154,80 4 * FES 04-MG (Parque Estadual do Rio Doce, Lopes et al., 2002); FES 22-SP (São José do Barreiro, Freitas, 2010); FES 11-MG (Viçosa, Mata do seu Nico, Santos et al., 2013); FOD 12-SP (Parque Estadual de Carlos Botelho-SP; Aguiar, 2003, Grade 1); FOD 16-SP (Parque Estadual da Serra do Mar-SP, Rochele et al., 2011, Plot J); FOD 10-SP (Cotia, Reserva de Morro Grande, Catharino et al., 2006); ESBA 27-ES (Flona Goytacazes, Gomes, 2006); ESBA 25-ES (Reserva Biológica de Sooretama, Paula & Soares, 2011); ESBA 23-ES (Reserva Natural Vale, Jesus & Rolim, 2005); ESBA 26-ES (Reserva Natural Vale, Lopez, 1996); ESBA 24-ES (Estação Biológica de Santa Lúcia, Saiter et al., 2011); ESBA 33-BA (Fazenda dois de Julho, Mori et al., 1983); ESBA 30-BA (Alcobaça, Ignácio, 2007); ESBA 31-BA (Serra do Teimoso, Thomas et al., 2009); ESBA 28-BA (Serra Grande, Thomas et al., 2008); ESBA 34-BA (Serra Bonita, Rocha & Amorin, 2011); ESBA 32-BA (Serra do Conduru, Martini et al., 2007). quando se utiliza a técnica de rarefação. Com relação ao método de amostragem, a maioria dos 100 estudos utilizou o método de parcelas. Alguns dos sítios mais ricos em espécies arbóreas na floresta estacional e na floresta ombrófila do RJ e SP foram amostrados com o método de quadrantes. Quando se iguala o esforço pelo número de indivíduos não existe vantagem entre método de quadrantes e parcelas (Aguiar, 2003). Além disso, apenas um sítio da Floresta Atlântica da BA/ES foi amostrado com este método, de forma que se houve alguma influência do método, a maior estimativa seria nas florestas de SP e RJ e mesmo assim, não suficiente para superar a maior riqueza da Floresta Atlântica da BA/ES. Consideramos que o método de amostragem e o critério de inclusão não afetaram os resultados obtidos. A escala de distribuição das amostras é outro fator que pode afetar a riqueza estimada. Para uma mesma área amostral, é esperado que parcelas contíguas apresentem menos espécies que parcelas dispersas (Palmer & White, 1994). Também é esperada maior riqueza em parcelas retangulares quando comparadas a parcelas quadradas (Condit et al., 1996). Em parcela única ou parcelas muito próximas, a adição de novas espécies é mais lenta que em parcelas distribuídas amplamente, devido ao forte efeito de autocorrelação espacial em parcelas próximas. Tanto o formato retangular, como a maior área de amostragem, implica em maior inclusão de heterogeneidade espacial e provavelmente em maior taxa de acúmulo de novas espécies (He & Legendre, 1996). Ou seja, é esperado que as áreas mais ricas amostradas em parcela única tenham riqueza S500 subestimada. Esse pode ser o caso da floresta ombrófila de SP e RJ, por exemplo, na região de Picinguaba (Rochele et al., 2011), onde S500 foi igual a 138,6 espécies, em parcela única de 100 x 100 m. Entretanto, essa subestimativa em parcela única não é necessariamente muito menor. Por exemplo, na parcela única de 100 x 100 m na 95 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Rebio de Sooretama (Paula & Soares, 2011) S500 foi igual a 171,7 espécies e, na Reserva de Linhares, com 250 parcelas de 20 x 80 m (Jesus & Rolim, 2005) S500 foi igual a 177,7. Ou seja, mesmo com um esforço quase 40 vezes maior e mais de duas centenas de parcelas menores dispostas na floresta, a diferença de riqueza entre estas duas áreas bastante próximas foi de menos de 4% no número de espécies. Estes exemplos nos permitem discutir que, para certas áreas, os efeitos da amostragem podem ser mínimos e assim nos possibilitaram considerar, com alguma flexibilidade, que a escala de amostragem não deve ter sido um forte agente influenciador na riqueza média geral obtida entre as fisionomias. Contudo, a generalização sobre este padrão é complexa e requer estudos mais elaborados para melhores interpretações da relação entre métodos de amostragem e riqueza de espécies. Vale destacar ainda que os três sítios mais ricos em espécies foram Estação Biológica de Santa Lúcia em Santa Teresa (ES), com S500 igual a 215,3 espécies (Saiter et al., 2011); Serra Grande na Bahia, com S500 igual a 220 espécies (Thomas et al., 2008) e Serra do Conduru, também na Bahia com S500 igual a 223,1 espécies (Martini et al., 2007). Utilizando a inferência pelo intervalo de confiança, a estimativa de S500 não difere entre estes três sítios (Figura 3). Deve ser considerado, entretanto, que para obter S500 para a Serra do Conduru, foram unificados dados de três áreas próximas de diferentes estágios sucessionais, onde cada área apresenta em média 257 indivíduos, insuficiente para se obter S500. Ao juntar as três áreas podemos ter inflacionado a riqueza de S500, já que a composição de espécies em diferentes estágios sucessionais ou mesmo entre fragmentos de Floresta Atlântica tende a ser diferente (Magnago et al., 2011; Magnago et al., 2014). Todavia, Martini et al. (2007) analisaram e compararam a riqueza na Serra do Conduru com outros levantamentos de amostragem semelhante nos trópicos, inclusive com Serra Grande, e concluem pela alta riqueza, que está entre as maiores do mundo. Os maiores valores de S500, obtidos para sítios tropicais estão em Lambir, Sarawak, em Yanamono, no Peru, com S500 igual a 235 e 267 espécies, respectivamente (Phillips et al., 1994). Figura 3: Riqueza estimada por rarefação para o sítios mais ricos em espécies no domínio da Floresta Atlântica: em lorestas estacionais (FES), ombróilas do RJ e SP (FOD) e do norte do Espírito Santo e sul da Bahia (ESBA). As linhas estão plotadas na mesma ordem apresentada na legenda. A área sombreada (cinza claro) representa o intervalo de coniança a 95% dos extremos das três curvas com maior riqueza de espécies. 96 ROLIM ET AL. Embora possamos concluir pela maior riqueza de espécies arbóreas nas lorestas do norte do Espírito Santo e sul da Bahia, ainda permanece uma questão: quais seriam os fatores responsáveis pela elevada riqueza de espécies arbóreas nesta região da Floresta Atlântica? Aqui nós não exploramos os possíveis fatores ambientais que podem explicar variações na riqueza entre sítios, mas abordamos a provável inluência dos fatores biogeográicos na determinação do conjunto de espécies da região norte do Espírito Santo ao sul da Bahia. Como apontado por Siqueira (1994), a elevada riqueza de espécies nesta região pode ser consequência de sua localização em área de transição entre as loras do nordeste e sudeste/sul. O rio Doce é considerado um importante divisor biogeográico na Floresta Atlântica, pelo menos até meados do quaternário, quando ocorreu a última grande regressão marinha (Silva, 2008), o que pode explicar em parte esta diferenciação das loras do nordeste e sudeste/sul. Buso Jr. et al. (2013) citam que o clima da região de Linhares era mais úmido entre 4 e 7 mil anos atrás, com presença marcante de Arecaceae e Cyatheaceae, as quais diminuem em abundância de quatro mil anos atrás até o presente, quando o inverno se tornou mais seco e o clima mais sazonal. Saiter et al. (2016) sugerem que o estabelecimento deste clima mais sazonal no norte do Espírito Santo pode ter eliminado algumas espécies, levando a mudanças na composição lorística, diminuindo a similaridade com a lora “pluvial” baiana. Baseado na composição isotópica de carbono na matéria orgânica, Buso Jr. et al. (2014) inferiram que a região norte do Espírito Santo teria cobertura lorestal pelo menos desde o Pleistoceno tardio, cerca de 17 mil anos antes do presente. Naquela época, outras áreas de Floresta Atlântica, como as do alto rio Doce, em Minas Gerais e do alto rio Paraíba do Sul, em São Paulo (Morro de Itapeva), provavelmente regrediram sob climas mais frios e secos para dar lugar a vegetação aberta ou campestre (Behling et al., 2002). Diferente destas, a loresta do norte do Espírito Santo pode ter funcionado como um dos raros refúgios na região costeira (Buso Jr. et al., 2014). Além da questão dos refúgios pleistocênicos, pode ser ressaltado que, embora a vegetação da caatinga tenha predominado na região nordestina entre 42 e 8,5 mil anos antes do presente, ocorreram RIQUEZA DE ÁRVORES alguns curtos períodos de umidade neste intervalo, que podem ter favorecido as relações lorísticas entre a lora amazônica e atlântica (Behling et al., 2000). Um fato marcante é que cerca de 7 a 8% de espécies vegetais da região norte do Espírito Santo e sul da Bahia são disjuntas com a Amazônia, sendo este um indicativo importante de conexões lorísticas pretéritas (Mori et al., 1981; Thomas et al., 1998; Fiaschi & Pirani, 2009). Thomas et al.(1998) registraram um nível de endemismo de espécies da lora em torno de 27% para esta região. Em estudos posteriores, os níveis de endemismo em plantas no sul da Bahia se mantêm altos, em destaque para os índices encontrados em plantas arbustivo/arbóreas (Amorim et al., 2009; Coelho & Amorim, 2014) ou em plantas epíitas (Leitman et al., 2015), todos executados em áreas de lorestas acima de 600 metros sobre o nível do mar. Estes eventos e conexões também podem ter favorecido a elevada riqueza de espécies na região norte do Espírito Santo e Sul da Bahia. Frente aos resultados obtidos, podemos concluir que: (i) embora a Floresta Atlântica seja de fato detentora de uma elevada riqueza de espécies arbóreas, essa riqueza não se distribui equitativamente entre as itoisionomias que a compõe; (ii) a região que se mostrou mais rica em espécies arbóreas foi a região sul da Bahia e norte do Espírito Santo (incluindo Santa Teresa). Certamente a história natural que moldou a lora de cada uma das regiões estudadas foi diferente, culminando assim na atual distribuição dessa riqueza de espécies. De fato, compreender os eventos histórico-evolutivos responsáveis pela atual riqueza lorística das diferentes itoisionomias e regiões da Floresta Atlântica constitui um dos maiores (e estimulantes) desaios para pesquisadores dedicados ao estudo da diversidade vegetal desse bioma. 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Em tal perspectiva, o maior desaio é de considerar não somente o efeito do desmatamento extensivo da loresta primária ou o status de conservação da biodiversidade na escala local (p. ex., Achard et al., 2002; Garay, 2001; Saatchi et al., 2001), mas igualmente as consequências de impactos antrópicos, tais como o extrativismo seletivo e a abertura de clareiras para cultivos, sobre a biodiversidade e o funcionamento dos mosaicos lorestais do trópico (Phillips, 1997; Peres et al., 2010). Porém, a enorme biodiversidade das lorestas tropicais impede precisar de que maneira as atividades humanas presentes e passadas afetam o conjunto das populações biológicas e modulam, eventualmente, os novos ecossistemas que emergem (Gentry, 1992; Milton, 2003; Hobbs et al., 2006). Assim, tornam-se necessárias pesquisas de indicadores biológicos e, mais ainda, ancorar essas pesquisas numa abordagem tal que possibilite avaliar o funcionamento dos ecossistemas em relação às mudanças na estrutura taxonômica da vegetação resultantes de impactos antrópicos (Dale & Beyeler, 2001; Garay, 2001). Se durante séculos o bioma Mata Atlântica foi submetido a intenso desmatamento e extrativismo (Dean, 1997; Myers et al., 2000; SOS Mata Atlântica, 2014), o movimento inverso inicia-se, sobretudo, na segunda metade do século XX, prolongando-se até o presente. Nesse processo, a Reserva Natural Vale representa um esforço pioneiro de conservação, englobando inclusive remanescentes lorestais em diferentes estados de preservação, por exemplo, aqueles com interferência com extrativismo seletivo. No total, o mosaico lorestal da Reserva Natural Vale e a contígua Reserva Biológica de Sooretama, constituem um núcleo endêmico de Floresta Atlântica de Tabuleiros e ecossistemas associados com cerca 45.000 ha, sendo a maior área protegida entre o norte do Rio de Janeiro e o sul da Bahia (Thomas et al., 1998; MMA, 2002; Jesus & Rolim, 2005; Pellens et al., 2010). 101 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Com foco na conservação e uso sustentável das espécies nativas e na recuperação dos serviços ambientais da loresta, existe urgência em implementar ações de restauração em cumprimento à legislação brasileira (Garay, 2006; Brasil, 2012). Assim, os efeitos das intervenções antrópicas sobre a sustentabilidade e integridade do mosaico lorestal como um todo devem ser avaliados a im de subsidiar e monitorar ações de manejo e restauração (Kindel et al., 1999; Garay & Kindel, 2001; Villela et al., 2006; ITTO, 2012; van Andel & Aronson, 2012). Formas de húmus e funcionamento de lorestas O conjunto das camadas orgânicas de superfície e os horizontes orgânico-minerais de topo do solo constituem as formas de húmus lorestais consideradas estáveis em ecossistemas não perturbados pelo homem (Duchaufour & Toutain, 1985). A estrutura dos húmus relete um conjunto de processos complexos do qual participam inúmeras espécies animais e de microorganismos que conduzem à decomposição da matéria orgânica e à reciclagem de nutrientes. Determinadas inicialmente pela qualidade e quantidade dos aportes orgânicos, sobretudo de origem vegetal, e pela natureza da rocha matriz, as formas de húmus sintetizam o conjunto destes processos e são, portanto, um indicador do funcionamento dos ecossistemas lorestais (Garay & Kindel, 2001; Ponge, 2013; Cesário et al., 2015). Em lorestas temperadas e boreais, as formas de húmus foram e são amplamente estudadas e classiicadas, visando compreender a dinâmica lorestal e subsidiar o manejo, destinado, em geral, à produção de madeira (Babel, 1971; 1975; Delecour, 1980; Garay, 1980; Klinka et al., 1990; Green et al., 1993; Berthelin et al., 1994; Emmer & Sevink, 1994; Brethes et al., 1995; Fons & Klinka, 1998; Fons et al., 1998; Fischer et al., 2002; Ponge et al., 2002; Jabiol et al., 2004; Feller et al., 2005; Ponge & Chevalier, 2006; Zanella et al., 2009, entre outros). Pesquisas em florestas tropicais de terras baixas evidenciam que as formas de húmus predominantes e suas características morfológicas, que revelam padrões de 102 decomposição associados às interações vegetação-solo, acompanham a grande diversidade de situações próprias a esses ecossistemas e sua dinâmica (Garay et al., 1995; Lips & Duivenvoorden, 1996; Kindel & Garay, 2002; Loranger et al., 2003; Baillie et al., 2006; Kounda-Kiki et al., 2006; Descheemaeker et al., 2009). A hipótese segundo a qual em florestas tropicais as altas temperaturas médias e umidade determinam uma rápida velocidade de decomposição e, portanto, uma única forma de húmus tipo mull, deve ser definitivamente descartada. Avaliação dos ecossistemas emergentes no mosaico lorestal com status de conservação por meio das formas de húmus Sob a hipótese de que as formas de húmus lorestais constituem um indicador global do funcionamento do ecossistema, isto é, das interrelações entre a vegetação e o solo (Garay & Kindel, 2001), o presente trabalho apresenta um estudo comparativo entre diferentes fácies do mosaico lorestal da Floresta Atlântica de Tabuleiros da Reserva Natural Vale. Com base na escolha de quatro sistemas preservados de qualquer atividade antrópica desde os anos 60, quando da criação da Reserva, veriicou-se a consequência das modiicações da cobertura arbórea originadas pelas atividades humanas sobre o subsistema de decomposição. Dois dentre eles correspondem à loresta primária sem histórico de perturbação recente - Mata Alta e Mata Ciliar - que se contrapõem a uma mancha lorestal, objeto de intenso extrativismo seletivo nos anos 50, e a uma parcela lorestal de regeneração natural, adquirida pela Vale após corte, queima e plantio temporário de café, igualmente na década de 50. Em uma primeira parte, a estrutura da vegetação é caracterizada do ponto de vista funcional, tanto em relação às características sucessionais quanto ao grau de escleroilia das espécies arbóreas dominantes que determinam, em parte, a qualidade dos aportes foliares ao subsistema de decomposição. Em seguida, são apresentadas estimativas dos estoques de matéria orgânica nas camadas húmicas, da qualidade dos GARAY ET AL. restos foliares e das variáveis físico-químicas dos horizontes pedológicos (Berthelin et al., 1994; Garay et al., 1995; Kindel & Garay, 2002). Ao inal, o conjunto das variáveis analisadas permite estimar: 1) as velocidades de decomposição dos aportes orgânicos, 2) os estoques de nutrientes e 3) as formas de húmus tanto nas lorestas primárias como secundárias. Trata-se assim de sintetizar e ampliar um conjunto de resultados de pesquisa que dizem respeito à relação vegetaçãosolo. Confrontando a hipótese nula de que nas lorestas secundárias estudadas após 50 anos, tanto a estrutura da vegetação quanto a forma de húmus são similares à da loresta primária original, a Mata Alta, mostraremos que as lorestas secundárias apresentam diferenças, não somente com as lorestas primárias, mas também entre elas. Essas diferenças, que expressam no tempo o histórico da perturbação antrópica, levantam a questão da manutenção desses ecossistemas e da sua contribuição para a conservação da biodiversidade. MATERIAIS E MÉTODOS De maneira geral, os dados que são apresentados e sintetizados no presente capítulo foram, em parte, publicados. Porém, a base de dados original do laboratório de Gestão da Biodiversidade foi completamente revista e, no que diz respeito à comunidade arbórea, em decorrência das mudanças taxonômicas, houve atualização. Clima O clima da Reserva corresponde, segundo a classiicação de Köppen (1948), ao tipo Awi de clima quente com marcada sazonalidade, que resulta da estação chuvosa em verão e seca no inverno. Entre maio e agosto, as precipitações não excedem 13% do total anual e aumentam entre outubro e março. Porém, é nos meses de verão que se registram os maiores valores, evidenciando uma alta variabilidade entre as estações. (Figura 1). Ciclos de verãos secos se alternam de forma recorrente com anos de precipitações estivais bem superiores aos valores médios. FORMAS DE HÚMUS Figura 1: Diagrama ombrotérmico da Floresta de Tabuleiros, Linhares/ES. Período 1975-2000. P=2T. TA: temperatura média anual; PA: precipitação anual total. m: média mensal de temperatura; r: média mensal de precipitação, com 6 desvio padrão; n=25 anos. Dados cedidos pela Reserva Natural Vale (Linhares/ES − Brasil). Vegetação Peixoto & Gentry (1990) classiicam a cobertura vegetal da RNV como pertencente à Floresta Ombróila Semidecídua e acrescentam que possui características isionômicas e lorísticas distintas da Floresta Atlântica em sua forma mais típica. De fato, em razão de uma estação seca relativamente marcada, a loresta apresenta características semideciduais. A Figura 2 mostra a distribuição dos trechos de lorestas primárias e secundárias na RNV. A aplicação do índice normalizado de diferenciação da vegetação (NDVI) permite estimar que dos 232,45 km2 da área total, 127,28 km2 correspondem à Floresta Densa de Cobertura Uniforme ou Mata Alta, representando 54,8% da superfície. As lorestas secundárias, independentemente do tipo de interferência sofrido, ocupam uma área importante da RNV, totalizando 83,29 km2, o que equivale a 35,8% (Vicens et al., 1998). As áreas de loresta secundária localizam-se nos extremos da Reserva, talvez associadas às áreas de aquisição menos antiga pela companhia Vale, e ao 103 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Figura 2: Cobertura vegetal da Reserva Natural Vale com base na Classiicação Supervisionada por Distâncias Mínimas. Segundo Vicens et al. (1998), modiicado. longo das estradas abertas na Floresta Alta, onde as espécies próprias de isionomias secundárias ocupam as margens (Vicens et al., 1998). Das restantes formações, 4,81 km2 pertencem à Mata Ciliar, ou seja, 2,1% da área total da Reserva. A Mata Ciliar corresponde às formações ripárias que percorrem a Reserva ao longo dos córregos, com signiicativo valor para a conservação das Áreas de Preservação Permanente (Vicens et al., 1998). No interior da Reserva, foram escolhidas quatro áreas: duas de loresta primária, Mata Alta (MA) e Mata Ciliar (MC) e duas de loresta secundária (SE e SQ). O sítio MA escolhido se encontra a 23 km da linha da costa e em 19°08’32” S e 39°55’21” W. A Mata Ciliar (MC) está situada em 19°11’54” S e 39°57’24” W e a 28 km da costa. Ambos os sítios, considerados a priori de loresta primária, não apresentam histórico conhecido de extração ou corte e queima (Jesus, 1987). O terceiro sítio, uma loresta secundária (SE), está localizado em 19°08’15” S e 40°05’04” W e possui um histórico de intenso extrativismo seletivo das maiores 104 árvores, nos anos 50, quando a parcela pertencia ao Ministério de Minas e Energia. A segunda área de loresta secundária (SQ), situada em 19°08’23” S e 39°56’02” W, foi formada após corte e queima seguidos de plantio temporário de café, também no início da década de 50. Em ambas as lorestas secundárias não houve nenhuma intervenção nem manejo após a integração à RNV (Jesus, 1987). Solos Os solos que correspondem aos sítios de estudo são do tipo Ultisol, denominados, segundo a classiicação brasileira, de Argissolo Vermelhoamarelo Distróico (Tabela 1) (Garay et al., 1995; Santos et al., 2004; Embrapa, 2006). O horizonte A possui textura arenosa, porém, a quantidade de argila aumenta com a profundidade, alcançando mais de 50% na base do horizonte B, de estrutura homogênea; a camada laterítica se localiza, em geral, a 3 metros da superfície (Garay et al., 1995; Santos et al., 2004). Nos quatro sítios de estudo, os solos são GARAY ET AL. FORMAS DE HÚMUS Tabela 1: Características físicas e químicas dos solos da Floresta Atlântica de Tabuleiros – Mata Alta e Mata Ciliar- da Reserva Natural Vale – Linhares/ES. Segundo Santos et al. (2004). C: carbono orgânico; N: nitrogênio; SB: soma de bases; CTC: capacidade de troca catiônica; V: saturação em bases. PROF. areia silte argila C N C/N cm % % % g kg-1 g kg-1 pH SB CTC V P (H2O) cmolc kg-1 % mg kg-1 2,6 1,5 0,9 0,6 0,3 0,3 4,2 3,6 3,5 3,4 3,7 3,5 62 42 _ _ _ _ 2 2 1 1 1 1 1,0 0,4 0,4 0,3 0,1 7,2 4,0 3,1 2,2 2,0 14 10 _ _ _ 2 1 1 1 1 PERFIL A – MATA ALTA A1 A2 AB Bt1 Bt2 Bt3 0-11 11-41 41-60 60-100 100-150 150-190+ 91 79 68 50 42 46 4 5 6 5 5 1 5 16 26 45 53 53 0,90 0,60 0,36 0,26 0,23 0,24 0,07 0,07 0,06 0,06 0,06 0,05 12,9 8,6 _ _ _ _ 5,3 5,2 4,7 4,6 4,6 4,6 PERFIL A – MATA CILIAR A1 A2 AB Bt1 Bt2 0-10 10-20 20-40 40-60 60-100 74 65 59 54 43 9 8 8 13 7 17 27 33 33 50 1,99 1,00 0,65 0,44 0,37 0,17 0,14 0,13 0,08 0,08 similares com uma distribuição do tamanho das partículas no horizonte A, dominada pela fração areia (67% a 80% entre 0 -12 cm de profundidade). Os horizontes hemiorgânicos Ai e A apresentam uma fração agregada, com maiores teores de argila que representa, todavia, somente entre 14% a 33% do peso total (Tabela 2). Esses agregados, anteriormente descritos, parecem resultar da ação de térmitas humívoras (Garay et al., 1995; Kindel & Garay, 2002). A forma de húmus da Floresta de Tabuleiros foi classiicada como mull mesotróico tropical 12 7 _ _ _ 4,0 4,3 4,4 4,4 4,5 (Garay et al., 1995; Kindel & Garay, 2002). Ele apresenta uma camada de interface, camada Ai, entre as camadas orgânicas de folhiço e o primeiro horizonte pedológico A, na qual se acumulam a matéria orgânica, o nitrogênio e as bases de troca. A camada Ai constitui um horizonte hemiorgânico com profundidade que varia entre 1 e 3 cm, marcando uma continuidade entre os restos foliares e o horizonte A o que indica um funcionamento supericial do subsistema de decomposição. A segunda característica é a presença dos mesoagregados imersos numa matriz particulada. Tabela 2: Características granulométricas e estrutura do primeiro horizonte orgânico mineral A em lorestas primárias e secundárias da Floresta Atlântica de Tabuleiros na Reserva Natural Vale – Linhares/ES. Média 6 erro padrão (n=10 para fração ina; n=3 para fração agregada). Teste t; *: a < 0,05; **: a < 0,01; ***: a < 0,001. MA: Mata Alta; MC: Mata Ciliar; SE: loresta secundária após extrativismo seletivo; SQ: loresta secundária após corte e queima. % agregados: corresponde aos valores médios inverno-verão. % areia grossa % areia ina % silte % argila % agregados Fração Fina (particulada) MA MC SE SQ 79,8 (1,0) 67,0 (1,4)*** 69,4 (1,5)*** 73,7 (2,9)* 8,7 (0,6) 17,6 (0,8)*** 11,2 (0,8)* 9,9 (1,1) 4,4 (0,4) 5,2 (0,4) 6,9 (0,9)* 2,4 (0,6)*** 7,2 (0,4) 10,2 (0,5)*** 12,5 (0,6)*** 14,0 (1,8)*** − − − − 19,0 (0,7) 24,9 (0,8)*** 27,3 (0,9)*** 29,3 (0,8)** 14,0 (3,9) 30,9 (2,2) 29,7 (3,6) 32,8 Fração Agregada (mesoagregados) MA MC SE SQ 59,5 (1,5) 37,0 (1,1)*** 44,7 (1,1)*** 44,0 (1,2)** 15,4 (0,5) 25,9 (0,5)*** 18,4 (0,5)*** 18,3 (0,8)** 6,1 (0,6) 12,3 (0,5)*** 9,6 (0,5)*** 8,3 (0,4)* 105 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Amostragem e tratamento das amostras Caracterização do estrato arbóreo Para o estudo das interações vegetação-solo foram delimitadas parcelas permanentes de 25 m x 50 m, contíguas e distantes entre si em 50 m, a razão de três em cada sistema de estudo: i.e., MA, MC, SE e SQ. Assim, a área total delimitada em cada sistema foi de 0,375 ha, totalizando 1,125 ha para o conjunto das itoisionomias. Nestas parcelas foram estudados dois componentes dos ecossistemas: a cobertura arbórea e as formas de húmus, além dos aportes orgânicos ao solo e, notadamente, a queda de folhas e galhos inos. No interior de cada parcela, foram medidas e identiicadas as árvores adultas com circunferência ≥ 20 cm, ou seja, com DAP ≥ 6,3 cm. A partir do conhecimento da estrutura e composição da vegetação foi possível precisar as características gerais do estrato arbóreo nos sistemas de estudo assim como estimar a densidade e dominância das principais famílias. Os dados já publicados (Rizzini et al., 1997; Rizzini, 2000; Garay & Rizzini, 2004) foram completamente revistos e reorganizados em função das mudanças taxonômicas. Utilizandose os dados de abundância das 10 principais famílias botânicas, realizou-se uma Análise de Correspondência Destendenciada (DCA) para a veriicação da diferenciação taxonômica geral destes sistemas; a densidade e a área basal também foram calculadas e comparadas entre os sistemas. As 30 espécies de maior valor de cobertura (VC) de cada sistema foram classiicadas segundo os estágios sucessionais em pioneiras (PI), secundárias iniciais (SI), secundárias tardias (ST) e clímax (CL), a im de comparar a densidade, área basal e o valor de cobertura destes grupos funcionais nos sistemas de estudo (Rolim et al., 1999; Souza et al et al., 2002, ver Anexo). Os grupos funcionais, segundo o grau de escleroilia das folhas vivas, foram estimados com dados do catálogo foliar publicados por Garay & Rizzini (2004). O índice de escleroilia corresponde a IE = 1/2 peso seco da amostra / área da amostra (g/ dm2), calculado a partir de 30 unidades amostrais padronizadas e com 1 cm de diâmetro para cada espécie. As espécies foram reagrupadas em três grupos funcionais: o primeiro corresponde às 106 escleróilas, com valores de IE iguais ou superiores a 0,52 g/dm2; o segundo reagrupa as espécies não escleróilas ou de folhas membranáceas, com valores de IE iguais ou inferiores a 0,33 g/dm2. Entre estes limites, um terceiro grupo corresponde a espécies denominadas intermediárias (Garay & Rizzini, 2004). O grau de escleroilia das espécies dominantes em cada sistema foi confrontado com as características sucessionais das mesmas. Os aportes de matéria orgânica ao solo: as frações foliares e de galhos inos Para quantiicação dos aportes orgânicos, foram instalados no interior das parcelas permanentes 15 coletores de 1 m2 por sistema a razão de 5 em cada parcela, ou seja, 60 em total, construídos em tela metálica, com 1 m de lado e sobre-elevados em relação à superfície do solo (ver Blandin et al., 1980). As coletas do material vegetal foram quinzenais. O material foi transportado ao laboratório para separar as distintas frações folhas, galhos, frutos e lores, para então ser secado em estufa a 60 ºC, durante 48 horas, e pesado. A signiicativa quantidade de coletores colocados em geral a pelo menos 1,5 m das árvores de maior VC considera a heterogeneidade da queda que depende efetivamente das espécies dominantes (Burghouts et al., 1998). Maiores detalhes sobre a dinâmica dos aportes orgânicos ao solo encontramse em Louzada et al. (1997) e Louzada (2004). No presente capítulo são utilizadas somente as quantidades anuais totais, em particular de folhas e galhos inos que representam entre 98% e 94% do total da queda (Garay & Rizzini, 2004). Amostragem das camadas húmicas Para o estudo das formas de húmus, foram coletadas 16 e 12 amostras, em verão e inverno, respectivamente, em MA, MC, e SE, e 10 em SQ, o que corresponde a um total de 98 amostras. A amostragem foi realizada no interior das parcelas permanentes seguindo um transecto. Cada amostra foi dividida no campo em quatro subamostras: 1) camada L de folhas mortas inteiras; 2) camada subjacente F, constituída, sobretudo, por fragmentos foliares; 3) camada Ai de material orgânico-mineral entremeado a raízes inas e 4) horizonte A. Um quadrado metálico de 25 x 25 cm2 GARAY ET AL. foi utilizado para coletar as camadas L, F e Ai. As amostras do horizonte A foram coletadas com ajuda de um cilindro metálico de 10 cm de diâmetro e 10 cm de profundidade. Esta amostragem quantitativa permite estimar a quantidade de matéria orgânica e de nutrientes por unidade de superfície, assim como a porcentagem de agregados em relação à terra ina (Malagón et al., 1989; Garay et al., 1995). Tratamento e análise das amostras das camadas húmicas No laboratório, as camadas L, F e Ai e o horizonte A foram tratados separadamente. Os restos foliares, galhos inos (≤2 cm) e raízes inas (≤3 mm de diâmetro) foram separados de cada camada ou horizonte utilizando uma peneira de malha de 2 mm assim como a separação manual. Após secagem a 60º C, cada fração foi pesada. Os agregados (2 a 10 mm) da camada Ai e do horizonte A foram separados da fração ina do solo. Os mesoagregados se encontram nos horizontes Ai e A nos quais, porém, predomina a denominada fração ina, com estrutura particular sem dúvida associada à textura arenosa (ver Tabela 2). Tanto a fração ina como os agregados foram secos ao ar. Os restos foliares L e F foram moídos. Foram estimados os conteúdos de matéria orgânica por combustão a 450o C e o N total pelo método Kjeldahl em amostras compostas (três subamostras por camada, sítio e data). As análises da fração ina e dos agregados, com amostras compostas de 3 ou 4 subamostras, de Ai e do horizonte A foram realizadas segundo Embrapa (1997). O pH do solo foi medido numa suspensão solo/água 1:2,5, Al3+, Ca2+ e Mg2+ trocáveis foram extraídos com KCl 1 mol L-1. Ca2+ e Mg2+ foram determinados por espectrometria de absorção atômica e Al3+ por titulação ácidobase. Na+ e K+ trocáveis foram extraídos com o reagente Mehlich 1 e determinados por fotometria. A acidez potencial (H++Al3+) foi extraída com acetato de cálcio 0,5 mol L-1 e determinada por titulação ácido-base. O carbono orgânico (C) foi determinado por oxidação com dicromato e N total com o método Kjeldahl. Alguns resultados permitem calcular outros parâmetros como a soma das bases de troca (SB), isto é, a adição de Ca2+, Mg2+, Na+ e K+; a capacidade de troca catiônica (CTC), calculada como a adição de Ca2+, Mg2+, Na+, K+, Al3+, e H+; e a saturação em bases (V%), que é a razão percentual FORMAS DE HÚMUS de SB sobre CTC. A textura do solo foi determinada pelo método densimétrico de Bouyoucos após agitar o solo vigorosamente com NaOH 1 mol L-1 como dispersante (Perez et al., 2007). Estimativa da velocidade de decomposição O cálculo do coeiciente de decomposição K = I/X representa uma estimativa do tempo de decomposição dos aportes de matéria orgânica ao solo (Olson, 1963; Anderson et al., 1983), sendo: I Mg ha-1 ano-1 = aportes de necromassa aérea pela vegetação e X Mg ha-1 = acúmulo de restos foliares ou outros resíduos orgânicos nas camadas L+F, i.e., galhos, lores, frutos ou matéria orgânica amorfa, depositados sobre o primeiro horizonte orgânicomineral do solo A, ou seja, K ano-1 = coeiciente de decomposição O quociente inverso 1/K representa o tempo, em anos ou fração anual, necessário à total transformação do folhiço acumulado, seja por mineralização seja por transformação em matéria orgânica amorfa ou matéria orgânica coloidal integrada ao primeiro horizonte orgânico mineral A. O coeiciente de decomposição é, em geral, calculado separadamente para as distintas frações dos aportes orgânicos, como por exemplo, restos foliares, galhos ou frutos de composição orgânica diferenciada. Análise estatística dos dados Em geral, as comparações concernem as diferentes itoisionomias com respeito à Mata Alta, considerada o sítio padrão. Para n suicientemente grande (n=16; n=12 ou n=10), os dados foram analisados pelo teste t, após transformação dos dados pela raiz quadrada a im de centrar a variável e diminuir a variância (“normalização”). Amostras com n pequeno (n=3 ou n=4) foram analisadas por meio do teste U de Mann-Whitney não paramétrico. Quando o número de variáveis a ser considerada conjuntamente foi importante, optou-se pela ANOVA, após transformação dos dados pela raiz quadrada, com posterior discriminação das comparações dois a dois pelo teste Tukey HSD. Em todos os casos foi utilizado o programa STATISTICA 7. 107 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE RESULTADOS O povoamento arbóreo nas lorestas primárias e secundárias Caracterização do estrato arbóreo Considerando os quatro sistemas analisados, foram medidos e identiicados cerca de 1.500 indivíduos, pertencentes a 51 famílias e 271 espécies. Quando comparados os povoamentos dos quatro sistemas lorestais, as maiores diferenças aparecem entre a Mata Alta e a loresta secundária após queima e corte, SQ: o número de espécies por amostra é inferior, assim como, as densidades e as áreas basais (Tabela 3). A parcela submetida a extrativismo seletivo apresentou densidades similares às da Mata Alta, porém, com áreas basais menores, o que permite supor que se trata de indivíduos arbóreos de menor porte, ou seja, mais jovens (Tabela 3). Se consideradas apenas as 30 espécies com o maior valor de VC de cada povoamento, o total é de 90 espécies (Anexo 1). Destas espécies, 68 ocorrem em apenas um povoamento, 16 ocorrem em dois, 4 ocorrem em três e apenas duas espécies ocorrem nos quatro sistemas, sendo elas Rinorea bahiensis (Moric.) Kuntze e Joannesia princeps Vell. Entretanto, o número de espécies comuns aos quatro sítios aumenta para 13 quando consideradas todas as espécies amostradas. O coeiciente de similaridade de Jaccard também aponta esses resultados, indicando que a diferença na composição de espécies dominantes é o que caracteriza os sistemas e, quando confrontadas aquelas de maior VC, o valor é de apenas 0,10 e 0,13 para MC e SE e de somente 0,03 para SQ. O coeiciente aumenta signiicativamente quando se confrontam todas as espécies presentes em cada sítio. De fato, quase a metade das espécies dominantes em cada sítio, i.e., as 30 de maior VC, estão presentes nos outros sítios, porém, com valores de VC pouco signiicativos ou mínimos. A diversidade e a equitabilidade não apresentam marcadas diferenças entre os sítios de estudo (Tabela 4). A análise de Correspondência Destendenciada (DCA) foi realizada considerando as dez famílias com maiores índices de valor de cobertura em cada sistema. Os 3 primeiros eixos da DCA explicam 43% do total da variação, sendo que a maior parte desta é explicada pelos eixos 1 e 2 (31% e 11%), respectivamente (Figura 3 e Figura 4). O primeiro eixo separou os sistemas de estudo de acordo com as abundâncias, considerando o total de indivíduos das 10 principais famílias botânicas (SE=939, MA=899, MC=752 e SQ=824) e também aproximou as áreas de Mata Ciliar (MC) e de Capoeira após queima (SQ), por conta das altas densidades das famílias Moraceae e Arecaceae. O segundo eixo separou as lorestas Tabela 3: Características gerais da cobertura arbórea em lorestas primárias e secundárias da Floresta Atlântica de Tabuleiros na Reserva Natural Vale – Linhares/ES. Média 6 erro padrão (n=3). Teste U; *: a ≤ 0,05; 0: a ≥ 0,05. MA: Mata Alta; MC: Mata Ciliar; SE: loresta secundária após extrativismo seletivo; SQ: loresta secundária após corte e queima. N: número de parcelas de 25 x 50 m2. Característica nº de famílias total de famílias (N = 3) nº de espécies total de espécies (N = 3) densidade (ind. / ha) area basal (m2 / ha) volume (m3 / ha) 108 FLORESTAS PRIMÁRIAS Mata Alta Mata Ciliar FLORESTAS SECUNDÁRIAS após após corte extrativismo e queima teste U 25 6 2 26 6 1 24 6 3 27 6 1 0 33 64 6 2 35 61 6 4 34 61 6 5 36 52 6 2 MA > SQ* 119 117 116 103 - 1.147 6 37 1.013 6 46 1.147 6 35 992 6 49 MA > SQ* 38,2 6 3,5 39,8 6 4,2 23,7 6 0,9 32,9 6 1,3 MA > SE* 820 6 110 940 6 120 370 6 70 560 6 30 MA > SE* MA > SQ* GARAY ET AL. FORMAS DE HÚMUS Tabela 4: Diversidade de espécies e coeicientes de similaridade de Jaccard correspondentes aos sistemas de loresta primária e de loresta secundária da Floresta Atlântica de Tabuleiros na Reserva Natural Vale – Linhares/ES. Média 6 erro padrão (n=3). MA: Mata Alta; MC: Mata Ciliar; SE: loresta secundária após extrativismo seletivo; SQ: loresta secundária após corte e queima. 30 versus 30: coeicientes de Jaccard calculados sobre as 30 espécies de maior VC de cada sistema. Característica FLORESTAS PRIMÁRIAS Mata Alta Mata Ciliar diversidade H’ 3,84 6 0,08 equitabilidade 0,92 6 0,01 Coef. Jaccard Coef. Jaccard (30 versus 30) MA versus MC 0,22 0,10 FLORESTAS SECUNDÁRIAS após após corte extrativismo e queima 3,73 6 0,10 3,62 6 0,11 3,49 6 0,12 0,90 6 0,02 0,88 6 0,01 MA versus SE 0,31 0,13 0,88 6 0,02 MA versus SQ 0,25 0,03 Figura 3: Área basal e densidade das dez famílias mais importantes (VC) nas amostras de lorestas primárias – Mata Alta e Mata Ciliar - e secundárias – loresta secundária após extrativismo e loresta secundária após corte e queima. Valores médios e erro padrão (n=3). MYRT: Myrtaceae; FABA: Fabaceae; VIOL: Violaceae; SAPO: Sapotaceae; LECY: Lecythidaceae; MALV: Malvaceae; EUPH: Euphorbiaceae; COMB: Combretaceae; ANAC: Anacardiaceae; NYCT: Nyctaginaceae; MORA: Moraceae; AREC: Arecaceae; MYRI: Myristicaceae; CHRY: Chrysobalanaceae; RUTA: Rutaceae; BIGN: Bignonaceae; ANNO: Annonaceae; SALI: Salicaceae; BURS: Burseraceae; CARI: Caricaceae. 109 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE primárias das lorestas secundárias. As famílias botânicas associadas às lorestas primárias são aquelas mais características do tipo de formação de Floresta Atlântica de Tabuleiros, tais como Myrtaceae, Sapotaceae, Violaceae, Lecythidaceae, Myristicaceae e Moraceae, enquanto que as famílias botânicas associadas às formações secundárias são aquelas relacionadas aos estágios sucessionais menos desenvolvidos deste tipo de loresta, tais como as famílias Euphorbiaceae, Annonaceae, Salicaceae e Arecaceae (Figura 4). As famílias Myrtaceae, Sapotaceae, Lecythidaceae e Violaceae apresentaram os maiores valores tanto de densidade quanto de área basal nas lorestas primárias, Mata Alta ou Mata Ciliar (Figura 3). As famílias Myristicaceae e Chrysobalanaceae foram especialmente abundantes na área de Mata Ciliar, assim como Moraceae e Arecaceae, que possuiram além de alta densidade, alta área basal. Apesar de presentes em todos os sistemas, as famílias Euphorbiaceae e Annonaceae foram especialmente importantes nas áreas secundárias, tanto pela alta densidade, como pela signiicativa área basal. Na área de capoeira após extração também se destacou a família Rutaceae pela área basal, sendo que na área de capoeira após queima, as famílias Salicaceae, Burseraceae e Caricaceae foram mais abundantes que nos outros sistemas (Figura 3). Os grupos funcionais do povoamento arbóreo: sucessão ecológica e escleroilia A composição das espécies, segundo os estágios sucessionais em cada povoamento, mostrou que as espécies consideradas clímax e secundárias tardias (CL+ST) foram mais abundantes e, sobretudo, representadas por indivíduos de maior porte nas florestas primárias (MA e MC), correspondendo às menores densidades ao povoamento presente na floresta secundária após corte e queima (Figura 5). Em contrapartida, é nas lorestas secundárias (SE e SQ) onde se encontraram os maiores efetivos de espécies classiicadas como secundárias iniciais (SI), contudo, com indivíduos de menor tamanho que nas lorestas primárias. As espécies pioneiras (PI) estiveram presentes tanto em maior número quanto com maiores indivíduos no povoamento SQ (Figura 5). Quando se comparam os grupos funcionais em relação ao grau de escleroilia das folhas, icam evidenciadas diferenças signiicativas entre os tipos de loresta (Figura 6). Figura 4: Resultados dos eixos 1 e 2 da Análise de Correspondência Destendenciada das dez famílias mais importantes (VC) nas amostras de lorestas primárias – Mata Alta e Mata Ciliar - e secundárias - Mata SE: loresta secundária após extrativismo e Mata SQ: loresta secundária após corte e queima. 110 GARAY ET AL. FORMAS DE HÚMUS Figura 5: Densidade, Área Basal e Valor de Cobertura dos grupos sucessionais das 30 espécies de maior VC nas amostras de lorestas primárias – MA e MC e secundárias – SE e SQ. CL: espécies climácicas; ST: espécies secundárias tardias; SI: espécies secundárias iniciais; PI: espécies pioneiras. As letras sobre os histogramas indicam os resultados das comparações pelo teste Tukey HSD após ANOVA. Letra a: diferença com MA; b: diferença com MC; c: diferença com SE. Figura 6: Densidade, Área Basal e Valor de Cobertura das espécies segundo o grau de escleroilia das folhas das 25 espécies de maior VC nas amostras de lorestas primárias – MA e MC - e secundárias – SE e SQ. Segundo dados publicados por Garay & Rizzini (2004). As letras sobre os histogramas indicam os resultados das comparações pelo teste Tukey HSD após ANOVA. Letra a: diferença com MA; b: diferença com MC; c: diferença com SE; d: diferença com SQ. Tabela 5: Conteúdo de nitrogênio (N) e valor do índice de escleroilia (IE) das espécies arbóreas mais importantes nos sistemas de lorestas primárias e de lorestas secundárias da Floresta Atlântica de Tabuleiros na Reserva Natural Vale – Linhares/ES. Média 6 erro padrão. CL e ST: espécies climácicas e secundárias tardias; SI e PI: espécies secundárias iniciais e pioneiras. n = 25. Segundo dados publicados por Garay & Rizzini (2004). As letras correspondem a diferenças signiicativas com a ≥ 0,05, teste t com dados normalizados. Letra a: diferença com Mata Alta; b: diferença com Mata Ciliar; c: diferença com loresta secundária após extrativismo; d: diferença com loresta secundária após corte e queima. Característica FLORESTAS PRIMÁRIAS Mata Alta Mata Ciliar FLORESTAS SECUNDÁRIAS após após corte extrativismo e queima folhas CL e ST N (%) IE (g dm-2) 2,22 6 0,15 0,48 6 0,03 1,89 6 0,08 c 0,51 6 0,03 d 2,45 6 0,17 0,43 6 0,04 2,07 6 0,13 0,39 6 0,03 folhas SI e PI N (%) IE (g dm-2) 2,92 6 0,22 0,34 6 0,05 1,99 6 0,36 ac 0,50 6 0,07 c 2,98 6 0,15 d 0,33 6 0,04 d 2,51 6 0,17 0,43 6 0,03 folhas 25 espécies N (%) IE (g dm-2) 2,44 6 0,14 0,43 6 0,03 1,90 6 0,08 acd 0,51 6 0,03 acd 2,68 6 0,12 d 0,38 6 0,03 2,32 6 0,12 0,41 6 0,02 111 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE As lorestas primárias apresentam efetivamente maiores densidades e áreas basais de espécies escleróilas, notadamente com respeito à loresta secundária após extrativismo seletivo, que por sua vez se caracteriza pela abundância das espécies com menor grau de escleroilia, por exemplo, as não escleróilas ou membranosas. Proporcionalmente, a loresta secundária após corte e queima mostra um povoamento dominado pelas espécies intermediárias, mas com presença signiicativa das espécies escleróilas (Figura 6). Considerando conjuntamente os grupos sucessionais e o grau de escleroilia das espécies, os resultados ressaltam as diferenças entre sistemas do grau de escleroilia das espécies que é independente do grupo sucessional ao qual pertencem (Tabela 5). Aparece assim um gradiente de escleroilia no sentido MC > SQ > MA >SE. Existe, por último, uma relação signiicativa inversa entre os conteúdos de nitrogênio e o grau de escleroilia das espécies: sistemas mais escleróilos apresentarão menores conteúdos de nitrogênio nas folhas, ou seja, maiores valores do quociente C ∕ N (Figura 7). Apesar da importante variabilidade tanto dos conteúdos de nitrogênio como do grau de escleroilia, existe uma tendência geral nas diferentes famílias botânicas que explica, em parte, as diferenças entre sistemas. Assim, por exemplo, as Myrtaceae e Sapotaceae são em média escleróilas, com IE = 0,57 6 0,05 e IE = 0,56 6 0,05, respectivamente, enquanto que os valores Figura 7: Relação entre os conteúdos de nitrogênio e o grau de escleroilia das folhas das 25 espécies de maior VC nas amostras de lorestas primárias – Mata Alta e Mata Ciliar - e secundárias – loresta secundária após extrativismo e loresta secundária após corte e queima. N = 72; ***: a ≤ 0,001. Segundo dados publicados por Garay & Rizzini (2004). 112 estimados para Fabaceae e Euphorbiaceae, que são iguais com IE = 0,32 6 0,04, correspondem a espécies não escleróilas, ricas em nitrogênio. Outras famílias como Annonaceae, Moraceae e Violaceae apresentam características intermédias (Garay & Rizzini, 2004). As Formas de Húmus Estoques orgânicos e velocidade de decomposição dos aportes ao solo A Tabela 6 apresenta tanto os dados referentes às quantidades de restos foliares e galhos depositados sobre os horizontes pedológicos, como as estimativas dos aportes de matéria orgânica ao solo correspondentes à queda das folhas e de galhos finos. Nos sistemas MC e nas florestas SE e SQ, o acúmulo de camadas holorgânicas sobre o solo é da ordem de 50% superior ao da MA. Os maiores valores são observados na floresta secundária submetida a extrativismo (SE) e, em particular, no inverno. As quantidades superiores de matéria orgânica tanto na Mata Ciliar como nas florestas SE e SQ aparecem associadas à presença de uma camada mais profunda de restos foliares entremeados à matéria orgânica fina - a camada F2 -, mais importante no inverno, o que evidencia uma estrutura mais desenvolvida das camadas húmicas. Este acúmulo orgânico não pode ser atribuído às quantidades de matéria orgânica que chegam ao solo, já que a queda foliar ou é inferior ou similar à da Mata Alta (Tabela 6). No caso da Mata Alta, a quantidade aportada pela queda foliar é similar aos restos foliares acumulados na superfície do solo e, por conseguinte, o valor calculado da constante de decomposição k é de 1 ano-1 e o tempo de decomposição estimado em um ano. Para os outros sistemas, a velocidade de transformação dos aportes é menor e varia de um ano e meio até dois, no caso da Mata Ciliar (Tabela 6). A mesma tendência a menores velocidades de decomposição, tanto para a Mata Ciliar, como para as Florestas SE e SQ, quando comparadas com a Mata Alta foi, em geral, registrada para a fração dos galhos finos, com valores superiores de aportes somente no caso da floresta SE. Porém, em quase todos os casos, a velocidade MATA ALTA MATA CILIAR FLORESTAS SECUNDÁRIA (Após extrativismo) GARAY ET AL. Tabela 6: Aportes foliares e de galhos inos ao solo e estoques de folhiço e biomassa de galhos nas camadas húmicas. Média ± erro padrão; n1=n2=n3=12 e n4=10 no inverno; n1=n2=n3=16 no verão. A última cifra dos valores estimados foi aproximada a 5 unidades. Os resultados do teste t correspondem às comparações com a Mata Alta; teste t realizado com dados normalizados. Letras diferentes signiicam diferenças signiicativas a a≤0,05. FLORESTAS SECUNDÁRIA (Após corte e queima) Aportes orgânicos ao solo (Mg ha-1 ano-1) Queda de folhas Queda de galhos inos 4,00 ± 0,2 a 2,10 ± 0,1 a 3,10 ± 0,19 b 2,20 ± 0,10 a 4,10 ± 0,35 a 3,10 ± 0,10 b 3,70 ± 0,18 a 2,40 ± 0,10 a Estoque de folhiços no solo (Mg ha-1) Camada L (folhas inteiras) Camada F1 (fragmentos foliares) Camada F2 (fragmentos foliares e material ino) Camadas foliares (Total) Galhos inos Verão 0,60 ± 0,10 a 3,40 ± 0,30 a Inverno 0,90 ± 0,10 a 3,00 ± 0,30 a Verão 1,60 ± 0,20 b 3,30 ± 0,30 a 1,10 Inverno 1,50 ± 0,20 b 3,20 ± 0,30 a 1,80 ± 0,50 Verão 1,65 ± 0,20 b 3,35 ± 0,30 a 0,60 Inverno 2,00 ± 0,20 b 2,90 ± 0,25 a 2,70 ± 0,50 Inverno 1,30 ± 0,10 b 3,50 ± 0,40 a 1,50 ± 0,60 4,00 ± 0,30 a 2,30 ± 0,60 a 3,90 ± 0,30 a 3,50 ± 0,70 a 6,00 ± 1,30 b 2,40 ± 0,40 a 6,50 ± 0,60 b 4,10 ± 1,50 a 5,60 ± 0,60 b 5,10 ± 1,80 b 7,60 ± 0,50 b 6,70 ± 0,80 b 6,30 ± 0,70 b 5,90 ± 1,30 b Constante k de decomposição (aporte/estoque ano-1) Camadas foliares Galhos inos 1,01 (12 meses) 0,73 (16 meses) 0,50 (24 meses) 0,68 (20 meses) 0,62 (19 meses) 0,51 (24 meses) 0,59 (20 meses) 0,41 (30 meses) FORMAS DE HÚMUS 113 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE de decomposição dos galhos é menor que a dos resíduos foliares, sem dúvida a causa da pobreza nutricional desta fração orgânica (Tabela 6). Quando se consideram as características químicas do folhiço menos descomposto - folhas inteiras da camada L - são evidenciadas fortes diferenças entre os sistemas estudados. A Mata Ciliar aparece como o sistema que possui os aportes mais pobres em nitrogênio, ou os maiores valores do quociente C/N, e que, portanto, permitem, a priori, predizer uma menor velocidade de decomposição. A loresta secundária após queima e corte apresenta características similares à Mata Ciliar. No total, estas diferenças podem ser associadas à maior escleroilia do folhiço nos sistemas MC e loresta secundária SQ (ver Figura 7), o que se contrapõe a restos foliares menos escleróilos e, portanto, com valores menores de C/N presentes na MA e SE (Figura 8). Figura 8: Concentrações de nitrogênio (%N) e quociente C/N das folhas da camada L nos quatro sistemas de estudo. Teste U de Mann-Whitney; ***: a < 0,001; 0: a > 0,05 para ni = 3. Características pedológicas dos horizontes hemiorgânicos Duas características principais foram tomadas em consideração para o estudo dos horizontes 114 pedológicos nas lorestas primárias e secundárias: a primeira é a existência de pequenos agregados que apresentam, em geral, maiores concentrações de matéria orgânica e de nutrientes (Garay et al., 1995; Kindel & Garay, 2001). Parece assim adequado considerar separadamente, por um lado, as camadas Ai e o horizonte A e, por outra parte, a fração de mesoagregados e a fração ina particulada. Para o conjunto dos sistemas analisados, os resultados evidenciam a existência de um acúmulo de matéria orgânica e de nutrientes em Ai. Nesta camada do topo do solo, o C, N, P e as SB alcançam valores de até quatro ou cinco vezes superiores aos correspondentes ao horizonte A, indicando, sem dúvida, uma reciclagem supericial de nutrientes (Garay et al., 1995; Kindel & Garay, 2001). As Tabelas 7 e 8 apresentam os resultados relativos, por um lado, à fração ina e, por outro, à fração agregada. As estimativas obtidas não somente conirmam as duas características gerais evocadas acima dos solos sobre os tabuleiros, por exemplo, presença de mesoagregados e da camada Ai, mas evidenciam que este padrão estrutural e de estoque orgânico e de nutrientes não se encontra alterado nas lorestas secundárias estudadas. As maiores diferenças são observadas entre os horizontes da Mata Alta e a Mata Ciliar que possui não somente maiores conteúdos de matéria orgânica, mas, sobretudo, os valores mais baixos de nutrientes e, em consequência de SB e de %V. Ao caráter marcadamente oligotróico dos horizontes pedológicos da Mata Ciliar se opõe a relativa riqueza em bases de troca da Mata Alta e, ainda, da loresta secundária após extrativismo seletivo (SE). Entretanto, o mesmo padrão nutricional encontrase igualmente nos solos da loresta secundária após corte e queima de árvores, embora com valores inferiores de SB e de %V. As diferenças associadas com esse padrão entre sistemas são mais importantes que as variações estacionais e concerne tanto à fração de terra ina, quanto aos agregados (Tabela 7 e Tabela 8). Dentre as bases de troca, o Ca2+ representa da ordem de 70% a 80% da soma de bases (SB), exceto no caso da Mata Ciliar e, notadamente, para o horizonte A, com menos de 35% de Ca2+. Os valores de pH parecem acompanhar as quantidades de Ca2+ trocável: são, com efeito, os solos sob a GARAY ET AL. FORMAS DE HÚMUS Tabela 7: Características da fração ina dos horizontes pedológicos - camada de interface Ai (0 - 2 cm) e horizonte A (2 - 12cm) - dos solos das lorestas primárias – Mata Alta e Mata Ciliar- e secundárias - após extrativismo e após corte e queima - da Reserva Natural Vale. Média ± erro padrão. C: carbono orgânico; N: nitrogênio; P: fósforo assimilável; SB: soma de bases; CTC: capacidade de troca catiônica; %V: saturação em bases. Comparação entre a Mata Alta e os outros sistemas: teste t; 0: diferença não signiicativa; *: a<0,05; **: a<0,01; ***: a<0,001. C N P ____ g kg-1 ____ SB _ mg kg-1_ CTC _____ cmolc kg-1 ____ V % C:N pH MATA ALTA camada Ai verão inverno 2,94 6 0,46 3,71 6 0,48 0,28 6 0,04 0,31 6 0,04 9,8 6 1,0 14,3 6 1,6 10,7 6 1,7 11,1 6 1,5 14,0 6 1,6 15,9 6 1,8 72,8 6 4,3 10,7 6 0,5 6,3 6 0,2 68,0 6 2,1 12,5 6 0,2 5,9 6 0,1 4,5 6 0,4 3,8 6 0,4 58,8 6 5,2 53,5 6 2,8 14,3 6 1,0 o 21,0 6 1,9 * 32,1 6 4,0 14,9 6 0,4 4,8 6 0,1 *** *** *** 35,1 6 2,7 14,8 6 0,5 4,6 6 0,1 *** *** *** 6,1 6 0,3 *** 6,6 6 0,3 *** 14,0 6 1,5 11,9 6 0,5 4,5 6 0,1 *** *** *** 14,6 6 1,5 13,9 6 0,4 4,4 6 0,1 *** *** *** horizonte A verão inverno 0,75 6 0,09 0,71 6 0,07 0,09 6 0,01 0,08 6 0,01 2,3 6 0,2 2,5 6 0,3 2,8 6 0,4 2,1 6 0,3 8,3 6 0,5 9,4 6 0,5 5,9 6 0,2 5,7 6 0,1 MATA CILIAR camada Ai verão inverno 3,42 6 0,24 o 5,71 6 0,68 * 0,23 6 0,02 o 0,35 6 0,04 o 12,8 6 0,8 * 26,6 6 2,7 *** 4,5 6 0,6 *** 7,3 6 0,8 * horizonte A verão inverno 1,08 6 0,07 *** 1,31 6 0,08 *** 4,6 6 0,1 o 0,09 6 0,01 * 3,9 6 0,4 *** 6,9 6 0,5 *** 0,8 6 0,1 *** 0,9 6 0,1 *** FLORESTA SECUNDÁRIA (após extrativismo) camada Ai verão inverno 4,48 6 0,42 ** 6,56 6 0,57 *** 0,41 6 0,05 * 0,58 6 0,06 *** 8,3 6 0,7 *** 26,0 6 1,8 *** 13,8 6 1,5 * 20,2 6 1,9 *** 17,2 6 1,9 *** 27,3 6 2,1 *** 80,7 6 3,7 11,0 6 0,3 6,4 6 0,1 * o o 72,3 6 2,1 11,4 6 0,3 6,1 6 0,1 o o o 5,6 6 0,5 o 7,2 6 0,6 *** 68,6 6 5,1 o 60,6 6 5,2 o horizonte A verão inverno 0,94 6 0,04 * 1,43 6 0,10 *** 0,11 6 0,01 * 0,15 6 0,01 *** 1,5 6 0,2 ** 4,1 6 0,3 *** 3,9 6 0,5 o 4,4 6 0,6 *** 9,0 6 0,5 o 9,8 6 0,3 o 6,2 6 0,2 o 6,0 6 0,2 o FLORESTA SECUNDÁRIA (após corte e queima) camada Ai inverno 4,06 6 0,83 o 0,31 6 0,05 o 11,2 6 2,1 o 6,9 6 0,4 * 12,4 6 0,6 o 56,4 6 3,4 13,0 6 0,7 5,7 6 0,2 ** o o 5,5 6 0,6 ** 31,6 6 7,0 * horizonte A inverno 0,92 6 0,12 o 0,11 6 0,01 *** 3,3 6 0,3 o 1,9 6 0,6 o 7,9 6 0,4 * 5,2 6 0,2 ** 115 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Tabela 8: Características da fração agregada dos horizontes pedológicos - camada de interface Ai (0 - 2 cm) e horizonte A (2 -12cm)- dos solos das lorestas primárias – Mata Alta e Mata Ciliar- e secundárias da Reserva Mata Alta e Mata Ciliar- e secundárias - após extrativismo e após corte e queima - da Reserva Natural Vale. Média ± erro padrão. C: carbono orgânico; N: nitrogênio; P: fósforo assimilável; SB: soma de bases; CTC: capacidade de troca catiônica; %V: saturação em bases. Comparação entre a Mata Alta e os outros sistemas: teste t; 0: diferença não signiicativa; *: a<0,05; **: a<0,01; ***: a<0,001. C N P ____ g kg-1 ____ SB _ mg kg-1_ CTC _____ cmolc kg-1 ____ V % C:N pH MATA ALTA camada Ai verão 6,98 6 1,22 0,61 6 0,12 22,0 6 1,7 23,1 6 3,9 29,4 6 4,2 77,5 6 3,3 11,6 6 0,4 6,3 6 0,2 inverno 8,28 6 0,62 0,63 6 0,03 19,0 6 1,5 23,4 6 3,1 34,2 6 4,1 68,1 6 1,0 13,1 6 0,5 5,8 6 0,0 horizonte A verão 1,49 6 0,29 0,17 6 0,03 5,5 6 0,9 5,4 6 1,4 7,8 6 1,6 65,7 6 5,5 8,9 6 0,2 6,2 6 0,2 inverno 1,79 6 0,25 0,20 6 0,02 3,8 6 0,3 4,6 6 0,5 8,2 6 0,5 56,2 6 3,0 9,1 6 0,3 5,8 6 0,1 21,4 6 1,6 o 22,6 6 0,7 * 28,3 6 6,2 13,7 6 0,3 4,6 6 0,2 ** ** ** 25,4 6 2,9 13,5 6 0,3 4,5 6 0,1 * o * 11,2 6 0,7 o 12,5 6 0,4 ** 14,3 6 4,0 11,8 6 0,4 4,4 6 0,1 ** ** ** 11,3 6 1,0 13,5 6 1,4 4,4 6 0,1 ** ** ** MATA CILIAR camada Ai verão inverno 5,58 6 0,47 o 5,29 6 0,19 * 0,41 6 + 0,04 18,2 6 2,8 o o 0,39 6 0,01 17,0 6 2,0 * o 6,1 6 1,4 ** 5,7 6 0,5 * horizonte A verão inverno 2,49 6 0,21 o 2,79 6 0,48 o 0,21 6 0,01 o 0,20 6 0,01 o 9,5 6 1,0 * 9,0 6 1,2 ** 1,6 6 0,4 * 1,4 6 0,1 ** FLORESTA SECUNDÁRIA (após extrativismo) camada Ai verão 4,94 6 0,45 o 0,47 6 0,04 o 8,8 6 0,6 * 15,5 6 0,9 o 20,0 6 1,0 o 77,7 6 1,3 10,4 6 0,2 6,5 6 0,0 o * o inverno 6,03 6 0,61 * 0,56 6 0,06 o 10,5 6 0,7 * 17,4 6 2,3 o 23,7 6 2,1 * 72,8 6 4,2 10,8 6 0,2 6,2 6 0,2 o * o horizonte A verão inverno 1,85 6 0,09 o 2,19 6 0,07 o 0,21 6 0,01 o 0,23 6 0,00 o 3,3 6 0,3 * 4,0 6 0,0 o 6,4 6 0,4 o 6,6 6 0,9 o 8,9 6 0,4 71,4 6 1,0 9,0 6 0,3 o o o 10,7 6 0,4 62,4 6 10,1 9,4 6 0,2 * o o 6,3 6 0,0 o 6,0 6 0,4 o FLORESTA SECUNDÁRIA (após corte e queima) camada Ai inverno 3,94 6 0,18 * 0,32 6 0,02 * 9,0 6 1,2 * 8,6 6 0,7 * 17,3 6 0,8 * 49,9 6 2,3 12,2 6 0,6 5,4 6 0,1 * o * 9,3 6 0,5 o 36,9 6 6,6 11,3 6 2,2 5,1 6 0,2 * o * horizonte A inverno 116 1,84 6 0,18 o 0,17 6 0,02 o 5,0 6 0,6 o 3,5 6 0,8 o GARAY ET AL. Mata Ciliar os que apresentam um maior caráter ácido e os menores conteúdos de Ca2+. Em todos os casos os valores de C ∕ N correspondem a um húmus de tipo mull (Tabela 7 e Tabela 8). O conjunto das informações referentes aos conteúdos de bases de troca e os respectivos pesos de agregados e fração ina permitem estimar os estoques de nutrientes do complexo sortivo: a Mata Ciliar é sem dúvida o sistema mais pobre, quando comparado com a Mata Alta, tanto com respeito à SB, quanto aos conteúdos de Ca2+. O contrário se veriica no caso da loresta SE, com os maiores valores tanto de SB, quanto de Ca2+ (Figura 9). Os cations Mg2+, Na+ e K+ apresentam quantidades similares nos quatro sítios de estudo e com valores da ordem de sete a dez vezes menores que os de Ca2+. Os valores relativos à dispersão dos dados entre as estações – verão e inverno representados acima dos histogramas (1∕2 erro padrão) mostram uma relativa estabilidade sazonal. As raízes inas no peril húmico Apesar das quantidades totais apresentam valores similares, a distribuição de raízes inas nas camadas húmicas não difere entre os sistemas estudados: os solos das lorestas secundárias FORMAS DE HÚMUS mantêm proporções similares entre a camada Ai e o horizonte A. Desta forma, pode ser postulado que a capacidade de absorção de nutrientes dos horizontes supericiais não está drasticamente alterada nas lorestas secundárias (Figura 10). Merece ser assinalado que as quantidades de raízes representam um estoque orgânico de importância quantitativa similar aos estoques de folhiço. Ainda, as menores quantidades de raízes inas na camada Ai não dizem respeito à maior densidade aí presente: a profundidade dessa camada é da ordem de 4 a 5 vezes inferior que o horizonte A amostrado. DISCUSSÃO Classiicação das formas de húmus nos sistemas primários –MA e MC- e secundários –SE e SQ Os peris húmicos correspondentes às lorestas primárias e às lorestas secundárias SE e SQ estão representados na Figura 11. Parece interessante incluir resultados publicados referentes à Mata de Muçununga e à Mata Alta em estudo anterior, a im de completar as informações referentes às lorestas primárias. Com base na classiicação morfofuncional proposta pela Associação Francesa Figura 9: Estoques de nutrientes do complexo sortivo nos horizontes supericiais do solo Ai e A (0 -12cm) em lorestas primárias e secundárias da Floresta Atlântica de Tabuleiros na Reserva Vale – Linhares, ES. SB: soma de bases; Ca++: cálcio trocável; Mg++: magnésio trocável; K+: potássio trocável; Na+: sódio trocável. SE: loresta secundária após extrativismo seletivo; SQ: loresta secundária após corte e queima. 117 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE de Ciência do Solo (Berthelin et al., 1994), as formas de húmus estudadas correspondem ao tipo mull tropical, tal como previamente deinidos por Garay et al. (1995) e Kindel & Garay (2001; 2002). Devem, com efeito, ser consideradas três Figura 10: Quantidades de raízes inas no peril húmico nas amostras de lorestas primárias – Mata Alta e Mata Ciliar - e secundárias. características: 1) contato direto entre os restos foliares e um horizonte ou camada orgânico-mineral subjacente (sem presença de um horizonte H de matéria orgânica amorfa); 2) relação C/N baixa, por exemplo, menor que 15, no horizonte A; 3) presença de um horizonte Ai de interface onde se acumulam a matéria orgânica e os nutrientes, com abundância de raízes inas, no topo do solo. Por im, as camadas de restos foliares pouco espessas revelam uma velocidade de decomposição relativamente rápida dos aportes orgânicos, o que é próprio dos húmus tipo mull. Entretanto, os resultados permitem ainda classiicar um mull tropical mesotróico, com ao redor de 50% de V para a Mata Alta e a loresta secundária após extrativismo seletivo, que se distingue do mull tropical oligotróico presente no solo da Mata Ciliar, com valores inferiores a 15% de V (Figura 11). Os estoques de matéria orgânica e os valores de C, N e bases de troca se mantêm relativamente estáveis entre as amostragens de verão e inverno em todos os sítios de estudo, o que evidencia certa estabilidade nas formas de húmus estudadas. No Figura 11: Peris húmicos das lorestas primárias e secundárias da Reserva Florestal Vale. As superfícies das camadas húmicas e do horizonte A são proporcionais às quantidades de matéria orgânica. Para a Mata de Muçununga e a Mata Alta (1), os dados correspondem a Garay et al. (1995). 118 GARAY ET AL. que diz respeito à Mata Alta, os valores obtidos são da mesma ordem que estimativas correspondentes a outros anos e em diferentes sítios da Reserva Natural Vale (ver também Garay et al., 1995; Kindel & Garay, 2002), de acordo com a hipótese de que as formas de húmus são estáveis em ecossistemas não perturbados (Duchaufour & Toutain, 1985). Uma forma de húmus fortemente contrastante foi caracterizada para a denominada Mata de Muçununga (Garay et al., 1995). Trata-se de um húmus tipo moder com signiicativo acúmulo de matéria orgânica amorfa na camada H, alto acúmulo de resíduos foliares fragmentados ou camada F, baixa %V e quociente C/N alto. Pode se deduzir uma lenta velocidade de decomposição neste sistema. O confronto com o húmus moder da Muçununga permite apreciar melhor a semelhança entre os húmus das lorestas secundárias e a Mata Alta, o conjunto dos sistemas recobrindo os sedimentos Barreiras e sobre o mesmo tipo de solo Argissolo Vermelho-amarelo. Se for assumida a hipótese de que as propriedades do solo são similares entre a Mata Alta e nas lorestas SE e SQ, pode-se considerar que a intervenção antrópica sofrida por estes sistemas representa a causa última da menor velocidade de decomposição dos horizontes holorgânicos. Pelo contrário, para a Mata Ciliar, a proximidade da água representa um fator de variação suplementar que determina, sem dúvida, diferenças nos horizontes pedológicos e, em particular, uma maior pobreza nutricional, a que associada às maiores quantidades de matéria orgânica, determina baixos valores de saturação em bases. Quanto às raízes incorporadas no peril húmico, as biomassas não mostram modiicações signiicativas ligadas a áreas de extrativismo (Garay et al., 2008). Apesar da acumulação orgânica no topo do solo, a similitude morfológica e química destas formas de húmus deixa considerar que, do ponto de vista do subsistema de decomposição, as lorestas secundárias manifestam uma sustentabilidade funcional. As lorestas primárias: Mata Alta e Mata Ciliar Os povoamentos lorestais estudados apresentaram diferenças marcantes com relação, em primeiro lugar, à sua composição e estrutura. Em FORMAS DE HÚMUS segundo lugar, as diferenças concernem igualmente à organização funcional que diz respeito, tanto aos grupos sucessionais, quanto ao grau de escleroilia das populações que compõem o mosaico lorestal. Se em grande parte tais diferenças são derivadas das interações próprias entre as populações biológicas e da heterogeneidade dos fatores mesológicos como o clima, geomorfologia ou solo, distúrbios naturais e antrópicos constituem fatores últimos do determinismo das populações presentes e, portanto, do funcionamento de fácies lorestais distintas (Holdsworth & Uhl, 1997; Philips, 1997; Laurance et al., 2000; Lavorel & Garnier, 2002). Considerando o conjunto dos resultados, as maiores diferenças opõem a Mata Alta à Mata Ciliar, apesar de compartilharem características de matas primárias, em decorrência, notadamente, da estrutura sucessional que apresenta signiicativa dominância relativa, densidade e área basal de espécies consideradas clímax ou secundárias tardias. O histórico das manchas lorestais analisadas, que exclui impactos antrópicos nas últimas décadas, apóia os resultados obtidos. Entretanto, duas propriedades associadas marcam as folhas das espécies presentes na Mata Ciliar: apesar de pertencer à mesma categoria sucessional que a Mata Alta, a importante escleroilia representa uma característica distintiva dessas espécies, propriedade que se encontra associada às baixas concentrações de nitrogênio do material foliar. Ainda, a estrutura taxonômica explica, em grande parte, estas propriedades já que as famílias Myristicaceae, Chrysobalanaceae e Sapotaceae são especialmente dominantes, assim como Moraceae e Arecaceae, famílias que englobam espécies arbóreas perenifólias, com grau de escleroilia signiicativo. Haja vista as condições particulares de encharcamento e da possível lixiviação de nutrientes do solo por cursos d’água, o grau de escleroilia poderia representar uma resposta adaptativa à heterogeneidade do hábitat que leva à seleção de determinadas populações (Garay & Rizzini, 2004). Segue-se, em consequência, uma menor produtividade do ecossistema (Eamus, 1999), assim como uma menor velocidade do subsistema de decomposição, com acúmulo de matéria orgânica nos horizontes supericiais. Contudo, o maior acúmulo orgânico se produz no horizonte A que contem mais de 70% de matéria orgânica na Mata Ciliar que na Mata Alta (20 Mg. ha-1 na MA versus 119 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE 34 Mg. ha-1 na MC) (ver Figura 11). Na Mata Alta, existe uma maior abundância e dominância de famílias características da Floresta de Tabuleiros tais como Myrtaceae, Sapotaceae e Lecithydaceae, com uma distribuição mais equitativa entre os grupos funcionais com espécies escleróilas de menor conteúdo de nitrogênio, outras da categoria intermediária, ou seja, menos escleróilas e com maior conteúdo de nitrogênio foliar e, todavia, espécies de alto conteúdo de nitrogênio e não escleróilas. Os aportes foliares e o folhiço acumulado reletem a riqueza nutritiva do material foliar, o que induz uma rápida transformação das folhas que recobrem o solo. As lorestas secundárias após impactos antrópicos Em lorestas que sofreram estrativismo e em lorestas que sofreram queima ou corte, os sistemas manifestam a mesma modiicação: são as espécies secundárias inicias que predominam na composição do dossel (Rolim et al., 2006). Trata-se, assim, de verdadeiros sistemas secundários que possuem baixo número de espécies clímax ou secundárias tardias. Do ponto de vista da estrutura da comunidade arbórea, a diminuição dos valores de densidade, área basal e riqueza é esperada em lorestas antropicamente impactadas (Oliveira 2002; Rodrigues, 2004). Porém, nosso trabalho demonstra que nem todos os sistemas apresentam modiicações idênticas, nem da composição das espécies, nem de todos os parâmetros de estrutura da loresta. Após várias décadas de haver sido exercido um forte impacto extrativista na parcela lorestal SE, a riqueza de espécies e as densidades são comparáveis às da Mata Primária mas nem a estrutura nem a composição loristica foram conservadas ou recuperadas e, ainda menos, as características funcionais das espécies. A diminuição dos valores de área basal com respeito à Mata Alta permite inferir que houve seleção na supressão dos indivíduos de maior diâmetro, resultando em uma comunidade arbórea com indivíduos menores. Inclusive, são as espécies escleróilas que estão fortemente diminuídas com respeito à Mata Alta o que supõe que foram extraídas as espécies de lenho duro, segundo a simples equação folhas duras, lenho duro. 120 Aparece então uma signiicativa abundância de Fabaceae e Euphorbiaceae, conformando uma comunidade arbórea de espécies predominantemente não escleróilas, ricas em nitrogênio e nutrientes, especialmente Ca. As quantidades de matéria orgânica e nitrogênio do solo são importantes, assim como as quantidades de bases trocáveis. Desde o ponto de vista funcional, a loresta SE se assemelha mais à Mata Alta que à loresta SQ. Entretanto, a velocidade de decomposição é mais lenta, o que poderia ser graças à importante queda de galhos, que contribuem para o acúmulo de matéria orgânica no topo do solo. No caso da mata após corte e queima, nota-se, sobretudo, uma menor densidade de indivíduos e uma menor riqueza de espécies que nos outros sistemas. Pode-se considerar a hipótese de que este sistema foi afetado com relação à menor disponibilidade de nutrientes para regeneração e na pouca disponibilidade de propágulos de espécies (Taylor et al., 2013). Do ponto de vista da escleroilia, as espécies secundárias iniciais ali presentes apresentam um caráter intermediário e também escleróilo e, portanto, folhas relativamente pobres em nitrogênio, o que explica a menor velocidade de decomposição dos aportes em relação à loresta secundária após extrativismo. Como nos casos precedentes, a propriedade das folhas encontra-se em relação estreita com a composição taxonômica e, em particular, com as famílias dominantes. Neste caso, as famílias em questão são Annonaceae, Euphorbiaceae, ou, ainda, Moraceae, Arecaceae e Salicaceae, ou seja, famílias cujas espécies apresentam certo grau de escleroilia que possibilita a colonização do substrato sem cobertura vegetal. Comparada com a loresta secundária após extrativismo seletivo, a predominância de espécies com maior grau de escleroilia como resposta à luminosidade direta, por um lado, e a um possível empobrecimento do solo consecutivo à queima, por outro, não pode ser descartada como fator determinante da seleção adaptativa das populações arbóreas. Todavia, a característica comum às lorestas secundárias é, por um lado, a menor decomposição dos aportes foliares e, por outro, o acúmulo de matéria orgânica nos horizontes orgânico-minerais Ai e A, em relação à Mata Alta, com 28 to ha-1 e 27 to ha-1 no sistema SE e SQ, respectivamente (ver Figura 11). GARAY ET AL. CONCLUSÃO GERAL Em áreas de Floresta Atlântica impactadas pelo homem, a substituição de espécies consideradas secundárias tardias ou clímax por aquelas próprias de início de sucessão, com as respectivas mudanças nas características funcionais das populações arbóreas, encontra-se amplamente documentada (Neves, 1999; Tabarelli et al., 1999; Oliveira, 2002; Oliveira-Filho et al., 2005; Rolim et al., 2006; Villela, 2006; Carvalho et al., 2007; Christo et al., 2009; Finotti et al., 2012). Entretanto. os efeitos de tal substituição em relação aos processos ecossistêmicos são raramente avaliados, apesar de que em teoria é recomendado relacionar diferentes tipos de indicadores numa perspectiva de integração hierárquica dos níveis de espécies e de comunidade até o ecossistema (Garay, 2001; Simberloff, 1998; Ehrenfeld & Toth, 1997). Em conclusão, os resultados mostram que a compreensão da estrutura e do funcionamento de um mosaico lorestal, constituído por diferentes tipos de loresta primária e parcelas resultantes de diferentes impactos antrópicos, deve ser baseada no estudo das interações entre a vegetação e o solo, a im de caracterizar e validar indicadores ecossistêmicos. Assim, os mecanismos de decomposição da matéria orgânica e a qualidade do folhiço e sua evolução, com consequência direta sobre a reciclagem de nutrientes (Anderson & Swift, 1983; Aerts, 1997; Baillie et al., 2006) são altamente dependentes da composição e estrutura das comunidades arbóreas e de suas características funcionais. Nesta perspectiva, o subsistema decompositor e, sobretudo, as formas de húmus, apoiam a hipótese da sustentabilidade funcional dos ecossistemas emergentes após algumas décadas de serem impactados pelas atividades humanas. No total, guardadas as limitações impostas por estudos pontuais, a variabilidade de fácies lorestais determinadas por fatores mesológicos ou, inclusive, antrópicos parece levar a uma maior expressão da diversidade funcional do conjunto das populações arbóreas. Em linhas gerais, as denominadas lorestas secundárias aqui estudadas, podem ser consideradas como ecossistemas emergentes: FORMAS DE HÚMUS nem o tempo de uma suposta sucessão que alcança o estágio clímax nem a total substituição das populações pioneiras ou secundárias iniciais pelas espécies ameaçadas de extinção que foram extraídas podem ser preditos. Porém, em termos de conservação da biodiversidade, esses sistemas possibilitam uma maior expressão genética de espécies pioneiras e, sobretudo, secundárias iniciais com signiicativo potencial para ações de recuperação de áreas degradadas e restauração lorestal. AGRADECIMENTOS O presente trabalho foi inanciado pelo Probio Ministério do Meio Ambiente, Faperj, CNPq, Capes e UFRJ. Somos especialmente gratos ao Dr. Bráulio de Souza Dias assim como ao Prof. Dr. Robert Barbault (in memoriam) pelo apoio intelectual dado a nossa pesquisa. Agradecemos igualmente à Companhia Vale pelo apoio outorgado durante anos, por meio de seus funcionários e responsáveis e, em particular, ao Eng. Dr. Renato Moraes de Jesus. Nosso agradecimento se estende igualmente aos numerosos alunos de mestrado e iniciação cientíica que de diversas maneiras participaram de nossa pesquisa. Gostaríamos de agradecer igualmente aos revisores que possibilitaram melhorar o manuscrito. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Achard, F.; Eva, H.D.; Stibig, H.J.; Mayaux, P.; Gallego, J.; Richards, T. & Malingreau, J.P., 2002. Determination of Deforestation Rates of the World’s Humid Tropical Forests. Science 297: 999–1002. Aerts, R. 1997. Climate, leaf litter chemistry and leaf litter decomposition in terrestrial ecosystems: a triangular relationship. Oikos 79: 439−449. Anderson, J.M. & Swift, M.J. 1983. 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Família Herbário CVRD Abreviação Grupo 327 CARBRA CL 153 86 85 ASTCON SPOMAC SPOVEN SI SI SI 300 301 GUASEL ANNNEO SI SI 282 GEILAE CL 175 SCHMOR PI 506 509 ASTACU ALLCAU CL SI 195 HANRIO SI 140 CORECA SI 76 12 PROHEP PROWAR SI ST 230 229 JACHEP JACSPI SI PI 291 CAREDU ST 250 COUSCH CL 286 TERMAM SI 232 10 141 71 418 498 331 BRAMAM CARJAN GLYAMA JOAPRI SAPGLA SEBDIS SENMUL SI ST SI PI SI ST CL 204 208 281 166 183 262 205 84 218 24 283 23 395 DALNIG DIAGUI DIMJOR GONMAR INGSTR LONCUL MACFUL MOLPAP PARPEN PSECON PTEROH SENPOL SWAAPE SI ST SI ST SI SI ST SI SI SI SI SI CL 439 OCOELE CL 215 CARLEG ST ACHARIACEAE Carpotroche brasiliensis (Raddi.) A. Gray ANACARDIACEAE Astronium concinnum (Engl.) Schott Spondias cf. macrocarpa Engl. Spondias venulosa Mart. ex Engl. ANNONACEAE Guatteria sellowiana Schltdl. Annona dolabripetala Raddi APOCYNACEAE Geissospermum laeve (Vell.) Baill. ARALIACEAE Scheflera morototoni (Aubl.) Maguire, Steyermark & Frodin ARECACEAE Astrocaryum aculeatissimum (Schott) Burret Allagoptera caudescens (Mart.) Kuntze BIGNONIACEAE Handroanthus riodocensis A. Gentry BORAGINACEAE Cordia ecalyculata Vell. BURSERACEAE Protium heptaphyllum (Aubl.) March. subsp. heptaphyllum Protium aff. warmingianum March. CARICACEAE Jacaratia heptaphylla (Vell.) A. DC. Jacaratia spinosa (Aubl.) A. DC. CARYOCARACEAE Caryocar edule Casar. 126 CHRYSOBALANACEAE Couepia schottii Fritsch COMBRETACEAE Terminalia mameluco Pickel EUPHORBIACEAE Brasiliocroton mamoninha P.E.Berry & Cordeiro Caryodendron janeirense Müll.Arg. Glycydendron amazonicum Ducke Joannesia princeps Vell. Sapium glandulosum (L.) Morong Sebastiania discolor (Spreng.) Müll. Arg. Senefeldera multilora Mart. FABACEAE Dalbergia nigra (Vell.) Allemao ex Benth. Dialium guianense (Aubl.) Sandwith Dimorphandra jorgei M.F. Silva Goniorrhachis marginata Taub. Inga striata Benth. Lonchocarpus cultratus (Vell.) Az.- Tozzi & H.C. Lima Machaerium fulvovenosum H.C.Lima Moldenhawera papillanthera L.P.Queiroz, G.P.Lewis & R.Allkin Parkia pendula (Willd.) Benth. Pseudopiptadenia contorta (DC.) G.P.Lewis & M.P.M.de Lima Pterocarpus rohrii Vahl. Senegalia polyphylla (DC.) Britton & Rose Swartzia apetala var. glabra (Vogel) R.S.Cowan LAURACEAE Ocotea elegans Mez LECYTHIDACEAE Cariniana legalis (Mart.) Kuntze. GARAY ET AL. Eschweilera cf. ovata (Cambess.) Miers. Lecythis lanceolata Poir. Lecythis lurida (Miers) S.A.Mori FORMAS DE HÚMUS 178 325 193 ESCOVA LECLAN LECLUR ST CL CL 256 BYRSTI PI 179 72 9 272 313 176 ERIMAC HYDTRI PAVCAL PSEGRA QUAPEN STESPE SI SI PI SI CL CL 118 449 CEDODO TRICAS SI CL 220 353 243 207 53 352 139 BROGLA BROGUI FICGOM HELTOM NAUOBL POUGUI SORGUI ST CL SI ST CL CL CL 69 70 VIRGAR VIRBIC CL CL 499 391 64 64 366 206 CALLUC CAMESP EUGEXC EUGFUS EUGPLA PLIINV CL CL ST ST CL ST 216 237 GUAOPP PISAMB SI SI 155 37 269 GALLAX NEOALB RAVINF CL CL CL 426 421 BANBRA CASCOM SI CL 88 523 CUPSCR PSEFRU CL CL 381 54 2 275 240 109 130 59 234 3 CHRJAN CHRGON ECCRAM MANBEL MANSAL MICGNA MICCRA POUGUI POUBUT POUCOE CL CL ST CL CL CL CL CL CL ST 341 SCHOBL CL 114 SIMAMA SI 334 RINBAH CL MALPIGHIACEAE Byrsonima stipulacea (Juss.) Nied. MALVACEAE Eriotheca macrophylla (K. Schum.) A. Robyns Hydrogaster trinervis Kuhlm. Pavonia calyculosa St.-Hilaire & Naudin Pseudobombax grandilorum (Cav.) A. Robyns Quararibea pendulilora (A.St.Hil.) K. Schum. Sterculia speciosa Ducke MELIACEAE Cedrela odorata Linn. Trichilia casaretti C.DC. MORACEAE Brosimum glaucum Taub. Brosimum guianense (Aubl.) Huber Ficus gomelleira Klunth & Bouche Helicostylis tomentosa (Poep. et Endl.) Rusby Naucleopsis oblongifolia (Kuhlm.) Carauta Pourouma guianensis Aubl. subsp. guianensis Sorocea guilleminiana Gaudich. MYRISTICACEAE Virola gardneri (A.DC.) Warb. Virola bicuhyba (Schott ex Spreng.) Warb. MYRTACEAE Calyptranthes lucida var. polyantha (Berg) C.D.Legrand Campomanesia espiritosantensis Landrum Eugenia excelsa O.Berg Eugenia fusca O.Berg Eugenia platyphylla O.Berg Plinia involucrata (Berg) McVaugh. NYCTAGINACEAE Guapira opposita (Vell.) Reitz Pisonia aff. ambigua Heimerl RUTACEAE Galipea cf. laxilora Engl. Neoraputia alba (Nees & Mart.) Emmerich Ravenia infelix Vell. SALICACEAE Banara brasiliensis (Schott) Benth. Casearia commersoniana Cambess. SAPINDACEAE Cupania cf. scrobiculata L.C. Rich. Pseudima frutescens (Aubl.) Radlk. SAPOTACEAE Chrysophyllum aff. januariense Eichler Chrysophyllum gonocarpum ( Mart. & Eichler ex Miq. ) Engl. Ecclinusa ramilora Mart. Manilkara bella Monach. Manilkara salzmannii (A.DC.) H.J.Lam Micropholis aff. gnaphaloclados Pierre Micropholis crassipedicellata (Mart. & Eichler.) Pierre Pouteria aff. guianensis Aubl. Pouteria butyrocarpa (Kuhlm.) T.D.Penn. Pouteria coelomatica Rizzini OLACACEAE Schoepia brasiliensis A. DC. SIMAROUBACEAE Simaruba amara Aubl. VIOLACEAE Rinorea bahiensis (Moric.) Kuntze 127 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE 128 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE 8 EFEITO DE BORDA NA FUNCIONALIDADE DOS GRANDES FRAGMENTOS DE FLORESTA DE TABULEIRO DO NORTE DO ESPÍRITO SANTO Luiz Fernando Silva Magnago, Fabio Antonio Ribeiro Matos, Sebastião Venâncio Martins, João Augusto Alves Meira Neto & Eduardo van den Berg INTRODUÇÃO Quando pensamos na Floresta Atlântica brasileira, as primeiras coisas que lembramos são da elevada riqueza de espécies que se pode encontrar e o quão desmatado está esse domínio itogeográico (ver Ribeiro et al., 2009). Na Floresta Atlântica é possível encontrar mais de 380 espécies arbóreas em apenas um hectare de loresta (Saiter et al., 2011). Em decorrência do desmatamento, toda essa riqueza de espécies está coninada em apenas 11,26% de cobertura lorestal remanescente, da qual 80% dos fragmentos são menores que 50 hectares (Ribeiro et al., 2009). Muitas vezes as paisagens estão fragmentadas a ponto de impactar severamente a riqueza de espécies existentes (p. ex. Pardini et al., 2010), fazendo com que lorestas mega diversas como a Floresta Atlântica esteja entre as mais ameaçadas do planeta (Fonseca et al., 2004), igurando entre os “hotspots” de diversidade propostos por Myers et al. (1999). Estudar as alterações na riqueza e composição de espécies em função dos efeitos da criação de bordas e/ou, da redução dos tamanhos dos fragmentos tem sido um dos temas mais relevantes em estudos sobre lorestas tropicais (Laurance et al., 2002; Tabarelli et al., 2010; Pardini et al., 2010; Pütz et al., 2011), uma vez que dados embasados na identidade taxonômica das espécies revelam informações sobre as interações entre as espécies e as mudanças do ambiente (Macarthur, 1972; Grime 2001; Tilman, 1982; Magurran, 2004), sendo utilizados para indicar áreas relevantes para conservação (Myers, 1988; Hill et al., 2003; Edwards et al., 2011). Entretanto, as informações embasadas unicamente na identidade taxonômica mostramse incompletas para demonstrar as mudanças na biodiversidade relacionadas ao ambiente, pois não levam em conta aspectos biológicos e funcionais das espécies, sendo insuicientes para explicar os processos ecossistêmicos (Villéger et al., 2010). O estudo da fragmentação pode ser complexo em razão de uma ampla gama de variáveis ambientais, como atributos microclimáticos e do solo e do histórico de uso da paisagem, além de aspectos intrínsecos de cada ecossistema, como aqueles relacionados à dinâmica lorestal e às interações biológicas (Murcia et al., 1995; Laurance et al., 2002; Fahrig, 2003; Harper, et al., 2005). Desta forma, o uso de metodologias que levam em conta o papel funcional das espécies no ambiente, e não apenas seu caráter taxonômico, pode auxiliar as interpretações das relações ecológicas existentes (Chapin, 2003). 129 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Há muitos estudos que tratam dos efeitos da fragmentação e da perda de habitat, porém, em sua grande maioria, tais estudos têm foco nos efeitos sobre a diversidade taxonômica (Laurance et al., 2006; Arroyo-Rodrigues et al., 2009). Mais recentemente, há um crescente interesse na diversidade ilogenética e funcional (Cianciaruso et al., 2009; Gastauer & Meira-Neto, 2013). Aqui, iremos nos concentrar nos efeitos da perda de habitat sobre a diversidade funcional em remanescente de loresta tropical de elevada diversidade, evidenciando que esta abordagem se mostra adequada para entendermos mais profundamente os efeitos da fragmentação (p. ex. efeitos de borda). Contrastando a diversidade taxonômica e funcional A diversidade taxonômica usualmente é avaliada utilizando-se índices sintéticos de diversidade (p. ex. Shannon-Wiener e Simpson [Maurer & Mcgill, 2010]), através da combinação da riqueza de espécies presentes em uma amostragem, como a uniformidade da distribuição do número de indivíduos entre as espécies (Colwell, 2009). Apesar de ambos os índices sintéticos ponderarem de forma diferenciada, as espécies raras e a equabilidade, isoladamente, caracterizam inadequadamente a biodiversidade (Magurran, 2004). Outra opção para a avaliação da biodiversidade é considerar o papel de cada espécie nos ecossistemas e suas respostas às variações ambientais (Petchey & Gaston, 2006). Hipoteticamente, imaginemos duas comunidades de espécies arbóreas de Floresta Ombróila Densa de Terras Baixas (Floresta de Tabuleiro) na Reserva Natural Vale, cada qual com cinco espécies arbóreas e dois indivíduos por espécie. Na primeira loresta, temos Abarema cochliacarpos, Actinostemon concolor, Allagoptera caudescens, Annona dolabripetala e Astronium concinnum e na segunda loresta temos cinco espécies pertencente ao gênero Inga spp. Se a riqueza e a uniformidade, isto é, distribuição da abundância de indivíduos por espécies, fossem as mesmas, o índice sintético de diversidade também seria o mesmo para ambas as comunidades. Porém, se levarmos em consideração a diversidade biológica em termos de morfologia dos frutos, capacidade de dispersão, disponibilidade de recursos para fauna e traços da história evolutiva, 130 espera-se que na primeira comunidade a diversidade seja maior. Desta forma, estudos sobre diversidade funcional permitem o entendimento do papel das populações e das comunidades de espécies no funcionamento ecossistêmico (Mcgill et al., 2006). De maneira geral, a ecologia funcional se embasa na utilização de caracteres (p. ex. morfológicos, isiológicos e fenológicos; Violle et al., 2007). Portanto, a seleção dos atributos é um ponto chave em estudos de diversidade funcional. A importância da seleção dos atributos funcionais reside no fato de que os atributos selecionados permitirão uma avaliação mais precisa do papel ecológico das espécies em diferentes habitats do que somente a sua identidade taxonômica (Magurran, 2004; Mcgill et al., 2006; Petchey & Gaston, 2006). Assim, os atributos funcionais devem ser selecionados de acordo com a hipótese que esteja em teste (Cornelissen et al., 2003; Pérez-Harguindeguy et al., 2013), levando em consideração as dimensões do estudo e a viabilidade de se obter determinados atributos funcionais (Magnago et al., 2014). A Reserva Natural Vale (RNV) e Reserva Biológica de Sooretama apresentam uma elevada relevância para conservação, uma vez que seus tamanhos estão acima dos 20.000 hectares. Fragmentos com desse porte representam apenas 0,08% dos remanescentes de Floresta Atlântica existentes no Brasil (Ribeiro et al., 2009). Essas duas reservas ainda são reconhecidamente detentoras de uma elevada diversidade de espécies vegetais e animais (Peixoto & Silva, 1997; Chiarello et al.,1999; Marsden et al., 2001; Jesus & Rolim, 2005; Magnago et al., 2014). Partes dos dados apresentados nesse capítulo foram analisados em nível de paisagem e publicados no artigo de Magnago et al. (2014), onde abordamos os impactos na funcionalidade de espécies arbóreas em função da redução do tamanho dos fragmentos e da criação do habitat de borda para uma paisagem localizada no norte do Espírito Santo. Neste capítulo, apresentamos um novo enfoque, analisando apenas como o efeito de borda em grandes reservas, o que nos permite entender o papel funcional destes dois grandes blocos lorestais na paisagem na qual elas estão inseridas e também mostrar como o efeito borda pode modiicar a funcionalidades desses MAGNAGO ET AL. grandes remanescentes. Assim, nosso estudo foi conduzido para responder as seguintes questões relacionadas à criação do ambiente de borda em grandes fragmentos: (i) Como os atributos funcionais, em termos de riqueza e do número de indivíduos, respondem ao efeito de borda? (ii) Como a diversidade funcional é impactada pelo efeito de borda? Para isso, amostramos indivíduos de espécies arbóreas em áreas de interior e borda de dois grandes fragmentos de Floresta Atlântica de Tabuleiro na região Norte do Espírito Santo. EFEITO DE BORDA MATERIAL E MÉTODOS Área de estudo A área de estudo está localizada na região Sudeste do Brasil, no estado do Espírito Santo, nos municípios de Sooretama e Linhares, estando as áreas no entorno das coordenadas 19º04’05”S e 39o57’35”O (Figura 1). A matriz da paisagem é composta por pastagens, café, mamão e principalmente por plantios de Eucaliptus spp. (Rolim et al., 2005). Figura 1: Fragmentos lorestais amostrados na paisagem estudada, região Norte do estado do Espírito Santo. Circulos representam o habitat de interior dos fragmentos, enquanto que o quadrado na cor cinza o ambiente de borda para cada um destes remanescentes. 131 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Coleta de dados Para amostragem da vegetação arbórea, utilizamos o método de parcelas permanentes (Mueller-Dombois & Ellenberg, 1974) com dimensões de 10 × 10 m, dispostas em uma distância mínima de 20 m entre si. Em cada parcela foram amostrados todos os indivíduos arbóreos com circunferência a altura de 1,30 m do solo (CAP) maior ou igual a 15 cm, sendo as parcelas instaladas sempre sobre o mesmo tipo de solo (Argissolo Amarelo). Para avaliar o efeito da fragmentação, realizamos as amostragens no interior e borda dos fragmentos do grande bloco lorestal da Reserva Natural Vale (RNV) e a Reserva Biológica de Sooretama (Rebio), que possuem mais de 20.000 ha de loresta cada. Na RNV e Rebio alocamos 60 parcelas distribuídas em seis transectos de 10 parcelas cada, sendo 30 parcelas na borda e 30 no interior. Os transectos foram distantes, em média, 17,13 km entre si para os transectos de interior e 14,44 km para os transectos de borda (Figura 1). Tratamento dos dados Todas as espécies arbóreas dentro de cada parcela foram classiicadas quanto à síndrome de dispersão seguindo os critérios propostos por van der Pijl (1982). Foram adotadas duas categorias: (i) espécies zoocóricas, como sendo aquelas que produzem diásporos providos por uma ou mais características que implicam em um potencial uso pela fauna, como, por exemplo, polpa carnosa, arilo, ou outras características tipicamente associadas com agentes dispersores por animais e (ii) espécies não-zoocóricas, como sendo aquelas que apresentam características que indicam dispersão por meios abióticos, como sementes aladas, plumas, ausência de características que indiquem algum tipo de dispersão a não ser própria queda, ou sementes provindas de frutos com deiscência explosiva, mas que também não apresentavam qualquer tipo de características de plantas zoocóricas (p. ex. sementes com arilos, sacotesta, etc.). Também classiicamos as espécies em grupos sucessionais, de acordo com o proposto por Bongers et al. (2009), sendo pioneiras aquelas que se desenvolvem em condições dependentes de maior luminosidade, não ocorrendo, em geral, no sub132 bosque; as secundárias iniciais se desenvolvem em condições intermediárias de sombreamento; e as secundárias tardias se desenvolvem exclusivamente em sub-bosque permanentemente sombreado. Para classiicar as espécies quanto a essas características ecológicas foi utilizada a base de dados presente em Jesus & Rolim (2005) para a loresta da Reserva Natural Vale. Para relacionar diretamente a quantidade recurso alimentício, também classiicamos os frutos quanto à consistência do pericarpo. Essa classiicação foi feita para separar as espécies zoocóricas de frutos secos daquelas com frutos carnosos, já que em geral os frutos carnosos tendem a fornecer mais recursos alimentares (Coombe, 1976). Desta forma, classiicamos os frutos das espécies amostradas em frutos carnosos, quando o pericarpo tem consistência carnosa e acumulador de água e frutos secos aqueles com pericarpos secos (Barroso et al., 1999). Os dados para a densidade da madeira em peso seco (g/cm3) foram obtidos no banco de dados The Global Wood Density (GWD) database, na subseção Tropical South America (http:// hdl.handle.net/10255/dryad.235, Chave et al., 2009; Zanne et al., 2009). Para as espécies amostradas não identiicadas em nível de gênero ou não presentes no banco de dados, adotamos os seguintes procedimentos já tradicionalmente empregados (Flores & Coomes, 2011; e Hawes et al., 2012): (i) para as espécies que tivemos apenas a identiicação em nível de família e gênero, usamos a média da densidade da madeira do grupo taxonômico; (ii) para espécies que estavam presentes na nossa amostragem, porém não foram encontradas no banco de dados GWD, izemos uso da média da densidade da madeira do gênero a que a espécie pertence. As espécies que foram apenas identificadas em nível de morfoespécie representaram apenas 1,13% da riqueza de espécies e 0,22% do número de indivíduos total e foram excluídas das análises envolvendo características funcionais. O material botânico foi determinado a partir de consultas ao Herbário CVRD da Vale, Herbário VIES da Universidade Federal do Espírito Santo e auxílios de especialistas. O material encontrado em estádio reprodutivo foi depositado na coleção MAGNAGO ET AL. do Herbário Vale da Reserva Natural Vale em Linhares/ES. Análise dos dados Para análise da diversidade funcional usamos os três índices propostos por Villéger et al. (2008), sendo a riqueza funcional (FRic), a equabilidade funcional (FEve) e a divergência funcional (FDiv). De acordo com Villéger et al. (2008) a FRic representa o volume de espaço de casco convexo funcional ocupada pela comunidade, a FEve representa a regularidade da distribuição em número de indivíduos neste volume e a FDiv representa a divergência na distribuição das características das espécies dentro do volume ocupado por cada atributo funcional. Para o cálculo dos três índices, nós utilizamos os métodos e os scripts de Villéger et al. (2008), sendo trabalhados no ambiente R (R Development Core Team, 2009). Para análise dos dados de atributos funcionais e diversidade funcional, construímos Modelos Gerais Linearizados (GLM), comparando de maneira categórica o habitat de borda e interior EFEITO DE BORDA dos fragmentos amostrados. Os modelos foram construídos com a função “glm” do pacote “stats”. As distribuições de erros utilizadas foram a de Poisson para os dados de contagem, porém para estes mesmos tipos dados, também aplicamos a distribuição Binomial Negativa. Sempre que necessário, usamos as correções de dados com superdispersão, comuns no uso da família de erro de Poisson. Utilizamos a distribuição Gaussiana para os demais dados, sendo respeitada a distribuição normal dos dados. Todas essas análises foram realizadas no ambiente R (R Development Core Team, 2009). RESULTADOS Impactos nos atributos funcionais Em nosso estudo, amostramos 268 espécies arbóreas, estando estas distribuídas em 52 famílias botânicas. Apresentando de maneira descritiva, encontramos que o ambiente de borda dos fragmentos apresentou uma média de 14,1 ± 3,29 espécies por parcela, valor semelhante ao Figura 2: Comparação dos valores de riqueza de espécies por atributo funcional entre os habitats de borda e interior estudados nas Reserva Natural Vale e Rebio de Sooretama. (A) Pioneiras; (B) Secundárias iniciais; (C) Secundárias tardias; (D) Zoocóricas; (E) Não zoocóricas; (F) Frutos carnosos. *<0,05; **<0,01: ***<0,001; ns=Não signiicativo; Diamantes cinza representam a média dos valores; Círculos pretos representam possíveis outliers. 133 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE observado para os interiores dos fragmentos: 14,4 ± 3,22 espécies por parcela. Comparando os grupos sucessionais entre os habitats de borda com o interior dos fragmentos, observamos uma redução signiicativa na riqueza de espécies pioneiras (z=-4,133; p<0,001; Figura 2A) e secundárias iniciais (z=-0,76392; p<0,001; Figura 2B) e um aumento signiicativo na riqueza de espécies secundárias tardias (z= 5,21; p<0,001; Figura 2C). Para as síndromes de dispersão, encontramos que a maior média na riqueza de espécies zoocóricas ocorre no interior dos fragmentos, porém, com resultado marginalmente signiicativo (z = 1,80; p = 0,07; Figura 2D). Diferentemente, as espécies não zoocóricas detém maior média de riqueza para as bordas (z = -2,04; p<0,05; Figura 2E). Os frutos carnosos também obtiveram maior média de riqueza de espécies nos interiores, mas apenas com valores marginalmente signiicativos (z =1,85; p = 0,06; Figura 2F), ao passo que os frutos secos não apresentaram relação signiicativa entre a riqueza de espécies com os habitats dos fragmentos (z = -1,57; p = 0,12). Entre os habitat de borda e interior dos fragmentos foi observado que tanto o número de indivíduos arbóreos de espécies pioneiras (z = -4,55; p < 0,001; Figura 3A) quanto o de secundárias iniciais (z = -6,25; p < 0,001; Figura 3B) reduzem signiicativamente no interior. Já o número de indivíduos de espécies secundárias tardias (z = 6,99; p = p < 0,001; Figura 3C) e zoocóricas (z = 3,29; p = 0,001; Figura 3D) mostraram maior média para o interior das reservas. Em oposto as zoocóricas, o número de indivíduos arbóreos de espécies dispersas de forma independente da fauna reduziram signiicativamente o número de indivíduos no interior dos fragmentos (z= -2,16; p = 0,03; Figura 3E). O número de indivíduos de árvores com frutos carnosos foi maior no interior dos fragmentos (z = 2,91; p = 0,004; Figura 3F), ao passo que o número de indivíduos arbóreos de frutos secos carnosos não diferiu signiicativamente entre os habitat (z = -0,95; p = 0,34; Figura 3G). Os valores médios da densidade da madeira apenas apresentaram efeitos marginalmente signiicativos em relação aos habitat (t = 1,91; p = 0,06; Figura 3H), sendo que as maiores médias foram para o 134 interior (0,65 g/cm3), em contraste com a borda (0,62 g/cm3). Mudanças na diversidade funcional A riqueza funcional (t = -3,16; p = 0,01; Figura 4A), a equabilidade funcional (t = -4,63; p<0,001; Figura 4B) e a divergência funcional (t = -3,33; p<0.01; Figura 4C) foram signiicativamente diferentes entre os habitat. Em todos os casos, os maiores valores ocorreram na borda dos fragmentos. DISCUSSÃO Nossos resultados mostraram que a riqueza e o número de indivíduos de espécies de traços funcionais com uso potencial pela fauna (p. ex. frutos carnosos) e de indicação de distúrbio (p. ex. grupos ecológicos) sugerem que a criação do habitat de borda pode modiicar a diversidade funcional existente nos grandes blocos lorestais na Floresta Tropical Atlântica. Estes resultados indicam ainda, possíveis alterações nas interações entre animais e plantas (Tabarelli & Peres, 2002; Moran & Catterall, 2010), com possível redução para a capacidade de estocagem de carbono nestes remanescentes lorestais (Magnago et al., 2015b). Os efeitos da redução na disponibilidade de recursos lorestais para uso da fauna, como os que mostramos no nosso estudo para os habitat de borda, podem causar reduções e/ou mudanças na composição de espécies da fauna que interagem fortemente com os recursos providos pela lora arbórea. O estudo de Chiarello (1999), também realizado em fragmentos lorestais na paisagem que estudamos, mostrou que os grandes e médios fragmentos possuem uma maior riqueza e densidade de indivíduos de mamíferos frugívoros de grande e médio porte do que os pequenos fragmentos. Estes tendem a ser dominados por espécies herbívoras, demonstrando assim uma consequente redução na riqueza de espécies e na complexidade estrutural da mastofauna. Ainda na mesma paisagem, Marsden & Whifin (2003) encontraram uma redução das espécies de aves frugívoras nas áreas com menos biomassa de espécies arbóreas vivas. Assim, estas reduções e mudanças nos grupos faunísticos podem estar ocorrendo em função da menor oferta de recursos existentes nas bordas e, MAGNAGO ET AL. EFEITO DE BORDA Figura 3: Comparação dos valores do número de indivíduos (ni) arbóreos por parcela por atributo funcional e média da densidade da madeira por parcela entre os habitat de borda e interior estudados nas Reserva Natural Vale e Rebio de Sooretama. (A) Pioneiras; (B) Secundárias iniciais; (C) Secundárias tardias; (D) Zoocóricas; (E) Não zoocóricas; (F) Frutos carnosos; (G) Frutos secos; (H) Densidade da madeira. *<0,05; **<0,01;***<0,001; ns = Não signiicativo; Diamantes cinza representam a média dos valores; Círculos pretos representam possíveis outliers. 135 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Figura 4: Comparação dos valores de diversidade funcional entre os habitats de borda e interior estudados nas Reserva Natural Vale e Rebio de Sooretama. (A) Riqueza Funcional; (B) Equabilidade funcional; (C) Divergência Funcional. *<0,05; **<0,01;***<0,001; ns = Não signiicativo; Diamantes cinza representam a média dos valores; Círculos pretos representam possíveis outliers. 136 como mostrado por Magnago et al. (2014), em fragmentos pequenos. Os modelos testados não encontraram efeitos de borda na densidade da madeira das espécies arbóreas, mesmo existindo diferenças signiicativas na riqueza e número de indivíduos de espécies pioneiras, secundárias iniciais e secundárias tardias entre os habitat de borda e interior. O aumento do grupo de espécies pioneiras é citado como um fator relacionado com a redução da densidade da madeira em áreas em lorestas tropicais (Michalski et al., 2007), isso por que o crescimento rápido dessas espécies torna a densidade da madeira mais baixa, ao passo que o crescimento lento das espécies tardias tende a tornar a densidade da madeira maior (Chambers et al., 2000). Entretanto, de acordo com Laurance et al. (2006), a densidade da madeira pode, às vezes, ser um fraco previsor para determinar as respostas de espécies sucessionais aos efeitos da fragmentação. Contudo, temos que ser cautelosos nas nossas airmações sobre os resultados da densidade da madeira em função de dois pontos principais: (i) nossos resultados mostraram efeitos marginalmente signiicativos, ou seja, com maior número de replicações poderíamos ter encontrado valores signiicativos e interpretáveis, já que a maior média está nas áreas de interior dos fragmentos, conferindo-lhes maior capacidade de estocagem de carbono e (ii) como usamos uma base de dados para obtenção dos valores, podemos ter perdido a sensibilidade deste parâmetro aos efeitos da fragmentação na área estudada, já que a densidade de madeira pode variar em função de características ambientais locais (Thomas et al., 2007; Nock et al., 2009). Nossos resultados mostraram ainda que os efeitos de borda em grandes fragmentos, como os da RNV e Rebio de Sooretama, causaram mudanças no volume do espaço funcional (espaço quantiicado de funções desempenhadas em uma dada comunidade de espécies) ocupado pelas espécies dentro das comunidades (Villéger et al., 2008; Mouchet et al., 2010). Desta forma, nos habitat de borda, a riqueza funcional (ou espaço funcional), é preenchida por uma riqueza signiicativamente maior de espécies pioneiras, secundárias iniciais e com dispersão independente MAGNAGO ET AL. da fauna (não-zoocóricas), ao passo que nos interiores a riqueza funcional é mantida por uma riqueza de espécies signiicativamente maior de espécies secundárias tardias, de frutos carnosos e dispersas zoocoricamente. A redução da equabilidade e da divergência funcional (ambas ligados ao número de indivíduos representado em cada um dos grupos funcionais) no interior das reservas indica que algumas partes do espaço funcional que as compõem tendem a diminuir ou desaparecer em função das reduções dos distúrbios causados pelos efeitos de borda (Magnago et al., 2014). Estes resultados sugerem uma possível homogeneização de nicho entre as espécies para o habitat de interior, e um aumento da diferenciação de nichos para o habitat de borda uma vez que este tipo de habitat foram funcionalmente mais dissimilares (Mouchet et al., 2010). Uma possível explicação a estes resultados são as alterações microclimáticas causada pela criação e ampliação do ambiente de borda (Magnago et al., 2015a), uma vez que são reconhecidamente responsáveis por conduzir a grandes alterações na composição de espécies (Magnago et al., 2014). Esse resultado sugere ainda maior redundância funcional no interior dos fragmentos, implicando em menor risco de extinção funcional neste habitat quando comparado à borda. Podemos concluir, primeiramente, que na borda dos grandes fragmentos e nos fragmentos pequenos dessa paisagem (para esses últimos resultados veja Magnago et al., 2014), a diminuição da riqueza e do número de indivíduos de espécies com potencial de uso pela fauna traz um impacto negativo nas interações ecológicas entre lora e fauna, podendo, por efeitos de cascatas, causar mais perdas de biodiversidade (p. ex. Laurance et al., 2002; Oliveira et al., 2004). Em segundo lugar, temos que em função de uma maior redundância funcional encontrada para o interior dos grandes fragmentos (p. ex. menores valores de equabilidade e divergência funcional), estes fragmentos tendem a apresentarem uma menor sensibilidade à extinção funcional do que a borda, onde, a diversidade funcional, apesar de ser maior, é representada por um menor número de EFEITO DE BORDA indivíduos que desempenham funções similares. Assim, estes resultados sugerem que menos eventos de perdas de espécies ou de indivíduos, são necessários para levar a extinção de funções ecossistêmicas nas bordas das reservas. Finalmente, podemos constatar que em termos de implicações para conservação, temos: (i) uma vez que as espécies pioneiras e não-zoocóricas são as principais responsáveis pela colonização de áreas degradadas (Ferreira et al., 2007; Magnago et al., 2012), a funcionalidade ecossistêmica mantida nas áreas de borda (espécies pioneiras e dispersas independentemente da fauna) tem um importante papel na recomposição de novos fragmentos lorestais, sejam estes provenientes da sucessão natural ou por plantio de mudas e (ii) que os interiores dos fragmentos e também aqueles de maior tamanho são mais importantes para a manutenção das interações entre a a fauna e a lora, evitando assim processos como os de cascatas tróicas (Jorge et al., 2013; Dirzo et al., 2014). AGRADECIMENTOS Ao CNPq - Agência Brasileira de Ciência e Tecnologia (Nº 477780/2009-1) e ao Projeto Floresta-Escola e Fapemig pelo apoio inanceiro. Agradecemos também a Conservation International, Iema (Instituto Estadual de Meio Ambiente), através do Projeto Corredores Ecológicos, Reserva Natural Vale, Fibria Celulose AS, Instituto Daniel Marcos e o projeto Pro-Tapir pelo apoio logístico e a Reserva Biológica de Sooretama e Rebio Córrego do Veado pela permissão para conduzir nossa pesquisa. L.F.S.M. foi apoiado por pela Capes com as bolsas de Doutorado e Doutorado Sanduíche. Atualmente L.F.S.M. é bolsista do programa PNPD/ Capes de pós- doutorado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Arroyo-Rodriguez, V.; Pineda, E.; Escobar, F. & BenítezMalvido, J. 2009. Value of small patches in the conservation of plant-species diversity in highly fragmented rainforest. Conservation Biology 23 (3): 729–739. Barroso, G. M.; Morim, M.P.; Peixoto, A.L.; Ichaso, C.L.F. 1999. Frutos e Sementes: Morfologia Aplicada à Sistemática. 1ª. ed. 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FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE 9 EXPRESSÃO SEXUAL E RELAÇÕES ECOLÓGICAS DE ANGIOSPERMAS NAS FISIONOMIAS VEGETAIS DOS TABULEIROS DO NORTE DO ESPÍRITO SANTO Gloria Matallana Tobón, Luis Fernando Tavares de Menezes, Euler Antônio de Mello, Izabela Ferreira Ribeiro & Quenia Lyrio INTRODUÇÃO As Angiospermas, plantas com lores e sementes protegidas dentro de carpelos, são dominantes em nosso planeta e possuem 400 famílias e de 240 a 300 mil espécies (Ingrouille & Eddie, 2006; Karasawa et al., 2009; Joppa et al., 2011). Em sua história evolutiva, várias características permitiram a radiação adaptativa deste grupo. Dentre elas, a mais proeminente foi a evolução da estrutura loral como foranto das estruturas reprodutivas (Ingrouille & Eddie, 2006). A evolução da lor favoreceu uma polinização mais precisa e eiciente, enquanto a evolução de sementes especializadas aprimorou os mecanismos de dispersão (Karasawa et al., 2009). Desde a publicação de Darwin “The different forms of flowers on plants of the same species”, em 1877, um dos principais objetivos dos estudos em biologia reprodutiva vegetal tem sido caracterizar e entender a ampla variedade dos sistemas reprodutivos inerentes às plantas. Estes sistemas abrangem uma gama que vai desde a autofecundação quase obrigatória, em espécies que combinam autopolinização, predominante associada com auto compatibilidade, passando por sistemas que combinam autofecundação com fecundação cruzada e até fecundação cruzada obrigatória com auto incompatibilidade e dioecismo (Bawa, 1980; Bawa & Beach, 1981; Lloyd, 1982; Endress, 1994; Barrett, 2010; Renner, 2014). O sistema sexual das plantas pode ser descrito em três níveis diferentes – o da lor, o do indivíduo e o da população (Dafni, 1992). Assim, a regulação das taxas de reprodução cruzada numa espécie pode ser resultado do arranjo espacial das estruturas femininas e masculinas. Considerando o indivíduo, é possível classiicar as espécies em hermafroditas (cada planta possui lores bissexuais) e monoicas (cada planta produz lores masculinas e femininas Tabela 1). Quando considerado um grupo de plantas (população), as espécies são dioicas quando encontramos indivíduos com lores masculinas e indivíduos com lores femininas (ver Tabela 1). Os trabalhos de Yamploski & Yampolski (1922) e Renner & Ricklefs (1995) apontaram o hermafroditismo como a expressão sexual dominante dentro das Angiospermas e os sistemas monoico e dioico, onde os sexos estão separados (ver Tabela 1), representam 5 a 6% das plantas com lores. Estes sistemas são considerados síndromes mecânicas que presumivelmente regulam o nível de intercruzamento (Darwin, 1877; Barrett, 1998, 2010; Renner, 2014) e têm sido o alvo de múltiplos estudos que tentam explicar sua ocorrência e signiicância dentro da evolução das Angiospermas (Karron et al., 2012). Sistemas unissexuados (p. ex. dioecia) têm sido relacionados com características ecológicas, como a distribuição espacial e latitudinal dos indivíduos, ilhas oceânicas e ambientes oligotróicos (Bawa et 141 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Tabela 1: Sistemas sexuais nas plantas com lores. Fonte: Adaptado de Dafni (1992). Arranjo espacial dos órgãos masculinos e femininos 1. Por indivíduos: Hermafroditas: cada planta produz lores únicas bissexuais; Monoecia: cada planta carrega estruturas masculinas ou femininas que podem estar dispostas em lores unissexuais ou lores bissexuais; Andromonoecia: a planta produz lores bissexuais e do sexo masculino (lores masculinas dominantes); Ginomonoecia: a plantas produz lores bissexuais e femininas (lores fêmeas dominantes); Poligamo-monoecia: plantas individuais produzem lores bissexuais, lores masculinas e lores femininas. 2. Por população: Dioecia: cada planta produz apenas lores masculinas ou femininas; Androdioecia: na população encontram-se plantas que carregam lores bissexuais e plantas com lores do sexo masculino; Ginodioecia: na população encontram-se plantas que carregam lores bissexuais e plantas com lores do sexo feminino; Poligamo-dioecia (trioecia): indivíduos com lores bissexuais, indivíduos com lores femininas e indivíduos com lores masculinas na população. al., 1985; Sakai et al., 1995a; Barrett et al., 2000) e possuem associações positivas com o hábito de crescimento, tipo de polinização e dispersão de sementes (Vamosi & Vamosi, 2004; Matallana et al., 2005). Os estudos dessas relações têm se concentrado principalmente na região neotropical (Sobrevila & Arroyo, 1982; Bawa et al., 1985; Bullock, 1985; Ramírez & Brito, 1990; IbarraManriquez & Oyama, 1992) e, no Brasil foram realizados em ambientes de Cerrado (Saraiva et al., 1996; Oliveira & Gibbs, 2000; Deus et al., 2014), Restinga (Ormond et al., 1991; Matallana et al., 2005), Mata Atlântica (Silva et al., 1997) e Caatinga (Machado et al., 2006). Estudos de biologia reprodutiva de espécies vegetais fornecem informações que auxiliam no entendimento dos mecanismos estruturadores de comunidades vegetais por abordarem temas como luxo gênico, especiação e interações planta-animal, entre outros (Bawa et al., 1985; Bullock, 1985; Ibarra-Manriquez & Oyama, 1992; Barrett, 2002, 2008; Charlesworth, 2006). Portanto, entender como é a expressão sexual das plantas em locais de alta diversidade permite inferir traços funcionais das comunidades, possibilitando a formulação de hipóteses, o delineamento de padrões e aplicações para conservação. A alta riqueza e diversidade de plantas na Reserva Natural Vale (RNV), no norte do Espírito Santo (Peixoto & Gentry, 1990) sugerem a existência de elaboradas correlações e interações com animais, já que os processos de polinização, assim como os de dispersão de frutos e sementes nos trópicos 142 dependem, em grande parte, de vetores bióticos (p. ex. insetos, aves e mamíferos) (Endress, 1994; Del-Claro & Silingardi, 2012). Tanto assim, que 90% das Angiospermas do planeta são polinizadas por animais (Bawa et al., 1985; Ollerton et al., 2011). Em consequência, a polinização é fundamental para a manutenção da diversidade em ecossistemas lorestais e, mais ainda, aqueles que estão sob algum grau de ameaça (Vamosi et al., 2006). Com a intenção de entender quais os padrões de distribuição dos sistemas sexuais das Angiospermas da RNV e suas relações ecológicas foi levantada a frequência das plantas hermafroditas, monoicas e dioicas, assim como dados de características ecológicas, para cada espécie (habitat, hábito, síndromes de polinização e de dispersão). Os dados de frequência de sistemas sexuais foram comparados com outras áreas, tanto do Brasil quanto de regiões tropicais, para saber se as Florestas de Tabuleiro acompanham os padrões já citados na literatura. Por último, as frequências dos sistemas sexuais foram relacionadas às características ecológicas para entender a organização desta loresta com respeito a atributos reprodutivos. MATERIAL E MÉTODOS Área de Estudo A partir da lista de espécies de Angiospermas da Reserva Natural Vale no norte do Espírito Santo (Rolim et al., 2016) foram obtidas informações sobre sistema sexual, hábito, habitat e síndrome de dispersão. As espécies foram classiicadas em quatro TOBÓN ET AL. categorias, segundo seu hábito de crescimento: (1) árvores; (2) arbustos; (3) herbáceas e epíitas e (4) trepadeiras e lianas. Plantas parasitas, aquáticas, cactos e plantas em forma de rosetas foram classiicadas como herbáceas, enquanto plantas escandentes foram consideradas arbustos. Para o local de ocorrência (habitat), cada espécie foi registrada em um ou mais locais de acordo aos registros de localização em: (1) Floresta Alta; (2) Floresta de Muçununga; (3) Formações de áreas alagadas ou alagáveis e mata ciliar e (4) Campos Nativos (Peixoto et al., 2008; Araujo et al., 2008). Caracterização dos Sistemas Sexuais A caracterização da sexualidade loral das espécies foi realizada com base em bibliograia, consulta a especialistas, exame de material de herbário (CVRD, VIES, MBML) e observações de campo, quando necessário (Figura 2). As espécies foram categorizadas segundo seus sistemas sexuais em hermafroditas, dioicas e monoicas considerando a morfologia loral (sem realizar experimentos dos sistemas reprodutivos). Para isto, foram consideradas espécies dioicas aquelas que apresentaram lores unissexuais em indivíduos diferentes; monoicas aquelas espécies com EXPRESSÃO SEXUAL DE ANGIOSPERMAS lores masculinas e femininas na mesma planta; e hermafroditas aquelas com lores bissexuais ou perfeitas na mesma planta (Tabela 1, Figura 3). As espécies foram denominadas como ginomonoicas (lores femininas e hermafroditas na mesma planta) andromonoicas (lores masculinas e bissexuais na mesma planta) e poligamomonoicas (lores femininas, masculinas e bissexuais na mesma planta) foram listadas como monoicas, enquanto que as ginodióicas (presença de plantas hermafroditas e femininas na mesma população), e androdioicas (presença de plantas hermafroditas e masculinas) foram consideradas dióicas por todas elas serem consideradas funcionalmente unissexuadas (Flores & Schemske, 1984). Para compreender o signiicado da expressão dos sistemas sexuais da lora da RNV num contexto mais amplo, foi feito ainda um levantamento bibliográico e uma análise comparativa para outras loras ou locais tropicais, onde foram também registradas as frequências de espécies hermafroditas, monoicas e dioicas. As espécies reportadas como ginodioicas, androdioicas, ginomonoicas, andromonoicas ou polígamas foram tratadas como monoicas ou dioicas, seguindo os mesmos critérios assumidos neste trabalho. Figura 1: Floresta Alta em estado maduro da Reserva Natural Vale, Linhares/ES. Foto: G Matallana 143 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Figura 2: Observações de campo para categorizar espécies de Angiospermas da Reserva Natural Vale, segundo o sistema sexual, local de ocorrência, hábito e síndrome de polinização e dispersão. Foto: P. Silva. Figura 3: Flor hermafrodita de Pavonia multiflora (Malvaceae) na Reserva Natural Vale, Linhares/ES. Foto: L.F. Tavares de Menezes. 144 TOBÓN ET AL. Síndromes Polinização e Dispersão As categorias para as síndromes de polinização foram estabelecidas como anemoilia (polinização por vento), entomoilia (polinização por insetos), quiropteroilia (polinização por morcegos) e ornitoilia (polinização por aves), seguindo as deinições de Endress (1994). As espécies que tinham mais de um tipo de polinizador foram classiicadas em duas ou mais síndromes. As espécies foram também classiicadas como portadoras de frutos carnosos ou secos. Consideraram-se frutos carnosos aqueles que possuíam um pericarpo carnoso ou, no caso de pericarpo seco, as sementes apresentavam uma polpa ou arilo carnoso, atrativo a dispersores (Flores & Schemske, 1984). Consideraramse como frutos secos, aqueles nos quais o pericarpo era seco e o arilo ou polpa ausentes. Essa classiicação permitiu inferir duas categorias para as formas de dispersão: biótica para frutos carnosos e frutos secos tipo lomento e abiótica para frutos secos. As informações pertinentes para caracterizar as espécies quanto às síndromes polínicas e de dispersão foram obtidas de bibliograias especializadas e de consultas a sítios eletrônicos com este tipo de informação (p.ex.http://biodiversity.uno.edu/delta/angio/; http://tolweb.org/CoreMalvales,http://www. arvoresbrasil.com.br/). Análises estatísticas A incidência do hermafroditismo, monoecia e dioecia e suas associações com atributos ecológicos na RNV foi inicialmente explorada com uma Análise de Coordenadas Principais (PCoA) por meio do programa Past 3-2013 (Hammer et al., 2001). Posteriormente, os dados formam comparados através do teste de Qui quadrado (Gotelli & Ellison, 2011), utilizando a ferramenta disponível em Turner (2015). A hipótese nula para cada um dos casos é que as distribuições das frequências dos sistemas sexuais não diferem significativamente em cada categoria, com respeito à distribuição dos mesmos na flora como um todo. Para o teste de sistemas sexuais e hábito, a categoria palmeiras foi excluída por apresentar valores esperados menores do que cinco para dois atributos. EXPRESSÃO SEXUAL DE ANGIOSPERMAS RESULTADOS Foi possível estabelecer o sistema sexual para 1.676 espécies distribuídas em 145 famílias de Angiospermas registradas na RNV, local de ocorrência e hábito. A frequência de espécies hermafroditas foi de 77%, espécies dioicas 13% e monoicas 10%. Quando calculadas as frequências para espécies lenhosas (árvores e arbustos), o hermafroditismo continuou a ser o mais frequente, com 74% e as monoicas e dioicas com nove e 17%, respectivamente (Tabela 2), o que sugere uma relação do hábito arbóreo e arbustivo com a condição dioica. A listagem das espécies alvo, junto com os dados ecológicos e local de ocorrência, encontra-se compilada no capítulo de lora de Angiospermas (Rolim et al., 2016). As famílias Fabaceae e Myrtaceae, com maior riqueza de espécies na RNV (Rolim et al., 2016), são completamente hermafroditas. Outras 80 famílias também são exclusivamente hermafroditas na RNV, embora representadas por poucas espécies, totalizando 80% de famílias completamente hermafroditas. Doze famílias resultaram ser totalmente dioicas e sete totalmente monoicas, representando 9% e 4% do total da lora, respectivamente, enquanto que 5% das famílias, como Cyperaceae, Sapotaceae, Lauraceae, Salicaceae, Peraceae e Urticaceae possuem espécies representantes de cada um dos três tipos de sistema sexual. Dez por cento das famílias tiveram a combinação de espécies hermafroditas e dioicas, enquanto 5% tiveram a combinação hermafroditas e monoicas e outros 5% dioicas e monoicas (p. ex. Moraceae, Anacardiaceae, Burseraceae, Menispermaceae, Cucurbitaceae, Monimiaceae e Euphorbiaceae). Na Tabela 3 encontram-se compilados os dados das frequências de sistemas sexuais para 19 estudos em áreas tropicais. A frequência de sistemas sexuais para a RNV acompanha as tendências de outras áreas tropicais, especialmente da Mata Atlântica. Espécies hermafroditas, com mais de 70% dominam a lora, enquanto as espécies unissexuadas representam 21% do total. A isionomia com maior número de espécies registradas foi a Floresta Alta, com 1.044 espécies, das quais 173 são dioicas e 148 monoicas (Tabela 145 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Tabela 2: Frequência de sistemas sexuais e formas de crescimento para Angiospermas da Reserva Natural Vale, Linhares/ES. Formas de crescimento Herbáceas Trepadeiras e Epíitas e lianas Sistema Sexual Árvores Arbustos Hermafroditas 480 157 Dioicas 128 17 29 28 0 204 Monoicas 73 4 48 31 18 176 681 178 544 251 18 1.676 467 Palmeiras Total 0 1.296 192 Tabela 3: Espécies hermafroditas, monoicas e dioicas registradas na Reserva Natural Vale e outras 18 localidades tropicais para comparação. H: hermafroditas, D: dioicas, M: monoicas Localidades Nº. espécies Reserva Natural Vale (este estudo) - Flora Reserva Natural Vale (este estudo) - Espécies lenhosas Floresta Atlântica Santa Teresa ES (Matallana et al dados não publicados)b Floresta Sazonal semidecidua Cerrado-MG (Deus et al., 2014)c Floresta Tropical Atlântica Rio de Janeiro (Sigiliano 2010)b Área semi-árida Caatinga (Machado et al., 2006)a Floresta Atlântica Santa Catarina (Vamosi 2006)b Restinga Jurubatiba(Matallana et al., 2005)a Restinga Jurubatiba (Matallana et al., 2005)b Restinga Jurubatiba (Matallana et al., 2005)c Reserva Ecologia da Macaé de Cima (Silva et al., 1997)a Restinga de Maricá, RJ. (Ormond et al., 1991)a Área de Cerrado, Brasilia (Oliveira 1996)a Outros exemplos de Floras Tropicais Floresta Litorânea Madagascar (Vary et al., 2011)a Floresta Tropical úmida Western Gahts India (Krishinan & Ramesh 2005)b Floresta de Dipterocarpáceas, Malásia (Ashton 1969, apud Bawa & Opler 1975)a Floresta semidecídua Guanacaste, Costa Rica (Bawa & Opler 1975)b Floresta tropical decídua, México (Bullock 1995)a Pântano tropical de palmeiras, Venezuela (Ramirez & Brito 1990)d Floresta tropical úmida, Barro Colorado, Panamá (Croat 1979)a Floresta tropical úmida, Puerto Rico (Flores & Schemske 1984)a Cape Flora, Sudáfrica (Steiner 1988)a Ilhas Oceânicas Hawaii (Sakai et al., 1995a)a H% M% D% 1.676 859 214 190 369 147 97 566 107 43 199 226 59 77 74 70 54 73 83 68 75 59 60 79 76 80 10 9 14 9 7 15 4 11 15 5 8 13 5 13 17 16 15 20 3 28 14 26 35 13 10 15 1.495 656 154 708 128 1.212 2.037 8.497 69 57 60 68 70 77 76 79 80 10 22 14 10 17 20 11 11 13 19 21 26 22 13 3 9 6 7 971 63 16 21 Número total de espécies estudadas na lora Número de espécies lenhosas c Número espécies dominantes (IV>1) segundo critério do trabalho d Número de espécies lenhosas e herbáceas a b 4). As famílias com espécies dioicas relevantes neste local foram Lauraceae (18), Meliaceae (17), Moraceae (10), Lamiaceae (10), Sapotaceae (9), Anacardiaceae (8) e Burseraceae (7). Já as espécies monoicas mais frequentes neste local pertencem às famílias Moraceae (16), Euphorbiaceae (13), Arecaceae (13), Araceae (11), Lauraceae (10). Na Muçununga tiveram destaque espécies dioicas pertencentes as famílias Dioscoraceae (5) e Lauraceae e Sapotaceae (3 para cada) e monoicas 146 das famílias Moraceae (3), Lauraceae (4) e Arecaceae (4). Nas áreas alagadas, inundáveis e de Mata Ciliar, destaque para a família Cyperaceae com representantes dioicas (5) e monoicas (7), além de Lauraceae, com seis espécies dioicas e Arecaceae, com cinco espécies monoicas. Nos Campos Nativos, com 31 espécies dioicas e 32 monoicas (Tabela 4), a família Eriocaulacecae foi notável com sete espécies monoicas. A síndrome de polinização mais frequente foi TOBÓN ET AL. EXPRESSÃO SEXUAL DE ANGIOSPERMAS Tabela 4: Frequência de sistemas sexuais de acordo com as isionomias, síndromes de polinização e dispersão para Angiospermas da Reserva Natural Vale, Linhares/ES. Hermafroditas Dioicas Monoicas 1.044 404 167 238 173 71 26 31 148 64 26 32 996 216 112 99 179 7 0 29 165 8 2 14 573 581 147 53 141 34 Local de ocorrência* Floresta Alta Muçununga Áreas de Alagado, Mata inundável e Mata Ciliar Campo Nativo Síndromes de Polinização* Entomoilia Ornitoilia Quiropteroilia Anemoilia Síndromes de Dispersão** Biótica Abiótica *Para local de ocorrência e Síndromes de polinização, uma espécie pode ter sido classiicada em um ou mais atributos. ** Foi possível estabelecer as síndromes de dispersão para 1530 espécies. entomoilia para os três tipos de sistema sexual. Vinte e nove espécies dioicas e 14 monoicas são polinizadas por vento. Ornitoilia e Quiropteroilia foram mais frequentes em espécies hermafroditas (Tabela 4). A dispersão abiótica foi mais frequente para espécies hermafroditas enquanto a dispersão biótica prevaleceu para as unissexuadas (Tabela 4). A exploração dos dados com uma abordagem multivariada permitiu observar algumas relações por similaridade de distâncias euclidianas (Figura 4). Os dois primeiros eixos explicaram 52% da variância dos dados. Um grupo evidente de associações foi formado entre espécies dioicas e monoicas com os hábitos arbustivo, trepadeiras e lianas, além das palmeiras, áreas de Muçununga, Campos Nativos e áreas alagadas e polinização Figura 4: Análises de Coordenadas Principais (PCoA) para sistemas sexuais e atributos ecológicos de Angiospermas nas isionomias vegetais da Reserva Natural Vale (ES). H: hermafroditas; D: dioicas; M: monoicas; arv: árvores; arb: arbustos; herb-epi: herbáceas e epíitas; palm: plameiras; trep_li: trepadeiras e lianas; FA: Floresta Alta; Muç: Floresta de Muçununga; Al: Formações de áreas alagadas ou alagáveis e Mata Ciliar; CN: Campos Nativos. Anemo: anemoilia; Ento: entomoilia; Quirop: quiropteroilia; Ornito:ornitoilia; Bio: dispersão biótica e Abio: dispersão abiótica. 147 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Tabela 5: Testes de associação entre sistemas sexuais e atributos ecológicos para Angiospermas da Reserva Natural Vale, Linhares/ES. Associações Sistemas sexuais vs. Forma de crescimento x2 gl. P 71,537 6 0,0000 Sistemas sexuais vs. Fisionomia 2,434 6 0,85758 Sistemas sexuais vs. Síndromes de Polinização 80,777 6 0,0000 Sistemas sexuais vs. Síndromes de Dispersão 86,678 2 0,0000 por vertebrados e vento (Figura 4). A polinização por insetos icou associada a espécies de áreas de Floresta Alta e espécies hermafroditas, enquanto a dispersão abiótica aparece relacionada ao hábito herbáceo-epifítico, e a biótica, a espécies arbóreas (Figura 4). Os testes de associação de Qui quadrado, corroboraram algumas relações exploradas no PCoA e mostraram algumas associações que nas análises multivariadas não icaram muito evidentes. Houve associação positiva entre sistemas sexuais e hábito de crescimento, sistemas sexuais e síndromes de polinização e sistemas sexuais e síndromes de dispersão, mas não houve associação com as isionomias vegetais (Tabela 5). Já os testes de associação individual entre os sistemas sexuais e atributos ecológicos mostraram a dioecia positivamente associada com hábito arbóreo (x2 =24,17; p<0,05) e espécies herbáceas e epifíticas (x2 =21,10; p<0,05). Para as síndromes de polinização houve associações positivas entre espécies dioicas com ornitoilia (x2 =14,99; p<0,05) e de espécies monoicas com anemoilia (x2 =10,58 p<0,05). Finalmente, o hermafroditismo icou associado à dispersão biótica (x2=9,08, P<0,05), enquanto a dioecia mostrou associação com os dois tipos de dispersão (x2= 10,48 e 13,53; p<0,05, respectivamente). DISCUSSÃO Incidência de sistemas sexuais na RNV e comparações com outras lorestas tropicais A frequência e distribuição dos sistemas sexuais de Angiospermas registradas para a Floresta de Tabuleiro da RNV é comparável com outros ambientes tropicais. As espécies hermafroditas com mais de 70% de frequência seguiram o padrão esperado (Renner & Ricklefs, 1995). Entretanto, a 148 porcentagem elevada de espécies dioicas (12%) e monoicas (9%) é maior do que a porcentagem estimada para todas as Angiospermas (6 e 4%, respectivamente - Renner & Ricklefs, 1995), sugerindo que sistemas unissexuados estão fortemente correlacionados a ambientes tropicais (Bawa & Opler, 1975; Sakai et al., 1995a; Matallana et al., 2005; Vamosi, 2006). A frequência de espécies dioicas na RNV pode ser explicada, em parte, porque ambientes tropicais favorecem linhagens dioicas. Usando uma análise ilogenética que considerou tipo de habitat, tipo de fruto e tamanho de lores, Vamosi et al. (2003) e Vamosi & Vamosi (2004) sugeriram que espécies dioicas podem ter maior sucesso, medido em taxas de especiação, em ambientes tropicais por conta do clima. Segundo estes autores, em razão de os trópicos carecerem de diferenças marcantes entre estações, há ausência de sincronia na loração e frutiicação e, em consequência, a competição por polinizadores e dispersores é reduzida, favorecendo a radiação das Angiospermas. Isto também seria reletido nos sistemas sexuais. Em média, a frequência de dioecia foi de 16% e variou entre 4% e 26% nas áreas tropicais comparadas (Tabela 3). As áreas com maior frequência (19-26%) estão distribuídas nos mais diversos ambientes tropicais, desde as lorestas de Dipterocarpaceae na Malásia (Ashton, 1969 apud Bawa & Opler, 1975), passando por lorestas úmidas na Índia (Krishinan & Ramesh, 2005) e semidecíduas na Costa Rica (Bawa & Opler, 1975), áreas de Mata Atlântica no sudeste e sul do Brasil (Vamosi, 2006; Sigiliano, 2010), lorestas oceânicas no Havaí (Sakai et al., 1995a) e Madagascar (Vary et al., 2011). A frequência de espécies dioicas na RNV está próxima à média (12% vs. 16%) e é muito semelhante às frequências de áreas de loresta TOBÓN ET AL. úmida no Panamá e México (Croat, 1979; Bullock, 1984), Restingas no sudeste do Brasil (Ormond, 1991; Matallana et al., 2005), áreas de Cerrado (Oliveira, 1996; Deus et al., 2014) e Floresta Atlântica do Rio de Janeiro e Espírito Santo (Silva et al., 1997; Matallana et al., dados não publicados). Todas estas localidades possuem estrutura arbórea e arbustiva expressiva que poderia explicar a alta a média incidência deste sistema sexual. A dioecia tem sido correlacionada com hábito lenhoso como resultado de uma forte seleção por reprodução cruzada em espécies com ciclos de vida longos (Bawa, 1980; Sakai et al., 1995b; Matallana et al., 2005), o que pode explicar também a alta incidência na loresta da RNV. Localidades com as menores incidências de dioecia apresentam características especíicas, como áreas de alta umidade e pantanosas na Venezuela (porém altos índices de espécies monóicas - Ramirez & Brito, 1990, lorestas úmidas no Panamá e Porto Rico Croat, 1979; Flores & Schemske, 1984) e regiões semiáridas na Caatinga brasileira (Machado et al., 2006) e na costa da África do Sul (Steiner, 1988). A porcentagem de espécies monoicas registradas neste estudo (9%) é semelhante ao encontrado por outros autores (Tabela 3) e próxima da média dos estudos comparados (11%). Valores altos de monoecia (13-22%) parecem estar associados com ambientes com características de elevada umidade, como a loresta Western Gahts na Índia (Krishinan & Ramesh, 2005) ou as áreas de pântano na Venezuela (Ramires & Brito, 1990), mas também com ambientes de estresse hídrico como as áreas de Caatinga no nordeste brasileiro e os ambientes semiáridos na África do Sul (Steiner, 1988). Lloyd & Webb (1977) e Sutherland & Delph (1984) sugerem que a divisão de trabalho nas plantas unissexuadas em ambientes com algum nível de estresse favorece a aptidão masculina e feminina separadamente como efeito compensador. Sistemas sexuais e associações ecológicas na RNV Sistemas unissexuados em Angiospermas têm sido amplamente discutidos e estabelecidas várias correlações com atributos ecológicos. Vamosi et al. (2003) e Vamosi & Vamosi (2004) conseguiram demonstrar que a riqueza relativa de espécies em EXPRESSÃO SEXUAL DE ANGIOSPERMAS linhagens dioicas depende da associação com certas características ecológicas. Distribuição tropical, forma de vida lenhosa, lores inconspícuas e de cores pálidas e frutos carnosos são características atribuídas à evolução da dioecia (Bawa, 1980; Givnish, 1980; Charlesworth, 1993). As famílias com maior número de espécies dioicas (mais ricas) na Floresta de Tabuleiros da RNV acompanham este padrão. As famílias Lauraceae, Meliaceae, Moraceae, Lamiaceae, Sapotaceae, Anacardiaceae e Burseraceae foram as que contribuíram com maior número de espécies dioicas, especialmente nas áreas de Floresta Alta. De forma geral, estas famílias possuem espécies de porte arbóreo ou arbustivo, lores brancas, alvas ou de cores pálidas e frutos carnosos (Bawa, 1980; Barrett, 1998; 2002; 2008; Barrett et al., 2000; Renner, 2014), que indicam dispersão biótica. Embora o teste de Qui quadrado não demonstrasse associações positivas entre sistemas sexuais e local de ocorrência (habitats), a Análise de Coordenadas Principais (PCoA) agrupou as espécies unissexuadas com ambientes de Muçununga, Campos Nativos e Matas Alagadas, inundáveis e Mata Ciliar. Estes ambientes podem ser considerados ambientes de estresse isiológico para as plantas (Araujo et al., 2008). A ideia que indivíduos com sexos separados são favorecidos por ambientes de estresse, em comparação com indivíduos com sexos combinados, foi observada inicialmente por Darwin (1877) e reairmada por modelos e estudos empíricos que tentam explicar a evolução e manutenção dos taxa unissexuados (Bawa & Opler, 1975; Freeman et al., 1997; Barrett et al., 2000; Thompson & Edwards, 2001). Apesar de que restrições isiológicas poderiam resultar em uma baixa densidade populacional, insuiciência de polinizadores e fertilidade reduzida (Barrett et al., 2000), a divisão dos papéis em plantas unissexuais poderia levar a um melhor uso dos recursos (Bawa, 1980; Lloyd, 1982), reletido no incremento da aptidão (fitness) dos indivíduos machos e fêmeas, em decorrência de efeitos de compensação (Bawa, 1980). Dados empíricos mostram que indivíduos masculinos produzem mais lores do que os hermafroditas e que uma maior frutiicação é frequentemente apresentada por indivíduos femininos quando comparado com 149 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE hermafroditas (Lloyd & Web, 1977; Faria et al., 2006). Sistemas Sexuais e formas de vida Árvores e arbustos representaram mais de 50% da estrutura da lora da RNV (Peixoto et al., 2008; Rolim et al., 2016) e como em outros estudos, uma relação positiva foi encontrada entre dioecia e o hábito lenhoso, evidenciada, tanto na análise multivariada, quanto no teste de associação de Qui quadrado. Esta associação, em geral, tem sido explicada como o resultado da forte seleção sobre a fecundação cruzada em plantas lenhosas de vida longa (Bawa, 1980; Sakai et al., 1995b) e também pela associação da dioecia com insetos generalistas, como polinizadores, além da zoocoria (Bawa, 1980; Bawa & Opler, 1975; Thomson & Brunet, 1990). Bawa (1980) e Givnish (1980) discutem como climas tropicais favorecem o hábito arbóreo em relação aos climas temperados e às grandes lorestas de coníferas; assim, loras tropicais abrigam uma grande proporção de espécies dioicas lenhosas. As bases teóricas desta relação atualmente sugerem que sistemas unissexuados são uma consequência do tamanho dos indivíduos e longevidade, mais do que uma propriedade física da característica lenhosa per se. Plantas com um ciclo de vida longo estão mais propensas a sofrer recombinações abertas e, portanto, têm maiores possibilidades de selecionar mecanismos de reprodução cruzada (Steiner, 1988; Barrett, 2002, 2010). A associação da dioecia com outras formas de crescimento, como ervas e epíitas (associação signiicativa após teste Qui quadrado) e com trepadeiras e lianas (PCoA), pode ser explicada sob a hipótese de alocação de recursos. Renner & Ricklefs (1995) argumentam que nas trepadeiras o crescimento ascendente acelerado resultaria num prêmio para a planta. Consideram que a produção de frutos inibe temporariamente o crescimento ou requer o desenvolvimento de caules grossos e de crescimento lento para suportar frutos pesados, atrapalhando a velocidade de crescimento. Portanto, poderia ser uma vantagem adiar a face feminina da planta, que desviaria os recursos do desenvolvimento vegetativo. Se o efeito for forte, favorecerá o estabelecimento dos machos na 150 população. Eles suspeitam que o efeito da seleção diferencial na alocação dos recursos é responsável por esse efeito. Sistemas unissexuados e síndromes de polinização e dispersão Vários estudos enfatizam os estados unissexuados das plantas, por eles serem mecanismos de cruzamento obrigatório que favorecem o luxo gênico entre indivíduos e populações (Barrett, 2002; Karron et al., 2012). Isto signiica que existe uma rede de interações entre plantas e vetores de polinização na qual as plantas dependem desses vetores para conseguirem se reproduzir de forma sexuada. Desde os trabalhos de Bawa (1980) e Bawa & Opler (1985) foi estabelecida uma relação positiva entre dioecia e polinização por insetos generalistas em lorestas úmidas tropicais. Nestas lorestas, o vento não é um vetor substancial para a polinização, enquanto a grande disponibilidade de vetores bióticos sim, tornando-os uma força diretriz na evolução dos sistemas unissexuados a partir do hermafroditismo. Contudo, a associação obtida para as Angiospermas da RNV é da dioecia com aves e a monoecia com o vento. O trabalho de Vamosi et al. (2003), que considerou as forças ilogenéticas por trás das relações entre dioecia e atributos ecológicos, descreve que a anemoilia está fortemente correlacionada com espécies dioicas associada também a lores e inlorescências pequenas. Nas hipóteses ilogenéticas por eles analisadas, não foi possível achar uma sequência evidente da aparição desta associação e apontam a necessidade de realizar mais trabalhos para entender este assunto. Portanto, este fato nos leva a pensar que talvez a polinização pelo vento nas lorestas tropicais tenha sido subestimada. Segundo Barrett (2010), a evolução da anemoilia, a partir da polinização por animais, ocorre quando os vetores bióticos não são mais coniáveis, por conta de condições ambientais hostis. Em consequência, o vento passa a ser um mecanismo que fornece garantia reprodutiva, embora seja menos eiciente. A alta frequência de dispersão biótica de frutos e sementes na RNV associada à dioecia é um relexo da alta incidência de frutos carnosos ou sementes com arilo nessas estas espécies. Alguns autores consideram este atributo uma consequência TOBÓN ET AL. secundária ou derivada das características lenhosa e ciclo de vida longo ((Bawa & Opler, 1975; Croat, 1979; Bawa, 1980; Freeman et al., 1980; Givnish, 1980; Sobrevilia & Arroyo, 1982; Flores & Schemske, 1984; Bawa et al., 1985; Bullock, 1985; Ormond et al., 1991; Sakai, 1995b; Oliveira, 1996; Saraiva, 1996). Isto se explica sob o argumento que a separação de sexos pode reletir num ganho de aptidão nos indivíduos femininos ou função feminina, permitindo-os produzir frutos em maior quantidade e mais atrativos (saborosos, vistosos), assegurando o sucesso na dispersão de propágulos por aves ou mamíferos (Bawa, 1980; Freeman et al., 1980). CONSIDERAÇÕES FINAIS Em termos gerais, as frequências de sistemas sexuais nas isionomias vegetais da Reserva Natural Vale acompanham as tendências para os ambientes tropicais. Vale a pena destacar que espécies dioicas são preferencialmente de porte arbóreo-arbustivo e o que diferencia a RNV de outras localidades é que os principais polinizadores são aves. Funcionalmente, a maioria das plantas da RNV, tanto hermafroditas, quanto unissexuadas dependem de vetores bióticos para sua polinização, como para a dispersão de frutos e sementes. Podes-se inferir, então, que a conservação das guildas de polinizadores e dispersores é de vital importância para a manutenção das espécies de Angiospermas deste local. Sendo as espécies hermafroditas as dominantes, cabe realizar estudos sobre os seus sistemas reprodutivos que permitam conhecer a fundo sua história de vida, frequência de autoincompatibilidade e variabilidade genética de suas populações, com vistas a subsídios de conservação. AGRADECIMENTOS Somos gratos a Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo (FAPES) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientiico e Tecnológico (CNPq), pelo apoio inanceiro; a Reserva Natural Vale, pelo apoio logístico e dados cedidos; ao Centro Universitário Norte do Espírito Santo da Universidade Federal do Espírito Santo, EXPRESSÃO SEXUAL DE ANGIOSPERMAS pelo apoio logístico; a Alana Felipe e Pablo Vieira pelo apoio nas atividades de campo; a Paulo Eugênio Oliveira pelas sugestões ao manuscrito. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Araujo, D. S. D.; Pereira, O. J.; Peixoto, A. L. 2008. Campos nativos at the Linhares forest reserve, Espírito Santo, Brazil. In Thomas W.W (ed) The Atlantic coastal forest of Northeastern Brazil. The New York Botanical Garden Press, New York, pp 371–385. Barrett, S.C.H, Dorken, ME, Case, A.L. 2000. A Geographical Context for the Evolution of Plant Reproductive Systems. In J. Silvertown and J. 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É o grupo basal das plantas vasculares, sendo representado atualmente por menos de 1% destas plantas. As samambaias (ou monilóitas) geralmente apresentam folhas expandidas denominadas megailos. Correspondem ao grupo irmão das espermatóitas e são ilogeneticamente pouco relacionadas às licóitas (Smith et al., 2006). A região neotropical abriga cerca de 3.500 espécies de samambaias e licóitas (Moran, 2008). As áreas montanhosas do continente concentram o maior número de espécies e endemismos. Estas regiões foram reconhecidas por Tryon (1972) como Centros de Diversidade e Endemismos no Neotrópico, sendo um deles o sudeste do Brasil. Dados recentes (Prado et al., 2015) indicam que a região sudeste abriga 841 espécies, a maioria ocorrente em áreas de Floresta Atlântica, com 131 endemismos. O estado do Espírito Santo responde com 438 espécies e 13 endemismos, incluindo a lora da ilha oceânica de Trindade. Se considerarmos apenas a lora continental, o estado possui sete espécies endêmicas. A maior diversidade de samambaias e licóitas no Estado está concentrada em áreas de ocorrência de lorestas montanas. Brade (1947) listou 19 famílias, 43 gêneros e 108 espécies para áreas do município de Itaguaçu, entre 600 a 1.000 m de altitude. Viégas-Aquije & Santos (2007) inventariaram 126 espécies para a Reserva Augusto Ruschi, em altitudes entre 780 e 1.143 m. Para as restingas, foram inventariadas 35 espécies (Behar & Viégas, 1992, 1993). Mais recentemente, Andrade (2014) desenvolveu estudos em áreas de lorestas sobre tabuleiros, em fragmentos ocorrentes nos municípios de Conceição da Barra e Pinheiros. Entretanto, esta é a primeira vez que é apresentada uma lista compreensiva de samambaias e licóitas ocorrentes em lorestas sobre tabuleiros no corredor central da Floresta Atlântica. Portanto, este estudo tem por objetivo reunir as informações disponíveis sobre as samambaias e licóitas ocorrentes na Floresta de Tabuleiro da Reserva Natural Vale, com base na literatura, coleções de herbário e dados de campo. MATERIAL E MÉTODOS A presente lista foi elaborada a partir do levantamento de espécimes depositados no Herbário da Reserva Natural Vale (CVRD) e em outros herbários que abrigam coleções representativas de samambaias e licóitas da área de estudo, como o herbário do Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro (RB), o herbário do Departamento de Botânica da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (RBR) e o herbário do Departamento de Botânica da Universidade Federal de Minas 157 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Gerais (BHCB). A título de complementação, foram consultados os dados disponíveis no Herbário Virtual da Flora e dos Fungos (http://inct.lorabrasil.net/). Os 380 espécimes examinados foram identiicados ou tiveram suas identiicações atualizadas com base em bibliograia especíica, utilizando as informações mais recentes disponíveis para a taxonomia dos grupos. O sistema de classiicação utilizado para samambaias foi o proposto por Smith et al. (2006) e para Lycopodiaceae utilizou-se Øllgaard (2014). As plantas foram classiicadas quanto ao hábito como ervas terrícolas, ervas aquáticas, trepadeiras e epíitas. Para as epíitas, adotamos a classiicação de Benzing (1991), reconhecendo as categorias de holoepíita verdadeira, holoepíita facultativa e hemiepíita (secundária). Foram considerados apenas os hábitos das espécies ocorrentes na área de estudo. A análise da distribuição das espécies por formação vegetal seguiu Peixoto et al. (2008), que classiicou a vegetação sobre tabuleiros ocorrentes na área em (1) Floresta Alta: formação lorestal com dossel adensado, constituída por árvores que podem atingir 40 m; (2) Floresta de Muçununga: formação lorestal que acompanha cordões arenosos, com árvores de menor porte e que permitem maior penetração de luz até o solo; (3) Áreas permanentemente ou sazonalmente alagadas: incluem formações lorestais como as lorestas de várzea e as lorestas ciliares, bem como formações herbáceas, também chamadas de brejos ou banhados. São áreas sujeitas a alagamento na maior parte do ano e são de difícil deinição por apresentarem diferentes isionomias e (4) Campos Nativos: aparecem como enclaves na loresta e são representados por campos abertos com vegetação graminoide ou arbustivo-arbórea em forma de moitas. RESULTADOS A Reserva Natural Vale possui um total de 93 espécies e três variedades de samambaias distribuídas em 43 gêneros e 19 famílias, além de três espécies de licóitas, que pertencem a duas famílias e três gêneros (Tabela 1; Figura 1). Este montante corresponde a 21,9% do número total de espécies destes grupos registradas para o Espírito Santo e 4,3% do total da lora vascular estimada para a Reserva. Imagens de algumas das espécies encontradas na Reserva Natural da Vale são apresentadas nas Figuras 2 e 3. Tabela 1: Samambaias e Licóitas da Reserva Natural Vale, Linhares/ES – Lista de espécies, hábito e ocorrência por formação vegetal. O material foi selecionado de um total de 380 espécimes analisados. BHCB – Herbário do Departamento de Botânica da Universidade Federal de Minas Gerais; CVRD – Herbário da Reserva Natural da Vale; RB – Herbário do Instituto de Pesquisa Jardim Botânico do Rio de Janeiro; RBR – Herbário do Departamento de Botânica da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Formação vegetal: CN – Campo Nativo; FA – Floresta Alta; FM – Floresta de Muçununga; FV – Floresta de Várzea. Hábito: AR – arborescente; EA – erva aquática; ET – erva terrícola; HF – holoepíita facultativa; HP – hemiepíita; HV – holoepíita verdadeira; TR – trepadeira. v Endêmica do Brasil; l distribuição restrita ao corredor central da Floresta Atlântica; n ocorrência conhecida apenas para o estado do Espírito Santo. Família / Espécie ANEMIACEAE Anemia collina Raddi Anemia espiritosantensis Brade vl Anemia hirta (L.) Sw. Anemia luetzelburgii Rosenst. vl Anemia phyllitidis (L.) Sw. ASPLENIACEAE Asplenium serratum L. Asplenium stuebelianum Hieron. BLECHNACEAE Blechnum brasiliense Desv. 158 Formação vegetal Hábito Material selecionado FM, FA FM, FA FA FM, FA FM, FA ET ET ET ET ET Almeida 731 (BHCB, CVRD); Mynssen 517 (CVRD, RB) Almeida 689 (BHCB, CVRD); Mynssen 519 (CVRD, RB) Almeida 631 (BHCB, CVRD); Almeida 664 (BHCB, CVRD); Monteiro 253 (RB) Folli 4305 (CVRD); Paciencia 2329 (CVRD, RB) FM, FA FA HV ET Folli 4840 (CVRD); Martinelli 1848 (RB) Farney 270 (RB) CN, FV ET Folli 2881 (CVRD, RBR) SYLVESTRE ET AL. Família / Espécie SAMAMBAIAS & LICÓFITAS Formação vegetal Blechnum occidentale L. FA Salpichlaena volubilis (Kaulf.) J.Sm. FV Telmatoblechnum serrulatum (Rich.) CN, FV Perrie et al. CYATHEACEAE Cyathea microdonta (Desv.) Domin FV, FA Cyathea phalerata Mart. FV DENNSTAEDTIACEAE Hypolepis repens (L.) C.Presl FV, FA Pteridium arachnoideum (Kaulf.) Maxon CN, FM DRYOPTERIDACEAE Ctenitis paranaensis (C.Chr.) Lellinger FA Ctenitis christensenii R. S. Viveros & Salino vl FA Ctenitis glandulosa R.S. Viveros & Salino FA Cyclodium heterodon var. abreviatum FM, FA (C.Presl) A.R.Sm. v Cyclodium heterodon var. heterodon FV, FA (Schrad.) T.Moore vl Cyclodium meniscioides var. meniscioides FV, FA (Willd.) C.Presl Polybotrya cylindrica Kaulf. v FM Polybotrya osmundacea Willd. FV, FA GLEICHENIACEAE Dicranopteris flexuosa (Schrad.) Underw. FV Gleichenella pectinata (Willd.) Ching FV, FA HYMENOPHYLLACEAE Didymoglossum hymenoides (Hedw.) Copel. FM Trichomanes pinnatum Hedw. FV, FA LINDSAEACEAE Lindsaea divaricata Klotzsch FA Lindsaea lancea (L.) Bedd. FV, FA Lindsaea quadrangularis Raddi FV Lindsaea stricta (Sw.) Dryand. CN, FV, FA LOMARIOPSIDACEAE Lomariopsis marginata (Schrad.) Kuhn v FA Nephrolepis biserrata (Sw.) Schott FV, FA Nephrolepis cordifolia (L.) C.Presl FM, FA Nephrolepis rivularis (Vahl) Mett. ex Krug FM, FV LYCOPODIACEAE Lycopodiella alopecuroides (L.) Cranill CN, FV Palhinhaea cernua (L.) Franco & Vasc. CN, FV LYGODIACEAE Lygodium volubile Sw. CN, FA, FV OSMUNDACEAE Osmunda regalis L. FV POLYPODIACEAE Campyloneurum acrocarpon Fée v FM, FA Campyloneurum nitidum (Kaulf.) C.Presl FM Microgramma geminata (Schrad.) FV, FA R.M.Tryon & A.F.Tryon Hábito Material selecionado ET TR ET Almeida 673 (BHCB, CVRD) Folli 2849 (CVRD); Salino 4521 (BHCB, CVRD) Folli 2919 (CVRD, RBR); Sucre 8409 (RB) AR AR Salino 4525 (BHCB, CVRD) Folli 3117 (CVRD) ET ET Almeida 687 (BHCB, CVRD) Folli 3175 (CVRD) ET ET ET ET Paciencia 2444 (CVRD, RB) Almeida 636 (BHCB, CVRD) Almeida 715 (BHCB) Folli 2901 (CVRD) ET Salino 4535 (BHCB, CVRD) ET Almeida 708 (BHCB, CVRD); Mynssen 508 (CVRD, RB) HP HP Almeida 682 (BHCB, CVRD) Almeida 729 (BHCB, CVRD); Folli 1917 (CVRD) ET ET Folli 3102 (CVRD); Paciencia 2449 (CVRD, RB) Almeida 674 (BHCB, CVRD); Folli 1888 (CVRD) HV ET Folli 3708 (CVRD) Almeida 625 (BHCB, CVRD); Mynssen 518 (CVRD, RB) ET ET ET ET Almeida 644 (BHCB, CVRD) Folli 3384 (CVRD); Mynssen 503 (CVRD, RB) Almeida 724 (BHCB, CVRD); Folli 3023 (CVRD, RBR); Folli 3715 (CVRD); Paciencia 2447 (CVRD, RB) HV HF ET HV Almeida 650 (BHCB, CVRD); Folli 4237 (CVRD) Almeida 706 (BHCB, CVRD) Almeida 628 (BHCB, CVRD) Folli 3182 (CVRD); Salino 4534 (BHCB, CVRD) ET ET Folli 3331 (CVRD) Almeida 726 (BHCB, CVRD); Mynssen 510 (CVRD, RB) TR Folli 1889 (CVRD); Martinelli 1967 (RB) ET Folli 1834 (CVRD) HF HF HV Almeida 656 (BHCB, CVRD) Folli 1634 (CVRD, RBR); Mynssen 516 (CVRD, RB) Almeida 646 (BHCB, CVRD); Folli 2737 (CVRD, RBR) 159 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Família / Espécie Microgramma microsoroides Salino et al. vn Microgramma persicariifolia (Schrad.) C.Presl Microgramma vacciniifolia (Langsd. & Fisch.) Copel. Pecluma dispersa (A.M.Evans) M.G.Price Pecluma plumula (Humb. & Bonpl. ex Willd.) M.G.Price Phlebodium pseudoaureum (Cav.) Lellinger Pleopeltis hirsutissima (Raddi) de la Sota Pleopeltis minima (Bory) J.Prado & R.Y.Hirai Pleopeltis monoides (Weath.) Salino vl Pleopeltis pleopeltifolia (Raddi) Alston v Serpocaulon latipes (Langsd. & Fisch.) A.R.Sm. v Serpocaulon triseriale (Sw.) A.R.Sm. PTERIDACEAE Acrostichum aureum L. Acrostichum danaefolium Langsd. & Fisch. Adiantopsis radiata (L.) Fée Adiantum abscissum Schrad. v Adiantum deflectens Mart. Adiantum dolosum Kunze Adiantum glaucescens Klotzsch Adiantum latifolium Lam. Adiantum lucidum (Cav.) Sw. Adiantum pulverulentum L. Adiantum serratodentatum Humb. & Bonpl. ex Willd. Adiantum subcordatum Sw. vl Adiantum terminatum Kunze ex Miq. Adiantum windischii J.Prado Ceratopteris thalictroides (L.) Brongn. Doryopteris pentagona Pic.Serm. Hemionitis tomentosa (Lam.) Raddi Pityrogramma calomelanos (L.) Link Pteris biaurita L. Pteris brasiliensis Raddi Pteris cretica L. Pteris denticulata Sw. Pteris leptophylla Sw. v Pteris schwackeana Christ Vittaria lineata (L.) Sm. SACCOLOMATACEAE Saccoloma elegans Kaulf. SALVINIACEAE Azolla cristata Kaulf. Salvinia biloba Raddi Salvinia minima Baker v 160 Formação vegetal Hábito Material selecionado FV, FA HV Almeida 681 (BHCB, CVRD); Folli 5177 (CVRD) FA HV Almeida 735 (BHCB, CVRD) CN, FM, FA HV Folli 2803 (CVRD, RBR); Simonelli 891 (CVRD) FA FM, FA HV HV Almeida 668 (BHCB, CVRD) Folli 3049 (CVRD); Salino 4527 (BHCB, CVRD) FA FM, FA FV, FA FA FM, FA CN, FM HV HV HV HV HV HF Folli 3394 (CVRD) Folli 3030 (CVRD) Folli 5433 (CVRD) Almeida 696 (BHCB, CVRD) Folli 3000 (CVRD) Folli 1723 (CVRD, RBR); Martinelli 4958 (RB) CN, FM HF Folli 2862 (CVRD, RBR); Almeida 649 (BHCB, CVRD) CN, FV CN, FV FM, FA FV, FA FA FV, FA FM, FA FM, FA FM, FV, FA FA FV ET ET ET ET ET ET ET ET ET ET ET Salino 4531 (BHCB, CVRD) Almeida 634 (BHCB, CVRD) Folli 3926 (CVRD) Lima 1955 (RB); Martinelli 1876 (RB) Paciencia 2434 (CVRD) Paciencia 2287 (CVRD, RB); Sucre 8263 (RB) Paciencia 2297 (CVRD, RB); Almeida 658 (BHCB, CVRD) Almeida 685 (BHCB, CVRD); Folli 1825 (CVRD) Paciencia 2460 (CVRD); Almeida 686 (BHCB, CVRD) Monteiro 255-B (RB) Folli 4211 (CVRD) FV, FA FV. FA FA FV FA FA FV, FA FA FV, FA FV FM, FV, FA FM, FA FA FM, FV, FA ET ET ET EA ET ET ET ET ET ET ET ET ET HV Folli 4429 (CVRD); Almeida 653 (BHCB, CVRD) Almeida 657 (BHCB); Mynssen 502 (CVRD, RB) Mello-Silva 1459 (RB) Almeida 702 (BHCB); Folli 4481 (CVRD) Almeida 637 (BHCB, CVRD); Folli 2923 (CVRD) Folli 2924 (CVRD) Almeida 723 (BHCB, CVRD) Almeida 703 (BHCB, CVRD) Mynssen 506 (CVRD, RB); Folli 4272 (CVRD) Siqueira 280 (CVRD) Folli 3429 (CVRD) Almeida 679 (BHCB, CVRD); Paciencia 2427 (CVRD) Folli 2962 (CVRD) Almeida 626 (BHCB); Folli 3291 (CVRD) FV ET Salino 4529 (BHCB, CVRD) FM FM, FV FM EA EA EA Almeida 691 (BHCB, CVRD) Almeida 692 (BHCB, CVRD); Folli 2867 (CVRD) Almeida 693 (BHCB, CVRD) SYLVESTRE ET AL. Família / Espécie SAMAMBAIAS & LICÓFITAS Formação vegetal Hábito Material selecionado SCHIZAEACEAE Actinostachys pennula (Sw.) Hook. CN SELAGINELLACEAE Selaginella muscosa Spring CN, FA TECTARIACEAE Tectaria incisa Cav. FM, FA Triplophyllum funestum (Kunze) Holttum FV, FA Triplophyllum hirsutum (Holttum) FV, FA J.Prado & R.C.Moran THELYPTERIDACEAE Macrothelypteris torresiana (Gaudich.) Ching FV, FA Thelypteris conspersa (Schrad.) A.R.Sm. FV, FA Thelypteris dentata (Forssk.) E.P.St.John FV, FA Thelypteris hispidula (Decne.) C.F.Reed FA Thelypteris interrupta (Willd.) K.Iwats. FV, FA Thelypteris longifolia (Desv.) R.M.Tryon FM, FV, FA Thelypteris macrophylla (Kunze) C.V.Morton FM, FV Thelypteris opposita (Vahl) Ching FA Thelypteris serrata (Cav.) Alston FA, FV Figura 1: Número de famílias, gêneros e espécies de samambaias e licóitas ocorrentes na Reserva Natural Vale. A família com maior diversidade é Pteridaceae (25 espécies), seguida por Polypodiaceae (15), Thelypteridaceae (9) e Dryopteridaceae (7). As demais apresentam menos de cinco espécies cada. As duas primeiras famílias são também as que apresentam a maior diversidade genérica, com nove e seis gêneros, respectivamente (Figura 4). Os gêneros mais ricos são Adiantum (11 espécies), Thelypteris (8), Pteris (6) e Anemia (5); Lindsaea, Microgramma e Pleopeltis também estão bem representados (4 espécies cada), enquanto os demais gêneros possuem menos de três espécies (Figura 5). Na área de ET Folli 2331 (CVRD) HV Folli 3481 (CVRD) ET ET ET Almeida 732 (BHCB, CVRD) Folli 3831 (CVRD) Mynssen 504 (CVRD, RB) ET ET ET ET ET ET ET ET ET Almeida 705 (BHCB, CVRD) Almeida 712 (BHCB, CVRD); Folli 3187 (CVRD) Folli 2871 (CVRD) Almeida 635 (BHCB, CVRD) Almeida 642 (BHCB, CVRD); Folli 3183 (CVRD) Almeida 666 (BHCB, CVRD); Mynssen 507 (CVRD, RB) Folli 3382 (CVRD); Salino 4528 (BHCB, CVRD) Almeida 717 (BHCB, CVRD) Folli 2870 (CVRD); Salino 4516 (BHCB, CVRD) estudo ocorrem apenas três gêneros de licófitas, Lycopodiella, Palhinhaea e Selaginella, com uma espécie cada. Três novas espécies foram recentemente descritas para a área da Reserva: Microgramma microsoroides (Salino et al., 2008), Ctenitis christensenii e C. glandulosa (Viveiros & Salino, 2015). Ervas terrícolas são as mais comuns na área de estudo, representando não somente o maior número de espécies (65), mas também o hábito mais frequente nas diferentes isionomias da Reserva (Figura 6). Pteridaceae é a família dominante dentre as ervas terrícolas (23 espécies, 11 delas de Adiantum). As holoepíitas verdadeiras correspondem a 15% da lora estudada, seguida pelas holoepíitas facultativas (7%), em sua maioria pertencentes à família Polypodiaceae. As ervas aquáticas (4%) estão representadas pelos gêneros Azolla, Salvinia e Ceratopteris. Salpichlaena volubilis e Lygodium volubile são as duas espécies com hábito trepador. As hemiepíitas são Polybotrya cylindrica e P. osmundacea. As samambaias arborescentes estão representadas por Cyathea microdonta e C. phalerata. 161 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Figura 2: Samambaias e Licóitas da Reserva Natural Vale. A) Anemia collina Raddi; B) A. luetzelburgii Rosenst.; C) A. phyllitidis (L.) Sw.; D) Blechnum occidentale L.; E) Cyathea microdonta (Desv.) Domin; F) Trichomanes pinnatum Hedw.; G) Dicranopteris flexuosa (Schrad.) Underw. H) Lindsaea lancea (L.) Bedd.; I) Microgramma geminata (Schrad.) R.M.Tryon & A.F.Tryon; J) M. microsoroides Salino et al.; K) Adiantum dolosum Kunze; L) Doryopteris pentagona Pic.Serm.; M) Hemionitis tomentosa (Lam.) Raddi. Fotos: A-C, E-F, H-M: T.E.Almeida; D:L.Sylvestre; G:T.Pilla. 162 SYLVESTRE ET AL. SAMAMBAIAS & LICÓFITAS Figura 3: Samambaias e licóitas da Reserva Natural Vale. A) Pteris brasiliensis Raddi; B,C) Pteris leptophylla Sw. (hábito e detalhe da lâmina foliar); D) Azolla cristata Kaulf.; E) Selaginella muscosa Spring; F) Triplophyllum hirsutum (Holttum) J.Prado & R.C. Moram; G) Thelypteris macrophylla (Kunze) C.V.Morton; H) Vittaria lineata (L.) Sm. Fotos: T.E.Almeida. Figura 4: Número de gêneros e espécies das dez famílias de samambaias e licóitas com maior diversidade na Reserva Natural Vale. Figura 5: Gêneros de samambaias com maior diversidade na Reserva Natural Vale. As licóitas estão representadas por três gêneros com uma espécie cada. 163 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Figura 6: Percentual de espécies de samambaias da Reserva Natural Vale, classiicadas quanto ao hábito. A Floresta Alta é a formação vegetal mais rica (72 espécies) e também a que apresenta o maior número de espécies exclusivas (22), ou seja, aquelas que não ocorrem em nenhum outro tipo de vegetação na área. As áreas permanentemente ou sazonalmente alagadas também possuem uma expressiva flora de samambaias e licófitas, com 49 espécies, nove delas exclusivas dessas formações. A Floresta de Muçununga, por sua vez, apresenta 33 espécies e os Campos Nativos possuem a menor riqueza, com 14 espécies (Figura 7). A maioria das espécies possui distribuição neotropical (68 spp.) e 13 delas ocorrem em regiões tropicais de outros continentes (pantropicais) (Figura 8). Estas últimas são representadas tanto por espécies naturalizadas, tais como Macrothelypteris torresiana, Pteris cretica e Thelypteris dentata, quanto nativas. Dentre estas, podem ser citadas as aquáticas Azolla cristata e Ceratopteris thalictroides, bem como as ervas ruderais Pityrogramma calomelanos e Thelypteris interrupta. Dentre as espécies endêmicas do Brasil ocorrentes na Reserva (15 spp.), 13 são exclusivas da Floresta Atlântica. Destas, oito possuem ampla distribuição, geralmente ocorrendo desde o nordeste ao sudeste/sul do Brasil; quatro possuem distribuição restrita ao corredor central da Floresta Altântica, como Anemia espiritosantensis (ES, MG) e Pleopeltis monoides (BA, ES, MG); e uma é considerada até o Figura 7: Número de espécies de samambaias e licóitas distribuídas nas diferentes formações vegetais encontradas na Reserva Natural Vale. Figura 8: Padrões de distribuição das samambaias e licóitas da Reserva Natural Vale. As espécies não endêmicas do Brasil (81) possuem distribuição pantropical ou ocorrem somente na região neotropical (68). Dentre as espécies endêmicas do Brasil (15), a maioria ocorre exclusivamente na Floresta Atlântica (13), sendo que quatro delas são restritas ao corredor central (do sul da Bahia ao norte de São Paulo) e uma ao estado do Espírito Santo. 164 SYLVESTRE ET AL. momento endêmica às florestas sobre tabuleiros no Espírito Santo (Microgramma microsoroides). Anemia espiritosantensis consta no “livro vermelho” da flora do Espírito Santo (Simonelli & Fraga, 2007) como Criticamente em Perigo (CR), enquanto que Pleopeltis monoides é categorizada como Em Perigo (EN) tanto na lista estadual, como no Livro vermelho da flora do Brasil (Martinelli & Moraes, 2013). Microgramma microsoroides, embora ainda não avaliada quanto ao risco de extinção, pode ser considerada potencialmente ameaçada, principalmente por possuir uma área de ocupação reduzida e ocorrer em um bioma extremamente ameaçado. DISCUSSÃO A ocorrência de 96 espécies de samambaias e licóitas para a Reserva Natural Vale representa o maior valor de riqueza especíica para estes grupos em regiões de Florestas de Terras Baixas no Estado do Espírito Santo. Portanto, a riqueza das lorestas sobre tabuleiros pode ser considerada intermediária entre a das restingas (35 espécies - Behar & Viégas, 1992; 1993) e as de lorestas montanas (108 espécies – Brade, 1947; 126 espécies – ViégasAquije & Santos, 2007). Andrade (2014) reconheceu 55 espécies para três fragmentos distintos de lorestas sobre tabuleiros entre os municípios de Conceição da Barra e Pinheiros. Entretanto, a maior riqueza encontrada aqui pode ser explicada por dois fatores principais: (1) a área de vegetação protegida na Reserva Natural Vale é aproximadamente 3,5 vezes maior que a área dos três fragmentos somados e (2) a vegetação em mosaico proporciona condições ambientais distintas, ocasionando loras também relativamente distintas. Vários autores têm destacado a importância da diversidade ambiental no aumento da riqueza da lora de samambaias e licóitas (Paciencia & Prado, 2005; Moran, 2008; Kluge & Kessler, 2011). Estas condições são geralmente mais evidentes nas lorestas de encosta, onde a topograia do terreno proporciona uma maior variabilidade ambiental (Moran, 2008). Contudo, mesmo apresentando pouca variação topográica na área de estudo, as SAMAMBAIAS & LICÓFITAS diferentes tipologias contribuem para o aumento desta riqueza, o que pode ser evidenciado quando são analisados os dados de distribuição das espécies nas diferentes formações vegetais. A Floresta Alta apresentou a maior riqueza, aliado ao maior número de espécies exclusivas desta formação, que são prioritariamente ervas terrícolas de sub-bosque. Portanto, o dossel fechado encontrado nesta loresta permite o estabelecimento de espécies altamente dependentes desta condição de sombreamento, tais como Adiantum abscissum, A. windischii e Asplenium stuebelianum. Esta formação concentra a maioria das espécies endêmicas da Floresta Atlântica ocorrentes na Reserva, bem como as espécies ameaçadas de extinção. As áreas alagadas, representadas especialmente pelas Florestas de Várzea, apresentam um dossel mais aberto e possuem uma riqueza intermediária entre a Floresta Alta e a Floresta de Muçununga. Esta formação é representada em sua maioria por plantas generalistas, que ocorrem em diferentes ambientes na reserva, bem como por plantas adaptadas a condições de alagamento. Dentre as espécies que foram encontradas exclusivamente nestas áreas podem ser citadas Saccoloma elegans e Salpichlaena volubilis. As Florestas de Muçununga, que são áreas mais abertas, associadas a solos arenosos, são mais propícias ao desenvolvimento de espécies tolerantes a ambientes mais secos e ensolarados. Possuem a metade da diversidade encontrada nas Florestas Altas e a maioria das espécies de samambaias são terrícolas e de ampla distribuição geográica. Entretanto, o componente epifítico também está bem representado nesta formação. Dentre as espécies mais comuns na isionomia das Florestas de Muçununga podemos citar Campyloneurum nitidum (holoepíita facultativa), Didymoglossum hymenoides (holoepíita verdadeira) e Polybotrya cylindrica (hemiepíita). Os Campos Nativos são representados por espécies helióilas, algumas adaptadas a solos encharcados. A lora apresenta alguns elementos compartilhados às restingas litorâneas, como Acrostichum danaefolium, Actinostachys pennula, Serpocaulon latipes, S. triseriale e Telmatoblechnum serrulatum. Algumas espécies terrícolas formam densas populações, como Pteridium arachnoideum, 165 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Palhinhaea cernua e Telmatoblechnum serrulatum. A análise do componente arbóreo tem demonstrado uma alta relação lorística entre as lorestas sobre tabuleiros e a loresta amazônica (Peixoto et al., 2008). Entretanto, esta similaridade demonstrou ser menor nas samambaias e licóitas, embora alguns elementos amazônicos estejam presentes, tais como Triplophyllum funestum e Triplophyllum hirsutum. A maioria das espécies é oriunda do corredor central da Floresta Atlântica, que se estende do sul da Bahia ao Rio de Janeiro, incluindo o norte de São Paulo e o leste de Minas Gerais. A proximidade geográica pode explicar este panorama, embora a dispersão seja apenas um dos fatores atuantes no estabelecimento da pteridolora local. Os dados aqui apresentados mostram a relevância da Reserva Natural Vale na conservação da diversidade de licóitas e samambaias na Floresta de Tabuleiro, além da sua importância na preservação da lora como um todo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Andrade, R.C. 2014. Licóitas e samambaias de três fragmentos de mata atlântica do norte do Espírito Santo, Brasil. Monograia de Bacharelado em Ciências Biológicas. São Mateus: Universidade Federal do Espírito Santo – CEUNES, 32p. 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FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE 11 ANGIOSPERMAS DA RESERVA NATURAL VALE, NA FLORESTA ATLÂNTICA DO NORTE DO ESPÍRITO SANTO Samir Gonçalves Rolim, Ariane Luna Peixoto, Oberdan José Pereira, Dorothy Sue Dunn de Araujo, Marcos Nadruz, Geovane Siqueira & Luis Fernando Tavares de Menezes INTRODUÇÃO Apesar da intensa fragmentação ocorrida no bioma Mata Atlântica, onde 71% dos fragmentos possuem menos que 5 mil ha e 45% da área encontra-se dentro dos 100 m de borda lorestal (Ribeiro et al., 2009), este bioma ainda guarda elevados valores de diversidade e endemismo em sua lora (Thomas et al., 2008; Forzza et al., 2010; Werneck et al., 2011). Uma região singular neste bioma é o trecho entre o município de Santa Teresa/ES e Ilhéus/ BA, onde foram registradas as três áreas com maior riqueza de angiospermas na Mata Atlântica (Martini et al., 2007; Thomas et al., 2008; Saiter & Thomaz, 2014). Nesta região, no norte do Espírito Santo, sobre sedimentos da Formação Barreiras, encontram-se dois fragmentos contíguos e bem conservados de Floresta de Tabuleiro, denominação dada por Rizzini (1963): a Reserva Natural Vale (RNV) e a Reserva Biológica de Sooretama (RBS). Juntas, elas somam 46 mil ha e constituem o maior maciço de Floresta Atlântica entre o sul da Bahia e norte do Rio de Janeiro (Peixoto et al., 2008). Esta é uma região singular, citada como a mais rica em espécies de angiospermas do neotrópico, considerando áreas com precipitação similar, ao redor de 1.200-1.400 mm/ano (Peixoto & Gentry, 1990) e um dos 14 centros de diversidade e endemismo de plantas do Brasil (Peixoto & Silva, 1997). Alguns estudos já izeram a revisão de famílias e gêneros ocorrentes na RNV (p. ex.Barroso & Peixoto, 1995; Mansano & Tozzi, 2004; Coelho, 2010a, Lopes & Mello-Silva, 2014) e novos táxons continuam a ser descritos (p. ex Maas et al., 2007; Pirani, 2010; Acevedo-Rodríguez, 2012; Lopes et al., 2013; Lopes et al.,2014; Medeiros & Lohmann, 2014; Lombardi, 2014; Sobral & Souza, 2015; Kollmann et al., 2015). Numa análise geral, a primeira síntese da flora de angiospermas da RNV analisou 2.417 exsicatas, descrevendo 650 espécies vegetais, sendo 489 arbóreas (Jesus & Garcia, 1992). Menos de uma década depois foram descritas 1.404 espécies de fanerógamas, das quais 37 com material tipo da RNV, já incluindo uma boa representatividade de plantas não arbóreas (Germano Filho et al., 2000). Posteriormente Peixoto et al. (2008) e Siqueira et al. (2014) listaram mais de 2.000 espécies de angiospermas, entretanto, nestas listagens são incluídas algumas dezenas de táxons cujas determinações não chegam a espécie e dezenas de espécies naturalizadas. Neste trabalho é analisada a riqueza de espécies de angiospermas da RNV, são discutidos os grupos taxonômicos mais ricos e é feita uma breve discussão em relação à flora de outras regiões bem estudadas do neotrópico. 167 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE MATERIAIS & MÉTODOS A RNV localiza-se no norte do Espírito Santo, sobre terrenos com pequena variação de altitude, geralmente entre 30 e 60 m. O clima é considerado estacional, embora a vegetação lorestal seja classiicada como Floresta Estacional Perenifólia. Para o período de janeiro de 1975 a dezembro de 2004, a precipitação média anual foi igual a 1.227 mm (desvio padrão ± 273 mm), a temperatura média anual foi de 23,3 oC, variando muito pouco ao longo do ano, entre 20,0 oC e 26,2 oC (médias das mínimas e máximas anuais). A umidade relativa média anual foi de 85,8%, também variando muito pouco ao longo do ano, entre 82,2% e 89,2% (Rolim et al., 2016a). Na RNV ocorrem quatro tipos principais de isionomias vegetais. A de maior extensão é a Floresta de Tabuleiro, uma isionomia lorestal madura sobre Argisolos Amarelos, onde as árvores chegam a atingir mais de 35 m de altura (Jesus & Rolim, 2005; Peixoto et al., 2008). As lorestas de muçununga ocorrem geralmente como enclaves no interior da Floresta de Tabuleiro, sobre depósitos arenosos (espodossolos), onde o dossel atinge cerca de 10 m de altura e ocorre grande penetração de luz no subbosque (Simonelli et al., 2008). Nesta isionomia, os solos são pobres e existe um grande estresse hídrico, os quais são limitantes para o crescimento das árvores (Saporetti-Júnior et al., 2012). Os campos nativos ou “nativo” é uma isionomia variando de herbácea a arbustiva, ocorrendo também sobre solos arenosos e pobres. Do ponto de vista lorístico o nativo é uma vegetação de restinga, embora alguns autores preiram fazer a diferenciação isionômica, deixando o termo restinga para a vegetação que ocorre sobre os terraços marinhos do quaternário (Araujo et al., 2008). Esta isionomia é considerada por alguns uma variação da muçununga, assim como a variação que ocorre entre isionomias de cerrado (Meira-Neto et al., 2005). A variação isionômica nos campos nativos é provavelmente condicionada pela frequência e duração do alagamento do solo em épocas chuvosas (Ferreira et al., 2014). Uma análise detalhada do mapa da RNV, apresentado na abertura deste livro, apresenta as isionomias vegetais da reserva numa imagem de satélite (Figura 1). 168 As áreas permanentemente inundadas, aqui denominadas várzeas, também apresentam um gradiente isionômico difícil de deinir, podendo variar de herbáceas a arbóreas com dossel a 12 m de altura (Peixoto et al., 2008). Para elaborar a lista de angiospermas foram consultados 15.568 registros do Herbário CVRD, da RNV, depositados até a data de 28 de janeiro de 2016, sendo excluídas as brióitas, monilóitas e licóitas (tratadas em outros capítulos deste livro), as coletas realizadas fora dos limites da RNV e os registros indeterminados. Contudo, espécies colocadas apenas até gênero, mas que são consideradas por especialistas como “novas” foram mantidas na lista. Gêneros sem a completa identiicação até espécie, mas com apenas uma espécie também foram mantidos na lista. Apenas para Myrtaceae foram mantidas algumas morfoespécies. Espécies naturalizadas, exóticas e/ ou ruderais foram excluídas do presente estudo, seguindo recomendação de Moro et al. (2012). Algumas poucas espécies sem duplicatas no Herbário CVRD foram incluídas, após a conirmação de especialistas, utilizando-se os dados de exsicatas depositadas em outras coleções. A lista de espécies foi submetida à checagem de nomes através da ferramenta Plantminer (Carvalho et al., 2010), o qual faz uma correção automática dos nomes válidos e sinônimos, através de consulta à Lista de Espécies da Flora do Brasil (http://loradobrasil.jbrj. gov.br). Posteriormente, a listagem foi checada para veriicar inconsistências. RESULTADOS E DISCUSSÃO Riqueza de espécies Foram contabilizadas 1.999 espécies de angiospermas na RNV, distribuídas por 145 famílias (Anexo 1). Esse número representa 13,5% do total de Angiospermas citadas para a Floresta Atlântica (Stehmann et al., 2009). O número de registros indeterminados é de 480, pertencentes principalmente às famílias Salicaceae, Myrtaceae, Euphorbiaceae, Rubiaceae, Marantaceae, Solanaceae, Fabaceae e Peraceae. Assim, é possível que a riqueza aumente sensivelmente com a identiicação destes materiais. As famílias mais ricas em espécies na RNV são Fabaceae (186), Myrtaceae (116), Orquidaceae ROLIM ET AL. (103), Rubiaceae (86), Poaceae (73), Asteraceae (69), Bignoniaceae (62) e Lauraceae (58). As famílias mais ricas em gêneros são Fabaceae (80), Orquidaceae (56), Asteraceae (45) e Rubiaceae (42) (Figura 2). Os gêneros mais ricos em espécies são Eugenia (45), Ocotea (34), Myrcia (29), Solanum (25), Piper (24) e Pouteria (21). As quatro famílias mais ricas encontradas na RNV são, de modo geral, aquelas bem representadas em outras áreas de Floresta Atlântica (Leitão-Filho, 1987; Peixoto & Gentry, 1990; Joly et al., 1991) ou mesmo na região neotropical (referências na Tabela 2). Das espécies citadas, 1.622 (81%) foram registradas na floresta de tabuleiro, 628 (31%) nas florestas de muçununga, 352 (18%) nos campos nativos e 257 (13%) nas várzeas sujeitas a alagamento. Algumas espécies não apresentaram fisionomia de coleta e outras foram amostradas em áreas antropizadas dentro da RNV, embora sejam de ocorrência natural na região. Apenas 107 espécies são compartilhadas pela Floresta de Tabuleiro, floresta de muçununga e campos nativos. Do total de espécies, 262 só foram registradas nas fisionomias de muçununga e/ou de campos nativos. Estas fisionomias possuem solos quimicamente pobres (Espodossolos) e com camadas superficiais de impedimento que levam a alagamentos em épocas chuvosas (Secreti, 2013) e são mais restritivas para muitas espécies. Os remanescentes destes ambientes são extremamente raros entre o sul da Bahia e o norte do Espírito Santo e mais estudos são necessários para entender a distribuição das espécies nestas fisionomias, os tamanhos de suas populações e seu status de ameaça frente à raridade dos mesmos. Figura 2. Famílias mais ricas em espécies na Reserva Natural Vale e respectivos números de gêneros. ANGIOSPERMAS Das espécies citadas, 94 constam como ameaçadas de extinção no livro vermelho da lora do Brasil (Martineli & Moraes, 2013), 156 no livro do Espírito Santo e 22 são consideradas plantas raras (Giulietti et al., 2009), totalizando 191 espécies que merecem atenção prioritária. Entretanto, este número ultrapassa 200, pois várias espécies recentemente descritas para esta área e ainda com distribuição conhecida restrita, poderão ser avaliadas futuramente como raras ou ameaçadas, como Alatococcus siqueirae Acev.Rodr. (Acevedo-Rodríguez, 2012), Oxandra unibracteata J.C. Lopes, Junikka & Mello-Silva (Lopes et al., 2013), Ephedrantus dimerus J.C. Lopes, Chatrou & Mello-Silva (Lopes et al., 2014), Anthurium ribeiroi Nadruz, Anthurium queirozianum Nadruz, Anthurium riodocense Nadruz, Anthurium siqueirae Nadruz, Anthurium zeneidae Nadruz, Philodendron follii Nadruz, Philodendron ruthianum Nadruz (Coelho, 2010), Spiranthera atlantica Pirani (Pirani, 2010), Tynanthus espiritosantensis M.C. Medeiros & L.G. Lohmann (Medeiros & Lohmann, 2014), Eugenia hispidiflora Sobral & M.C. Souza, Eugenia cataphyllea Sobral & M.C. Souza (Sobral & Souza, 2015) e Begonia jaguarensis L. Kollmann, R. S. Lopes & Peixoto (Kollmann et al., 2015). Outras espécies raras ou ameaçadas são encontradas em fragmentos no entorno da RNV ou nas lorestas aluviais na foz do Rio Doce, mas não possuem registros de ocorrência dentro da RNV, como Oxalis doceana Lourteig, Riodocea pulcherrima Delprete (Rolim et al., 2006; Giulietti et al., 2009) e Keraunea capixaba Lombardi (Lombardi, 2014). Para a RNV, ainda são mencionadas como raras Erisma silvae Marc.-Berti e Tabebuia reticulata A.H.Gentry (Giulietti et al., 2009) mas não há registros destas espécies no norte do Espírito Santo. A primeira é conhecida apenas pelo material tipo na região amazônica enquanto a segunda é para alguns municípios nos estados do Espirito Santo, Minas Gerais e Bahia (INCT, 2015). Numa consulta à Lista de Espécies da Flora do Brasil (http://plantasdobrasil.jbrj.gov.br), podem ser constatados dados de alguns gêneros de angiospermas ocorrentes na RNV que apresentam forte disjunção com a Amazônia, como Dinizia sp. nov. (espécie em descrição G.P. Lewis et al.), Senefeldera, Bonnetia, Glycydendron e Borismene. Alguns destes 169 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE gêneros ocorrem de São Paulo a Pernambuco; outros ocorrem apenas no trecho entre o rio Doce, no Espírito Santo, e Ilhéus, no sul da Bahia. Isso pode indicar ausência de coleta nas áreas entre os biomas, mas também conexões pretéritas entre a Floresta Atlântica e Amazônica, como já apontado por diversos autores. Alguns destes gêneros foram encontrados em registros de pólen na RNV, desde 7.500 e 4.000 anos antes do presente (Buso Jr. et al., 2014). Em duas áreas de Floresta Atlântica do sul da Bahia, com 420 e 430 espécies, Thomas et al. (1998) estimaram que 7,4% em cada área são disjuntas com a Amazônia, número próximo da estimativa anterior de Mori et al. (1981), que é de 7,9% (baseada em 127 espécies arbóreas). Thomas et al. (1998) estimaram ainda que 27,3% das espécies são endêmicas da região entre o rio Doce (ES) e Ilhéus, no sul da Bahia. Estes resultados levaram os autores a classiicarem esta região como um dos três centros de endemismo da Mata Atlântica (para detalhes ver também Fiaschi & Pirani, 2009). Comparação com outras áreas A riqueza de espécies numa dada área e a análise da riqueza de espécies em famílias ou a abundância de famílias entre regiões neotropicais têm sido discutidas (Lombardi & Gonçalves, 2000; Lima et al., 2011; Zappi et al., 2011). Esta discussão é diicultada pelo fato de que o esforço de coleta botânica geralmente não é o mesmo entre os Tabela 1: Lista de 10 famílias de Angiospermas mais ricas em espécies, em 12 regiões neotropicais da América do Sul (células vazias indicam que a família não está entre as 10 mais representativas na área). Obs.: Uma ressalva é que alguns estudos são antigos e não estão em APG III. Assim, a representatividade de algumas famílias, como Malvaceae e Euphorbiaceae, pode estar sub ou superestimada. Família Fabaceae Myrtaceae Orchidaceae Rubiaceae Bignoniaceae Asteraceae Poaceae Lauraceae Apocynaceae Sapindaceae Annonaceae Araceae Bromeliaceae Chrysobalanaceae Cyperaceae Euphorbiaceae Malpighiaceae Malvaceae Melastomataceae Moraceae Piperaceae Sapotaceae Solanaceae Riqueza 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 186 116 103 86 62 69 73 58 51 45 150 188 65 96 94 54 160 128 31 115 39 57 82 71 59 38 66 125 39 48 53 115 48 57 85 81 51 51 47 229 53 63 70 118 50 54 48 54 42 43 57 53 44 43 46 200 138 75 107 58 56 113 93 32 27 100 69 49 51 34 35 62 35 133 59 55 47 64 34 34 31 40 43 41 53 45 42 50 167 58 78 1.999 45 36 42 85 68 38 53 43 34 39 30 35 21 36 31 19 56 54 73 34 33 30 22 26 28 50 33 2.363 1.987 1.912 1.303 1.251 1.048 1.043 38 29 1.033 1.030 1.023 985 Legenda: RNV (este estudo); 2) Região central do Peru (Vásquez et al., 2005); 3) Reserva Ducke, AM (Hopkins, 2005); 4) Yasuní National Park – Equador (Tropicos, 2013); 5) Parque Cristalino, MT (Zappi et al., 2011); 6) Iwokrama Forest – Guyana (Clarke et al., 2001); 7) Reserva de Una, BA (Amorim et al., 2008); 8) médio Rio Doce, MG (Lombardi & Gonçalves, 2000); 9) Serra Negra, MG (Salimena et al., 2013); 10) Parque Carlos Botelho, SP (Lima et al., 2011); 11) Reserva de Macaé de Cima, RJ (Lima & Guedes-Bruni, 1997); 12) Parque da Ilha do Cardoso, SP (Barros et al., 1991). 170 ROLIM ET AL. estudos. Além disso, a extensão e a diversidade de ambientes nas áreas de coletas em cada área podem ser diferentes e as coletas em alguns estudos são subrepresentadas para algumas famílias (Clarke et al., 2001; Zappi et al., 2011). Com estas ponderações, foram selecionadas algumas áreas neotropicais para uma análise comparativa dos resultados encontrados na RNV (Tabela 1), considerando apenas as Angiospermas. Nesta comparação, uma riqueza de Angiospermas de cerca de 2.000 espécies é encontrada na RNV em Linhares/ES, na Reserva Ducke em Manaus/ AM e na região central do Peru. Zappi et al.(2011) inferem que no Parque Cristalino/MT é possível que a riqueza de plantas vasculares atinja 2.000 espécies. Embora a região central do Peru tenha maior riqueza entre as áreas comparadas (2.363 espécies de Angiospermas), deve ser considerado que as coletas foram realizadas em 300 mil ha, com quatro tipos climáticos distintos e alta diversidade de ambientes (Vásquez et al., 2005). Se forem consideradas amostras nesta escala, como na Serra do Mar de SP/RJ ou em todo o norte do Espírito Santo, é possível que uma riqueza similar poderia ser alcançada nestes trechos. Porém, nesta área do Peru, apesar de sua grande extensão quando comparada às demais, foram analisadas apenas 16.376 coletas botânicas e vários estudos têm mostrado a elevada riqueza das lorestas peruanas (Gentry, 1988; Phillips et al., 1994). Na RNV (com cerca de 23 mil ha) e na Reserva Ducke (cerca de 10 mil ha), embora o tamanho seja reduzido, não é desprezível o fato de que em ambas a topograia é muito plana, facilitando a atividade de coleta. Outras áreas, como no Parque Estadual Carlos Botelho (SP) ou nas lorestas de Iwokrama nas Guianas, a topograia acidentada é um diicultador para a coleta de plantas. A inluência do esforço de coleta na Reserva Ducke pode ser constatada com base em atualizações no número de espécies para esta área nos últimos 15 anos. Uma publicação do Projeto Flora da Amazônia (Prance, 1990) indicava uma riqueza de 825 espécies. Posteriormente, Ribeiro et al. (1994) indicaram uma riqueza de 1.453 espécies e Hopkins (2005) citou 2.079 espécies de plantas vasculares para a Reserva Ducke, ou seja, um acréscimo de 150% em duas décadas. Esses dados mostram que a obtenção de dados representativos de loras, mesmo em áreas ANGIOSPERMAS “pequenas” e planas é uma atividade de longo prazo. Também deve ser considerado que existem áreas com alta riqueza concentrada em pequenas áreas, mas pequeno esforço em escala regional. Por exemplo, uma comparação mais criteriosa de amostragem, com esforço e metodologia padronizados (A. H. Gentry Forest Transect Data Set) mostra que a riqueza da lora com diâmetro à altura do peito maior ou igual a 4,8 cm em áreas de 1 ha, no sul da Bahia (Serra do Conduru), está entre as mais altas dos neotrópicos, inclusive maior que a RNV e Reserva Ducke (Martini et al., 2007). Outros estudos têm conirmado a alta riqueza de espécies em Serra Grande, no Sul da Bahia (Thomas et al., 2008) e na região serrana do Espírito Santo (Thomaz & Monteiro, 1997; Saiter et al., 2011). A região serrana de Santa Teresa, no Espírito Santo, é apontada como área de alta riqueza ou endemismo para alguns grupos de plantas, como Angiospermas (Werneck et al., 2011), Myrtaceae (Sobral, 2007; Murray-Smith et al., 2009) e Monimiaceae (Lyrio, 2014). Maior intensidade de coleta juntamente com análises que incluam fatores ambientais e biogeográicos, são necessárias para entender a elevada riqueza e endemismo destas regiões. Uma análise da Tabela 1 mostra que Fabaceae, Myrtaceae, Rubiaceae e Orchidaceae têm destaque em termos de riqueza de espécies em lorestas Neotropicais: por exemplo, na Floresta Atlântica do norte do Espírito Santo (este estudo), da Bahia (Amorim et al., 2008), na região sul de São Paulo (Lima et al., 2011), na Floresta Amazônica do Mato Grosso (Zappi et al., 2011), de Manaus (Hopkins (2005) e da Guiana (Clarke et al., 2001). Destaca-se a notável contribuição de Orchidaceae na Reserva de Macaé de Cima, RJ (Lima & GuedesBruni, 1997), no Parque Estadual da Ilha do Cardoso, SP (Barros et al., 1991) e em Serra Negra, MG (Salimene et al., 2013), com riqueza superior a Fabaceae. Isso é esperado, já que esta é a família mais diversa na Floresta Atlântica (Stehmann et al., 2009). Por outro lado, podem ser notadas algumas exceções, como a baixa contribuição de Orchidaceae no médio rio Doce (Lombardi & Gonçalves, 2000) e na Floresta Amazônica do Mato Grosso (Zappi et al., 2011), provavelmente em função de um menor esforço de coleta nesta família. Geralmente a riqueza de Orchidaceae está associada a ambientes com alta pluviosidade ou 171 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE sob inluência nebular (Dressler, 1990). Todavia, na RNV existe um longo período seco (Engel & Martins, 2005) e, além disso, muitas espécies de orquídeas ocorrem como epíitas na muçununga e como terrestres nos campos nativos, ambientes mais secos, indicando que as 103 espécies da coleção representam uma alta riqueza mesmo em ambiente relativamente mais seco. A elevada riqueza de Myrtaceae na RNV pode ser constatada quando comparada às demais áreas, já que congrega próximo do dobro de espécies em relação à quase totalidade das demais áreas. Esta família é relacionada entre as mais ricas em espécies arbóreas no domínio da Floresta Atântica (Mori et al., 1983a; Mori et al., 1983b; Barros et al., 1991; Thomaz & Monteiro, 1997; Jesus & Rolim, 2005; Lima et al., 2011). Outro fato a ser considerado é que Myrtaceae é também bem representada na Amazônia, como constatado para a Reserva Ducke, se considerada toda a lora e não somente espécies arbóreas. A presença de áreas abertas com sedimento arenoso na RNV deve ter favorecido o estabelecimento de representantes de Poaceae e Asteraceae, que ali ocorrem entre as 10 famílias de maior riqueza. Estas famílias também apresentam elevada riqueza em outras regiões que apresentam este tipo de sedimento, ou ainda em trechos rochosos, como encontrados na Ilha do Cardoso (Barros et al., 1991), em Serra Negra (Salimene et al., 2013) e na Guiana (Clarke et al., 2001). Embora Bignoniaceae não seja uma das famílias mais ricas na Floresta Atlântica, destaca-se na RNV, onde apresenta uma das maiores riquezas já registradas, com notoriedade para as lianas lenhosas (43 das 62 espécies). Outras famílias ricas em lianas lenhosas na RNV são Fabaceae, Malpighiaceae e Sapindaceae (37, 32 e 22 espécies, respectivamente). Estas quatro famílias representam 52% das 255 espécies de lianas lenhosas da RNV, principalmente nos gêneros Machaerium (11), Heteropterys (11), Passiflora (9), Adenocalymma (8), Paullinia (8) e Serjania (8), sendo uma das áreas mais ricas do neotrópico com este hábito (Peixoto & Gentry, 1990). CONSIDERAÇÕES FINAIS Os registros botânicos atuais indicam que a RNV apresenta uma elevada riqueza e endemismo de angiospermas, entre as áreas mais ricas no 172 neotrópico, incluindo uma elevada riqueza de espécies ameaçadas e raras. Trata-se de uma área de grande relevância para conservação. Novas coletas botânicas e o tratamento dos materiais indeterminados devem continuar a aumentar esta riqueza, mas, no sentido de direcionar futuros esforços botânicos na região norte do Espírito Santo, embora não seja foco deste trabalho, vale um breve comentário sobre a Reserva Biológica de Sooretama (RBS), adjacente à RNV. Existem muito poucas coletas botânicas na RBS e a maioria coletada em áreas de fácil acesso como a Lagoa do Macuco e ao redor das sedes. Ou seja, uma concentração do esforço de coleta na área da RNV, em detrimento da RBS. Um exemplo desta diferença é apontado por Giaretta et al. (2015), que mostram que 55% de todos os registros de Myrtaceae em áreas protegidas do Espírito Santo são provenientes da RNV, e que sua vizinha RBS, representa apenas 1% dos registros. É notório, portanto, a necessidade de maiores investimentos em coletas botânicas na RBS. A carência de infraestrutura na RBS e a maior diiculdade de acesso aos trechos mais remotos, tornam expedições à RBS menos atrativa ao pesquisador. Adiciona-se ainda o fato de a RNV manter o Herbário CVRD bem representativo da lora do norte do Espírito Santo, além de infraestrutura de apoio logístico, que torna atrativa a opção por coletar na RNV. A RNV e a RBS são igualmente importantes e compartilham muitas espécies, mas provavelmente a área oeste da RBS deve apresentar algumas particularidades que a diferem dos trechos da RNV, pois é uma área mais distante do oceano e apresenta topograia mais acidentada, diferente da RNV, onde o relevo é predominantemente suave ou plano. Desta forma, considerando a riqueza de espécies e endemismo desta região, é altamente recomendável que sejam incentivadas expedições botânicas à RBS. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Acevedo-Rodríguez, P. 2012. Alatococcus, a new genus of Sapindaceae from Espirito Santo, Brazil. Phytokeys, 10: 1-5. 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Proice Herb Arb Herb T T T Ento Ento Ento S S S Abio Abio Abio H H H 1, 2, 3 Chamaeranthemum beyrichii Nees Herpetacanthus sp. nov. (D.A.Folli 4408) Justicia cydoniifolia (Nees) Lindau Herb Herb T,U T Ento S Abio H 1 Justicia genuflexa Nees & Mart. Justicia symphyantha (Nees ex Mart.) Lindau Justicia wasshauseniana Proice Lepidagathis nemoralis (Mart. ex Nees) Kameyama Mendoncia velloziana Mart. Ruellia bulbifera Lindau Ruellia curviflora Nees & Mart. Trep-Li Herb Herb Arb Herb Trep-Li Herb Herb T,U T T T,U T T T T,V Ento Ento Ento Ento S S S S Abio Abio Abio Abio H H H H 1 1, 2 1 1 Ento, Ornito Ento Ento S S S Abio Abio Abio H H H 1 Ruellia furcata (Nees) Lindau Ruellia rosea (Nees) Hemsl. Ruellia solitaria Vell. Thyrsacanthus ramosus (Nees) A.L.A.Côrtes & Rapini Carpotroche brasiliensis (Raddi) A Gray Helanthium bolivianum (Rusby) Lehtonen & Myllys Hydrocleys nymphoides (Willd.) Buchenau Limnocharis flava (L.) Buchenau Sagittaria lancifolia L. Herb Herb Herb Trep-Li Arv Herb Herb Herb Herb T,U T T,U T T V V V T,V Ento Ento S S Abio Abio H H Ento, Quirop Ento Ento Ento Ento C S C S S Bio Abio Bio Abio Abio M H H H M Alternanthera brasiliana (L.) Kuntze Alternanthera sessilis (L.) R.Br. Gomphrena perennis L. Hebanthe eriantha (Poir.) Pedersen Hippeastrum reticulatum Herb. Astronium concinnum Schott Astronium graveolens Jacq. Schinus terebinthifolius Raddi Spondias macrocarpa Engl. Herb Herb Herb Trep-Li Herb Arv Arv Arv Arv T,U T N T,U T,U T T U T,U Ento Ento Ento S S S Abio Abio Abio H H H Ento Ento Ento Ento Ento S C C C C Abio Bio Bio Bio Bio H D D D D Spondias venulosa (Engl.) Engl. Tapirira guianensis Aubl. Arv Arv T T,U,N Ento Ento C C Bio Bio D D 1 2 1 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Anexo: Lista de Angiospermas da Reserva Natural Vale: hábito (Arv, arbóreo; Arb, arbustivo; Trep-Li, trepadeira ou liana; Herb, herbáceo), isionomia de registro (T, Tabuleiro; M, Muçununga; U, Nativo; V, Várzea), síndrome de polinização (anemoilia, ornitoilia, quiropteroilia, entomoilia), frutiicação (C, fruto carnoso; S, fruto seco), dispersão (abiótica ou biótica), sistema sexual (H, hermafrodita; M, monóica; D, dióica) e status de conservação (1: presente na lista de ameaçadas estadual, 2: presente no livro vermelho de plantas do Brasil e 3: planta rara). Annonaceae Espécie Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arb T T,V T,U T T,N T,V T Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio D H H H H H Arv Arv Arb T T,V T Ento Ento Ento C C C Bio Bio Bio H H H Arv Arv Arv U T T Ento C Bio H Ento C Bio H Arv Arv Arv Arb Arv Arv T,V T T,U,N T T T Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio H H H H H H Oxandra martiana (Schltdl.) R.E.Fr. Oxandra nitida R.E.Fr. Oxandra unibracteata J.C.Lopes, Junikka & Mello-Silva Pseudoxandra spiritus-sancti Maas Unonopsis aurantiaca Maas & Westra Unonopsis renatoi Maas & Westra Xylopia frutescens Aubl. Xylopia laevigata (Mart.) R.E.Fr. Xylopia ochrantha Mart. Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv T T T T U T T,U T,U,N T Ento Ento C C Bio Bio H H Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio H H H H H H Asclepias curassavica L. Aspidosperma cylindrocarpon Müll. Arg. Aspidosperma desmanthum Benth. ex Müll. Arg. Aspidosperma discolor A.DC. Aspidosperma illustre (Vell.) Kuhlm. & Pirajá Aspidosperma parvifolium A.DC. Aspidosperma pyricollum Müll. Arg. Blepharodon pictum (Vahl) W.D.Stevens Condylocarpon glabrum Müll. Arg. Arb Arv Arv Arv Arv Arv Arv Herb trep-Li T T T T,U T T T,U T,V T Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento S S S S S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H H H H H Thyrsodium spruceanum Benth. Anaxagorea dolichocarpa Sprague & Sandwith Annona acutiflora Mart. Annona cacans Warm. Annona dolabripetala Raddi Annona glabra L. Annona tabuleirae H. Rainer Cymbopetalum brasiliense (Vell.) Benth. ex Baill. Duguetia chrysocarpa Maas Duguetia sessilis (Vell.) Maas Duguetia sooretamae Maas Ephedranthus dimerus J.C. Lopes, Chatrou & Mello-Silva Guatteria australis A.St.-Hil. Guatteria ferruginea A.St.-Hil. Guatteria sellowiana Schltdl. Guatteria villosissima A.St.-Hil. Hornschuchia bryotrophe Nees Hornschuchia citriodora D.M.Johnson Hornschuchia myrtillus Nees Apocynaceae Status 1, 2 ANGIOSPERMAS Hábito ROLIM ET AL. Família 177 178 Espécie Hábito Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Ento S Abio H Condylocarpon intermedium Müll. Arg. trep-Li T Condylocarpon intermedium Müll. Arg. subsp. intermedium Condylocarpon isthmicum (Vell.) A.DC. Ditassa nitida Decne. Forsteronia leptocarpa (Hook. & Arn.) A.DC. Forsteronia montana Müll. Arg. Forsteronia pilosa (Vell.) Müll. Arg. trep-Li T,V trep-Li Herb Herb trep-Li Herb N T,U,V T,U U Ento Ento Ento Ento Ento S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H Forsteronia refracta Müll. Arg. Forsteronia thyrsoidea (Vell.) Müll. Arg. Geissospermum laeve (Vell.) Miers trep-Li Herb Arv T T T,N Ento Ento Ento S S S Abio Abio Abio H H H Himatanthus bracteatus (A. DC.) Woodson Jobinia lindbergii E.Fourn. Lacmellea pauciflora (Kuhlm.) Markgr. Macoubea guianensis Aubl. Macroditassa laurifolia (Decne.) Fontella Mandevilla funiformis (Vell.) K.Schum. Mandevilla hirsuta (A.Rich.) K.Schum. Marsdenia amorimii Morillo Marsdenia dorothyae Fontella & Morillo Marsdenia fontellana Morillo & Carnevali Arv Herb T,U,N V Ento S Abio H Arv Arv trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li T T T U,V T,V N N T Ento Ento Ento Ento Ento Ento S S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H H Marsdenia lauretiana Woodson Marsdenia macrophylla (Humb. & Bonpl. ex Schult.) E.Fourn. Metalepis cubensis (A. Rich.) Griseb. Odontadenia lutea (Vell.) Markgr. Orthosia congesta Decne. Orthosia loandensis Fontella & Valente Oxypetalum alpinum (Vell.) Fontella & E.A.Schwarz Oxypetalum banksii R.Br. ex Schult Peplonia asteria (Vell.) Fontella & E.A.Schwarz trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li N T T T T,U T T,V T T,N Ento S Abio H Ento Ento S S Abio Abio H H Ento S Abio H Peplonia axillaris (Vell.) Fontella & Rapini Prestonia calycina Müll. Arg. Prestonia coalita (Vell.) Woodson Rauvolfia capixabae I.Koch & Kin.-Gouv. Rhabdadenia madida (Vell.) Miers Skytanthus hancorniifolius (A.DC.) Miers Tabernaemontana flavicans Willd. ex Roem. & Schult. Tabernaemontana heterophylla Vahl trep-Li trep-Li trep-Li Arv Herb trep-Li Arv Arb T,N,V T T,U T,U V T T,U T Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento S S S C S S C C Abio Abio Abio Bio Abio Abio Bio Bio H H H H H H H H T Status FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Família Espécie Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Arv Arv trep-Li trep-Li trep-Li T T T T,N,V T,U Ento Ento Ento Ento C C S S Bio Bio Abio Abio H H H H Arb Arv Arv T,N,V T,U,V T,N Ento C C Bio Bio D D Herb Herb Herb T,U T,U U Ento Ento C C Bio Bio H H Herb Herb Herb Herb Herb Herb T,U U T,U T,U,N U,N T Ento Ento Ento Ento C C C C Bio Bio Bio Bio H H H H Anthurium zeneidae Nadruz Asterostigma lombardii E.G.Gonçalves Dracontioides desciscens (Schott) Engl. Heteropsis rigidifolia Engl. Heteropsis salicifolia Kunth Lemna aequinoctialis Welw. Monstera adansonii var. klotzschiana (Schott) Madison Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb T,U U T U T T,U,V T T V T,U Ento Ento Ento C C C Bio Bio Bio H H H Monstera praetermissa E.G.Gonçalves & Temponi Montrichardia linifera (Arruda) Schott Philodendron blanchetianum Schott Philodendron follii Nadruz Philodendron fragrantissimum (Hook.) G.Don Philodendron hederaceum (Jacq.) Schott var. hederaceum Philodendron oblongum (Vell.) Kunth Philodendron ornatum Schott Philodendron paludicola E.G.Gonç & Salviani Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Philodendron pedatum (Hook.) Kunth Herb Tabernaemontana hystrix Steud. Tabernaemontana salzmanni A.DC. Tassadia obovata Decne. Aquifoliaceae Tassadia propinqua Decne. Temnadenia odorifera (Vell.) J.F.Morales Ilex dumosa Reissek Ilex floribunda Reissek ex Maxim. Ilex theezans Mart. ex Reissek Araceae Anthurium ianthinopodum (Schott ex Engl.) Nadruz & Mayo Anthurium intermedium Kunth Anthurium parasiticum (Vell.) Stellfeld Anthurium pentaphyllum (Aubl.) G.Don var. pentaphyllum Anthurium queirozianum Nadruz Anthurium radicans K.Koch & Haage Anthurium raimundii Mayo, Haigh & Nadruz Anthurium ribeiroi Nadruz Anthurium riodocense Nadruz Anthurium scandens (Aubl.) Engl. subsp. scandens Anthurium siqueirae Nadruz Anthurium solitarium Schott Hábito Status ROLIM ET AL. Família 1 1, 2 1 1 C C Bio Bio H H T T,V U T,U T,U T,U T,V T,V V Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio H H M M M Ento Ento Ento C C C Bio Bio Bio M M M T,U Ento C Bio M ANGIOSPERMAS Ento Ento 179 180 Araliaceae Arecaceae Aristolochiaceae Espécie Hábito Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Philodendron rudgeanum Schott Philodendron ruthianum Nadruz Philodendron speciosum Schott ex Endl. Philodendron stenolobum E.G.Gonçalves Philodendron vargealtense Sakur. Herb Herb Herb Herb Herb T,V U,V T T,U U Ento Ento Ento Ento C C C C Bio Bio Bio Bio M M M M Rhodospatha latifolia Poepp. Syngonium vellozianum Schott Herb Herb Herb T,V T,U V Arv Herb Arv Arv T,U T,V T U,N Ento C Bio H Ento Ento C C Bio Bio H H palm palm palm T,N T,U,N T Ento C Bio M Ento C Bio M Attalea humilis Mart. Bactris acanthocarpa Mart. var. acanthocarpa Bactris bahiensis Noblick ex A.J.Hend. Bactris caryotifolia Mart. Bactris ferruginea Burret Bactris glassmanii Med.-Costa & Noblick ex A.J.Hend. Bactris hirta Mart. Bactris pickelii Burret Bactris setosa Mart. palm palm palm palm palm palm palm palm palm T,U T T,U T T T T,V T T Ento C Bio M Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio M M M M M M M Bactris vulgaris Barb.Rodr. Desmoncus orthacanthos Mart. Euterpe edulis Mart. Geonoma elegans Mart. Geonoma pauciflora Mart. Geonoma pohliana subsp. linharensis Henderson Geonoma rodeiensis Barb.Rodr. Geonoma schottiana Mart. Syagrus botryophora (Mart.) Mart. Aristolochia cymbifera Mart. & Zucc. palm palm palm palm palm palm palm palm palm Herb T,U,N T,U,N T,N,V T,U T T T T T T,V Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio M M M M M Ento Ento Ento, Anemo Ento C C C S Bio Bio Bio Abio M M M H Aristolochia pubescens Willd. Aristolochia subglobosa J. Freitas, Lírio & F. Gonzales Herb trep-Li T T Ento S Abio H Aristolochia zebrina J. Freitas & F. González trep-Li U,N Wolffia brasiliensis Wedd. Dendropanax brasiliensis (Seem.) Frodin Hydrocotyle leucocephala Cham. & Schltdl. Schefflera morototoni (Aubl.) Maguire et al. Schefflera selloi (Marchal) Frodin & Fiaschi Allagoptera arenaria (Gomes) Kuntze Allagoptera caudescens (Mart.) Kuntze Astrocaryum aculeatissimum (Schott) Burret Status 1 1 1, 2 1 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Família Asparagaceae Asteraceae Espécie Hábito Fisionomia Polinização Fruto Dispersão T,U T Ento, Quirop Ento C S Bio H Abio H T U,N,V U T N T,N Ento S Abio H Herb Arb Arb Arb Arb Ento S Abio H Ento Ento S S Abio Abio H H Herb Arb Arb T,V T,U,N T,N,V Ento S Abio H T,U V T T T T T T,U N T Ento Ento Ento S S S Abio Abio Abio H H H Ento Ento S S Abio Abio H H Herreria glaziovii Lecomte Acanthospermum australe (Loel.) Kuntze trep-Li Herb Acanthospermum hispidum DC. Achyrocline satureioides (Lam.) DC. Austroeupatorium inulaefolium (Kunth) R.M.King & H.Rob. Herb Baccharis calvescens DC. Baccharis oblongifolia (Ruiz & Pav.) Pers. Baccharis reticularia DC. Baccharis sagittalis (Less.) DC. Baccharis serrulata (Lam.) Pers. Baccharis singularis (Vell.) G.M.Barroso Baccharis trinervis Pers. Barrosoa betonicaeformis (DC.) R.M.King & H.Rob. Bidens cynapiifolia Kunth Blainvillea dichotoma (Murray) Stewart Centratherum punctatum Cass. Chaptalia integerrima (Vell.) Burkart Chaptalia nutans (L.) Pol. Chromolaena maximilianii (Schrad. ex DC.) R.M.King & H.Rob. Chromolaena squalida (DC.) R.M.King & H.Rob. Conyza canadensis (L.) Cronquist Cyanthillium cinereum (L.) H.Rob. Cyrtocymura scorpioides (Lam.) H.Rob. Dasycondylus resinosus (Spreng.) R.M.King & H.Rob. Dasyphyllum brasiliense (Spreng.) Cabrera Delilia biflora (L.) Kuntze Eclipta prostrata (L.) L. Elephantopus mollis Kunth Emilia fosbergii Nicolson Herb Herb Arb Herb Herb Herb Herb Herb Herb U T T,U,N T,U T T T T T,U Enydra sessilis (Sw.) DC. Erechtites hieracifolius (L.) Raf. ex DC. Erechtites valerianifolius (Wolf) DC. Ethulia conyzoides L.f. Fleischmannia remotifolia (DC.) R.M.King & H.Rob. Gamochaeta americana (Mill.) Wedd. Hebeclinium macrophyllum (L.) DC. Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb T,V V T,N V V T T Status 1 1 1 ANGIOSPERMAS Conocliniopsis prasiifolia (DC.) R.M.King & H.Rob. trep-Li Herb Herb Herb Herb Herb Herb Arb Arb Herb Sist. Sexual ROLIM ET AL. Família 181 182 Espécie Hábito Fisionomia Heterocondylus vitalbae (DC.) R.M.King & H.Rob. Lepidaploa araripensis (Gardner) H.Rob. Lepidaploa cotoneaster (Willd. ex Spreng.) H.Rob. Lepidaploa coulonioides (H.Rob.) H.Rob. Lepidaploa persericea (H.Rob.) H.Rob. Herb Arb Arb Arb Arb T,U,N N V N Lepidaploa rufogrisea (A.St.-Hil.) H.Rob. Lepidaploa sororia (DC.) H.Rob. Arb Arb trep-Li U,N N T Ento S Abio H trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li T T,N V T Ento Ento Ento Ento S S S S Abio Abio Abio Abio H H H H trep-Li trep-Li Arb T T N Ento Ento S S Abio Abio H H Orthopappus angustifolius (Sw.) Gleason Piptocarpha lundiana (Less.) Baker Piptocarpha ramiflora (Spreng.) Baker Platypodanthera melissifolia (DC.) R.M.King & H.Rob. Pluchea sagittalis (Lam.) Cabrera Porophyllum ruderale (Jacq.) Cass. Praxelis clematidea (Griseb.) R.M.King & H.Rob. Pterocaulon alopecuroides (Lam.) DC. Sonchus oleraceus L. Herb trep-Li trep-Li Herb Herb Herb Herb Herb Herb T,V T,U T T T,U,V T T,U U T Ento S Abio H Stifftia hatschbachii H.Rob. Symphyopappus reticulatus Baker Synedrella nodiflora (L.) Gaertn. Trichogoniopsis adenantha (DC.) R.M.King & H.Rob. Tridax procumbens L. Trixis antimenorrhoea (Schrank) Kuntze Vernonanthura brasiliana (L.) H.Rob. Vernonanthura divaricata (Spreng.) H.Rob. Vernonanthura polyanthes (Spreng.) A.J. Vega & M. Dematteis Begonia convolvulacea (Klotzsch) A.DC. trep-Li Arb Herb Arb Herb Herb Arv Arv Arb Herb T N T,V T T T,U T T T U,V Ento S Abio H Ento S Abio H Ento Ento S S Abio Abio H M Begonia fischeri Schrank Begonia jaguarensis L. Kollmann, R. S. Lopes & Peixoto Herb Herb T,N,V T Ento Ento S S Abio Abio M M Adenocalymma aurantiacum Udulutsch & Assis trep-Li T Ento, Quirop, ornito S Abio H Mikania belemii R.M.King & H.Rob. Mikania cordifolia (L.f.) Willd. Mikania diversifolia DC. Mikania micrantha Kunth Mikania nigricans Gardner Mikania ternata (Vell.) B.L.Rob. Mikania vitifolia DC. Moquiniastrum blanchetianum (DC.) G. Sancho Begoniaceae Bignoniaceae Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Status T 1 1 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Família Espécie Adenocalymma bracteatum (Cham.) DC. Hábito Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito S S S Abio Abio Abio H H H T,U T T,U T T T T Ento, Quirop, ornito S Abio H trep-Li trep-Li trep-Li T T T Ento, Quirop, ornito S Abio H Ento, Quirop, ornito S Abio H trep-Li trep-Li trep-Li V T,U,N T Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito S S S Abio Abio Abio H H H trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li Arv T,U,N,V T T,U T T T Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito S S S S Abio Abio Abio Abio H H H H Ento, Quirop, ornito S Abio H Dolichandra quadrivalvis (Jacq.) L.G.Lohmann Dolichandra unguiculata (Vell.) L.G.Lohmann Dolichandra unguis-cati (L.) L.G.Lohmann Fridericia chica (Bonpl.) L.G.Lohmann Fridericia conjugata (Vell.) L.G.Lohmann Fridericia rego (Vell.) L.G.Lohmann Fridericia samydoides (Cham.) L.G.Lohmann Fridericia subincana (Mart.) L.G.Lohmann Handroanthus aff. chrysotrichus (Mart. ex DC.) Mattos trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li Arv T T T T T,U T,U T T,U T,U Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito S S S S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H H H H Handroanthus arianeae (A.H.Gentry) S.Grose Handroanthus bureavii (Sandwith) S.Grose Handroanthus cristatus (A.H.Gentry) S.Grose Handroanthus heptaphyllus (Vell.) Mattos Handroanthus riodocensis (A.H.Gentry) S.Grose Handroanthus serratifolius (Vahl) S.Grose Jacaranda obovata Cham. Jacaranda puberula Cham. Lundia longa (Vell.) DC. Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arb Arv trep-Li T T,V T T T T,U U,N T,V T,U,N Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito S S S S S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H H H H H Adenocalymma marginatum (Cham.) DC. Adenocalymma validum (K.Schum.) L.G.Lohmann Amphilophium bauhinioides (Bureau ex Baill.) L.G.Lohmann Amphilophium crucigerum (L.) L.G.Lohmann Amphilophium frutescens (DC.) L.G.Lohmann Anemopaegma chamberlaynii (Sims) Bureau & K.Schum. Anemopaegma setilobum A.H.Gentry Bignonia corymbosa (Vent.) L.G.Lohmann Bignonia prieurii DC. Bignonia sciuripabulum (K.Schum.) L.G.Lohmann Callichlamys latifolia (Rich.) K.Schum. Cuspidaria lasiantha (Bureau & K. Schum.) L.G. Lohmann Cybistax antisyphilitica (Mart.) Mart. 1, 2, 3 1, 3 1, 2 ANGIOSPERMAS trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li Adenocalymma coriaceum A.DC. Adenocalymma cymbalum (Cham.) Bureau & K.Schum. Adenocalymma divaricatum Miers Adenocalymma hirtum (Mart. ex DC.) Bureau & K.Schum. Adenocalymma hypostictum Bureau & K.Schum. Status ROLIM ET AL. Família 183 184 Espécie Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Lundia virginalis DC. trep-Li T Ento, Quirop, ornito S Abio H Mansoa difficilis (Cham.) Bureau & K.Schum. Mansoa hymenaea (DC.) A.H.Gentry Mansoa lanceolata (DC.) A.H.Gentry trep-Li T Ento, Quirop, ornito S Abio H trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li T T T T T Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito S S S Abio Abio Abio H H H Arv trep-Li trep-Li T T T Ento, Quirop, ornito S Abio H Pleonotoma albiflora (Salzm. ex DC.) A.H.Gentry Pleonotoma stichadenia K.Schum. Pyrostegia venusta (Ker Gawl.) Miers Sparattosperma leucanthum (Vell.) K.Schum. Stizophyllum riparium (Kunth) Sandwith Tabebuia cassinoides (Lam.) DC. Tabebuia elliptica (DC.) Sandwith Tabebuia obtusifolia (Cham.) Bureau Tabebuia roseoalba (Ridl.) Sandwith Tabebuia stenocalyx Sprague & Stapf Tanaecium selloi (Spreng.) L.G.Lohmann trep-Li Arv trep-Li Arv Arv Arv Arv Arv trep-Li T T,U T T,V U,N T T T,N,V T Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito S S S S S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H H H H H Tynanthus cognatus (Cham.) Miers Tynanthus espiritosantensis M.C. Medeiros & L.G. Lohmann Xylophragma harleyi (A.Gentry ex M.M.Silva & L.P.Queiroz) L.G.Lohmann Xylophragma myrianthum (Cham. ex Steud.) Sprague Zeyheria tuberculosa (Vell.) Bureau ex Verl. Bixa arborea Huber Bonnetia stricta (Nees) Nees & Mart. Cordia acutifolia Fresen. Cordia ecalyculata Vell. trep-Li trep-Li T,U T Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito S S Abio Abio H H trep-Li trep-Li Arv Arv Arv Arv Arv T T T T,U T,N,V T T Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop Ento Ento Ento S S S C S C C Abio Abio Abio Bio Abio Bio Bio H H H H H H H Cordia glabrifolia M.Stapf Cordia hatschbachii J.S.Mill. Cordia lomatoloba I.M.Johnst. Cordia magnoliifolia Cham. Cordia taguahyensis Vell. Cordia trichoclada DC. Cordia trichotoma (Vell.) Arráb. ex Steud. Heliotropium sp. Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv trep-Li T,U T T T,U T,U T T T Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio H H H H H H Mansoa onohualcoides A.H.Gentry Martinella insignis A.H.Gentry ex Zuntini & L.G.Lohmann Neojobertia aff. mirabilis (Sandwith) L.G.Lohmann Paratecoma peroba (Record) Kuhlm. Bixaceae Bonnetiaceae Boraginaceae Hábito Status 1, 2 2 2 1 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Família Bromeliaceae Espécie Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Myriopus paniculatus (Cham.) Feuillet Myriopus rubicundus (Salzm. ex DC.) Luebert trep-Li trep-Li T T Ento Ento S S Abio Abio H H Tournefortia bicolor Sw. Varronia curassavica Jacq. Varronia polycephala Lam. trep-Li T,U S C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio H H H H H H Herb Herb Herb T,U,N T,U U,N Ento, Ornito Ento, Ornito Ento, Ornito C C C Bio Bio Bio H H H U T,U N T,U T,U T,U U T N U Ornito Ento, Ornito Ornito Ento, Ornito Ento, Ornito Ornito Ento, Ornito C C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio H H H H H H H Cryptanthus beuckeri E.Morren Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Ento Ento S C Abio Bio H M Hohenbergia augusta (Vell.) E.Morren Pseudananas sagenarius (Arruda) Camargo Quesnelia quesneliana (Brongn.) L.B.Sm. Tillandsia bulbosa Hook.f. Tillandsia gardneri Lindl. Tillandsia globosa Wawra Tillandsia stricta Sol. Tillandsia tenuifolia L. Tillandsia usneoides (L.) L. Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb T,U U N U U,N T,U U,N T,U T,U Ento Ento, Ornito Ento, Ornito Ento, Ornito Ento, Ornito Ento, Ornito Ento, Ornito Ento, Ornito Ento, Ornito S C C S S S S S S Abio Bio Bio Abio Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H H H H H Vriesea ensiformis (Vell.) Beer Vriesea gigantea Gaudich. Vriesea longiscapa Ule Vriesea neoglutinosa Mez Vriesea pauperrima E.Pereira Vriesea procera (Mart. ex Schult. & Schult.f.) Wittm. Apteria aphylla (Nutt.) Barnhart ex Small Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb U,V T N U,N T,U N V Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito Ento, Quirop, ornito Ento, Ornito Ento Ento, Quirop, ornito Ento S S S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H H H Acanthostachys strobilacea (Schult. & Schult.f.) Klotzsch Aechmea blanchetiana (Baker) L.B.Sm. Aechmea floribunda Mart. ex Schult. & Schult.f. Aechmea lamarchei Mez Aechmea patentissima (Mart. ex Schult. & Schult.f.) Baker Aechmea saxicola L.B.Sm. Aechmea sucreana Martinelli & C.Vieira Aechmea warasii E.Pereira Billbergia euphemiae E.Morren Billbergia iridifolia (Nees & Mart.) Lindl. Bromelia laciniosa Mart. ex Schult. & Schult.f. Bromelia tubulosa L.B.Sm. Catopsis sessiliflora (Ruiz & Pav.) Mez Status 1 1 1 1 1 1 ANGIOSPERMAS T T,N U T,U,V T Ento Ento Ento Ento, Ornito Ornito Ento, Ornito Abio Arb Arb Herb Herb Herb Aechmea maasii Gouda & W.Till Aechmea nudicaulis (L.) Griseb. Burmanniaceae Hábito ROLIM ET AL. Família 185 186 Burseraceae Espécie Cactaceae Calophyllaceae Campanulaceae Cannabaceae Capparaceae Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Status Burmannia capitata (Walter ex J.F.Gmel.) Mart. Herb N Gymnosiphon divaricatus (Benth.) Benth. & Hook.f. Crepidospermum atlanticum Daly Protium aracouchini (Aubl.) Marchand Herb T,U T T,U T T T,U Ento Ento Ento Ento Ento S C C C C C Abio Arv Arv Arv Arv Arv Bio Bio Bio Bio Bio H D D D D D Protium icicariba (DC.) Marchand var. icicariba Protium warmingianum Marchand Arv Arv Arv T,U U,N T Ento C Bio D Protium widgrenii Engl. Trattinnickia mensalis Daly Cabomba aquatica Aubl. Cabomba furcata Schult. & Schult.f. Brasiliopuntia brasiliensis (Willd.) A.Berger Cereus fernambucensis Lem. Epiphyllum phyllanthus (L.) Haw. subsp. phyllanthus Hylocereus setaceus (Salm-Dyck) R.Bauer Melocactus violaceus Pfeiff. Arv Arv Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb U T,U V V U N T,U,N T,U,N N Ento Ento Ento Ento Ento, Quirop Ento, Quirop C C Bio Bio C C Bio Bio D D H H H H Ento, Quirop Ento S C Abio Bio H H 1, 2 Pereskia aculeata Mill. Pilosocereus arrabidae (Lem.) Byles & Rowley Rhipsalis elliptica G.Lindb. ex K.Schum. Rhipsalis floccosa Salm-Dyck ex Pfeiff. Rhipsalis lindbergiana K.Schum. Rhipsalis paradoxa (Salm-Dyck ex Pfeiff.) Salm-Dyck Calophyllum brasiliense Cambess. Kielmeyera albopunctata Saddi Kielmeyera membranacea Casar. Kielmeyera occhioniana Saddi Herb Herb Herb Herb Herb Herb Arv Arv Arv Arv T,U,N N U U T T T,V T,U U,N T Ento, Quirop Ento, Quirop Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C C C S S S Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio Abio Abio Abio H H H H H H D H H H 1, 2, 3 Centropogon cornutus (L.) Druce Lobelia imperialis E.Wimm. Celtis iguanaea (Jacq.) Sarg. Celtis pubescens (Kunth) Spreng. Trema micrantha (L.) Blume Capparidastrum frondosum (Jacq.) Cornejo & Iltis Crateva tapia L. Cynophalla flexuosa (L.) J.Presl Herb Herb trep-Li Arb Arv Arb Arv Arv T,V V T T T,U,N U T,U U Quirop, Ornito Quirop, Ornito Anemo Ento Anemo Ento S S S C S C Abio Abio Abio Bio Abio Bio H H D D D H Protium brasiliense (Spreng.) Engl. Protium glaziovii Swart Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand subsp. heptaphyllum Cabombaceae Hábito 1, 2 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Família Espécie Mesocapparis lineata (Dombey ex Pers.) Cornejo & Iltis Monilicarpa brasiliana (Banks ex DC.) Cornejo & Iltis Neocalyptrocalyx grandipetala (Maguire & Steyerm.) Cornejo & Iltis Neocalyptrocalyx nectareus (Vell.) Hutch. Cardiopteridaceae Caricaceae Caryocaraceae Celastraceae Citronella paniculata (Mart.) R.A.Howard Jacaratia heptaphylla (Vell.) A.DC. Jacaratia spinosa (Aubl.) A.DC. Caryocar edule Casar. Anthodon decussatum Ruiz & Pav. Cheiloclinium cognatum (Miers) A.C.Sm. Fisionomia Arv Arv T,U T,U Arv Arv Arv T T T Arv Arv Arv trep-Li T,U T T T Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Ento, Ornito Ento, Ornito Quirop C C C Bio Bio Bio D D H C Bio H Arv T Ento trep-Li T Ento Pristimera celastroides (Kunth) A.C.Sm. Arv Arv Arv Arv Arb Arv Arv trep-Li trep-Li T T T T T,N T T T T Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento S S S S S S S C S Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio Bio Abio M M M M M M M H H Pristimera nervosa (Miers) A.C.Sm. Salacia elliptica (Mart. ex Schult.) G.Don Salacia krigsneri Lombardi Tontelea miersii (Peyr.) A.C.Sm. Tontelea passiflora (Vell.) Lombardi Hedyosmum brasiliense Mart. ex Miq. Couepia belemii Prance Couepia carautae Prance Couepia monteclarensis Prance Arv trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li Arb Arv Arv Arv T T T T T V T T T Ento C Bio H Ento Ento Ento Quirop Quirop Quirop, Ornito C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio H H D H H H Couepia ovalifolia (Schott) Benth. ex Hook.f. Couepia schottii Fritsch Exellodendron gracile (Kuhlm.) Prance Hirtella bahiensis Prance Hirtella burchellii Britton Hirtella corymbosa Cham. & Schltdl. Hirtella hebeclada Moric. ex DC. Arv Arv Arv Arv Arv Arb Arv U,N T,U T T T N T,U Quirop Quirop Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio H H H H H H H Elachyptera festiva (Miers) A.C.Sm. Maytenus ardisiaefolia Reissek Maytenus brasiliensis Mart. Maytenus distichophylla Mart. ex Reissek Maytenus floribunda Reissek Maytenus obtusifolia Mart. Maytenus patens Reissek Maytenus schumanniana Loes. Peritassa mexiae A.C.Sm. Chloranthaceae Chrysobalanaceae Hábito Status ROLIM ET AL. Família H 1, 2 1, 2, 3 2 1, 2, 3 ANGIOSPERMAS 187 188 Espécie Hábito Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Status Hirtella insignis Briq. ex Prance Hirtella parviunguis Prance Hirtella sprucei Benth. ex Hook.f. Hirtella triandra subsp. punctulata (Miq.) Prance Licania arianeae Prance Arv Arv Arv Arv Arv T T T,U,N T,N T Ento Ento Ento C C C Bio Bio Bio H H H 2 3 Ento C Bio H 1, 2, 3 Licania belemii Prance Licania heteromorpha Benth. var. heteromorpha Arv Arv Arv T T,U T Ento C Bio H 1, 2 Ento C Bio H Arv Arv Arv Arv T T,U U T Ento Ento Ento Ento C C C C Bio Bio Bio Bio H H H H Arv Arv T T Ento C Bio H Licania sp. nov. (G.S.Siqueira 653) Licania sp. nov. (D.A.Folli 6916) Parinari excelsa Sabine Parinari parvifolia Sandwith Dactylaena microphylla Eichler Hemiscola aculeata (L.) Raf. Hemiscola diffusa (Banks ex DC.) Iltis Clusia hilariana Schltdl. subsp. hilariana Clusia nemorosa G.Mey. Arv Arv Arv Arv Herb Herb Herb Arv Arv T T T T U,N V U U U,V Ento Ento Ento Ento Ento C C S S S Bio Bio Abio Abio Abio H H H H H Clusia spiritu-sanctensis G.Mariz & B.Weinberg Garcinia brasiliensis Mart. Garcinia gardneriana (Planch. & Triana) Zappi Symphonia globulifera L.f. Tovomita fructipendula (Ruiz & Pav.) Cambess. Tovomita riedeliana Engl. Buchenavia hoehneana N.F.Mattos Buchenavia kleinii Exell Buchenavia parvifolia subsp. rabelloana (Mattos) Alwan et Stace Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv T,U T,U T T T,V T T T Arv Combretum duarteanum Cambess. Combretum fruticosum (Loel.) Stuntz trep-Li trep-Li Combretum laxum Jacq. trep-Li T,V Licania hypoleuca Benth. Licania kunthiana Hook.f. Licania littoralis Warm. Licania micrantha Miq. Licania octandra (Hoffmanns. ex Roem. & Schult.) Kuntze Licania octandra (Hoffmanns. ex Roem. & Schult.) Kuntze subsp. octandra Licania salzmannii (Hook.f.) Fritsch Cleomaceae Clusiaceae Combretaceae Ento C Bio D Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio D D D D D D Ento C Bio H T Ento S Abio H N T Ento, Ornito Ento, Ornito S S Abio Abio H H Ento, Anemo, Ornito S Abio H 1 2 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Família Espécie Hábito Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Status Arv Arv Arv Herb Herb T T,U T T T Ento Ento Ento S S S Abio Abio Abio H H H 1 Ento C Bio M Herb Herb Herb T,U V T,V Ento Ento C C Bio Bio M M Herb Herb Herb T T T,U,N Ento C Bio M Ento C Bio M Herb Herb Herb Arv trep-Li trep-Li T,U,N T,U U T T,U N Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C S S S Bio Bio Bio Abio Abio Abio M M H H H H T T T N U N N N T N Ento Ento Ento S S S Abio Abio Abio H H H Rourea sp.nov. (D.A.Folli 4659) Daustinia montana (Moric.) Buril & A.R. Simões Evolvulus ericifolius Mart. ex Schrank Evolvulus genistoides Ooststr. Evolvulus maximiliani Mart. ex Choisy Evolvulus nummularius (L.) L. Evolvulus tenuis Mart. ex Choisy trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li Ento Ento Ento Ento Ento S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H Ipomoea hederifolia L. Ipomoea philomega (Vell.) House Ipomoea quamoclit L. Ipomoea setosa Ker Gawl. Jacquemontia glaucescens Choisy Jacquemontia heterantha (Nees & Mart.) Hallier f. Jacquemontia holosericea (Weinm.) O’Donell Jacquemontia serrata (Choisy) Meisn. Jacquemontia sphaerostigma (Cav.) Rusby trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li Herb Herb Herb Herb Herb T T T T T,N U,N U T,N T Ento, Ornito Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento S S S S S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H H H H H Merremia cissoides (Lam.) Hallier f. trep-Li T,U,N Ento S Abio H Terminalia argentea Mart. Terminalia glabrescens Mart. Terminalia mameluco Pickel Commelinaceae Commelina benghalensis L. Commelina diffusa Burm.f. Commelina erecta L. Commelina obliqua Vahl Commelina rufipes Seub. var. rufipes Dichorisandra acaulis Cogn. Dichorisandra nutabilis Aona & M.C.E.Amaral Dichorisandra penduliflora Kunth Dichorisandra procera Mart. ex Schult & Schult.f. Connaraceae Dichorisandra velutina Aona & M.C.E.Amaral Gibasis geniculata (Jacq.) Rohweder Connarus detersus Planch. Connarus ovatifolius G.Schellenb. Rourea gardneriana Planch. Rourea glabra Kunth Rourea glazioui G.Schellenb. Rourea luizalbertoi Forero et al. Convolvulaceae ROLIM ET AL. Família 2 ANGIOSPERMAS 189 190 Costaceae Cucurbitaceae Espécie Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Status 1 trep-Li trep-Li Herb Herb Herb T,U V T T,V T Ento Ento Ento Ento, Ornito Ento, Ornito S S S C C Abio Abio Abio Bio Bio H H H H H Cayaponia tayuya (Vell.) Cogn. Cayaponia trifoliolata (Cogn.) Cogn. trep-Li trep-Li trep-Li T,U T T Ento Ento Ento C C C Bio Bio Bio M M D trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li T U T,U T Ento Ento Ento Ento C C C C Bio Bio Bio Bio D D D D trep-Li trep-Li trep-Li T T V Ento Ento Ento C C C Bio Bio Bio D M M Psiguria ternata (M.Roem.) C.Jeffrey Sicydium gracile Cogn. Asplundia polymera (Hand.-Mazz.) Harling Evodianthus funifer (Poit.) Lindm. Thoracocarpus bissectus (Vell.) Harling Abildgaardia baeothryon A.St.-Hil. Becquerelia cymosa Brongn. Bulbostylis capillaris (L.) C.B.Clarke Bulbostylis truncata (Nees) M.T.Strong trep-Li trep-Li Herb trep-Li trep-Li Herb Herb Herb Herb T T T V T,V N T,V N N Ento, Ornito C Bio M Ento, Ornito C Bio M Anemo S Abio M Calyptrocarya glomerulata (Brongn.) Urb. Cladium sp. Cryptangium verticillatum (Spreng.) Vitta Cyperus aggregatus (Willd.) Endl. Cyperus distans L. Cyperus haspan L. Cyperus iria L. Cyperus laxus Lam. Cyperus ligularis L. Cyperus luzulae (L.) Retz. Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb V V N T T,U N,V T T,U,N,V T,U,V T,V Anemo S Abio M Anemo Anemo Anemo Anemo Anemo Anemo Anemo S S S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H H H Cyperus odoratus L. Cyperus papyrus L. Herb Herb V V Anemo Anemo S S Abio Abio H H Cyperus pohlii (Nees) Steud. Herb V Anemo S Abio H Gurania tricuspidata Cogn. Gurania wawrei Cogn. Melothria cucumis Vell. Melothria pendula L. Cyperaceae Fisionomia Merremia macrocalyx (Ruiz & Pav.) O’Donell Odonellia eriocephala (Moric.) K.R.Robertson Operculina macrocarpa (L.) Urb. Costus arabicus L. Costus scaber Ruiz & Pav. Fevillea trilobata L. Gurania acuminata Cogn. Gurania eriantha (Poepp. & Endl.) Cogn. Gurania subumbellata (Miq.) Cogn. Cyclanthaceae Hábito FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Família Espécie Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Herb Herb Herb Herb Herb T,U V T,V V T,V Anemo Anemo Anemo Anemo Anemo S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H Herb Herb Herb V V V Anemo Anemo Anemo S S S Abio Abio Abio H H H Herb Herb Herb N V T Anemo Anemo Anemo S S S Abio Abio Abio D H H Herb Herb Herb Herb Herb Herb V T,V N T,U,N V U,N,V Anemo Anemo Anemo Anemo Anemo Anemo S S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio Abio H D D D D D Rhynchospora robusta (Kunth) Boeckeler Scleria gaertneri Raddi Scleria latifolia Sw. Scleria mitis P.J.Bergius Scleria panicoides Kunth Scleria pernambucana Luceño & M.Alves Scleria secans (L.) Urb. Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb V N T,V V V T,N,V V T V T,N Anemo Anemo Anemo Anemo Anemo Anemo Anemo Anemo Anemo Anemo S S S S S S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio D D D D M M M M M M Scleria virgata (Nees) Steud. Stephanopodium blanchetianum Baill. Tapura follii Prance Tapura wurdackiana Prance Davilla flexuosa A.St.-Hil. Davilla grandifolia Moric. ex Eichler Davilla latifolia Casar. Davilla macrocarpa Eichler Davilla nitida (Vahl) Kubitzki Herb Arv Arv Arv trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li T,U T U T,U T,N T T T,U,N T Anemo Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento S C C C C C C C C Abio Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio M H H H H H H H H Davilla rugosa Poir. trep-Li T Ento C Bio H Cyperus rotundus L. Cyperus sphacelatus Rottb. Eleocharis interstincta (Vahl) Roem. & Schult. Fimbristylis autumnalis (L.) Roem. & Schult. Fuirena umbellata Rottb. Kyllinga brevifolia Rottb. Kyllinga pumila Michx. Kyllinga vaginata Lam. Lagenocarpus rigidus Nees Oxycaryum cubense (Poepp. & Kunth) Lye Pleurostachys foliosa Kunth Pycreus polystachyos (Rottb.) P.Beauv. Rhynchospora corymbosa (L.) Britton Rhynchospora emaciata (Nees) Boeckeler Rhynchospora exaltata Kunth Rhynchospora gigantea Link Rhynchospora holoschoenoides (Rich.) Herter Rhynchospora marisculus Lindl. & Nees Rhynchospora pilosa Boeckeler Rhynchospora riparia (Nees) Boeckeler Dichapetalaceae Dilleniaceae Status 2 ANGIOSPERMAS Hábito ROLIM ET AL. Família 191 192 Dioscoreaceae Espécie Hábito Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Status Doliocarpus lancifolius Kubitzki Doliocarpus sp. nov. (D.A.Folli 3564) Doliocarpus validus Kubitzki Tetracera lasiocarpa Eichler Dioscorea altissima Lam. Arb 1, 2 Dioscorea campestris Griseb. Dioscorea cynanchifolia Griseb. T,U,N Ento C Bio H trep-Li trep-Li trep-Li T U,N T Ento Ento C S Bio Abio H H trep-Li T,U Ento C Bio D trep-Li U Ento C Bio D Dioscorea marginata Griseb. Dioscorea mollis Kunth Dioscorea pilosiuscula Betero ex Spreng. Dioscorea widgrenii R.Knuth trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li U T N N T T T,U U,N U Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio D D D D D D D Ento C Bio D Diospyros apeibacarpos Raddi Diospyros brasiliensis Mart. ex Miq. Diospyros capreifolia Mart. ex Hiern Diospyros hispida A.DC. Sloanea eichleri K.Schum. Sloanea garckeana K.Schum. Sloanea granulosa Ducke Sloanea guianensis (Aubl.) Benth. Sloanea retusa Uittien Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv T,V T,V T T T,U T,U T,V T,V T Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C C S S Bio Bio Bio Bio Bio Bio D D D D H H Ento Ento S S Bio Bio H H Agarista revoluta (Spreng.) J.D. Hook. ex Nied. var. revoluta Gaylussacia brasiliensis (Spreng.) Meisn. Actinocephalus ramosus (Wikstr.) Sano Comanthera nivea (Bong.) L.R.Parra & Giul. Leiothrix hirsuta (Wikstr.) Ruhland Paepalanthus bifidus (Schrad.) Kunth Paepalanthus klotzschianus Koern. Paepalanthus tortilis (Bong.) Mart. Syngonanthus gracilis (Bong.) Ruhland Syngonanthus restingensis Hensold & A.L.R. Oliveira Arv Arb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb N N N N U,N,V U,N U,N T,U,N N T,N Ornito Ornito Ento S C S Abio Bio Abio H H M Ento Ento Ento Ento Ento S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio M M M M M Tonina fluviatilis Aubl. Erythroxylum affine A.St.-Hil. Herb Arv T,V T Ento Ento S C Abio Bio M H Erythroxylum citrifolium A.St.-Hil. Arb T Ento C Bio H Dioscorea dodecaneura Vell. Dioscorea laxiflora Mart. ex Griseb. Dioscorea leptostachya Gardner Dioscorea loefgrenii R.Knuth Ebenaceae Elaeocarpaceae Ericaceae Eriocaulaceae Erythroxylaceae 2 1 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Família Espécie Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Arv Arv Arv Arv Arv U T T,U U T Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio H H H H H Arv Arv Arv T T T Ento Ento Ento C C C Bio Bio Bio H H H Arv Arv Arv T,U U,N T Ento Ento Ento C C C Bio Bio Bio H H H Herb Arv Arv Arv Arv Herb T T T T,U,V T,U T,N Ento Ento Ento Ento, Ornito C C C S Bio Bio Bio Abio M M D M Caperonia palustris (L.) A.St.-Hil. Caryodendron janeirense Müll. Arg. Cnidoscolus urens (L.) Arthur var. urens Croton didrichsenii G.L.Webster Croton glandulosus L. Croton lundianus (Didr.) Müll. Arg. Croton polyandrus Spreng. Herb Arv trep-Li Arv Arb Arb Arb Herb Arb T,U,N T T,V T T,U,N T T,U T,N U Ento C Bio M Ento Ento Ento Ento C C C C Bio Bio Bio Bio M M M M Croton sphaerogynus Baill. Croton triqueter Lam. Dalechampia ficifolia Lam. Dalechampia ilheotica Wawra Dalechampia peckoltiana Müll. Arg. Euphorbia adenoptera Bertol. Euphorbia hirta L. Euphorbia hyssopifolia L. Euphorbia insulana Vell. Arb Arb trep-Li trep-Li trep-Li Herb Herb Herb Herb U T T,U T T T T T U Ento Ento Ento C C S Bio Bio Abio M M M Ento S Abio M Ento S Abio M Euphorbia thymifolia L. Herb Erythroxylum cuspidifolium Mart. Erythroxylum ectinocalyx Mart. Erythroxylum macrophyllum Cav. Erythroxylum nitidum Spreng. Erythroxylum nobile O.E.Schulz Erythroxylum passerinum Mart. Erythroxylum plowmanii Amaral Erythroxylum pulchrum A.St.-Hil. Euphorbiaceae Erythroxylum squamatum Sw. Erythroxylum subrotundum A.St.-Hil. Erythroxylum tenue Plowman Acalypha sp. Actinostemon concolor (Spreng.) Müll. Arg. Actinostemon klotzschii (Didr.) Pax Alchornea triplinervia (Spreng.) Müll. Arg. Aparisthmium cordatum (A.Juss.) Baill. Astraea lobata (L.) Klotzsch Astraea macroura (Colla) P.L.R. Moraes, De Smedt & Guglielmone Brasiliocroton mamoninha P.E.Berry & Cordeiro T Status ANGIOSPERMAS Hábito ROLIM ET AL. Família 193 194 Espécie Hábito Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Glycydendron espiritosantense Kuhlm. Arv T Ento, Ornito S Abio D Gymnanthes discolor (Spreng.) Müll.Arg. Arv Arv T T Arv Arv Arb Arv T,U,N T U,N T,U Micrandra sp. Microstachys corniculata (Vahl) Griseb. Pachystroma longifolium (Nees) I.M.Johnst. Arv Arb Arv T U,N T Pausandra morisiana (Casar.) Radlk. Plukenetia serrata (Vell.) L.J.Gillespie Plukenetia verrucosa Sm. Romanoa tamnoides (A.Juss.) Radcl.-Sm. Sapium glandulosum (L.) Morong Sebastiania brasiliensis Spreng. Senefeldera verticillata (Vell.) Croizat Tragia sp. Abarema barnebyana Iganci & M.P.Morim Arv Herb T T Abarema cochliacarpos (Gomes) Barneby & J.W.Grimes Abarema filamentosa (Benth.) Pittier Abarema limae Iganci & M.P.Morim Acosmium lentiscifolium Schott Aeschynomene americana L. Aeschynomene fluminensis Vell. var. fluminensis Aeschynomene sensitiva Sw. Aeschynomene sensitiva Sw. var. sensitiva Albizia pedicellaris (DC.) L.Rico Albizia polycephala (Benth.) Killip ex Record Arv Arv Arv Arv Arb Arb Arb Arb Arv Arv Ancistrotropis serrana Snak, J.L.A.Moreira & A.M.G.Azevedo Andira fraxinifolia Benth. Andira legalis (Vell.) Toledo Andira nitida Mart. ex Benth. Andira ormosioides Benth. Apuleia leiocarpa (Vogel) J.F.Macbr. Barnebydendron riedelii (Tul.) J.H.Kirkbr. Bauhinia forficata Link subsp. forficata trep-Li Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Gymnanthes glabrata (Mart.) Govaerts Joannesia princeps Vell. Mabea paniculata Spruce ex Benth. Manihot tripartita (Spreng.) Müll. Arg. Maprounea guianensis Aubl. Fabaceae Herb trep-Li Arv Arv Arv trep-Li Arv T T,U,N T,V T,U T T,U U,N T U,N T T T T,V V V T,U T N T,U,N T,U,N T,U,N,V T T T T Ento, Ornito Status M Ento S Abio D Ento Ento Ento, Ornito Ento C C S S Bio Bio Abio Abio M M M M C Bio H H H H S Bio H H Ento Anemo Quirop, Ornito Quirop, Ornito Ornito Ornito Ornito H H C C C C Bio Bio Bio Bio H H H H H H 2 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Família Espécie Hábito Fisionomia Arv Herb Herb Herb Arv Arv Herb T U T,U T T,U T T Herb Herb N T,V H H Arv T H Chamaecrista curvifolia (Vogel) Afr.Fern. & E.P.Nunes Chamaecrista desvauxii (Collad.) Killip Chamaecrista desvauxii var. latistipula (Benth.) G.P.Lewis Chamaecrista ensiformis (Vell.) H.S.Irwin & Barneby Chamaecrista mucronata (Spreng.) H.S.Irwin & Barneby Chamaecrista nictitans (L.) Moench Chamaecrista ramosa (Vogel) H.S.Irwin & Barneby Arv Arv Herb Arb Arv Arb Arb Herb T N N T T,U,N N T N H H H Chamaecrista rotundifolia (Pers.) Greene Cleobulia multiflora Mart. ex Benth. Clitoria laurifolia Poir. Clitoria selloi Benth. Cochliasanthus caracalla (L.) Trew Copaifera langsdorffii Desf. Copaifera lucens Dwyer Cranocarpus mezii Taub. Cratylia argentea (Desv.) Kuntze Herb Herb Arb trep-Li trep-Li Arv Arv Arb trep-Li T,U T T T T T,U T T T Cratylia hypargyrea Mart. ex Benth. Crotalaria incana L. Dalbergia elegans A.M.Carvalho Dalbergia frutescens (Vell.) Britton Dalbergia nigra (Vell.) Allemão ex Benth. Dalbergia sampaioana Kuhlm. & Hoehne Deguelia costata (Benth.) A.M.G.Azevedo & R.A.Camargo Desmodium axillare (Sw.) DC. Desmodium barbatum (L.) Benth. trep-Li Arb Arv trep-Li Arv Arb Arv Herb Herb T U T T T T T T,U T,U,V Bowdichia virgilioides Kunth Calopogonium mucunoides Desv. Canavalia parviflora Benth. Canavalia sp. nov. (D.A.Folli 4822, C.Snak 1149) Cassia ferruginea (Schrad.) Schrad. ex DC. Centrolobium sclerophyllum H.C.Lima Centrosema brasilianum (L.) Benth. Centrosema coriaceum Benth. Centrosema pubescens Benth. Chamaecrista aspleniifolia (H.S.Irwin & Barneby) H.S.Irwin & Barneby Chamaecrista bahiae (H.S.Irwin) H.S.Irwin & Barneby Polinização Ornito Fruto Dispersão Sist. Sexual S Abio H H H S Abio H H H Status ROLIM ET AL. Família 1 H H H H Ento H H H H H H H S Abio Quirop, Ornito Quirop, Ornito Quirop, Ornito Quirop, Ornito C C C C Bio Bio Bio Bio S S Abio Abio H H H H H H H H H 1, 2 2 ANGIOSPERMAS Ornito 195 196 Espécie Hábito Fisionomia Desmodium tortuosum (Sw.) DC. Herb T,U Dialium guianense (Aubl.) Sandwith Arv Arv T,U T H H Arv trep-Li trep-Li Arv T T,V T T H H H Enterolobium glaziovii (Benth.) Mesquita Exostyles venusta Schott Galactia striata (Jacq.) Urb. Arv Arv Herb T T U,V H H Goniorrhachis marginata Taub. Grazielodendron rio-docensis H.C.Lima Hymenaea altissima Ducke Hymenaea aurea Y.T.Lee & Langenh. Hymenaea courbaril var. stilbocarpa (Hayne) Y.T. Lee & Langenh. Hymenaea sp.nov. (J.Spada 29, D.A.Folli 187) Hymenolobium alagoanum var. parvifolium H.C.Lima Hymenolobium janeirense Kuhlm. Arv Arv T T H H Arv Arv T T H H Arv Arv Arv Arv T,U T,U U,N T H H Indigofera suffruticosa Mill. Inga cabelo T.D.Penn. Inga capitata Desv. Inga cylindrica (Vell.) Mart. Inga edulis Mart. Inga exfoliata T.D.Penn. & F.C.P.Garcia Inga flagelliformis (Vell.) Mart. Inga hispida Schott ex Benth. Inga lanceifolia Benth. Inga leptantha Benth. Arb Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv T T T,U,N T T T T T T,U T,U H H H H H H H H H H Inga platyptera Benth. Inga striata Benth. Inga subnuda Salzm. ex Benth. subsp. subnuda Inga thibaudiana DC. subsp. thibaudiana Leptolobium bijugum (Spreng.) Vogel Leptospron adenanthum (G. Mey.) A. Delgado Libidibia ferrea var. parvifolia (Benth.) L.P.Queiroz Lonchocarpus cultratus (Vell.) A.M.G.Azevedo & H.C.Lima Arv Arv Arv Arv Arv Herb Arv Arv T T T,U T,U N T,V T T Dimorphandra jorgei M.F.Silva Dinizia sp. nov. (D.A.Folli 4484) Dioclea virgata (Rich.) Amshoff Dioclea wilsonii Standl. Diplotropis incexis Rizzini & A.Mattos Polinização Fruto Dispersão S Abio Sist. Sexual Status H Quirop, Ornito Quirop, Ornito Quirop, Ornito S Abio Quirop, Ornito S Abio Quirop, Ornito Quirop, Ornito Quirop, Ornito S S S Abio Abio Abio Quirop, Ornito Quirop, Ornito S Abio H H Ornito S Abio H 1 1 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Família Espécie Machaerium aculeatum Raddi Hábito Fisionomia T,U,N T T,U T T T T Arv trep-Li trep-Li T T T trep-Li Arv trep-Li T T T trep-Li Arv Herb Arv Arv trep-Li T,U T,U T T T T,U Mimosa elliptica Benth. Mimosa extensa Benth. var. extensa Mimosa pudica L. Mimosa setosa Benth. Mimosa somnians Humb. & Bonpl. ex Willd. Mimosa velloziana Mart. Moldenhawera papillanthera L.P.Queiroz et al. Mucuna urens (L.) Medik. Myrocarpus fastigiatus Allemão Arb trep-Li Herb Arb Herb Herb Arv Herb Arv N T V V V T T T T Myrocarpus frondosus Allemão Myroxylon peruiferum L.f. Ormosia arborea (Vell.) Harms Ormosia nitida Vogel Parapiptadenia pterosperma (Benth.) Brenan Parkia pendula (Willd.) Benth. ex Walp. Peltogyne angustiflora Ducke Peltogyne confertiflora (Mart. ex Hayne) Benth. Phanera grazielae (Vaz) Vaz Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Machaerium declinatum (Vell.) Stellfeld Machaerium fulvovenosum H.C.Lima Machaerium jobimianum C.V.Mendonça & A.M.G.Azevedo Machaerium lanceolatum (Vell.) J.F.Macbr. Machaerium oblongifolium Vogel Machaerium ovalifolium Glaz. ex Rudd Machaerium ternatum Kuhlm. & Hoehne Machaerium uncinatum (Vell.) Benth. Macrolobium latifolium Vogel Macroptilium lathyroides (L.) Urb. Melanoxylon brauna Schott Mimosa candollei R.Grether Mimosa ceratonia var. pseudo-obovata (Taub.) Barneby T T T,U T T T,U T T T Fruto C C Dispersão Bio Bio Sist. Sexual Status H H H H H H H H H H 1 H H H C Ornito H H H H H S Abio H S S S S Abio Abio Abio Abio H H H H H H H C Ornito Bio Bio H H H H H H H H H 1, 2 1, 2, 3 ANGIOSPERMAS trep-Li trep-Li Arv trep-Li trep-Li trep-Li Arb Machaerium acutifolium Vogel Machaerium brasiliense Vogel Machaerium cantarellianum Hoehne Machaerium caratinganum Kuhlm. & Hoehne Machaerium condensatum Kuhlm. & Hoehne Polinização ROLIM ET AL. Família 197 198 Espécie Hábito Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Piptadenia adiantoides (Spreng.) J.F.Macbr. trep-Li T,U,N H Piptadenia paniculata Benth. Platymiscium floribundum Vogel Platymiscium speciosum Vogel Arv T H Arv Arv Arv Arv Arv T,V T T T T,U H H H H Poecilanthe falcata (Vell.) Heringer Poeppigia procera C.Presl Pseudopiptadenia contorta (DC.) G.P.Lewis & M.P.Lima Pseudopiptadenia marliae sp.nov.(G.L.Farias 39, D.A.Folli 382) Arv Pseudopiptadenia psilostachya (DC.) G.P.Lewis & M.P.Lima Arv Pterocarpus rohrii Vahl Arv Rhynchosia phaseoloides (Sw.) DC. trep-Li Schizolobium parahyba (Vell.) Blake Arv Schnella macrostachya Raddi trep-Li Schnella microstachya Raddi trep-Li Senegalia amazonica (Benth.) Seigler & Ebinger trep-Li Senegalia grandistipula (Benth.) Seigler & Ebinger trep-Li Senegalia langsdorffii (Benth.) Seigler & Ebinger trep-Li Senegalia polyphylla (DC.) Britton & Rose Arv Senegalia pteridifolia (Benth.) Seigler & Ebinger trep-Li H Ornito T T T,U C Bio H H T T T T T,U T T T T H H H H H H H Senegalia tenuifolia (L.) Britton & Rose Senna affinis (Benth.) H.S.Irwin & Barneby Senna angulata (Vogel) H.S.Irwin & Barneby Senna appendiculata (Vogel) Wiersema Senna multijuga subsp. lindleyana (Gardner) H.S.Irwin & Barneby Senna multijuga var. verrucosa (Vogel) H.S. Irwin & Barneby Senna obtusifolia (L.) H.S.Irwin & Barneby Senna occidentalis (L.) Link Senna pendula (Humb.& Bonpl.ex Willd.) H.S.Irwin & Barneby trep-Li Arb Arb Arb T,U T T U,N H H H H Arv Arv Arb Arb Arb T,U T,U T,U T T,U H H Senna reticulata (Willd.) H.S.Irwin & Barneby Senna silvestris var. sapindifolia (Vogel) H.S. Irwin & Barneby Senna splendida (Vogel) H.S.Irwin & Barneby Sesbania exasperata Kunth Stylosanthes guianensis (Aubl.) Sw. Stylosanthes scabra Vogel Stylosanthes viscosa (L.) Sw. Swartzia acutifolia Vogel Arb trep-Li Arb Arb Herb Herb Herb Arv T T,U,N T,U T,N U,N T U,N T H Ornito Ornito Ornito H H H H H H Status FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Família Espécie Fisionomia Polinização Swartzia apetala Raddi Swartzia apetala Raddi var. apetala Arv Arv T Ornito T,U,N Swartzia apetala var. glabra (Vogel) R.S.Cowan Swartzia linharensis Mansano Swartzia macrostachya var. riedelii R.S.Cowan Arv T Arv Arv Arv Arv Arv N T T T Arv Arv Arv T T,V T H H H T T,U T,U T T,V T,U T T T,U,N T H Ornito Ornito Ornito Ornito Ornito V T,V U T T,U T,U T T,V T Ornito Ento Ento Ento Ento Ornito Ornito Ornito Ornito N T,N T T,U,N T,U,N T T Ornito Anemo Ornito Ornito Ornito Ento Ento Swartzia micrantha R.S.Cowan Swartzia myrtifolia var. elegans (Schott) R.S.Cowan Swartzia simplex var. continentalis Urb. Sweetia fruticosa Spreng. Tachigali densiflora (Benth.) L.G.Silva & H.C.Lima Tachigali paratyensis (Vell.) H.C.Lima Tachigali pilgeriana (Harms) Oliveira-Filho Tachigali rugosa (Mart. ex Benth.) Zarucchi & Pipoly Vatairea heteroptera (Allemão) Ducke Vataireopsis araroba (Aguiar) Ducke Vigna trichocarpa (C.Wright ex Sauvalle) A.Delgado Zollernia glabra (Spreng.) Yakovlev Zollernia ilicifolia (Brongn.) Vogel Zollernia modesta A.M.Carvalho & Barneby Zornia latifolia Sm. Gentianaceae Gesneriaceae Haloragaceae Heliconiaceae Hernandiaceae Zygia cauliflora (Willd.) Killip Arv Arv Arv Arv trep-Li Arv Arv Arv Herb Arv Zygia latifolia (L.) Fawc. & Rendle Chelonanthus purpurascens (Aubl.) Struwe et al. Voyria aphylla (Jacq.) Pers. Voyria flavescens Griseb. Voyria obconica Progel Codonanthopsis uleana (Fritsch) Chautems & Mat. Perret Drymonia serrulata (Jacq.) Mart. Sinningia elatior (Kunth) Chautems Sinningia richii Clayberg Arv Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Sinningia sceptrum (Mart.) Wiehler Laurembergia tetrandra (Schott) Kanitz Heliconia angusta Vell. Heliconia psittacorum L.f. Heliconia richardiana Miq. Sparattanthelium botocudorum Mart. Sparattanthelium tupiniquinorum Mart. Herb Herb Herb Herb Herb trep-Li trep-Li Fruto Dispersão Sist. Sexual Status H T H Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H S S S S S S C C Abio Abio Abio Abio Abio Bio Bio Bio Bio H H H H H H H H H C S S S S C C Abio Bio Bio Bio Bio Bio Bio H M H H H H H S 1, 2, 3 1 1 1 1 1 ANGIOSPERMAS Hábito ROLIM ET AL. Família 199 200 Humiriaceae Hydroleaceae Hypericaceae Icacinaceae Iridaceae Lacistemataceae Lamiaceae Espécie Hábito Fisionomia Humiria balsamifera var. parvifolia (Juss.) Cuatr. Humiriastrum mussungense Cuatrec. Humiriastrum spiritu-sancti Cuatrec. Sacoglottis mattogrossensis Malme var. mattogrossensis Vantanea bahiaensis Cuatrec. Arb Arv Arv Arv Arv U,N T,U T,U U U,N Ornito C Bio H Hydrolea spinosa L. Vismia brasiliensis Choisy Arb Arv Arv T T,U,N T,V Ento Ento Ento C C C Abio Bio Bio H H H Arv Arv trep-Li trep-Li T,U,N T,U T,U T Ento C Bio H Herb Herb Arv T,U U,N T Ento Ento Ento S S C Abio Bio Bio H H H Aegiphila gloriosa Moldenke Aegiphila graveolens Mart. & Schauer Aegiphila integrifolia (Jacq.) Moldenke Aegiphila macrantha Ducke Aegiphila verticillata Vell. Aegiphila vitelliniflora Walp. Cantinoa mutabilis (Rich.) Harley & J.F.B.Pastore Condea undulata (Schrank) Harley & J.F.B. Pastore Eriope macrostachya Mart. ex Benth. trep-Li Arb Arv trep-Li Arv Arb Arb Arb Herb T T T T,U T T,V T V N Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio H H H H H H C Bio D Eriope macrostachya Mart. ex Benth. var. macrostachya Hyptis brevipes Poit. Hyptis fasciculata Benth. Hyptis lanceolata Poir. Hyptis paludosa A.St.-Hil. ex Benth. Hyptis ramosa Pohl ex Benth. Marsypianthes chamaedrys (Vahl) Kuntze Mesosphaerum pectinatum (L.) Kuntze Mesosphaerum sidifolium (L’Hérit.) Harley & J.F.B.Pastore Arb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb N T,V V T,V V T T,U V T,U Ento Ento Ento Ento C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio D D D D D D Mesosphaerum suaveolens (L.) Kuntze Vitex compressa Turcz. Herb Arv T T Ento C Bio H Vitex megapotamica (Spreng.) Moldenke Arv T,U Ento C Bio H Vismia guianensis (Aubl.) Choisy Vismia martiana Mart. Emmotum nitens (Benth.) Miers Leretia cordata Vell. Pleurisanthes sp. Neomarica portosecurensis (Ravenna) Chukr Neomarica sabinei (Lindl.) Chukr Lacistema aggregatum (P.J.Bergius) Rusby Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Status Ornito Ornito C C Bio Bio H H 1, 2 Ento 1 1 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Família Espécie Vitex orinocensis Kunth Lauraceae Aiouea saligna Meisn. Aniba canellila (Kunth) Mez Aniba firmula (Nees & Mart.) Mez Beilschmiedia linharensis Sa. Nishida & van der Werff Cassytha filiformis L. Cinnamomum montanum (Sw.) Bercht. & J. Presl Cinnamomum sp. nov. (IASilva 349, LCAssis et al 1171) Cryptocarya aschersoniana Mez Cryptocarya citriformis (Vell.) P.L.R.Moraes Cryptocarya saligna Mez Endlicheria glomerata Mez Hábito Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Arv Arv Arv Arv Arv T U T T,U T,U Ento C Bio H trep-Li Arv Arv N,V T T Ento C Bio H C Bio H T T T Ento Ento Ento C C C Bio Bio Bio H H H Arv Arv Arv Arv Arv Arv T T T T U T Ento Ento Ento C C C Bio Bio Bio D M M Ento Ento C C Bio Bio M M Nectandra puberula (Schott) Nees Ocotea aciphylla (Nees & Mart.) Mez Ocotea aniboides (Meisn.) Mez Ocotea arenicola L.C.S. Assis e Mello-Silva Ocotea argentea Mez Ocotea beulahiae J.B. Baitello Ocotea brachybotrya (Meisn.) Mez Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv T T,V U T T T U,N T,U T T Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio H H M H M M M M M M Ocotea ciliata L.C.S.Assis & Mello-Silva Ocotea confertiflora (Meisn.) Mez Ocotea divaricata (Nees) Mez Ocotea fasciculata (Nees) Mez Ocotea glauca (Nees & Mart.) Mez Ocotea glaziovii Mez Ocotea indecora (Schott) Mez Ocotea kostermanniana Vattimo-Gil Ocotea lancifolia (Schott) Mez Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv T,U T T T T T,U T,U T T Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio M D D D D D H D D Ocotea leucoxylon (Sw.) Laness. Arv T,U Ento C Bio D Licaria bahiana Kurz Licaria guianensis Aubl. Mezilaurus glabriantha F.M.Alves & V.C.Souza Nectandra debilis Mez Nectandra lanceolata Nees Nectandra nitidula Nees Nectandra oppositifolia Nees Nectandra psammophila Nees 1 2 1, 2 ANGIOSPERMAS Arv Arv Arv Status ROLIM ET AL. Família 201 202 Espécie Hábito Fisionomia Polinização Ocotea lobbii (Meisn.) Rohwer Ocotea longifolia Kunth Ocotea marcescens L.C.S.Assis & Mello-Silva Ocotea neesiana (Miq.) Kosterm. Ocotea nitida (Meisn.) Rohwer Arv Arv Arv Arv Arv N T T U T Ento C Bio D Ento Ento Ento Ento C C C C Bio Bio Bio Bio D D D D Ocotea notata (Nees & Mart.) Mez Ocotea nunesiana (Vattimo-Gil) J.B. Baitello Arv Arv Arv U,N T T Ento Ento Ento C C C Bio Bio Bio D D D Arv Arv Arv Arv T T,U T T Ento Ento Ento Ento C C C C Bio Bio Bio Bio D D D D Arv Arv Arv T,U,V T T,U Ento C Bio D Ento C Bio D Ocotea teleiandra (Meisn.) Mez Ocotea velloziana (Meisn.) Mez Ocotea velutina (Nees) Rohwer Persea aurata Miq. Rhodostemonodaphne capixabensis J.B. Baitello & Coe-Teix. Urbanodendron verrucosum (Nees) Mez Williamodendron sp. nov. (D.A.Folli & G.S.Siqueira 7203) Cariniana estrellensis (Raddi) Kuntze Cariniana legalis (Mart.) Kuntze Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv T T T T,U,N,V T,U T T T T Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Abio D D D H D M Ento Ento S S Abio Abio H H Cariniana parvifolia S.A.Mori et al. Couratari asterophora Rizzini Couratari asterotricha Prance Couratari macrosperma A.C.Sm. Eschweilera ovata (Cambess.) Mart. ex Miers Lecythis lanceolata Poir. Lecythis lurida (Miers) S.A.Mori Lecythis marcgraaviana Miers Lecythis pisonis Cambess. Genlisea sp. Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Herb T T T T T,U,N T T T T N Ento Ento Ento, Quirop Ento Ento, Quirop, Ornito Ento, Quirop, Ornito Ento, Quirop, Ornito Ento, Quirop, Ornito Ento, Quirop, Ornito S S S S S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H H H H H Utricularia foliosa L. Utricularia gibba L. Herb Herb V V Ento Ento S S Abio Abio H H Lindernia diffusa (L.) Wettst. Herb T Ento S Abio H Ocotea nutans (Nees) Mez Ocotea pluridomatiata A.Quinet Ocotea polyantha (Nees & Mart.) Mez Ocotea prolifera (Nees & Mart.) Mez Ocotea puberula (Rich.) Nees Ocotea pulchella (Nees & Mart.) Mez Ocotea sp. nov. (D.A.Folli 5035) Ocotea spectabilis (Meisn.) Mez Lecythidaceae Lentibulariaceae Linderniaceae Fruto Dispersão Sist. Sexual Status 1 1, 2 2 1, 2, 3 1, 2, 3 1 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Família Loganiaceae Espécie Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Herb Herb Herb trep-Li trep-Li V T,V T T,V U Ento Ento Ento, Quirop, Ornito Ento, Quirop, Ornito Ento, Quirop, Ornito S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H trep-Li trep-Li trep-Li T T U Ento, Quirop, Ornito Ento, Quirop, Ornito Ento, Quirop, Ornito S S S Abio Abio Abio H H H Herb Herb Herb T T,U T,U,N Ornito S Abio H S Abio H Herb Herb Herb Herb Arb Herb N T,N T T,U N V Ornito Ornito Ornito Ornito Ornito Ornito S S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio Abio D D D H H H Banisteriopsis sellowiana (A.Juss.) B.Gates Bronwenia ferruginea (Cav.) W.R.Anderson & C.C.Davis Bunchosia acuminata Dobson Bunchosia macilenta Dobson Bunchosia maritima (Vell.) J.F.Macbr. Byrsonima cacaophila W.R.Anderson Byrsonima crassifolia (L.) Kunth Arv trep-Li Arb trep-Li trep-Li Arb Arb Arb Arv Arv T T,U T,U T,U T T,U T T T T Quirop Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento S S S S S C C C C C Abio Abio Abio Bio Abio Bio Bio Bio Bio Bio H H H H H H H H H H Byrsonima perseifolia Griseb. Byrsonima sericea DC. Byrsonima stipulacea A.Juss. Dicella macroptera A.Juss. Diplopterys pubipetala (A.Juss.) W.R.Anderson & C.C.Davis Heladena bunchosioides A.Juss. Heteropterys alternifolia W.R.Anderson Heteropterys bahiensis Nied. Heteropterys chrysophylla (Lam.) DC. Arv Arv Arv trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li T T,U,N T,N T T T U,N T T,U Ento Ento Ento C C C Bio Bio H H H Ento Ento Ento Ento Ento Heteropterys coleoptera A.Juss. trep-Li U,N Ento Spigelia flemmingiana Cham. & Schltdl. Strychnos atlantica Krukoff & Barneby Strychnos fulvotomentosa Gilg Strychnos hirsuta Spruce Strychnos romeu-belenii Krukoff & Barneby Loranthaceae Strychnos trinervis (Vell.) Mart. Passovia podoptera (Cham. & Schltdl.) Kuijt Psittacanthus dichroos (Mart.) Mart. Struthanthus confertus (Mart.) Mart. Lythraceae Struthanthus marginatus (Desr.) Blume Struthanthus polyrhizus (Mart.) Mart. Cuphea carthagenensis (Jacq.) J.Macbr. Cuphea flava Spreng. Cuphea strigulosa Kunth Malpighiaceae Lafoensia glyptocarpa Koehne Banisteriopsis membranifolia (A.Juss.) B.Gates Banisteriopsis nummifera (A.Juss.) B.Gates C S C Bio Abio Bio Bio H H H H H C Abio H Status 1 1 1, 2 1 1 2 ANGIOSPERMAS Fisionomia Lindernia rotundifolia (L.) Alston Torenia thouarsii (Cham. & Schltdl.) Kuntze Spigelia anthelmia L. Hábito ROLIM ET AL. Família 203 204 Espécie Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Heteropterys fluminensis (Griseb.) W.R.Anderson trep-Li T Ento S Abio H Heteropterys leschenaultiana A.Juss. Heteropterys megaptera A.Juss. Heteropterys nitida (Lam.) DC. trep-Li T Ento S Abio H trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li T T T,U T,U,V U,N Ento Ento Ento Ento Ento S C S S S Bio Abio Abio Abio Abio H H H H Hiraea bullata W.R.Anderson Hiraea fagifolia (DC.) A.Juss. trep-Li trep-Li trep-Li T T T Ento Ento S S Abio H H Janusia hexandra (Vell.) W.R.Anderson Mascagnia bierosa (A.Juss.) W.R.Anderson Mascagnia cordifolia (A.Juss.) Griseb. Mezia araujoi Nied. Niedenzuella acutifolia (Cav.) W.R.Anderson Niedenzuella lucida (A.Juss.) W.R.Anderson Peixotoa hispidula A.Juss. Stigmaphyllon acuminatum A.Juss. Stigmaphyllon blanchetii C.E.Anderson trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li T T T T,N T,U,N T,U U,N T T,U,V Ento Abio H Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Abio S C S S Bio Abio Abio Abio Bio H H H H H H H Stigmaphyllon paralias A.Juss. Tetrapterys anisoptera A.Juss. Tetrapterys crispa A.Juss. Tetrapterys mucronata Cav. Tetrapterys paludosa A.Juss. Tetrapterys phlomoides (Spreng.) Nied. Abutilon sp. Basiloxylon brasiliensis (All.) K.Schum. Byttneria gayana A.St.-Hil. Callianthe inaequalis (Link &Otto) Donnel Arb trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li Arb Arv Herb Herb T,U,N T,N T N T,N T,U T T T T Ento Ento C S Abio Abio H H Ento Ento Ento S S C Abio Bio Abio Ento, Ornito Ento S S Abio Abio H H H H H H Callianthe rufinerva (A. St.Hil.) Donnel Callianthe schenckii (K. Shum.) Donnel Ceiba pubiflora (A.St.-Hil.) K.Schum. Eriotheca candolleana (K.Schum.) A.Robyns Eriotheca macrophylla (K.Schum.) A.Robyns Guazuma crinita Mart. Hibiscus bifurcatus Cav. Hydrogaster trinervis Kuhlm. Arb Arb Arv Arv Arv Arv Arb Arv Quirop Quirop Quirop Ento Ento, Ornito Ento S S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H H Heteropterys nordestina Amorim Heteropterys oberdanii Amorim Heteropterys rufula A.Juss. Heteropterys sp. nov. (D.A.Folli 5464) Malvaceae Hábito T,U T T T T,U T T,U T S S H Status 1, 2 1, 2 1, 2 1, 2 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Família Espécie Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Luehea divaricata Mart. & Zucc. Melochia sp. Arv Herb T Ento S Abio H V Pachira endecaphylla (Vell.) Carv.-Sobr. Pavonia calyculosa A.St.-Hil. & Naudin Pavonia crassipedicellata Krapov. Arv T Quirop S Abio H Arv Arv Arb Arb Arv T T,U T,U,N T T, U Ento Ento Ento Ento Quirop S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H Arv Arv Herb T T T Quirop Ento S S Abio Abio H H Sterculia excelsa Mart. Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Arb Arv Arv T,U T,U T,U T V T T T T T Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento S S S S S S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio Bio H H H H H H H H H H Triumfetta althaeoides Lam. Triumfetta cucullata Fernald Triumfetta lappula L. Triumfetta rhomboidea Jacq. Triumfetta semitriloba Jacq. Urena lobata L. Waltheria cinerescens A.St.-Hil. Waltheria maritima A.St.-Hil. Waltheria selloana K.Schum. Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb T,V T T T T T N N N Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C C S S S Bio Bio Bio Bio Bio Abio Abio Abio Abio H H H H H H H H H Waltheria viscosissima A.St.-Hil. Wissadula contracta (Link) R.E.Fr. Wissadula hernandioides (L.Hér.) Garcke Calathea carioca H. Kenn. Calathea linharesana H. Kenn. Ctenanthe compressa (A.Dietr.) Eichler Ctenanthe glabra (Koern.) Eichler Herb Arb Herb Herb Herb Herb Herb T T T T T T T Ento Ento Ento Ento, Ornito Ento, Ornito Ento, Ornito Ento, Ornito S S S C C C C Abio Abio Bio Bio Bio Bio Bio H H H H H H H Pavonia multiflora A.St.-Hil. Peltaea parviflora (Turcz.) Fryxell & Krapov. Pseudobombax grandiflorum (Cav.) A.Robyns Pseudobombax grandiflorum var. majus A. Robyns Quararibea penduliflora (A.St.-Hil.) K.Schum. Sida acrantha Link Sida ciliaris L. Sida cordifolia L. Sida linifolia Cav. Sida planicaulis Cav. Sida rhombifolia L. Sida spinosa L. Sida urens L. Sidastrum micranthum (A.St.-Hil.) Fryxell Sterculia apetala (Jacq.) H.Karst. Marantaceae Status 1 ANGIOSPERMAS Hábito ROLIM ET AL. Família 205 206 Espécie Hábito Fisionomia Ctenanthe lubbersiana (E.Morren) Eichler ex Petersen Herb T,U Ento, Ornito C Bio H Ctenanthe setosa (Roscoe) Eichler Herb Herb T T,U Ento, Ornito Ento, Ornito C C Bio Bio H H 1 Herb Herb Herb Herb T T T T Ento, Ornito Ento, Ornito Ento, Ornito Ento, Ornito C C C C Bio Bio Bio Bio H H H H 1 1 1, 2 Goeppertia vaginata (Petersen) Borchs. & S.Suárez Goeppertia widgrenii (Koern.) Borchs. & S.Suárez Goeppertia wiotii (E.Morren) Borchs. & S.Suárez Herb Herb Herb T,U T,U T Ento, Ornito Ento, Ornito Ento, Ornito C C C Bio Bio Bio H H H 1, 2 1 Ischnosiphon gracilis (Rudge) Koern. Ischnosiphon ovatus Koern. Maranta cristata Nees & Mart. Maranta divaricata Roscoe Maranta subterranea J.M.A.Braga Monotagma plurispicatum (Koern.) K.Schum. Saranthe composita (Link) K. Schum. Saranthe klotzschiana (Koern.) Eichler Stromanthe glabra Yosh.-Arns Herb Herb T,V T,V Ento, Ornito Ento, Ornito C C Bio Bio H H 1 1, 2 Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb T T,U,N T,N T,U T T T Ento, Ornito Ento, Ornito Ento, Ornito Ento, Ornito Ento, Ornito Ento, Ornito Ento, Ornito C C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio H H H H H H H 1 Stromanthe porteana Gris Stromanthe schottiana (Koern.) Eichler Stromanthe thalia (Vell.) J.M.A.Braga Marcgravia sp. Schwartzia adamantium (Cambess.) Bedell ex Gir.-Cañas Schwartzia brasiliensis (Choisy) Bedell ex Gir.-Cañas Mayaca fluviatilis Aubl. Mayaca kunthii Seub. Aciotis paludosa (Mart. ex DC.) Triana Bertolonia maculata DC. Herb Herb Herb trep-Li trep-Li trep-Li Herb Herb Herb Herb T T,U T T U,N T,U,N V V T,V T Ento, Ornito Ento, Ornito C C S Bio Abio Abio H H H Ornito Ornito Anemo Anemo Ento Ento S S S S S C Abio Abio Abio Abio Bio Bio H H H H H H Clidemia biserrata DC. Clidemia capitellata (Bonpl.) D.Don Clidemia hirta (L.) D.Don Henriettea succosa (Aubl.) DC. Huberia ovalifolia DC. Leandra ionopogon (Mart.) Cogn. Leandra rhamnifolia (Naudin) Cogn. Leandra rufescens (DC.) Cogn. Arb Arb Arb Arv Arv Arb Herb Arb T T T,V T,V T,U,N T T T,V Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio H H H H H H H H Goeppertia brasiliensis (Koern.) Borchs. & S. Suárez Goeppertia lancifolia (Boom) Borchs. & S.Suárez Goeppertia sciuroides (Petersen) Borchs. & S.Suárez Goeppertia singularis (H.Kenn.) Borchs. & S.Suárez Goeppertia tuberosa (Vell.) Borchs. & S.Suárez Marcgraviaceae Mayacaceae Melastomataceae Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Status 1, 2 1 1, 2 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Família Espécie Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Arb Arb Arb Arb Arv Arv Arv T,N U,N N N T,U,N,V T T Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio H H H H H H H Arv Arv Arv T T,U T,U Ento Ento Ento C C C Bio Bio Bio H H H Arb Arv Arb T T N Ento Ento Ento C C C Bio Bio Bio H H H Arv Arv Arb Arb Arv Arv T T,U,V T N,V T,U T,V Ento Ento C C Bio Bio H H Ento Ento Ento C C C Bio Bio Bio H H H Mouriri doriana Saldanha ex Cogn. Mouriri glazioviana Cogn. Pterolepis cataphracta (Cham.) Triana Pterolepis glomerata (Rottb.) Miq. Rhynchanthera dichotoma (Desr.) DC. Tibouchina fissinervia (Schrank & Mart. ex DC.) Cogn. Tibouchina heteromalla (D.Don) Cogn. Tibouchina macrochiton (Mart. ex DC.) Cogn. Tibouchina trichopoda (DC.) Baill. Arv Arv Arb Herb Arb Arv Arv Arv Arv T,U T T,N T,N T,V T U,N N,V V Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C S S S S S S S Bio Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H H H H H Tibouchina urceolaris (Schrank & Mart. ex DC.) Cogn. Cabralea canjerana (Vell.) Mart. subsp. canjerana Cedrela fissilis Vell. Cedrela odorata L. Guarea blanchetii C.DC. Guarea macrophylla Vahl Guarea penningtoniana A.L.Pinheiro Guarea pubescens (Rich.) A.Juss. Guarea pubescens subsp. pubiflora (A.Juss.) T.D.Penn. Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arb Arb N,V T T T T T,V T,U T T Ento S Abio H Ento Ento Ento Ento Ento Ento S S S S S S Abio Bio Bio Bio Bio Bio D D D D D D Marcetia taxifolia (A.St.-Hil.) DC. Miconia albicans (Sw.) Triana Miconia amoena Triana Miconia ciliata (Rich.) DC. Miconia cinnamomifolia (DC.) Naudin Miconia fasciculata Gardner Miconia holosericea (L.) DC. Miconia hypoleuca (Benth.) Triana Miconia lepidota DC. Miconia mirabilis (Aubl.) L.O.Williams Miconia nervosa (Sm.) Triana Miconia prasina (Sw.) DC. Miconia pusilliflora (DC.) Naudin Miconia rimalis Naudin Miconia splendens (Sw.) Griseb. Miconia tristis Spring subsp. tristis Microlicia serpyllifolia D.Don Mouriri arborea Gardner Mouriri chamissoana Cogn. Meliaceae Status 2 2 ANGIOSPERMAS Hábito ROLIM ET AL. Família 207 208 Espécie Hábito Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Trichilia casaretti C.DC. Arv T Ento S Bio D Trichilia catigua A.Juss. Arv Arv T T,U Ento Ento S S Bio Bio D D Arv Arv Arv Arv U T T T Trichilia pallens C.DC. Trichilia pallida Sw. Trichilia pseudostipularis (A.Juss.) C.DC. Arv Arv Arv T,U T T,U Ento Ento Ento S S S Bio Bio Bio D D D Trichilia quadrijuga Kunth subsp. quadrijuga Trichilia ramalhoi Rizzini Trichilia silvatica C.DC. Trichilia surumuensis C.DC. Trichilia tetrapetala C.DC. Trichilia trifolia subsp. pteleifolia (A. Juss.) T.D. Penn. Abuta convexa (Vell.) Diels Abuta selloana Eichler Borismene japurensis (Mart.) Barneby Arv Arv T T Ento Ento S S Bio Bio D D Arv Arv Arv Arv trep-Li trep-Li trep-Li T,U T T T,V T T T Ento Ento Ento S S S Bio Bio Bio D D D Ento Ento Ento C C C Bio Bio Bio D D D Chondrodendron platiphyllum (A.St.-Hil.) Miers Cissampelos andromorpha DC. Disciphania sp. Odontocarya vitis (Vell.) J.M.A.Braga Orthomene schomburgkii (Miers) Barneby & Krukoff Nymphoides indica (L.) Kuntze Mollugo verticillata L. Macrotorus utriculatus (Mart.) Perkins Mollinedia lamprophylla Perkins Mollinedia marqueteana Peixoto trep-Li trep-Li Herb Herb trep-Li Herb Herb Arv Arb Arv T T T T,U,V T,V V N T T T Ento Ento C C Bio Bio D D Ento Ento Ento Ento C S Bio Bio D H H M Ento Ento C C Bio Bio D D Mollinedia sphaerantha Perkins Brosimum glaucum Taub. Brosimum glaziovii Taub. Brosimum guianense (Aubl.) Huber Brosimum lactescens (S.Moore) C.C.Berg Clarisia ilicifolia (Spreng.) Lanj. & Rossberg Clarisia racemosa Ruiz & Pav. Dorstenia elata Hook. Arb Arv Arv Arv Arv Arv Arv Herb T,U,N T T T T T,U T T Ento Ento, Anemo Ento, Anemo Ento, Anemo Ento, Anemo Ento, Anemo Ento, Anemo Ento C C C C C C C C Abio Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio D D M D D D M D Trichilia elegans A.Juss. Trichilia elegans A.Juss. subsp. elegans Trichilia elegans subsp. richardiana (A.Juss.) T.D.Penn. Trichilia lepidota subsp. leucastera (Sandwith) T.D.Penn. Trichilia lepidota subsp. schumanniana (Harms) Pennington Menispermaceae Menyanthaceae Molluginaceae Monimiaceae Moraceae Status 1 1 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Família Espécie Hábito Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Status Herb Arv Arv Arv Arv Arv Arv T T T,U T,U,N T T,U T,U Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio D M M M M M M 1, 3 Arv Arv Arv T T U Ento Ento Ento C C C Bio Bio Bio M M M Arv Arv Arv T T,U T Ento Ento Ento C C C Bio Bio Bio M M M Arv Arv Arv Arv Arv Arv T,U,V T T,U T T T,U Ento Ento Ento Ento Ento Ento, Anemo C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio M M M D D D Sorocea guilleminiana Gaudich. Sorocea hilarii Gaudich. Virola bicuhyba (Schott ex Spreng.) Warb. Virola gardneri (A.DC.) Warb. Blepharocalyx eggersii (Kiaersk.) Landrum Calyptranthes brasiliensis Spreng. Calyptranthes glazioviana Kiaersk. Calyptranthes grandifolia O.Berg Calyptranthes lucida Mart. ex DC. Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv T,U T,U T T T T,U,N T T T,U,V Ento, Anemo Ornito Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C S S C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio D D H H H H H H H Campomanesia anemonea Landrum Campomanesia espiritosantensis Landrum Campomanesia guaviroba (DC.) Kiaersk. Campomanesia guazumifolia (Cambess.) O.Berg Campomanesia laurifolia Gardner Campomanesia lineatifolia Ruiz & Pav. Campomanesia xanthocarpa (Mart.) O.Berg Eugenia adenantha O.Berg Eugenia aff. badia O.Berg. Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv T,U T T,U T,U T,U T T T T Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento, Ornito Ento, Ornito C C C C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio H H H H H H H H H Dorstenia gracilis Carauta, C. Valente & Araujo Ficus adhatodifolia Schott in Spreng. Ficus arpazusa Casar. Ficus castellviana Dugand Ficus citrifolia Mill. Ficus clusiifolia Schott Ficus cyclophylla (Miq.) Miq. Ficus gomelleira Kunth Ficus holosericea Schott Ficus laureola Warb. ex C.C.Berg & Carauta Ficus mariae C.C.Berg, Emygdio & Carauta Ficus nymphaeifolia Mill. Ficus obtusifolia Kunth Ficus pulchella Schott Ficus trigona L.f. Ficus trigonata L. Helicostylis tomentosa (Poepp. & Endl.) Rusby Maclura tinctoria (L.) D.Don ex Steud. Naucleopsis oblongifolia (Kuhlm.) Carauta Myristicaceae Myrtaceae ROLIM ET AL. Família 2 2 1, 2 ANGIOSPERMAS 209 210 Espécie Hábito Fisionomia Eugenia aff. brevistyla D.Legrand Arv Eugenia aff. handroi (Mattos) Mattos Arv Arv Fruto Dispersão Sist. Sexual T C Bio H T T,U,N,V Ento C C Bio Bio H H Arv Arv Arv Arv T,U T T,U T Ento, Ornito Ento, Ornito Ento, Ornito Ento, Ornito C C C C Bio Bio Bio Bio H H H H Eugenia brasiliensis Lam. Eugenia brejoensis Mazine Eugenia candolleana DC. Arv Arv Arv T,V U,N T Ento, Ornito Ento, Ornito C C C Bio Bio Bio H H H Eugenia cataphyllea M.C.Souza & Sobral Eugenia cf. flamingensis O.Berg Eugenia cf. oblongata O.Berg Eugenia copacabanensis Kiaersk. Eugenia dichroma O.Berg Eugenia ellipsoidea Kiaersk. Eugenia excelsa O.Berg Eugenia fusca O.Berg Eugenia hispidiflora Sobral & M.C.Souza Arv Arv T T,U C C Bio Bio H H Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv T T T,U U U,N T T Ento, Ornito Ento, Ornito Ento, Ornito C C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio H H H H H H H Eugenia Involucrata DC. Eugenia itapemirimensis Cambess. Eugenia macrantha O.Berg Eugenia macrosperma DC. Eugenia maritima DC. Eugenia melanogyna (D.Legrand) Sobral Eugenia monosperma Vell. Eugenia moonioides O.Berg Eugenia neosilvestris Sobral Eugenia pisiformis Cambess. Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv T T T T,U T,U,N T T T U T,U Ento, Ornito Ento, Ornito Ento, Ornito Ento, Ornito Ento, Ornito Ento, Ornito Ento, Ornito Ento, Ornito Ento, Ornito Ento, Ornito C C C C C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio H H H H H H H H H H Eugenia platyphylla O.Berg Eugenia plicatocostata O.Berg Eugenia prasina O.Berg Eugenia pruinosa D.Legrand Eugenia pruniformis Cambess. Eugenia punicifolia (Kunth) DC. Eugenia repanda O.Berg Eugenia rostrata O.Berg Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv T T T T T T,U,N T,V T Ento, Ornito Ento, Ornito Ento, Ornito Ento, Ornito Ento, Ornito Ento Ento, Ornito Ento C C C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio H H H H H H H H Eugenia astringens Cambess. Eugenia bahiensis DC. Eugenia batingabranca Sobral Eugenia beaurepairiana (Kiaersk.) D.Legrand Eugenia bocainensis Mattos Polinização Ento, Ornito Ento, Ornito Ento, Ornito Status 2 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Família Espécie Fruto Dispersão Sist. Sexual T T,U U,N T T,V T T Ento Ento, Ornito Ento Ento, Ornito Ento C C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio H H H H H H H Arv Arv Arv T T T Ento Ento C C C Bio Bio Bio H H H Arv Arv T T,U,N Ento Ento C C Bio Bio H H Marlierea obversa D.Legrand Marlierea polygama (O.Berg) D.Legrand Marlierea regeliana O.Berg Marlierea sucrei G.M.Barroso & Peixoto Marlierea suaveolens Cambess. Myrceugenia campestris (DC.) D.Legrand & Kausel Myrcia amazonica DC. Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv T,U T,U,N T T,U T V T,U,N Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio H H H H H H H Myrcia bergiana O.Berg Myrcia bicolor Kiaersk. Myrcia brasiliensis Kiaersk. Myrcia cerqueiria (Nied.) E.Lucas & Sobral Myrcia curtipendula NicLugh. Myrcia eumecephylla (O.Berg) Nied. Myrcia ferruginosa Mazine Myrcia follii G.M.Barroso & Peixoto Myrcia freyreissiana (O.Berg) Kiaersk. Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv T,U T T,U,V T,U T T T T T Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio H H H H H H H H H Myrcia gilsoniana G.M.Barroso & Peixoto Myrcia guianensis (Aubl.) DC. Myrcia ilheosensis Kiaersk. Myrcia isaiana G.M.Barroso & Peixoto Myrcia lineata (O.Berg) Nied. Myrcia maximiliana O.Berg Myrcia multiflora (Lam.) DC. Myrcia multipunctata Mazine Myrcia ovata Cambess. Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv T,U T U,N T T T T,U,N T Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio H H H H H H H H Arv T,U Ento C Bio H Eugenia sp (sp nude “menandroana”) Eugenia supraaxilaris Spreng. Eugenia unana Sobral Eugenia pyriflora O.Berg Marlierea acuminatissima (O.Berg) D.Legrand Marlierea aff. schottii D.Legrand Marlierea estrellensis O.Berg Marlierea excoriata Mart. Marlierea glabra Cambess. Marlierea neuwiediana (O.Berg) Nied. Fisionomia Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Status 1, 3 1, 2, 3 1, 2, 3 1, 2 2 ANGIOSPERMAS Polinização Eugenia sp. nov. (G.L.Farias 368, D.A.Folli 1092) Eugenia sulcata Spring ex Mart. Hábito ROLIM ET AL. Família 211 212 Espécie Hábito Fisionomia Arv T,N,V Ento C Bio H Arv Arv Arv T T T,U,N,V Ento Ento Ento C C C Bio Bio Bio H H H Myrcia rufipes DC. Myrcia splendens (Sw.) DC. Myrcia springiana (O.Berg) Kiaersk. Arv Arv Arv Arv T T T,U,N T,U Ento Ento Ento Ento C C C C Bio Bio Bio Bio H H H H Myrcia tenuifolia (O.Berg) Sobral Myrcia vittoriana Kiaersk. Arv Arv T T,U,N Ento Ento C C Bio Bio H H Myrciaria ferruginea O.Berg Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv T T,U,N T,U U T,U,N T U T T Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio H H H H H H H H H Arv Arv Arv Arv Arb Arv Arv Arv Arv Arv T T T T,U,N T,U T,U T,U T T T Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C C C C C S Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio Abio H H H H H H H H H H trep-Li Arb Arb Arv Arv Arv T T T,U T T,U T,U,N Ento Ento Ento Ento Ento Ento S S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio Abio D D D D D D T,U,N,V T Ento Ento S S Bio Bio D D Myrcia palustris DC. Myrcia panicularis (O.Berg) N.Silveira Myrcia pubipetala Miq. Myrcia racemosa (O.Berg) Kiaersk. Myrcia riodocensis G.M.Barroso & Peixoto Myrciaria floribunda (H.West ex Willd.) O.Berg Myrciaria strigipes O.Berg Myrciaria tenella (DC.) O.Berg Neomitranthes langsdorffii (O.Berg) Mattos Neomitranthes sctictophylla (G.M.Barroso & Peixoto) M.Souza Neomitranthes sp. nov. (M.C.Souza 534) Plinia phitrantha (Kiaersk.) Sobral Plinia renatiana G.M.Barroso & Peixoto Plinia rivularis (Cambess.) Rotman Plinia spiritosantensis (Mattos) Mattos Plinia sp. (D.A.Folli 595) Psidium brownianum Mart. ex DC. Psidium guineense Sw. Psidium longipetiolatum D.Legrand Psidium myrtoides O.Berg Psidium oblongatum O.Berg Nyctaginaceae Psidium sartorianum (O.Berg) Nied. Andradea floribunda Allemão Bougainvillea spectabilis Willd. Guapira hirsuta (Choisy) Lundell Guapira laxiflora (Choisy) Lundell Guapira nitida (Mart. ex J.A.Schmidt) Lundell Guapira noxia (Netto) Lundell Guapira opposita (Vell.) Reitz Guapira pernambucensis (Casar.) Lundell Guapira venosa (Choisy) Lundell Arb Arv Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Status 1, 2 2 1, 2 1, 2 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Família Nymphaeaceae Espécie Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Arv Arv Herb Herb Arv Arb Herb T T V V T,U,N N N Ento Ento Ento C C C Bio Bio Bio H H H Ento C Bio H Arv Arv Arv T,U U T Ento C Bio H Ento C Bio H Arv Herb U T Ento C Bio H Chionanthus parviflora Cornejo, Lombardi & W. Thomas Ludwigia leptocarpa (Nutt.) H.Hara Ludwigia nervosa (Poir.) H.Hara Ludwigia octovalvis (Jacq.) P.H.Raven Acianthera auriculata (Lindl.) Pridgeon & M.W.Chase Acianthera glumacea (Lindl.) Pridgeon & M.W.Chase Acianthera nemorosa (Barb.Rodr.) F.Barros Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb T V T,V T,V T T,U T,U Ento Ento, Ornito Ento, Ornito Ento Ento Ento Ento C S S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H H H Acianthera ophiantha (Cogn.) Pridgeon & M.W.Chase Acianthera pectinata (Lindl.) Pridgeon & M.W.Chase Acianthera recurva (Lindl.) Pridgeon & M.W.Chase Acianthera strupifolia (Lindl.) Pridgeon & M.W.Chase Alatiglossum ciliatum (Lindl.) Baptista Aspidogyne argentea (Vell.) Garay Aspidogyne decora (Rchb.f.) Garay & G.Romero Brasilaelia grandis (Lindl. & Paxton) Gutfreund Brasiliorchis chrysantha (Barb.Rodr.) R.B.Singer et al. Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb T U U T,U U T T T,U U Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento S S S S S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H H H H H Brasiliorchis marginata (Lindl.) R.B.Singer et al. Brassavola tuberculata Hook. Brassia arachnoidea Barb.Rodr. Campylocentrum aciculatum (Rchb.f. & Warm.) Cogn. Campylocentrum micranthum (Lindl.) Rolfe Campylocentrum sellowii (Rchb.f.) Rolfe Catasetum discolor (Lindl.) Lindl. Catasetum luridum Lindl. Catasetum mattosianum Bicalho Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb T T,U U N U T,U T,N T Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento S S S S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H H H H Herb U Ento S Abio H Neea floribunda Poepp. & Endl. Pisonia ambigua Heimerl Nymphaea caerulea Savigny Ochnaceae Nymphaea rudgeana G.Mey. Ouratea cuspidata (A.St.-Hil.) Engl. Ouratea multiflora (Pohl) Engl. Olacaceae Sauvagesia erecta L. Cathedra bahiensis Sleumer Dulacia sp. Oleaceae Onagraceae Orchidaceae Heisteria ovata Benth. Ximenia americana L. var. americana Chionanthus ferrugineus (Gilg) P.S.Green Status 1 1 1 1 1, 2 1, 2 1, 2 ANGIOSPERMAS Hábito ROLIM ET AL. Família 213 214 Espécie Hábito Fisionomia Herb T,U Ento S Herb Herb Herb T T,U T,U Ento Ento Ento S S S Coryanthes speciosa Hook. Cyrtopodium flavum Link & Otto ex Rchb.f. Cyrtopodium gigas (Vell.) Hoehne Herb Herb Herb Herb N,V T U,N T Ento Ento S S Abio Abio H H 1 Ento S Abio H 1 Cyrtopodium holstii L.C.Menezes Dichaea pendula (Aubl.) Cogn. Herb Herb T,U T,U Ento Ento S S Abio Abio H H 1 Dichaea trulla Rchb.f. Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb T T T,U T,U,N T U U T,U U Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento S S S S S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H H H H H Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb U U T U U N,V T,N U T T,U Ento Ento Ento Ento Ento Ento S S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H H Ento Ento Ento S S S Abio Abio Abio H H H Herb Herb Herb Herb Herb Herb U T,N U U N,V V Ento Ento Ento Ento Ento Ento S S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H H Herb Herb T U,N Ento Ento S S Abio Abio H H Cattleya guttata Lindl. Christensonella ferdinandiana (Barb.Rodr.) Szlach. et al. Christensonella pumila (Hook.) Szlach. et al. Christensonella subulata (Lindl.) Szlach. et al. Cleistes libonii (Rchb.f.) Schltr. Dimerandra emarginata (G.Mey.) Hoehne Dryadella aviceps (Rchb.f.) Luer Eltroplectris calcarata (Sw.) Garay & Sweet Eltroplectris triloba (Lindl.) Pabst Encyclia oncidioides (Lindl.) Schltr. Encyclia patens Hook. Epidendrum anceps Jacq. Epidendrum campaccii Hágsater & L.Sánchez Epidendrum carpophorum Barb.Rodr. Epidendrum compressum Griseb. Epidendrum coronatum Ruiz & Pav. Epidendrum cristatum Ruiz & Pav. Epidendrum densiflorum Hook. Epidendrum denticulatum Barb.Rodr. Epidendrum flexuosum G.Mey. Epidendrum latilabre Lindl. Epidendrum nocturnum Jacq. Epidendrum rigidum Jacq. Epidendrum strobiliferum Rchb.f. Epistephium lucidum Cogn. Galeottia ciliata (Morel) Dressler & Christenson Gongora quinquenervis Ruiz & Pav. Habenaria fluminensis Hoehne Habenaria nabucoi Ruschi Heterotaxis brasiliensis (Brieger & Illg) F.Barros Koellensteinia altissima Pabst Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Status Abio H 1, 2 Abio Abio Abio H H H 1 1 1 1 1 1 1 1 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Família Espécie Hábito Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Status Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb T T U U T T,U T Ento Ento S S Abio Abio H H 1 Ento Ento Ento Ento S S S S Abio Abio Abio Abio H H H H Herb Herb Herb U T T,U Ento Ento Ento S S S Abio Abio Abio H H H Herb Herb U U Ento Ento S S Abio Abio H H Pabstiella fusca (Lindl.) Chiron & Xim.Bols. Pabstiella parvifolia (Lindl.) Luer Paradisanthus micranthus (Barb.Rodr) Schltr. Polystachya concreta (Jacq.) Garay & Sweet Polystachya foliosa (Lindl.) Rchb.f. Polystachya hoehneana Kraenzl. Prosthechea fragrans (Sw.) W.E.Higgins Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb T,U T U T,U T T U Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento S S S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H H H Prosthechea pygmaea (Hook.) W.E.Higgins Rodriguezia obtusifolia (Lindl.) Rchb.f. Rodriguezia venusta Rchb.f. Sacoila lanceolata (Aubl.) Garay Scaphyglottis emarginata (Garay) Dressler Scaphyglottis livida (Lindl.) Schltr. Scaphyglottis modesta (Rchb.f.) Schltr. Sobralia liliastrum Salzm. ex Lindl. Sobralia sessilis Lindl. Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb T T,V U T,U,N,V U T,U T N U,N Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento S S S S S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H H H H H Sobralia sp. nov. (C.N.Fraga 597) Sophronitis cernua Lindl. Specklinia grobyi (Batem. ex Lindl.) F.Barros Stelis amoena Pridgeon & M.W.Chase Stelis intermedia Poepp. & Endl. Stelis susanensis (Hoehne) Pridgeon & M.W.Chase Trichocentrum fuscum Lindl. Trigonidium acuminatum Batem. ex Lindl. Trigonidium latifolium Lindl. Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb U T T,U T,U T,U T T T Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento S S S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H H H 1 1 Herb T,U Ento S Abio H 1 Lophiaris pumila (Lindl.) Braem Macradenia rubescens Barb.Rodr. Macroclinium sp. Maxillaria robusta Barb.Rodr. Miltonia moreliana A.Rich. Mormolyca rufescens (Lindl.) M.A.Blanco Myoxanthus exasperatus (Lindl.) Luer Nemaconia striata (Lindl.) van den Berg et al. Notylia microchila Cogn. Notylia pubescens Lindl. Octomeria sagittata (Rchb.f.) Garay Oncidium baueri Lindl. ROLIM ET AL. Família 1 1, 2 1 1 ANGIOSPERMAS 215 216 Espécie Triphora amazonica Schltr. Trizeuxis falcata Lindl. Uleiorchis ulei (Cogn.) Handro Vanilla bahiana Hoehne Vanilla chamissonis Klotzsch Vanilla sp.nov. (G.S.Siqueira 720) Warczewiczella wailesiana (Lindl.) Rchb.f. ex E.Morren Oxalidaceae Zygostates lunata Lindl. Buchnera amethystina Cham. & Schltdl. Esterhazya splendida J.C.Mikan Oxalis barrelieri L. Passiloraceae Oxalis neuwiedii Zucc. Oxalis polymorpha Mart. ex Zucc. Mitostemma glaziovii Mast. Orobanchaceae Passiflora alata Curtis Passiflora ceratocarpa F.Silveira Passiflora edulis Sims Passiflora foetida var. hirsuta Mast. Passiflora kermesina Link & Otto Passiflora miersii Mast. Passiflora misera Kunth Passiflora ovalis Vell. ex M.Roem. Passiflora rhamnifolia Mast. Passiflora silvestris Vell. Pentaphylacaceae Peraceae Phyllanthaceae Passiflora speciosa Gardner Passiflora suberosa L. Ternstroemia brasiliensis Cambess. Chaetocarpus myrsinites Baill. Pera furfuracea Müll. Arg. Pera glabrata (Schott) Poepp. ex Baill. Pera heteranthera (Schrank) I.M.Johnst. Pogonophora schomburgkiana Miers ex Benth. Hyeronima alchorneoides Allemão Hyeronima oblonga (Tul.) Müll. Arg. Margaritaria nobilis L.f. Phyllanthus cladotrichus Müll. Arg. Phyllanthus niruri L. Hábito Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Herb T Ento S Abio H Herb Herb Herb T T U,N Ento Ento Ento S S S Abio Abio Abio H H H Herb T Ento S Abio H Herb T Ento Ento S S Abio Abio H H Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio H H H H H Herb Herb Herb Arb Herb Herb Herb trep-Li trep-Li T T T,N,V N T T,U T T T,V trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li T T T,U T,U T T,U T,U N T,N Ento Ento C C Bio Bio H H Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio H H H H H H trep-Li trep-Li Arb Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv T T U,N T N T,U,N T,U T,U T,U T,N Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C S C C S Bio Bio Bio Abio Bio Abio Bio Bio Bio H H D H M M M D D D Arv Herb T T Ento, Ornito Ento, Ornito C Bio Bio M M Herb T Ento, Ornito C Bio M Status 1 1 C C FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Família Phytolaccaceae Espécie Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Herb Arv Herb Herb Arb T,U T N T,U,N T,U,V Ento Ento C C C C S Bio Abio Bio Bio H H H H H trep-Li Arv Arv T,U T T Ento Ento Ento C C C Bio Bio Bio D D D Arv Herb Herb T T T,N Ento Ento Ento C C Bio Bio D H H Herb Herb Herb Herb Herb Herb U T T,U T T T,U Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio H H H H H Herb Herb Arb Arb Arb Arb Arb Arb Arb Arb T T T T T T,N T T T,U T Ento Ento Ento Ento C C C C Bio Bio Bio Bio H H H H Ento Ento Ento C C C Bio Bio Bio H H H Piper hispidum Sw. Piper ilheusense Yunck. Arb Arb Arb Arb Arb Arb Arb Arb Arb T T,V V T V T T V T Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C C S C Bio Bio Bio Bio Bio Abio Bio Bio H H H H H H H H Piper juliflorum Nees & Mart. Arb T,U Ento C Bio H Phyllanthus tenellus Roxb. Gallesia integrifolia (Spreng.) Harms Microtea maypurensis (Kunth) G.Don Microtea paniculata Moq. Phytolacca thyrsiflora Fenzl. ex J.A.Schmidt Seguieria aculeata Jacq. Picramniaceae Piperaceae Picramnia ciliata Mart. Picramnia gardneri Planch. Picramnia ramiflora Planch. Peperomia corcovadensis Gardner Peperomia elongata Kunth Peperomia macrostachya (Vahl) A.Dietr. Peperomia magnoliifolia (Jacq.) A.Dietr. Peperomia obtusifolia (L.) A.Dietr. Peperomia pellucida (L.) Kunth Peperomia psilostachya C.DC. Peperomia psilostachya var. angustifolia C.DC. Peperomia regelii C.DC. Peperomia trinervis Ruiz & Pav. Piper aduncum L. Piper amalago L. Piper amalago var. medium (Jacq.) Yunck. Piper amplum Kunth Piper anonifolium Kunth Piper arboreum Aubl. Piper arboreum Aubl. var. arboreum Piper arboreum var. falcifolium (Trel.) Yunck. Piper arboreum var. hirtellum Yunck. Piper caldense C.DC. Piper chimonanthifolium Kunth Piper corcovadensis (Miq.) C.DC. Piper divaricatum G.Mey. Piper gaudichaudianum Kunth Piper glabribracteum Yunck. Ento Status 1 1, 2 ANGIOSPERMAS Hábito ROLIM ET AL. Família 217 218 Espécie Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Arb T Ento C Bio H Arb Arb Arb T,V T T Ento Ento Ento C C C Bio Bio Bio H H H Piper vicosanum Yunck. Achetaria ocymoides (Cham. & Schltdl.) Wettst. Achetaria platychila (Radlk.) V.C.Souza Arb Arb Herb Herb T T T,N,V U,N Ento Ento Ento Ento C C S S Bio Bio Abio Abio H H H H Achetaria scutellarioides (Benth.) Wettst. Bacopa aquatica Aubl. Herb Herb N T Ento Ento S S Abio Abio H H Bacopa stricta (Schrad.) Wettst. ex Edwall Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb V T T,V T,V V T T T T Anemo Ento Ento S S S Abio Abio Abio H H H Ento Ento Ento Ento Ento S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb V V N T N T T T T T Anemo Anemo Anemo S S S Abio Abio Abio H H H Anemo S Abio H Anemo Anemo S S Abio Abio H H Herb Herb Herb Herb Herb Herb T T,U T,U T,V T,V T,V Anemo Anemo Anemo Anemo Anemo S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H Herb Herb T,N N Anemo Anemo S S Abio Abio H H Piper klotzschianum (Kunth) C.DC. Piper mollicomum Kunth Piper ovatum Vahl Piper subrugosum Yunck. Piper umbellatum L. Plantaginaceae Callitriche deflexa A.Braun ex Hegelm. Conobea scoparioides (Cham. & Schltdl.) Benth. Scoparia dulcis L. Stemodia durantifolia (L.) Sw. Stemodia foliosa Benth. Stemodia maritima L. Plumbaginaceae Poaceae Stemodia pratensis (Aubl.) C.P.Cowan Stemodia vandellioides (Benth.) V.C.Souza Plumbago scandens L. Andropogon bicornis L. Andropogon selloanus (Hack.) Hack. Atractantha shepherdiana Santos-Gonc., Filg. & L.G. Clark Axonopus fissifolius (Raddi) Kuhlm. Cenchrus echinatus L. Cenchrus polystachios (L.) Morrone Chloris elata Desv. Chusquea bambusoides (Raddi) Hack. Chusquea oxylepis (Hack.) Ekman Colanthelia McClure & L.B.Sm. Cryptochloa capillata (Trin.) Soderstr. Cynodon dactylon (L.) Pers. Dichanthelium sciurotoides (Zuloaga & Morrone) Davidse Digitaria sejuncta (Hack. ex Pilg.) Henrard Echinolaena inflexa (Poir.) Chase Eragrostis articulata (Schrank) Nees Eragrostis ciliaris (L.) R.Br. Hábito Status 1 1 1 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Família Espécie Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb T,N T T V T V T,N Anemo S Abio H Anemo Anemo S S Abio Abio H H Anemo S Abio H Herb Herb Herb T,U T,U T,U Anemo Anemo Anemo S S S Abio Abio Abio H H H Herb Herb T,U,V T,V Anemo Anemo S S Abio Abio H H Ichnanthus riedelii (Trin.) Döll Imperata brasiliensis Trin. Lasiacis ligulata Hitchc. & Chase Luziola bahiensis (Steud.) Hitchc. Merostachys sparsiflora Rupr. Merostachys ternata Nees Ocellochloa stolonifera (Poir.) Zuloaga & Morrone Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb T,U T T,U V T,U,N T T,V Anemo Anemo Anemo S S S Abio Abio Abio H H H Anemo Anemo S S Abio Abio H H Olyra latifolia L. Oplismenus hirtellus (L.) P. Beauv. Parodiolyra micrantha (Kunth) Davidse & Zuloaga Paspalum arenarium Schrad. Paspalum conjugatum P.J.Bergius Paspalum conspersum Schrad. Paspalum corcovadense Raddi Paspalum coryphaeum Trin. Paspalum densum Poir. Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb T,U T T,U U,N N T T,N,V N T,U,N Anemo S Abio H Anemo Anemo Anemo Anemo Anemo S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H Anemo S Abio H Paspalum ligulare Nees Paspalum maritimum Trin. Paspalum millegrana Schrad. ex Schult. Paspalum molle Poir. Paspalum multicaule Poir. Paspalum nummularium Chase ex Send. & A.G.Burm. Paspalum paniculatum L. Paspalum parviflorum Rhode ex Flüggé Paspalum pilosum Lam. Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb T,U,N T T,V T N T T N Anemo S Abio H Anemo Anemo Anemo Anemo Anemo S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H Herb N Anemo S Abio H Eragrostis rufescens Schrad. ex Schult. Eremitis sp. Eriochloa punctata (L.) Desv. ex Ham. Eriochrysis cayennensis P. Beauv. Eustachys caribaea (Spreng.) Herter Hymenachne pernambucensis (Spreng.) Zuloaga Ichnanthus bambusiflorus (Trin.) Döll Ichnanthus hirtus (Raddi) Chase Ichnanthus lancifolius Mez Ichnanthus leiocarpus (Spreng.) Kunth Ichnanthus nemoralis (Schrad. ex Schult.) Hitchc. & Chase Ichnanthus pallens (Sw.) Munro ex Benth. Status 1 ANGIOSPERMAS Hábito ROLIM ET AL. Família 219 220 Espécie Hábito Fisionomia Paspalum pumilum Nees Herb T,N Anemo S Abio H Pharus lappulaceus Aubl. Pharus latifolius L. Raddia lancifolia R.P.Oliveira & Longhi-Wagner Raddia megaphylla R.P.Oliveira & Longhi-Wagner Renvoizea trinii (Kunth) Zuloaga & Morrone Rugoloa pilosa (Sw.) Zuloaga Saccharum villosum Steud. Herb T Anemo S Abio H Herb Herb Herb Herb Herb T T T N T,N Anemo Anemo Anemo Anemo Anemo S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H Herb Herb Herb V V N Anemo Anemo Anemo S S S Abio Abio Abio H H H Herb Herb T T Anemo Anemo S S Abio Abio H H Herb Herb Herb Herb Herb Herb Herb T U N T T N T Anemo Anemo Anemo Anemo Anemo Anemo Anemo S S S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H H H Arv Herb Arb Arb T U T,U,N,V T,U,N Ento, Anemo S Bio H Ento Ento C C Bio Bio H H Arb Herb trep-Li Herb T,U T T T,U,N Ento C Bio H Ento Ento C S Abio Abio H H Arb Arb trep-Li Arb Arb trep-Li trep-Li Arv T T U,N T,U,N N U T,V T Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento S S S S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H H H H Sacciolepis vilvoides (Trin.) Chase Schizachyrium sanguineum (Retz.) Alston Setaria parviflora (Poir.) Kerguélen Setaria setosa (Sw.) P.Beauv. Setaria vulpiseta (Lam.) Roem. & Schult. Sporobolus jacquemontii Kunth Steinchisma laxum (Sw.) Zuloaga Streptochaeta spicata Schrad. ex Nees Streptogyna americana C.E.Hubb. Trichanthecium cyanescens (Nees ex Trin.) Zuloaga & Morrone Trichanthecium schwackeanum (Mez) Zuloaga & Morrone Polygalaceae Polygonaceae Acanthocladus pulcherrimus (Kuhlm.) J.F.B.Pastore & D.B.O.S.Cardoso Asemeia monninoides (Kunth) J.F.B.Pastore & J.R.Abbott Bredemeyera disperma (Vell.) J.F.B.Pastore Bredemeyera hebeclada (DC.) J.F.B.Pastore Bredemeyera laurifolia (A.St.-Hil. & Moq.) Klotzsch ex A.W.Benn. Caamembeca grandifolia (A.St.-Hil. & Moq.) J.F.B.Pastore Diclidanthera laurifolia Mart. Polygala paniculata L. Securidaca coriacea Bonpl. Securidaca diversifolia (L.) S.F.Blake Coccoloba arborescens (Vell.) R.A.Howard Coccoloba declinata (Vell.) Mart. Coccoloba laevis Casar. Coccoloba parimensis Benth. Coccoloba peltata Schott Coccoloba tenuiflora Lindau Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Status 3 1 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Família Pontederiaceae Portulacaceae Potamogetonaceae Primulaceae Espécie Coccoloba warmingii Meisn. Polygonum acuminatum Kunth Ruprechtia latifunda Pendry Eichhornia azurea (Sw.) Kunth Portulaca mucronata Link Portulaca oleracea L. Potamogeton linguatus Hagstr. Potamogeton montevidensis A.Benn. Clavija caloneura Mart. Cybianthus blanchetii (A.DC.) G.Agostini Cybianthus brasiliensis (Mez) G.Agostini Cybianthus nitidus Miq. Proteaceae Putranjivaceae Quiinaceae Ranunculaceae Rhamnaceae Rosaceae Rubiaceae Myrsine coriacea (Sw.) R.Br. ex Roem. & Schult. Myrsine guianensis (Aubl.) Kuntze Myrsine leuconeura Mart. Myrsine rubra M.F.Freitas & Kin.-Gouv. Roupala sp. Drypetes sessiliflora Allemão Lacunaria crenata subsp. decastyla (Radlk.) J.V. Schneid. & Zizka Quiina glazovii Engl. Clematis dioica L. Gouania blanchetiana Miq. Rhamnidium glabrum Reissek Ziziphus glaziovii Warm. Prunus brasiliensis (Cham. & Schltdl.) D.Dietr. Alibertia sp. Alseis involuta K.Schum. Amaioua guianensis Aubl. Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Arv Herb T T,V Ento Ento S S Abio Abio H H Arv Herb Herb T,U V T,U,N Ento Ento Ento S S S Abio Abio Abio H D H Herb Herb Herb Arb T V V T Ento Anemo Anemo Anemo S S S C Abio Bio Bio H H H H Arb Arb T T,N,V Arb Arv Arv Arv Arv Arv Arv T T N,V T,V T,V T T Arv Arv T T trep-Li trep-Li Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arb Herb Herb Herb Herb Herb Arv Status H Anemo Anemo Anemo C C C Bio Bio Abio Abio H H H H H T,N T T T T T,V T T T,U,N Ento Ento Ento Ento Ento S C C C C Abio Bio Bio Bio Bio D H D D H Ento Ento Ento C C C Bio Bio Bio H H D T U,N U T T,N,V T,U,N,V T Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento C S S S S S S Bio Abio Abio Abio Abio Abio Bio D H H H H H H 2 2 ANGIOSPERMAS Amaioua intermedia Mart. ex Schult. & Schult.f. Bathysa stipulata (Vell.) C.Presl Borreria capitata (Ruiz & Pav.) DC. Borreria cupularis DC. Borreria latifolia (Aubl.) K.Schum. Borreria ocymifolia (Roem. & Schult.) Bacigalupo & E.L.Cabral Borreria verticillata (L.) G.Mey. Calycophyllum papillosum J.H.Kirkbr. Hábito ROLIM ET AL. Família 221 222 Espécie Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Status Herb T Ento C Bio H 2 Arb Arv Herb T,U,N T V Ento Ento Ento C C C Bio Bio Bio H H H Coccocypselum cordifolium Nees & Mart. Cordiera concolor (Cham.) Kuntze Cordiera mussunungae C. Perss. & Delprete Herb Herb Arv Arv T,N,V T,U T,U U,N Ento Ento Ento Ento C C C C Bio Bio Abio Abio H H H H Coussarea contracta (Walp.) Müll. Arg. Coussarea leptopus Müll. Arg. Arv Arv T T Ento Ento C S Bio Bio H H Coutarea hexandra (Jacq.) K.Schum. Arv T,U Ento C Bio H Herb Herb Arv Arb Arv Arb Arv T,U,N T T U,N,V T T T Ento C Bio H Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio H H D H H H Carapichea ipecacuanha (Brot.) L.Andersson Chiococca nitida Benth. Chomelia pubescens Cham. & Schltdl. Coccocypselum anomalum K.Schum. Coccocypselum capitatum (Graham) C.B.Costa & Mamede Declieuxia tenuiflora (Willd. ex Roem. & Schult.) Steyerm. & J.H.Kirkbr. Diodella teres (Walter) Small Duroia valesca C.H.Perss. & Delprete Emmeorhiza umbellata (Spreng.) K.Schum. Faramea atlantica J.G.Jardim & Zappi Faramea axilliflora DC. Faramea bahiensis Müll. Arg. Faramea multiflora A.Rich. ex DC. Faramea pachyantha Müll. Arg. Ferdinandusa guainiae Spruce ex K.Schum. Genipa infundibuliformis Zappi & Semir Geophila repens (L.) I.M.Johnst. Guettarda angelica Mart. ex Müll. Arg. Guettarda viburnoides Cham. & Schltdl. Hamelia patens Jacq. Hillia illustris (Vell.) K.Schum. Ixora brevifolia Benth. Ixora pubescens Willd. ex Schult. & Schult.f. Ladenbergia hexandra (Pohl) Klotzsch Margaritopsis cephalantha (Müll. Arg.) C.M.Taylor Margaritopsis chaenotricha (DC.) C.M.Taylor Melanopsidium nigrum Colla Mitracarpus frigidus (Willd. ex Roem. & Schult.) K.Schum. Mitracarpus frigidus (Willd. ex Roem. & Schult.) K.Schum. var. frigidus Hábito Arb Arv Arv Arv Herb Arv Arv Arb trep-Li Arv T T T,U T T T,U U T T T Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio H H H H H H H Ento C Bio H Arv Arv Arb Arb Arv Herb T T T,N T T N Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio H H H H H D Herb T,V 2 1 2 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Família Espécie Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Herb Arv Herb Arb Arb Arb Arb N T V U,N T,U,N T T Ento Ento Ento Ento C C C C Bio Bio Bio Bio H D H H Arb Herb Arv T T,N T,N Ento Ento Ento C C C Bio Bio Bio H H H Arb Arv U,N T Ento Ento C C Bio Bio H H Psychotria deflexa DC. Psychotria exannulata Müll.Arg. Psychotria gracilenta Müll. Arg. Psychotria hoffmannseggiana (Willd. ex Schult.) Müll. Arg. Psychotria iodotricha Müll. Arg. Psychotria lupulina Benth. Psychotria mapourioides DC. Arb Arb Arb Arb Herb Arb Arv T T T,U T T T T,N,V Ento C Bio H Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio H H H H H Psychotria myriantha Müll. Arg. Psychotria ruelliifolia (Cham. & Schltdl.) Müll. Arg. Psychotria stachyoides Benth. Randia armata (Sw.) DC. Randia calycina Cham. Richardia brasiliensis Gomes Richardia grandiflora (Cham. & Schltdl.) Steud. Richardia scabra L. Rudgea coronata (Vell.) Müll.Arg. Herb Arb Arb Arv Arv Herb Herb Herb Arb T,N T T,N,V T T U T T T,U Ento C Bio H Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio H H H H H H H Rudgea francavillana Müll. Arg. Rudgea minor (Cham.) Standl. Rudgea reticulata Benth. Rudgea sessilis (Vell.) Müll.Arg. Sabicea cinerea Aubl. Simira eliezeriana Peixoto Simira glaziovii (K.Schum.) Steyerm. Simira grazielae Peixoto Simira sampaioana (Standl.) Steyerm. Arb Arb Arv Arb trep-Li Arv Arv Arv U,N N T U,N T,V U T T Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio H H H H H H H H T Ento C Bio H Mitracarpus salzmannianus DC. Molopanthera paniculata Turcz. var. paniculata Oldenlandia salzmannii (DC.) Benth. & Hook.f. ex B.D.Jacks. Pagamea guianensis Aubl. Palicourea blanchetiana Schltdl. Palicourea fulgens (Müll. Arg.) Standl. Palicourea macrobotrys (Ruiz & Pav.) Schult. Palicourea marcgravii A.St.-Hil. Perama hirsuta Aubl. Posoqueria latifolia (Rudge) Schult. Psychotria bahiensis DC. Psychotria carthagenensis Jacq. Arv Status 2 2 1 1 3 1, 2, 3 ANGIOSPERMAS Hábito ROLIM ET AL. Família 223 224 Rutaceae Espécie Simira walteri Silva Neto & Callado Tocoyena brasiliensis Mart. Tocoyena bullata (Vell.) Mart. Almeidea lilacina A.St.-Hil. Almeidea rubra A.St.-Hil. Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Bio Abio Abio H H H Arv T Arv Arb Arv T,U T,N T Ento Ento Ento C C S Arv Arv Arb Arv T T T T Ento Ento Ento Ento S Angostura bracteata (Nees & Mart.) Kallunki Conchocarpus cyrtanthus Kallunki Conchocarpus heterophyllus (A. St.-Hil.) Kallunki & Pirani Conchocarpus longifolius (A. St.-Hil.) Kallunki & Pirani Conchocarpus macrophyllus J.C.Mikan Arb Arb T,U T Ento Conchocarpus marginatus (Rizzini) Kallunki & Pirani Arb Arv Arv Arv Arb Arv Arv Arv Arv T T,U T T,U,N T T T T T Ento Ento Ento Ento Ento Ento, Ornito Ento Ento Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv T,U T T,U,N T,U T,U T T T T,U T Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Arv Arv Arv Arv Arv Arv T,U T T T T,U,N T,U Arv Arv T T,U Dictyoloma vandellianum A.Juss. Esenbeckia grandiflora Mart. Esenbeckia grandiflora Mart. subsp. grandiflora Galipea jasminiflora (A.St.-Hil.) Engl. Galipea laxiflora Engl. Hortia brasiliana Vand. ex DC. Metrodorea nigra A.St.-Hil. Neoraputia alba (Nees & Mart.) Emmerich ex Kallunki Neoraputia magnifica (Engl.) Emmerich ex Kallunki Pilocarpus grandiflorus Engl. Pilocarpus riedelianus Engl. Pilocarpus spicatus A.St.-Hil. Rauia nodosa (Engl.) Kallunki Ravenia infelix Vell. Spiranthera atlantica Pirani Zanthoxylum acuminatum subsp. juniperinum (Poepp.) Reynel Salicaceae Hábito Zanthoxylum rhoifolium Lam. Zanthoxylum tingoassuiba A.St.-Hil. Banara brasiliensis (Schott) Benth. Casearia aculeata Jacq. Casearia arborea (Rich.) Urb. Casearia bahiensis Sleumer Casearia commersoniana Cambess. Casearia decandra Jacq. Casearia javitensis Kunth Casearia oblongifolia Cambess. Status H H H H H Abio Abio S S S S Abio Abio Abio H H H H H H H H S S S S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H H H H D D Anemo Anemo Ento, Anemo Ento, Anemo Ento, Anemo Ento, Anemo S C S S S C Bio Abio Abio Abio Bio Abio D D D H D D Ento, Anemo Ento, Anemo S S Abio Bio H D 1, 2, 3 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Família Espécie Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Arv Arv Arv Arv Arv Arb Arv T T T,U T T T T Ento, Anemo C Abio H Ento, Anemo Ento, Anemo Ento S S S S Abio Abio Abio Abio H H D D D Herb Herb Herb T T U,N Ento Ento Ento C C C Bio Bio Bio D D D Herb Arv T,N T Ento Ento C S Bio Abio D D Allophylus leucoclados Radlk. Allophylus petiolulatus Radlk. Cupania bracteosa Radlk. Cupania emarginata Cambess. Cupania oblongifolia Mart. Cupania racemosa (Vell.) Radlk. Cupania rugosa Radlk. Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv T T T T,U,N T T,U T Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento S S S S S S S Abio Abio Bio Bio Bio Bio Bio D D M M M M M Cupania scrobiculata Rich. Cupania vernalis Cambess. Cupania zanthoxyloides Radlk. Dilodendron bipinnatum Radlk. Matayba discolor (Spreng.) Radlk. Matayba guianensis Aubl. Matayba sylvatica (Casar.) Radlk. Melicoccus espiritosantensis Acev.-Rodr. Melicoccus oliviformis subsp. intermedius (Radlk.) Acev.-Rodr. Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv T T T,U T,U T,U,N T,N U T T Ento Ento Ento S S S Bio Bio Bio M M M Ento Ento Ento Ento Ento S S S S S Bio Bio Bio Bio Bio M M M M M Paullinia carpopoda Cambess. Paullinia coriacea Casar. Paullinia ferruginea Casar. Paullinia olivacea Radlk. Paullinia revoluta Radlk. Paullinia rubiginosa Cambess. Paullinia ternata Radlk. Paullinia weinmanniifolia Mart. Pseudima frutescens (Aubl.) Radlk. trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li T,N T T T T,U,N T T,U T,V Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento S S S S S S S S Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio M M M M M M M M T Ento S Bio M Casearia pauciflora Cambess. Casearia pitumba Sleumer Casearia sylvestris Sw. Casearia ulmifolia Vahl ex Vent. Macrothumia kuhlmannii (Sleumer) M.H.Alford Prockia crucis P.Browne ex L. Santalaceae Sapindaceae Xylosma prockia (Turcz.) Turcz. Phoradendron coriaceum Mart. ex Eichler Phoradendron piperoides (Kunth) Trel. Phoradendron pteroneuron Eichler Phoradendron quadrangulare (Kunth) Griseb. Allophylus edulis (A.St.-Hil. et al.) Hieron. ex Niederl. Arv Status 1, 2 2 ANGIOSPERMAS Hábito ROLIM ET AL. Família 225 226 Espécie Serjania caracasana (Jacq.) Willd. Serjania clematidifolia Cambess. Serjania communis Cambess. Serjania communis Cambess. var. communis Serjania dentata (Vell.) Radlk. Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual trep-Li T,U Ento S Bio M trep-Li trep-Li trep-Li T T,U T,U Ento Ento Ento S S S Bio Bio Bio M M M Serjania glutinosa Radlk. Serjania laruotteana Cambess. Serjania piscatoria Radlk. trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li T,U T,U T,N T Ento Ento Ento Ento S S S S Bio Bio Bio Bio M M M M Serjania salzmanniana Schltdl. Talisia cupularis Radlk. trep-Li Arv T,U,N T Ento Ento S S Bio Bio M M Thinouia mucronata Radlk. trep-Li trep-Li Arv trep-Li trep-Li trep-Li trep-Li Herb Arv T T,U T T T,U T T T T Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento S S S S S S S S S Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio M M M M M M M M M Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv T T,U T,U T T T T T T T,U Quirop Quirop Quirop Quirop Quirop Ento Ento Quirop Quirop C C C C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio M H H H H H H H H Arv Arv Arv Arv Arv Arv U,N U,N T T T T,U Ento, Quirop Quirop Ento Ento C C C C Bio Bio Bio Bio H H D H Ento C Bio D Arv Arv T T Ento C Bio D Thinouia scandens Triana & Planch. Toulicia patentinervis Radlk. Urvillea laevis Radlk. Urvillea rufescens Cambess. Urvillea stipularis Ferrucci Urvillea triphylla (Vell.) Radlk. Sapotaceae Hábito Urvillea ulmacea Kunth Vouarana guianensis Aubl. Chrysophyllum gonocarpum (Mart. & Eichler ex Miq.) Engl. Chrysophyllum januariense Eichler Chrysophyllum lucentifolium Cronquist subsp. lucentifolium Chrysophyllum ovale Rusby Chrysophyllum splendens Spreng. Diploon cuspidatum (Hoehne) Cronquist Ecclinusa ramiflora Mart. Manilkara elata (Allemão ex Miq.) Monach. Manilkara salzmannii (A.DC.) H.J.Lam Manilkara sp. nov. (D.A.Folli 222) Manilkara subsericea (Mart.) Dubard Manilkara triflora (Allemão) Monach. Micropholis crassipedicellata (Mart. & Eichler) Pierre Micropholis gardneriana (A.DC.) Pierre Micropholis gnaphaloclados (Mart.) Pierre Micropholis venulosa (Mart. & Eichler) Pierre Pouteria bangii (Rusby) T.D.Penn. Pouteria bapeba T.D.Penn. Status 2 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Família Espécie Hábito Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv T T T T,U T,U T T Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio D 2 M M D D D 2 Arv Arv Arv T T,U T Ento Ento C C Bio Bio H D 2 Arv Arv T T,U,N Ento Ento C C Bio Bio D D Pouteria macrophylla (Lam.) Eyma Pouteria microstrigosa T.D.Penn. Pouteria oblanceolata Pires Pouteria pachycalyx T.D.Penn. Pouteria psammophila (Mart.) Radlk. Pouteria reticulata (Engl.) Eyma Pouteria venosa subsp. amazonica T.D.Penn. Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv T T T T,U T,U T T,U Ento Ento C C Bio Bio D D Ento Ento Ento C C C Bio Bio Bio D M H Pradosia lactescens (Vell.) Radlk. Pradosia verrucosa Ducke Schoepfia brasiliensis A.DC. Simaba cedron Planch. Simaba subcymosa A.St.-Hil. & Tul. Simarouba amara Aubl. Siparuna guianensis Aubl. Siparuna reginae (Tul.) A.DC. Smilax brasiliensis Spreng. Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv Arv trep-Li T T T,U,N T T,U T,U T,U T,U T,U,N,V Ento Ento C C Bio Bio M M Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C C Bio Bio Bio C Bio Bio H H H D D D Smilax remotinervis Hand.-Mazz. Smilax spicata Vell. Aureliana fasciculata (Vell.) Sendtn. Brunfelsia clandestina Plowman Capsicum baccatum L. Cestrum retrofractum Dunal Markea atlantica Stehmann & Giacomin Schwenckia americana Rooyen ex L. Solanum acerifolium Dunal trep-Li trep-Li Arv Arb Arb Arb Herb Herb T,U T,N T T T T T,U T,U Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio Ento C Bio D D D H H H H H T Ento C Bio H Pouteria bilocularis (H.K.A.Winkl.) Baehni Pouteria bullata (S.Moore) Baehni Pouteria butyrocarpa (Kuhlm.) T.D.Penn. Pouteria caimito (Ruiz & Pav.) Radlk. Pouteria coelomatica Rizzini Pouteria cuspidata (A.DC.) Baehni Pouteria durlandii (Standl.) Baehni Pouteria filipes Eyma Pouteria gardneri (Mart. & Miq.) Baehni Pouteria grandiflora (A.DC.) Baehni Pouteria guianensis Aubl. Pouteria macahensis T.D.Penn. Schoepiaceae Simaroubaceae Siparunaceae Smilacaceae Solanaceae 2 2 2, 3 1 1, 2 ANGIOSPERMAS Arb Status ROLIM ET AL. Família 227 228 Espécie Talinaceae Thymelaeaceae Trigoniaceae Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual T Ento C Bio H Herb Arb Arb T T T Ento Ento Ento C C C Bio Bio Bio H H H Solanum cordifolium Dunal Solanum depauperatum Dunal Solanum didymum Dunal Arv Arb Herb Arv T T,U,V T T Ento Ento Ento Ento C C C C Bio Bio Bio Bio H H H H Solanum evonymoides Sendtn. Solanum insidiosum Mart. Arb Arb U T Ento C Bio H Solanum lacteum Vell. Arb Arb Arv Herb Herb Herb Arv Herb Arb T T T,U T T T T,U T T,U Ento Ento C C Bio Bio Ento Ento C C Bio Bio Ento Ento C C Bio Bio H H H H H H H H Arv Arv Arb Arb Arb Arv Arv Arv Arv Arv T T T U T,N T T T T T Herb Herb Arv Arb trep-Li trep-Li N T T,N T,V T T trep-Li trep-Li T T,U,N Solanum mauritianum Scop. Solanum melissarum Bohs Solanum palinacanthum Dunal Solanum paniculatum L. Solanum polytrichum Moric. Solanum pseudoquina A.St.-Hil. Symplocaceae Fisionomia trep-Li Solanum alternatopinnatum Steud. Solanum americanum Mill. Solanum asperum Rich. Solanum asterophorum Mart. Solanum campaniforme Roem. & Schult. Stemonuraceae Styracaceae Hábito Solanum reptans Bunbury Solanum restingae S.Knapp Solanum scuticum M.Nee Solanum sooretamum Carvalho Solanum swartzianum Roem. & Schult. Solanum sycocarpum Mart. & Sendtn. Solanum thomasiifolium Sendtn. Discophora guianensis Miers Styrax glabratus Schott Styrax latifolius Pohl Symplocos estrellensis Casar. Symplocos pycnobotrya Mart. ex Miq. Talinum paniculatum (Jacq.) Gaertn. Talinum triangulare (Jacq.) Willd. Daphnopsis racemosa Griseb. Funifera sp. Trigonia bahiensis E.F.Guim. & Miguel Trigonia eriosperma (Lam.) Fromm & Santos Trigonia laevis Aubl. Trigonia nivea Cambess. var. nivea Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C S S Bio Bio Bio Bio Bio Abio Bio H H H H H H H H Ento C Abio H Ento Ento S S Abio Abio D H Status 2 1 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Família Espécie Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual trep-Li Arv Herb Herb Herb Herb Arv T T T T T T,V T Ento Ento Ento, Anemo Ento Ento S S C C C Abio Bio Bio Bio Bio H H H H H Ento S Bio H Herb Arv Arv V T,U T Ento Ento, Anemo Ento C C S Abio Bio Bio H D H Arv Arv T T Ento, Anemo Anemo C C Bio Bio D D Coussapoa microcarpa (Schott) Rizzini Laportea aestuans (L.) Chew Pourouma guianensis Aubl. subsp. guianensis Pourouma mollis Trécul subsp. mollis Pourouma velutina Mart. ex Miq. Urera nitida (Vell.) P.Brack Citharexylum laetum Hiern Arv Arb Arv Arv Arv Arb Arv T,U,V V T T T T,U T Ento, Anemo Ento, Anemo C C Bio D M Ento Anemo Ento C C Bio Bio Bio M D H Lantana camara L. Lantana fucata Lindl. Lantana horrida Kunth Lantana undulata Schrank Lippia brasiliensis (Link) T.R.S.Silva Lippia origanoides Kunth Priva bahiensis A.DC. Stachytarpheta canescens Kunth Stachytarpheta cayennensis (Rich.) Vahl Arb Arb Arb Arb Arb Arb Herb Arb Herb T,U T,U,N U T T N T N T,U Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento Ento C C C C C C C C C Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio Bio Abio H H H H H H H H H Amphirrhox longifolia (A.St.-Hil.) Spreng. Anchietea selloviana Cham. & Schltdl. Noisettia orchidiflora (Rudge) Ging. Paypayrola blanchetiana Tul. Pombalia calceolaria (L.) Paula-Souza Rinorea bahiensis (Moric.) Kuntze Rinorea maximiliani (Eichler) Kuntze Schweiggeria fruticosa Spreng. Cissus blanchetiana Planch. Arv trep-Li Arb Arv Herb Arv Arv Arv T T,N T T T,U T,U T T Ento Ento Ento Ento S S S S Abio Abio Abio Abio H H H H Ento S Abio H Ento S Bio H trep-Li T Ento C Bio H Turneraceae Typhaceae Turnera ulmifolia L. Typha sp. Turnera lucida Urb. Ulmaceae Urticaceae Ampelocera glabra Kuhlm. Boehmeria cylindrica (L.) Sw. Cecropia glaziovii Snethl. Cecropia hololeuca Miq. Cecropia pachystachya Trécul Coussapoa curranii S.F.Blake Verbenaceae Violaceae Vitaceae Status 1, 2 1 ANGIOSPERMAS Fisionomia Trigonia rytidocarpa Casar. Trigoniodendron spiritusanctense E.F.Guim. & Miguel Piriqueta viscosa Griseb. Hábito ROLIM ET AL. Família 229 230 Espécie Cissus erosa Rich. Cissus nobilis Kuhlm. Cissus paucinervia Lombardi Cissus paulliniifolia Vell. Cissus pulcherrima Vell. Vochysiaceae Cissus stipulata Vell. Cissus verticillata (L.) Nicolson & C.E.Jarvis subsp. verticillata Erisma arietinum M.L.Kawas. Qualea cryptantha (Spreng.) Warm. Qualea magna Kuhlm. Qualea megalocarpa Staleu Xyridaceae Qualea multiflora subsp. pubescens (Mart.) Staleu Vochysia angelica M.C.Vianna & Fontella Vochysia gummifera Mart. ex Warm. Vochysia laurifolia Warm. Xyris bialata Malme Xyris ciliata Thunb. Xyris jupicai Rich. Xyris savanensis Miq. Para detalhes das características funcionais ver Tobón et al. (2016). Hábito Fisionomia Polinização Fruto Dispersão Sist. Sexual Herb U,N Ento C Bio H Herb Herb U T Ento Ento C C Bio Bio H H 1 1 Herb Herb Herb T T,U T,U,N Ento Ento Ento C C C Bio Bio Bio H H H 1 Herb Arv Arv Arv T,U,N T T T Ento Ento Ento C S S Abio Abio Abio H H H H Arv Arv T T Ento Ento S S Abio Abio H H Arv Arv Arv Herb Herb Herb Herb T T T N U,N N,V N Ento S S S S S S S Abio Abio Abio Abio Abio Abio Abio H H H H H H H Ento Ento Ento Ento Ento Status 1, 2, 3 1, 2 1, 2 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Família FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE 12 BRIÓFITAS DA RESERVA NATURAL VALE, LINHARES/ES, BRASIL Olga Yano INTRODUÇÃO Para o Estado do Espírito Santo, o primeiro trabalho que referiu os musgos Neckeropsis disticha (Hedw.) Broth. e Squamidium turgidulum (Müll. Hal.) Broth. (= S. macrocarpum (Spruce ex Mitt.) Broth. foi Luetzelburg (1923), para o rio Mutum. Em seguida, Brotherus (1924) listou seis musgos para Mimoso do Sul coletados por E. Ule, que são: Pirea (Pireella) pohlii (Schwägr.) Cardot, Meteoriopsis recurvifolia (Hornsch.) Broth. (= Zelometeorium patulum (Hedw.) Manuel), Pilosium chlorophyllum (Hornsch.) Müll. Hal., Hookeriopsis incurva (Hook. & Grev.) Broth. (= Thamniopsis incurva (Hornsch. in Nees) W.R. Buck), Lepidopilidium brevisetum (Hampe) Broth. e Trichosteleum papillosum (Hornsch.) A. Jaeger. Herzog (1925) listou Syrrhopodom rivularis Herzog (= Calymperes othmeri Herzog) para Cachoeira do Rio Doce, coleta de Luetzelburg. Estes trabalhos não fazem referência à Reserva Natural Vale. Trabalhos mais recentes, tratando de espécies coletadas no Espírito Santo incluem Schäfer-Verwimp (1991), Behar et al. (1992), Gradstein (1994), Gradstein & Costa (2003), Visnadi & Vital (1995) e Yano & Mello (2002). Com isto, o Estado do Espírito Santo conta com o registro de 531 táxons de brióitas distribuídos em 81 famílias e 219 gêneros, sendo três táxons de antóceros (Anthocerotophyta), 286 de musgos (Bryophyta) e 242 de hepáticas (Marchantiophyta). Para a Reserva Natural Vale, destacam-se os trabalhos de Costa & Silva (2003), Yano (2005) e Yano & Peralta (2008); este último lista apenas dois táxons. O objetivo do presente trabalho é listar as brióitas da Reserva Natural Vale e veriicar a diversidade e a sua distribuição geográica no Estado. MATERIAL E MÉTODOS As coletas na Reserva Natural Vale foram realizadas nas estradas Bomba d’Água, Flamengo, Gávea, Macanaíba, Mantegueira e nas matas ao redor das casas (administração e alojamentos). O material coletado na Reserva se encontra nos seguintes herbários: Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (RB), coletado por D.P. da Costa em 1996, no Herbário Cientíico do Estado “Maria Eneyda P. Kauffmann Fidalgo” (SP), do Instituto de Botânica, duas coleções de O. Yano & P.G. Windisch em 1992 e O. Yano & Z.R. de Mello em 2000 e no Herbário da Universidade Santa Cecília (HUSC) em Santos, coleção de Z.R. de Mello em 2000. O sistema de classiicação está de acordo com Crandall-Stotler & Stotler (2000) para as Marchantiophyta e Buck & Gofinet (2000) para as Bryophyta. A distribuição geográica no estado do Espírito Santo e da Reserva foi baseada, especialmente, nos trabalhos de Yano (1981; 1984; 1989; 1995; 2006; 2010; 2011; 2012; 2013; 2014). As espécies estão listadas em ordem alfabética dentro 231 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE das famílias e divisão às quais pertencem. Os asteriscos (*) indicam ocorrência apenas no Brasil. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na Reserva Natural Vale foram encontrados 156 táxons de brióitas distribuídos em 32 famílias e 68 gêneros, sendo 67 táxons de musgos (Bryophyta) e 89 de hepáticas (Marchantiophyta), correspondendo a cerca de 29,6% do total de brióitas do Estado. BRYOPHYTA Brachytheciaceae Squamidium brasiliense (Hornsch.) Broth. in Engler & Prantl, Natürl. Pflanzenfam. 1(3): 809. 1906. Distribuição no Brasil: BA, CE, ES, MG, PE, PR, RJ, RS, SC, SE e SP. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Linhares, Reserva Natural Vale; Serra, Estação Biológica de Mestre Álvaro; Vargem Alta. Squamidium leucotrichum (Taylor) Broth. in Engler & Prantl, Natürl. Planzenfam. 1(3): 809. 1906. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, BA, CE, ES, MG, PA, PE, PR, RJ, RR, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Linhares,Reserva Natural Vale. Zelometeorium ambiguum (Hornsch.) Manuel, J. Hattori Bot. Lab. 43: 113. 1977. Distribuição no Brasil: AC, AM, ES, MG, PR, RJ, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Linhares, Reserva Natural Vale. Zelometeorrium patens (Hook.) Manuel, J. Hattori Bot. Lab. 43: 116. 1977. Distribuição no Brasil: ES, MG, PE, RJ e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Zelometeorium patulum (Hedw.) Manuel, J. Hattori Bot. Lab. 43: 118. 1977. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, AP, BA, CE, ES, GO, MG, MS, MT, PA, P E, PR, RJ, RO, RR, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul, Vale das Orquídeas; Santa Tereza, Estação Biológica da Caixa D’Água; Linhares, Reserva Natural Vale; Mimoso; Serra, Estação Biológica de Mestre Álvaro. Bruchiaceae Trematodon longicollis Michx. var. longicollis, 232 Flora Bor. Amer. 2: 289. 1803. Distribuição no Brasil: AM, DF, ES, GO, MG, PE, PR, RJ, RO, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Reserva Florestal Pedra Azul, Linhares, Reserva Natural Vale; Santa Tereza, Rio Timbuí; Vale Verde do Itapemirim; Ubú. Bryaceae Bryum paradoxum Schwägr., Spec. Musc. Frond. Suppl. 3(1): 224a. 1827. Distribuição no Brasil: BA, CE, DF, ES, GO, MT, PA, PI, PR, RJ, RR, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Guarapari; Linhares, Reserva Natural Vale; Ubú. Bryum roseolum Müll. Hal., Linnaea 42: 287. 1879. Distribuição no Brasil: BA, ES, MG, PA, PE, PR, RJ, RS e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Rhodobryum beyrichianum (Hornsch.) Müll. Hal. in Hampe, Vidensk. Meddel. Dansk Naturhist. Foren. Kjøbenhavn. ser. 3, 6: 146. 1875. Distribuição no Brasil: AL, BA, DF, ES, MG, MT, PE, PR, RJ, RO, RR, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Morro do Cruzeiro; Linhares, Reserva Natural Vale. Calymperaceae Calymperes erosum Müll. Hal., Linnaea 21: 182. 1848. Distribuição no Brasil: AC, AM, AP, BA, CE, ES, GO, MG, MT, PA, PB, PE, RJ, RO, RR, SP e TO. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Calymperes levyanum Besch., Ann. Sci. Nat. Bot. sér. 8, 1: 290. 1896. Distribuição no Brasil: AM, DF, ES, MT e PA. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Calymperes lonchophyllum Schwägr., Spec. Musc. Frond. Suppl. 1: 333. 1816. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, AP, BA, ES, MT, PA, PE, PR, RJ, RO, RR e SP. Ocorre no Espírito Santo: Jaguaré; Linhares, Reserva Natural Vale. Calymperes othmeri Herzog, Archivos Bot. Est. São Paulo 1(2): 60. 1925. Distribuição no Brasil: AM, ES, PA, RO e SP. Ocorre no Espírito Santo: Cachoeira do Rio Doce, Salto Lure; Linhares, Reserva Natural Vale. Calymperes palisotii Schwägr., Spec. Musc. Frond. Suppl. 1(2): 334. 1816. Distribuição no Brasil: AL, AM, AP, BA, CE, ES, FN, GO, MA, MT, YANO BRIÓFITAS A B C D E F G H Figura 1: A) Campylopus trachyblepharon; B) Holomitrium arboreum; C) Leucobryum martianum; D) Neckeropsis undulata; E) Octoblepharum albidum; F) Octoblepharum pulvinatum; G) Scholotheimia rugifolia, H) Racopilum tormentosum. 233 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE PA, PB, PE, PI, RJ, RN, RO, RR, SE, SP e TO. Ocorre no Espírito Santo: Aracruz; Colatina; Guarapari, Parque Estadual de Setiba, Nova Guarapari; Santa Cruz, Bairro Coqueiral; Serra, Estação Biológica de Mestre Álvaro; Vila Velha, Morro da Penha; Vitória, restinga Camburi; Piúma. *Syrrhopodon brasiliensis Reese, Bryologist 86(4): 354. 1983. Distribuição no Brasil: ES, MG e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Syrrhopodon ligulatus Mont., Syll. Gen. Spec. Crypt.: 47. 1856. Distribuição no Brasil: AL, AM, AP, BA, CE, DF, ES, GO, MG, MS, MT, PA, PE, RJ, RO, RR e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Syrrhopodon parasiticus (Brid.) Besch. var. parasiticus, Ann. Sci. Nat. Bot. sér. 8, 1: 298. 1895. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, BA, CE, DF, ES, GO, MG, MS, MT, PA, PE, PR, RJ, RO, RR, RS, SC, SP e TO. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Venda Nova; Linhares, Reserva Natural Vale. Syrrhopodon prolifer Schwägr. var. prolifer, Spec. Musc. Frond. Suppl. 2(2): 99. 1827. Distribuição no Brasil: AL, AM, AP, BA, CE, DF, ES, GO, MG, MT, PA, PE, PI, PR, RJ, RO, RS, SC, SE, SP e TO. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Linhares, Reserva Natural Vale; Santa Tereza, Rio Timbuí; Serra, Estação Biológica de Mestre Álvaro. Syrrhopodon prolifer Schwägr. var. tenuifolius (Sull.) Reese, Bryologist 81(2): 199. 1978. Distribuição no Brasil: BA, ES, MG, PE, RJ, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Linhares, Reserva Natural Vale; Serra, Estação Biológica de Mestre Álvaro. Syrrhopodon rigidus Hook. & Grev., Edinburgh J. Sci. 3: 226. 1825. Distribuição no Brasil: AL, AM, AP, ES, GO, MS, MT, PA, RJ, RO, RR e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Dicranaceae Campylopus occultus Mitt., J. Linn. Soc. Bot. 12: 86. 1869. Distribuição no Brasil: BA, DF, ES, GO, MA, MG, MS, PA, PR, RJ, RR, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul, Venda Nova; Linhares, Reserva Natural Vale. 234 Campylopus pilifer Brid., Mant. Musc.: 72. 1819. Distribuição no Brasil: AL, AM, BA, CE, DF, ES, MG, MT, PA, PE, PR, RJ, RR, RS e SP. Ocorre no Espírito Santo: Castelo, Serra do Forno Grande; Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Guarapari, Parque Estadual de Setiba; Linhares, Reserva Natural Vale; Santa Tereza. Campylopus trachyblepharon (Müll. Hal.) Mitt., J. Linn. Soc. Bot. 12: 80. 1869. Distribuição no Brasil: AM, BA, ES, GO, MG, MT, PE, PR, RJ, RS, SC, SE, SP e TO. Ocorre no Espírito Santo: Guarapari, Setiba; Aracruz, Barrra do Riacho; Linhares, Reserva Natural Vale; Piúma; Serra; Santa Tereza, Nova Lombardia; Ponta da Fruta. Holomitrium arboreum Mitt., J. Linn. Soc. Bot. 12: 5. 1869. Distribuição no Brasil: AM, BA, ES, GO, MG, PA, PE, RJ, RO, RR, RS e SP. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Linhares, Reserva Natural Vale. Leucoloma serrulatum Brid., Bryol. Univ. 2: 752. 1827. Distribuição no Brasil: AL, BA, DF, ES, MG, PE, RJ e SP. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Linhares, Reserva Natural Vale; Serra, Estação Biológica Mestre Álvaro; Santa Tereza, Vale das Bençãos. Fissidentaceae Fissidens elegans Brid., Musc. Recent. Suppl. 1: 167. 1806. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, BA, DF, ES, GO, RN, MA, MG, MS, MT, PA, PB, PE, PI, PR, RJ, RO, RR, RS, SC, SP e TO. Ocorre no Espírito Santo: Ilha da Trindade; Domingos Martins, Reserva Florestal Pedra Azul; Itapemirim, Ilha dos Franceses; Linhares, Reserva Natural Vale. Fissidens guianensis Mont. var. guianensis, Ann. Sci. Nat. Bot. sér. 2, 14: 340. 1840. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, AP, BA, CE, DF, ES, GO, MA, MG, MS, MT, PA, PB, PE, PI, PR, RJ, RO, RR, RS, SC, SP e TO. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale; Ilha do Francês. Fissidens prionodes Mont. var. prionodes, Ann. Sci. Nat. Bot. sér. 2, 3: 200. 1835. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, CE, GO, MT, PA, RO e RR. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Fissidens radicans Mont., Ann. Sci. Nat. Bot. sér. 2, 14: 345. 1840. Distribuição no Brasil: AL, BA, CE, ES, MA, MS, PA, PB, PE, PI, PR, RJ, RS, SE e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural YANO Vale; Santa Tereza, Vale das Bençãos. Fissidens scariosus Mitt., J. Linn. Soc. Bot. 12: 599. 1869. Distribuição no Brasil: AM, BA, ES, MA, MG, PA, PE, PR, RJ, RO, RR, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Linhares, Reserva Natural Vale. Fissidens weirii Mitt. var. weirii, J. Linn. Soc. Bot. 12: 602. 1869. Distribuição no Brasil: ES, MG, MT, PB, PE, PR, RJ, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Fissidens zollingeri Mont., Ann. Sci. Nat. Bot. sér. 3, 4: 114. 1845. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, AP, BA, CE, DF, ES, FN, GO, MA, MG, MS, MT, PA, PB, PE, P I, P R, RJ, RO, RR, RS, SC, SP e TO. Ocorre no Espírito Santo: Anchieta, Praia do Paraty; Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Linhares, Reserva Natural Vale; Guarapari; Itapemirim, Morro Marataízes; Jaguaré; Linhares, Fazenda Santa Terezinha, Nova Almeida; Piúma; Ponta da Fruta; Santa Cruz, Bairro Coqueiral; Serra, Gruta Selvagem; Vitória, Restinga de Camburi. Hypnaceae Chryso-hypnum elegantulum (Hook.) Hampe, Vidensk. Meddel. Dansk Naturhist. Foren. Kjøbenhavn, ser. 3, 2: 286. 1870. Distribuição no Brasil: AM, BA, DF, ES, GO, MG, MS, MT, PE, PR, RJ, RR, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Vale das Orquídeas; Linhares, Reserva Natural Vale, estr. para Colatina. Isopterygium tenerifolium Mitt., J. Linn. Soc. Bot. 12: 499. 1869. Distribuição no Brasil: AL, AM, AP, BA, CE, DF, ES, GO, MA, MG, MS, MT, PA, PB, PE, PR, RJ, RO, RR, RS, SC, SP e TO. Ocorre no Espírito Santo: Aracruz, Ibiraçu; Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Linhares, Reserva Natural Vale, perto da Lagoa Juparaná. Isopterygium tenerum (Sw.) Mitt., J. Linn. Soc. Bot. 12: 499. 1869. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, AP, BA, CE, DF, ES, GO, MA, MG, MS, MT, PA, PB, PE, PI, PR, RJ, RO, RR, RS, SC, SP e TO. Ocorre no Espírito Santo: Aracruz, Barra do Riacho; Anchieta, rod. do Sol; Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Ponta da Fruta, Morro da Lagoa; Ilha do Francês; Guarapari, Parque Estadual de Setiba, Meaipe; Linhares, Reserva Natural Vale; Serra, Jacaraípe; Vargem Alta, Rio Novo; Venda Nova. BRIÓFITAS Leucobryaceae Leucobryum giganteum Müll. Hal., Syn. Musc. Frond. 1: 79. 1848. Distribuição no Brasil: AL, AM, BA, CE, ES, MG, PE, PR, RJ, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale; Santa Tereza, Country Club. Leucobryum martianum (Hornsch.) Hampe, Linnaea 17: 317. 1843. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, AP, BA, CE, DF, ES, MA, MG, MS, MT, PA, PE, PR, RJ, RO, RR, SC, SE, SP e TO. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale; Vargem Alta, Rio Novo, Santa Tereza, Estação Biológica de Caixa D’Água. Leucobryum sordidum Ångstr., Öfvers K. Vetensk.-Akad. Förh. 33(4): 7. 1876. Distribuição no Brasil: BA, CE, ES, MG, MT, PR, RJ, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Linhares, Reserva Natural Vale. Ochrobryum gardneri (Müll. Hal.) Mitt., J. Linn. Soc. Bot. 12: 108. 1869. Distribuição no Brasil: AL, AM, BA, CE, DF, ES, GO, MG, MS, MT, PA, PE, PR, RJ, RO, RR, SP e TO. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Meteoriaceae Floribundaria flaccida (Mitt.) Broth. in Engler & Prantl, Natürl. Planzenfam. 1(3): 822. 1906. Distribuição no Brasil: BA, CE, DF, ES, GO, MG, MT, PE, PR, RJ, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Floribundaria floribunda (Dozy & Molk.) M. Fleisch., Hedwigia 44: 302. 1905. Distribuição no Brasil: ES e RS. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Meteorium deppei (Hornsch. ex Müll. Hal.) Mitt., J. Linn. Soc. Bot. 12: 441. 1869. Distribuição no Brasil: AL, BA, CE, DF, ES, GO, MG, MS, PE, PR, RJ, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale; Santa Tereza, Rio Timbuí. Neckeraceae Neckeropsis disticha (Hedw.) Kindb., Canad. Rec. Sci. 6: 21. 1894. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, AP, BA, ES, GO, MG, MT, PA, PE, PR, RJ, RR, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale; Rio Mutum; Serra, Estação Biológica de Mestre Álvaro. Neckeropsis undulata (Hedw.) Reichardt, Reise 235 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Öst. Freg. Novara Bot. 1: 181. 1870. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, AP, BA, CE, DF, ES, GO, MA, MG, MS, MT, PA, PE, PR, RJ, RO, RR, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Reserva Florestal Pedra Azul; Guarapari, Parque Estadual de Setiba; Linhares, Reserva Natural Vale; Serra, Estação Biológica de Mestre Álvaro; Vargem Alta, Hotel Chaminé. Octoblepharaceae Octoblepharum albidum Hedw. var. albidum, Spec. Musc. Frond.: 50. 1801. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, AP, BA, CE, DF, ES, RN, GO, MA, MG, MS, MT, PA, PB, PE, PI, PR, RJ, RN, RO, RR, RS, SC, SE, SP e TO. Ocorre no Espírito Santo: Vila Velha, Morro da Penha; Ponta da Fruta, Morro da Lagoa; Anchieta, Praia de Guanabara; Aracruz, Barra do Riacho; Cachoeiro do Itapemirim; Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Guarapari, Parque Estadual de Setiba, Meaípe; Linhares, Lagoa Juparaná, Reserva Natural Vale; Piúma; Ponta da Fruta; Santa Tereza; Serra, Estação Biológica de Mestre Álvaro; Viana, Rio Jacu. Octoblepharum pulvinatum (Dozy & Molk.) Mitt., J. Linn. Soc. Bot. 12: 109. 1869. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, AP, BA, CE, ES, GO, MA, MG, MS, MT, PA, PE, RJ, RO, RR, SC, SP e TO. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Orthotrichaceae Groutiella apiculata (Hook.) H.A. Crum & Steere, Bryologist 53(2): 146. 1950. Distribuição no Brasil: AL, BA, CE, ES, MA, MG, MS, MT, PA, PE, PR, RJ, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Aracruz, Barra do Riacho; Guarapari, Parque Estadual de Setiba; Linhares, Reserva Natural Vale; Santa Tereza, Estação Biológica do Museu Nacional. Groutiella tumidula (Mitt.) Vitt, Bryologist 82(1): 9. 1979. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, BA, CE, ES, MT, PA, PB, PR, RJ, RO, RS, SE e SP. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Linhares, Reserva Natural Vale; Vila Velha, Morro da Penha; Serra, Estação Biológica de Mestre Álvaro. Macromitrium punctatum (Hook. & Grev.) Brid., Bryol. Univ. 1: 739. 1826. Distribuição no Brasil: AL, AM, AP, BA, CE, ES, GO, MG, PE, PR, RJ, RS e SP. Ocorre no Espírito Santo: Santa Tereza; Vila Velha, Morro da Penha; Domingos Martins, Parque 236 Estadual Pedra Azul; Linhares, Reserva Natural Vale; Santa Cruz, Bairro Coqueiral. Schlotheimia jamesonii (Arn.) Brid., Bryol. Univ. 1: 742. 1826. Distribuição no Brasil: BA, CE, DF, ES, GO, MA, MG, MS, PE, P R, RJ, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale; Santa Tereza, Rio Timbuí. Schlotheimia rugifolia (Hook.) Schwägr., Spec. Musc. Frond. Suppl. 2(1): 150. 1824. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, BA, CE, DF, ES, GO, MG, MT, PA, PE, PR, RJ, RO, RS, SC, SP e TO. Ocorre no Espírito Santo: Santa Tereza, Estação Biológica do Museu Nacional, Reserva Biológica de Nova Lombardia; Guarapari, Parque Estadual de Setiba; Aracruz, Barra do Riacho; Serra, Estação Biológica de Mestre Álvaro; Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Guarapari; Linhares, Reserva Natural Vale; Santa Tereza; Vargem Alta. Pottiaceae Tortella humilis (Hedw.) Jenn., Mann. Moss. W. Pennsylv. 96: 13. 1913. Distribuição no Brasil: BA, DF, ES, GO, MA, MG, MS, PE, PR, RJ, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Santa Tereza, Vale do Canaã; Conceição do Castelo, Venda Nova; Domingos Martins, Vale das Orquídeas, Parque Estadual Pedra Azul; Linhares, Reserva Natural Vale; Vila Velha, Morro da Penha; Vitória, Restinga de Camburi. Pterobryaceae Henicodium geniculatum (Mitt.) W.R. Buck, Bryologist 92(4): 534. 1989. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, AP, BA, CE, DF, ES, GO, MG, MT, PA, PB, PE, RJ, RO e SP. Ocorre no Espírito Santo: Jaguaré; Linhares, Reserva Natural Vale. Racopilaceae Racopilum tomentosum (Hedw.) Brid., Bryol. Univ. 2: 719. 1827. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, BA, CE, DF, ES, GO, MG, MS, MT, PA, PE, PR, RJ, RO, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Guarapari, Praia Setibana; Vila Velha, Morro da Penha; Iúna, Guarapari, Praia Setibana; Cachoeiro do Itapemirim; Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Linhares, Reserva Natural Vale; Santa Tereza; Santa Cruz, Bairro Coqueiral; Vargem Alta, Hotel Chaminé; Venda Nova. YANO Rhizogoniaceae Pyrrhobryum spiniforme (Hedw.) Mitt., J. Linn. Soc. Bot. 10: 174. 1868. Distribuição no Brasil: AM, BA, ES, GO, MG, MT, PE, PR, RJ, RO, RR, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Linhares, Reserva Natural Vale; Santa Tereza, Nova Lombardia, Reserva Biológica do Museu Nacional, Estação Biológica da Caixa D’Água, Mata Fria; Serra, Estação Biológica de Mestre Álvaro. Sematophyllaceae Acroporium pungens (Hedw.) Broth. in Engler & Prantl, Natürl. Planzenfam. ed. 2, 11: 436. 1925. Distribuição no Brasil: AM, AP, BA, CE, DF, ES, GO, MG, PA, PR, RJ, RO, RR, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale; Vargem Alta, Rio Novo. Sematophyllum demissum (Wilson) Mitt., J. Linn. Soc. Bot. 8: 5. 1865. Distribuição no Brasil: ES, MT e RJ. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Sematophyllum galipense (Müll. Hal.) Mitt., J. Linn. Soc. Bot. 12: 480. 1869. Distribuição no Brasil: AL, BA, CE, DF, ES, GO, MG, MT, PA, PE, PR, RJ, RO, RR, RS, SC, SP e TO. Ocorre no Espírito Santo: Ponta da Fruta; Domingos Martins, Morro do Cruzeiro, Parque Estadual Pedra Azul; Linhares, Reserva Natural Vale; Santa Tereza, Reserva Biológica Nova Lombardia; Serra, Estação Biológica de Mestre Álvaro. Sematophyllum subpinnatum (Brid.) E. Britton, Bryologist 21(2): 28. 1918 (1919). Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, AP, BA, CE, DF, ES, GO, MG, MS, MT, PA, PB, PE, PR, RJ, RO, RR, RS, SC, SP e TO. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Vale das Orquídeas, Parque Estadual Pedra Azul; Guarapari, Parque Estadual de Setiba; Jaguaré; Linhares, Reserva Natural Vale; Santa Tereza, Reserva Biológica de Santa Lucia, Trilha Bonita; Anchieta entre Meaípe e Ubú; Linhares, Lagoa Juparaná; Serra, Estação Biológica de Mestre Álvaro; Fundão; Santa Tereza, Rio Timbuí; Barra de São Francisco. Obs.: Alguns trabalhos se referem como Sematophyllum caespitosum (Hedw.) Mitt. Sematophyllum subsimplex (Hedw.) Mitt., J. Linn. Soc. Bot. 12: 494. 1869. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, AP, BA, CE, DF, ES, GO, MA, MG, MS, MT, PA, PB, PE, PI, PR, RJ, RO, RR, RS, SC, SE, SP e TO. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Venda BRIÓFITAS Nova; Linhares, Reserva Natural Vale; Santa Tereza, Reserva Biológica Augusto Ruschi, Trilha do Muriqui, estrada Santa Tereza-Frundão; Iconha; Ponta da Fruta, Fazenda Morro da Lagoa; Vila Velha, Morro da Penha; Santa Tereza, Rio Timbuí; Ilha da Trindade, Alto Pico da Trindade. Taxithelium planum (Brid.) Mitt., J. Linn. Soc. Bot. 12: 469. 1869. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, AP, BA, DF, ES, GO, MA, MG, MS, MT, PA, PB, PE, PR, RJ, RO, RR, SC, SP e TO. Ocorre no Espírito Santo: Iconha; Linhares, Reserva Natural Vale, Lagoa Juparaná. Taxithelium pluripunctatum (Renauld & Cardot) W.R. Buck, Moscosoa 2: 60. 1983. Distribuição no Brasil: AM, BA, ES, MG, PA, PE, RR e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Trichosteleum papillosum (Hornsch.) A. Jaeger, Ber. Thätigk. St. Gallischen Naturwiss. Ges. 187677: 419. 1878. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, AP, BA, ES, MG, MT, PA, PE, RJ, RO, RR, SC, SE, SP e TO. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale; Mimoso. Sphagnaceae Sphagnum oxyphyllum Warnst., Hedwigia 29: 192. 1890. Distribuição no Brasil: BA, ES, MG, RJ, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Caparaó, Cachoeira Bonita; Linhares, Reserva Natural Vale. Sphagnum perichaetiale Hampe var. perichaetiale, Linnaea 20: 66. 1847. Distribuição no Brasil: AM, BA, DF, ES, GO, MG, MS, PA, PR, RJ, RO, RR, SC, SP e TO. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale; Santa Tereza; Nova Lombardia, Reserva Biológica Augusto Ruschi, Trilha Muriqui. Stereophyllaceae Pilosium chlorophylum (Hornsch.) Müll. Hal. ex Broth., Flora 83: 340. 1897. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, AP, BA, CE, DF, ES, GO, MA, MG, MS, MT, PA, PE, RJ, RO, RR, RS, SP e TO. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Linhares, Reserva Natural Vale. Thuidiaceae Thuidium tomentosum Schimp. in Besch., Mém. Soc. Sci. Nat. Cherbourg 16: 237. 1872. Distribuição no Brasil: AL, BA, ES, GO, MG, MS, 237 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE A B C D E F G H I J Figura 2: A) Pymrrhobryum spiniforme; B) Pilosium chlorophyllum; C) Choenecolea doellingeri; D) Fruilania neesii; E) Frullania riojaneirensis; F) Frullania riojaneirensis (detalhe); G) Leucolejeunea unciloba; H) Pycnolejeunea macroloba; I) Radula javanica; J) Radula mexicana. 238 YANO MT, PE, PR, RJ, RR, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Linhares, Reserva Natural Vale, estrada para Colatina. MARCHANTIOPHYTA Aneuraceae *Aneura latissima Spruce, Trans. & Proc. Bot. Soc. Edinburgh 15: 554. 1885. Distribuição no Brasil: AM, ES, PR, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural da Vale do Rio Doce. Riccardia chamedryfolia (With.) Grolle, Trans. Brit. Bryol. Sco. 5: 772. 1969. Distribuição no Brasil: AC, AM, BA, CE, DF, ES, GO, MG, MS, MT, PR, RJ, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale; Domingos Martins, Marechal Floriano; Santa Tereza, Reserva Biológica de Nova Lombardia. Riccardia digitiloba (Spruce) Pagán f. digitiloba, Bryologist 42(1): 6. 1939. Distribuição no Brasil: AC, BA, CE, DF, ES, GO, MG, MS, MT, PE, PR, RJ, RS, SC, SE e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale; Santa Tereza, Rio Timbuí; Serra, Estação Biológica de Mestre Álvaro; Vargem Alta. Riccardia glaziovii (Spruce) Meenks, J. Hattori Bot. Lab. 62: 173. 1987. Distribuição no Brasil: AP, BA, ES, MG, PA, RJ, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. *Riccardia regnelli (Ångstr.) K.G. Hell, Bolm. Univ. S. Paulo 335, Bot. 25: 110. 1969. Distribuição no Brasil: ES, MG, MT, PE, PR, RJ, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Calypogeiaceae Calypogeia andicola Bischler, Candollea 18: 79. 1962 (1963). Distribuição no Brasil: BA e ES. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Cephaloziellaceae Cylindrocolea rhizantha (Mont.) R.M. Schust., Nova Hedwigia 22: 175. 1971. Distribuição no Brasil: AC, AL, BA, CE, DF, ES, GO, MG, PE, RJ e SP. Ocorre no Espírito Santo: Ilha do Francês; Guarapari; Linhares, Reserva Natural Vale. BRIÓFITAS Chonecoleaceae Chonecolea doellingeri (Nees) Grolle, Revue Bryol. Lichénol. 25: 295. 1956. Distribuição no Brasil: CE, DF, ES, MG, MS, PR, RJ, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Lagoa Juparaná; Linhares, Reserva Natural Vale; Guarapari, Parque Estadual de Setiba; Serra, Jacaraípe; Vila Velha, Morro da Penha; Santa Cruz, Bairro Coqueiral; Presidente Kennedy, Praia das Neves; Piúma. Fossombroniaceae Fossombronia porphyrorhiza (Nees) Prosk., Bryologist 58(3): 197. 1955. Distribuição no Brasil: BA, CE, DF, ES, GO, MA, MG, MS, MT, PE, PI, RJ, RS, SP e TO. Ocorre no Espírito Santo: Anchieta; Cachoeiro do Itapemirim; Domingos Martins, Morro do Cruzeiro; Linhares, Reserva Natural Vale; Lagoa Juparaná; Viana; Ubú; Iconha-Piúma; Santa Tereza, Rio Timbuí. Frullaniaceae (Jubulaceae) Frullania arecae (Spreng.) Spruce, Trans. & Proc. Bot. Soc. Edinburgh 15: 20. 1884 (1885). Distribuição no Brasil: AC, BA, DF, ES, GO, MG, MT, PE, PR, RJ, RR, RS, SE e SP. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Linhares, Reserva Natural Vale. Frullania beyrichiana (Lehm. & Lindenb.) Lehm. & Lindenb. in Gottsche et al., Syn. Hepat.: 460. 1845. Distribuição no Brasil: AC, BA, ES, GO, MG, MT, PA, PE, PR, RJ, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Ilha da Trindade, Alto Pico da Trindade; Linhares, Reserva Natural Vale. Frullania brasiliensis Raddi, Soc. Ital. Atti. Sci. Mod. 19: 36. 1822. Distribuição no Brasil: AL, BA, CE, DF, ES, GO, MG, PE, PR, RJ, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Iconha, Itapecoá; Viana, Rio Jacu; Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Linhares, Reserva Natural Vale; Santa Tereza, Reserva Biológica do Museu Nacional, Bosque do Museu de Biologia Mello Leitão; Serra, Estação Biológica de Mestre Álvaro. Frullania caulisequa (Nees) Nees in Gottsche et al., Syn. Hepat.: 448. 1845. Distribuição no Brasil: AC, AL, BA, CE, DF, ES, GO, MG, MT, PA, PB, PE, PR, RJ, RR, RS, SC, SE e SP. Ocorre no Espírito Santo: Anchieta entre Meaípe e Ubú; Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Guarapari, Parque 239 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Estadual de Setiba; Linhares, Reserva Natural Vale; Serra; Jacaraípe; Vale Verde do Itapemirim; Vitória, Restinga de Camburi. Frullania dilatata (L.) Dumort., Recueil d’Obs. Jungerm. Tournay: 13. 1835. Distribuição no Brasil: BA, CE, ES, GO, MG, MS, MT, PE, RJ, RS e SP. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Linhares, Reserva Natural Vale. Frullania dusenii Steph., Archos Mus. Nac. Rio de Janeiro 13: 115. 1903. Distribuição no Brasil: AL, CE, ES, GO, MG, PE, RJ, RR, RS, SC, SE e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Frullania ericoides (Nees) Mont., Ann. Sci. Nat. Bot. sér. 2, 12: 51. 1839. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, BA, CE, DF, ES, RN, GO, MA, MG, MS, MT, PB, PE, PR, RJ, RS, SC, SE e SP. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Linhares, Reserva Natural Vale; Guarapari, Parque Estadual de Setiba; Piúma, Iriri; Ubú; Ilha do Francês; Aracruz, Vila Barra do Riacho; Vila Velha, Barra do Jucuí, Morro da Penha; Ponta da Fruta; Anchieta, Quitiba Clube; Santa Cruz, Bairro Coqueiral; Colatina, Rio Doce; Santa Tereza, São João de Petrópolis, Escola Agrotécnica Federal de Santa Tereza; Serra; Domingos Martins, Marechal Floriano; Vitória, Campus da Universidade Federal do Espírito Santo; Santa Tereza, Bosque do Museu de Biologia Mello Leitão; Ibiraçu. *Frullania griffithsiana Gottsche in Gottsche et al., Syn. Hepat.: 466. 1845. Distribuição no Brasil: BA, ES, MG, RS e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Frullania gymnotis Nees & Mont., Ann. Sci. Nat. Bot. sér. 2, 19: 257. 1843. Distribuição no Brasil: BA, CE, ES, GO, PA, PE, RJ, RR, RS, SE e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Frullania neesii Lindenb. in Gottsche et al., Syn. Hepat.: 450. 1845. Distribuição no Brasil: AC, AM, BA, CE, DF, ES, GO, MG, MT, PB, PE, PR, RJ, RR, RS, SE e SP. Ocorre no Espírito Santo: Piúma, Lagoa da Piabanha; Aracruz, Barra do Riacho; Linhares, Reserva Natural Vale; Guarapari, Parque Estadual de Setiba; Vila Velha, Morro da Penha; Vitória. Obs.: várias publicações citam como Frullania kunzei (Lehm. & Lindenb.) Lehm. & Lindenb. Frullania neurota T. Taylor, London J. Bot. 5: 400. 1846. Distribuição no Brasil: CE, ES, RJ e RS. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. 240 Frullania riojaneirensis (Raddi) Ångstr., Öfversk. Vetensk.-Akad. Förh. 33(7): 88. 1876. Distribuição no Brasil: AL, BA, CE, DF, ES, GO, MG, MS, MT, PA, PB, P E, PR, RJ, RS, SE, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Jacaraípe; Santa Tereza, São João de Petrópolis, Bosque do Museu de Biologia Mello Leitão; Piúma; Guarapari, Meaípe, Parque Estadual de Setiba; Linhares, Reserva Natural Vale; Serra, Jacaraípe; Vitória, Restinga de Camburi; Piúma; Ponta da Fruta, Fazenda Morro da Lagoa. Frullania setigera Steph., Hedwigia 33: 159. 1894. Distribuição no Brasil: BA, ES, MG, PR, RJ, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. *Frullania supradecomposita (Lehm. & Lindenb.) Lehm. & Lindenb. in Gottsche et al., Syn. Hepat.: 431. 1845. Distribuição no Brasil: ES, MG, MS, MT, PB, RJ, RS e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Geocalycaceae Lophocolea martiana Nees in Gottsche et al., Syn. Hepat.: 152. 1845. Distribuição no Brasil: AL, AM, AP, BA, CE, ES, GO, MG, MT, PA, PE, PR, RJ, RS, SC, SE e SP. Ocorre no Espírito Santo: Aracruz, Rio dos Comboios; Linhares, Reserva Natural Vale; Venda Nova; Serra, Estação Biológica de Mestre Álvaro. Lejeuneaceae Acrolejeunea emergens (Mitt.) Steph. in Engler, Planzenwelt Ost’Afrikas C: 65. 1895. Distribuição no Brasil: AC, AM, BA, CE, DF, ES, GO, MA, MG, MS, MT, PA, PR, RJ, RO, RR, RS e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Anoplolejeunea conferta (C.F.W. Meiss. ex Spreng.) A. Evans, Bull. Torrey Bot. Club 35: 175. 1908. Distribuição no Brasil: AL, BA, ES, MG, PA, PB, PE, PR, RJ, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Caparaó, Cachoeira Bonita; Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Linhares, Reserva Natural Vale; Vargem Alta. Aphanolejeunea ephemeroides R.M. Schust., J. Elisha Mitchell Sci. Soc. 71(1): 130. 1955. Distribuição no Brasil: ES e SP.Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Archilejeunea auberiana (Mont.) A. Evans, Bull. Torrey Bot. Club 35: 168. 1908. Distribuição no Brasil: AC, AM, AP, BA, ES, MG, MT, PA, PE, PR, RJ, YANO RO, RR, RS e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Archilejeunea fuscescens (Hampe) Fulford, Bryologist 45(6); 174. 1942. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, BA, ES, MG, PA, PE, PR, RJ, RR e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Bryopteris diffusa (Sw.) Nees in Gottsche et al., Syn. Hepat.: 286. 1845. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, BA, CE, ES, MG, MT, PA, PE, PR, RJ, RS, SC, SE e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale, margem do Rio Doce; Serra, Estação Biológica de Mestre Álvaro, Jacaraípe; Santa Tereza, Distrito de Santa Leopoldina; Venda Nova. Caudalejeunea lehmanniana (Gottsche) A. Evans, Bull. Torrey Bot. Club 34: 554. 1905. Distribuição no Brasil: AL, AM, AP, BA, CE, ES, GO, MT, PA, PE, PR, RJ, RO, RR, RS, SC, SE e SP. Ocorre no Espírito Santo: Jaguaré; Linhares, Reserva Natural Vale. Ceratolejeunea cubensis (Mont.) Schiffn. in Engler & Prantl, Natürl. Planzenfam. 1(3): 125. 1893. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, AP, BA, CE, ES, PA, PB, PE, RJ, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale; Serra, Estação Biológica de Mestre Álvaro. Cheilolejeunea adnata (Kuntze) Grolle, J. Bryol. 9: 529. 1977. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, AP, CE, ES, MG, MT, PA, P E, PR, RN, RR, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale; Piúma, lagoa Piabanha. Cheilolejeunea clausa (Nees & Mont.) R.M. Schust., Hepat. Anthocerotae N. Amer. 4: 863. 1980. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, AP, BA, CE, ES, GO, MG, MS, MT, PA, PE, PR, RJ, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Guarapari, Nova Guarapari; Linhares, Reserva Natural Vale. Cheilolejeunea discoidea (Lehm. & Lindenb.) Kachroo & R.M. Schust., J. Linn. Soc. London Bot. 56(368): 509.1961. Distribuição no Brasil: AL, BA, CE, DF, ES, GO, MG, MS, MT, PA, PE, RJ, RS, SE e SP. Ocorre no Espírito Santo: Guarapari, Parque Estadual de Setiba; Linhares, Reserva Natural Vale; Vitória, Restinga de Cambuí; Piúma, Lagoa Piabanha. Cheilolejeunea rigidula (Nees ex Mont.) R.M. Schust., Castanea 36: 102. 1971. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, AP, BA, CE, DF, ES, GO, MA, MG, MS, MT, PA, PB, PE, PR, RJ, RR, RS, SC, SE, BRIÓFITAS SP e TO. Ocorre no Espírito Santo: Aracruz, Rio dos Comboios; Domingos Martins, Reserva Florestal Pedra Azul; Guarapari, Setiba; Linhares, Reserva Natural Vale; Serra, Estação Biológica de Mestre Álvaro. Cololejeunea cardiocarpa (Mont.) A. Evans, Mem. Torrey Bot. Club 8: 172. 1902. Distribuição no Brasil: AL, AM, AP, BA, ES, GO, MG, MS, MT, PA, PB, PE, PR, RJ, RO, RR, SC, SE e SP. Ocorre no Espírito Santo: Guarapari, Parque Estadual de Setiba; Linhares, Reserva Natural Vale; Vitória, Restinga de Camburi. Cololejeunea diaphana A. Evans, Bull. Torrey Bot. Club 32: 184. 1905. Distribuição no Brasil: AL, AM, BA, DF, ES, GO, MG, MS, MT, PA, PE, RJ, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Guarapari, Parque Estadual de Setiba, Meaípe; Linhares, Reserva Natural Vale; Serra, Estação Biológica de Mestre Álvaro. Diplasiolejeunea rudolphiana Steph., Hedwigia 35: 79. 1896. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, BA, CE, ES, PB, PE, RJ, SC, SE e SP. Ocorre no Espírito Santo: Serra, Jacaraípe; Linhares, Reserva Natural Vale; Serra; Domingos Martins, Marechal Floriano. Lejeunea adpressa Nees in Gottsche et al., Syn. Hepat.: 380. 1845. Distribuição no Brasil: AL, AM, BA, ES, MG, PE, PR, RJ e SP. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Santa Isabel; Guarapari, Parque Estadual de Setiba; Linhares, Reserva Natural Vale; Ponta da Fruta; Santa Tereza, Reserva Biológica de Nova Lombardia; Nova Almeida. Lejeunea aphanes Spruce, Trans. & Proc. Soc. Bot. Edinburgh 15: 290. 1884 (1885). Distribuição no Brasil: AL, BA, CE, PR e SP. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Linhares, Reserva Natural Vale. Lejeunea bermudiana (A. Evans) R.M. Schust., Hepat. & Anthoc. N. Amer. 4: 1105. 1980. Distribuição no Brasil: AC, BA, ES, GO, RJ, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Lejeunea cancellata Nees & Mont. in Montagne, in Ramón de la Sagra, Hist. Phys. Bot. Plant. Cell. Cuba 9: 472. 1842. Distribuição no Brasil: AL, BA, CE, ES, GO, MA, MG, MS, MT, PR, RJ, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Linhares, Reserva Natural Vale; Serra, Estação Biológica de Mestre Álvaro; Piúma. 241 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Lejeunea caulicalyx (Steph.) E. Reiner & Goda, J. Hattori Bot. Lab. 89: 13. 2000. Distribuição no Brasil: AC, AL, BA, CE, ES, MA, MG, MS, MT, PA, PE, PR, RJ, RR e SP. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Guarapari, Parque Estadual de Setiba; Linhares, Reserva Natural Vale; Iconha, Itapecoá. Lejeunea cladogyna A. Evans, Amer. J. Bot. 5: 134. 1918. Distribuição no Brasil: AM, BA, ES, MT e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Lejeunea deplanata Nees in Gottsche et al., Syn. Hepat.: 368. 1845. Distribuição no Brasil: AM, BA, CE, ES, GO, MG, MS, MT, PB, PE, PR, RJ, RS e SP. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Marechal Floriano; Guarapari, Parque Estadual de Setiba; Linhares, Reserva Natural Vale. Lejeunea flava (Sw.) Nees, Naturgesch. Eur. Liberm. 3: 277. 1838. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, BA, CE, DF, ES, GO, MA, MG, MS, MT, PA, PB, PE, PR, RJ, RR, RS, SC, SE, SP e TO. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul, Marechal Floriano; Guarapari, Parque Estadual de Setiba; Linhares, Reserva Natural Vale; Venda Nova; Vitória, Restinga de Camburi; Ponta da Fruta; Vila Velha, Morro da Penha; Guarapari, Nova Guarapari; Serra, Estação Biológica de Mestre Álvaro; Santa Tereza, Reserva Biológica de Nova Lombardia. Lejeunea laetevirens Nees & Mont. in Ramón de la Sagra, Hist. Phys. Bot. Plant. Cell. Cuba 9: 469. 1842. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, AP, BA, CE, DF, ES, RN, GO, MA, MG, MS, MT, PA, PB, PE, PR, RJ, RN, RR, RS, SC, SE e SP. Ocorre no Espírito Santo: Caparaó, Rio José Pedro; Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Guarapari, Meiape; Linhares, Reserva Natural Vale; Piúma; Ilha do Francês; Linhares, Vila Barra de Regência; Ponta da Fruta, Morro da Lagoa; Vila Velha, Morro da Penha; Nova Almeida; Santa Cruz, Bairro Coqueiral; Serra. Lejeunea minutiloba A. Evans, Bull. Torrey Bot. Club 44> 525. 1917. Distribuição no Brasil: BA, CE, ES, MS, PE, PR, RJ e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Lejeunea phyllobola Nees & Mont. in Ramón de la Sagra, Hist. Fis. Pol. Natur. Bot. Cuba 9: 471. 1842. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, BA, CE, DF, ES, GO, MA, MG, MS, MT, PA, PE, PR, RJ, RN, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Domingos 242 Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Guarapari, Parque Estadual de Setiba; Linhares, Reserva Natural Vale; Piúma; Aracruz, Barra do Riacho; Ponta da Fruta, Fazenda Morro da Lagoa; Vila Velha, Morro da Penha; Santa Tereza, Reserva Biológica de Nova Lombardia; Viana, Rio Jucu. Leptolejeunea elliptica (Lehm. & Lindenb.) Schiffn. in Engler & Prantl, Natürl. Planzenfam. 1(3): 126. 1893. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, AP, BA, CE, DF, ES, GO, MG, MT, PA, PE, PR, RJ, RR, SC, SE e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale; Vale Verde do Itapemirim. Leptolejeunea obfuscata (Spruce) Steph., Spec. Hepat. 5: 373. 1913. Distribuição no Brasil: AL, AM, ES, GO, MT e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Leucolejeunea conchifolia (A. Evans) A. Evans, Torreya 7: 299. 1907. Distribuição no Brasil: BA, ES, MG, e SP. Ocorre no Espírito Santo: Guarapari, Parque Estadual de Setiba; Linhares, Reserva Natural Vale; Serrra, Jacaraípe; Ponta da Fruta, Fazenda Morro da Lagoa; Piúma. Leucolejeunea unciloba (Lindenb.) A. Evans, Torreya 7: 228. 1907. Distribuição no Brasil: AC, AM, BA, CE, ES, MG, PA, P B, PE, PR, RJ, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Santa Tereza; Linhares, Reserva Natural Vale; Serra, Jacaraípe; Vargem Alta, Hotel Chaminé; Venda Nova; Vitória, Restinga de Camburi. Leucolejeunea xanthocarpa (Lehm. & Lindenb.) A. Evans, Torreya 7: 229. 1907. Distribuição no Brasil: AL, BA, CE, ES, GO, MG, PE, PR, RJ, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Serra, Estação Biológica de Mestre Álvaro; Caparaó, Pico da Bandeira; Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Linhares, Reserva Natural Vale; Serra, Jacaraípe; Vargem Alta, Hotel Chaminé; Venda Nova. Obs.: muitos autores consideram as espécies de Leucolejeunea como Cheilolejeunea. Lopholejeunea nigricans (Lindenb.) Schiffn., Consp. Hepat. Archip. Ind.: 293. 1898. Distribuição no Brasil: AC, AM, BA, CE, DF, ES, GO, MA, MG, MS, MT, PA, PE, PR, RJ, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Lopholejeunea subfusca (Nees) Schiffn., Bot. Jahrb. Syst. 23: 593. 1897. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, AP, BA,CE, DF, ES, GO, MG, MS, MT, PA, PB, PE, RJ, RO, RR, SC e SP. Ocorre no YANO Espírito Santo: Aracruz, vilarejo de Barra do Riacho; Guarapari, Parque Estadual de Setiba; Jaguaré; Linhares, Reserva Natural Vale; Vargem Alta, Rio Novo; Vitória; Viana, Rio Jucu. Mastigolejeunea auriculata (Wilson & Hook.) Schiffn. in Engler & Prantl, Natürl. Planzenfam. 1(3): 129. 1893. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, AP, BA, CE, DF, ES, GO, MA, MG, MS, MT, PA, PE, PR, RJ, RO, RS, SP e TO. Ocorre no Espírito Santo: Guarapari, Parque Estadual de Setiba; Linhares, Reserva Natural Vale. Microlejeunea bullata (Taylor) Steph., Hedwiga 29: 90. 1890. Distribuição no Brasil: AC, AM, BA, CE, DF, ES, GO, MA, MG, MS, MT, PA, PE, PR, RJ, RN, RR, RS, SC, SE e SP. Ocorre no Espírito Santo: Piúma, Lago Piabanha; Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Guarapari, Parque Estadual de Setiba; Linhares, Reserva Natural Vale. Microlejeunea epiphylla Bischler in Bischler et al., Nova Hedwigia 5(1-2): 378. 1963. Distribuição no Brasil: AL, AP, BA, CE, ES, GO, MA, MG, MS, P A, PB, PE, RS, SE, SP e TO. Ocorre no Espírito Santo: Aracruz; Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Linhares, Reserva Natural Vale; Piúma. Neurolejeunea breutelii (Gottsche) A. Evans, Bull. Torrey Bot. Club 34: 13. 1907. Distribuição no Brasil: AL, BA, ES, MG, PA, PE, PR, RJ, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Linhares, Reserva Natural Vale. Prionolejeunea denticulata (Weber) Schiffn. in Engler & Prantl, Natürl. Planzenfam. 1(3): 127. 1893. Distribuição no Brasil: AL, AM, BA, CE, ES, PA, PE, RJ, RR e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Pycnolejeunea contigua (Nees) Grolle, J. Hattori Bot. Lab. 45: 179. 1979. Distribuição no Brasil: AL, AM, BA, CE, ES, MG, MS, PA, PE, PR, RR, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Pycnolejeunea macroloba (Nees & Mont.) Schiffn. in Engler & Prantl, Natürl. Planzenfam. 1(3): 127. 1893. Distribuição no Brasil: AL, AM, BA, CE, ES, PA, PE e SP. Ocorre no Espírito Santo: Aracruz, Rio dos Comboios; Linhares, Reserva Natural Vale. Pycnolejeunea papillosa X.-L. He, Acta Bot. Fennica 163: 54. 1999. Distribuição no Brasil: AM, CE e ES. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva BRIÓFITAS Natural Vale. Rectolejeunea berteroana (Gottsche ex Steph.) A. Evans, Bull. Torrey Bot. Club 33(1): 12. 1906. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, AP, BA, ES, PA, PE, PR, RJ, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Guarapari; Linhares, Reserva Natural Vale; Rio Novo; Vargem Alta, Rio Novo. Rectolejeunea emarginuliflora (Gottsche ex Schiffn.) A. Evans, Bull. Torrey Bot. Club 33(1): 14. 1906. Distribuição no Brasil: AL, AM, BA, ES, PA, PE e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Schiffneriolejeunea polycarpa (Nees) Gradst., J. Hattori Bot. Lab. 38: 355. 1971. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, BA, CE, DF, ES, GO, MG, MS, MT, PA, PB, PE, PR, RJ, RR, RS, SC, SE e SP. Ocorre no Espírito Santo: Serra, Jacaraípe; Iconha, Itapecoá; Piúma; Aracruz, Barra do Riacho; Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Guarapari, Parque Estadual de Setiba; Linhares, Reserva Natural Vale; Serra; Vargem Alta, Rio Novo; Vila Velha, Morro da Penha. Stictolejeunea squamata (Willd. ex F. Weber) Schiffn. var. squamata in Engler & Prantl, Natürl. Planzenfam. 1(3): 131. 1893. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, AP, BA, ES, MA, MG, PA, PE, RJ, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale, estrada para Colatina. Symbiezidium barbiflorum (Lindenb. & Gottsche) A. Evans, Bull. Torrey Bot. Club 34: 54. 1908. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, BA, ES, P A, PE, RJ, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale; Vargem Alta, Rio Novo. Symbiezidium transversale (Sw.) Trevis. var. transversale, Mem. Reale Ist. Lomb. Sci. Mat. Nat. ser. 3, 4: 403. 1877. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, AP, BA, CE, ES, MG, PA, PE, PR, RJ, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Marechal Floriano; Linhares, Reserva Natural Vale. Verdoornianthus griffinii Gradst., Bryologist 80(4): 609. 1977. Distribuição no Brasil: AM e ES. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Lepidoziaceae Monodactylopsis monodactyla (Spruce) R.M. Schust., Nova Hedwigia 69: 532. 1999. Distribuição no Brasil: AM, ES, PA, RJ, RO e RR. 243 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Telaranea diacantha (Mont.) J.J. Engel & G.L. Merrill, Fieldiana Bot. n. ser., 44: 145. 2004. Distribuição no Brasil: AL, AM, BA, DF, ES, MG, PE, RJ, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Iúna, Parque Nacional do Caparaó; Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Linhares, Reserva Natural Vale; Ponta da Fruta, Fazenda Morro da Lagoa; Serra, Estação Biológica de Mestre Álvaro. Telaranea nematodes (Gottsche ex Austin) M. Howe, Bull. Torrey Bot. Club 29: 284. 1902. Distribuição no Brasil: AC, AM, BA, CE, DF, ES, GO, MG, MS, MT, PE, PR, RJ, RR, RS, SC, SE e SP. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Linhares, Reserva Natural Vale; Vargem Alta, Rio Novo; Serra, Estação Biológica de Mestre Álvaro. Metzgeriaceae Metzgeria aurantiaca Steph., Spec. Hepat. 1: 286. 1899. Distribuição no Brasil: AM, BA, CE, ES, MG, PB, PE, PR, RJ, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Venda Nova; Linhares, Reserva Natural Vale; Vargem Alta, Rio Novo. *Metzgeria brasiliensis Schiffn. in Schiffner & S. Arnell, Österr. Akad. Wiss. Math.-Naturwiss. Kl. Denkschr. 111: 22. 1964. Distribuição no Brasil: BA, ES, PR, RJ, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Plagiochilaceae Plagiochila disticha (Lehm. & Lindenb.) Lindenb., Spec. Hepat. fasc. 4: 108. 1840. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, AP, BA, CE, DF, ES, GO, MG, MS, MT, PA, PB, PE, RJ, RR, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale, Lagoa Juparaná; Nova Almeida. Plagiochila martiana (Nees) Lindenb. f. martiana, Spec. Hepat. fasc. 1: 12. 1839. Distribuição no Brasil: AC, AL, BA, CE, DF, ES, GO, MG, MS, MT, PA, PE, PR, RJ, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Aracruz, Barra do Riacho; Linhares, Reserva Natural Vale; Ponta da Fruta, Morro da Lagoa; Santa Tereza, Nova Lombardia; Serra, Estação Biológica de Mestre Álvaro. Plagiochila montagnei Nees in Nees & Mont., Ann. Sci. Nat. Bot. sér. 2, 5: 531. 1836. Distribuição 244 no Brasil: AC, AL, AM, BA, CE, ES, PA, PE, RJ, RS e SP. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Parque Estadual Pedra Azul; Linhares, Reserva Natural Vale. Plagiochila rutilans Lindenb. var. rutilans, Spec. Hepat. fasc. 2-4: 47. 1841. Distribuição no Brasil: AC, AM, AP, BA, CE, ES, GO, MG, MT, PA, PE, PR, RJ, RR, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Domingos Martins, Marechal Floriano, Parque Estadual Pedra Azul; Linhares, Reserva Natural Vale; Serra, Estação Biológica de Mestre Álvaro. Plagiochila sullivantii Gottsche ex A. Evans, Bot. Gaz. 21: 191. 1896. Distribuição no Brasil: ES e MG. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Plagiochila tenuis Lindenb., Spec. Hepat. fasc. 2-4: 50. 1840. Distribuição no Brasil: AM, BA, CE, ES, MT, RS e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Plagiochila uleana Steph., Bull. Herb. Boissier. ser. 2, 2: 868. 1902. Distribuição no Brasil: ES, RJ e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Radulaceae Radula affinis Lindenb. & Gottsche in Gottsche et al., Syn. Hepat.: 725. 1847. Distribuição no Brasil: ES. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Radula flaccida Lindenb. & Gottsche in Gottsche et al., Syn. Hepat.: 726. 1847. Distribuição no Brasil: AC, AL, AM, BA, ES, MG, PA, PE, RR e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Radula javanica Gottsche in Gottsche et al., Syn. Hepat.: 257. 1845. Distribuição no Brasil: AC, AM, AP, BA, CE, ES, GO, MG, MS, MT, PA, PE, PR, RJ, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Iconha, Itapecoá; Linhares, Reserva Natural Vale; Santa Tereza, Rio Timbuí; Serra, Estação Biológica de Mestre Álvaro. Radula kegelii Gottsche ex Steph., Hedwigia 23: 152. 1884. Distribuição no Brasil: AL, BA, ES, MG, MT, PA, PR, RJ, RS, SC e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale. Radula mexicana Lindenb. & Gottsche in Gottsche, Mexik. Leverm.: 150. 1863. Distribuição no Brasil: BA, ES, PE, PR, RJ, RS e SP. Ocorre no Espírito Santo: Linhares, Reserva Natural Vale, e em Venda Nova do Imigrante. YANO Este trabalho demonstra que 48 espécies de brióitas listadas para o Espírito Santo têm referência apenas para a Reserva Natural da Vale do Rio Doce, sendo 16 de musgos e 32 de hepáticas. Portanto, a Reserva é uma área importante para o estudo e preservação da diversidade de brióitas. Dentre os musgos, a família com maior riqueza especíica é Calymperaceae com 11 espécies, seguida de Sematophyllaceae com oito, Fissidentaceae com sete e Brachytheciaceae e Orthotrichaceae com cinco cada uma. Ainda, para as hepáticas temos Lejeuneaceae com 14, Plagiochilaceae com sete e Aneuraceae e Radulaceae com cinco cada uma. Destaca-se que seis espécies de brióitas endêmicas do Brasil foram encontradas na Reserva, tais como: as hepáticas, Aneura latissima Spruce, Frullania griffithsiana Gottsche, F. supradecomposita (Lehm. & Lindenb.) Lehm. & Lindenb., Metzgeria brasiliensis Schifffn., Riccardia regnelli (Ångstr.) K.G. Hell e o musgo, Syrrhopodon brasiliensis Reese. Por isso, é importante e necessário que as coletas sejam realizadas em diferentes áreas da Reserva e, também, do estado do Espírito Santo para se conhecer a real diversidade da Reserva Natural Vale e do referido Estado. Sugere-se que futuras coletas sejam realizadas em períodos de seca e de chuva. AGRADECIMENTO A autora agradece a Elvis José Nunes da Silva pela digitalização das imagens. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Behar, L.; Yano, O. & Vallandro, G.C. 1992. Brióitas da restinga de Setiba, Guarapari, Espírito Santo. Boletim do Museu de Biologia Mello Leitão, n. sér. 1: 25-38. Brotherus, V.F. 1924. Musci (Laubmoose). In: Ergebnisse der botanischen Expedition der Kaiserlichen Akademie der Wissenschaften nach Südbrasilien 1901, herausgegeben von Prof. Dr. V. Schiffner. Denkschriften der Akademie der Wissenschaften 83: 251-358. Buck, W.R. & Gofinet, B. 2000. Morphology and classiication of mosses. In: Shaw, A.J. & Gofinet, B. (Eds.). Bryophyte Biology. Cambridge University Press, England, p. 71-123. Buck, W.R. 1983. New species and new combinations in the Sematophyllum subpinnatum complex BRIÓFITAS (Sematophyllaceae). Brittonia 35(4): 327-330. Buck, W.R. 1998. Pleurocarpous mosses of the West Indies. 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FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE 13 DIVERSIDADE DE MYRTACEAE NA RESERVA NATURAL VALE Augusto Giaretta, Amélia Carlos Tuler, Marcelo da Costa Souza, Karinne Sampaio Valdemarin, Fiorella Fernanda Mazine & Ariane Luna Peixoto INTRODUÇÃO Myrtaceae, uma das grandes famílias de Angiospermas, engloba quase 6.000 espécies de plantas que por suas características e atributos são incluídas em duas subfamílias – Psiloxyloideae com duas tribos e Myrtoideae com 15 tribos. A família apresenta ampla distribuição geográica, com centros de diversidade na Austrália, sudeste da Ásia e América do Sul (Wilson et al., 2001, 2005). Na região Neotropical ocorrem 49 gêneros e cerca de 2.500 espécies (Govaerts et al., 2015), circunscritas à subfamília Myrtoideae, tribo Myrteae (exceto Tepualia stipularis (Hook. & Arn) Griseb.), a mais diversiicada tribo da família em relação ao número de gêneros e também aquela na qual as relações entre gêneros e espécies são mais difíceis de serem compreendidas à luz do conhecimento atual. No Brasil ocorrem quase 1.000 espécies subordinadas a 23 gêneros, o que coloca a família entre as 10 com maior riqueza de espécies na lora do país. Myrtaceae está distribuída em todos os domínios itogeográicos brasileiros, sendo a Floresta Atlântica um dos centros de diversidade de Myrtaceae, onde é a sexta maior família em riqueza de espécies (Forzza et al., 2010). O extenso levantamento da lora brasileira que catalogou as espécies de plantas e fungos aponta 795 espécies de Myrtaceae endêmicas do Brasil (Sobral et al., 2016), ou seja, que ocorrem somente no território do país. Para melhor conhecer e propor mecanismos que levem à efetiva conservação das espécies desse grande e diverso grupo de plantas, estudiosos de diferentes instituições têm se debruçado em revisões de táxons infrafamiliares e no estudo de loras de áreas geográicas delimitadas (estados, unidades de conservação, entre outros espaços geográicos ou políticos), buscando caracterizar as espécies para a implementação de estudos mais abrangentes de ilogenia com base em dados morfológicos e moleculares (p. ex. Faria-Junior, 2014; Mazine et al., 2014; Santos, 2014; Tuler, 2014; Giaretta & Peixoto, 2015). Para o estado do Espírito Santo são reconhecidos 15 gêneros que englobam 273 espécies (Sobral et al., 2016), sendo Eugenia, Myrcia e Marlierea os gêneros de maior riqueza especíica. Dentre os estudos realizados sobre espécies da família para o estado destacam-se os de Barroso & Peixoto (1995) com os gêneros Calyptranthes e Marlierea na Reserva Natural Vale (RNV), no qual são apresentadas cinco espécies de Calyptranthes e 13 de Marlierea; Sobral (2007), que estudou a família para o município de Santa Teresa, tratando de 159 espécies; Tuler (2014), que inventariou e descreveu as espécies de Psidium ocorrentes no estado, apontando 14 espécies e; Giaretta & Peixoto (2015), que inventariaram e descreveram 247 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE 52 espécies distribuídas em 10 gêneros ocorrentes nas restingas no norte do Espírito Santo, sendo os gêneros mais representados Eugenia (19 espécies), Myrcia (12) e Marlierea (6). A botânica Graziela Maciel Barroso planejara realizar estudos taxonômicos abrangentes da família Myrtaceae na Reserva Natural Vale (RNV) em parceria com Peixoto. Após expedições à área e análise de coleções herborizadas, publicaram novas espécies (Barroso & Peixoto, 1990; Barroso & Peixoto, 1991a), apresentaram no 42º Congresso Nacional de Botânica o trabalho “Myrtaceae da Reserva Florestal de Linhares, Espírito Santo, Brasil” (Barroso & Peixoto, 1991b) e publicaram o tratamento dos gêneros Marlierea e Calyptranthes, já citado (1995). A pesquisa apresentada em 1991b não chegou a ser publicada. Nela consta, além de outras informações, uma chave para identiicação de 97 táxons então reconhecidos pelas autoras e uma listagem das espécies assinalando as formações onde estavam representadas na RNV (Figura 1 e Figura 2). QUEM SÃO AS MYRTACEAE? As Myrtaceae compreendem arbustos, arvoretas ou árvores, geralmente com caule cilíndrico, casca áspera ou lisa, com ritidoma frequentemente se desprendendo em placas ou lâminas. Glândulas oleíferas que ocorrem por toda a planta em forma de pontos translúcidos salientes ou imersos no tecido. As folhas são simples, opostas, com margem geralmente inteira e nervação broquidódroma. Inlorescências cimosas ou racemosas, axilares ou terminais, em nós áilos ou caulinar. Flores bissexuadas, actinomorfas com hipanto campanulado ou em forma de disco, cálice 3-5 lobado ou caliptriforme; corola com 4-5 pétalas, ocasionalmente reduzidas ou ausentes, alvas; androceu polistêmone, anteras rimosas; estigma capitado ou punctiforme, raro bilobado ou navicular; ovário ínfero, 2-18-locular, 1-80 óvulos por lóculo. Fruto bacoide, cálice persistente ou caduco, sementes 1-numerosas, embrião eugenioide, mircioide ou pimentoide (Barroso & Peixoto, 1995; Landrum & Kawasaki, 1997; Sobral, 2007). A família é reconhecida não apenas pela grande diversidade, mas também pela importância econômica. Vários gêneros apresentam espécies com frutos comestíveis e comercializados, tais como Psidium (goiabas), Eugenia (pitangas), Plinia (jabuticabas) e Syzygium (jambo e jamelão); especiarias como o gênero Syzygium (cravo-daíndia) e importantes fontes de madeira e óleos essenciais como Eucalyptus e Corymbia. Muitas espécies de Psidium são ainda empregadas na medicina tradicional contra diarreias, dores de barriga e afecções da garganta, além do potencial ornamental de alguns gêneros como Callistemon, Melaleuca, Myrrhinium e Eugenia. Espécies de Myrtaceae apresentam ainda importante papel ecológico como fonte alimentar para a fauna silvestre (Gressler et al., 2006) sendo utilizadas em programas de restauração ecológica de ecossistemas naturais. A FAMÍLIA MYRTACEAE NA RESERVA NATURAL VALE Figura 1: Identiicação de espécies de Myrtaceae no herbário CVRD. a) da esquerda para a direita A.L. Peixoto, M.R.V. Barbosa, G.M. Barroso e D.A. Folli; b) G.M. Barroso. Fotos: Acervo AGMB/JBRJ. 248 Apontada como uma das famílias com maior riqueza de espécies do Domínio Atlântico (Forzza et al., 2010), Myrtaceae destaca-se no estado GIARETTA ET AL. MYRTACEAE Figura 2: Ilustrações a nanquim de espécies de Myrtaceae coletadas na Reserva Natural Vale: 1) Eugenia bahiensis O.Berg: a) ramo; b) botão loral (D.A. Folli 278). 2) Myrcia lineata (O.Berg) Nied.: a) ramo; b) detalhe da inlorescência; c) fruto (J. Spada 75). 3) Myrcia multiflora (Lam.) DC.: a) ramo; b) botão loral; c) fruto (I.A. Silva 370). 4) Neomitranthes langsdorffii (O.Berg) Mattos: detalhe dos ramos e inlorescência (D.A. Folli 449). 249 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE do Espírito Santo entre as famílias mais ricas na vegetação de restinga (Pereira & Araujo, 2000), Matas de Tabuleiro (Jesus & Rolim, 2005) e lorestas de encosta (Saiter et al., 2011). As restingas possuem menor ou maior extensão da planície arenosa ao longo do litoral capixaba, contudo, a diversidade de Myrtaceae na vegetação de restinga está homogeneamente distribuída (Giaretta et al., 2015). Nas lorestas de altitude (submontana e montana – 50 a 1.500 m a.m.) da região de Santa Teresa foram registrados os maiores índices de riqueza observada de Myrtaceae bem como nas Matas de Tabuleiro na região de Linhares, ambas apontadas como as áreas mais notáveis quanto à diversidade de Myrtaceae no estado (Giaretta et al., 2015). Na RNV, uma das maiores áreas protegidas de Floresta Atlântica no estado do Espírito Santo, Myrtaceae tem sido indicada entre as famílias com maior riqueza de espécies (Peixoto & Gentry, 1990; Jesus & Rolim, 2005; Rolim et al., 2006). Com o conhecimento cientíico atual pode-se airmar que a RNV detém o maior contingente de espécies de Myrtaceae em unidades de conservação do Espírito Santo (Giaretta et al., 2015). Estão depositados no herbário CVRD 1.195 espécimes até a presente data, dos quais 977 são de coletas realizadas na própria Reserva, geralmente com duplicatas em outras coleções tanto do Brasil como do exterior, que correspondem a 108 espécies em 11 gêneros. Eugenia e Myrcia são os gêneros mais representativos, compreendendo juntos cerca de 65% das espécies (Tabela 1). Essa importante coleção é resultado de estudos de inventários lorestais, lorísticos e de estrutura desenvolvidos na RNV e relete o extenso trabalho de coleta sistematizada realizado em toda a área pela própria RNV como também por estudiosos da família. A coleção do herbário CVRD compreende mais da metade (55%) de todos os registros de Myrtaceae em áreas protegidas do estado e além do valor documental, tem enorme valor taxonômico, pois vem sendo estudada por especialistas de diferentes instituições desde o início de sua constituição, quer através de duplicatas que foram enviadas aos herbários do Brasil e do exterior para identiicação, quer através de expedições realizadas por muitos deles à RNV. Assim, a evolução dos estudos da lora de 250 Myrtaceae da RNV está ligada à evolução do próprio crescimento e qualiicação da coleção (Figura 3). O herbário foi fundado em 1963 para documentar espécies arbóreas oriundas de inventário lorestal então realizado (Germano Filho et al., 2000). A maior parte dos espécimes iniciais da coleção foram daniicados, porém, encontram-se duplicatas em outros herbários tanto no Brasil como no exterior, tendo destaque entre os coletores A.M. Lino e J. Spada, diretamente vinculados à RNV. A coleção tomou impulso a partir de 1978, com coletas sistematizadas, ainda nesta fase, para documentar a lora arbórea local, expandindo-se, posteriormente, a todas as formas de crescimento de plantas, tendo destaque os coletores da própria RNV, I.A. Silva, G.L. Farias, D.A. Folli e mais recentemente G. Siqueira. Em 1979, foi indexado entre os herbários do mundo, no Index Herbariorum (http://sciweb. nybg.org/science2/IndexHerbariorum.asp), com o acrônimo CVRD. Figura 3: Espécimes de Myrtaceae depositados no herbário da Reserva Natural Vale (CVRD) no período de 1930 a 2015. Os primeiros registros de coleta de Myrtaceae na região datam de 1934, quando João Geraldo Kuhlmann coletou espécimes de Eugenia astringens na Lagoa do Juparanã, Linhares (Kuhlmann, 111) e Myrcia amazonica entre o Córrego Grande e a Lagoa do Durão, em Linhares (Kuhlmann, 165). Em 1947, Álvaro Aguirre, conservacionista e idealizador da Reserva Biológica de Sooretama, coletou espécime de Myrciaria floribunda no “Refúgio Sooretama”, em Linhares (Aguirre, RB 60632). Na década de 1960, Aparício Pereira Duarte coletou espécimes de Calyptranthes brasiliensis “de Linhares para São Mateus” (Duarte, 9152) e Dimitri Sucre, em 1969, coletou quatro espécimes na Reserva de GIARETTA ET AL. MYRTACEAE Tabela 1: Lista de espécies de Mytaceae, respectivas isionomias de coleta e estado de conservação. Espécie Blepharocalyx eggersii (Kiaersk.) Landrum Calyptranthes brasiliensis Spreng. Calyptranthes glazioviana Kiaersk. Calyptranthes grandifolia O.Berg Calyptranthes lucida Mart. ex DC. Campomanesia anemonea Landrum Campomanesia espiritosantensis Landrum Campomanesia guaviroba (DC.) Kiaersk. Campomanesia guazumifolia (Cambess.) O.Berg Campomanesia laurifolia Gardner Campomanesia lineatifolia Ruiz & Pav. Campomanesia xanthocarpa (Mart.) O.Berg Eugenia adenantha O.Berg Eugenia astringens Cambess. Eugenia bahiensis O.Berg Eugenia batingabranca Sobral Eugenia beaurepairiana (Kiaersk.) D.Legrand Eugenia bocainensis Mattos Eugenia brasiliensis Lam. Eugenia brejoensis Mazine Eugenia aff. brevistyla D.Legrand Eugenia candolleana DC. Eugenia cataphyllea M.C.Souza & Sobral Eugenia copacabanensis Kiaersk. Eugenia dichroma O.Berg Eugenia ellipsoidea Kiaersk. Eugenia excelsa O.Berg Eugenia fusca O.Berg Eugenia hispidiflora Sobral & M.C.Souza Eugenia involucrata DC. Eugenia itapemirimensis Cambess. Eugenia macrantha O.Berg Eugenia macrosperma DC. Eugenia maritima DC. Eugenia melanogyna (D.Legrand) Sobral Eugenia monosperma Vell. Eugenia moonioides O.Berg Eugenia neosilvestris Sobral Eugenia pisiformis Cambess. Eugenia platyphylla O.Berg Eugenia plicatocostata O.Berg Eugenia prasina O.Berg Eugenia pruinosa D.Legrand Eugenia pruniformis Cambess. Eugenia punicifolia (Kunth) DC. Eugenia pyriflora O.Berg Eugenia repanda O.Berg Eugenia rostrata O.Berg MA MU CN × × APSI × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × Voucher A.N. Lino 74 G.L. Farias 99 I.A. Silva 352 D.A. Folli 2223 D.A. Folli 4722 D.A. Folli 5031 D.A. Folli 494 D.A. Folli 1020 G.S. Siqueira 55 G.S. Siqueira 466 D.A. Folli 2235 D.A. Folli 6750 D.A. Folli 7324 D.A. Folli 5350 D.A. Folli 3561 D.A. Folli 7073 D.A. Folli 4819 A.M. Lino 56 D.A. Folli 461 D.A. Folli 5417 D.A. Folli 12 G.S. Siqueira 833 D.A. Folli 4068 D.A. Folli 4961 D.A. Folli 31 D.A. Folli 6167 D.A. Folli 105 G.S. Siqueira 805 D.A. Folli 4431 D.A. Folli 7311 D.A. Folli 1314 D.A. Folli 472 I.A. Silva 297 D.A. Folli 6351 D.A. Folli 4823 D.A. Folli 3596 I.A. Silva 248 G.S. Siqueira 63 D.A. Folli 398 D.A. Folli 412 D.A. Folli 1486 D.A. Folli 6263 D.A. Folli 1424 J. Spada 78/78 D.A. Folli 1946 D.A. Folli 4683 D.A. Folli 1391 D.A. Folli 5148 Estado de Conservação* CR EN 251 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Espécie Eugenia sulcata Spring ex Mart. Eugenia supraaxilaris Spreng. Eugenia unana Sobral Marlierea acuminatissima (O.Berg) D.Legrand Marlierea estrellensis O.Berg Marlierea excoriata Mart. Marlierea glabra Cambess. Marlierea neuwiediana (O.Berg) Nied. Marlierea obversa D.Legrand Marlierea polygama (O.Berg) D.Legrand Marlierea regeliana O.Berg Marlierea aff. schottii D.Legrand Marlierea suaveolens Cambess. Marlierea sucrei G.M.Barroso & Peixoto Myrceugenia campestris (DC.) D.Legrand & Kausel Myrcia amazonica DC. Myrcia bergiana O.Berg Myrcia bicolor Kiaersk. Myrcia brasiliensis Kiaersk. Myrcia cerqueiria (Nied.) E.Lucas & Sobral Myrcia curtipendula NicLugh. Myrcia eumecephylla (O.Berg) Nied. Myrcia ferruginosa Mazine Myrcia follii G.M.Barroso & Peixoto Myrcia freyreissiana (O.Berg) Kiaersk. Myrcia gilsoniana G.M.Barroso & Peixoto Myrcia guianensis (Aubl.) DC. Myrcia ilheosensis Kiaersk. Myrcia isaiana G.M.Barroso & Peixoto Myrcia lineata (O.Berg) Nied. Myrcia maximiliana O.Berg Myrcia multiflora (Lam.) DC. Myrcia multipunctata Mazine Myrcia ovata Cambess. Myrcia palustris DC. Myrcia panicularis (O.Berg) N.Silveira Myrcia pubipetala Miq. Myrcia racemosa (O.Berg) Kiaersk. Myrcia riodocensis G.M.Barroso & Peixoto Myrcia rufipes DC. Myrcia splendens (Sw.) DC. Myrcia springiana (O.Berg) Kiaersk. Myrcia tenuifolia (O.Berg) Sobral Myrcia vittoriana Kiaersk. Myrciaria ferruginea O.Berg Myrciaria floribunda (West. ex Willd) O.Berg Myrciaria strigipes O.Berg Myrciaria tenella (DC.) O.Berg Neomitranthes langsdorffii (O.Berg) Mattos 252 MA MU CN × × APSI × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × × Voucher D.A. Folli 602 D.A. Folli 3846 D.A. Folli 3283 I.A. Silva 19 D.A. Folli 319 D.A. Folli 2161 D.A. Folli 81 J.A. Lombardi 9649 I.A. Silva 2 A.M. Lino 122 D.A. Folli 1507 D.A. Folli 7327 M.C. Souza 542 I.A. Silva 366 M.F. Freitas 270 D.A. Folli 6250 D.A. Folli 4745 D.A. Folli 4768 G.S. Siqueira 606 D.A. Folli 3001 D.A. Folli 4818 D.A. Folli 6885 D.A. Folli 3006 D.A. Folli 821 I.A. Silva 373 J. Spada 57 D.A. Folli 3572 D.A. Folli 902 I.A. Silva 21 D.A. Folli 5130 G.S. Siqueira 841 D.A. Folli 4399 D.A. Folli 1466 D.A. Folli 275 D.A. Folli 1568 I.A. Silva 308 I.A. Silva 227 G.L. Farias 597 D. Sucre 8269 I.A. Silva 246 I.A. Silva 36 D.A. Folli 4177 I.A. Silva 357 G.L. Farias 344 D.A. Folli 5147 D.A. Folli 497 D.A. Folli 4766 D.A. Folli 2965 M.C. Souza 351 Estado de Conservação* CR CR EN EN CR EN GIARETTA ET AL. Espécie Neomitranthes stictophylla (G.M.Barroso & Peixoto) M.C.Souza Plinia phitrantha (Kiaersk.) Sobral Plinia renatiana G.M.Barroso & Peixoto Plinia rivularis (Cambess.) Rotman Plinia spiritosantensis (Mattos) Mattos Psidium brownianum Mart. ex DC. Psidium guineense Sw. Psidium longipetiolatum D.Legrand Psidium myrtoides O.Berg Psidium oblongatum O.Berg Psidium sartorianum (O.Berg) Nied. MYRTACEAE MA MU CN APSI Voucher × D.A. Folli 22 × × × × × × × x × × D.A. Folli 2230 I.A. Silva 104 D.A. Folli 183 D.A. Folli 331 G.S. Siqueira 305 D.A. Folli 3252 D.A. Folli 5993 D.A.Folli 5040 D.A. Folli 6505 I.A. Silva 279 × × × × × Estado de Conservação* EN EN *Com base no Livro Vermelho da Flora do Brasil (Proença et al., 2013) Sooretama: Eugenia brevistyla (Sucre, 5543), Calyptranthes brasiliensis (Sucre, 5618), Eugenia pisiformis (Sucre, 5693) e Myrcia limae (Sucre, 9660). A partir da década de 1970, as coletas se intensiicaram, como mostra a Figura 3. Inventários lorísticos e lorestais realizados nas Matas de Tabuleiro (Peixoto & Gentry, 1990; Jesus & Rolim, 2005; Rolim et al., 2006) colocaram em evidência a grande riqueza de espécies da família na RNV, que aliado ao envio de duplicatas para diferentes herbários e expedições de especialistas à área, tem levado à descrição de novos táxons a partir de exemplares coletados nas Matas de Tabuleiro (Germano Filho et al., 2000) (Tabela 2), além de ampliar a documentação de espécies na região (Figura 4). As novas espécies descritas e maior parte dos estudos desenvolvidos a partir de coletas da RNV são provenientes da formação Mata Alta, evidenciando a representatividade desta formação que compreende cerca de 70% da área total da Reserva (Peixoto et al., 2008). A Mata Alta está estabelecida sobre solo essencialmente argiloso, mas também com inluência de sedimentos arenosos (Garay et al., 2003). Dentre as formações vegetais da RNV, a Mata Alta é a que apresenta maior diversidade de espécies (97), sendo 67 espécies com coletas apenas nesta formação, 29 espécies compartilhadas com as lorestas de Muçununga, 11 espécies compartilhadas com o Campo Nativo e quatro espécies compartilhadas com as áreas permanentemente ou sazonalmente inundadas. Ocorrem nesta formação, Calyptranthes lucida, Eugenia prasina, Marlierea excoriata e Myrcia cerqueiria. Tabela 2: Exemplo de táxons descritos com material coletado na RNV. Espécie Campomanesia espiritosantensis Landrum Eugenia batingabranca Sobral Eugenia cataphyllea M.C. Souza & Sobral Eugenia hispidiflora Sobral & M.C. Souza Marlierea sucrei G.M.Barroso & Peixoto Myrcia follii G.M.Barroso & Peixoto Myrcia gilsoniana G.M.Barroso & Peixoto Myrcia isaiana G.M.Barroso & Peixoto Myrcia riodocensis G.M.Barroso & Peixoto Neomitranthes stictophylla (G.M.Barroso & Peixoto) M.C.Souza Plinia renatiana G.M.Barroso & Peixoto Coletor (nº)/ Ano da coleta D.A. Folli (494) / 1984 D.A. Folli (365) / 1984 D.A. Folli (4068) / 2001 D.A. Folli (4431) / 2002 D. Sucre (8320) / 1972 D.A. Folli (821) / 1988 J. Spada (57) / 1972 I.A. Silva (21) / 1988 D. Sucre (8269) / 1972 D.A. Folli (22) / 1978 I.A. Silva (104) / 1973 Ano de publicação 1987 1987 2015 2015 1990 1990 1990 1990 1990 1991 1991 253 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Figura 4 Detalhe da inlorescência de Eugenia neosilvestris Sobral: a) em coleta recente (Foto: A. Giaretta); b) desenho a nanquim da década de 1980 (R. Garcia). Fotograias de expedições para coleta de Myrtaceae: c) A. Tuler coletando Psidium longipetiolatum D.Legrand (Foto: A. Giaretta); d) M. Souza e A. Giaretta coletando Psidium oblongatum O.Berg. (Foto: A.Tuler). 254 GIARETTA ET AL. A loresta de Muçununga ocupa cerca de 8% da área da RNV e constitui enclaves de solo predominantemente arenoso em meio à Mata Alta. Na loresta de Muçununga da RNV, Myrtaceae se sobressai quanto à densidade, mas também pela elevada riqueza (Simonelli et al., 2008). Foram registradas para essa formação, um total de 38 espécies, sendo cinco exclusivas dessas lorestas: Campomanesia anemonea, Eugenia neosilvestris, Marlierea neuwiediana, Marlierea obversa, Myrciaria tenella). O Campo Nativo se estende por aproximadamente 6% da área da RNV, possui solo arenoso como na Muçununga, entretanto, as condições edáicas do primeiro diferem pela pequena profundidade da camada arenosa, criando condições de inundação onde predomina uma vegetação herbácea com arbustos esparsos (Araujo et al., 2008; Ferreira et al., 2014). Dentre os arbustos, cujo sombreamento cria condições microclimáticas favoráveis para outras espécies e, ainda, gera suporte para orquídeas e bromélias, Myrtaceae contribui com 15 espécies nesta formação, sendo as mais frequentes Calyptranthes brasiliensis e Psidium brownianum. As áreas permanentemente ou sazonalmente inundadas apresentam um total de seis espécies, sendo Eugenia unana e Myrceugenia campestris exclusivas dessa formação. Vale destacar que as únicas espécies registradas para todas as formações vegetacionais ocorrentes na RNV foram Myrcia racemosa e Psidium brownianum. Giaretta et al. (2015), a partir de espécimes de Myrtaceae do Espírito Santo depositados em herbários, chegaram à conclusão de que as áreas com maior diversidade e endemismo são também aquelas mais bem coletadas, sugerindo que parâmetros potenciais de riqueza e endemismo ainda permanecem inexplorados em áreas pouco amostradas. Neste sentido, com base no número de coletas, a RNV se estabelece como a área lorestal mais conhecida do estado e, mesmo assim, atualmente ainda são descritas espécies antes desconhecidas para a ciência (p. ex. Coelho, 2010; Lopes et al., 2013; Sobral & Souza, 2015). Giaretta et al. (2015) ainda assinalaram 18 espécies endêmicas para o estado, das quais Campomanesia espiritosantensis, Myrcia follii, M. limae e M. riodocensis, também ocorrentes na RNV, MYRTACEAE foram apontadas com base em diferentes critérios como mais vulneráveis à extinção. Dada a elevada diversidade na RNV, incluindo o entorno e a Reserva Biológica de Sooretama, essa área é reconhecida como de extrema importância para a conservação (Espírito Santo, 2010). No Livro Vermelho da Flora do Brasil, das 18 espécies listadas por Proença et al. (2013) como ameaçadas de extinção, 10 espécies ocorrem na RNV, das quais cinco são endêmicas do Espírito Santo. Em razão da distribuição restrita, essas espécies estão mais susceptíveis a processos que podem levar à redução de suas populações e mesmo à extinção. Além disso, o intenso grau de ameaça causado pela histórica substituição de lorestas por sistemas agropastoris e silvicultura com espécies exóticas promoveram a redução e declínio da qualidade de habitat, intensiicado pela invasão de espécies exóticas nos remanescentes naturais. Dessa maneira, em um cenário de mudanças climáticas globais e cujos fatores que ameaçam a biodiversidade são constantes, o papel da RNV em abrigar, conservar e promover o conhecimento da biodiversidade da Mata de Tabuleiro capixaba se torna cada vez mais estratégico. Os resultados aqui apresentados conirmam a grande riqueza de espécies da família Myrtaceae na RNV e, ao mesmo tempo, revela a sua importância para a conservação da família na Floresta Atlântica. Embora nos últimos anos esforços tenham sido empregados para caracterização da família na RNV, inventários locais ainda são de extrema importância, bem como estudos mais aprofundados sobre as espécies. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Araujo, D.S.D.; Pereira, O.J. & Peixoto, A.L. 2008. Campos Nativos at the Linhares Forest Reserve, Espírito Santo, Brazil. In: Thomas, W.W. (ed.). The Atlantic Costal Forest of Northeastern Brazil. The New York Botanical Garden Press, New York. 371-385p. Barroso, G.M. & Peixoto, A.L. 1990. Espécies novas de Myrcia DC. e Marlierea Cambes. (Myrtaceae). Acta Botanica Brasilica 4(2): 3-19. Barroso, G.M. & Peixoto, A.L. 1991a. Novas espécies para o gênero Plinia (Myrtaceae). Atas da Sociedade Botânica do Brasil – secção Rio de Janeiro 3(12): 97104. 255 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Barroso, G.M. & Peixoto, A.L. 1991b. Myrtaceae da Reserva Florestal de Linhares, Espírito Santo, Brasil. 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Estudos filogenéticos recentes propuseram novos sistemas de classificação ao nível genérico (p. ex. Grose & Olmstead, 2007; Lohmann & Taylor, 2014) e tribal (Olmstead et al., 2009). Atualmente, oito clados principais são reconhecidos: seis dos quais correspondem às tribos Bignonieae, Catalpeae, Jacarandeae, Oroxyleae, Tecomeae e Tourrettieae, enquanto dois são informalmente chamados de Clado Paleotropical (Paleotropical Clade) e Aliança Tabebuia (Tabebuia Alliance). A família é bem representada na região Neotropical, figurando entre as 10 famílias mais diversas, tanto em florestas secas quanto úmidas (Gentry, 1982). No Brasil, centro de diversidade da família (Gentry, 1980), ocorrem 31 gêneros e 402 espécies, 193 das quais são endêmicas (Lohmann, 2015). Estas espécies estão distribuídas em três linhagens estritamente Neotropicais: (i) tribo Bignonieae; (ii) tribo Jacarandeae e (iii) clado Aliança Tabebuia. Bignonieae é a maior tribo da família, abarcando 21 gêneros e 393 espécies (Lohmann & Taylor, 2014). As espécies deste grupo são geralmente lianas caracterizadas pela formação de 4-32 cunhas de floema, profilos das gemas axilares frequentemente desenvolvidos, folhas comumente 2–3-folioladas com o folíolo terminal modificado em gavinha e frutos com deiscência septicida (Lohmann & Taylor, 2014; Figura 1). Esta tribo tem grande importância ecológica, pois representa o principal componente lianescente na região Neotropical (Gentry, 1982). Todos os gêneros da tribo Bignonieae ocorrem no Brasil, onde estão representados por 317 espécies nativas (Lohmann, 2015). A tribo Jacarandeae representa a primeira linhagem que divergiu em Bignoniaceae (Olmstead et al., 2009). Esta tribo inclui dois gêneros nativos do Brasil, Digomphia Benth. e Jacaranda Juss. Digomphia inclui 3 espécies (Gentry, 1992a), duas das quais ocorrem no Brasil (Lohmann, 2015). Jacaranda, por sua vez, inclui 49 espécies (Gentry, 1992a), 36 das quais ocorrem no Brasil (Lohmann, 2015). Espécies de Jacarandeae são árvores ou arbustos com folhas geralmente bipinadas, 259 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE estaminódio alongado e exserto, e cápsulas loculicidas, achatadas perpendicularmente ao septo (Gentry, 1992a; Figura 2A–C). O clado Aliança Tabebuia inclui 14 gêneros e 147 espécies de árvores e arbustos com folhas digitadas e cápsulas loculicidas (Olmstead et al., 2009; Figura 2D–O). Dois terços das espécies deste grupo estão alocadas nos gêneros Handroanthus Mattos e Tabebuia Gomes ex DC. Além destes, seis outros gêneros também ocorrem no Brasil: Crescentia L., Cybistax Mart. ex Meisn., Godmania Hemsl., Paratecoma Kuhlm., Sparattosperma Mart. ex Meisn. e Zeyheria Mart. (Lohmann, 2015). Representantes destes três clados de Bignoniaceae ocorrem na Reserva Natural Vale (RNV), onde a família está entre as dez mais diversas famílias de angiospermas (CVRD, 1998). Este grande potencial atraiu a atenção de especialistas, como Alwyn Gentry (entre 1985 e 1987) e Lúcia Lohmann (em 2001), que realizaram coletas focadas nesta família e impulsionaram signiicativamente o conhecimento das Bignoniaceae na região, levando a um total de 51 espécies e 26 gêneros conhecidos para a RNV (CVRD, 2002). Desde então, novas coletas foram realizadas aprimorando ainda mais o conhecimento sobre a lora local. O alto número de gêneros e espécies de Bignoniaceae na RNV fez com que esta reserva fosse selecionada como um dos quatro principais sítios de amostragem para a ilogenia da tribo Bignonieae (Lohmann, 2006). Assim, a Reserva atualmente representa uma área chave para estudos ecológicos e evolutivos em Bignoniaceae. Neste contexto, a minuciosa caracterização da lora da família na RNV é fundamental para embasar estes estudos. METODOLOGIA Este estudo foi baseado na lista de espécies de Bignoniaceae compilada por Lohmann em 2001 e publicada como parte da lista florística de espécies da CVRD (2002). Através desta lista e das informações fenológicas disponíveis nas etiquetas dos materiais depositados em herbário, foram planejadas novas expedições de campo e consultas aos acervos CVRD, MBML, MO, NY, 260 RB, SPF e VIES (siglas segundo Thiers, 2015), visando detectar novos registros para a área. Foram realizadas sete expedições de coleta entre 2007 e 2011, distribuídas ao longo do ano todo, a fim de cobrir o período de floração e frutificação de todas as espécies. Ao todo, foram coletadas 272 novas amostras, as quais foram fotografadas em campo ou laboratório. As fotografias de material vivo incluíram detalhes dos folíolos, flores, frutos e sementes, bem como fotos do hábito das diversas espécies. Estas fotos estão sendo utilizadas para a produção de um guia de campo para identificação das espécies de Bignoniaceae da Reserva Natural Vale (Zuntini & Lohmann, em preparação). Este trabalho segue as classificações recentes da tribo Bignonieae (Lohmann & Taylor, 2014) e Aliança Tabebuia (Grose & Olmstead, 2007). Além disso, especialistas e tratamentos taxonômicos para gêneros específicos foram também consultados, visando a checagem de identificações e esclarecimentos taxonômicos, especialmente no caso de espécies de difícil circunscrição; estes trabalhos estão citados ao longo do texto. RESULTADOS E DISCUSSÃO Levantamento das espécies de Bignoniaceae da Reserva Natural Vale (RNV) Foram registrados 25 gêneros e 62 espécies de Bignoniaceae para a Reserva Natural Vale (Tabela 1). Destes, 18 gêneros e 44 espécies são representantes de Bignonieae, um gênero e duas espécies de Jacarandeae e seis gêneros e 16 espécies do clado Aliança Tabebuia (Figuras 1-2). A diversidade de Bignoniaceae encontrada na RNV representa quase metade das 115 espécies da família ocorrentes no estado do Espírito Santo (Lohmann, 2015) e cerca de um terço das 199 espécies documentadas para a Mata Atlântica (Lohmann & Tarabay, 2009). Dentre os gêneros de lianas, os mais diversos são Adenocalymma Mart. ex Meisn. (9 spp.), Fridericia Mart. (5 spp.) e Mansoa DC. (4 spp.), enquanto Handroanthus (7 spp.) e Tabebuia (5 spp.) são os gêneros arbóreos mais diversos (Tabela 1). ZUNTINI & LOHMANN BIGNONIACEAE Figura 1: Diversidade morfológica de Bignonieae. A: Hábito - Lundia virginalis; B–D: Seções transversais do caule; B: Adenocalymma validum; C: Bignonia prieurii; D: Dolichandra unguiculata; E–F: Folhas; E: Adenocalymma validum; F: Amphilophium crucigerum; G–K: Proilos das gemas axilares; G: Adenocalymma bracteatum; H: Amphilophium frutescens; I: Anemopaegma chamberlaynii; J: Bignonia corymbosa; K: Bignonia sciuripabulum; L–P: Inlorescência; L: Adenocalymma bracteatum; M: Lundia longa; N: Pleonotoma albiflora; O: Tynanthus cognatus; P: Fridericia subincana; Q–S: Flores; Q: Martinella insignis; R: Amphilophium crucigerum; S: Stizophyllum riparium; T–V: Frutos; T: Amphilophium crucigerum; U: Anemopaegma chamberlaynii; V: Mansoa onohualcoides; W–Y: Sementes; W: Anemopaegma chamberlaynii; X: Fridericia subincana; Y: Pleonotoma albiflora. 261 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Figura 2: Diversidade morfológica de Jacarandeae e Aliança Tabebuia. A–C: Jacarandeae; A: Folha de Jacaranda puberula; B: Flor de J. puberula; C: Fruto de J. puberula; B–O: Aliança Tabebuia; D: Folha de Handroanthus riodocensis; E–G: Inlorescência; E: Handroanthus riodocensis; F: Sparattosperma leucanthum; G: Tabebuia elliptica; H–J: Flores; H: Tabebuia cassinoides; I: Handroanthus arianeae; J: Zeyheria tuberculosa; K–L: Hábito; K: Handroanthus arianeae; L: Tabebuia cassinoides; M–O: Frutos; M: Handroanthus aff. chrysotrichus; N: Handroanthus serratifolius; O: Zeyheria tuberculosa. 262 ZUNTINI & LOHMANN BIGNONIACEAE Tabela 1: Distribuição das espécies de Bignoniaceae encontradas na Reserva Natural Vale, organizadas por gênero, e status de conservação. Vouchers em negrito indicam tipos nomenclaturais. Fitoisionomias: Capoeiras (Ca), Campo Nativo (CN), Mata Ciliar (MC), Mata de Tabuleiro (MT), Muçununga (Mu) e Várzea (Va). Espécies Tribo Bignonieae 46/393 spp.1 Adenocalymma Mart. ex Meisn. 9/82 spp.1 A. aurantiacum Udulutsch & Assis A. bracteatum (Cham.) DC. A. coriaceum A. DC. A. cymbalum (Cham.) Bureau & K.Schum. A. divaricatum Miers A. hirtum (Mart. ex DC.) Bureau & K.Schum. A. hypostictum Bureau & K.Schum. A. marginatum (Cham.) DC. A. validum (K.Schum.) L.G.Lohmann Amphilophium Kunth 3/47 spp.1 A. bauhinioides (Bureau ex Baill.) L.G.Lohmann A. crucigerum (L.) L.G.Lohmann A. frutescens (DC.) L.G.Lohmann Anemopaegma Mart. ex Meisn. 2/45 spp.1 A. chamberlaynii (Sims) Bureau & K.Schum. A. setilobum A.H.Gentry Bignonia L. 3/31 spp.2 B. corymbosa (Vent.) L.G.Lohmann B. prieurii DC. B. sciuripabulum (K.Schum.) L.G.Lohmann Callichlamys Miq. 1/1 spp.1 C. latifolia (Rich.) K.Schum. Cuspidaria DC. 1/19 spp.1 C. lasiantha (Bureau & K.Schum.) L.G.Lohmann Dolichandra Cham. 3/9 spp.3 D. quadrivalvis (Jacq.) L.G.Lohmann D. unguiculata (Vell.) L.G.Lohmann D. unguis-cati (L.) L.G.Lohmann Fridericia Mart. 5/67 spp.1 F. chica (Bonpl.) L.G.Lohmann F. conjugata (Vell.) L.G.Lohmann F. rego (Vell.) L.G.Lohmann F. samydoides (Cham.) L.G.Lohmann F. subincana (Mart.) L.G.Lohmann Lundia DC. 2/13 spp.1 L. longa (Vell.) DC. L. virginalis DC. Mansoa DC. 4/12 spp.1 M. difficilis (Cham.) Bureau & K.Schum. M. hymenaea (DC.) A.H.Gentry M. lanceolata (DC.) A.H.Gentry M. onohualcoides A.H.Gentry Voucher Folli 3701 Zuntini 29 Zuntini 254 Zuntini 164 Folli 5151 Peixoto 3052 Zuntini 257 Menandro 114 Zuntini 96 Status Fitoisionomia Ca CN MC MT Mu Va Ca Ca Ca Ca MC MT MT MT MT MT Mu Mu Ca Ca Ca Ca MT MT MT Folli 2685 Zuntini 178 Zuntini 167 Ca Ca MT MT Zuntini 217 Siqueira 742 Ca CN MC MT MT Mu Zuntini 170 Zuntini 13 Zuntini 119 Ca Ca Ca CN MC MT MT MT Mu Zuntini 171 Ca MT Zuntini 267 Ca MT Va Lohmann 686 Zuntini 176 Zuntini 43 Va Mu MT MT MT Zuntini 129 Zuntini 291 Zuntini 144 Zuntini 218 Zuntini 185 Ca Ca Ca Ca Zuntini 1 Zuntini 126 Ca Ca Zuntini 259 Zuntini 130 Zuntini 230 Zuntini 276 Ca Ca Ca Ca MT MT MT MT MT CN Mu Mu Mu Mu MT MT MT 263 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Espécies Martinella Baill. 1/3 spp.4 M. insignis A.H.Gentry ex Zuntini & L.G.Lohmann Neojobertia Baill. 1/2 spp.1 N. aff. mirabilis (Sandwith) L.G.Lohmann Pleonotoma Miers 2/17 spp.1 P. albiflora (Salzm. ex DC.) A.H.Gentry P. stichadenium K.Schum. Pyrostegia C.Presl 1/3 spp.1 P. venusta (Ker Gawl.) Miers Stizophyllum Miers 1/3 spp.1 S. riparium (Kunth) Sandwith Tanaecium Sw. 1/17 spp.1 T. selloi (Spreng.) L.G.Lohmann Tynanthus Miers 2/14 spp.5 T. cognatus (Cham.) Miers T. espiritosantensis M.C.Medeiros & L.G.Lohmann Xylophragma Sprague 2/7 spp.1 X. harleyi (A.H.Gentry ex M.M.Silva & L.P.Queiroz) L.G.Lohmann X. myrianthum (Cham. ex Steud.) Sprague Jacarandeae 2/52 spp.7 Jacaranda Juss. 2/49 spp.7 J. obovata Cham. J. puberula Cham. Aliança Tabebuia 16/147 spp.8 Cybistax Mart. ex Meisn. 1/1 spp.7 C. antisyphilitica (Mart.) Mart. Handroanthus Mattos 7/30 spp.9 H. arianeae (A.H.Gentry) S.Grose H. bureavii (Sandwith) S.Grose H. aff. chrysotrichus (Mart. ex DC.) Mattos H. cristatus (A.H.Gentry) S.Grose H. heptaphyllus (Vell.) Mattos H. riodocensis (A.H.Gentry) S.Grose H. serratifolius (Vahl) S.Grose Paratecoma Kuhlm. 1/1 spp.7 P. peroba (Record) Kuhlm. Sparattosperma Mart. ex Meisn. 1/2 spp.7 S. leucanthum (Vell.) K.Schum. Tabebuia Gomes ex DC. 5/67 spp.9 T. cassinoides (Lam.) DC. T. elliptica (DC.) Sandwith T. obtusifolia (Cham.) Bureau T. roseo-alba (Ridley) Sandwith T. stenocalyx Sprague & Stapf. Zeyheria Mart. 1/2 spp.7 Z. tuberculosa (Vell.) Bureau Voucher Status Zuntini 151 DD 4 Fitoisionomia Ca CN MC MT Mu Va Ca Zuntini 282 Ca Zuntini 118 Folli 5186 Ca Ca Siqueira 31 Ca MT Zuntini 219 Ca MT Zuntini 201 Ca MT Ca MT MT Zuntini 147 Folli 5931 DD MT MC 6 Folli 1140 MT Mu MT Zuntini 320 Ca Folli 633 Zuntini 107 Ca Folli 6450 Ca MT CN MT MC EN 10 Folli 658 Zuntini 148 Zuntini 102 Farias 34 Zuntini 328 Silva 63 Zuntini 153 EN 11 Folli 137 EN 10 Va MT MC MC MC EN 10 Ca Va MT MT MT MT MT MT VU 11 Zuntini 186 VU 10 Mu MT Zuntini 182 Zuntini 41 Zuntini 253 Folli 87 Silva 93 Zuntini 232 Mu Mu EN 10 Va CN Mu MT MT Va MT Referências: 1Lohmann & Taylor (2014); 2Zuntini et al. (2015b); 3Fonseca et al. (2015); 4Zuntini & Lohmann (2014); 5Medeiros & Lohmann (2015); 6Medeiros & Lohmann (2014); 7Gentry (1992a); 8Olmstead et al. (2009); 9Grose & Olmstead (2007); 10 Lohmann et al. (2013); 11Lohmann & Tarabay (2009). 264 ZUNTINI & LOHMANN Foram documentados 11 novos registros de Bignoniaceae para a RNV desde o último levantamento lorístico publicado (CVRD, 2002): Adenocalymma bracteatum (Cham.) DC., A. coriaceum A.DC., A. divaricatum Miers, A. hirtum (Mart. ex DC.) Bureau & K.Schum., A. hypostictum Bureau & K.Schum., Amphilophium frutescens (DC.) L.G.Lohmann, Cybistax antisyphilitica (Mart.) Mart., Mansoa hymenaea (DC.) A.H.Gentry, M. onohualcoides A.H.Gentry, Pleonotoma albiflora (Salzm. ex DC.) A.H.Gentry e Tynanthus cognatus (Cham.) Miers. Juntamente com estas, três novas espécies de Bignoniaceae foram recentemente descritas com base em materiais coletados na Reserva: Adenocalymma aurantiacum Udulutsch & Assis (Udulutsch et al., 2013), Martinella insignis A.H.Gentry ex Zuntini & L.G.Lohmann (Zuntini & Lohmann, 2014) e Tynanthus espiritosantensis M.C.Medeiros & L.G.Lohmann (Medeiros & Lohmann, 2014). Além disso, três espécies arbóreas foram descritas anteriormente com base em materiais da Reserva: Tabebuia arianeae A.H.Gentry [= Handroanthus arianeae (A.H.Gentry) S.Grose], Tabebuia cristata A.H.Gentry [= Handroanthus cristatus (A.H.Gentry) S.Grose] e Tabebuia riodocensis A.H.Gentry [= Handroanthus riodocensis (A.H.Gentry) S.Grose] (Gentry 1992a), levando a um total de seis novas espécies de Bignoniaceae descritas a partir de espécimes coletados na Reserva (Tabela 1). Dentre as novas espécies, T. espiritosantensis é conhecida apenas do município de Linhares (Medeiros & Lohmann, 2014), enquanto três outras espécies raras da lora brasileira também são encontradas na região: Mansoa onohualcoides, H. arianeae e H. cristatus (Lohmann & Silva-Castro, 2009). Espécies da tribo Bignonieae, amplamente distribuídas desde a Mata Atlântica até a América Central, também ocorrem na Reserva, tais como: Amphilophium crucigerum (L.) L.G.Lohmann, Bignonia corymbosa (Vent.) L.G.Lohmann, Callichlamys latifolia (Rich.) K.Schum., Dolichandra quadrivalvis (Jacq.) L.G.Lohmann, D. unguis-cati (L.) L.G.Lohmann, Friderica chica (Bonpl.) L.G.Lohmann, F. conjugata (Vell.) L.G.Lohmann e Stizophyllum riparium (Kunth) Sandwith (Lohmann & Taylor, 2014). Dentre as arbóreas, a única amplamente distribuída é Handroanthus serratifolius (Vahl) S.Grose, a qual ocorre em toda a região tropical da América do Sul (Gentry, 1992a). BIGNONIACEAE Amostras estéreis coletadas na reserva foram identiicadas preliminarmente como Adenocalymma flaviflorum (Miq.) L.G.Lohmann (voucher M. SousaBaena 02) e Jacaranda macrantha Cham. (voucher A.H. Gentry 59214). Caso conirmada a identidade destes materiais através de coletas de material fértil, estas espécies passarão a integrar a lista lorística de Reserva. Além disso, algumas espécies de Bignoniaceae amplamente distribuídas foram coletadas em municípios próximos a Sooretama e é possível que ocorram na Reserva, em particular: Amphilophium paniculatum (L.) Kunth, Fridericia speciosa Mart., Lundia corymbifera (Vahl) Sandwith, Pleonotoma melioides (S. Moore) A.H. Gentry e Tanaecium pyramidatum (Rich.) L.G.Lohmann. Algumas espécies apresentadas no inventário disponibilizado pela CVRD (2002) sofreram alterações taxonômicas e/ou receberam novas identiicações e não constam no presente inventário. Mais especiicamente, os materiais anteriormente identiicados como Adenocalymma periglandulosum A.H. Gentry, nom. ined. (in sched.) e A. salmoneum J.C.Gomes (in sched.) foram usados para descrever A. aurantiacum (Udulutsch et al., 2013). Por outro lado, Anemopaegma citrifolium (DC.) Baill. é atualmente considerada sinônimo de A. chamberlaynii (Sims) Bureau & K.Schum. (Arbo & Lohmann, 2008). Bignonia binata Thunb. teve sua circunscrição redeinida, com os materiais da RNV sendo agora tratados sob B. sciuripabulum (K.Schum.) L.G.Lohmann (Zuntini et al., 2015a). Lundia cordata (Vell.) DC. era um nome erroneamente aplicado à espécie atualmente reconhecida como Lundia longa (Vell.) DC. (Lohmann & Taylor, 2014). Por im, Tynanthus elegans Miers foi recentemente sinonimizado em T. cognatus (Cham.) Miers (Medeiros & Lohmann, 2015). No Brasil, 23 espécies da família Bignoniaceae estão ameaçadas (Lohmann et al., 2013). Destas, cinco espécies arbóreas são encontradas na RNV: Handroanthus arianeae, H. riodocensis, Paratecoma peroba (Record) Kuhlm., Tabebuia cassionoides (Lam.) DC. e Zeyheria tuberculosa (Vell.) Bureau. Além destas, outras duas espécies também iguram com algum grau de ameaça: Handroanthus cristatus e Tabebuia obtusifolia (Cham.) Bureau (Lohmann & Tarabay, 2009). Todas estas espécies são extraídas para ins madeireiros, o que compromete a recuperação de suas populações em razão de 265 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE baixas densidades da espécie e predominância de indivíduos adultos (Schulze et al., 2008). A alta diversidade e representatividade da família nesta área, associado ao alto número de espécies raras e ameaçadas, indicam claramente o importante papel da Reserva para a proteção e conservação das Bignoniaceae do Espírito Santo e Mata Atlântica. Dentre as espécies listadas, algumas apresentam interesse econômico. O principal uso é na indústria madeireira, dada a alta qualidade da madeira encontrada nos gêneros Handroanthus e Paratecoma (Gentry, 1992b). Apesar de apresentarem madeiras mais moles (Santos & Mille, 1992), T. cassionoides, T. obtusifolia e Z. tuberculosa também são exploradas comercialmente (Gentry, 1992b). Por este motivo, indivíduos destes grupos foram frequentemente extraídos das matas, o que levou à ameaça de extinção local de várias espécies dos gêneros supracitados (Lohmann et al., 2013). Diversas espécies encontradas na Reserva também podem ser usadas para arborização ou ornamentação; por exemplo, Handroanthus serratifolius, H. heptaphyllus (Vell.) Mattos e Tabebuia roseo-alba (Ridley) Sandwith são espécies arbóreas comumente utilizadas na arborização urbana. Entre as lianas, Pyrostegia venusta (Ker Gawl.) Miers é certamente uma das espécies mais utilizadas como ornamental (Gentry, 1992b). Além desta, outras espécies da Reserva também poderiam ser exploradas para este im, como: Dolichandra unguis-cati, Fridericia conjugata, Lundia virginalis DC. e Mansoa onohualcoides, dadas as suas loradas exuberantes. Há ainda algumas espécies que são fontes de pigmento, como Cybistax antisyphilitica, Fridericia chica e Sparattosperma leucanthum (Vell.) K.Schum. (Gentry, 1992b). Distribuição das espécies de Bignoniaceae da Reserva Natural Vale As 62 espécies de Bignoniaceae encontradas na RNV estão distribuídas pelas seis principais itoisionomias da Reserva: Capoeira, Campo Nativo, Mata Ciliar, Mata de Tabuleiro, Muçununga e Várzea. Enquanto 23 espécies (37%) ocorrem exclusivamente em uma itoisionomia (Figura 3), Bignonia corymbosa e Anemopaegma chamberlaynii são as mais generalistas. Bignonia corymbosa foi observada em todas as itoisionomias e A. chamberlaynii foi observada em quase todas as áreas, exceto na Várzea (Tabela 1). 266 Figura 3: Conectividade entre itoisionomias. Para cada itoisionomia é apresentado o número de espécies registradas (exclusivo/total). O número de espécies compartilhadas está apresentado junto às linhas: linhas mais espessas indicam um alto número de espécies compartilhadas entre as itoisionomias enquanto as linhas tracejadas indicam um baixo número de espécies compartilhadas (≤ 3). A Mata de Tabuleiro representa a itoisionomia mais rica e também a com maior área. Esta itoisionomia perfaz quase metade da área da Reserva (CVRD, 1998), abrigando 49 espécies, 13 observadas exclusivamente nesta formação. Os gêneros Handroanthus e Zeyheria estão entre os elementos arbóreos e componentes do dossel mais característicos desta itoisionomia. As lianas totalizam 37 espécies e, como em outros estudos itossociológicos (p. ex. Gentry, 1982), representam a família de lianas mais diversa nas Matas de Tabuleiro (Peixoto & Gentry 1990). As três espécies de Dolichandra (D. unguis-cati, D. quadrivalvis e D. unguiculata (Vell.) L.G.Lohmann) são restritas a esta itoisionomia. A Mata de Tabuleiro compartilha 31 espécies com as Capoeiras, especialmente espécies pertencentes aos gêneros Adenocalymma (7 spp.), Bignonia L. (3 spp.) e Fridericia (4 spp.). Além disso, a Mata de Tabuleiro também compartilha 12 espécies com a Muçununga e 7 com a Mata Ciliar. A maior parte das espécies compartilhadas entre estas itoisionomias são também encontradas em áreas ZUNTINI & LOHMANN de Capoeira, exceto Handroanthus serratifolius e Sparattosperma leucanthum, que são exclusivas de Muçununga e Matas de Tabuleiro e H. heptaphyllus, que é exclusiva da Mata Ciliar e Mata de Tabuleiro. A segunda itoisionomia mais rica é a Capoeira, com 38 espécies de Bignoniaceae. A maior parte destas espécies (31 spp.) é compartilhada com a Mata de Tabuleiro e depois com a Muçununga (9 spp.). Destas nove, oito também são compartilhadas com a Mata de Tabuleiro, exceto Lundia longa que ocorre apenas nas Capoeiras e Muçunungas. Somente quatro espécies são exclusivas das Capoeiras: Cybistax antisyphilitica, Mansoa hymenaea, M. onohualcoides e Martinella insignis. A Muçununga, com 14 espécies, é a terceira itoisionomia mais rica na Reserva. Esta itoisionomia não apresenta espécies exclusivas, compartilhando espécies principalmente com Mata de Tabuleiro (12 spp.) e Capoeira (9 spp.). Estas três isionomias juntas abarcam 55 espécies de Bignoniaceae, ou 88% da diversidade da família na Reserva. A única espécie não compartilhada com essas duas outras itoisionomias é Tabebuia elliptica (DC.) Sandwith, uma arvoreta que ocorre em áreas de transição entre Muçununga e Campo Nativo. Outros elementos comuns da Muçununga são: Fridericia conjugata, F. subincana (Mart.) L.G.Lohmann, Lundia longa e S. leucanthum. A Mata Ciliar inclui nove espécies de Bignoniaceae, nenhuma delas restrita a esta itoisionomia. Como a Muçununga, esta itoisionomia compartilha o maior número de espécies com a Mata de Tabuleiro e Capoeira. Entretanto, Jacaranda puberula Cham. e Handroanthus bureavii (Sandwith) S.Grose são elementos característicos da Mata Ciliar, encontrados apenas nas áreas de transição com brejos e Várzeas não permanentemente alagadas. As Várzeas icam somente à frente dos Campos Nativos em relação à riqueza de espécies. Nesta itoisionomia ocorrem seis espécies de Bignoniaceae, três das quais são exclusivas das Várzeas permanentemente inundadas: Tabebuia cassinoides, com 66% dos indivíduos amostrados em um inventário desta isionomia (CVRD, 1998), juntamente com Amphilophium frutescens e Tabebuia stenocalyx Sprague & Stapf., ambas encontradas exclusivamente nas margens dos corpos d’água. O Campo Nativo, com quatro espécies, é a itoisionomia com menor representatividade de Bignoniaceae. Tabebuia elliptica, A. chamberlaynii e L. BIGNONIACEAE longa são as espécies mais comuns desta formação, nenhuma das quais é restrita a esta itoisionomia. CONCLUSÃO No presente levantamento foram detectados 11 novos registros de Bignoniaceae para a RNV, elevando para 62 o total de espécies conhecidas para a Reserva. Destas 62 espécies, sete estão ameaçadas de extinção, três são raras e uma é endêmica da região. Esta diversidade de espécies representa mais da metade das espécies do Espírito Santo e um terço das espécies da Mata Atlântica, e inclui diversas espécies com potencial econômico, especialmente madeireiro, ornamental e itoquímico. Cerca de 90% desta diversidade está concentrada nas Matas de Tabuleiro, Capoeiras e Muçununga. Quase metade das espécies (30 de 62 spp.) está representada pelos gêneros Adenocalymma (9 spp.), Handroanthus (7 spp.), Fridericia (5 spp.), Tabebuia (5 spp.) e Mansoa (4 spp.). Estes resultados corroboram a importância dos elementos da família Bignoniaceae para a lora da Reserva Natural Vale, irmando-a como área crucial para a conservação e estudos taxonômicos, ecológicos e evolutivos desta família. Este levantamento lorístico também representa a base para a produção de um guia de campo visando a identiicação das espécies da Reserva (Zuntini & Lohmann, em preparação), provendo recursos visuais que facilitem a identiicação das espécies por quaisquer pesquisadores. AGRADECIMENTOS Agradecemos à Vale pelo apoio logístico e inanceiro que permitiram a realização deste projeto e em especial ao Geovane Siqueira, pela grande ajuda no campo e no herbário. Agradecemos também a todos aqueles que auxiliaram nas expedições de campo, especialmente: Alberto Vicentini, Anselmo Nogueira, Elaine Françoso, Jenifer Lopes, Mardel Silva, Mariane Sousa-Baena, Rafael Almeida, Vania Pretti e Wesley Pires. Também agradecemos Miriam Kaehler e Luiz Henrique Fonseca pela ajuda na determinação de materiais, um revisor anônimo por comentários construtivos ao manuscrito e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientíico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa de iniciação 267 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE cientíica para ARZ e bolsa de Produtividade em Pesquisa para LGL (PQ-1C). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Arbo, M.M. & Lohmann, L.G. 2008. Bignoniaceae. Pp. 1581–1627. In: F. O. Zuloaga, O. Morrone, and M. J. Belgrano (Eds). Catálogo de las plantas vasculares del Cono Sur: (Argentina, Sur de Brasil, Chile, Paraguay y Uruguay). St. Louis, Missouri Botanical Garden Press. CVRD 1998. Plano diretor de uso da Reserva Florestal de Linhares - Análise da Reserva - Fatores bióticos. Vitória, Companhia Vale do Rio Doce - Superintendência de Madeira e Celulose. CVRD 2002. Florística completa ordenada por família 64a aproximação. 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As epíitas representam parte importante da riqueza das lorestas neotropicais, abrangendo diversas famílias botânicas (Gentry & Dobson, 1987a; Kreft et al., 2004; Krömer et al., 2005; Kersten, 2010). Por exemplo, cerca de 10% da lora vascular do Brasil, aproximadamente 2.840 espécies de angiospermas e 370 de samambaias e licóitas são epifíticas (http://loradobrasi.jbrj.gov.br). Em outros países neotropicais, como o Peru, também 10% da lora vascular é composta por epíitas (Ibish et al., 1996) e no Equador essa porcentagem atinge 26,5% (Jørgensen & Léon-Yánez, 1999). Desde o início da colonização da América, esse grupo de plantas atraiu a atenção dos exploradores, ilustradores e viajantes que se depararam com as lorestas ao longo da costa tropical atlântica (Benzing, 1990). Epíitas tem papel importante na dinâmica de lorestas neotropicais, como por exemplo, na ciclagem de nutrientes (Nadkarni & Matelson, 1992; Oliveira, 2004) e nas interações com a fauna (Gentry & Dobson, 1987b). Uma única árvore pode servir de suporte para 126 (Schuettpelz & Trapnell, 2006) a 195 espécies de epíitas vasculares (Catchpole & Kirkpatrick, 2011), embora valores menores já sejam considerados altos, como cerca de 80 epíitas vasculares por árvore (Kreft et al., 2004; Krömer et al., 2005; Petean, 2009). Esta elevada diversidade torna a forma de vida um tema atraente e ao mesmo tempo complexo para estudos ecológicos. Entretanto, por ocuparem as partes mais altas e de difícil acesso no dossel das áreas lorestais, constituem um grupo ainda pouco estudado. De acordo com Kersten (2010), no Brasil, os estudos sobre comunidades de epíitas iniciaram na década de 80 com os trabalhos de Waechter (1980) e Aguiar et al. (1981) no Rio Grande do Sul. Observando os resultados apresentados por Kersten (2010), numa análise lorística de 59 levantamentos no domínio da Floresta Atlântica que apresentam lista de espécies epíitas, nenhum abrange a lora capixaba. São listados dez trabalhos no Rio Grande do Sul, três em Santa Catarina, 28 no Paraná, 11 em São Paulo, três no Rio de Janeiro, três em Minas Gerais e um no Mato Grosso do Sul. No Espírito Santo, apenas recentemente foram realizados dois estudos sobre comunidades epifíticas: um na região serrana do Estado (Freitas & Assis, 2013) e outro que considerou as epíitas em árvores de Pseudobombax aff. campestre 269 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE MATERIAIS & MÉTODOS As lorestas de muçununga ocorrem geralmente como enclaves no interior da loresta de tabuleiro, sobre depósitos arenosos (espodossolos), onde o dossel ocorre a cerca de 10 m de altura e ocorre grande penetração de luz no sub-bosque (Simonelli et al., 2008). Nesta isionomia, os solos são pobres e existe um grande estresse hídrico, os quais são limitantes para o crescimento das árvores (Saporetti-Júnior et al., 2012). Os campos nativos ou “nativo” são uma isionomia variando de herbácea a arbustiva, ocorrendo também sobre solos arenosos e pobres em terrenos do terciário, semelhante à vegetação de restinga que ocorre sobre terrenos do quaternário (Araujo et al., 2008). Esta isionomia é considerada por alguns uma variação da muçununga, assim como a variação que ocorre entre isionomias de cerrado (Meira-Neto et al., 2005). A variação isionômica nos campos nativos é provavelmente condicionada pela frequência e duração do alagamento do solo em épocas chuvosas (Ferreira et al., 2014). As áreas permanentemente inundadas, aqui denominadas várzeas, também apresentam um gradiente isionômico difícil de deinir, podendo variar de herbáceas a arbóreas com dossel a 12 m de altura (Peixoto et al., 2008). Área de Estudo A Reserva Natural Vale (RNV) localiza-se no norte do Espírito Santo, sobre terrenos com pequena variação de altitude, geralmente entre 30 e 60 m. O clima é considerado estacional, embora a vegetação lorestal possa ser classiicada como Floresta Estacional Perenifólia. Para o período de janeiro de 1975 a dezembro de 2004, a precipitação média anual foi igual a 1.227 mm (desvio padrão ± 273 mm), a temperatura média anual foi de 23,3 o C, variando muito pouco ao longo do ano, entre 20,0 oC e 26,2 oC (médias das mínimas e máximas anuais). A umidade relativa média anual foi de 85,8%, também variando muito pouco ao longo do ano, entre 82,2% e 89,2% (Rolim et al., 2016a). Na RNV ocorrem quatro tipos principais de isionomias vegetais. A de maior extenção é a loresta de tabuleiro, uma isionomia lorestal madura e bem conservada em sua maior parte, onde as árvores chegam a atingir mais de 35 m de altura (Jesus & Rolim, 2005; Peixoto et al., 2008). Coleta de Dados Foram utilizados dois procedimentos de identiicação das espécies. Para as famílias de samambaias, licóitas e Araceae, todas as coletas foram analisadas por especialistas (ver Sylvestre et al., 2016, neste volume; Coelho, 2016, neste volume). Para as demais famílias, foi feita uma consulta às exsicatas do Herbário CVRD, da Reserva Natural Vale, depositadas até a data de 5 de abril de 2015, não sendo realizadas campanhas especíicas de coletas para este trabalho. Todos os registros foram analisados e foram excluídas as coletas indeterminadas e aquelas realizadas fora dos limites da RNV. As famílias botânicas de Angiospermas foram classiicadas de acordo com o sistema APG III (2009): samambaias seguiram Smith et al. (2006) e Lycopodiaceae seguiu Øllgaard & Windisch (2014). A lista de espécies foi submetida à checagem de nomes através da ferramenta Plantminer (Carvalho et al., 2010) o qual faz uma correção nos aloramentos graníticos no sul do estado (Couto, 2013). Por outro lado, diversos trabalhos contribuíram com o conhecimento de famílias botânicas importantes para as comunidades epifíticas capixabas, como Orchidaceae (Fraga & Peixoto, 2004; Pereira & Ribeiro, 2004; Rodrigues & Simonelli, 2007), Bromeliaceae (Wendt et al., 2010; Couto et al., 2013) e Araceae (Coelho, 2010). A região norte do estado, onde ocorre a Floresta Atlântica de Tabuleiro (Rizzini, 1963), é citada como um dos 14 centros de diversidade e endemismo de plantas do Brasil (Peixoto & Silva, 1997; Peixoto et al., 2008). Outras isionomias vegetais importantes, como a loresta de muçununga (Simonelli et al., 2008) e os campos nativos (Araújo et al., 2008; Ferreira et al., 2014) também ocorrem nesta região, mas nenhum estudo sobre a composição de epíitas foi direcionado a estas isionomias. Assim, neste trabalho, com base na coleção do Herbário CVRD, é apresentada a composição lorística de epíitas vasculares nas isionomias de loresta de tabuleiro, loresta de muçununga, campos nativos e várzeas da Reserva Natural Vale, no norte do Espírito Santo. 270 ROLIM ET AL. automática dos nomes válidos e sinônimos, através de consulta à Lista de Espécies da Flora do Brasil (www.loradobrasil.jbrj.gov.br). Algumas espécies não encontradas no site da Flora do Brasil foram consultadas no site The Plant List (www. theplantlist.org). Para descrição das isionomias de ocorrência das coletas, as áreas de loresta secundária e mata ciliar foram consideradas como loresta de tabuleiro e áreas brejosas e lorestas de várzea foram consideradas como várzeas. As formas de vida citadas como epíitas no Herbário CVRD foram mantidas, respeitando a forma como a planta foi encontrada na RNV. Contudo, foi feita exceção para espécies arbóreas que possuem hábito epifítico na fase inicial da vida (p. ex. Ficus, de acordo com Romaniuc Neto et al., 2015). Plantas anotadas nas ichas de herbário como trepadeiras, mas com hábito hemiepifítico foram consideradas dessa forma (p. ex., algumas espécies de Vanilla e diversas de Philodendron). As epíitas foram ainda classiicadas em categorias ecológicas, baseado na sua forma de vida e relação com o hospedeiro (Benzing, 1990; Kersten, 2010): •Holoepíitas verdadeiras: hábito epifítico durante todo o ciclo de vida; •Holoepíitas facultativas: podem crescer tanto no foróito como no solo; •Holoepíitas acidentais: não possuem adaptação à vida epifítica, crescem ocasionalmente sobre os foróitos; •Hemiepíitas primárias: hábito epifítico apenas em parte do ciclo de vida; germinam sobre os foróitos e posteriormente emitem raízes até o solo; •Hemiepíitas secundárias: hábito epifítico apenas em parte do ciclo de vida; germinam no solo e escalam o foróito, eventualmente perdendo a dependência das raízes ixas no solo. RESULTADOS & DISCUSSÃO Composição Epifítica na RNV A Reserva Natural Vale apresentou uma lora de 184 espécies epifíticas, distribuídas em 19 famílias e 82 gêneros, representando 8,2% das epíitas já registradas para a loresta atlântica (Freitas et al., 2016). As famílias mais ricas em EPÍTITAS epíitas vasculares na RNV foram Orchidaceae (82 spp.), Araceae (23 spp.), Bromeliaceae (22 spp.) e Polypodiaceae (15 spp.), que juntas somam 78% das espécies de epíitas vasculares (Tabela 2). Os gêneros mais ricos foram Epidendrum (12 spp.), Philodendron (12 spp.), Peperomia (10 spp.), Ficus (10 spp.), Acianthera (7 spp.), Aechmea (6 spp.) e Tillandsia (6 spp.). Outras espécies comumente encontradas como epíitas só foram registradas como terrestres e não estão computadas em nossa lista, mas mostra o potencial de novos registros epifíticos na Reserva, como Aechmea patentissima (Mart. ex Schult. & Schult.f.) Baker, Galeottia ciliata (Morel) Dressler & Christenson, Quesnelia quesneliana (Brongn.) L.B.Sm., Vriesea longiscapa Ule e Drymonia serrulata (Jacq.) Mart. As quatro famílias mais ricas na RNV (Orchidaceae, Bromeliaceae, Araceae e Polypodiaceae, Tabela 2) são as que apresentam maior riqueza na Floresta Atlântica (Freitas et al., 2016). O padrão de riqueza encontrado para estas famílias é muito consistente em várias áreas neotropicais com lora vascular epifítica bem amostrada, embora as porcentagens possam variar dependendo das condições ambientais de cada local e do esforço amostral diferenciado em algumas famílias. Alguns gêneros foram muito diversiicados na RNV. Por exemplo, a riqueza de espécies epíitas dos gêneros Philodendron, Epidendrum e Ficus na RNV está entre as maiores já registradas, considerando os estudos na Floresta Atlântica citados na Tabela 3. Para Philodendron, uma possível explicação é o esforço intensivo de coletas de Araceae na RNV a partir de 2004, levando à descrição de várias espécies novas, entre as quais Philodendron follii Nadruz e Philodendron ruthianum Nadruz. Todavia, apenas três espécies de Orchidaceae do gênero Stelis e uma de Octomeria, foram registradas para a RNV. Estes gêneros são ricos em espécies no sul da Bahia (Leitman et al., 2014) e na loresta atlântica em geral (Freitas et al., 2016) indicando que pode haver uma deiciência na coleta dos mesmos na RNV. Das espécies registradas: 139 ocorreram na loresta de tabuleiro (75,5%), 110 na loresta de muçununga (59,8%), 23 no nativo (12,5%) e 14 na várzea (7,6%) (Tabela 2). Mas dado que a loresta de muçununga cobre menos que dois 271 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Tabela 1: Lista de espécies epíitas da RNV nas isionomias de loresta de tabuleiro (FT), loresta de muçununga (FM), nativo (N), várzeas (V) e suas formas biológicas (HOV, holoepíita verdadeira; HOF, holoepíita facultativa; HEP, hemiepíita primária; HES, hemiepíita secundária). Família Espécie Araceae Anthurium ianthinopodum (Schott ex Engl.) Nadruz & Mayo Anthurium pentaphyllum (Aubl.) G.Don var. pentaphyllum Anthurium raimundii Mayo, Haigh & Nadruz Anthurium scandens (Aubl.) Engl. subsp. scandens Anthurium solitarium Schott Heteropsis rigidifolia Engl. Heteropsis salicifolia Kunth Monstera adansonii var. klotzschiana (Schott) Madison Monstera praetermissa E.G.Gonçalves & Temponi Philodendron blanchetianum Schott Philodendron follii Nadruz Philodendron fragrantissimum (Hook.) G.Don Philodendron hederaceum (Jacq.) Schott var. hederaceum Philodendron oblongum (Vell.) Kunth Philodendron ornatum Schott Philodendron pedatum (Hook.) Kunth Philodendron rudgeanum Schott Philodendron ruthianum Nadruz Philodendron speciosum Schott ex Endl. Philodendron stenolobum E.G.Gonçalves Philodendron vargealtense Sakur. Rhodospatha latifolia Poepp. Syngonium vellozianum Schott Asplenium serratum L. Acanthostachys strobilacea (Schult. & Schult.f.) Klotzsch Aechmea floribunda Mart. ex Schult. & Schult.f. Aechmea lamarchei Mez Aechmea maasii Gouda & W.Till Aechmea nudicaulis (L.) Griseb. Aechmea saxicola L.B.Sm. Aechmea warasii E.Pereira Billbergia euphemiae E.Morren Billbergia iridifolia (Nees & Mart.) Lindl. Catopsis sessiliflora (Ruiz & Pav.) Mez Hohenbergia augusta (Vell.) E.Morren Tillandsia bulbosa Hook.f. Tillandsia gardneri Lindl. Tillandsia globosa Wawra Tillandsia stricta Sol. Tillandsia tenuifolia L. Tillandsia usneoides (L.) L. Vriesea ensiformis (Vell.) Beer Vriesea gigantea Gaudich. Vriesea neoglutinosa Mez Vriesea pauperrima E.Pereira Vriesea procera (Mart. ex Schult. & Schult.f.) Wittm. Epiphyllum phyllanthus (L.) Haw. subsp. phyllanthus Hylocereus setaceus (Salm-Dyck) R.Bauer Rhipsalis elliptica G.Lindb. ex K.Schum. Aspleniaceae Bromeliaceae Cactaceae 272 Fisionomia Forma FT, FM FT, FM FM FT, FM FT FT FT FT, FM FT FM FT, FM FT, FM FT, FM FT, V FT, V FT, FM FT, V FM, V FT FT, FM FM FT, V FT, FM FT, FM FM FT FT, FM FT FM, N FT, FM FT FT, FM FT, FM N FT, FM FM FM, N FT, FM FM, N FT, FM FT, FM V FT N FT, FM N FT, FM, N FT, FM, N FM HOV HES HOV HOV HOV HES HES HES HES HES HES HES HES HES HES HES HES HES HES HES HES HES HES HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HES HOV ROLIM ET AL. Família Clusiaceae Cyclanthaceae Dryopteridaceae Gesneriaceae Hymenophyllaceae Lomariopsidaceae Moraceae Orchidaceae EPÍTITAS Espécie Rhipsalis floccosa Salm-Dyck ex Pfeiff. Rhipsalis lindbergiana K.Schum. Rhipsalis paradoxa (Salm-Dyck ex Pfeiff.) Salm-Dyck Clusia spiritu-sanctensis G.Mariz & B.Weinberg Asplundia polymera (Hand.-Mazz.) Harling Evodianthus funifer (Poit.) Lindm. Polybotrya cylindrica Kaulf. Polybotrya osmundacea Willd. Codonanthopsis uleana (Fritsch) Chautems & Mat. Perret Didymoglossum hymenoides (Hedw.) Copel. Lomariopsis marginata (Schrad.) Kuhn Nephrolepis biserrata (Sw.) Schott Nephrolepis rivularis (Vahl) Mett. ex Krug Ficus arpazusa Casar. Ficus castellviana Dugand Ficus citrifolia Mill. Ficus clusiifolia Schott Ficus cyclophylla (Miq.) Miq. Ficus holosericea Schott Ficus nymphaeifolia Mill. Ficus obtusifolia Kunth Ficus trigona L.f. Ficus trigonata L. Acianthera auriculata (Lindl.) Pridgeon & M.W.Chase Acianthera glumacea (Lindl.) Pridgeon & M.W.Chase Acianthera nemorosa (Barb.Rodr.) F.Barros Acianthera ophiantha (Cogn.) Pridgeon & M.W.Chase Acianthera pectinata (Lindl.) Pridgeon & M.W.Chase Acianthera recurva (Lindl.) Pridgeon & M.W.Chase Acianthera strupifolia (Lindl.) Pridgeon & M.W.Chase Alatiglossum ciliatum (Lindl.) Baptista Brasilaelia grandis (Lindl. & Paxton) Gutfreund Brasiliorchis chrysantha (Barb.Rodr.) R.B.Singer et al. Brasiliorchis marginata (Lindl.) R.B.Singer et al. Brassavola tuberculata Hook. Brassia arachnoidea Barb.Rodr. Campylocentrum aciculatum (Rchb.f. & Warm.) Cogn. Campylocentrum micranthum (Lindl.) Rolfe Campylocentrum sellowii (Rchb.f.) Rolfe Catasetum discolor (Lindl.) Lindl. Catasetum luridum Lindl. Catasetum mattosianum Bicalho Cattleya guttata Lindl. Christensonella ferdinandiana (Barb.Rodr.) Szlach. et al. Christensonella pumila (Hook.) Szlach. et al. Christensonella subulata (Lindl.) Szlach. et al. Coryanthes speciosa Hook. Cyrtopodium gigas (Vell.) Hoehne Dichaea pendula (Aubl.) Cogn. Dichaea trulla Rchb.f. Dimerandra emarginata (G.Mey.) Hoehne Dryadella aviceps (Rchb.f.) Luer Encyclia oncidioides (Lindl.) Schltr. Fisionomia Forma FM FT FT FT, FM FT FT FM FT, V FT, FM FM FT FT, V FM, V FT, FM FT, FM, N FT FT, FM FT, FM FT FT, FM FT FT FM FT FT, FM FT, FM FT FM FM FT, FM FM FT, FM FM FT FT, FM FM N FM FT, FM FT, N FT FM FT, FM FT FT, FM FT, FM FT FT FT, FM FT FT FT, FM FM HOV HOV HOV HEP HES HOV HES HES HOV HOV HES HOF HOV HEP HEP HEP HEP HEP HEP HEP HEP HEP HEP HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOF HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV 273 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Família Espécie Encyclia patens Hook. Epidendrum anceps Jacq. Epidendrum campaccii Hágsater & L.Sánchez Epidendrum carpophorum Barb.Rodr. Epidendrum compressum Griseb. Epidendrum coronatum Ruiz & Pav. Epidendrum cristatum Ruiz & Pav. Epidendrum densiflorum Hook. Epidendrum flexuosum G.Mey. Epidendrum latilabre Lindl. Epidendrum nocturnum Jacq. Epidendrum rigidum Jacq. Epidendrum strobiliferum Rchb.f. Gongora quinquenervis Ruiz & Pav. Heterotaxis brasiliensis (Brieger & Illg) F.Barros Lophiaris pumila (Lindl.) Braem Macradenia rubescens Barb.Rodr. Maxillaria robusta Barb.Rodr. Miltonia moreliana A.Rich. Mormolyca rufescens (Lindl.) M.A.Blanco Myoxanthus exasperatus (Lindl.) Luer Nemaconia striata (Lindl.) van den Berg et al. Notylia microchila Cogn. Notylia pubescens Lindl. Octomeria sagittata (Rchb.f.) Garay Oncidium baueri Lindl. Pabstiella fusca (Lindl.) Chiron & Xim.Bols. Pabstiella parvifolia (Lindl.) Luer Polystachya concreta (Jacq.) Garay & Sweet Polystachya foliosa (Lindl.) Rchb.f. Polystachya hoehneana Kraenzl. Prosthechea fragrans (Sw.) W.E.Higgins Prosthechea pygmaea (Hook.) W.E.Higgins Rodriguezia obtusifolia (Lindl.) Rchb.f. Rodriguezia venusta Rchb.f. Scaphyglottis emarginata (Garay) Dressler Scaphyglottis livida (Lindl.) Schltr. Sobralia sessilis Lindl. Sophronitis cernua Lindl. Specklinia grobyi (Batem. ex Lindl.) F.Barros Stelis amoena Pridgeon & M.W.Chase Stelis intermedia Poepp. & Endl. Stelis susanensis (Hoehne) Pridgeon & M.W.Chase Trichocentrum fuscum Lindl. Trigonidium acuminatum Batem. ex Lindl. Trigonidium latifolium Lindl. Trizeuxis falcata Lindl. Vanilla bahiana Hoehne Vanilla chamissonis Klotzsch Vanilla sp. nov. Warczewiczella wailesiana (Lindl.) Rchb.f. ex E.Morren Zygostates lunata Lindl. 274 Fisionomia Forma FM FT, FM FM FM FM FT FM FM FT, N FM FT FT, FM FM FM FT FT FT FM FT FT, FM FT FM FT FT, FM FM FM FT, FM FT FT, FM FT FT FM FT FT, V FM FM FT, FM FM FT FT, FM FT, FM FT, FM FT FT FT FT, FM FT FT, FM, N FT FT FT FT HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HES HES HES HOV HOV ROLIM ET AL. EPÍTITAS Família Espécie Piperaceae Peperomia corcovadensis Gardner Peperomia elongata Kunth Peperomia macrostachya (Vahl) A.Dietr. Peperomia magnoliifolia (Jacq.) A.Dietr. Peperomia obtusifolia (L.) A.Dietr. Peperomia pellucida (L.) Kunth Peperomia psilostachya C.DC. Peperomia psilostachya var. angustifolia C.DC. Peperomia regelii C.DC. Peperomia trinervis Ruiz & Pav. Campyloneurum acrocarpon Fée Campyloneurum nitidum (Kaulf.) C. Presl Microgramma geminata (Schrad.) R.M.Tryon & A.F.Tryon Microgramma microsoroides Salino et al. Microgramma persicariifolia (Schrad.) C. Presl Microgramma vacciniifolia (Langsd. & Fisch.) Copel. Pecluma dispersa (A.M.Evans) M.G.Price Pecluma plumula (Willd.) M.G.Price Phlebodium pseudoaureum (Cav.) Lellinger Pleopeltis hirsutissima (Raddi) de la Sota Pleopeltis minima (Bory) J.Prado & R.Y.Hirai Pleopeltis monoides (Weath.) Salino Pleopeltis pleopeltifolia (Raddi) Alston Serpocaulon latipes (Langsd. & Fisch.) A.R.Sm. Serpocaulon triseriale (Sw.) A.R.Sm. Vittaria lineata (L.) Sm. Hillia illustris (Vell.) K.Schum. Selaginella muscosa Spring Markea atlantica Stehmann & Giacomin Coussapoa microcarpa (Schott) Rizzini Polypodiaceae Pteridaceae Rubiaceae Selaginellaceae Solanaceae Urticaceae mil ha na RNV, o número de epíitas encontradas nesta isionomia é muito elevado. Considerando apenas as três isionomias mais diversas, 32% das espécies epifíticas vasculares foram registradas exclusivamente na loresta de tabuleiro, 21% exclusivamente na loresta de muçununga e 2,2% exclusivamente no nativo. O compartilhamento de espécies entre a loresta de tabuleiro e a loresta de muçununga foi de 34%. Entre a loresta de tabuleiro, a loresta de muçununga e nativo foi de 4,9%. Esta alta porcentagem de espécies exclusivas mostra que o conjunto das diversas isionomias da RNV tem um peso importante na contribuição da riqueza local de espécies epifíticas. O nativo na RNV é uma vegetação variando de herbácea a arbustiva, de fácil atividade de coleta e coletas adicionais não devem acrescentar muitas espécies à lora epifítica, embora existam alguns nativos ocorrendo como enclaves no interior Fisionomia Forma FT FT, N FM FT FM FT FT FT, FM FT FT FT, FM FM FT, FM, N FT, V FT FT, FM, N FT FT, FM, N FT FT, FM FT, V FT FT, FM FT, FM, N FT, FM, N FM, V FT FT, N FT, FM FT, FM, V HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOF HOF HOF HOV HOV HOF HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOV HOF HOF HOV HEP HOF HES HEP da loresta que nunca foram coletados. As áreas de Várzea provavelmente foram subamostradas para Orchidaceae (apenas 1 registro, Tabela 2) e aquelas com alagamento permanente são áreas de difícil acesso. Campanhas de coleta nestas áreas podem contribuir, no mínimo, para aumentar a riqueza deste ambiente. Nota-se ainda, na Tabela 2, uma maior riqueza relativa da família Bromeliaceae nas áreas de muçununga e nativo que na loresta de tabuleiro, fato comum para esta família que aparece com maior riqueza em áreas de restingas ao longo da Mata Atlântica (Kersten, 2010). As lorestas de muçununga ocorrem geralmente como enclaves no interior da loresta de tabuleiro (ver mapa na página de abertura deste volume), acessadas geralmente por longas caminhadas. Campanhas de coletas direcionadas para estas áreas também podem contribuir para aumentar a riqueza desta isionomia e até mesmo 275 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Tabela 2: Número de espécies de epíitas vasculares por família nas isionomias vegetais da Reserva Natural Vale, Linhares/ES. Família \ Fisionomia Orchidaceae Araceae Bromeliaceae Polypodiaceae Moraceae Piperaceae Cactaceae Lomariopsidaceae Dryopteridaceae Cyclanthaceae Aspleniaceae Clusiaceae Gesneriaceae Hymenophyllaceae Pteridaceae Rubiaceae Selaginellaceae Solanaceae Urticaceae Total Tabuleiro Muçununga Nativo 56 20 13 15 9 9 4 2 1 2 1 1 1 48 14 17 9 6 3 4 1 1 5 1 7 5 1 1 2 1 1 1 1 1 139 da lora epifítica da RNV. Das espécies registradas, 72,8% são holoepíitas verdadeiras, 15,2% são hemiepíitas secundárias, 7,1% são hemiepíitas primárias e 4,9% são holoepíitas facultativas. Geralmente são encontradas de 70 a 90% de holoepíitas verdadeiras nos estudos das comunidades epifíticas (Breier, 2005; Kersten & Silva, 2005; Petean, 2009; Blum et al., 2011; Kersten & Waechter, 2011; Leitman et al., 2014). As espécies de Orchidaceae são predominantemente holoepíitas verdadeiras (78 das 82 espécies). As espécies de Araceae são predominantemente hemiepíitas secundárias (19 das 23 espécies). Existem propostas para que as hemiepíitas secundárias, sejam consideradas como um tipo de cipó, dada a sua semelhança isiológica com este grupo de planta (Holbrook & Putz, 1996; Moffett, 2000; Zotz, 2013). Se isso se conirmar, a família Araceae perderá seu status entre as famílias mais importantes na lora epifítica. As espécies de Bromeliaceae e Piperaceae são todas holoepíitas verdadeiras. As espécies de Polypodiaceae são em sua maioria holoepíitas 276 Várzea 1 5 1 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 110 23 1 14 Total 82 23 22 15 10 10 6 3 2 2 1 1 1 1 1 1 1 1 1 184 verdadeiras (9 das 15 espécies). Entre as hemiepíitas primárias, destacam-se as espécies de Moraceae, todas do gênero Ficus. Espécies Ameaçadas Entre os epíitos vasculares, seis espécies são citados como ameaçados na lista vermelha do Brasil (Martineli & Moraes, 2013): Ficus cyclophylla (Moraceae), Cattleya guttata, Brassia arachnoidea, Catasetum mattosianum, Notylia microchila (Orchidaceae) e Pleopeltis monoides (Polypodiaceae). As quatro últimas apresentam locais de ocorrência conhecidos apenas para a Mata Atlântica da Bahia e do Espírito Santo, atualmente sob forte pressão antrópica pela redução do habitat. As duas primeiras apresentam poucos registros conhecidos e também ocorrem em ambientes com pressão antrópica. Stelis susanensis é citada por Giulietti et al. (2009) como planta rara, conhecida apenas do material tipo coletado em 1938 por Hoehne no estado de São Paulo. Entretanto, o material testemunho da RNV conirma a sua ocorrência no ROLIM ET AL. EPÍTITAS Espírito Santo (Barros et al., 2015). Microgramma microsoroides Salino et al. (Sylvestre et al., 2016, neste volume), recém-descrita e com poucas coletas, pode ser considerada rara ou endêmica do norte do Espírito Santo. As espécies Philodendron follii Nadruz e Philodendron ruthianum Nadruz podem ser consideradas endêmicas, com poucos registros em nível local e estadual, respectivamente (Coelho, 2010). Espécies da lista vermelha do Espírito Santo (Simonelli & Fraga, 2007) e não consideradas na lista nacional, apresentam distribuição em outros estados ou estão protegidas em algumas unidades de conservação, sendo consideradas menos preocupantes em nível nacional (Martineli & Moraes, 2013). Esta categoria inclui espécies como Anthurium ianthinopodum, Philodendron vargealtense, Acianthera pectinata, Aechmea maasii, Vriesea neoglutinosa, Acianthera auriculata, Acianthera glumacea, Acianthera pectinata, var. angustifolia, Peperomia psilostachya Macradenia rubescens, Rodriguezia obtusifolia, Warczewiczella wailesiana e Peperomia regelii. Riqueza de Espécies na RNV Com 184 espécies, a lora epifítica da RNV está entre as mais ricas já registradas na Floresta Atlântica, mesmo considerando o clima estacional da região norte do Espírito Santo. Provavelmente, a alta umidade atmosférica de 86% ao longo do ano na RNV (Rolim et al., 2016a), ajuda a compensar esta estacionalidade climática, permitindo uma diversidade elevada de epíitas. Considerando as quase 2100 espécies vasculares da RNV (Rolim et al., 2016b; Sylvestre et al., 2016), o índice epifítico é de 9%. Kersten (2010) considera que uma média de 15 a 20% de espécies epíitas vasculares pode ser esperada para áreas amplas e bem amostradas na Mata Atlântica. Por este índice, pode ser dito que a lora epifítica da RNV está subamostrada. A riqueza registrada na RNV é bem inferior à encontrada em algumas localidades na Mata Atlântica que chegam a mais de 300 espécies (Fontoura et al., 1997; Kersten & Kunyioshi, 2006) e muito inferior às lorestas no oeste da Amazônia, principalmente no Equador, onde a riqueza chega a 450-600 espécies (Bussmann, 2001; Kuper et al., 2004). Comparar a riqueza da lora vascular de diferentes localidades não é simples, já que as áreas diferem em tamanho, na diversidade de ambientes e no esforço de coleta empregado. Geralmente, áreas com clima mais quente, elevada pluviosidade, variação altitudinal e diversidade de ambientes proporcionam ambientes mais propícios para a elevada riqueza de espécies epíitas (Kersten & Silva, 2005). Algumas das localidades mais ricas em espécies epifíticas na Mata Atlântica são listadas Tabela 3. Riqueza de espécies (S) e porcentagem nos principais grupos taxonômicos de epíitas em algumas áreas com pelo menos 140 espécies epíitas na Mata Atlântica. Local Bacia do Alto Iguaçu, PR Res. Ecol. de Macaé de Cima, RJ Serra da Prata, PR Prq. Est. Carlos Botelho, SP Prq. Nac. Serra das Lontras, BA Ilha do Mel, PR Reserva Natural Vale, ES Prq. Est. da Ilha do Cardoso, SP RPPN Morro da Mina, PR APA Rio Piraquara, PR S Orchidaceae Bromeliaceae Araceae Samambaias e Licóitas Fonte 348 307 278 256 256 188 184 178 159 140 42,2 59,9 37,0 28,9 41,4 39,4 44,8 40,4 38,4 32,1 11,2 14,7 13,7 16,8 25,0 16,0 12,0 18,5 15,1 14,3 2,6 1,6 5,0 7,4 12,1 3,7 12,6 6,2 6,9 2,1 27,0 10,4 26,6 26,6 ---26,1 13,1 18,0 21,4 37,1 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Legenda: (1) Kersten & Kunyioshi (2006); (2) Fontoura et al. (1997); (3) Blum et al. (2011); (4) Lima et al. (2012); (5) Leitman et al. (2014); (6) Kersten & Silva (2005); (7) Este Estudo; (8) Breier (2005); (9) Petean (2009); (10) Kersten & Waechter (2011). 277 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE 278 na Tabela 3 e existem várias diferenças entre elas que diicultam as comparações. Por exemplo, um estudo na bacia do Alto Iguaçu, no Paraná, registrou 348 espécies, mas foi realizada numa área extensa (escala de cerca de 100 km), com alta heterogeneidade de ambientes e de climas (Kersten & Kunyioshi, 2006). Na Reserva Ecológica de Macaé de Cima, com menos de 10 mil ha, em ambientes com variação altitudinal, foram registradas 307 espécies (Fontoura et al., 1997). A Serra da Prata, com 278 espécies (Blum et al., 2011) e o Parque Estadual Carlos Botelho, com 256 espécies (Lima et al., 2012), também apresentam forte variação altitudinal e áreas da ordem de 30 mil ha. Porém, em Carlos Botelho a amostragem foi baseada em vários estudos, incluindo registros de herbários; na Serra da Prata, a amostragem se deu em apenas 6,3 ha de um trecho de loresta de encosta entre 400 e 1.100 m de altitude. No Parque Nacional da Serra das Lontras, na Bahia, foram registradas 256 espécies, numa área de 11 mil ha, em altitudes de 400 a 1.000 m (Leitman et al., 2014). Entretanto, nesta riqueza não foram consideradas as samambaias e licóitas e nem as epíitas acidentais, incluídas nos outros estudos. Já na RNV, o relevo é plano, variando entre 30 e 60 m de altitude, ou seja, não existem gradientes altitudinais. Como nas áreas serranas citadas anteriormente, o clima é estacional, diferentemente de grande parte das áreas costeiras atlânticas, mas com alta umidade relativa média anual (86%). Por outro lado, apresenta uma diversidade isionômica que contribui na riqueza de espécies. Por im, concluímos que embora a riqueza de epíitas vasculares da RNV possa ser considerada alta, ainda está subamostrada, provavelmente porque não houve estudos direcionados para este grupo. Considerando ainda a alta riqueza e endemismo de espécies e que existem muitas espécies ameaçadas ao nível estadual ou nacional, inventários direcionados à comunidade epifítica, podem ser considerados uma das prioridades botânicas para o norte do Espírito Santo. As imagens a seguir ilustram algumas espécies de epíitas ocorrentes na RNV (Figura 1 a Figura 4). Figura 1: Anthurium ianthinopodum. Foto: M. Nadruz Figura 2: Anthurium pentaphyllum. Foto: M. Nadruz ROLIM ET AL. Figura 3: Pleopeltis pleopeltidis. Foto: L. Sylvestre Figura 4: Monstera praetermissa. Foto: M. Nadruz AGRADECIMENTOS Agradecemos a Jorge Waechter e Rodrigo Kersten pelos comentários e sugestões que enriqueceram o texto. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aguiar, L.W.; Citadini-Zanette, V.; Martau, L.; Backes, A. 1981. Composição lorística de epíitos vasculares numa área localizada nos municípios de Montenegro e Triunfo, Rio Grande do Sul, Brasil. Iheringia (Série Botânica) 28:55-93. APG III. 2009. An update of the Angiosperm Phylogeny Group classiication for the orders and families of lowering plants. Botanical Journal of the Linnaean Society 161:105-202. Araujo, D.S.D.; Pereira, O.J. & Peixoto, A.L. 2008. Campos nativos at the Linhares forest reserve, Espírito Santo, Brazil. 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Outro nome aplicado às espécies da família é pindaíba, que em tupi signiica árvore que produz vara de pescar e há também pinha, que vem da semelhança dos frutos comestíveis de várias espécies com o estróbilo dos pinheiros (Saint-Hilaire, 1828; Houaiss & Villar, 2001). São plantas lenhosas, podendo ser árvores, arbustos e lianas, possuem folhas simples de margem inteira e sem estípulas. As folhas estão dispostas alternadamente em um único plano nos ramos, exceto no gênero amazônico Tetrameranthus, no qual as folhas estão em disposição espiralada. As lores possuem três sépalas e dois verticilos de três pétalas cada; também neste caso, Tetrameranthus é uma exceção, possuindo lores tetrâmeras, como o seu próprio nome sugere. Os frutos podem ser um sincarpo carnoso como os do gênero Annona, que inclui espécies como a graviola, a fruta-doconde, as pinhas e os araticuns em geral, ou podem ser aporcápicos, compostos por vários carpídios, com uma ou mais sementes cada (Kessler, 1993). Annonaceae é uma das famílias de plantas mais ricas e abundantes nas lorestas tropicais (Gentry, 1988; Ter Steege et al., 2000) e conta com 109 gêneros e 2.440 espécies (Rainer & Chatrou, 2006). O Brasil, o país como a maior diversidade lorística do mundo, também concentra a maior diversidade de Annonaceae da região neotropical, com 29 gêneros e 396 espécies. Na Amazônia, Annonaceae igura entre as dez famílias de Angiospermas com maior número de espécies, 287. A Mata Atlântica é o segundo centro de diversidade da família no Brasil, com 96 espécies e 16 gêneros. O Espírito Santo, por sua vez, está entre os estados com a maior diversidade de Annonaceae da Mata Atlântica, num total de 12 gêneros e 44 espécies (Maas et al., 2015). A Reserva Natural Vale engloba mais da metade dessa diversidade, contando com 11 gêneros e 27 espécies (Lopes & Mello-Silva, 2014a). Mesmo em regiões densamente povoadas, como a zona costeira do Brasil, nas quais o trabalho de levantamento lorístico é mais facilitado, novas espécies ainda estão sendo descobertas. Dentre as espécies da Reserva, quatro foram descritas como novas para ciência nos últimos 20 anos (Maas, 1999; Maas et al., 2007) e duas o foram muito recentemente (Lopes et al., 2013; Lopes et al., 2014). Isso demonstra a importância que áreas como a Reserva Natural Vale desempenham para a preservação e conservação da biodiversidade brasileira. Neste capítulo serão apresentadas as espécies de Annonaceae da reserva, características morfológicas que permitem seu reconhecimento, dados sobre sua distribuição, nomes populares utilizados na reserva e fotos e ilustrações das espécies. 283 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE MATERIAL E MÉTODOS As Annonaceae da Reserva Natural Vale (RNV) foram estudadas das coleções dos herbários BHCB, CESJ, CVRD, ESA, MBM, MBML, R, RB, RBR, SP e SPF (siglas segundo Thiers, 2015), dos quais o herbário da própria reserva, CVRD, reúne a coleção mais signiicativa. Também foram realizadas cinco viagens de campo entre 2010 e 2011 para coleta e preparação de material mais abrangente e rico. Além de exsicatas, foram tiradas fotograias e lores e frutos foram preservados em álcool 70% para melhor análise dos caracteres e confecção de desenhos cientíicos. O material, tanto em álcool quanto herborizado, está depositado no herbário da Universidade de São Paulo (SPF) e duplicatas nos herbários CVRD, MBML e RB. Os desenhos foram elaborados por Klei Sousa e Isabel Martinelli. Os nomes populares são os utilizados pelos funcionários da reserva para a identiicação das espécies e muitos são criações locais, utilizados no reconhecimento e comercialização de mudas. Os nomes vulgares foram obtidos das exsicatas e de Geovane Siqueira (com. pes.). A lista de espécies que ocorrem na reserva (Tabela 1) foi organizada com base em Lopes & Mello-Silva (2014a), onde descrições, chaves de identiicação e listas completas de materiais examinados podem ser obtidas. Outras informações sobre as espécies podem ser obtidas em Fries (1931, 1939), Johnson & Murray (1995), Lobão et al. (2005, 2011, 2012), Lopes et al. (2013, 2014), Maas & Westra (1985, 2003), Maas et al. (1992, 2002, 2003, 2007, 2015), Murray (1993) e Rainer (2001). Um material testemunho foi selecionado para cada espécie. RESULTADOS E DISCUSSÃO Riqueza de Espécies Na Reserva Natural Vale ocorrem 11 gêneros e 27 espécies de Annonaceae, das quais 18 são endêmicas da Mata Atlântica e quatro, (Duguetia sooretamae, Oxandra unibracteata, Unonopsis aurantiaca e U. renatoi) endêmicas da reserva (Tabela 1). Apresentamos as espécies que ocorrem na RNV, seguida de seus nomes populares, fotograias e ilustrações, bem como comentários sobre sua área de ocorrência e características marcantes. 284 Descrição das espécies Anaxagorea dolichocarpa, conhecida na Reserva como ariticum-bravo e detoni, possui ampla distribuição, ocorrendo da Colômbia até o sudeste do Brasil (Maas & Westra, 1985). Na reserva, habita a Mata de Tabuleiro e a mata de várzea. Seus frutos são bastante peculiares porque cada carpídio tem forma de taco de golfe. Floresce de setembro a dezembro (Figuras 1A, 3A-C). Annona acutiflora, conhecida como ariticum, é pequena árvore que ocorre na Mata Atlântica da Bahia ao Rio de Janeiro, mas não é muito comum (Lobão et al., 2005). Na RNV, habita a Mata de Tabuleiro e a muçununga. Seu nome cientíico é referência ao ápice das pétalas externas, que é bastante agudo, condição rara no gênero. Floresce de setembro a dezembro e frutiica em fevereiro (Figura 1B, 3D). Annona cacans, a graviola-do-mato, ocorre do nordeste do Brasil ao Paraguai, na Mata Atlântica, e na reserva ocorre na Mata de Tabuleiro (Rainer, 2001). Outro nome popular atribuído a essa espécie em outras localidades é araticum-cagão por causa das propriedades laxativas do fruto. É a espécie de maior porte entre as Annona do leste do Brasil, atingindo 25 metros de altura. Floresce em dezembro e frutifica em fevereiro (Figura 3E). Annona dolabripetala, a pinha-da-mata, é bastante comum, principalmente em florestas secundárias, e pode ser encontrada na borda de matas e em pastos, da Bahia ao Paraná e de Minas Gerais ao Mato Grosso (Maas et al., 1992). Na reserva ocorre nas bordas da Mata de Tabuleiro. Suas flores em forma de hélice são características e diferentes daquelas das outras espécies de Annona da reserva. Floresce de agosto a dezembro e frutifica de dezembro a maio (Figuras 1C, 3F). Annona glabra é conhecida como araticumdo-brejo porque ocorre em ambientes alagadiços, como mangues, lorestas de várzeas e restingas. Tem ampla distribuição, ocorrendo próximo ao litoral atlântico, dos Estados Unidos ao estado de Santa Catarina, no Brasil (Fries, 1931; Lopes & Mello-Silva, 2014b; Maas et al., 2002). Floresce em outubro e frutiica em dezembro (Figuras 1D, 3G, H). LOPES & MELLO-SILVA ARATICUNS E PINDAÍBAS Tabela 1: Lista de espécies de Annonaceae da Reserva Natural Vale. Espécies Nomes populares Anaxagorea dolichocarpa Sprague & Sandwith (1930: 475) ariticum-bravo, detoni, embireira Annona acutiflora Mart. (1841: 10) ariticum Annona cacans Warm. (1873: 155) Annona dolabripetala Raddi (1820: 394) graviola-do-mato pinha-da-mata Annona glabra L. (1753: 537) Annona tabuleirae H.Rainer sp. nov. ined. araticum-do-brejo ariticum-amarelo Cymbopetalum brasiliense (Vell.) Benth. ex Baill. (1868: 240) pimenta-de-boto Duguetia chrysocarpa Maas (1999: 471) pindaíba-da-mata Duguetia sessilis (Vell.) Maas (1994: 38) Duguetia sooretamae Maas (1999: 486) Ephedranthus dimerus J.C.Lopes, Chatrou & Mello-Silva (2014: 71) Guatteria australis A.St.-Hil. (1824: 37) ariticum-vermelho pindaíba-coroa pindaíba-preta Guatteria ferruginea A.St.-Hil. (1824: 38) pindaíba-coração Guatteria sellowiana Schltdl. (1834: 323) pindaíba-puruna, pindaibinha Guatteria villosissima A.St.-Hil. (1824: 38) pindaíba-de-vara pindaíba-felpuda, ariticum-rasteiro, araticum-rasteiro pindaíba-feijão Hornschuchia bryotrophe Nees (1821: 302) Hornschuchia citriodora D.M.Johnson (1993: 259) Hornschuchia myrtillus Nees (1821: 302) imbira-preta pindaíba-rasteira Oxandra martiana (Schltdl.) R.E.Fries (1931: 165) pindaíba-de-poste Oxandra nitida R.E.Fries (1931: 160) ariticum-do-mato Oxandra unibracteata J.C.Lopes, Junikka & Mello-Silva (2013: 25) Pseudoxandra spiritus-sancti Maas (2003: 249) imbiú-preto Unonopsis aurantiaca Maas & Westra (2007: 451) pindaíba-da-muçununga Unonopsis renatoi Maas & Westra (2007: 517) Xylopia frutescens Aubl. (1775: 602) pindaíba pindaíba-branca Xylopia laevigata (Mart.) R.E.Fries (1900: 37) mium-preto, mium-rosa Xylopia ochrantha Mart. (1841: 43) coração imbiú Vouchers Lopes 114 (CVRD, MBML, NY, RB, SP, SPF) Lopes 118 (CVRD, MBML, RB, SPF) Lopes 142 (CVRD, SPF) Lopes 117 (CVRD, MBML, NY, RB, SP, SPF) Lopes 121 (CVRD, RB, SPF) Maas 8830 (CVRD, MBML, SPF, U) Folli 3703 (CVRD, RB, SPF Lopes 120 (CVRD, MBML, NY, RB, SP, SPF) Lopes 150 (CVRD, SPF) Folli 2448 (CVRD, SPF, U Folli 414 (CVRD, K, NY, SPF, U) Lopes 153 (CVRD, ESA, MBML, NY, RB, SP, SPF) Mello-Silva 1553 (CVRD, RB, SP, SPF) Lopes 115 (CVRD, MBML, SP) Lopes 112 (CVRD, MBML, SP, SPF) Folli 2917 (CVRD, RB, SPF) Lopes 110 (CVRD, ESA, MBML, SPF) Lopes 122 (CVRD, MBML, RB, SPF) Lopes 363 (CVRD, ESA, MBML, NY, RB, SPF) Maas 8821 (CVRD, MBML, SPF, U) Silva 272 (CVRD, RB, SPF) Lopes 310 (CVRD, MBML, NY, RB, SP, SPF) Maas 8825 (B, CVRD, H, K, MBML, MO, NY, SPF, U, WU); Sucre 8355 (RB, U) Lopes 123 (CVRD, MBML, NY, RB, SP, SPF) Lopes 316 (CVRD, ESA, SPF) Folli 2216 (CVRD, SPF) 285 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Figura 1: A. Anaxagorea dolichocarpa Sprague & Sandwith – lor; B. Annona acutiflora Mart. – lor; C. Annona dolabripetala Raddi – lor; D. Annona glabra L. – fruto; E-F. Annona tabuleirae H.Rainer – E. lor, F. fruto; G. Cymbopetalum brasiliense (Vell.) Benth. & Baill. – fruto; H. Duguetia chrysocarpa Maas – lor; I-L. Duguetia sessilis (Vell.) Maas – I. fruto, J. lor; L. Duguetia sooretamae Maas – lor (Fotos de Renato Mello-Silva (A-D, G), Geovane Siqueira (E, F, J) e Jenifer C. Lopes (I, L)). 286 LOPES & MELLO-SILVA ARATICUNS E PINDAÍBAS Figura 2: A. Ephedranthus dimerus J.C.Lopes, Chatrou & Mello-Silva – fruto; B. Guatteria australis A.St.-Hil. – lores; C. Guatteria sellowiana Schltdl. – frutos; D. Guatteria villosissima A.St.-Hil. – lores; E. Hornschuchia citriodora D.M.Johnson – lor; F. Hornschuchia myrtillus Nees – lores; G. Pseudoxandra spiritus-sancti Maas – lor; H-I. Unonopsis aurantiaca Chatrou & Westra – H. lores, I. fruto; J. Xylopia frutescens Aubl. – lor; L. Xylopia laevigata (Mart.) R.E.Fr. – ramo com fruto (Fotos de Jenifer C. Lopes (A, B), Renato Mello-Silva (C-F, H-J) e Alexandre Zuntini (G, L). 287 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Annona tabuleirae, o araticum-amarelo, foi descoberto na RNV, mas ocorre também em outras poucas localidades do Espírito Santo e Minas Gerais. Seu nome cientíico deve-se ao tipo de vegetação onde se encontra, a Floresta de Tabuleiro. Habita o interior da mata e é um arbusto, diferentemente das demais espécies de Annona da reserva, que são árvores. As lores, alaranjadas, e os frutos, amarelo-dourados, são muito bonitos. Floresce em dezembro e frutiica em fevereiro (Figuras 1E, F, 4). Cymbopetalum brasiliense, a pimenta-deboto, apesar do nome cientíico, ocorre também na Venezuela, Bolívia, Guiana e Trinidad e Tobago. No Brasil, ocorre na Amazônia e na Mata Atlântica, do nordeste ao sudeste (Maas et al., 2015, Murray, 1993). Na RNV, é encontrada em Mata de Tabuleiro. O nome Cymbopetalum alude às pétalas em formato de bote, bastante côncavas e com as margens levemente incurvadas (Murray, 1993). Floresce de agosto a setembro e frutiica de dezembro a maio (Figuras 1G, 5A, B). Duguetia chrysocarpa, a pindaíba-da-mata, ocorre da Bahia ao Espírito Santo e Minas Gerais. Na reserva, habita a Mata de Tabuleiro e a mata de várzea. Seu nome cientíico faz referência à pilosidade dourada dos frutos (Maas et al., 2003). Floresce de setembro a dezembro e frutiica de fevereiro a maio (Figuras 1H, 5C-D). Duguetia sessilis, o ariticum-vermelho, cujo nome popular faz referência à cor das lores, ocorre no Espírito Santo e Rio de Janeiro (Maas et al., 2015). Na reserva ocorre na Mata de Tabuleiro. É um arbusto com inlorescências que surgem na base do tronco e se ramiicam rente ao chão, dessa forma as lores parecem brotar entre a serrapilheira. Esse tipo de inlorescência ocorre apenas em outras duas espécies do gênero, nativas da Amazônia (Maas et al., 2003). Os frutos são bem pequenos e possuem coloração vermelho-acastanhada semelhante à cor do solo. Floresce durante o ano todo, principalmente entre outubro e janeiro e frutiica de fevereiro a julho (Figuras 1I, J, 5E). Duguetia sooretamae, a pindaíba-coroa, ocorre no Espírito Santo, em matas de restinga (Maas et al., 2003). Na RNV, habita a muçununga. Seu nome cientíico refere-se ao nome indígena da Mata Atlântica, Sooretama, que signiica morada dos animais em tupi. O nome vulgar alude aos frutos, que possuem muitos carpídios, o que lembra uma 288 coroa. Floresce de novembro a maio (Figura 1L, 5F). Ephedranthus dimerus, a pindaíba-preta, foi descoberta na RNV, onde habita a Mata de Tabuleiro, mas também ocorre em outras localidades do Espírito Santo, Minas Gerais e Bahia (Lopes et al., 2014). O nome cientíico faz referência às duas pétalas presentes em cada verticilo da corola, sendo que nas demais espécies de Annonaceae são normalmente três. As lores ou têm dois sexos ou são somente masculinas. Floresce de outubro a novembro e frutiica de fevereiro a abril (Figura 2A, 5G, H). Guatteria australis, a imbira-preta, ocorre da Bahia ao Rio Grande do Sul e em Goiás (Lobão et al., 2011). É a Guatteria mais comum na Mata Atlântica e, na RNV habita a Mata de Tabuleiro. O nome popular vem da cor do tronco, enegrecido. Floresce de fevereiro a março e frutiica em fevereiro (Figura 2B, 6A). Guatteria ferruginea, a pindaíba-coração, ocorre no Amazonas e Mato Grosso e da Bahia ao Rio de Janeiro (Fries, 1939; Lobão et al., 2012). Na RNV, habita as lorestas de tabuleiro e de várzea. O nome popular vem da reentrância na base das folhas de alguns indivíduos, que lembra um coração. Floresce e frutiica durante todo o ano (Figura 6B). Guatteria sellowiana, a pindaíba-puruna ou pindaibinha, ocorre da Bahia a São Paulo e em Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás e Distrito Federal (Lobão et al., 2012). Na reserva, habita a Mata de Tabuleiro. É comum também nos capões e matas de galeria do interior do Brasil. Floresce de fevereiro a maio e frutiica de fevereiro a agosto (Figura 2C, 6C). Guatteria villosissima, a pindaíba-felpuda ou pindaíba-de-varal, ocorre em Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro (Lobão et al., 2012). Na RNV, ocorre na Mata de Tabuleiro e na muçununga. A abundante pilosidade que recobre folhas e partes jovens da planta confere-lhe o nome cientíico e o nome popular. Floresce de dezembro a maio e frutiica de julho a novembro (Figura 2D, 6D). Hornschuchia bryotrophe, o araticum-rasteiro ou ariticum-rasteiro, ocorre da Bahia ao Rio de Janeiro e em Minas Gerais (Johnson & Murray, 1995). Na reserva, habita a Mata de Tabuleiro. Seu nome popular alude às inflorescências que, como as de D. sessilis, nascem da base do tronco em ramos longos rentes ao chão e exibem suas flores brancas emergindo da serrapilheira. As LOPES & MELLO-SILVA folhas dessa espécie são bastante características por serem grandes, com 12 a 25 cm de comprimento, possuirem a base de assimétrica a obtusa e a nervura marginal bastante evidente. É a espécie do gênero de mais ampla distribuição. Floresce de outubro a maio e frutifica de dezembro a fevereiro (Figura 6E, F, G). Hornschuchia citriodora, a pindaíba-feijão, ocorre na Bahia e no Espírito Santo (Johnson & Murray, 1995). Na RNV, ocorre na Mata de Tabuleiro. Ao contrário das outras Hornschuchia que ocorrem na reserva, H. citriodora é árvore com 3 a 11 metros de altura. As lores exalam agradável odor cítrico, daí seu nome cientíico. O nome popular é referência aos frutos, semelhantes às vagens do feijão. Floresce de novembro a maio (Figura 2E, 6H). Hornschuchia myrtillus, a pindaíba-rasteira, ocorre na Bahia e no Espírito Santo (Johnson & Murray, 1995). É um pequeno arbusto que vive no interior da Mata de Tabuleiro e constitui a menor espécie de Annonaceae da RNV. Assim como H. bryotrophe, suas inflorescências surgem da base do tronco e se ramificam rente ao solo, as flores surgindo de entre o folhedo do chão da mata, daí seu nome popular. Floresce em dezembro e janeiro e frutifica em abril (Figura 2F, 6I). Oxandra martiana, a pindaíba-de-poste, ocorre na Bahia, Minas Gerais e Espírito Santo (Maas et al., 2002). Os indivíduos da RNV habitam a Mata de Tabuleiro e são de grande porte, podendo atingir 30 m de altura, lembrando um poste. Esta espécie tem lores ou bissexuais ou somente masculinas, mas indivíduos masculinos nunca foram encontrados na reserva (Fries, 1931). Floresce em novembro e frutiica em março (Figura 6J, L). Oxandra nitida, o ariticum-do-mato, ocorre da Bahia ao Rio de Janeiro (Maas et al., 2002). Na reserva, ocorre na Mata de Tabuleiro, mas em outras localidades habita também a restinga. Seu nome cientíico deve-se às folhas bastante brilhantes. Floresce de setembro a abril e frutiica de março a julho (Figura 7A, B). Oxandra unibracteata, o imbiú-preto, ocorre somente na RNV, na Floresta de Tabuleiro. Por possuir apenas uma bráctea na lor, característica única que a distingue das demais espécies de ARATICUNS E PINDAÍBAS Oxandra, foi batizada de O. unibracteata (Lopes et al., 2013). Floresce em novembro e frutiica em maio (Figura 7C-G). Pseudoxandra spiritus-sancti, o imbiú, ocorre no Espírito Santo, onde é encontrado na RNV e também nas lorestas ao redor de Santa Teresa/ES localizadas em áreas bem mais elevadas (Maas & Westra, 2003). Na RNV, é frequente na borda da Mata de Tabuleiro. Nesta espécie, alguns indivíduos apresentam lores masculinas e outros lores bissexuais. Floresce em outubro e frutiica de abril a junho (Figura 2G). Unonopsis aurantiaca, a pindaíba-damuçununga, ocorre apenas na RNV, na mata de muçununga, daí seu nome popular, e no campo nativo (Maas et al., 2007). Seu nome cientíico traduz a cor das lores, que é alaranjada, uma característica única entre as espécies do gênero Unonopsis. Floresce em dezembro e frutiica em fevereiro (Figura 2H, I, 7H, I). Unonopsis renatoi, pindaíba, ocorre somente na RNV, onde habita a Mata de Tabuleiro, e não é abundante. Seu nome é uma homenagem ao antigo diretor da reserva, Renato Moraes de Jesus (Maas et al., 2007). Floresce em outubro e frutiica em abril (Figura 7J). Xylopia frutescens, pindaíba-branca, possui ampla distribuição, ocorrendo do Amazonas a Santa Catarina (Maas et al., 2015). Também na RNV é ubíqua, habitando a Mata de Tabuleiro, a muçununga e o campo nativo. Suas lores são brancas e, quando abertas, lembram uma estrela de seis pontas. Floresce de outubro a dezembro e frutiica de abril a agosto (Figura 2J, 7L, M). Xylopia laevigata, o mium-preto ou mium-rosa, ocorre do Ceará ao Rio de Janeiro e Minas Gerais, sendo encontrada principalmente na restinga (Maas et al., 2015). Na RNV também ocorre na Mata de Tabuleiro, na muçununga e no campo nativo. Floresce e frutiica de julho a dezembro (Figura 2L, 7N). Xylopia ochrantha, o coração, ocorre da Bahia ao Rio de Janeiro (Maas et al., 2015). É uma espécie típica da restinga, mas na RNV só é encontrada na Mata de Tabuleiro. O nome vulgar é em decorrência do formato de coração do botão loral e o nome cientíico alude à pilosidade dourada das lores. Floresce em janeiro e fevereiro e frutiica de fevereiro a setembro (Figura 7O, P). 289 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Figura 3: A-C. Anaxagorea dolichocarpa Sprague & Sandwith – ramo com lor; B. carpídio; C. semente; D. Annona acutiflora Mart. – lor; E. Annona cacans Warm. – botão loral; F. Annona dolabripetala Raddi – ramo com lor; G-H. Annona glabra L. – G. ramo com fruto, H. lor (Desenhos: Klei Sousa. A. Lopes 114, B, C. Folli 2017, D. Lopes 118, E. Folli 5813, F. Lopes 117, G. Lopes 121, H. Folli 4646). 290 LOPES & MELLO-SILVA ARATICUNS E PINDAÍBAS Figura 4: Annona tabuleirae H.Rainer – A. hábito, B. fruto, C. lor, D. folha, E. ramo com botão loral (Desenhos: Isabel Martinelli (A-C) e Klei Sousa (D-E). A, D, E. Lopes 113, B. Siqueira 285, C. Folli 3696). 291 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Figura 5: A-B. Cymbopetalum brasiliense (Vell.) Benth. & Baill. – A. ramo com lor, B. carpídios; C-D. Duguetia chrysocarpa Maas – C. fruto, D. ramo com lor. E. Duguetia sessilis (Vell.) Maas – fruto. F. Duguetia sooretamae Maas – ramo com botão loral. G-H. Ephedranthus dimerus J.C.Lopes, Chatrou & Mello-Silva – G. lor masculina, H. lor bissexuada (Desenhos: France Pedreira (G-H) e Klei Sousa (A-F). A. Folli 703, B. Folli 5583, C. Folli 3917, D. Lopes 120, E. Folli 3524, F. Folli 2820, G. Siqueira 667, H. Folli 414). 292 LOPES & MELLO-SILVA ARATICUNS E PINDAÍBAS Figura 6: A. Guatteria australis A.St.-Hil. – ramo com lor. B. Guatteria ferruginea A.St.-Hil. – ramo com lor; C. Guatteria sellowiana Schltdl. – ramo com lor. D. Guatteria villosissima A.St.-Hil. – ramo com lor. E-G. Hornschuchia bryotrophe Nees – E. folha, F. fruto, G. lor; H. Hornschuchia citriodora D.M.Johnson – ramo com lor. I. Hornschuchia myrtillus Nees – ramo com lor. J-L. Oxandra martiana (Schltdl.) R.E.Fr. – J. lor, L. fruto. (Desenhos: Klei Sousa. A. Lopes 153, B. Folli 6416, C. Lopes 1595, D. Lopes 146, E-G. Lopes 151, H. Folli 5862, I. Lopes 147, J. Lopes 363, L. Folli 3832). 293 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Figura 7: A-B. Oxandra nitida R.E.Fr. – A. ramo com fruto, B. ramo com lor. C-G. Oxandra unibracteata J.C.Lopes, Junikka & Mello-Silva – C. ramo com lor, D. ramo com fruto, E. estames em vista frontal e lateral, F. botão loral, G. lor com três pétalas removidas; H-I. Unonopsis aurantiaca Maas & Westra – H. ramo com lor, I. fruto. J. Unonopsis renatoi Maas & Westra – fruto; L-M. Xylopia frutescens Aubl. – L. lor, M. fruto. N. Xylopia laevigata (Mart.) R.E.Fr. – N. ramo com lor. O-P. Xylopia ochrantha Mart. – O. lor, P. carpídios (Desenhos: Klei Sousa. A. Folli 4218, B. Siqueira 550, C-E-G. Silva 272, D. Folli 545, H-I. Lopes 125, J. Folli 6433, L. Lopes 123, M. Lopes 255, N. Lopes 316, O. Folli 5933, P. Folli 2010). 294 LOPES & MELLO-SILVA AGRADECIMENTOS Os autores agradecem à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) pela bolsa de mestrado de Jenifer C. Lopes, desenvolvido na Universidade de São Paulo (USP) e também pelo auxílio inanceiro; ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientíico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa de produtividade de Renato de MelloSilva. Agradecem também à Reserva Natural Vale pelo apoio aos trabalhos na reserva, especialmente a Geovane Siqueira e Domingos Folli, e pelo convite à elaboração deste capítulo, a France Pedreira, Klei Sousa e Isabel Martinelli pela elaboração dos desenhos das espécies, a Juliana Lovo pela ajuda com a igura 4 e a Adriana Lobão e Augusto Giaretta pelas sugestões. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aublet, J.B.F. 1775. Histoire des Plantes de la Guiane Françoise. Vol. 1. Pierre-François Didot. Londres, Paris. Baillon, H.E. 1868. Histoire des Plantes. Vol. 1. Libraire Hachette & Co. Paris. Fries, R.E. 1900. Beiträge zur Kenntniss der SüdAmerikanischen Anonaceen. Kongliga Svenska Vetenskaps Academiens Handlingar 34(5): 1–59. Fries, R.E. 1931. Revision der Arten einiger AnnonaceenGattungen II. Acta Horti Bergiani 10(2): 129–341. Fries, R.E. 1939. Revision der Arten einiger AnnonaceenGattungen V. Acta Horti Bergiani 12(3): 289–577. Gentry, A.H. 1988. Tree species richness of upper Amazonian forests. 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FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE 17 A FAMÍLIA ARACEAE NA RESERVA NATURAL VALE Marcus A. Nadruz Coelho INTRODUÇÃO A família Araceae, pertencente à ordem Alismatales (monocotiledôneas), possui, como características principais, a presença de um espádice com lores uni ou bissexuais, subentendida por uma espata, ambas apoiadas num pedúnculo longo ou curto (Coelho, 2010). Apresenta uma notável diversidade morfológica, incluindo as menores angiospermas conhecidas (subfamília Lemnoideae) e uma das maiores estruturas vegetativas e reprodutivas (gênero Amorphophallus) (Henriques et al., 2014). A família está representada por 118 gêneros e, aproximadamente, 3.500 espécies (Boyce & Croat, 2011) com ampla distribuição, sendo predominantemente tropical, com cerca de 10% dos gêneros estendendo-se às zonas temperadas do norte. No Brasil, está representada por 36 gêneros e 477 espécies (Coelho et al., 2014), sendo encontrada em todo o território brasileiro, apresentando uma ampla variação ecológica, ocorrendo em diversas formações vegetais como lorestas, restingas, campos e aloramentos rochosos, sendo mais abundante nas regiões de Floresta Ombróila Densa (Coelho et al., 2009; 2012). Na região Sudeste, as espécies de Araceae somam 24 gêneros e 196 espécies, compreendendo 66,7% e 41,1%, respectivamente, do total para o Brasil, sendo os estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo mais representativos. O Espírito Santo possui 15 gêneros e 77 espécies, distribuídas nos diversos tipos vegetacionais do estado, sendo Anthurium e Philodendron os mais numerosos (Coelho et al., 2014). A Reserva Natural Vale possui 25% da cobertura lorestal natural existente no Espírito Santo e vem sendo objeto de pesquisa em botânica nos últimos 30 anos, cujos resultados mostram uma área de alta diversidade especíica e rica em endemismos (Peixoto et al., 2008). AS ARACEAE DA RNV Os primeiros registros da família Araceae na área da Reserva datam da década de 1970, sendo que a partir de 2002 foram intensiicados. Com o levantamento, num primeiro momento através da consulta a diversos herbários do Espírito Santo e Rio de Janeiro, contabilizou-se oito gêneros e 28 espécies. A partir de um esforço de coleta nas diversas formações vegetais encontradas, com registros fotográicos de partes vegetativas e/ ou reprodutivas e georeferenciamento com ajuda de GPS, o número total de espécies para a família evoluiu para 37 distribuídas em 11 gêneros (Tabela 1), onde Anthurium e Philodendron, cada um com 13 espécies, são os mais representativos. Do total de espécies ocorrentes na Reserva, 297 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Tabela 1: Relação de espécies de Araceae ocorrentes na Reserva Natural Vale. Espécies Anthurium ianthinopodum (Schott ex Engler) Nadruz & Mayo Anthurium intermedium Kunth Anthurium parasiticum (Vell.) Stellfeld Anthurium pentaphyllum (Aubl.) G. Don var. pentaphyllum Anthurium queirozianum Nadruz Anthurium radicans K. Koch & Haage Anthurium raimundii Mayo, Haigh & Nadruz Anthurium ribeiroi Nadruz Anthurium riodocense Nadruz Anthurium siqueirae Nadruz Anthurium scandens (Aubl.) Engl. ssp. scandens Anthurium solitarium Schott Anthurium zeneidae Nadruz Asterostigma lombardii E.G. Gonçalves Dracontioides desciscens (Schott) Engler Heteropsis salicifolia Kunth Heteropsis rigidifolia Engl. Lemna aequinoctiales Welw. Monstera adansonii subsp. klotzschiana (Schott) Mayo & I.M. Andrade Monstera praetermissa E.G. Gonçalves Montrichardia linifera (Arruda da Câmara) Schott Philodendron blanchetianum Schott Philodendron follii Nadruz Philodendron fragrantissimum (Hook) G. don Philodendron hederaceum var. hederaceum (Jacq.) Schott Philodendron ochrostemon Schott Philodendron ornatum Schott Philodendron paludicola E.G. Gonçalves & Salvini Philodendron pedatum (Hook.) Kunth Philodendron rudgeanum Schott Philodendron ruthianum Nadruz Philodendron speciosum Schott ex Endl. Philodendron stenolobum E.G. Gonçalves Philodendron aff. vargealtense Sakuragui Rhodospatha latifolia Poepp. Syngonium vellozianum Schott Wolffiella neotropica Landolt sete foram descritas recentemente (Anthurium queirozianum, A. ribeiroi, A. riodocense, A. siqueirae, A. zeneidade, Philodendron follii e P. ruthianum), sendo que, com exceção de Philodendron ruthianum, todas são exclusivas da Reserva, mostrando ser a área rica em biodiversidade e endemismos. Em relação ao status de conservação das espécies ocorrentes na Reserva, segundo os critérios da IUCN, as sete espécies recentemente descritas 298 e relacionadas acima, são consideradas Em Perigo (EN). As espécies aquáticas Lemna aequinoctiales e Wolffiella neotropica são ocorrências novas para a área estudada. A maioria das espécies possui hábito herbáceo, com exceção de Philodendron speciosum, que é arborescente (possui caule ibroso). Em relação à forma de vida, a família na Reserva é bem variável, podendo ocorrer como aquática (Lemna COELHO e Wolffiela), helóita (Dracontioides, Montrichardia e Philodendron), geóita (Asterostigma), terrestre (Anthurium), hemiepíita (Heteropsis, Monstera, Philodendron, Rhodospatha e Syngonium) e epíita (Anthurium). Nota-se o grande número de gêneros (cerca de 55%) de hemiepíitas e epíitas, indicando ser a loresta da Reserva predominantemente úmida. Com exceção de Anthurium pentaphyllum var. pentaphyllum, A. solitarium, Monstera adansonii subsp. klotzschiana, Philodendron hederaceum var. hederaceum, P. ochrostemon, P. pedatum e Syngonium vellozianum, todas as demais espécies são indicadoras de biodiversidade ao se desenvolverem, principalmente, em áreas remanescentes, não tolerando áreas degradadas. A família se distribui nas quatro formações vegetais encontradas na Reserva, que são: Floresta Alta, Floresta de Muçununga, Floresta Permanentemente ou sazonalmente inundada (brejo, loresta de várzea e mata ciliar) e campo nativo. Comparando esses resultados com outros trabalhos de inventários da família em Unidades de Conservação, a Reserva Natural Vale é considerada de extrema riqueza. No Parque Estadual do Rio Doce e no Parque Estadual do Ibitipoca, ambos em Minas Gerais, a família Araceae é representada por 13 espécies em oito gêneros e 10 espécies em três gêneros, respectivamente (Temponi et al., 2005, 2012). ARACEAE Florestal de Santa Catarina, volume 1: 282-284. Coelho, M.A.N.; Sakuragui, C.M.; Mayo, S.; Soares, M.L.; Temponi, L.G.; Calazans, L.S.B.; Gonçalves, E.G.; Andrade, I.M. de; Pontes, T.A. 2014. Araceae. In: Lista de Espécies da Flora do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://relora.jbrj.gov.br/ jabot/loradobrasil/FB51>. Acesso em: 04 Set. Henriquez, C.L.; Arias, T. et al. 2014. Phylogenomics of the plant Family Araceae. Molecular phylogenetics and evolution 75(2014): 91-102. Peixoto, A.L.; Silva, I.M.; Pereira, O.J.; Simonelli, M; Jesus, R.M. & Rolim, S.G. 2008. Tabuleiro forests north of Rio Doce: Their representation in the Vale do Rio Doce Natural Reserve, Espírito Santo, Brazil, in: The atlantic coastal forest of northeastern Brazil: 319-350. Temponi, L.G.; Garcia, F.C.P.; Sakuragui, C.M. & CarvalhoOkano, R.M. 2005. Diversidade morfológica e formas de vida das Araceae no Parque Estadual do Rio Doce, Minas Gerais. Rodriguesia 56(88): 1-13. Temponi, L.G.; Poli, L.P.; Sakuragui, C.M. & Coelho, M.A.N. 2012. Araceae do Parque Estadual do Ibitipoca, Minas Gerais, Brasil. Rodriguesia 63(4): 957-969. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Boyce, P. C. & Croat, T. B. 2011.The Überlist of Araceae, Totals for Published and Estimated Number of Species in Aroid Genera. http://www.aroid.org/ genera/140601uberlist.pdf. Coelho, M.A.N.; Sakuragui, C.M.; Gonçalves, E.G.;Temponi, L.G. & Valadares, R.T. 2009. Araceae. In: Stehmann, J.R.; Forzza, R.C.; Salino, A.; Sobral, M.; Costa, D. P.& Kamino, L.H.Y. (eds.). Plantas da Floresta Atlântica. Jardim Botânico do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. Pp. 141-145. Coelho, M.A.N. 2010. A família Araceae na Reserva Natural Vale, Linhares, Espírito Santo, Brasil. Bol. Mus. Biol. Mello Leitão (N. Sér.) 28:41-87. Coelho, M.A.N. 2012. Araceae. In: Inventário Florístico 299 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Avicularia sooretama Bertani & Fukushima, 2009. Identiicada por Pedro H. Martins. 300 PEIXOTO & JESUS MEMÓRIAS DE CONSERVAÇÃO PARTE IV FAUNA DE INVERTEBRADOS 301 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE 302 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE 18 DIVERSIDADE E DISTRIBUIÇÃO DE ARANHAS NA RESERVA NATURAL VALE Adalberto J. Santos, Antonio D. Brescovit & João VasconcellosNeto INTRODUÇÃO Aranhas estão entre os animais mais conspícuos do planeta. Elas podem ser encontradas basicamente em todos os ecossistemas terrestres, em todos os continentes (exceto a Antártida), frequentemente em alta abundância. Além de serem facilmente reconhecíveis (qualquer pessoa consegue reconhecer uma aranha), elas estão também entre os animais mais admirados, por sua habilidade em construir teias elaboradas (Viera et al., 2007), quanto temidos, por serem quase todas peçonhentas (Foelix, 2010). Elas estão também entre os mais diversiicados grupos de animais, compreendendo atualmente 45.388 espécies (World Spider Catalog, 2015), com mais 3.200 espécies conhecidas somente para o Brasil (Brescovit et al., 2011). Entretanto, esses números constituem apenas uma fração das espécies existentes na natureza, como mostram inúmeros estudos recentes que descrevem dezenas de espécies desconhecidas para a ciência (p. ex. Levi, 1988; Rheims & Brescovit, 2009; Huber, 2015). A alta abundância e ampla distribuição das aranhas no planeta fazem deste grupo um componente chave das cadeias alimentares terrestres: aranhas são predadoras e têm grande importância no controle de populações de suas presas, principalmente insetos, incluindo pragas agrícolas (Romero, 2007). Assim, as aranhas se encaixam perfeitamente no conceito de táxon megadiversiicado: um grupo taxonômico rico em espécies, com ampla distribuição e com alta importância ecológica. Tendo em vista sua importância ecológica e alta diversidade, seria esperado que aranhas fossem muito bem conhecidas pela ciência. Contudo, o conhecimento atual sobre o grupo deixa a desejar em vários aspectos. No que se refere à sistemática, a ciência responsável pela descrição e classiicação dos seres vivos, aranhas são ainda pouco conhecidas, já que, como mencionado acima, a quantidade de espécies ainda não descritas parece realmente muito alta. Mas o grupo é também pouco estudado em relação a vários aspectos de sua história natural, como alimentação, escolha de habitat e comportamento reprodutivo. Apesar da escassez de conhecimento sobre o grupo, ele é atualmente reconhecido por sua importância como modelo cientíico para compreender a evolução da vida no planeta e o funcionamento dos ecossistemas terrestres (Penney, 2013). Do ponto de vista ecológico, em particular, aranhas são apontadas como um modelo interessante para inventários de fauna (Coddington et al., 1991) e como indicadoras de perturbações ambientais (Uehara-Prado et al., 2009). Dentre os ecossistemas brasileiros, a Mata Atlântica é um dos mais ameaçados (Fonseca et al., 2004), mas também o melhor conhecido, em termos relativos, quanto à sua biodiversidade. Isto não é diferente para as aranhas: dentre os biomas do Brasil, a Mata Atlântica é o que apresenta maior densidade de registros de ocorrência de espécies de aranhas (Oliveira, 2011). Isto é especialmente 303 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE evidente quando comparamos este bioma a, por exemplo, a Amazônia (Oliveira, 2011; Oliveira et al., 2015) ou à Caatinga (Carvalho et al., 2014), que apresentam mais de 50% de seu território sem registros de espécies de aranhas. Apesar desta vantagem comparativa, a fauna de aranhas da Mata Atlântica está longe de ser plenamente conhecida, e não é difícil encontrar espécies não descritas, ou desconhecidas para este bioma, em coletas de campo (p. ex. Huber, 2015). Assim, a Mata Atlântica ainda requer muito esforço de coleta e estudos de taxonomia para que sua fauna de aranhas seja satisfatoriamente conhecida. Alguns anos atrás, os autores deste capítulo decidiram concentrar esforços para conhecer um pouco melhor a fauna de aranhas de uma região pouco explorada da Mata Atlântica, as Florestas de Tabuleiro do Espírito Santo (veja Peixoto & Silva, 1997). Assim, desenvolvemos um projeto de inventário intensivo na Reserva Natural Vale, que resultou na dissertação de mestrado do primeiro autor (Santos, 1999). Neste projeto, procuramos combinar estratégias de estudo comumente empregadas por ecólogos e taxonomistas para conhecer um pouco mais sobre a diversidade desta importante área de preservação da Mata Atlântica. Para isto, desenvolvemos um protocolo de coletas que permitisse avaliar de forma quantitativa a diversidade de aranhas da área, mas que ao mesmo tempo resultasse em uma amostragem ampla das espécies existentes ali. Nosso objetivo neste estudo foi não apenas listar as espécies de aranhas presentes na Reserva, e obviamente tornar amostras dessas espécies disponíveis em coleções cientíicas, mas também compreender o que essa diversidade representa se comparada a outras áreas da Mata Atlântica. Também nos interessamos em descrever a variação na distribuição das espécies de aranhas da reserva entre os diferentes ecossistemas típicos da região, assim como sua variação ao longo das estações do ano. Neste capítulo, descrevemos em termos gerais os resultados obtidos neste projeto, mas mais detalhes podem ser encontrados em Santos (1999). COMO FOI FEITO O ESTUDO Neste projeto, procuramos amostrar aranhas nos três principais ecossistemas lorestais presentes no 304 norte do Espírito Santo e preservados na Reserva Natural Vale: 1. Campo Nativo - Trata-se de uma formação vegetal semelhante à Restinga, com solo arenoso e vegetação formada principalmente por gramíneas e arbustos (Peixoto & Silva, 1997). Neste estudo amostramos uma área conhecida como Nativo do Paraju, localizada, em sua maior parte, fora da Reserva. 2. Mata de Tabuleiro - Este tipo de vegetação é formado por matas altas, com sub-bosque não muito fechado, ricas em cipós, e que crescem sobre solos argilosos (Peixoto & Gentry, 1990; Peixoto et al., 2008). Nossas coletas foram realizadas em duas áreas representativas deste ecossistema, junto à Estrada do Flamengo e próximo ao viveiro de mudas. 3. Muçununga – Esta vegetação ocorre em manchas, sobre solos ricos em areia, apresentam menor biomassa, menor altura do dossel e menor diversidade lorística que as Matas de Tabuleiro, mas abrigam espécies endêmicas (Jesus, 1988; Peixoto & Silva, 1997). Realizamos nossas coletas de aranhas em duas áreas de Muçununga, junto à estrada do Flamengo e junto à Estrada do Roxinho. Nosso principal objetivo neste projeto foi coletar o maior número possível de espécies de aranhas presentes na Reserva, e para isto combinamos métodos de coleta que permitem amostrar grupos de aranhas que ocorrem em diferentes micro-hábitat. Assim, realizamos coletas diurnas, utilizando guarda-chuvas entomológicos, e coletas manuais noturnas. Esses métodos são comumente usados por taxonomistas para coletar aranhas na natureza, e são sabidamente muito eicientes. Entretanto, para que nossos resultados fossem comparáveis a outros estudos, sabíamos que seria necessário medir o nosso esforço amostral já que, como já foi amplamente demonstrado, quanto mais se coleta em uma área, mais espécies são encontradas (Santos et al., 2007). Além disso, para que fosse possível analisar estatisticamente nossos resultados, precisaríamos de um desenho amostral apropriado, com réplicas de esforço amostral similar. Assim, todas as nossas coletas foram divididas em amostras, conforme a descrição a seguir: SANTOS ET AL. • Coletas diurnas. Coletamos aranhas durante o dia, especiicamente entre 8:00 e 11:30, usando guarda-chuvas entomológicos. Este instrumento consiste em uma armação de madeira em forma de cruz, que sustenta um lençol de tecido branco quadrado, com um metro de lado. Este lençol é mantido sob arbustos e ramos de plantas, que são agitados através de golpes repetidos com um bastão de madeira. Com a agitação, aranhas e outros artrópodes presentes na vegetação caem sobre o lençol, e podem ser capturados. Deinimos como cada amostra de coleta diurna um conjunto de 20 arbustos ou ramos diferentes amostrados por um mesmo coletor. • Coletas noturnas. Muitas espécies de aranhas são ativas apenas à noite, permanecendo durante o dia em abrigos, frequentemente inacessíveis. Para capturar essas aranhas, realizamos sessões de coleta noturna, sempre entre as 21:00 e 1:30. Nessas sessões, cada coletor procurava aranhas na folhagem, sobre troncos de árvores e sobre o solo, com auxílio de lanternas ixas à cabeça (deixando as mãos livres). Para padronizar o esforço amostral, dividimos as coletas noturnas em amostras realizadas ao longo de linhas (delimitadas por barbantes) de 30 metros de comprimento, percorridas duas vezes (ida e volta) por uma dupla de coletores. As parcelas foram dispostas paralelamente, a no mínimo 20 metros uma da outra. Todas as aranhas coletadas foram preservadas em álcool etílico a 70% para posterior exame em laboratório, identiicação e preservação na coleção de aranhas do Instituto Butantan (São Paulo). Entretanto, sabíamos desde o início que não seria possível identiicar todos os indivíduos coletados, porque a distinção entre espécies de aranhas se baseia principalmente na estrutura dos órgãos genitais de machos e fêmeas. Uma vez que as estruturas reprodutivas externas estão presentes apenas nos indivíduos adultos, não é possível determinar espécies de aranhas com base em juvenis. Como consequência, 76% dos indivíduos coletados foram excluídos de nossas análises. Para minimizar este problema, e tendo em vista que espécies diferentes poderiam apresentar indivíduos ARANHAS adultos apenas em determinadas estações do ano, realizamos duas expedições de coleta na Reserva: a primeira na estação seca (de 21 a 25 de julho de 1997) e outra na estação chuvosa (entre 9 e 14 de janeiro de 1998). Como descrito acima, o trabalho de campo deste projeto se concentrou em 10 dias de coletas intensivas (com a preciosa ajuda de vários colegas). Por outro lado, o exame e identiicação do material coletado custaram mais de um ano de trabalho em laboratório, envolvendo dois membros da equipe. Nossos objetivos nesse projeto incluíam responder a perguntas como “quantas espécies de aranhas ocorrem na Reserva?” ou “quantas espécies ocorrem em cada uma das formações vegetais amostradas?”. Para responder a essas perguntas, foi necessário, em primeiro lugar, separar todas as aranhas adultas coletadas em espécies, através de comparações cuidadosas de sua morfologia (particularmente dos órgãos genitais). Felizmente, a distinção entre espécies de aranhas não é particularmente difícil, pelo menos se comparada a outros artrópodes, o que torna este grupo bastante interessante para estudos de biodiversidade (Beatie & Oliver, 1994). Uma vez que todas as aranhas foram separadas em espécies, nos esforçamos para determinar todas no menor nível taxonômico possível. Isto signiica que todas as espécies foram determinadas em família, mas para muitas delas não foi possível determinar a espécie, ou mesmo o gênero. Isto é uma consequência da escassez de conhecimento taxonômico para o grupo e da grande quantidade de espécies ainda não descritas existentes na natureza. Na verdade, como será comentado abaixo, as aranhas coletadas neste projeto continuam sendo estudadas, e descritas, por taxonomistas. NOSSAS DESCOBERTAS Somando as duas expedições de coleta, conseguimos reunir 252 amostras (176 diurnas e 76 noturnas), que resultaram em 5.775 aranhas coletadas. Entretanto, deste total apenas 1.982 (34%) eram adultas, e foram consideradas nas análises. Essas aranhas adultas foram separadas em 287 espécies, pertencentes a 34 famílias. Dentre todas as espécies coletadas, apenas 80 foram 305 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE determinadas, o que mostra o quão preliminar ainda é nosso conhecimento taxonômico sobre aranhas (note que muitas espécies foram posteriormente descritas em estudos taxonômicos – Tabela 1). Tabela 1: Lista de aranhas coletadas e número de indivíduos em três formações vegetais na Reserva Natural Vale em 1997 e 1998 (Santos, 1999). São listadas abaixo apenas espécies determinadas taxonomicamente. Família Espécie Anyphaenidae Anyphaenidae Anyphaenidae Araneidae Araneidae Araneidae Araneidae Araneidae Araneidae Araneidae Araneidae Araneidae Araneidae Araneidae Iguarima censoria (Keyserling, 1891) Jessica sergipana Brescovit, 1999 Umuara fasciata (Blackwall, 1862) Acacesia hamata (Hentz, 1847) Alpaida delicata (Keyserling, 1892) Alpaida tabula (Simon, 1895) Alpaida truncata (Keyserling, 1865) Araneus tijuca Levi, 1991 Araneus venatrix (C.L. Koch, 1838) Araneus vincibilis (Keyserling, 1893) Argiope argentata (Fabricius, 1775) Cyclosa tapetifaciens Hingston, 1932 Hypognatha belem Levi, 1996 Kapogea cyrtophoroides (F.O. Pickard-Cambridge, 1904) Mangora itatiaia Levi, 2007 Manogea porracea (C.L. Koch, 1838) Metazygia levii Santos, 2003 Micrathena acuta (Walckenaer, 1841) Micrathena annulata Reimoser, 1917 Micrathena armigera (C.L. Koch, 1837) Micrathena aureola (C.L. Koch, 1836) Micrathena evansi Chickering, 1960 Micrathena fissispina (C.L. Koch, 1836) Micrathena lata Chickering, 1960 Micrathena lindenbergi Mello-Leitão, 1940 Micrathena macfarlanei Chickering, 1961 Micrathena schreibersi (Perty, 1833) Parawixia kochi (Taczanowski, 1873) Parawixia monticola (Keyserling, 1892) Parawixia velutina (Taczanowski, 1878) Elaver brevipes (Keyserling, 1891) Ctenus medius Keyserling, 1891 Ctenus ornatus (Keyserling, 1877) Ctenus paubrasil Brescovit & Simó, 2007 Ctenus vehemens Keyserling, 1891 Enoploctenus cyclothorax (Bertkau, 1880) Isoctenus coxalis (F.O. Pickard-Cambridge, 1902) Isoctenus foliifer Bertkau, 1880 Parabatinga brevipes (Keyserling, 1891) Phoneutria pertyi (F.O. Pickard-Cambridge, 1897) Cheiracanthium inclusum (Hentz, 1847) Zimiromus montenegro Buckup & Brescovit, 1993 Neotama cunhabebe Rheims & Brescovit, 2004 Araneidae Araneidae Araneidae Araneidae Araneidae Araneidae Araneidae Araneidae Araneidae Araneidae Araneidae Araneidae Araneidae Araneidae Araneidae Araneidae Clubionidae Ctenidae Ctenidae Ctenidae Ctenidae Ctenidae Ctenidae Ctenidae Ctenidae Ctenidae Eutichuridae Gnaphosidae Hersiliidae 306 Mata de Tabuleiro Muçununga Nativo 8 0 0 10 4 1 1 1 66 1 0 5 4 0 0 0 0 1 1 0 0 0 22 3 1 0 0 1 0 1 23 11 0 0 0 0 0 0 5 3 0 0 4 4 0 2 8 1 9 0 5 1 2 2 3 2 2 3 1 3 18 0 35 1 5 2 0 2 0 3 1 0 7 0 0 3 0 1 1 3 0 0 2 2 3 0 3 4 0 11 0 7 0 7 1 0 2 0 0 0 0 0 2 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 2 0 0 0 0 3 0 7 0 0 SANTOS ET AL. ARANHAS Família Espécie Mata de Tabuleiro Hersiliidae Linyphiidae Lycosidae Nephilidae Oxyopidae Oxyopidae Pholcidae Pholcidae Pisauridae Pisauridae Salticidae Salticidae Salticidae Salticidae Salticidae Salticidae Salticidae Salticidae Salticidae Salticidae Salticidae Salticidae Salticidae Scytodidae Senoculidae Sparassidae Sparassidae Sparassidae Synotaxidae Tetragnathidae Theridiidae Theridiidae Theridiidae Theridiidae Theridiidae Theridiidae Theridiidae Theridiidae Theridiidae Theridiidae Theridiidae Theridiidae Theridiidae Theridiidae Theridiidae Theridiidae Theridiidae Theridiidae Theridiidae Theridiidae Ypypuera crucifera (Vellard, 1924) Sphecozone venialis (Keyserling, 1886) Aglaoctenus castaneus (Mello-Leitão, 1942) Nephila clavipes (Linnaeus, 1767) Oxyopes salticus Hentz, 1845 Peucetia flava Keyserling, 1877 Mesabolivar cyaneotaeniatus (Keyserling, 1891) Metagonia bifida Simon, 1893 Architis spinipes (Taczanowski, 1874) Architis tenuis Simon, 1898 Coryphasia fasciiventris (Simon, 1902) Chira lanei Soares & Camargo, 1948 Chira lucina Simon, 1902 Corythalia vervloeti Soares & Camargo, 1948 Eustiromastix bahiensis Galiano, 1979 Hypaeus flavipes Simon, 1900 Hypaeus frontosus Simon, 1900 Maeota dicrura Simon, 1901 Mago fonsecai Soares & Camargo, 1948 Martella utingae (Galiano, 1967) Scopocira cepa Costa & Ruiz, 2014 Scopocira tenella Simon, 1900 Vinnius subfasciatus (C.L. Koch, 1846) Scytodes lineatipes Taczanowski, 1874 Senoculus gracilis (Keyserling, 1879) Caayguara ajuba Rheims, 2010 Caayguara apiaba Rheims, 2010 Dermochrosia maculatissima Mello-Leitão, 1940 Synotaxus longicaudatus (Keyserling, 1891) Dolichognatha pinheiral Brescovit & Cunha, 2001 Argyrodes elevatus Taczanowski, 1873 Ariamnes attenuatus O. Pickard-Cambridge, 1881 Chrysso albomaculata O. Pickard-Cambridge, 1882 Chrysso pulcherrima (Mello-Leitão, 1917) Cryptachaea isana (Levi, 1963) Cryptachaea rioensis (Levi, 1963) Dipoena atlantica Chickering, 1943 Dipoena niteroi Levi, 1963 Dipoena santacatarinae Levi, 1963 Dipoena tiro Levi, 1963 Faiditus acuminatus (Keyserling, 1891) Faiditus alticeps (Keyserling, 1891) Faiditus caudatus (Taczanowski, 1874) Janula erythrophthalma (Simon, 1894) Janula salobrensis (Simon, 1895) Neopisinus longipes (Keyserling, 1884) Neospintharus rioensis (Exline & Levi, 1962) Parasteatoda nigrovittata (Keyserling, 1884) Phoroncidia moyobamba Levi, 1964 Rhomphaea procera (O. Pickard-Cambridge, 1898) 1 12 10 13 0 0 2 0 0 65 1 3 0 0 2 0 1 0 1 4 25 1 1 2 1 12 0 1 2 3 0 26 1 0 30 0 6 0 2 1 5 0 0 1 4 1 0 0 3 13 Muçununga Nativo 0 4 1 19 0 0 0 7 2 32 4 1 0 1 0 2 0 1 10 4 5 0 1 0 2 11 1 0 0 1 1 12 1 2 2 1 1 7 3 0 7 1 6 3 1 7 1 1 1 12 0 0 0 0 1 96 0 0 0 0 0 0 26 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 307 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Família Espécie Theridiidae Theridiidae Thomisidae Thomisidae Thomisidae Thomisidae Uloboridae Uloboridae Uloboridae Thymoites anicus Levi, 1964 Tidarren haemorrhoidale (Bertkau, 1880) Stephanopis colatinae Soares & Soares, 1946 Titidius dubitatus Soares & Soares, 1946 Titidius urucu Esmerio & Lise, 1996 Tobias paraguayensis Mello-Leitão, 1929 Philoponella fasciata (Mello-Leitão, 1917) Philoponella vittata (Keyserling, 1881) Zosis geniculata (Olivier, 1789) O primeiro aspecto que chama a atenção em nossos resultados é a imensa variação de abundância entre as espécies (Figura 1). Apenas algumas espécies foram realmente abundantes em nossas amostras, com destaque para Nephila clavipes (Nephilidae) e Peucetia flava (Oxyopidae), que foram representadas por 182 e 113 indivíduos, respectivamente. Por outro lado, 97 espécies foram representadas por apenas um indivíduo coletado. Embora este quadro possa parecer impressionante, ele seria esperado quando se consideram outros estudos de diversidade de artrópodes nos trópicos. Para a imensa maioria dos grupos realmente diversiicados é normal observar um padrão de distribuição de abundâncias extremamente enviesado, com muitas espécies raras e poucas (ou pouquíssimas) espécies comuns (Coddington et al., 2009). Além disso, ao contrário do que se poderia supor, aumentar o esforço amostral (ou seja, voltar ao campo e coletar mais) não altera signiicativamente este padrão. Se, por um lado, com mais coletas é possível obter mais indivíduos das espécies raras, por outro mais e mais espécies raras são encontradas (Novotný & Basset, 2000). Diferentes estudos sugerem que a alta raridade de espécies tropicais estaria ligada tanto a falhas de amostragem quanto a características intrínsecas das comunidades tropicais. Muitas espécies seriam raras em inventários por que os métodos empregados não amostram apropriadamente seus microhábitats preferidos (Novotný & Basset, 2000). Por outro lado, é possível que a densidade de muitas espécies seja realmente muito baixa, o que reduz signiicativamente a probabilidade de que sejam detectadas em inventários (Coddington et al., 2009). 308 Mata de Tabuleiro 7 2 0 0 10 3 6 18 1 Muçununga 0 0 1 12 6 0 0 1 0 Nativo 0 0 0 0 0 0 0 0 0 Figura 1: Distribuição de abundâncias das espécies de aranhas coletadas na Reserva Natural Vale. O gráico mostra as espécies dispostas no eixo X, da mais para a menos abundante, com sua abundância observada no eixo Y. Esta igura mostra que pouquíssimas espécies coletadas se mostraram abundantes, e que uma proporção signiicativa das espécies coletadas são extremamente raras. O número de espécies que conseguimos coletar em nossas expedições pode parecer impressionante, à primeira vista, mas temos indícios muito confiáveis de que ainda há muitas espécies na Reserva que não foram coletadas. Isto fica evidente na Figura 2, que mostra o acúmulo de espécies obtidas na Reserva à medida que se aumenta o esforço amostral. O gráfico mostrado na figura, normalmente conhecido como “curva de acumulação de espécies” ou “curva do coletor” é usado para mostrar o quanto um inventário de biodiversidade teria se aproximado de coletar todas as espécies de um determinado local. Uma vez que a curva simplesmente não atinge um ponto de estabilidade, a partir do qual o número de espécies não aumenta com o número de amostras, podemos concluir que nosso inventário amostrou apenas parte das espécies de aranhas presentes na Reserva. SANTOS ET AL. De fato, aplicando-se alguns métodos de extrapolação estatística sobre nossos resultados (veja detalhes em Santos, 1999; 2003a), concluímos que o conjunto de áreas amostradas dentro da Reserva deve conter pelo menos (mas certamente mais que) 531 espécies. Esses resultados, assim como outros obtidos em inúmeros estudos de diversidade de aranhas em ambientes tropicais (Santos et al., 2007; Azevedo et al., 2014) mostram que é virtualmente impossível coletar todas as espécies de uma localidade. Todavia, existem métodos estatísticos que permitem, pelo menos, estimar o esforço amostral necessário para obter amostras minimamente aceitáveis em inventários (Azevedo et al., 2014). ARANHAS entre os ecossistemas e as épocas de coleta. Em outras palavras, nos interessava determinar, por exemplo, se as 31 espécies do Nativo poderiam ser também encontradas na Mata de Tabuleiro ou na Muçununga. A forma mais simples de descrever as diferenças de composição em espécies entre os ecossistemas seria simplesmente contar o número de espécies exclusivas de cada um e de espécies compartilhadas entre eles. De fato, cada uma das formações vegetais apresenta espécies únicas, que não foram coletadas nas demais (Figura 4). Além disso, percebemos também que o número de espécies amostradas tanto na Mata de Tabuleiro quanto na Muçununga foi bem maior que o número de espécies compartilhadas entre qualquer desses ecossistemas e o Nativo (Figura 4). O número de espécies encontradas simultaneamente nos três ecossistemas foi ainda mais baixo. Figura 2: Curva de acumulação de espécies de aranhas coletadas na Reserva Natural Vale. Este gráico ilustra o aumento no número de espécies com o aumento do esforço de coleta, mensurado pelo número de amostras (diurnas e noturnas). A curva mostra que, a despeito de todos os esforços de coleta, a quantidade de espécies presentes na Reserva é muito maior que o observado. Comparando-se as três formações vegetais amostradas, percebemos que a Mata de Tabuleiro e a Muçununga abrigam um número próximo de espécies, significativamente acima daquele observado para o Nativo. Isto é evidente mesmo considerando-se que nossos esforços de campo não foram capazes de coletar todas as espécies em nenhum dos ecossistemas que amostramos (Figura 3A). Da mesma forma, o número de espécies coletadas não diferiu entre as duas estações do ano, considerando-se um mesmo recorte de esforço amostral (Figura 3B). Mais que mostrar apenas diferenças de riqueza em espécies, nossos objetivos nesse projeto envolviam determinar a distribuição das espécies Figura 3: Curvas de acumulação de espécies de aranhas coletadas em três formações vegetais (A) e em dois períodos (B) na Reserva Natural Vale. A riqueza em espécies de aranhas da Mata de Tabuleiro e da Muçununga é claramente mais alta que aquela do Nativo. Entretanto, não foram observadas diferenças signiicativas de riqueza em espécies entre as estações seca e chuvosa. 309 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Figura 4: Diagrama de Venn ilustrando o número de espécies registradas em cada formação vegetal da Reserva Natural Vale (entre parênteses) e o número de espécies compartilhadas entre as formações vegetais. Embora a Mata de Tabuleiro e a Muçununga sejam razoavelmente similares em termos de composição em espécies, o Nativo difere signiicativamente das demais formações. Embora os resultados acima indiquem que o Nativo teria uma fauna de aranhas signiicativamente diferente da Mata de Tabuleiro e da Muçununga, utilizamos um método estatístico mais soisticado para demonstrar essas diferenças. O método que escolhemos, a Análise de Correspondência, é matematicamente complexo, mas gera resultados relativamente simples de se interpretar (para detalhes, veja Ter Braak, 1995). Em termos gerais, esta análise agrupa amostras em um espaço virtual (expresso como um gráico com duas ou três dimensões) de acordo com sua similaridade de composição em espécies. Ou seja, amostras que compartilham mais espécies entre si tendem a se agrupar, enquanto que amostras com muitas espécies exclusivas tendem a surgir afastadas das demais. Nossos resultados mostraram que, de fato, as amostras (diurnas e noturnas) do Nativo foram em geral muito diferentes, em termos de composição de espécies de aranhas, das amostras da Mata de Tabuleiro e da Muçununga, que diferem pouco entre si (Figura 5). Além disso, os resultados mostraram também que as amostras noturnas e diurnas do Nativo foram relativamente diferentes umas das outras, e que não houve diferenças marcantes entre amostras feitas nas estações seca e chuvosa. 310 Figura 5: Análise de Correspondência, ilustrando a similaridade de composição de espécies entre amostras da Mata de Tabuleiro, Muçununga e Nativo. As amostras do Nativo mostraram-se mais heterogêneas entre si que aquelas das outras duas formações. Esta análise demonstra que a fauna de aranhas do Nativo é muito diferente daquela da Mata de Tabuleiro e da Muçununga. Por que as áreas de Mata de Tabuleiro e de Muçununga abrigam muito mais espécies de aranhas que o Nativo? A explicação para este padrão estaria relacionada a alguns dos principais fatores apontados na literatura como responsáveis por variações de diversidade biológica entre diferentes ambientes. O primeiro fator a se considerar seria a complexidade do hábitat (veja Langellotto & Denno, 2004). A Mata de Tabuleiro e a Muçununga abrigariam muito mais espécies de aranhas que o Nativo por apresentarem maior variedade de microhábitats, que seriam ocupados por determinados grupos de aranhas. Por exemplo, o Nativo não apresenta habitat preferidos por determinados gêneros de aranhas, como grandes troncos de árvores (Manhart, 1994), raízes-escora (Nentwig et al., 1993) e cipós (Silva, 1996). De fato, apenas nas áreas de Mata de Tabuleiro e Muçununga encontramos aranhas especializadas em caçar sobre troncos de árvores, como Enoploctenus cyclothorax (Ctenidae) e espécies de Hersiliidae. Nestes ecossistemas também capturamos várias espécies de Pholcidae e Uloboridae, que ocupam preferencialmente microhábitats úmidos e sombreados, como raízes-escora de árvores. Da mesma forma, a serrapilheira da Mata de Tabuleiro e da Muçununga visivelmente abrigava maior diversidade estrutural, incluindo troncos e ramos de plantas, além de grande variedade de folhas de diferentes formatos, gerando maior variedade SANTOS ET AL. de condições microclimáticas, o que sabidamente inluencia a diversidade e distribuição de seus organismos associados (Collevatti & Schoereder, 1995). Embora o efeito da complexidade do habitat sobre a diversidade de artrópodes predadores seja amplamente conhecido (Langellotto & Denno, 2004), muito ainda se discute sobre os mecanismos que geram esta diversidade. Além da maior oferta de microhábitats especíicos, descrita acima, a complexidade estrutural do ambiente pode também afetar a abundância e a diversidade de aranhas através da disponibilidade de refúgios contra predadores. De fato, experimentos realizados em ambientes temperados demonstraram que ramos de plantas com folhagem densa (do tipo comumente encontrado na Mata de Tabuleiro e na Muçununga, mas raramente no Nativo) oferecem maior proteção contra aves predadoras e, portanto, abrigam mais espécies de aranhas (Gunarsson, 1996). Embora experimentos similares não tenham sido realizados em ambientes tropicais, manchas de vegetação com folhagem densa em lorestas tropicais de fato abrigam mais espécies de aranhas (Silva, 1996). A complexidade do ambiente pode também afetar a diversidade de aranhas de forma indireta, ao aumentar a oferta de presas. Isto aconteceria porque ambientes com maior diversidade de plantas, em geral, contêm mais espécies de insetos herbívoros (Murdoch et al., 1972; Southwood et al., 1979; Sousa-Souto et al., 2014), que muitas vezes são especialistas em poucas plantas hospedeiras (Price, 1975). Além disso, a própria complexidade estrutural do ambiente pode inluenciar a abundância e diversidade de insetos herbívoros (Dennis et al., 1998; Lawton, 1983; Sousa-Souto et al., 2014). A maior oferta de presas afetaria positivamente a diversidade de aranhas não apenas por permitir o estabelecimento de populações de diferentes espécies, mas também a maior diversidade de presas poderia estar relacionada à diversidade de aranhas. Embora aranhas sejam consideradas predadoras generalistas, alguns grupos mostram preferências por determinadas ordens de insetos (Nentwig, 1982; 1986; Nyffeler et al., 1994). Assim, por apresentarem maior diversidade lorística (Jesus, 1988) e complexidade estrutural, a Mata de Tabuleiro e a Muçununga ARANHAS poderiam abrigar maior diversidade de insetos, o que favoreceria uma maior diversidade de aranhas. Embora o Nativo abrigue menos espécies que a Mata de Tabuleiro e a Muçununga, nossos resultados mostram uma baixa similaridade de composição em espécies com estas duas isionomias (Figura 4). De fato, várias das espécies registradas no Nativo parecem restritas a este ambiente, algumas com aparentes adaptações. Por exemplo, uma espécie de Lycosidae (Hogna sp.), capturada apenas nas coletas noturnas no Nativo, apresenta coloração esbranquiçada, críptica com o solo arenoso. Outro exemplo foi Peucetia flava (Oxyopidae, Fig. 6C), que foi coletada apenas sobre uma espécie de Solanaceae comum no Nativo. Como outras espécies do gênero, P. flava mostra forte preferência por plantas com tricomas glandulares (Vasconcellos-Neto et al., 2007), o que resulta em especiicidade de hábitat. Assim, nossas coletas mostram a importância da preservação de diferentes formações vegetais na Reserva Natural Vale, já que essas contêm espécies endêmicas. AS ARANHAS DA RESERVA NATURAL VALE Como mencionado acima, pouco mais de 25% das espécies coletadas nas duas expedições puderam ser identiicadas com base na literatura cientíica disponível na época. Este baixo sucesso de identiicação é um relexo de estado ainda insuiciente de conhecimento da araneofauna neotropical, que agrupa muitos gêneros e famílias de taxonomia confusa e/ou ricos em espécies desconhecidas para a ciência (Santos et al., 2007). Apesar desse empecilho, as poucas espécies identiicadas a partir de nossas expedições, juntamente com outras posteriormente registradas para a reserva ou descritas a partir do material coletado neste projeto, enfatizam a importância da Reserva Natural Vale para a conservação das aranhas da Mata Atlântica. A lista de espécies coletadas por nós na Reserva inclui vários grupos amplamente distribuídos na Mata Atlântica (p. ex. Ctenus ornatus, Araneus tijuca — Levi 1991; Brescovit & Simó, 2007), ou mesmo em toda a América do Sul (Nephila clavipes — Fig. 6A, Parawixia kochi — Levi & Eickstedt, 1989; Levi, 1992). Entretanto, um exame cuidadoso da lista de espécies revela uma 311 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Figura 6: Espécies de aranhas comuns na Reserva Natural Vale. (A) Nephila clavipes (Nephilidae), uma aranha de teia abundante e amplamente distribuída, encontrada desde os EUA até a Argentina. A foto mostra uma fêmea se alimentando de uma presa recém-capturada (à direita) e um macho, que defende a teia da fêmea como um território de acasalamento (à esquerda). (B) Aglaoctenus castaneus (Lycosidae), uma tarântula (ou aranha-lobo) que difere de outros membros da família por construir teias em forma de funil para captura de presas. Na Reserva, as teias desta espécie podem ser encontradas associadas a palmeiras. Ela é também interessante por ser uma espécie de distribuição predominantemente amazônica, ocorrendo na Floresta Atlântica apenas em áreas muito próximas ao litoral. (C) Peucetia flava (Oxyopidae), uma espécie que caça ativamente, sem uso de armadilhas de seda. Na Reserva, ela foi encontrada apenas no Nativo do Paraju, sempre associada a uma espécie de solanácea. Como observado para outras espécies do gênero, P. flava ocorre quase que exclusivamente em plantas cobertas com tricomas adesivos, que supostamente auxiliam na captura de presas. (D) Teia de Anelosimus eximius (Theridiidae), uma aranha social. Embora cada membro da colônia tenha não mais que 3 ou 4 milímetros, centenas ou milhares de indivíduos juntos podem construir colônias gigantescas como essa. (E) indivíduos de Anelosimus eximius, fotografados dentro da colônia. A presença desta espécie na Reserva é interessante porque ela é conhecida predominantemente da Amazônia, ocorrendo em poucas áreas de Floresta Atlântica ao norte do rio Doce. Fotos: A, C: João VasconcellosNeto; B, D, E: Marcelo O. Gonzaga. 312 SANTOS ET AL. ARANHAS combinação única de espécies de diferentes porções da Mata Atlântica, ou mesmo da Amazônia. Por exemplo, coletamos na Reserva espécimes de Synotaxus longicaudatus (Synotaxidae) e Zimiromus montenegro (Gnaphosidae), que são atualmente conhecidas predominantemente para áreas de Mata Atlântica ao sul do rio Doce (Exline & Levi, 1965; Buckup & Brescovit, 1993; Santos & Rheims, 2005). Por outro lado, ocorrem também na Reserva espécies registradas principalmente em áreas de Mata Atlântica ao norte do rio Doce ou mesmo de loresta amazônica, como Vinnius subfasciatus (Salticidae — Braul & Lise, 2002), Micrathena schreibersi (Araneidae — Levi, 1985), Hypognatha belem (Araneidae — Levi, 1996; Santos, 2002), Aglaoctenus castaneus (Lycosidae — Santos & Brescovit, 2001, Fig. 6B) e Anelosimus eximius (Theridiidae — Agnarsson, 2006, Fig. 6DE). Além dessas, cabe destacar que a Reserva abriga espécies endêmicas de áreas de loresta do Espírito Santo e Sul da Bahia, como Ctenus paubrasil, C. vehemens (Brescovit & Simó, 2007), Dermochrosia maculatissima, Caayguara ajuba e C. apiaba (Sparassidae — Mello-Leitão, 1940, Soares & Camargo, 1955; Rheims, 2010) e Metazygia levii (Araneidae), uma espécie conhecida até o momento apenas para a Reserva Natural Vale (Santos, 2003b). Assim, a grande importância da araneofauna da Reserva parece residir não tanto na quantidade de espécies que ela abriga, mas na combinação de grupos de diferentes regiões biogeográicas. A fauna de aranhas da Reserva Natural Vale relete claramente um dos mais evidentes padrões biogeográicos da Mata Atlântica. Estudos com diferentes grupos taxonômicos, incluindo aranhas (Costa et al., 2000; Silva et al., 2004; Sigrist & Carvalho, 2008; Oliveira et al., 2015), indicam que o Rio Doce marca o limite entre grandes áreas de endemismo. Assim, a Reserva Natural Vale é particularmente importante por conservar uma extensa área de loresta em uma zona de endemismo altamente ameaçada. Além disso, nossas coletas mostram a importância da manutenção da diversidade de formações vegetais típicas da região, que podem abrigar espécies endêmicas. Nossos resultados são também um convite para que a araneofauna da Reserva seja estudada: certamente muitas outras espécies desconhecidas, provavelmente endêmicas, ainda habitam a reserva e aguardam serem descobertas (veja alguns exemplos na Tabela 2). AGRADECIMENTOS Os resultados apresentados neste capítulo são parte da Dissertação de Mestrado do primeiro autor (Santos, 1999), inanciada por uma bolsa de estudos da Capes. As expedições de campo foram inanciadas pelo CNPq e pela Fundação MB, e contaram com o apoio logístico e material da direção e da equipe da RNV, em particular do então diretor da Reserva, Renato M. de Jesus. Somos também particularmente gratos a vários colegas que participaram das expedições de campo, o que nos permitiu uma amostragem maior que poderíamos imaginar. Agradecemos também a Marcelo O. Gonzaga, pelas fotos da Figura 6BDE. A.J. Santos recebe atualmente inanciamento do CNPq (procs. 407288/2013-9 e 306222/2015-9), Fapemig (PPM-00651-15) e Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia dos Hymenoptera Parasitóides da Região Sudeste Brasileira (http://www.hympar. ufscar.br/). A.D. Brescovit recebe subsídio inanceiro da Fapesp (processo 2011/50689-0) e CNPq (Processo 303028/2014-9). Tabela 2: Espécies de aranhas registradas para a Reserva Natural Vale, não amostradas por Santos (1999) Família Espécie Referência Oonopidae Oonopidae Salticidae Salticidae Theraphosidae Theridiidae Theridiidae Neoxyphinus keyserlingi (Simon, 1907) Predatoroonops chicano Brescovit, Rheims & Santos, 2012 Druzia flavostriata (Simon, 1901) Eustiromastix nativo Santos & Romero, 2004 Avicularia sooretama Bertani & Fukushima, 2009 * Cryptachaea brescoviti Buckup, Marques & Rodrigues, 2010 Dipoena obscura Keyserling, 1891 Abrahim et al., 2012 Brescovit et al., 2012 Ruiz & Brescovit, 2013 Santos & Romero, 2004 Bertani & Fukushima, 2009 Buckup et al., 2010 Rodrigues, 2013 * Indivíduo coletado em fase juvenil por Santos (1999), posteriormente, identiicada por Bertani & Fukushima (2009). 313 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Abrahim, N.; Brescovit, A.D.; Rheims, C.A.; Santos, A.J.; Ott, R. & Bonaldo, A.B. 2012. 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Santos & João Vasconcellos-Neto INTRODUÇÃO Das mais de 19.000 espécies de borboletas conhecidas no planeta, quase 8.000 ocorrem na região Neotropical, sendo cerca de 3.200 no Brasil. Destas, 2.000 são encontradas no bioma Mata Atlântica (Brown, 1991; Brown & Freitas, 1999; Lamas, 2004). Originalmente, este bioma está distribuído do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, abrangendo a faixa litorânea até mais de 1.000 km ao interior do continente, desde o nível do mar até montanhas com mais de 2.000 m de altitude. Como resultado de sua ampla extensão, diferenças nas comunidades de borboletas são encontradas em virtude de regimes climáticos e isionomias distintas (Brown & Freitas, 2000b). Na região norte do Espírito Santo e sul da Bahia, uma formação lorestal característica ocorre ao longo do litoral, conhecida como “Matas de Tabuleiros” (também chamada de “Hiléia Bahiana”, veja Andrade-Lima, 1966). Essas lorestas crescem em solos oligotróicos e relevo relativamente plano, com altitudes não superiores a 200 m (Peixoto et al., 1995, 2008). São extremamente ricas e possuem alto índice de endemismo de espécies lenhosas (Peixoto et al., 2008). Essa situação de alta diversidade especíica e elevados índices de endemismo é corroborada por diversos grupos biológicos, incluindo as borboletas. Estudos anteriores já deiniram essa região como um importante centro de endemismo de borboletas na Mata Atlântica, chamado de “Centro de Endemismo Bahia” (sensu Brown, 1977). Nas últimas quatro décadas, muitos inventários foram realizados em diversas áreas de loresta e restinga entre o rio Doce e a região de Camacan, no sul da Bahia. A partir destes inventários preliminares, foi obtida uma lista de mais de 800 espécies de borboletas (Brown & Freitas, dados não publicados), incluindo pelo menos 11 espécies da lista das borboletas ameaçadas de extinção no Brasil (Machado et al., 2008). A integridade faunística dessa região e sua distinção das demais localidades da Mata Atlântica é muito clara, e foi demonstrada com base em alguns grupos de borboletas, como a tribo Ithomiini (Nymphalidae) (Brown & Freitas, 2000b). Dentre as áreas mais intensamente amostradas, destacam-se as lorestas da Reserva Natural Vale, em Linhares/ES. O presente capítulo tem como objetivo descrever a fauna de borboletas dessa reserva e discutir sua composição e ainidades com outras áreas de Mata Atlântica. ÁREA DE ESTUDO E MÉTODOS DE AMOSTRAGEM Todos os inventários foram realizados dentro da área da Reserva Natural Vale (RNV), em Linhares, Espírito Santo. Uma descrição detalhada da área pode ser encontrada no capítulo 11 (Rolim et al., 2016). Os inventários foram realizados entre 1986 e 1994, somando cerca de 35 dias de amostragem (mais de 180 horas efetivas de trabalho de campo), 317 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE especialmente entre os meses de junho a agosto. A amostragem foi realizada seguindo o “protocolo maximizado” de Brown (1972), com objetivo de se registrar o máximo de espécies por visita (Brown & Freitas, 2000b, Iserhard et al., 2013). Os inventários maximizados foram realizados por K.S. Brown e A.V.L. Freitas, com contribuições de J. Vasconcelos-Neto, especialmente sobre informações de plantas hospedeiras, estágios imaturos e comportamento. A amostragem foi efetuada com redes entomológicas (puçás) e armadilhas portáteis com iscas de banana e caldo de cana fermentado (veja Freitas et al., 2014, para detalhes). As amostragens foram programadas de modo que a maior variedade possível de habitats fosse contemplada. Apenas as borboletas diurnas foram amostradas. Atenção especial foi dada às áreas ricas em recursos ou heterogêneas, como bordas, margens de rios e riachos, manchas de lores e pequenas clareiras na loresta. Pontos com grande riqueza de espécies foram observados por 5 a 10 minutos até que nenhuma espécie adicional fosse avistada. As comparações faunísticas foram feitas com base em dados não publicados de inventários em outras localidades da região norte do Espírito Santo e Sul da Bahia (Brown & Freitas, dados não publicados). Todo o material coletado está depositado na coleção do Museu de Zoologia da Unicamp Campinas/SP. A taxonomia segue Lamas (2004), modiicada segundo Wahlberg et al. (2009) para a família Nymphalidae e Heikkilä et al. (2012), que considera todas as borboletas como pertencendo a uma única superfamília (Papilionoidea). RESULTADOS E DISCUSSÃO Riqueza de espécies Foram registradas na RNV, 512 espécies pertencentes às seis famílias de borboletas diurnas (Tabela 1), correspondendo a cerca de 16% da riqueza conhecida para o Brasil. Apenas duas espécies constam na lista de espécies ameaçadas de extinção, entretanto, outras cinco espécies ameaçadas ocorrem em áreas próximas à reserva, e mais quatro ocorrem no sul da Bahia (Tabela 2). A família com maior número de espécies foi Tabela 1: Lista das 512 borboletas da Reserva Natural Vale, Linhares/ES. Números entre parênteses correspondem ao número de espécies de cada grupo taxonômico – sendo: E = endêmica à região norte do Espírito Santo e sul da Bahia; R = espécie rara; nomes em negrito = espécies que constam na lista de borboletas ameaçadas de extinção no Brasil. TÁXON PAPILIONIDAE (10) Papilioninae Leptocircini (4) Mimoides protodamas (Godart, 1819) Neographium asius (Fabricius, 1781) Protesilaus glaucolaus leucas (Rothschild & Jordan, 1906) Protesilaus protesilaus nigricornis (Staundinger, 1884) Troidini (1) Battus polydamas polydamas (Linnaeus, 1758) Papilionini (5) Heraclides astyalus astyalus (Godart, 1819) Heraclides anchisiades capys (Hübner, [1809]) Heraclides androgeus laodocus (Fabricius, 1793) Heraclides thoas brasiliensis (Rothschild & Jordan, 1906) Heraclides torquatus polybius (Swainson, 1823) PIERIDAE (22) Dismorphiinae (1) Dismorphia amphione astynome (Dalman, 1823) Coliadinae (16) 318 Anteos clorinde (Godart, [1824]) Anteos menippe (Hübner, [1818]) Aphrissa statira statira (Cramer, 1777) Eurema agave pallida (Chavannes, 1850) Eurema albula albula (Cramer, 1775) Eurema arbela Geyer, 1832 Eurema deva deva (Doubleday, 1847) Eurema elathea flavescens (Chavanes, 1850) Eurema phiale paula (Röber, 1909) Leucidia elvina (Godart, 1819) Phoebis argante argante (Fabricius, 1775) Phoebis philea philea (Linnaeus, 1763) Phoebis sennae marcellina (Cramer 1777) Pyrisitia leuce leuce (Boisduval, 1836) Pyrisitia nise tenella (Boisduval, 1836) Rhabdodryas trite banksi (Breyer, 1939) Pierinae Pierini (5) Ascia monuste orseis (Godart, 1819) FREITAS ET AL. BORBOLETAS TÁXON Ganyra phaloe endeis (Godart, 1819) Glennia pylotis (Godart, 1819) R Glutophrissa drusilla drusilla (Cramer, 1777) Perrhybris pamela eieidias Hübner, [1821] LYCAENIDAE (56) Polyommatinae (2) Hemiargus hanno (Stoll, 1790) Leptotes cassius cassius (Cramer, 1775) Theclinae (54) Allosmaitia strophius (Godart, 1824) Arawacus aethesa (Hewitson, 1867) ER Atlides cosa (Hewitson, 1867) Aubergina vanessoides (Prittwitz, 1865) Brangas caranus (Stoll, 1780) Brangas sp. Calycopis atnius (Herrich-Schäffer, [1853]) Calycopis caulonia (Hewitson, 1877) Calycopis cerata (Hewitson, 1877) Calycopis cissusa (Hewitson, 1877) Calycopis janeirica (C. Felder, 1862) Calycopis sp. Calycopis sp. 1 Calycopis sp. 2 Celmia celmus (Cramer, 1775) Chalybs janias (Cramer, 1779) Chlorostrymon telea (Hewitson, 1868) Contrafacia imma (Prittwitz, 1865) Electrostrymon endymion (Fabricius, 1775) Evenus regalis (Cramer, 1775) Evenus satyroides (Hewitson, 1865) Gargina panchaea (Hewitson, 1869) Iaspis talayra (Hewitson, 1868) Michaelus ira (Hewitson, 1867) Michaelus jebus (Godart, 1824) Ministrymon azia (Hewitson, 1873) Ministrymon cleon (Fabricius, 1775) Ministrymon sp. Ocaria thales (Fabricius, 1793) Oenomaus sp. Ostrinotes tympania (Hewitson, 1869) Panthiades phaleros (Linnaeus, 1767) Parrhasius polibetes (Stoll, 1781) Pseudolycaena marsyas (Linnaeus, 1758) Rekoa marius (Lucas, 1857) Rekoa palegon (Cramer, 1780) Rubroserrata ecbatana (Hewitson, 1868) Strymon astiocha (Prittwitz, 1865) Strymon bazochii (Godart, [1824]) Strymon bubastus (Stoll, 1780) Strymon crambusa (Hewitson, 1874) Strymon eurytulus (Hübner, [1819]) Strymon mulucha (Hewitson, 1867) Strymon sp. Strymon ziba (Hewitson, 1868) Theritas hemon (Cramer, 1775) Theritas lisus (Stoll, 1790) Theclopsis lydus (Hübner, [1819]) Theritas triquetra (Hewitson, 1865) Tmolus echion (Linnaeus, 1767) Tmolus mutina (Hewitson, 1867) Strephonota ambrax (Westwood, 1852) Strephonota sphinx (Fabricius, 1775) Ziegleria hesperitis (Butler & H. Druce, 1872) RIODINIDAE (49) Euselasiinae (3) Euselasia gelanor (Stoll, 1780) Euselasia hygenius occulta Stichel, 1919 Euselasia mys lara Stichel, 1919 Riodininae Mesosemiini (9) Cremna alector (Geyer, 1837) Hyphilaria parthenis (Westwood, 1851) Leucochimona icare matatha (Hewitson, 1873) Mesosemia nyctea fluminensis J. Zikán, 1952 E Mesosemia odice (Godart, [1824]) Mesosemia rhodia (Godart, 1824) Mesosemia sifia (Boisduval, 1836) Perophthalma tullius (Fabricius, 1787) Semomesia geminus (Fabricius, 1793) Eurybiini (2) Eurybia halimede halimede (Hübner, [1807]) Eurybia pergaea (Geyer, 1832) Riodinini (10) Calephelis braziliensis McAlpine, 1971 Cariomothis erythromelas erythraea Stichel, 1910 R Chamaelymnas briola doryphora Stichel, 1910 Dachetola azora (Godart, [1824]) Detritivora gynaea (Godart, [1824]) Exoplisia cadmeis (Hewitson, 1866) Metacharis ptolomaeus (Fabricius, 1793) Rhetus periander eleusinus Stichel, 1910 Panara jarbas episatnius Prittwitz, 1865 Syrmatia nyx (Hübner, [1817]) Symmachiini (2) Mesene epaphus epaphus (Stoll, 1780) Panaropsis inaria (Westwood, 1851) R Helicopini (3) Anteros bracteata Hewitson, 1867 R Anteros formosus (Cramer, 1777) Sarota gyas (Cramer, 1775) 319 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE TÁXON Nymphidiini (13) Calospila lucianus lucianus (Fabricius, 1793) Calospila parthaon (Dalman, 1823) R Juditha azan (Westwood, 1851) Synargis galena (Bates, 1868) Synargis regulus (Fabricius, 1793) Menander menander nitida (Butler, 1867) Nymphidium acherois (Boisduval, 1836) Nymphidium azanoides A. Butler, 1867 Nymphidium lisimon attenuatum Stichel, 1929 Nymphidium mantus (Cramer, 1775) Theope lycaenina Bates, 1868 Theope pedias Herrich-Schäffer, [1853] Theope acosma Stichel, 1910 Stalachtini (1) Stalachtis susanna (Fabricius, 1787) Incertae Sedis (6) Apodemia castanea (Prittwitz, 1865) Calydna lusca (Geyer, [1835]) Echydna chaseba (Hewitson, 1854) Emesis diogenia Prittwitz, 1865 Emesis fatimella fatimella Westwood, 1851 Emesis mandana (Cramer, 1780) NYMPHALIDAE (183) Libytheinae (1) Libytheana carinenta (Cramer, 1777) Danainae (30) Danaini (3) Danaus erippus (Cramer, 1775) Danaus gilippus gilippus (Cramer, 1775) Lycorea halia discreta Haensch, 1809 Ithomiini (27) Tithoreina (2) Aeria olena olena Weymer, 1875 Tithorea harmonia pseudethra (Butler, 1873) Melinaeina (2) Melinaea ethra (Godart, 1819) Melinaea ludovica paraiya Reakirt, 1866 Mechanitina (6) Mechanitis lysimnia lysimnia (Fabricius, 1793) Mechanitis polymnia casabranca Haensch, 1905 Methona themisto (Hübner, 1818) Thyridia psidii psidii (Linnaeus, 1758) Scada karschina karschina (Herbst, 1792) Scada reckia (Hübner, [1808]) E Napeogenina (4) Hypothyris euclea laphria (Doubleday, 1847) Hypothyris ninonia daeta (Boisduval, 1836) Napeogenes inachia sulphurina (Bates, 1862) Napeogenes rhezia yaneta (Hewitson, 1867) ER 320 Ithomiina (3) Ithomia agnosia zikani D’Almeida, 1940 Ithomia drymo Hübner, 1816 Ithomia lichyi lichyi D’Almeida, 1939 Oleriina (2) Oleria aquata (Weymer, 1875) Oleria astrea astrea (Cramer, 1775) Dirceniina (7) Callithomia lenea xantho (C.Felder & R. Felder, 1860) Dircenna dero celtina Burmeister, 1878 Episcada clausina striposis Haensch, 1909 Episcada doto canaria (Brown & D’Almeida, 1970) Episcada hemixanthe (C. Felder & R. Felder, 1865) Episcada hymenaea hymenaea (Prittwitz, 1865) Pteronymia euritea (Cramer, 1780) Godyridina (1) Pseudoscada florulla genetyllis (d’Almeida, 1922) Satyrinae (49) Morphini (4) Antirrhea archaea Hübner [1822] Morpho anaxibia (Esper, 1801) Morpho helenor achillaena (Hübner [1823]) Morpho menelaus coeruleus (Perry, 1810) Brassolini (13 ) Brassolis sophorae sophorae (Linnaeus, 1758) Caligo beltrao (Illiger, 1801) Caligo brasiliensis brasiliensis (C. Felder, 1862) Caligo idomeneus ariphron Fruhstorfer, 1910 Caligo illioneus illioneus (Cramer, 1775) Caligo teucer japetus Stichel, 1903 Catoblepia amphirhoe (Hübner, [1825]) Dasyophthalma creusa creusa (Hübner, [1821]) Dynastor darius darius (Fabricius, 1775) Eryphanis automedon amphimedon (C. Felder & R. Felder, 1867) Opsiphanes cassiae crameri C. Felder & R. Felder, 1862 Opsiphanes invirae pseudophilon Fruhstorfer, 1907 Opsiphanes quiteria meridionalis Staudinger, 1887 Satyrini (32) Haeterina (3) Haetera piera diaphana Lucas, 1857 E Pierella nereis (Drury, 1782) Pierella sp. Euptychiina (29) Archeuptychia cluena (Drury, 1782) Caeruleuptychia penicillata (Godman, 1905) Capronnieria galesus (Godart, [1824]) Cepheuptychia angelica (Butler, 1874) RE Chloreuptychia arnaca (Fabricius, 1776) Chloreuptychia herseis (Godart, [1824]) FREITAS ET AL. BORBOLETAS TÁXON Cissia myncea (Cramer, 1780) Godartiana byses (Godart, [1824]) Hermeuptychia hermes (Fabricius, 1775) Hermeuptychia sp. 1 Hermeuptychia sp. 2 Magneuptychia lea (Cramer, 1777) Magneuptychia libye (Linnaeus, 1767) Pareuptychia ocirrhoe interjecta (D’Almeida, 1952) Paryphthimoides phronius (Godart, 1824) Paryphthimoides poltys (Prittwitz, 1865) Pharneuptychia sp. Pseudodebis euptychidia (Butler, 1868) Splendeuptychia doxes (Godart, [1824]) Splendeuptychia latia (Butler, 1867) ER Splendeuptychia sp. Taygetis echo (Cramer, 1775) Taygetis laches marginata Staudinger, [1887] Taygetis leuctra Butler, 1870 Taygetis sosis Hopfer, 1874 Taygetis virgilia (Cramer, 1776) Yphthimoides affinis (A. Butler, 1867) Yphthimoides renata (Stoll, 1780) Yphthimoides yphthima (C. Felder & R. Felder, 1867) Charaxinae (20) Anaeini (10) Consul fabius drurii (Butler, 1874) Fountainea halice halice (Godart, [1824]) Fountainea ryphea phidile (Geyer, 1837) Memphis acidalia victoria (H. Druce, 1877) Memphis editha (W. P. Comstock, 1961) Memphis moruus stheno (Prittwitz, 1865) Hypna clytemnestra huebneri Butler, 1866 Siderone galanthis catarina Dottax & Pierre, 2009 Zaretis strigosus (Gmelin, [1790]) Zaretis itylus (Westwood, 1850) E Preponini (10) Archaeoprepona amphimachus pseudomeander (Fruhstorfer, 1906) Archaeoprepona demophon thalpius (Hübner, [1814]) Archaeoprepona demophoon antimache (Hübner, [1819]) Archaeoprepona meander castorina (E. May, 1932) Prepona claudina claudina (Godart, [1824]) R Prepona dexamenus dexamenus Hopffer, 1874 Prepona eugenes bahiana Fruhstorfer, 1897 R Prepona laertes laertes (Hübner, [1811]) Prepona pheridamas (Cramer, 1777) Prepona pylene Hewitson, [1854] R Biblidinae (32) Biblis hyperia nectanabis (Fruhstorfer, 1909) Callicore astarte selima (Guenée, 1872) Callicore hydaspes (Drury, 1782) Callicore texa maximilla (Fruhstorfer, 1916) Catonephele acontius acontius (Linnaeus, 1771) Catonephele numilia penthia (Hewitson, 1852) Diaethria clymena janeira (C. Felder, 1862) Dynamine artemisia artemisia (Fabricius, 1793) Dynamine athemon maeon (Doubleday, 1849) Dynamine ines ines (Godart, [1824]) E Dynamine meridionalis Röber, 1915 Dynamine postverta postverta (Cramer, 1779) Ectima thecla thecla (Fabricius, 1796) Eunica bechina bechina (Hewitson, 1852) Eunica maja maja (Fabricius, 1775) Eunica marsolia marsolia (Godart, [1824]) Hamadryas amphinome amphinome (Linnaeus, 1767) Hamadryas arete (Doubleday, 1847) Hamadryas arinome obnubila (Fruhstorfer, 1916) Hamadryas chloe rhea (Fruhstorfer, 1907) Hamadryas epinome (C. Felder & R. Felder, 1867) Hamadryas februa februa (Hübner, [1823]) Hamadryas feronia feronia (Linnaeus, 1758) Hamadryas iphthime (Bates, 1864) Hamadryas laodamia (Cramer, 1777) Mestra hersilia hypermestra Hübner, [1825] Myscelia orsis (Drury, 1782) Nica flavilla flavilla (Godart, [1824]) Paulogramma pygas pygas (Godart, [1824]) Pyrrhogyra neaerea ophni Butler, 1870 Temenis huebneri korallion Fruhstorfer, 1912 Temenis laothoe santina Fruhstorfer, 1907 Apaturinae (1) Doxocopa agathina vacuna (Godart, [1824]) Cyrestinae (3) Marpesia chiron marius (Cramer, 1779) Marpesia petreus petreus (Cramer, 1776) Marpesia themistocles themistocles (Fabricius, 1793) R Nymphalinae (15) Coeini (4) Colobura dirce dirce (Linnaeus, 1758) Historis acheronta acheronta (Fabricius, 1775) Historis odius dious Lamas, 1995 Tigridia acesta latifascia (Butler, 1873) Nymphalini (2) Vanessa braziliensis (Moore, 1883) Vanessa myrinna (Doubleday, 1849) Kallimini (4) Anartia amathea roeselia (Eschscholtz, 1821) Anartia jatrophae jatrophae (Linnaeus, 1763) Junonia evarete evarete (Cramer, 1779) Siproeta stelenes meridionalis (Frühstorfer, 1909) 321 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE TÁXON Melitaeini (5) Chlosyne lacinia saundersi (Doubleday, [1847]) Eresia eunice esora Hewitson, 1857 Eresia lansdorfi (Godart, 1819) Ortilia ithra (W. F. Kirby, 1900) Tegosa claudina (Eschscholtz, 1821) Limenitidinae (12) Adelpha capucinus velia (C. Felder & R. Felder, 1867) Adelpha cytherea aea (C. & R. Felder, 1867) Adelpha erotia erotia (Hewitson, 1847) Adelpha iphiclus ephesa (Ménétriès, 1857) Adelpha malea goyama Schaus, 1902 Adelpha naxia (C. Felder & R. Felder, 1867) Adelpha plesaure plesaure Hübner, 1823 Adelpha serpa serpa (Boisduval, 1836) Adelpha herbita perdita Willmott, Mielke & Freitas 2016 R Adelpha thesprotia (C. Felder & R. Felder, 1867) Adelpha viola viola Frühstorfer, 1913 Adelpha zea (Hewitson, 1850) Heliconiinae (18) Argynnini (1) Euptoieta hegesia meridiana Stichel, 1938 Acraeini (3) Actinote canutia (Hopffer, 1874) Actinote pellenea pellenea Hübner, [1821] Actinote pyrrha pyrrha (Fabricius, 1775) Heliconiini (14) Agraulis vanillae maculosa (Stichel, [1908]) Dione juno juno (Cramer, 1779) Dryadula phaetusa (Linnaeus, 1758) Dryas iulia alcionea (Cramer, 1779) Eueides aliphera aliphera (Godart, 1819) Eueides isabella dianasa (Hübner, [1806]) Eueides vibilia vibilia (Godart, 1819) Philaethria dido dido (Linnaeus, 1763) Philaethria wernickei (Röber, 1906) Heliconius erato phyllis (Fabricius, 1775) Heliconius ethilla narcaea Godart, 1819 Heliconius melpomene nanna Stichel, 1899 Heliconius numata ethra (Hübner, [1831]) Heliconius sara apseudes (Hübner, [1813]) HESPERIIDAE (192) Pyrginae (99) Pyrrhopygini (2) Myscelus epimachia edix Evans, 1951 Pyrrhopyge thericles rileyi Bell, 1931 Eudamini (48) Aguna asander asander (Hewitson, 1867) Aguna megacles megacles (Mabille, 1888) Astraptes apastus pusa Evans, 1952 322 Astraptes aulus (Plötz, 1881) Astraptes chiriquensis oenander (Hewitson, 1876) Astraptes cretatus adoba Evans, 1952 Astraptes creteus siges (Mabille, 1903) Astraptes elorus (Hewitson, 1867) Astraptes enotrus (Stoll, 1781) Astraptes fulgerator fulgerator (Walch, 1775) Astraptes janeira (Schaus, 1902) Astraptes talus (Cramer, 1777) Augiades crinisus (Cramer, 1780) Augiades epimethea epimethea (Plötz, 1883) Autochton neis (Geyer, 1832) Autochton zarex (Hübner, 1818) Bungalotis midas (Cramer, 1775) Cephise cephise (Herrich-Schäffer, 1869) R Chioides catillus catillus (Cramer, 1779) Dyscophellus ramusis damias (Plötz, 1882) Entheus priasus pralina Evans, 1952 Epargyreus clavicornis (Herrich-Schäffer, 1869) Epargyreus socus (Hübner, [1825]) Narcosius dosula (Evans, 1952) Nascus phocus (Cramer, 1777) Oileides vulpinus vulpinus Hübner, [1825] Phanus australis Miller, 1965 Phanus marshalii (Kirby, 1880) Phanus vitreus (Stoll, 1781) Phocides pigmalion hewitsonius (Mabille, 18883) Phocides polybius phanias (Burmeister, 1880) Polythrix caunus (Herrich-Schäffer, 1869) Polythrix octomaculata (Sepp, [1844]) Proteides mercurius mercurius (Fabricius, 1787) Pseudonascus paulliniae (Sepp, [1842]) Salatis salatis (Stoll, 1782) Typhedanus eliasi Mielke, 1979 ER Typhedanus undulatus (Hewitson, 1867) Urbanus albimargo (Mabille, 1876) Urbanus dorantes dorantes (Stoll, 1790) Urbanus doryssus albicuspis (Herrich-Schäffer, 1869) Urbanus esta Evans, 1952 Urbanus procne (Plötz, 1880) Urbanus proteus proteus (Linnaeus, 1758) Urbanus simplicius (Stoll, 1790) Urbanus teleus (Hübner, 1821) Urbanus velinus (Plötz, 1880) Urbanus virescens (Mabille, 1877) Pyrgini (49) Anastrus obscurus obscurus (Hübner, [1824]) Anastrus tolimus robigus (Plötz, 1884) Anastrus sempiternus simplicior (Möschler, 1877) Anastrus ulpianus Poey, 1832 FREITAS ET AL. BORBOLETAS TÁXON Antigonus erosus (Hübner, [1812]) Antigonus liborius liborius Plötz, 1884 Antigonus nearchus (Latreille, [1817]) Camptopleura janthinus (Capronier, 1874) Carrhenes canescens pallida Röber, 1925 Chiomara mithrax (Möschler, 1879) Cogia calchas (Herrich-Schäffer, 1869) Cogia elaites (Hewitson, 1867) Cycloglypha caeruleonigra Mabille, 1903 E Cycloglypha thrasibulus thrasibulus (Fabricius, 1793) Cycloglypha tisias (Godman & Salvin, 1896) Diaeus lacaena (Hewitson, 1869) Eantis mithridates thraso (Hübner, [1807]) Ebrietas anacreon anacreaon (Staudinger, 1876) Eracon paulinus (Stoll, 1782) Gorgythion begga begga (Prittwitz, 1868) Gorgythion beggina escalophoides Evans, 1953 Grais stigmaticus stigmaticus (Mabille, 1833) Helias phalaenoides palpalis (Latreille, [1824]) Heliopetes alana (Reakirt, 1868) Heliopetes arsalte (Linnaeus, 1758) Heliopetes omrina (Butler, 1870) Marela tamyroides (C. Felder & R. Felder, 1867) Milanion leucaspis (Mabille, 1878) Morvina fissimacula (Mabille, 1878) Mylon ander ander Evans, 1953 Mylon maimon (Fabricius, 1775) Mylon pelopidas (Fabricius, 1793) Ouleus accedens accedens (Mabille, 1895) Pachyneuria inops (Mabille, 1877) Pachyneuria sp. Pellicia costimacula litoralis Biezanko & Mielke, 1973 Polyctor polyctor polyctor (Prittwitz, 1868) Pyrgus orcus (Stoll, 1780) Pyrgus orcynoides (Giacomelli, 1928) Pythonides herennius lusorius Mabille, 1891 Pythonides jovianus fabricii (Kirby, 1871) Quadrus cerialis (Stoll, 1782) Sostrata bifasciata bifasciata (Ménétriés, 1829) Spathilepia clonius (Cramer, 1775) Staphylus melangon epicaste Mabille, 1903 Telemiades amphion marpesus (Hewitson, 1867) Telemiades antiope antiope (Plötz, 1882) Timochares trifasciata trifasciata (Hewitson, 1868) Xenophanes tryxus (Stoll, 1780) Hesperiinae (93) Aides aestria (Hewitson, 1866) Aides duma argyrina Cowan, 1970 Alera sp. Anatrytone perfida (Möschler, 1879) Anthoptus epictetus (Fabricius, 1793) Argon lota (Hewitson, 1877) Arita mubevensis (Bell, 1932) Arotis kayei (E. Bell, 1932) Artines aepitus (Geyer, 1832) Artines aquilina (Plötz, 1882) Callimormus alsimo (Möschler, 1883) Callimormus corades (Felder, 1862) Callimormus rivera (Plötz, 1882) Calpodes ethlius (Stoll, 1782) Carystoides basoches (Latreille, [1824]) Carystoides noseda (Hewitson, 1866) Carystus phorcus claudianus (Latreille, [1824]) Cobalopsis nero (Herrich-Schäffer, 1869) Cobalus calvina (Hewitson, 1866) Cobalus sp. Cobalus virbius hersilia (Plötz, 1882) Conga chydaea (Butler, 1877) Corticea corticea (Plötz, 1882) Corticea noctis (Plötz, 1882) Cymaenes gisca Evans, 1955 Cymaenes tripunctata (Latreille, [1824]) Cynea irma (Möschler, 1879) Cynea sp. Damas clavus (Herrich-Schäffer, 1869) Dubiella dubius (Stoll, 1781) Dubiella fiscella fiscella (Hewitson, 1877) Enosis uza pruinosa (Plötz, 1882) Flaccilla aecas (Stoll, 1781) Hylephila phyleus phyleus (Drury, 1773) Justinia justinianus justinianus (Latreille, [1824]) Justinia maculata (Bell, 1930) R Lento lento (Mabille, 1878) Lerodea erythrostictus (Prittwitz, 1868) Levina levina (Plötz, 1884) Ludens ludens (Mabille, 1891) Methionopsis ina (Plötz, 1882) Mnasilus allubita (Butler, 1877) Monca sp. Morys geisa geisa (Möschler, 1879) Naevolus orius orius (Mabille, 1883) Neoxeniades braesia andricus (Mabille, 1895) Niconiades linga Evans, 1955 Niconiades nikko Hayward, 1948 Niconiades xanthaphes Hübner, [1821] Nyctelius nyctelius nyctelius (Latreille, [1824]) Onophas columbaria distigma Bell, 1930 R Orphe gerasa (Hewitson, 1867) Orses cynisca (Swainson, 1821) R Orses itea (Swaison, 1821) R 323 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE TÁXON Panoquina evadnes (Stoll, 1781) Panoquina fusina viola Evans, 1955 Panoquina hecebolus (Scudder, 1872) Paracarystus menestries menestries (Latreille, [1824]) Perichares philetes adela (Hewitson, 1867) Phanes aletes (Geyer, 1832) Phanes almoda (Hewitson, 1866) Polites vibex catilina (Plötz, 1886) Pompeius amblyspila (Mabille, 1898) Pompeius pompeius (Latreille, [1824]) Pyrrhopygopsis socrates socrates (Ménétriés, 1855) Quinta cannae (Herrich-Schäffer, 1869) Saliana esperi Evans, 1955 Saliana fusta Evans, 1955 Saliana longirostis (Sepp, [1840]) Saliana mamurra (Plötz, 1886) Saliana triangularis (Kaye, 1914) Sodalia coler (Schaus, 1902) Synapte silius (Latreille, [1824]) Talides sergestus (Cramer, 1775) Thargella caura occulta (Schaus, 1902) Thespieus dalman (Latreille, [1824]) Thoon taxes Godman, 1900 Thracides cleanthes cleanthes (Latreille, [1824]) Thracides nanea (Hewitson, 1867) Turesis complanula (Herrich-Schäffer, 1869) Turmada camposa (Plötz, 1886) ER Vacerra bonfilius (Latreille, [1824]) Vehilius celeus vetus Mielke, 1969 Vehilius inca (Scudder, 1872) Vehilius stictomenes stictomenes (Butler, 1877) Vettius artona (Hewitson, 1868) Vettius diversa diversa (Herrich-Schäffer, 1869) Vettius fantasos (Cramer, 1780) Vettius lafrenaye pica (Herrich-Schäffer, 1869) Vettius marcus marcus (Fabricius, 1787) Vettius phyllus prona Evans, 1955 Wallengrenia premnas (Wallengren, 1860) Xeniades chalestra chalestra (Hewitson, 1866) Tabela 2: Espécies de borboletas ameaçadas que ocorrem nas matas a norte do Rio Doce, no Espírito Santo, até o sul da Bahia Família/Espécie Papilionidae Heraclides himeros himeros (Hopffer, 1865)* Pieridae Moschoneura pinthous methymna (Godart, 1819) Nymphalidae Eresia erysice erysice (Geyer, 1832) Heliconius nattereri C. Felder & R. Felder, 1865 Mcclungia cymo fallens (Haensch, 1905)* Melinaea mnasias thera C. Felder & R. Felder, 1865 Napeogenes rhezia rhezia (Geyer, [1834])* Hyalyris leptalina (C. Felder & R. Felder, 1865)* Lycaenidae Arawacus aethesa (Hewitson, 1867) Hesperiidae Drephalys mourei Mielke, 1968* Turmada camposa (Plötz, 1886) Categoria Ocorrência EN RJ, ES VU ES, BA CR VU EN CR VU EN BA ES, BA MG, RJ, ES, BA BA ES, BA RJ, ES, MG VU MG, ES CR EN SC, RJ, ES RJ, ES Legenda: Categoria = categorias de ameaça: VU = vulnerável, EN = ameaçada, CR = criticamente ameaçada (dados de Machado et al., 2008). O campo “Ocorrência” indica os estados em que há registros para a espécie: SC = Santa Catarina, SP = São Paulo, RJ = Rio de Janeiro, MG = Minas Gerais, ES = Espírito Santo, BA = Bahia. Em negrito estão as espécies que ocorrem na Reserva Natural Vale. Espécies com asterisco foram registradas próximas à reserva, entre Linhares e Pedro Canário (norte do ES). 324 FREITAS ET AL. Hesperiidae (192 espécies), seguida por Nymphalidae (183), Lycaenidae (56), Riodinidae (49), Pieridae (22) e Papilionidae (10). As famílias Hesperiidae e Nymphalidae, nessa ordem, são invariavelmente os grupos mais ricos em espécies na região Neotropical na maioria das listas disponíveis (Brown & Freitas, 1999; 2000a,b; Brown, 2005; Francini et al., 2011). Apesar de a riqueza da reserva (512 espécies) ser relativamente alta e equivalente àquela de outras áreas bem amostradas de Mata Atlântica (Francini et al., 2011), ainda está abaixo de diversas localidades mais bem amostradas de Mata Atlântica, cujas riquezas podem variar de 570 a mais de 700 espécies (Francini et al., 2011). Como exemplo, em Santa Teresa, uma localidade bem amostrada ao sul da RNV (mas com vegetação e topograia distintas), a lista inclui 769 espécies de borboletas (Brown & Freitas, 2000a), com 452 espécies em comum com a RNV. De fato, se imaginarmos que o número total de espécies de borboletas pode ser estimado levandose em conta que os Ithomiini perfazem 4,3 a 4,6% do total de espécies de uma localidade Neotropical (Beccaloni & Gaston, 1995) e que os Nymphalidae perfazem de 25 a 29% (Brown & Freitas, 2000b), a riqueza estimada de borboletas da RNV estaria entre cerca de 600 a 700 espécies. Números dessa grandeza não seriam difíceis de serem alcançados, especialmente se considerarmos as espécies já registradas em localidades próximas, como a Floresta Nacional de Goytacazes (também em Linhares) e os fragmentos lorestais entre Conceição da Barra e Pedro Canário (Brown & Freitas, dados não publicados). Para Nymphalidae, por exemplo, uma família relativamente bem amostrada (vide algumas espécies desta família na Figura 1), possivelmente até 25 espécies poderiam ser adicionadas à lista com mais horas de amostragem. Dentre essas, destacam-se diversas espécies do gênero Eunica Hübner, [1819] e espécies da tribo Satyrini (muito presentes na Floresta Nacional de Goytacazes). Em Papilionidae, uma família que em geral é bem amostrada com pouco tempo de trabalho (Iserhard et al., 2013), seria esperada a presença de algumas espécies comuns e bem distribuídas por toda a Mata Atlântica, como Parides anchises nephalion (Godart, 1819) e Parides zacynthus zacynthus (Fabricius, 1793) (Troidini). Poderiam ocorrer ainda mais uma ou BORBOLETAS duas espécies do gênero Protesilaus Swainson, [1832] (Leptocircini) e até a ameaçada Heraclides himeros himeros (Hopffer, 1865) (Papilionini), todas presentes em áreas próximas (por exemplo, H. himeros himeros ocorre em localidades a aproximadamente 30 km de distância da reserva). A lista de Pieridae está relativamente completa, e poucas adições seriam esperadas com base na fauna conhecida nos arredores da reserva. As maiores adições, entretanto, são esperadas nas famílias Hesperiidae, Lycaenidae e Riodinidae. Levando-se em conta que boa parte das espécies dessas três famílias ocorrem em baixa abundância, são erráticas no tempo e espaço e algumas vezes ocorrem em populações extremamente localizadas (especialmente Riodinidae), a acumulação de espécies nestes grupos é lenta e somente após muitos anos listas relativamente completas podem ser obtidas (Iserhard et al., 2013). Como exemplo, mais de 20 espécies podem ser adicionadas à lista de Lycaenidae, e possivelmente o mesmo número em Riodinidae. Nesta última, é notável a ausência de espécies comuns e de ampla distribuição, como Lemonias zygia zygia Hübner, [1807], Thisbe irenea (Stoll, 1780), Theope terambus (Godart, [1824]) (Nymphidiini), Eurybia molochina hyacinthina Stichel, 1910 (Eurybiini), Notheme erota (Cramer, 1780) e Ancyluris aulestes pandama (Saunders, 1850) (Riodinini), todas presentes nos arredores da reserva. Finalmente, mais de 40 espécies poderiam ser adicionadas à lista de Hesperiidae, especialmente na tribo Pyrrhopygini, um grupo de difícil amostragem, pois as espécies são de voo rápido e, geralmente associadas ao dossel, e com apenas duas espécies registradas na reserva até o momento (contra oito espécies registradas em localidades próximas). Em suma, apesar de a lista atual conter uma boa representatividade da fauna de borboletas da região, inventários adicionais que contemplem outras épocas do ano, especialmente o verão e outono, poderiam revelar muitas surpresas para a reserva, incluindo novos registros de espécies raras ou ameaçadas. Análise da composição faunística Na presente lista, a riqueza dos principais grupos de borboletas segue o padrão conhecido 325 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Figura 1: Exemplos de borboletas da família Nymphalidae. Legenda: A. Archaeoprepona amphimachus pseudomeander, B. Archaeoprepona demophon thalpius, C. Prepona claudina claudina, D. Hypna clytemnestra huebneri, E. Siderone galanthis catarina, F. Memphis moruus stheno (Charaxinae), G. Hamadryas laodamia, H. Temenis huebneri korallion, I. Callicore astarte selima (Biblidinae), J. Haetera piera diaphana, K. Archeuptychia cluena (Satyrinae: Satyrini), L. Opsiphanes quiteria meridionalis (Satyrinae: Brassolini). para a lista total de borboletas do Brasil, onde Hesperiidae é a família mais rica em espécies, seguida por Nymphalidae, um padrão usualmente obtido em localidades bem amostradas (ver Brown & Freitas, 1999 e Francini et al., 2011). Em relação a Lycaenidae e Riodinidae, a primeira família apareceu como mais rica do que a segunda, 326 um padrão inverso tanto em relação àquele descrito para a região de Linhares/ES quanto em relação à lista total de borboletas do Brasil (onde Riodinidae tem mais espécies registradas do que Lycaenidae) (Francini et al., 2011). De fato, já foi demonstrado que a riqueza de Riodinidae é positivamente correlacionada com a temperatura FREITAS ET AL. média (Brown, 2005), sendo que localidades mais a sul na Mata Atlântica possuem uma maior riqueza de Lycaenidae, enquanto que em localidades mais ao norte e na Amazônia possuem mais espécies de Riodinidae (Francini et al., 2011). No caso da lista da RNV, apenas um aumento do esforço amostral poderia revelar a verdadeira relação de riqueza entre essas duas famílias de difícil amostragem. Com relação a Papilionidae e Pieridae, as duas famílias menos diversas, o padrão registrado na reserva equivale àquele registrado na maioria das localidades do Brasil, onde Pieridae é mais rico que Papilionidae. Contudo, na presente lista, Pieridae possui mais que o dobro das espécies de Papilionidae, um padrão um pouco diferente do usualmente registrado para a Mata Atlântica (uma relação de 1,4 a 1,6 Pieridae para cada espécie de Papilionidae), e que pode ser atribuído à ausência de algumas espécies comuns de Papilionidae (ver discussão acima). CONCLUSÕES A Reserva Natural Vale, em Linhares, guarda uma fauna de borboletas característica da região norte do Espírito Santo, com uma mistura de elementos do sul da Mata Atlântica e os endemismos do sul da Bahia, além de servir de refúgio para espécies de borboletas ameaçadas de extinção. Somado a isso, a grande extensão lorestal da Reserva, e sua contiguidade com a Reserva de Sooretama, ao norte, fazem dessa área um dos principais refúgios de fauna de toda a região. AGRADECIMENTOS Aos colegas Cristiano Agra Iserhard e Marlon Paluch pelas críticas e sugestões na versão inal do trabalho. Aos Profs. W. W. Benson e Ronaldo B. Francini pelo auxílio no campo e disponibilização de material na reserva. AVLF agradece ao CNPq (302585/2011-7 e 303834/2015-3), ao NSF-EUA (DEB-1256742) e à FAPESP (auxílios 11/50225-3 e 2013/50297-0) pelo auxílio inanceiro. OHHM e JVN agradecem ao CNPq e JPS agradece a Capes pela bolsa de Doutorado. À Pós Graduação em Ecologia da Unicamp pelo apoio logístico e inanceiro em algumas viagens de coleta. BORBOLETAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Andrade-Lima, D. 1966. Contribuição ao estudo do paralelismo da lora amazônico-nordestina. Bol. Inst. Pesq. Agron. Pernambuco, N. S., 19: 1–19. Beccaloni, G.W. & Gaston, K.J. 1995. Predicting the species richness of Neotropical forest butterlies: Ithomiinae (Lepidoptera: Nymphalidae) as indicators. Biological Conservation 71: 77–86. Brown Jr, K.S. 1972. Maximizing daily butterly counts. J Lepid Soc 26:183–196. Brown Jr, K.S. 1977. Centros de evolução, refúgios quaternários e conservação de patrimônios genéticos na região neotropical: padrões de diferenciação em Ithomiinae (Lepidoptera: Nymphalidae). Acta Amazonica 7:75-137. Brown Jr, K.S. 1991. Conservation of Neotropical environments: insects as indicators, pp. 349-404. In Collins, N. M. & Thomas, J. A. (eds.). The Conservation of Insects and their Habitats, Academic Press, London. Brown Jr., K.S. & Freitas, A.V.L. 1999. Lepidoptera, p. 225–243. In: Joly, C.A. & C.E.M. Bicudo (orgs.). Biodiversidade do Estado de São Paulo, Brasil: Síntese do Conhecimento ao Final do Século XX. 5. Invertebrados terrestres. Brandão, C.R.F. & Cancello, E.M. (eds.). São Paulo, FAPESP, xviii + 279 pp. Brown Jr., K.S. & Freitas, A.V.L. 2000a. Diversidade de Lepidoptera em Santa Teresa, Espírito Santo. Boletim do Museu de Biologia Mello Leitão, Nova Série, 11/12: 71-116. Brown Jr., K.S. & Freitas, A.V.L. 2000b. Atlantic Forest butterlies: indicators for landscape conservation. 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Cretaceous origin and repeated 327 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE tertiary diversiication of the redeined butterlies. Proceedings of the Royal Society B 279: 1093-1099. Iserhard, C.A.; Brown Jr, K.S. & Freitas, A.V.L. 2013. Maximized sampling of butterlies to detect temporal changes in tropical communities. J Insect Conserv 17: 615-622. Lamas, G. 2004. Checklist: Part 4A. Hesperioidea – Papilionoidea. In: J. B. Heppner (ed.). Atlas of Neotropical Lepidoptera. Gainesville, Association for Tropical Lepidoptera, Inc. Scientiic Publishers. 439 p. Machado, A.B.M.; Drummond, G.M.M.; Paglia, A.P. 2008. Livro vermelho da fauna brasileira ameaçada de extinção. Ministério do Meio Ambiente, Brasília, Fundação Biodiversitas, Belo Horizonte. 1420 pp. Peixoto, A.L.; Rosa, M.M.T. & Joels, L.C.M. 1995. Diagrama de peril e de cobertura de um trecho da loresta de tabuleiro na Reserva Florestal de Linhares (Espírito Santo, Brasil). Acta Bot. 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FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE 20 A FAUNA DE ABELHAS E VESPAS APOIDEAS (HEXAPODA: HYMENOPTERA: APOIDEA) DA RESERVA NATURAL VALE, NORTE DO ESPÍRITO SANTO André Nemésio, José Eustáquio dos Santos Júnior & Sandor Christiano Buys INTRODUÇÃO Os insetos representam a maior proporção de toda a biodiversidade conhecida, ainda que aí incluamos os microrganismos e as plantas (Lewinsohn & Prado, 2002; Grimaldi & Engel, 2005). Dentre os insetos, os himenópteros (abelhas, formigas e vespas) constituem um dos grupos que apresentam maior riqueza, com mais de 150.000 espécies descritas, sendo que as abelhas e vespas representam quase 90% desta diversidade (Grimaldi & Engel, 2005). Apoidea é uma das três superfamílias em que estão divididos os himenópteros aculeados, ou seja, aqueles que possuem o ovipositor transformado em ferrão. Em Apoidea estão incluídas as abelhas e as vespas apoideas, também chamada de vespas esfeciformes ou esfecoides. As abelhas estão atualmente divididas em sete famílias: Andrenidae, Apidae, Colletidae, Halictidae, Megachilidae, Melittidae e Stenotritidae (Michener, 2007). Destas, apenas as cinco primeiras ocorrem na região Neotropical. Atualmente, cerca de 20.000 espécies de abelhas são reconhecidas globalmente, sendo que aproximadamente 10% deste total ocorre no Brasil (Silveira et al., 2002). Por outro lado, existem cerca de 10.000 espécies de vespas apoideas distribuídas em todos os continentes e classiicadas em quatro famílias atuais reconhecidas: Ampulicidae, Crabronidae, Sphecidae e Heterogynaidae (Pulawski, 2015), sendo que a última não ocorre na região Neotropical. O estado do Espírito Santo, no sudeste do Brasil, abrigou uma das mais exuberantemente ricas porções da Mata Atlântica brasileira no passado recente. Entretanto, a maior parte desta loresta foi completamente desmatada durante o século XX, restando apenas alguns poucos fragmentos de mata na região (Dean, 1995; Galindo-Leal & Câmara, 2003). Apenas dois desses fragmentos, a Reserva Natural Vale, com área de 22.711 ha, e a Reserva Biológica de Sooretama, com área de 24.000 ha, são maiores que 10.000 ha no estado. Contudo, essas duas áreas se conectam e constituem um remanescente contínuo com área total de aproximadamente 46.000 ha, que representa cerca de 10% de toda a cobertura vegetal remanescente do estado do Espírito Santo (Fundação SOS Mata Atlântica, 1993; Ribeiro et al., 2009). O conhecimento sobre as faunas de abelhas e vespas apoideas da região é bastante heterogêneo. No caso das abelhas, de forma geral, a fauna relacionada às áreas abertas é mais bem estudada que aquela associada à loresta ombróila densa (Michener, 2007; Gonçalves & Brandão, 2008). Embora nas duas últimas décadas o conhecimento tenha aumentado, houve um foco em alguns 329 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE táxons como, por exemplo, na subtribo Euglossina (Apidae), mais conhecida como abelhas-dasorquídeas. Este fato pode estar relacionado à (I) facilidade na amostragem dessas abelhas em campo, através da atração dos machos da maioria das espécies por iscas aromáticas (Dodson et al., 1969; Nemésio & Silveira, 2004, 2006; Nemésio, 2012a) e (II) ao aumento no número de pesquisadores que se dedicam, parcial ou integralmente, a esse táxon. Levantamentos de outros grupos taxonômicos exigem a necessidade de um esforço de coleta mais exaustivo ao longo das estações do ano, utilizando-se da captura ativa em lores, aliada a outras estratégias como pratos armadilha, ninhos armadilha, armadilha de interceptação de voo e atração com substâncias açucaradas, para que a grande maioria das espécies seja amostrada (Silveira et al., 2002; Krug & Alvesdos-Santos, 2008). Porém, não basta formar coleções; também é necessária a existência de especialistas nos diversos grupos taxonômicos a im de proceder-se à correta identiicação dos espécimes coletados. Por essas razões, as abelhas euglossinas constituem o grupo de himenópteros mais bem estudado da Reserva Natural Vale (RNV) (Bonilla-Gómez, 1999; Nemésio, 2013b). Essa discrepância torna-se ainda mais relevante quando se leva em consideração que nas últimas duas décadas, além de novas espécies de abelhas euglossinas (Nemésio, 2006, 2007a,b, 2009, 2011b,d, 2012b; Faria & Melo, 2012; HinojosaDiaz et al., 2012; Nemésio & Engel, 2012), foram registradas e descritas algumas espécies novas de abelhas de outros grupos taxonômicos pertencentes ao centro de endemismo que engloba esta região (ver Pedro & Camargo, 2003; Graf & Urban, 2008; Santos Júnior et al., 2015). As vespas apoideas, por sua vez, são ainda pouco estudadas no Brasil. Embora tenham sido feitas importantes contribuições sobre a fauna neotropical de Sphecidae e Crabronidae (p. ex. Amarante, 2002, 2005), os estudos taxonômicos com estes grupos ainda são escassos e o material depositado em coleções entomológicas é incipiente em representar a fauna brasileira. Em geral, dentre as vespas apoideas, Sphecidae é o grupo mais abundante em coleções, certamente pelo fato destas vespas serem grandes e vistosas, além de 330 comumente nidiicarem em áreas abertas e mesmo antropizadas. O objetivo do presente estudo é diagnosticar o atual conhecimento da fauna de abelhas e vespas apoideas que ocorrem na Reserva Natural Vale, levando-se em consideração a riqueza e relevância dessa fauna no contexto regional e da Mata Atlântica como um todo. METODOLOGIA Para o levantamento das espécies de abelhas e vespas apoideas presentes na Reserva Natural Vale e arredores, incluindo a vizinha e contígua Reserva Biológica de Sooretama, foram utilizados dados da literatura especializada, além do estudo de exemplares depositados nas seguintes coleções entomológicas: Coleção Entomológica da Reserva Natural Vale (CERNV), Coleção de Insetos Hymenoptera do Centro de Coleções Taxonômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Laboratório de Taxonomia de Abelhas da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Coleção Entomológica da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto (RPSP), Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZUSP), Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro (MNRJ), e Coleção Entomológica do Instituto Oswaldo Cruz (Ceioc). A criação do município de Sooretama é recente, tendo sido este município emancipado de Linhares através da Lei Estadual 4.693, de 31 de março de 1994 (Câmara Municipal de Sooretama, 2015). Por esta razão, parte do material obtido anteriormente ao ano de 1994 e etiquetado como proveniente de Linhares pode ter sido coletado no território que hoje pertence à Sooretama. Pela contiguidade das áreas de mata dos dois municípios, assumimos aqui que as espécies oriundas de Sooretama também devam ocorrer na Reserva Natural Vale, razão pela qual os resultados abaixo incluem espécies coletadas em toda a região. RESULTADOS E DISCUSSÃO Sessenta e cinco espécies de abelhas pertencentes às famílias Andrenidae (1), Apidae (55), Colletidae (2), Halictidae (5) e Megachilidae (2) foram NEMÉSIO ET AL. ABELHAS E VESPAS reconhecidas como oriundas da Reserva Natural Vale e arredores (Tabelas 1 e 2). Destas, 28 pertencem à subtribo Euglossina, representadas pelos gêneros Eufriesea, Euglossa, Eulaema e Exaerete. Vinte e sete espécies de vespas apoideas, sendo 18 espécies de Sphecidae (Tabela 3) e nove de Crabronidae (Tabela 4), foram registradas para a região de Linhares e Sooretama, ao passo que nenhuma espécie de Ampulicidae foi encontrada, embora esta seja uma família bem representada no Brasil. Tabela 1: Lista das espécies de abelhas coletadas na Reserva Natural Vale e depositadas na Coleção Entomológica da Reserva Natural Vale. F: fêmea; M: macho; O: operária. Família Espécies Apidae Apis mellifera Linnaeus, 1758 Centris (Heterocentris) terminata Smith, 1874 Diadasina distincta (Holmberg, 1903) Euglossa (Euglossa) marianae Nemésio, 2011 Euglossa (Euglossa) securigera Dressler, 1982 Euglossa (Euglossa) sp. Euglossa (Euglossella) viridis (Perty, 1833) Eulaema (Apeulaema) nigrita Lepeletier, 1841 Exaerete smaragdina (Guérin, 1844) Florilegus (Euflorilegus) similis Urban, 1970 Melipona (Eomelipona) marginata Lepeletier, 1836 Oxytrigona tataira (Smith, 1863) Partamona ailyae Camargo, 1980 Thygater (Thygater) analis (Lepeletier, 1841) Trichocerapis sp. n. Trigona spinipes (Fabricius, 1793) Augochloropsis patens (Vachal, 1903) Xenochlora sp. n. Halictidae Número de tombo 4.426 6.600 3.884 5.539 e 4.444 4.454 4.411 e 3.773 5.594 3.428 e 5.117 760, 3.114 e 4.763 4.459 4.637 702 4.080 4.424 4.425 4.355 1.698 4.142 Sexo O F F 2M M 2F M 2M 2M e 1F M O O O F F O F F Tabela 2: Lista das espécies de abelhas que ocorrem na Reserva Natural Vale, baseada na literatura e nas coleções entomológicas da Universidade Federal de Minas Gerais, da Universidade Federal de Uberlândia e da Universidade de São Paulo (Ribeirão Preto). Família Espécie Andrenidae Apidae Oxaea sooretama Graf & Urban, 2008 Bombus (Thoracobombus) brasiliensis Lepeletier, 1836 Centris (Centris) varia (Erichson, 1849) Epicharis (Epicharis) umbraculata (Fabricius, 1804) Eufriesea atlantica Nemésio, 2008 Eufriesea mussitans (Fabricius, 1787) Eufriesea surinamensis (Linnaeus, 1758) Eufriesea violacea (Blanchard, 1840) Euglossa (Euglossa) adiastola Hinojosa-Díaz, Nemésio & Engel, 2012 Euglossa (Euglossa) avicula Dressler, 1982 Euglossa (Euglossa) botocuda Faria & Melo, 2012 Euglossa (Euglossa) calycina Faria & Melo, 2012 Euglossa (Euglossa) carolina Nemésio, 2009 Euglossa (Euglossa) cognata Moure, 1970 Euglossa (Euglossa) clausi Nemésio & Engel, 2012 Euglossa (Euglossa) despecta Moure, 1968 Euglossa (Euglossa) liopoda Dressler, 1982 Euglossa (Euglossa) marianae Nemésio, 2011 Referência Graf & Urban, 2008 Moure & Sakagami, 1962 UFMG UFMG Nemésio, 2013b* Bonilla-Gómez, 1999** Nemésio, 2013b Bonilla-Gómez, 1999 Nemésio, 2013b Nemésio, 2013b Faria & Melo, 2012 Faria & Melo, 2012 Nemésio, 2013b Nemésio, 2013b Nemésio, 2013b Nemésio, 2013b Nemésio, 2013b Nemésio, 2013b 331 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Família Espécie Euglossa (Euglossa) milenae Bembé, 2007 Euglossa (Euglossa) monnei Nemésio, 2012 Euglossa (Euglossa) pleosticta Dressler, 1982 Euglossa (Euglossa) securigera Dressler, 1982 Euglossa (Glossura) ignita Smith, 1874 Euglossa (Glossura) imperialis Cockerell, 1922 Euglossa (Glossura) roubiki Nemésio, 2009 Eulaema (Apeulaema) marcii Nemésio, 2009 Eulaema (Apeulaema) nigrita Lepeletier, 1841 Eulaema (Eulaema) atleticana Nemésio, 2009 Eulaema (Eulaema) niveofasciata (Friese, 1899) Exaerete frontalis (Guérin-Méneville, 1844) Exaerete smaragdina (Guérin-Méneville, 1844) Exomalopsis (Exomalopsis) auropilosa Spinola, 1853 Melipona (Eomelipona) marginata carioca Moure, 1971 Melipona (Michmelia) fuliginosa Lepeletier, 1836 Melipona (Michmelia) mondury Smith, 1863 Paratetrapedia bicolor (Smith, 1854) Paratrigona subnuda Moure, 1947 Partamona ailyae Camargo, 1980 Partamona helleri (Friese, 1900) Partamona sooretamae Pedro & Camargo, 2003 Plebeia lucii Moure, 2004 Plebeia poecilochroa Camargo & Moure, 1989 Scaptotrigona xanthotricha Moure, 1950 Trigona branneri Cockerell, 1912 Trigona braueri Friese, 1900 Trigona hyalinata (Lepeletier, 1836) Trigona recursa Smith, 1863 Trigona spinipes (Fabricius, 1793) Colletidae Halictidae Megachilidae Hylaeus sp. Ptiloglossa sp. Augochlorella acarinata Coelho, 2004 Megalopta aegis (Vachal, 1904) Megalopta sodalis (Vachal, 1904) Hypanthidium divaricatum (Smith, 1854) Megachile sp. Referência Nemésio, 2013b Nemésio, 2013b Nemésio, 2013b Nemésio, 2013b Nemésio, 2013b Nemésio, 2013b Nemésio, 2013b Nemésio, 2013b Nemésio, 2013b Nemésio, 2013b Nemésio, 2013b Nemésio, 2013b Nemésio, 2013b Comério et al., 2013 Gonçalves & Brandão, 2008 Camargo & Pedro, 2008 UFMG Gonçalves & Brandão, 2008 Gonçalves & Brandão, 2008 UFMG Gonçalves & Brandão, 2008; Pedro & Camargo, 2003 e RPSP Pedro & Camargo, 2003 e RPSP Gonçalves & Brandão, 2008 Gonçalves & Brandão, 2008 Duarte et al., 2014 RPSP UFMG Gonçalves & Brandão, 2008; Comério et al., 2013 UFMG Gonçalves & Brandão, 2008; Comério et al., 2013 e UFMG UFMG UFMG Comério et al., 2013 Santos & Melo, 2014 Santos & Melo, 2014 e UFMG UFMG UFMG *Todos os espécimes citados em Nemésio (2013b) encontram-se atualmente depositados nas coleções UFMG e UFU. **A maior parte do material testemunho citado em Bonilla-Gómez (1999) encontra-se atualmente depositada na coleção UFMG. 332 NEMÉSIO ET AL. ABELHAS E VESPAS Tabela 3: Lista das espécies de Sphecidae que ocorrem no município de Linhares, com base nos exemplares depositados em coleções entomológicas (a lista inclui exemplares coletados no atual município de Sooretama). Sub-família Espécie Ammophilinae Ammophila gracilis Lepeletier, 1845 Eremnophila binodis (Fabricius, 1798) Eremnophila eximia (Lepeletier, 1845) Eremnophila willinki Menke, 1964 Dynatus nigrepes spinolae (Lepeletier, 1845) Penepodium egregium (Saussure, 1867) Penepodium spretum (Kohl, 1902) Trigonopsis rufiventris (Fabricius, 1804) Sceliphron asiaticum (Linnaeus, 1758) Sceliphron fistularium (Dahlbom, 1843) Prionyx chilensis (Spinola, 1851) Prionyx fervens (Linnaeus, 1758) Prionyx thomae (Fabricius, 1775) Sphex calliginosus Erichson, 1849 Sphex ichneumoneum (Linnaeus, 1758) Sphex ingens F. Smith, 1856 Sphex melanopus (Dahlbom, 1845) Sphex opacus Dahlbom, 1845 Sceliphrinae Sphecinae Referência MZUSP MNRJ/CERNV MZUSP CERNV MZUSP CERNV MZUSP MZUSP MZUSP CERNV MNRJ/MZUSP/CEIOC MZUSP MZUSP MZUSP MZUSP CERNV MZUSP CERNV MZUSP/CERNV Tabela 4: Lista das espécies de Crabronidae que ocorrem no município de Linhares, com base nos exemplares depositados em coleções entomológicas. Sub-família Espécie Bembicinae Rubrica nasuta (Christ, 1791) Bicyrtes discisus (Taschenberg, 1870) Stictia signata (Linnaeus, 1758) Hoplisoides sp. Larra bicolor Fabricius, 1804 ou Larra predatrix (Strand, 1910)* Trypoxylon sp.1 Trypoxylon sp.2 Cerceris sp.1 Cerceris sp.2 Crabroninae Philanthinae Referência CERNV CERNV CERNV CERNV MNRJ CERNV CERNV CERNV CERNV * Na revisão mais recente deste gênero, Menke (1992) coloca estas duas espécies como crípticas e airma que só é possível diferenciálas estudando o macho. No material examinado havia apenas fêmeas, de forma que uma identiicação precisa não foi possível. Como se depreende dos resultados acima, as abelhas-das-orquídeas constituem o grupo melhor amostrado na Reserva Natural Vale. Entre 1996 e 1997, Bonilla-Gómez (1999) realizou amostragens quinzenais em nove pontos distintos na Reserva, amostrando mais de 16.000 espécimes, pertencentes a mais de 30 espécies. Doze anos depois, Nemésio (2013b) realizou amostragens em quatro dos nove pontos anteriormente amostrados por Bonilla-Gómez (1999), coletando mais de 3.000 espécimes pertencentes a 24 espécies. As inconsistências taxonômicas entre os dois estudos foram tratadas por Nemésio (2013b). No presente trabalho, reconhecemos 28 espécies deste táxon ocorrendo na RNV. As amostragens de abelhas euglossinas são as únicas que apresentam dados coniáveis de abundância, por terem sido realizadas com metodologias padronizadas. Tanto no levantamento realizado por Bonilla-Gómez (1999) quanto naquele realizado por Nemésio (2013b), Euglossa carolina Nemésio, 2009 – tratada como Euglossa 333 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE cordata (Linnaeus, 1758) por Bonilla-Gómez – representou mais de 44% de toda a comunidade de abelhas euglossinas. Esta espécie é típica de áreas abertas ou com forte inluência antrópica, sendo, juntamente com Eulaema nigrita Lepeletier, 1841, a espécie mais comum de abelha-das-orquídeas em toda a Mata Atlântica (Nemésio, 2009). Todavia, a RNV também abriga espécies raras ou altamente dependentes de ambientes densamente lorestados, como Euglossa cognata Moure, 1970 e Euglossa marianae Nemésio, 2011 (Figura 1). É importante destacar que Nemésio (2013b) sugeriu que essas espécies podem estar em declínio na região, e seu monitoramento na RNV faz-se necessário para conirmar essa possibilidade. A riqueza de 28 espécies de abelhas euglossinas para a área é uma das maiores da Mata Atlântica, superando as 22 espécies encontradas por Tonhasca Jr. et al. (2002) para um remanescente lorestal de tamanho similar no nordeste do estado do Rio de Janeiro e aproximando-se das cerca de 30 espécies presentes nos grandes remanescentes lorestais do sul da Bahia (Nemésio, 2011a, 2012c, 2013a,c,d, 2014; Nemésio et al., 2012; Nemésio & Vasconcelos, 2013) e do Centro de Endemismo Pernambuco (Nemésio, 2010a,b; Nemésio & Santos Júnior, 2014). Se comparada às demais áreas já inventariadas, a RNV abriga a fauna de euglossinas mais rica do estado do Espírito Santo, sobressaindose à Reserva Biológica do Córrego Grande, com 20 espécies (Nemésio, 2011b), à Floresta Nacional do Rio Preto, com 19 espécies (Nemésio, 2011b), à Reserva Biológica Córrego do Veado, com 17 espécies (Nemésio, 2011b) e à Estação Biológica Santa Lúcia, com 16 espécies (Buys et al., 2013). Com relação às demais abelhas, dentre as presentes na coleção de insetos da Reserva Natural Vale, duas são possivelmente novas, uma pertencente ao gênero Trichocerapis (Apidae) e outra ao gênero Xenochlora (Halictidae) (ver Tabela 1). Dos registros obtidos na literatura (Tabela 2), o espécime citado por Moure & Sakagami (1962) como Bombus brasiliensis Lepeletier, 1836 foi recentemente descrito como uma nova espécie, B. bahiensis Santos Júnior & Silveira (em Santos Júnior et al., 2015). O gênero Xenochlora possui atualmente quatro espécies descritas, todas restritas à região amazônica, duas delas ocorrendo no Brasil (Moure, 2012). Os espécimes pertencentes a este gênero são raros nas coleções taxonômicas, pois diicilmente são coletados (Engel et al., 1997; Tierney et al., 2008; Santos & Melo, 2013). O espécime depositado na Coleção Entomológica da Reserva Natural Vale é possivelmente uma terceira espécie do gênero, cuja distribuição é disjunta em relação às demais (Figura 2). Outra possível espécie nova é o espécime pertencente ao gênero Trichocerapis, gênero este que possui atualmente quatro espécies descritas, três presentes no Brasil (Urban et al., 2012). Destas, apenas Trichocerapis mirabilis (Smith, 1865) conhecidamente ocorre no Espírito Santo (Urban et al., 2012) (Figura 3). Figura 1: Euglossa marianae vista frontal (A) e lateral (B). É uma espécie endêmica da Mata Atlântica, restrita a remanescentes lorestais de grande porte, com densa cobertura vegetal e pouco perturbados. 334 NEMÉSIO ET AL. ABELHAS E VESPAS Figura 2: Xenochlora sp. n. vista frontal (A) e lateral (B). Primeiro registro do gênero para a Mata Atlântica. Figura 3: Trichocerapis sp. n vista frontal (A) e lateral (B). As espécies deste gênero geralmente forrageiam nas plantas presentes no sub-bosque das matas. As espécies da subtribo Meliponina (Apidae), representadas aqui pelos gêneros Oxytrigona, Melipona, Paratrigona, Partamona, Plebeia, Scaptotrigona e Trigona, são popularmente conhecidas como abelhas indígenas sem ferrão. A maioria das espécies desta subtribo geralmente constrói seus ninhos em troncos de árvores ocos (Silveira et al., 2002), sendo assim sensíveis ao desmatamento e a mudanças na estrutura e composição da vegetação (veja Brown & Albrecht, 2001). Das espécies apresentadas nas Tabelas 1 e 2, Melipona marginata (Lepeletier, 1836), Melipona mondury (Smith, 1863), Paratrigona subnuda (Moure, 1947), Partamona helleri (Friese, 1900), Partamona sooretamae Pedro & Camargo, 2003, Plebeia lucii Moure, 2004, Plebeia poecilochroa Moure & Camargo, 1993, Scaptotrigona xanthotricha Moure, 1950 e Trigona braueri Friese, 1900 possuem a distribuição coincidente com a da Mata Atlântica (Camargo & Pedro, 2013), sendo que P. sooretamae é endêmica do Espírito Santo (Pedro & Camargo, 2003; Graf & Urban, 2008). Outra espécie endêmica da região é Oxaea sooretama (Andrenidae) (Graf & Urban, 2008). Buys & Rodrigues (2014) citaram a ocorrência de 24 espécies de Sphecidae para o Espírito Santo e apontaram a região dos municípios de Linhares e Sooretama como a mais rica do estado, com 14 espécies, icando o município de Santa Teresa em seguida, com nove espécies. No presente trabalho, registramos a ocorrência de quatro espécies não citadas por Buys & Rodrigues (2014) para a região: Eremnophila willinki Menke, 1964, Sceliphron asiaticum (Linnaeus, 1758), Sphex melanopus (Dahlbom, 1845) e Sphex ichneumoneus (Linnaeus, 1758), reairmando a área como a mais rica em espécies de Sphecidae do estado. Das quatro espécies acima citadas, as três primeiras não eram registradas anteriormente para o Espírito Santo, 335 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE ampliando para 27 o número total de espécies de Sphecidae conhecidas para o estado. Das cerca de 100 espécies de Sphecidae citadas para o Brasil (Amarante, 2002, 2005), quase um quarto ocorre na região de Linhares/Sooretama. Por outro lado, muito pouco material de Crabronidae foi encontrado. Embora mais de 500 espécies desta família sejam citadas para o Brasil (Amarante, 2002, 2005) e cerca de 60 para o estado do Espírito Santo (Amarante, 2005; Buys, 2014), apenas nove espécies foram identiicadas no presente trabalho, sendo muito provavelmente uma subestimativa da fauna local de Crabronidae. Esta família, além de pouco coletada no Brasil, possui grandes lacunas de estudos taxonômicos. Por exemplo, a maior parte das espécies neotropicais de gêneros megadiversos, como Cerceris e Trypoxylon, respectivamente com 870 e 634 espécies descritas (Pulawski, 2015b), nunca foi revisada e, portanto, é virtualmente impossível identiicá-las com precisão. A região Central-Serrana do Espírito Santo tem sido apontada como uma das mais ricas, não só do estado, mas de toda a Mata Atlântica, em espécies de vários grupos de vertebrados (e.g. Passamani et al., 2000; Simon, 2000) e de vegetais (Thomaz & Monteiro, 1997), sendo mais recentemente apontada também como uma das regiões mais ricas do Brasil em diversos grupos de insetos (p. ex. Maia et al., 2014; Antunes et al., 2015). O presente trabalho mostra que a região de Linhares é signiicativamente mais rica em espécies do que a região Central-Serrana do estado, pelo menos em relação a Euglossina e Sphecidae, os grupos de Apoidea melhor amostrados da área, sugerindo que esta riqueza pode ser estendida para outros grupos de insetos à medida que se intensiiquem os estudos entomológicos na área. Os dados apresentados no presente estudo evidenciam, mais uma vez, a enorme riqueza biológica da Mata Atlântica do Espírito Santo e reiteram a necessidade de se preservar e estudar a Reserva Natural Vale. AGRADECIMENTOS Agradecemos aos curadores das coleções entomológicas consultadas para o presente estudo, por facilitarem nosso acesso às mesmas e ao Prof. Adalberto José dos Santos, da Universidade 336 Federal de Minas Gerais, por nos permitir utilizar o equipamento para preparar as imagens das Figuras 1 a 3. Agradecemos aos revisores Rafael Rodrigues Ferrari (York University, Canadá) e Orlando Tobias Silveira (Museu Paraense Emilio Goeldi, Pará) pelos valiosos comentários a uma versão preliminar deste manuscrito, que muito contribuíram para o enriquecimento desta versão inal. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Amarante, S.T.P. 2002. A synonymic catalog of the neotropical Crabronidae and Sphecidae (Hymenoptera: Apoidea). Arquivos de Zoologia, 37, 1–139. Amarante, S.T.P. 2005. 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Tais mecanismos estão ligados principalmente à fragmentação da matéria orgânica no processo de reciclagem de nutrientes, propagação e variabilidade genética de espécies vegetais via polinização, dispersão de sementes e manutenção da composição e estrutura de comunidades de plantas via itofagia. Interferem ainda na dinâmica da estrutura das comunidades animais com transmissão de doenças, predação e parasitismo, além de serem parte da cadeia alimentar para pequenos e grandes vertebrados como anfíbios, aves, mamíferos, peixes, répteis e outros invertebrados (Moojen et al., 1941; Ehrlich et al., 1980; Boer, 1981; Seastedt & Crossley, 1984; Rosenberg et al., 1986; Brown Jr., 1987; Miller, 1993; Souza & Brown, 1994; Schoereder, 1997; Thomazini & Thomazini, 2000; Nichols et al., 2008). Embora os insetos sejam o maior grupo de animais sobre o planeta (Longino, 1994; Grimaldi & Engel, 2005; Gullan & Cranston, 2014), o conhecimento sobre eles ainda é reduzido quando comparado a outros grupos da fauna. Apesar de sua riqueza e abundância ser uma base rica de informações para a compreensão e conservação da biodiversidade, o uso dessas informações em inventários e estudos ambientais pode ser considerado insigniicante (Samways, 2005). Uma das maiores preocupações em todo o mundo é a perda da diversidade biológica pela degradação ambiental com a destruição das populações naturais (Hayek & Buzas, 1997; Landau et al., 1999). O estado do Espírito Santo tem a totalidade do seu território abrangido pelos domínios da Mata Atlântica, um dos biomas mais ricos em diversidade e produtividade do planeta, embora seja um dos mais ameaçados (Brown & Gibson, 1983). O estado possui áreas consideradas patrimônio da biosfera; entretanto, apenas 8,85% do seu território remanesce da cobertura original em decorrência do intenso desmatamento. Consequentemente, houve profundas alterações nas comunidades biológicas, cujos efeitos põem em risco de extinção várias espécies antes mesmo de serem conhecidas (Passamani & Mendes, 2007). Dentre os insetos, estão incluídas na lista de espécies ameaçadas de extinção da fauna no estado do Espírito Santo, 15 espécies de borboletas, quatro de libélulas, três de besouros, uma de abelha e uma de formiga, além de cinco espécies de libélulas na categoria de “dados deicientes” (Azevedo et al., 2007). Entre os remanescentes de Mata Atlântica no Norte do Espírito Santo encontra-se a Reserva 341 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Natural Vale (RNV) e a Reserva Biológica de Sooretama, que constituem um bloco quase contínuo de mata e representam 9,46% da área lorestal original de Mata Atlântica do Estado (Fundação SOS Mata Atlântica & INPE, 2005; Srbek-Araujo & Chiarello, 2008). A RNV possui cerca de 23 mil hectares de área preservada no domínio da Floresta Estacional Perenifólia (Jesus & Rolim, 2005). Nelas são encontradas quatro formações naturais distintas de vegetação: loresta alta, loresta de muçununga, formações de áreas alagadas ou alagáveis (herbáceas e lorestais) e os campos nativos, determinados principalmente por fatores geológicos e edafoclimáticos (Peixoto et al., 2008). Essa heterogeneidade de vegetação permite a formação de vários ecossistemas propícios ao desenvolvimento e preservação de grande riqueza de espécies de insetos. Apesar de alguns estudos realizados na RNV terem mostrado que sua entomofauna é muito diversa, incluindo várias espécies endêmicas e ameaçadas de extinção, muito pouco se conhece a seu respeito (Martins et al., 2014). Este capítulo tem como objetivo apresentar a entomofauna das ordens Coleoptera e Hemiptera registrada na Reserva Natural Vale. Coleoptera A ordem Coleoptera é a mais diversa entre os seres vivos, representa aproximadamente 1/5 dos organismos descritos e ocorre em praticamente todos os ecossistemas terrestres e boa parte dos aquáticos existentes no planeta (Bouchard et al., 2009). Os representantes desta ordem são popularmente conhecidos como besouros. Estão distribuídos em aproximadamente 166 famílias, das quais 105 ocorrem no Brasil (Casari & Ide, 2012). A maioria dos seus espécimes vive sobre a vegetação e na superfície do solo; mas também são encontrados enterrados no solo, em meio aquático, semiaquático e como espécies comensais em ninhos de insetos sociais. Esses insetos possuem metamorfose completa (ovo, larva, pupa e adulto), apresentam regime alimentar dos mais variados, tanto na forma larval como adulta. A maioria das espécies é herbívora, podendo se alimentar de folhas, lores, frutos, pólen, raízes, sementes e troncos. Muitas espécies possuem importância 342 econômica como pragas agrícolas ou lorestais e muitas delas são registradas atacando produtos armazenados. Os besouros estão entre os principais insetos antóilos, se alimentando de pólen e néctar e consequentemente favorecendo a polinização. Desta forma, é importante conhecer as espécies de besouros para melhor entender sua eiciência nos papéis que desempenham nas comunidades e que garantem a sustentabilidade dos ecossistemas. O conhecimento das espécies ou seja, a taxonomia deste grupo não é uniforme, com algumas famílias investigadas por muitos pesquisadores e outras ainda carentes de estudos (Vanin & Ide, 2002). A ordem Coleoptera também vem sendo apontada como importante indicadora de qualidade ambiental em sistemas agropecuários e lorestais. Estudos têm oferecido discussões sobre os impactos de manejo agrícola e lorestal na comunidade dos besouros terrestres. Isso se deve à importância dos seus papéis nos processos biológicos do solo para a sustentabilidade dos sistemas de produção. Assim, a coleopterofauna, por constituir componente primário biológico, deve ser manejada de forma correta para sua preservação, tanto nos ecossistemas naturais, quanto nos agroecossistemas (Menezes & Aquino, 2005). Existe uma relação muito importante entre os coleópteros e madeira em decomposição. Esse habitat representa abrigo, alimento e local de criação para grande variedade de espécies, como os da família Passalidae, que podem consumir de 1/4 a 1/3 de parte de troncos em decomposição (Miss & Deloya, 2007). A superfamília Scarabaeoidea se destaca por ser alvo de diversas linhas de pesquisas e se tornou modelo de estudos em anatomia, bioacústica, biodiversidade, biogeograia, citogenética, ecologia, etologia, evolução biológica, ilogenia, isiologia, entre outros (Onore et al., 2003). Algumas espécies da família Scarabaeidae são conhecidas como besouros rola-bosta pelo hábito de enterrarem seus ovos com esferas de fezes e outros elementos orgânicos como fonte de alimento (Vaz-de-Mello, 2000). Os excrementos de vertebrados, animais mortos e frutos em decomposição são fontes de nutrientes ricas em nitrogênio para as larvas (Halffter & Matthews, MARTINS ET AL. 1966). Portanto, esses coprófagos são importantes para a decomposição da matéria orgânica, ciclagem de nutrientes (Nichols et al., 2008), aeração do solo, dispersão de sementes e forésia. Eles também têm papel de grande importância sanitária limitando o desenvolvimento de parasitos que ovipositam ou lançam larvas nos excrementos de vertebrados, como o caso da mosca-dos-chifres Haematobia irritans (Linnaeus, 1758), cujos imaturos se desenvolvem em fezes bovinas (Koller et al., 1997). As espécies da subfamília Scarabaeinae são consideradas boas indicadoras de diversidade da fauna (Barlow et al., 2007). Os Cerambycidae representam uma das mais numerosas famílias da ordem Coleoptera. Embora sejam cosmopolitas, a maior riqueza de espécies se encontra nas regiões tropicais (Richards & Davies, 1994). Os adultos possuem hábito diurno, noturno ou crepuscular (Lawrence et al., 1999). São exclusivamente itófagos e se alimentam de partes verdes, lores, frutos maduros, néctar e pólen (Lawrence et al., 1999). As larvas são xilófagas vivendo em tecidos de árvores, arbustos e troncos mortos e algumas espécies são de importância econômica por apresentarem larvas brocadoras. Adultos conhecidos como serradores ou serra-paus, como espécies do gênero Oncideres Lepeletier & Audinet-Serville, 1830, cortam troncos e galhos de plantas para efetuar a oviposição. Os Cerambycidae desempenham um papel importante na reciclagem de nutrientes (Monné, 2001). Por ser um grupo monoilético e que possui especiicidade com os recursos naturais que utiliza, suas espécies também têm sido avaliadas como potenciais candidatas a bioindicadoras (Pearson, 1994). Algumas espécies de coleópteros necrófagos (p. ex. Silphidae e Dermestidae) são fortemente associadas a cadáveres onde realizam os seus ciclos de vida (ovo-adulto). São importantes no processo de decomposição e ciclagem de nutrientes. A distribuição dessas espécies sob as inluências de fatores bióticos e abióticos tem sido estudada com o objetivo de documentar espécies que possam ser úteis à entomologia forense (ferramenta para a medicina legal) e esclarecer alguns fatos sobre restos mortais (Castillo-Miralbés, 2001). Várias famílias de besouros, entre elas Carabidae, Staphylinidae e Cincidelidae, têm sido usadas como bioindicadoras de alterações ambientais COLEÓPTEROS E HEMÍPTEROS em ecossistemas naturais pela sensibilidade que apresentam frente a estas alterações (Menezes & Aquino, 2005). Em suma, os coleópteros contribuem enormemente para o conhecimento evolutivo e ecológico em muitos ecossistemas aquáticos e terrestres, sendo considerados importantes para a prática da conservação (New, 2010). Hemiptera A ordem Hemiptera é a maior e mais diversa entre os insetos que apresentam metamorfose incompleta (ovo, ninfa e adulto). Aproximadamente 89 mil espécies são conhecidas em todo o mundo, pouco mais de 10 mil são relatadas no Brasil e distribuídas em três das quatro subordens reconhecidas atualmente: Heteroptera (cerca de 5.400 spp.), Auchenorrhyncha (cerca de 4 mil spp.) e Sternorrhyncha (cerca de 791 spp.). Estima-se a existência de cerca de 30 mil espécies dessa ordem no país. A subordem Coleorrhyncha não foi relatada no Brasil (Grazia et al., 2012). Todas as espécies de Hemiptera se caracterizam essencialmente pela conformação do aparelho bucal em forma de um rostro constituído pelo lábio articulado, no qual se alojam as demais peças bucais modiicadas em estiletes. O tipo de aparelho bucal faz com que as espécies sejam sugadoras com diferentes hábitos: itossuccívoros, predadores ou hematófagos. A posição do rostro é diagnóstica para as subordens (Grazia et al., 2012). Os insetos da ordem Hemiptera ocupam papel de destaque entre os vetores de vírus (61% das espécies), contribuindo como agentes de disseminação para cerca de 83% dos gêneros de vírus que têm insetos como vetores. As subordens Auchenorrhyncha e Sternorrhyncha juntas possuem 95% das espécies vetores na ordem Hemiptera (Costa, 2003). Os Auchenorrhyncha são terrestres, ocorrem em todas as regiões geográicas e são muito comuns e abundantes nas regiões tropicais. Se alimentam exclusivamente de seiva das plantas. Seus representantes mais conhecidos são as cigarras (Cicadoidea) e cigarrinhas (Cercopoidea, Membracoidea e Fulgoroidea), muitos deles considerados importantes pragas da agricultura (Grazia et al., 2012). Os Sternorrhyncha são itófagos terrestres com ampla distribuição nos continentes e muitas espécies 343 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE possuem importância agrícola. Nesta subordem encontram-se os afídeos (Aphidoidea), cochonilhas (Coccoidea), moscas brancas (Aleyrodoidea) e psilídeos (Psylloidea) (Grazia et al., 2012). Os afídeos ou pulgões constituem o grupo mais importante de vetores, responsáveis pela transmissão de cerca de 1/4 dos gêneros de vírus de plantas, representando 71% dos vetores da subordem (Costa, 2003). Os Heteroptera, conhecidos como percevejos, possuem a metade das asas anteriores coriácea e metade membranosa (hemiélitros), apresentam diferentes hábitos de vida podendo ser itossuccivos, predadores e hematófagos. Estão distribuídos em quase todos os continentes e na maioria das ilhas, ocupando os mais diversos habitats terrestres, semiaquáticos e aquáticos, sugerindo longa história evolutiva do grupo (Grazia et al., 2012). Os heterópteros possuem hábitos variados na cadeia alimentar, apresentam grande especiicidade para plantas hospedeiras e presas, além do alto grau de endemicidade. Essas características os tornam ideais como agentes bioindicadores de diferentes aspectos na natureza. Os representantes de Miridae, por exemplo, têm sido alvo de pesquisas sobre diversidade faunística (Paula & Ferreira, 1998; 2000), potenciais insetos para controle biológico (Henry, 2000; Wheeler, 2000a), agentes ou potenciais agentes causadores de danos às plantas cultivadas (Ferreira et al., 2001; Wheeler, 2000b) e vetores de viroses (Costa, 2003). A expressiva quantidade de novos registros tem indicado mudanças comportamentais de muitas espécies que vêm se adaptando a novos habitats e plantas hospedeiras. Esta dinâmica visivelmente crescente acompanha as mudanças tecnológicas nos tratamentos agrícolas, manejo de recursos e mudanças climáticas. As causas, efeitos e consequências destas mudanças requerem maiores investimentos nos estudos sobre biodiversidade entomofaunística no território brasileiro. COLEÇÃO ENTOMOLÓGICA DA RNV A RNV possui uma coleção de insetos adultos obtidos em sua área de domínio, montados em alinetes e em ótimo estado de conservação. O seu acervo possui 12.597 exemplares, inseridos em 17 ordens, 206 famílias e 5.278 espécies/ 344 morfoespécies. Destas, 1.441 (27,3%) possuem identiicação especíica e 248 (4,7%) até gênero. As famílias de Coleoptera e Hemiptera utilizadas nesse capítulo são aquelas reconhecidas por Casari & Ide (2012) e Grazia et al. (2012). A coleção de insetos da ordem Coleoptera na RNV é representada com 2.885 espécimes, distribuídos em 39 famílias, com 1.153 espécies/ morfoespécies. Entretanto, apenas 130 (11,3%) possuem identiicação especíica e 61 (5,3%), genérica (Tabela 1). A coleção da RNV possui 453 espécies/ morfoespécies da ordem Hemiptera, com 1.125 espécimes. Os heterópteros são 785 espécimes, distribuídos em 18 famílias e 335 espécies/ morfoespécies. Destas, 76 (22,7%) possuem identiicação especíica e 36 (10,8%), genérica. Os auquenorrincos são 340 espécimes, distribuídos em 10 famílias e 118 espécies/morfoespécies. Destas, 10 (8,5%), possuem identiicação especíica e 1 (0,9%) genérica (Tabela 2). Não há espécimes de Sternorrhyncha. Além do acervo da RNV foram consultados outros acervos e coleções, que resultaram numa lista de 296 espécies de 19 famílias da ordem Coleoptera (Tabela 3) e 182 espécies de 20 famílias da ordem Hemiptera (Tabela 4), com ocorrências já registradas na Reserva Natural Vale. ESPÉCIES DE COLEOPTERA E HEMIPTERA DA RESERVA NATURAL VALE A riqueza e diversidade de insetos na Reserva Natural Vale vem contribuindo de forma intensa para diferentes áreas do conhecimento dos insetos. Foram descobertas e descritas várias espécies novas; foram feitas redescrições de algumas espécies que careciam de uma série de indivíduos preservados ou de uma descrição baseada em indivíduos machos e fêmeas. Além disso, foram relatadas novas ocorrências de espécies para o bioma Mata Atlântica e novos registros de espécies para o Brasil, contribuindo para o conhecimento da biodiversidade do estado do Espírito Santo. A espécie Beharus cylindripes (Fabricius, 1803), da subfamília Apiomerinae (Reduviidae), teve seu primeiro registro de ocorrência no Brasil realizado com espécimes coletados no fragmento da Mata MARTINS ET AL. COLEÓPTEROS E HEMÍPTEROS Atlântica Brasileira da RNV. Essa espécie somente era conhecida no Suriname (Gil-Santana et al., 2001; Gil-Santana & Alencar, 2001a). A espécie da subfamília Emesinae (Reduviidae) Gardena agrippina McAtee & Malloch, 1925, conhecida por um único macho coletado na Bolívia, foi reencontrada na RNV (Gil-Santana et al., 2000). A ocorrência da espécie Mayemesa lapinhaensis (Wygodzinsky, 1950) permitiu uma redeinição da taxonomia e morfologia dessa espécie (Gil-Santana Tabela 1: Número de espécies da ordem Coleoptera, por família, depositados na Coleção Entomológica da Reserva Natural Vale. Ano 2015. Nº de espécies Família Anobiidae Anthribidae Bolboceratidae Bostrichidae Brentidae Buprestidae Cantharidae Carabidae Cerambycidae Cerophytidae Chelonariidae Chrysomelidae Cleridae Coccinellidae Cucujidae Curculionidae Elateridae Erotylidae Eucnemidae Heteroceridae Hydrophilidae Histeridae Lampyridae Latridiidae Lucanidae Lycidae Lymexylidae Melandryidae Meloidae Mordellidae Nitidulidae Passalidae Rhipiphoridae Rhipiceridae Scarabaeidae Staphylinidae Tenebrionidae Trogidae Trogossitidae sem identiicação Total Total Identiicadas 1 8 2 2 17 14 3 47 263 2 2 125 8 5 4 183 64 25 5 2 3 3 12 1 1 8 3 2 11 1 4 3 5 2 161 10 72 4 3 62 1.153 1 2 3 66 5 2 18 2 27 3 1 130 Identiicadas Não identiicadas até gênero 7 1 5 6 6 1 10 1 1 1 2 17 1 2 61 1 8 1 2 17 5 2 39 191 2 2 114 7 5 2 155 64 25 5 2 3 3 12 1 8 2 2 9 1 4 2 5 117 10 68 1 3 62 962 Nº total de espécimes 1 15 5 8 37 18 5 141 499 8 2 351 17 5 10 375 176 77 5 6 9 9 33 1 1 21 10 7 36 10 13 24 10 7 601 18 168 10 8 128 2.885 Fonte: Arquivo de Registros de Insetos da Coleção Entomológica da RNV. 345 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Tabela 2: Número de espécies de insetos da ordem Hemiptera, por família, depositados na Coleção Entomológica da Reserva Natural Vale. Ano 2015. Nº de espécies Subordem/ Família AUCHENORRHYNCHA Acanoloniidae Achilidae Cercopidae Cicadellidae Cicadidae Dictyopharidae Flatidae Fulgoridae Membracidae Nogodinidae sem identiicação Subtotal HETEROPTERA Alydidae Aradidae Belostomatidae Coreidae Corixidae Cydnidae Gerridae Hydrometridae Lygaeidae Miridae Nabidae Nepidae Pentatomidae Phloeidae Pyrrhocoridae Reduviidae Scutelleridae Tingidae sem identiicação Subtotal Total Identiicadas Não identiicadas até gênero Nº total de espécimes Total Identiicadas 1 1 12 12 12 6 1 20 9 2 42 118 3 1 6 10 1 1 1 1 9 11 12 6 1 13 9 2 42 107 8 5 39 44 39 15 6 72 24 9 79 340 7 5 3 64 2 5 3 1 7 3 1 1 54 4 3 122 9 4 37 335 453 1 4 1 12 1 2 3 2 46 4 76 86 2 1 8 1 2 5 17 36 37 4 1 1 44 1 5 1 7 3 1 1 47 1 1 59 9 37 223 330 14 6 13 158 3 28 25 1 20 4 1 2 142 20 8 253 23 8 56 785 1.125 Fonte: Coleção Entomológica da RNV. et al., 1999b). As novas espécies Stenolemus renatoi Gil-Santana & Alencar, 2000 e Ghinallelia talitae Gil-Santana, Costa & Silva, 2009 foram descritas de espécimes provenientes da RNV (GilSantana & Alencar, 2000; Gil-Santana et al., 2009). Na subfamília Sphaeridopinae (Reduviidae) eram incluídas somente seis espécies válidas. Dentre elas, Veseris rugosicollis (Stål, 1858) foi redescrita com base nos exemplares da RNV, que permanece como o único habitat preservado em que a mesma foi encontrada (Gil-Santana et al., 1999a). 346 A nova espécie Brontostoma doughertyae GilSantana, Lopes, Marques & Jurberg, 2005, da subfamília Ectrichodiinae (Reduviidae), foi descrita inicialmente com base em exemplares machos (Gil-Santana et al., 2005) e, posteriormente, com exemplares fêmeas (Gil-Santana & Baena, 2009) coletados na RNV. As espécies de barbeiros Panstrongylus geniculatus (Latreille, 1811), Panstrongylus megistus (Burmeister, 1835) e Triatoma tibiamaculata (Pinto, 1926) (Hemiptera: MARTINS ET AL. Reduviidae) são os triatomíneos já registrados na RNV, sendo as duas primeiras de ocorrência mais comum. Embora tais espécies sejam vetores da doença de Chagas (tripanosomíase americana), não representam qualquer perigo, por viverem e estabelecerem seus ciclos de vida em ambiente silvestre não conturbado (Gil-Santana & Alencar, 2001a). Panstrongylus geniculatus, mesmo que ocasionalmente possa invadir habitações, não coloniza domicílios humanos, o que limita o seu potencial como vetor da doença de Chagas ao homem (Leite et al., 2007). Algumas espécies das famílias Fulgoridae (Auchenorrhyncha); Coreidae, Pentatomidae, Phloeidae e Reduviidae (Heteroptera) encontram-se na Figura 1. Várias espécies raras de coleópteros são encontradas na RNV, entre elas duas encontram-se na lista de espécies da fauna ameaçada de extinção do Espírito Santo: Dynastes hercules (Linnaeus, 1758) e Megasoma gyas (Herbst, 1785) (Coleoptera: Scarabaeidae: Dynastinae) (Azevedo et al., 2007). Outras 30 espécies de Cerambycinae (Monné, 2005a; 2006), 47 espécies de Lamiinae (Monné, 2005b; 2006) e uma de Prioninae (Coleoptera: Cerambycidae) (Monné, 2006), foram descritas a partir de exemplares coletados no trecho contínuo de Mata Atlântica da Reserva Natural Vale e da Reserva Biológica de Sooretama, localizado nos municípios de Linhares e Sooretama. Este é o único local de ocorrência conhecido para estas espécies. Dichotomius schiffleri Vaz-de-Mello, Louzada & Gavino, 2001 é uma espécie de Scarabaeidae (Coleoptera) rara e bioindicadora de qualidade ambiental tendo como possível área de endemismo o norte do estado do Espírito Santo (Vaz-deMello et al., 2001). Em razão de alta sensibilidade a ambientes degradados, pode desaparecer da área caso o ambiente sofra altera ções (Vieira et al., 2011) e por essa razão também encontra-se incluída na lista de espécies ameaçadas de extinção (Louzada et al., 1996; Vaz-de-Mello et al., 2001). Dichotomius camposeabrai Martinez, 1974 é encontrada na RNV (Lima, 2013) e tem como localidade tipo a Reserva Biológica de Sooretama (Árias-Buriticá & Vaz-de-Mello, 2012). A espécie Mimogeniates margaridae Martinez, 1964 (Coleoptera: Scarabaeidae: Rutelinae) é endêmica COLEÓPTEROS E HEMÍPTEROS desta área de Mata Atlântica (Vaz-de-Mello, 2015, Comunicação pessoal). Algumas espécies das famílias Carabidae, Cerambycidae, Curculionidae, Elateridae, Scarabaeidae e Tenebrionidae encontram-se na Figura 2. Esses são alguns exemplos que fazem da Reserva Natural Vale uma área de alta riqueza de espécies e de endemismo do Brasil e uma das áreas de conservação mais bem protegidas da América do Sul. A seguir são apresentadas as espécies de Coleoptera e Hemiptera que ocorrem na RNV, organizadas por família, seguindo a orientação de classiicação taxonômica de Rafael et al. (2012). Para composição das listas, além das espécies já identiicadas no acervo da Coleção Entomológica da RNV, foram utilizadas espécies identiicadas recentemente com ajuda dos especialistas Dr. Fernando Z. Vaz-de-Mello da Universidade Federal de Mato Grosso (Scarabeoidea), Dr. Paulo Roberto Magno do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Cerambycidae), Dr. Hélcio Reinaldo Gil Santana do Instituto Oswaldo Cruz (Reduviidae) e Dr. Paulo Sérgio Fiuza Ferreira da Universidade Federal de Viçosa, Minas Gerais (Miridae e Heteroptera). Também são listadas espécies coletadas na RNV depositadas nos acervos do Museu Regional de Entomologia da Universidade Federal de Viçosa e do Setor de Entomologia da Coleção Zoológica da Universidade Federal de Mato Grosso, bem como também espécies com registros encontrados na bibliograia especializada. 347 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Figura 1: Espécies de Hemiptera encontradas na Reserva Natural Vale, Linhares/ES. 348 MARTINS ET AL. COLEÓPTEROS E HEMÍPTEROS Figura 2: Espécies de Coleoptera encontradas na Reserva Natural Vale, Linhares/ES. 349 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Tabela 3: Lista de espécies da ordem Coleoptera registradas na Reserva Natural Vale, Linhares/ES. Ano 2015. Famílias / Espécies Bolboceratidae Bolbapium quadrispinosum (Luederwaldt, 1929) * Neoathyreus brazilensis Howden, 1985 * A; B; D B Buprestidae Agrilus sp. Colobogaster sp. Euchroma gigantea (Linnaeus, 1758) * Psiloptera sp. A A A A Cantharidae Chauliognathus sp. A Carabidae Agra sp. Calosoma alternans granulatum Perty, 1830 * Colliuris sp. Galerita collaris Dejean, 1826 * Galerita ruficollis Dejean, 1825 * Megacephala sp. Odontochila sp. A A A A E A A Cerambycidae Acanthonessa quadrispinosa (Melzer, 1931) Acrocinus longimanus (Linnaeus, 1758) * Acyphoderes aurulenta (Kirby, 1818) * Aegoschema adspersum (Thomson, 1860) * Ambonus distinctus (Newman, 1840) * Ambonus electus (Gahan, 1904) * Ambonus interrogationis (Blanchard, 1843) * Anisocerus sp. Anisopodus arachnoides (Audinet-Serville, 1835) * Appula sericatula Gounelle, 1909 Batus hirticornis (Gyllenhal, 1817) * Brasilianus mexicanus Thomson, 1860 * Callichroma distinguendum Gounelle, 1911 * Chlorida festiva (Linnaeus, 1758) Clavidesmus rubigineus Dillon & Dillon, 1949 * Coccoderus novempunctatus (Germar, 1824) * Coleoxestia vittata (Thomson, 1860) Colobothea emarginata (Olivier, 1795) * Ctenoscelis acanthopus (Germar, 1824) * Desmiphora apicata (Thomson, 1868) Dorcacerus barbatus (Olivier, 1790) * Drychateres bilineatus (Olivier, 1795) * Dryoctenes scrupulosus (Germar, 1824) * Eburia quadrimaculata (Linnaeus, 1767) * Eburodacrys sexmaculata (Olivier, 1790) Eburodacrys trilineata (Aurivillius, 1893) Epacroplon cruciatum (Aurivillius, 1899) Eurymerus eburioides Audinet-Serville, 1833 350 Informações1/Referências A A; C C A A C C A C A A; C A A A; C A A; C A C A A A; C C A C A A; C A A MARTINS ET AL. Famílias / Espécies Eutrypanus dorsalis (Germar, 1824) * Hephialtes ruber (Thunberg, 1822) * Hylettus griseofasciatus (Audinet-Serville, 1835) Hypsioma gibbera Audinet-Serville, 1835 * Jupoata rufipennis (Gory, 1831) Lachaerus fascinus (Audinet-Serville, 1835) * Lesbates acromii (Dalman, 1823) Lochmaeocles fasciatus (Lucas, 1859) * Macrodontia cervicornis (Linnaeus, 1758) Macrodontia flavipennis Chevrolat, 1833 * Macropophora accentifer (Olivier, 1795) * Magaliella punctata Galileo & Martins, 2008 Malacopterus pavidus (Germar, 1824) Mallocera glauca Audinet-Serville, 1833 * Mallodon spinibarbe (Linnaeus, 1758) * Mallodonopsis mexicanus Thomson, 1860 * Mecosarthron buphagus Buquet, 1840 * Megabasis speculifera (Kirby, 1818) * Megacyllene acuta (Germar, 1821) * Mionochroma chloe (Gounelle, 1911) * Neotropidion nodicolle (Dalman, 1823) * Niophis aper (Germar, 1824) Ochrodion sexmaculatum (Buquet, 1844) Oncideres albopicta Martins & Galileo, 1990 * Oncideres captiosa Martins, 1981 Oncideres cephalotes Bates, 1865 * Oncideres digna Bates, 1865 * Oncideres errata Martins & Galileo, 2009 * Oncideres germarii Thomson, 1868 * Oncideres gibbosa Thomson, 1868 Oncideres impluviata (Germar, 1824) * Oncideres saga (Dalman, 1823) Oncideres travassosi Fragoso, 1970 * Oncideres ulcerosa (Germar, 1824) Onychocerus albitarsis Pascoe, 1859 * Onychocerus crassus (Voet, 1778) * Orthomegas jaspideum Buquet, 1844 * Orthomegas similis Gahan, 1894 * Orthostoma sp. Oxymerus sp. Pachypeza marginata Pascoe, 1888 * Pachypeza pennicornis (Germar, 1824) * Pantomallus morosus (Audinet-Serville, 1834) Periboeum acuminatum (Thomson, 1860) * Piezochaerus bondari Melzer, 1932 Polyoza lacordairei Audinet-Serville, 1832 * Polyrhaphis confusa Lane, 1978 * Polyrhaphis spinipennis Castelnau, 1840 * Psapharochrus carinicollis (Bates, 1880) * Psapharochrus jaspideus (Germar, 1824) Psygmatocerus wagleri Perty, 1828 * Pteroplius acuminatus Audinet-Serville, 1835 COLEÓPTEROS E HEMÍPTEROS Informações1/Referências A A A A A C A C A; C C A; C A; Galileo & Martins (2008) Galileo & Martins (2008) A; C A A C A; C A C C A A C C C A; C A C C C A; C A C A; C C A; C A A A C A A; C A A; Mermudes (2008) A; C A A C C A A; C 351 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Famílias / Espécies Recchia gracilis Martins & Galileo, 1985 * Retrachydes thoracicus (Olivier, 1790) Rhaphiptera nodifera (Audinet-Serville, 1835) * Sphallenum tuberosum Bates, 1870 * Steirastoma marmoratum (Thunberg, 1822) * Steirastoma stellio Pascoe, 1866 * Stizocera elegantula (Perroud, 1855) Taeniotes farinosus (Linne, 1758) Taeniotes scalatus (Gmelin, 1790) * Trachideres succinctus (Linnaeus, 1758) Thoracibidion io (Thomson, 1867) * Trypanidius dimidiatus Thomson, 1860 Xylergatoides asper (Bates, 1864) * C C A A A; C C C C C A; C A C A Chrysomelidae Cacoscelis marginata Fabricius, 1775 * Mecistomela marginata (Thunberg, 1821) Mesomphalia sp. Omophoita aequinoctialis (Linnaeus, 1758) * Omophoita cyanipennis octomaculata (Crotch, 1873) * Omophoita octoguttata Fabricius, 1775 * Platyphora sp. A A A A A E A Cleridae Corinthiscus sp. A Coccinellidae Cycloneda sanguinea (Linnaeus, 1763)* E Cucujidae Palaestes freyersii (Heyden, 1927)* A Curculionidae Compsus niveus Marshall, 1922* Cyrtomon gibber Schönherr, 1823 Entimus imperialis Boheman & Schönherr, 1833* Entimus nobilis Boheman & Schönherr, 1833* Euryomus elegans (Kirby, 1819)* Heilipodus sp. Hilipinus sp. Homalinotus coriaceus Gyllenhal & Schönherr, 1836 Hypsonotus sp. Lixus pulverulentus (Scopoli, 1763)* Lordops schoenherri (Dalman, 1823) Metamasius hemipterus (Linnaeus, 1764) Metoposoma sp. Naupactus rivulosus Boheman & Schönherr, 1840 Phaops thunbergii Sahlberg, 1823* Rhinochaenus sp. Rhinostomus barbirostris (Fabricius, 1775)* Rhynchophorus palmarum Linnaeus, 1764* Sitophilus sp. 352 Informações1/Referências A A A A A A A A A E A A A A A A A; E A A MARTINS ET AL. Famílias / Espécies Stenorhinus viridimarginatus (Boheman, 1834)* Tropidorrhinus costatus (Boheman, 1834)* Elateridae Chalcolepidius zonatus Eschscholtz, 1829 Pyrophorus noctilucus (Linnaeus, 1758)* Hybosoridae Aegidiellus sp. Ceratocanthus basilicus (Germar, 1843)* Ceratocanthus micros (Bates, 1887)* Ceratocanthus nitidus (Germar, 1843)* Chaetodus exaratus Arrow, 1909* Germarostes macleayi (Perty, 1830)* Germarostes aff. nitens (Guérin-Méneville, 1839)* Germarostes oberthueri Paulian, 1982* Germarostes plicatus (Erichson & Germar, 1843)* Germarostes punctulatus (Ohaus, 1911)* Germarostes rugiceps (Germar, 1843)* Germarostes senegalensis (Castelnau, 1840)* COLEÓPTEROS E HEMÍPTEROS Informações1/Referências A A E E B D D D B B; D B D D D D B Lucanidae Syndesus sp. A Meloidae Cissites maculata (Swederus, 1787)* Epicauta excavata (Klug, 1825)* Epicauta fumosa (Germar, 1824)* A A E Passalidae Passalus toriferus villosus Eschscholtz, 1829* Veturius sp. D B Rhipiceridae Sandalus sp. A Scarabaeidae Aegidiellus sp. Alvarinus sp. Aphengium cupreum Shipp, 1897* Aphengium sordidum Harold, 1868 Archophileurus sp. Aspidolea sp. Astaena sp. Ataenius platensis (Blanchard, 1847)* Ateuchus aff. myrmecophilus (Boucomont, 1935)* Ateuchus squalidus (Fabricius, 1775) Ateuchus vigilans (Lansberge, 1874)* Auperia capitosa (Harold, 1867)* Blepharotoma sp. Bolax sp. Bothynus cf. dasypleurus (Germar, 1824)* B B B; D Lima (2013) B B B D B Schifler et al. (2003) B B B B B 353 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Famílias / Espécies Canthidium aterrimum Harold, 1867 Canthidium cavifrons Balthasar, 1939* Canthidium flavipes Harold, 1867* Canthidium lucidum Harold, 1867* Canthidium rufipes Harold, 1867* Canthidium aff. sulcatum (Perty, 1830) Canthon lituratus (Germar, 1824) Canthon nigripennis Lansberge, 1874 Canthon prasinus Harold, 1867* Canthon smaragdulus (Fabricius, 1781) Canthon staigi Pereira, 1953 Canthon sulcatus Castelnau, 1840 Canthonella silphoides (Harold, 1867) Ceraspis sp. Chalcocopris hesperus Olivier, 1789 Chasmodia bipunctata MacLeay, 1819* Chlorota metallica Burmeister, 1844* Coelosis bicornis (Leske, 1779)* Coelosis biloba (Linnaeus, 1767)* Coprophanaeus bellicosus (Olivier, 1789) Coprophanaeus dardanus (MacLeay, 1829) Coprophanaeus punctatus (Olsouieff, 1924) Coprophanaeus smaragdulus (Fabricius, 1781)* Crathoplus squamiferus Blanchard, 1851* Ctenotis obesa Burmeister, 1855* Cyclocephala bicolor Castelnau, 1840* Cyclocephala distincta Burmeister, 1847* Cyclocephala melanocephala (Fabricius, 1775)* Cyclocephala occipitalis Fairmaire, 1892* Cyclocephala testacea Burmeister, 1847* Deltochilum granulosum Paulian, 1933 Deltochilum trisignatum Harold, 1881 Dendropaemon sp. Diabroctis mimas mimas (Linnaeus, 1758)* Dichotomius aff. bicuspis (Germar, 1824) Dichotomius bos (Blanchard, 1846) * Dichotomius camposeabrai Martinez, 1974 Dichotomius depressicollis (Harold, 1867) Dichotomius fissus (Harold, 1867) * Dichotomius geminatus (Arrow, 1913) Dichotomius aff. irinus (Harold, 1867)* Dichotomius longiceps (Taschenberg, 1870) * Dichotomius mormon (Ljungh, 1799) Dichotomius nisus (Olivier, 1789) Dichotomius schiffleri Vaz-de-Mello, Louzada & Gavino, 2001 Dichotomius semisquamosus (Curtis, 1845) Dichotomius sericeus (Harold, 1867) Dicrania sp. Digitonthophagus sp. Discinetus sp. 354 Informações1/Referências B; Lima (2013) B B B B; D Lima (2013) Schifler et al. (2003) D; Lima (2013) B B; D; Lima (2013) B; D; Schifler et al. (2003); Lima (2013) A; D; Lima (2013) D; Lima (2013) B B; Schifler et al. (2003); Lima (2013) A B A; B A; B B; D; Lima (2013) Schifler et al. (2003) Lima (2013) Schifler et al. (2003) B A; B B A A; B A A Lima (2013) B; Lima (2013) B B Lima (2013) A; B Lima (2013) Lima (2013) A; B; D B; Schifler et al. (2003) B A; B Lima (2013) Schifler et al. (2003) Vieira et al. (2011); Lima (2013) B; Schifler et al. (2003) Schifler et al. (2003) B B B MARTINS ET AL. Famílias / Espécies Dorysthetus sp. Dynastes hercules paschoali Grossi & Arnaud, 1993 Enema pan (Fabricius, 1775)* Erioscelis emarginata (Mannerheim, 1829)* Euetheola humilis humilis Burmeister, 1847* Eurysternus caribaeus (Herbst, 1789) Eurysternus hirtellus Dalman, 1824 Eutrichillum hirsutum (Boucomont, 1928) Gama sp. Geniates punctipennis Ohaus, 1917* Gymnetis cf. chalcipes Gory & Percheron, 1833* Gymnetis cf. hieroglyphica Vigors, 1826* Heterogomphus dejeani Reiche, 1859 Heteropelidnota rostrata (Burmeinster, 1844)* Holocephalus sculptus (Gillet, 1907) Hoplopyga sp. Inca sp. Isonychus sp. Lagochile bipunctata bipunctata (MacLeay, 1819)* Lagochile emarginata emarginata (Gyllenhall, 1817)* Leucothyreus femoralis Blanchard, 1851* Leucothyreus suturalis Castelnau, 1840* Macraspis cincta cincta (Drury, 1782)* Macraspis cf. morio Burmeister, 1844* Macraspis viridis (Thunberg, 1822)* Mallotarsus sp. Megasoma gyas gyas (Jablonsky & Herbst, 1785) Mimeoma maculata (Burmeister, 1847) Mimogeniates margaridae Martinez, 1964* Ontherus azteca Harold, 1869 Onthophagus aff. catharinensis Paulian, 1936 Paranomala aff. undulata (Melsheimer, 1844)* Pelidnota arnaudi arnaudi Soula, 2009* Pelidnota bivittata (Swederus, 1787)* Pelidnota chalcothorax chalcothorax Perty, 1834* Pelidnota cuprea (Germar, 1824)* Pelidnota cyanipes (Kirby, 1818)* Pelidnota gracilis (Gory, 1834)* Pelidnota kirbii (Gray, 1832)* Pelidnota liturella (Kirby, 1818)* Pelidnota xanthospila (Germar, 1824)* Phanaeus splendidulus (Fabricius, 1781) Phileurus carinatus Prell, 1914* Phyllophaga sp. Plectris sp. Pseudocanthon xanthurum (Blanchard, 1843) Rutela lineola (Linnaeus, 1758)* Sphaerorutela cf. viridicuprea (Ohaus, 1913)* Stenocrates holomelanus (Germar, 1824)* Strategus aloeus (Linnaeus, 1758)* Strategus centaurus Kolbe, 1907* COLEÓPTEROS E HEMÍPTEROS Informações1/Referências B A; B; Azevedo et al. (2007) A; B A; B A; B D; Schifler et al. (2003); Lima (2013) Lima (2013) D; Lima (2013) B A B B B A D; Smith & Génier (2001) B B B B B A A A; B A; B A; B B A; B; Azevedo et al. (2007) B; D A; B D; Lima (2013) Lima (2013) B A; B B A; B A; B A; B B B B B Lima (2013) A B B Schifler et al. (2003) B B A B A; B 355 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Famílias / Espécies Strategus mandibularis Sternberg, 1910* Strategus surinamensis Burmeister, 1847* Strategus validus (Fabricius, 1775)* Streblopus opatroides Lansberge, 1874* Strigidia cuprea (Germar, 1824)* Strigidia xanthospila (Germar, 1824)* Tomarus sp. Trichaphodiellus brasiliensis (Castelnau, 1840)* Trichillum externepunctatum (Borre, 1880) Trichillum hirsutum (Boucomont, 1928) Trizogeniates laevis (Camerano, 1878)* Trizogeniates vittatus (Lucas, 1857)* Uroxys sp. Informações1/Referências B B A D A; B A; B B B; D Schifler et al. (2003) Schifler et al. (2003) A A Lima (2013) Tenebrionidae Camaria nitida Audinet-Serville, 1825* Nyctobates gigas Linnaeus, 1787* Nyctobates maxima Germar, 1824* Strongylium sp. E A A A Trogidae Omorgus loxus (Vaurie, 1955)* Omorgus persuberosus (Vaurie, 1962)* Omorgus suberosus (Fabricius, 1775)* Trox sp. A; B; D A; B B A 1A: Espécies existentes na coleção da RNV identiicadas por especialistas dos respectivos grupos; B: Espécies coletadas e/ou com identiicações conirmadas pelos autores D.S.Martins & P.S.F.Ferreira junto ao especialista em Scarabaeoidea F.Z.Vaz-de-Mello, da UFMT; C: Espécies coletadas e/ou com identiicações conirmadas pelos autores D.S.Martins & P.S.F.Ferreira junto ao especialista em Cerambycidae Paulo R. Magno, do Museu Nacional da UFRJ; D: Espécies coletadas na RNV depositadas no Setor de Entomologia da Coleção Zoológica da UFMT (F.Z.Vaz-de-Mello); E: Espécies coletadas na RNV depositadas no Museu Regional de Entomologia da Universidade Federal de Viçosa. Tabela 4: Lista de espécies da ordem Hemiptera registradas na Reserva Natural Vale, Linhares/ES. Ano 2015. Famílias / Espécies Subordem Auchenorrhyncha Aphrophoridae Cephisus siccifolius (Walker, 1851) * A Cercopidae Aeneolamia colon (Germar, 1821) * Notozulia entreriana (Berg, 1879) * A A Cicadellidae Diastostema albipenne (Fabricius. 1803) * A Fulgoridae Acraephia perspicillata (Fabricius, 1781) * Enchophora recurva (Olivier,1791) * Fulgora laternaria (Linnaeus, 1758) * Odontoptera spectabilis Carreno, 1841 * Phenax variegata (Olivier, 1791) * Phrictus diadema (Linnaeus, 1767) * A A A A A; D A; D Subordem Heteroptera Alydidae 356 Informações1/Referências MARTINS ET AL. Famílias / Espécies Hyalymenus sinuatus (Fabricius, 1787) * Megalotomus sp. Stenocoris tipuloides (De Geer, 1773) * COLEÓPTEROS E HEMÍPTEROS Informações1/Referências A A; C A; C Aradidae Hesus flaviventris Burmeister, 1835 * Neuroctenus punctulatus (Burmeister, 1835) * A A Belostomatidae Belostoma plebejum (Stål, 1858) * A Coreidae Acanthocephala sp. Chariesterus armatus (Thunberg, 1825) * Coryzoplatus rhomboideus (Burmeister, 1835) * Crinocerus sanctus (Fabricius, 1775) * Diactor bilineatus (Fabricius, 1803) Fabrictilis sp. Grammopoecilus sp. Holymenia clavigera (Herbst, 1784) * Hypselonotus fulvus (De Geer, 1773) * Hypselonotus interruptus Hahn, 1833 * Leptoglossus gonagra (Fabricius, 1775) * Leptoscelis elongator (Fabricius, 1803) * Machtima crucigera (Fabricius, 1775) * Madura longicornis Stål, 1862 * Nematopus sp. Pachylis laticornis (Fabricius, 1798) * Pachylis nervosus Dallas, 1852 * Phthia picta (Drury, 1770) * Sphictyrtus chrysis (Lichtenstein, 1796) * Zoreva sp. A A; C A; C A; C A; C A A A A; C A; C A; C A A A A; C A; C A A; C A; C A Gerridae Limnogonus sp. Hydrometridae Hydrometra argentina Berg, 1879* A Lygaeidae Oncopeltus sp. A Mesoveliidae Mesovelia mulsanti White, 1879* D Miridae Ceratocapsus alvarengai Henry, 1983* Ceratocapsus testatipes Henry, 1983* Collaria oleosa (Distant, 1883)* Creontiades rubinervis (Stål, 1860)* Cyrtocapsus sp. Engytatus itatiaianus (Carvalho, 1980)* Euchilocoris hahni (Stål, 1860)* Fulvius anthocoroides (Reuter, 1875)* Fulvius bisbistillatus (Stål, 1860)* Lampethusa sp. Peritrops sp. Phytocoris sp. C C C C C C C C C C C C A 357 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Famílias / Espécies Platyscytus rufomaculatus Carvalho, 1951* Prepops atroluteus (Walker, 1873)* Prepops cruciferus (Berg, 1878)* Prepops subsimilis (Reuter,1907)* Prepops zetterstedti (Stål, 1860)* Proba vittiscutis (Stål, 1860)* Rhinacloa clavicornis (Reuter, 1905)* Sericophanes ornatus (Berg, 1878)* Taylorilygus pallidulus (Blanchard, 1852)* Tytthus neotropicalis (Carvalho, 1945)* Pentatomidae Acrosternum runaspis (Dallas, 1851)* Alcaeorrhyncus grandis (Dallas, 1851)* Arocera spectabilis (Drury, 1773)* Chloropepla vigens (Stål, 1860)* Cyrtocoris gibbus (Fabricius, 1803)* Edessa aff. affinis Dallas, 1851 Edessa leucogramma (Perty, 1833)* Edessa meditabunda (Fabricius, 1974) Edessa rufomarginata (De Geer, 1773)* Euschistus inermes Mayr, 1864* Loxa flavicollis (Drury, 1773) Loxa virescens Amyot & Serville, 1843* Loxa viridis (Palisot de Beauvois, 1811)* Mecistorhinus mixtus (Fabricius, 1787)* Mormidea ypsilon (Fabricius, 1775)* Praepharnus sp. Peromatus nodifer Westwood, 1840* Proxys albopunctulatus (Palisot de Beauvois, 1805)* Sympiezorhinchus tristis Spinola, 1837* Thyanta perditor Fabricius, 1794* C C C C C C C C C C A; C A; C A; C A; C A; C A; C A; C A A; C D A A; C A; C A; C A A A; C A; C A; C A; C Phloeidae Phloea corticata (Drury, 1773) Phloea subquadrata Spinola, 1837 Phloeophana longirostris (Spinola, 1837) A; C; Guilbert (2003) A; C; Guilbert (2003) Guilbert (2003) Pyrrhocoridae Dysdercus fulvoniger (De Geer, 1773)* Dysdercus ruficollis (Linnaeus, 1764)* A A Reduviidae Agriocleptes albosparsus (Stål, 1854)* Agriocleptes salvatorianus Carcavallo & Martínez 1960* Apiomerus lanipes (Fabricius 1803) Apiomerus luctuosus Costa Lima, Seabra & Hathaway 1951 Apiomerus nigrilobus Stål, 1872* Apronius sp. Arilus carinatus (Forster, 1771) Bactrodes sp. Beharus cylindripes (Fabricius, 1803) Brontostoma discus (Burmeister, 1835)* Brontostoma doughertyae Gil-Santana, Lopes, Marques & Jurberg, 2005 Brontostoma nanus Carpintero, 1980* Brontostoma rubrum (Amyot & Serville, 1843) Brontostoma trux (Stål, 1859)* 358 Informações1/Referências A; B A A; B; Gil-Santana & Alencar (2001a) A; B; Gil-Santana et al. (2006) A; B A; B A; B; Gil-Santana & Alencar (2001a) A; B A; B; Gil-Santana et al. (2001) A; B A; B; Gil-Santana et al. (2005) B A; B; Gil-Santana & Alencar (2001a) A; B MARTINS ET AL. Famílias / Espécies Castolus rufomarginatus Champion 1899* Castolus spissicornis (Stål, 1860)* Chryxus bahianus Gil-Santana, Costa & Marques, 2007* Cosmoclopius sp. Cricetopareis tucumana (Berg, 1884)* Ctenotrachelus sp. Diaditus latulus Barber, 1930* Doldina sp. Emesa mourei Wygodzinsky, 1945 Emesopsis nubilis Uhler, 1893 Empicoris rubromaculatus (Blackburn, 1889) Eupheno pallens (Laporte, 1832)* Gardena agrippina McAtee & Malloch, 1925 Ghilianella sp. Ghinallelia pascoei (Bergroth 1906)* Ghinallelia rhabdita (Maldonado 1960)* Ghinallelia talitae Gil-Santana, Costa & Silva, 2009 Graptocleptes bicolor (Burmeister 1838)* Harpactor angulosus (Lepeletier & Serville, 1825) Heniartes erythromerus Spinola, 1840 Heza insignis Stål, 1859* Heza cf. multiannulata Stål, 1860 Heza similis Stål, 1859* Hiranetis sp. Isocondylus elongatus (Lepeletier & Serville, 1825)* Kodormus barberi (Costa-Lima, 1941) Mayemesa lapinhaensis (Wygodzinsky, 1950) Melanolestes sp. Microtomus cf. cinctipes (Stål, 1859) Microtomus conspicilliaris (Drury, 1782) Montina confusa (Stål, 1859)* Montina cf. sinuosa (Lepeletier & Serville, 1825) Narvesus minor Barber 1930* Nitornus sp. Oncerotrachelus sp. Opisthacidius rubropictus (Herrich-Schaeffer, 1848) Orbella sp. Otiodactylus signatus Pinto, 1927 Panstrongylus geniculatus (Latreille, 1811) Panstrongylus megistus (Burmeister, 1835) Ploeogaster acantharis (Wolff, 1802)* Pnirontis beieri Wygodzinsky, 1948* Pnirontis buenoi Costa Lima & Seabra, 1945* Pothea sp. Racelda moerens Breddin, 1898* Rasahus brasiliensis Coscarón, 1983* Rasahus castaneus Coscarón, 1983 Rasahus hamatus (Fabricius, 1781) Rasahus sulcicollis (Forster, 1771) Repipta flavicans (Amyot & Serville, 1843)* Rhiginia lateralis (Lepeletier & Serville, 1825)* Rhyparoclopius sp. Ricolla quadrispinosa (Linnaeus, 1767)* Saica apicalis Osborn & Drake, 1915 * Sirthenea stria (Fabricius, 1994) Stalemesa cf. carvalhoi Wygodzinsky, 1966 Stenolemus renatoi Gil-Santana & Alencar, 2000 COLEÓPTEROS E HEMÍPTEROS Informações1/Referências A; B A B A; B A A; B B A; B Gil-Santana & Alencar (2001a) Gil-Santana & Alencar (2001a) Gil-Santana & Alencar (2001a) A; B; D Gil-Santana et al. (2000) A; Gil-Santana & Alencar (2001a) A A Gil-Santana et al. (2009) A A; B A; B; Gil-Santana & Alencar (2001a) B A; B A Gil-Santana & Alencar (2001a) A; B Gil-Santana & Alencar (2001a) A; B; Gil-Santana et al. (1999b) A; B; Gil-Santana & Alencar (2001a) A; B A; B; Gil-Santana & Alencar (2001a) A; B A; B A A; B A; B A; B; Gil-Santana & Alencar (2001a) A; B A; B; Gil-Santana & Alencar (2001a) A; B; D; Gil-Santana & Alencar (2001a) A; B; Gil-Santana & Alencar (2001a) B A; B B A; B; Gil-Santana & Alencar (2001a) B A; B A; B; Gil-Santana & Alencar (2001a) A; B; Gil-Santana & Alencar (2001a) A; B; Gil-Santana & Alencar (2001a) A; B A; B Gil-Santana & Alencar (2001a) A; B A; B A; B; Gil-Santana & Alencar (2001a) B Gil-Santana & Alencar (2000) 359 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Famílias / Espécies Stenopoda sp. Stenopodessa sp. Tagalis inornata inornata Stål, 1860 * Triatoma tibiamaculata (Pinto, 1926) Tydides rufus (Serville, 1831) * Veseris bellator (Torre-Bueno, 1914) Veseris rugosicollis (Stål, 1858) Wygodzinskyocoris nigripes Dougherty, 1995 * Zelurus cf. albospinosus (Fallou, 1889) Zelurus circumcinctus (Hahn, 1825) Zelurus eburneus (Lepeletier & Serville, 1825) Zelurus flavofasciatus Stål 1859 * Zelurus lepeletierianus (Kirkaldy, 1909) * Zelurus obscuricornis (Stål, 1859) Zelurus spinidorsis (Gray, 1832) Zelus cf. armillatus (Lepeletier & Serville, 1825) Zelus leucogrammus (Perty, 1833) * Zelus versicolor (Herrich-Schäffer, 1848) * Rhopalidae Jadera sanguinolenta (Fabricius, 1775) * Scutelleridae Pachycoris torridus Scopoli, 1772 * Tingididae Acanthocheila armigera (Stål, 1858) * Amblystira pallipes (Stål, 1858) * Amblystira peltogyne Drake & Hambleton, 1935 * Dicysta fonsecai Monte, 1940 * Informações1/Referências A; B; Gil-Santana & Alencar (2001a) A; Gil-Santana & Alencar (2001a) B A; B; Gil-Santana & Alencar (2001a) A; B Gil-Santana & Alencar (2001b) A; B; Gil-Santana et al. (1999a) A; B A; B A; B; D; Gil-Santana & Alencar (2001a) A; B; Gil-Santana & Alencar (2001a) A A; B A; B; Gil-Santana & Alencar (2001a) A; B; Gil-Santana & Alencar (2001a) A; B A; B A; B A; C; D A; C A A A A 1 A: Espécies existentes na coleção da RNV identiicadas por especialistas dos respectivos grupos; B: Espécies coletadas e/ou com identiicações conirmadas pelos autores D.S. Martins & P.S.F. Ferreira junto ao especialista em Reduviidae Dr. Hélcio Reinaldo Gil Santana, do Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro; C: Espécies identiicadas pelo especialista em Heteroptera Dr. Paulo Sérgio Fiuza Ferreira da Universidade Federal de Viçosa (UFV); D: Espécies coletadas na RNV depositadas no Museu Regional de Entomologia da Universidade Federal de Viçosa. *Primeiro registro da espécie no estado do Espírito Santo. AGRADECIMENTOS Aos especialistas Dr. Fernando Z. Vaz-de-Mello da Universidade Federal de Mato Grosso, Dr. Paulo Roberto Magno do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro e Dr. Hélcio Reinaldo Gil Santana do Instituto Oswaldo Cruz pelas identiicações dos espécimes de Scarabeoidea, Cerambycidae e Reduviidae, respectivamente. Ao Dr. Hélcio Reinaldo Gil Santana e a Dra. Lívia Aguiar Coelho da Universidade Federal da Grande Dourados pela revisão do texto. À Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), à Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), ao Instituto Capixaba de Pesquisa Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) e a Reserva Natural Vale 360 pelo apoio ao Projeto Biomas do Brasil/Bioma Mata Atlântica (Subprojeto MA 25). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Arias-Buriticá, J.A. & F.Z. Vaz-de-Mello. 2012. Redescrepición de Dichotomius camposeabrai y D. nemoricola (Coleoptera: Scarabaeidae: Scarabaeinae), con apuntes sobre su posición sistemática. Revista Mexicana de Biodiversidad 83(2): 387-395. 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Boca Raton, CRC. pp. 657-693. 363 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Pyrrhura cruentata (Wied, 1820). 364 PEIXOTO & JESUS MEMÓRIAS DE CONSERVAÇÃO PARTE V FAUNA DE VERTEBRADOS 365 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE 366 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE 22 A RESERVA NATURAL VALE: UM REFÚGIO PARA A CONSERVAÇÃO DOS PEIXES DA BACIA DO RIO BARRA SECA/ES Fábio Vieira INTRODUÇÃO Os peixes representam aproximadamente 50% dos vertebrados atuais, com mais de 33.000 espécies descritas e consideradas válidas (Eschmeyer & Fong, 2016; Froese & Pauly, 2016; IUCN, 2016). Para toda a região Neotropical, avaliações realizadas há pouco mais de uma década indicaram existir 4.475 espécies descritas de peixes de água doce e cerca de 1.550 ainda sem denominação formal, totalizando mais de 6.000 (Reis et al., 2003). Embora expressivo, esse número é ainda inferior às 8.000 espécies estimadas por Schaefer (1998). Com base nesses valores, a região neotropical é considerada uma área megadiversa em relação a peixes de água doce (Junk, 2007). O Brasil é o maior país da região Neotropical e também o que abriga a maior riqueza de peixes de água doce do mundo, com números superiores a 3.000 espécies (Kottelat & Whitten, 1996; McAllister et al., 1997; Froese & Pauly, 2016). Essa condição está relacionada diretamente ao seu posicionamento geográico, dimensões territoriais, quantidade e tamanho de suas bacias hidrográicas. No que se refere à hidrograia, a Reserva Natural Vale (RNV) está inserida no conjunto que arbitrariamente é denominado “bacias costeiras do Leste e Sudeste do Brasil”, que inclui todas as bacias localizadas entre a desembocadura do rio São Francisco, no limite entre os estados de Alagoas e Sergipe, e a baía de Paranaguá, no Estado do Paraná Langeani et al. (2009). Em um trabalho anterior, Abell et al. (2008) propuseram uma divisão mais detalhada dessa extensa área em várias ecorregiões, sendo a que engloba a área da RNV a nº 328 “Northeastern Mata Atlantica”. Esse trabalho cobriu virtualmente todos os ambientes de água doce do mundo e, associado com dados sobre as espécies de peixes de água doce, disponibilizou uma ferramenta que tem como objetivo ser utilizada em conservação em âmbito regional e mundial. Para a América do Sul, a deinição das ecoregiões foi baseada inicialmente em províncias ictiogeográicas historicamente reconhecidas e exempliicadas por Géry (1969) e Ringuelet (1975). Um breve relato sobre a ordenação histórica em que as propostas de províncias ictiogeográicas para a América do Sul aparecem na literatura é apresentada por Vieira et al. (2009). A RNV integra o Corredor Ecológico Piloto Sooretama – Goytacazes - Comboios, que em seu conjunto visa preservar e interligar 175.131,248 hectares de matas de tabuleiro e ecossistemas associados (Figura 1; Iema, 2006). Este Corredor Piloto está inserido no Corredor Central da Mata Atlântica (MMA, 2006). Segundo Sanderson et al. (2003), os corredores ecológicos são compostos por diversas unidades de conservação interconectadas dentro de uma matriz ambiental com variados graus de ocupação humana. O objetivo inal do estabelecimento de corredores é a manutenção dos processos ecossistêmicos e permitir a mobilidade e o intercâmbio genético dos componentes da lora e da fauna (MMA, 2006). Atualmente é incontestável a importância da RNV e demais áreas protegidas no contexto 367 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Figura 1: Corredor Ecológico Piloto Sooretama – Goytacazes – Comboios, que inclui a Reserva Biológica de Sooretama, a Reserva Natural Vale, a Floresta Nacional de Goytacazes e a Reserva Biológica de Comboios. Fonte: Iema (2006). da manutenção da biodiversidade do Espírito Santo, uma vez que a cobertura vegetal dessa ampla região do norte capixaba começou a ser eliminada sistematicamente a partir primeira metade do século XX (Ruschi, 1954; Silva, 2014). Os diversos estudos desenvolvidos com variados grupos animais e vegetais, tanto na RNV como na Rebio de Sooretama, mostram essa realidade de forma bastante clara (ver sínteses nos diferentes capítulos). No que tange aos peixes de água doce, a situação é diferenciada, pois só recentemente foi feita uma avaliação mais abrangente das espécies de peixes que ocorrem na bacia do rio Barra Seca (Sarmento-Soares & Martins-Pinheiro, 2014), a qual drena integralmente 368 a RNV. Previamente a esse trabalho, os registros de peixes na bacia do rio Barra Seca eram limitados ao material testemunho depositado em museus e proveniente de coletas esporádicas. Entretanto, ainda que no estudo supracitado tenha sido coberta uma ampla área desde a parte alta da drenagem até a foz no oceano, não foram feitas amostragens dentro da área da RNV. Dessa forma, permanece ainda limitado o conhecimento acerca dos peixes que ocorrem no interior desta Reserva. Nesse capítulo foram sumarizados os dados disponíveis sobre a composição da ictiofauna dentro dos limites da RNV e discutidos aspectos relacionados à conservação e necessidade de estudos futuros. VIEIRA MATERIAIS E MÉTODOS Como já indicado, na literatura não estão disponíveis informações sistematizadas e idedignas acerca da fauna de peixes que ocorre na área delimitada pela RNV. Essa é uma situação comum para a ictiofauna na maior parte das unidades de conservação brasileiras e foi brevemente discutida por Vieira et al. (2005). SarmentoSoares & Martins-Pinheiro (2014) reforçam esse entendimento e indicam que “a ictiofauna tem sido desconsiderada de tal forma na delimitação de áreas de proteção que nenhuma das Unidades de Conservação do Espírito Santo possui em seu Plano de Manejo uma relação dos peixes existentes na Unidade respaldada por material catalogado em coleções zoológicas”. Frente a essa limitação, para a elaboração da lista de espécies aqui apresentada foram compilados os dados disponíveis no documento preliminar para o Plano Diretor de Uso da Reserva Florestal de Linhares (Cepemar,1998) e no trabalho de Sarmento-Soares & Martins-Pinheiro (2014), que trata especiicamente da fauna de peixes do rio Barra Seca e Rebio de Sooretama. Esse último trabalho faz parte do Projeto BIOdiversES – Distribuição e Endemismo de Peixes de Água Doce do Espírito Santo, que estuda os sistemas hídricos capixabas e vem realizando uma avaliação da ictiofauna de água doce do Estado. Apesar de ser bastante abrangente e ter coberto grande parte da bacia do rio Barra Seca nos trechos alto, médio, baixo e lagoa de Suruaca, não foram efetuadas coletas na área da RNV. Dos dados disponíveis nesse trabalho foram eliminados os registros obtidos na Lagoa de Suruaca, que se referiam em quase sua totalidade a espécies de origem marinha, enquanto os demais foram avaliados integralmente. A informação do material testemunho de peixes coletados dentro dos limites da RNV e depositado em museus incluiu as coleções do (MBML –Peixes) Coleção de Peixes do Museu de Biologia Prof. Mello Leitão, Santa Teresa; (MCP-Peixes) Museu de Ciências e Tecnologia da PUC Rio Grande do Sul, Porto Alegre; (ZUEC-PIS) Coleção de Peixes do Museu de Zoologia da Unicamp, Campinas; (MNRJ) Coleção de Peixes do Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro e (MZUSP) Coleção de Peixes do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo, São Paulo. Para esse propósito foram consultados os bancos de PEIXES dados das instituições disponibilizados através da rede do Cria (http://www.cria.org.br/) via o projeto SpeciesLink (http://splink.cria.org.br/) e no Sistema Brasileiro de Informações sobre Biodiversidade de Peixes, Museu Nacional, Universidade Federal do Rio de Janeiro (http://www.mnrj.ufrj.br/search.htm). A nomenclatura cientíica utilizada neste trabalho segue os padrões adotados pelo código internacional de nomenclatura zoológica. Os nomes cientíicos e autores das espécies seguem aqueles empregados nas descrições originais, atualizados através de Eschmeyer et al. (2016). Correções ou modiicações adotadas para os dados compilados são indicadas diretamente no momento da citação no texto. A rede hidrográica digitalizada da bacia do rio Barra Seca na escala 1:250.000 foi obtida no Banco de Dados Geográicos do Exército (DSG, 2013). Posteriormente, todos os pontos de coleta na área de interesse e disponíveis nos trabalhos e museus consultados foram digitalizados utilizando o Google Earth Pro 7.1.2.2041, compilação de 10/7/2013. RESULTADOS E DISCUSSÃO A bacia do rio Barra Seca Embora tratada rotineiramente como parte da drenagem do rio Doce, a bacia do rio Barra Seca tem uma gênese bastante peculiar e, segundo SarmentoSoares & Martins-Pinheiro (2014), originalmente representava uma sub-bacia do rio São Mateus. O vale inferior do rio Barra Seca, situado em terrenos originados no Quaternário Holocênico (Seama/ Iema, 2016), cobria uma extensa região pantanosa onde está a lagoa Suruaca, que após amplas e profundas alterações antrópicas encontra-se muito descaracterizada (Lani et al., 2009). Muitos canais foram abertos para permitir a drenagem dessa área pantanosa e atualmente existe ligação, ainda que temporária, tanto no sul com o rio Doce como no norte com o rio São Mateus (Figura 2). Embora não existam estudos prévios que permitam maiores inferências sobre os impactos ambientais que ocorreram em função dessas ações, é provável que o conjunto de modiicações nessa região tenha afetado negativamente a fauna de peixes que ocorria originalmente nessa parte da bacia. A rede hidrográica da RNV se desenvolve sobre terrenos datados do Período Terciário (Seama/ Iema, 2016) e inclui diversos córregos e rios. 369 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Figura 2: Bacia do rio Barra Seca com a indicação dos pontos com amostragens históricas e recentes de peixes. Dados históricos (museus); Dados atuais (Sarmento-Soares & Martins-Pinheiro, 2014). Segundo Zuccaratto (2016), são 14 córregos — Alberico, Alegre, Alegre de Cima, Amor, Canto, Chumbado, Dois Irmãos, Dourado, Estivado, João Pedro, Menezes, Paciência, Rancho Alto e Traváglia — e os rios Barra Seca, Ibiriba e Pau Atravessado. Alguns desses cursos d’água são perenes, como os rios Pau Atravessado e Barra Seca e o córrego João Pedro, enquanto outros são intermitentes. Segundo esse mesmo autor, há ainda a lagoa do Macuco, cujo lado sul compõe um dos limites da RNV e o lado norte ica junto à Rebio de Sooretama. O autor também destacou uma grande área alagável no entorno, formada por brejos, matas de várzea e matas ciliares. A ictiofauna da Reserva Natural Vale As drenagens que luem pelos domínios do bioma da Mata Atlântica abrigam elevada riqueza de espécies de peixes, a qual foi estimada em 269 espécies que se distribuem em 89 gêneros e 21 famílias (Abilhoa et al., 2011). Os maiores aglomerados urbanos do país estão nesse bioma, que associado à ampla supressão da vegetação resultou em impactos antropogênicos intensos e negativos na maioria das drenagens (Menezes et al., 1990; Menezes et al., 2007; Miranda, 2012; Reis, 370 2013). Essas condições afetaram adversamente os peixes que ocorrem no bioma, resultando em muitas estarem ameaçadas de extinção (MMA, 2014). O primeiro relato sobre peixes nos limites da RNV se refere à descrição de Xenurolebias izecksohni (= Cynolebias izecksohni) (Cruz,1983). A espécie é endêmica da bacia do rio Barra Seca, e tanto os exemplares tipo como todos os demais coletados mais recentemente foram obtidos em regiões alagadas que formam áreas abertas dentro da loresta, ambiente conhecido como Nativo do Canto Grande (Costa & Amorim, 2014). Essa espécie está listada oicialmente como ameaçada de extinção (Vieira & Gasparini, 2007; MMA, 2014). Entretanto, em função de todos os registros da espécie terem sido feitos dentro da área protegida pela RNV, Costa & Amorim (2014) consideraram que é improvável que a mesma esteja ameaçada de extinção. Outras três espécies foram descritas com base em exemplares obtidos na bacia do rio Barra Seca: Otothyris travassosi Garavello, Britski & Schaefer, 1998; Australoheros capixaba Ottoni, 2010 e Microglanis minutus Ottoni, Mattos & Barbosa 2010, sendo que que as duas primeiras possuem VIEIRA PEIXES Tabela 1: Lotes com material testemunho depositados na Coleção de Peixes do Museu de Zoologia da Unicamp (ZUEC-PIS) e a determinação taxonômica inal adotada nesse capítulo. Número de catálogo ZUEC-PIS Identiicação constando na ZUEC (agosto/2016) Sarmento-Soares & Martins-Pinheiro, 2014 Nome adotado após conferência Flávio C. T. Lima - ZUEC 3587 4089, 6766 3594, 3595 3579, 3580, 3581 3586, 5554 3582 3585 3583 3584 3589, 3590 3591, 6767 3599 3596 3597, 3598 3592 3593 Astyanax scabripinnis Astyanax sp. Erythrinus erythrinus Geophagus brasiliensis Hoplerythrinus unitaeniatus Hoplias malabaricus Hyphessobrycon bifasciatus Hyphessobrycon sp. Hyphessobrycon sp. Mimagoniates microlepis Moenkhausia doceana Otothyris sp. Phalloceros sp. Phalloptychus januarius Pimelodella cf. lateristriga Poecilia sp. Astyanax aff. intermedius Astyanax aff. intermedius Hoplerythrinus unitaeniatus Geophagus brasiliensis Hoplerythrinus unitaeniatus Hoplias aff. malabaricus Hyphessobrycon bifasciatus Hyphessobrycon sp. sensu Carvalho Hyphessobrycon bifasciatus Mimagoniates microlepis Moenkhausia doceana Otothyris travassosi Phalloceros ocellatus Phalloceros ocellatus Pimelodella aff. vittata Poecilia vivipara Astyanax spp. Astyanax spp. Erythrinus erythrinus Geophagus brasiliensis Hoplerythrinus unitaeniatus Hoplias malabaricus Hyphessobrycon bifasciatus Hyphessobrycon sp. Hyphessobrycon sp. Mimagoniates microlepis Moenkhausia vittata Otothyris travassosi Phalloceros ocellatus Phalloceros ocellatus Pimelodella sp. Poecilia vivipara registros conirmados na RNV. Embora Sarmento-Soares & Martins-Pinheiro (2014) tenham indicado a necessidade de estudos adicionais, M. minutus foi tratado como um sinônimo júnior de M. pataxo, descrito originalmente para os rios do extremo sul da Bahia (Sarmento-Soares et al., 2006). Deve-se ainda considerar que existe uma incoerência na indicação geográica do material tipo, pois as coordenadas (18°34,953’ S / 40°26,115’ W) disponíveis na publicação original de Ottoni et al. (2010) se referem a um curso d’água do alto rio São Mateus e não na bacia do rio Barra Seca. A avaliação mais abrangente sobre peixes da RNV foi apresentada no Plano Diretor de Uso da Reserva Florestal de Linhares (Cepemar, 1998). A relação disponibilizada incluiu 25 espécies de peixes, embora algumas delas se reiram a identiicações errôneas. No trabalho não estão indicados os locais de coleta, ou mesmo aquelas espécies que haviam sido efetivamente registradas e as que representavam dados secundários. Como existem lotes depositados na Coleção de Peixes do Museu de Zoologia da Unicamp (ZUEC-PIS) foi possível a recuperação e correção de parte da informação (Tabela 1). Para as demais espécies adotou-se procedimento mais restritivo, sendo consideradas passíveis de ocorrência na RNV somente aquelas que também constam em Sarmento-Soares & Martins-Pinheiro (2014) e demais trabalhos consultados. A listagem de peixes incluída nesse capítulo (Tabela 2) relaciona pelo menos 20 espécies (algumas ilustradas na Figura 3), parte das quais ainda necessitando confirmação taxonômica. Esse número representa cerca de 50% das espécies de peixes de água doce inventariadas para a bacia do rio Barra Seca (Sarmento-Soares & Martins-Pinheiro, 2014), evidenciando que há necessidade de um levantamento mais detalhado dentro da RNV. Essa condição fica mais evidente quando se observa que além de se referirem a registros históricos, são poucos os pontos de amostragem explorados dentro da RNV (Figura 2). Áreas amostradas mais recentemente representam a busca de uma espécie em particular, nesse caso Xenurolebias izecksohni (Costa & Amorim, 2014). A maioria das espécies é de pequeno a médio porte, nativa e tem distribuição ampla na drenagem do rio Barra Seca e também em outras adjacentes, como as do São Mateus e Doce. Quatro espécies são exóticas à drenagem (Prochilodus sp., Poecilia reticulata, Pygocentrus nattereri e Cichla kelberi). As duas últimas são piscívoras de médio a grande porte e podem causar impactos negativos e significativos sobre a ictiofauna nativa, demostrando que mesmo áreas protegidas não são capazes de impedir a disseminação dessas espécies. 371 372 Ordem Família Espécie Autor Characiformes Anostomidae Characidae Leporinus copelandii Astyanax aff. intermedius Astyanax aff. lacustris Astyanax aff. taeniatus Astyanax spp. Hyphessobrycon bifasciatus Hyphessobrycon sp. Mimagoniates microlepis Moenkhausia vittata Oligosarcus acutirostris Pygocentrus nattereri Characidium sp. “cricaré”, sp. n Cyphocharax gilbert Hoplerythrinus unitaeniatus Erythrinus erythrinus Hoplias malabaricus Prochilodus sp. Xenurolebias izecksohni Phalloceros ocellatus Poecilia reticulata Poecilia vivipara Gymnotus aff. pantherinus Gymnotus sp. Australoheros capixaba Cichla kelberi Geophagus brasiliensis Trachelyopterus striatulus Aspidoras virgulatus Callichthys callichthys Corydoras nattereri Hoplosternum littorale Scleromystax prionotos Acentronichthys leptos Pimelodella sp. Rhamdia sp. Hypostomus scabriceps Otothyris travassosi Parotocinclus doceanus Pogonopoma wertheimeri Steindachner, 1875 Eigenmann, 1908 (Lütken, 1875) (Jenyns, 1842) Ellis, 1911 (Steindachner, 1877) (Castelnau, 1855) Menezes, 1987 Kner, 1858 (Quoy & Gaimard, 1824) (Spix & Agassiz, 1829) (Bloch & Schneider, 1801) (Cruz, 1983) Lucinda, 2008 Peters, 1859 Bloch & Schneider, 1801 (Steindachner, 1908) Ottoni, 2010 Kullander & Ferreira, 2006 (Quoy & Gaimard, 1824) Steindachner, 1877 Nijssen & Isbrücker, 1980 (Linnaeus, 1758) Steindachner, 1877 (Hancock, 1828) (Nijssen & Isbrücker, 1980) Eigenmann and Eigenmann, 1889 (Eigenmann & Eigenmann, 1888) Garavello, Britski & Schaefer, 1998 (Ribeiro, 1918) (Steindachner, 1867) 1 Crenuchidae Curimatidae Erythrinidae 2 3 Cyprinodontiformes Prochilodontidae Rivulidae Poeciliidae Gymnotiformes Gymnotidae 4 5 Perciformes Cichlidae Siluriformes Auchenipteridae Callichthyidae Heptapteridae 6 Loricariidae Registro na RNV X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X - Sarmento-Soares & Martins-Pinheiro, 2014 Cabeceira Meio Baixo X X X X X X X X X X - X X X X X X X X X X X X X - X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Tabela 2: Lista dos peixes da Reserva Natural Vale - RNV e da bacia do rio Barra Seca, baseada nas informações disponíveis em Cepemar (1998), Sarmento-Soares & MartinsPinheiro (2014) e dados de museus (ver legenda e materiais e métodos para detalhes). Família Espécie Autor Registro na RNV Siluriformes Pseudopimelodidae Trichomycteridae Synbranchiformes Synbranchidae Microglanis pataxo Ituglanis cahyensis Trichomycterus pradensis Synbranchus marmoratus Sarmento-Soares, Martins-Pinheiro, Aranda & Chamon, 2006 Sarmento-Soares, Martins-Pinheiro, Aranda & Chamon, 2006 Sarmento-Soares, Martins-Pinheiro, Aranda & Chamon, 2005 Bloch, 1795 TOTAL Nome usado em Cepemar (1998) e/ou Sarmento-Soares & Martins-Pinheiro (2014) 1) Moenkhausia doceana 2) Characidium aff. fasciatum 3) Prochilodus vimboides 4) Xenurolebias myersi 5) Gymnotus carapo 6) Pimelodella aff. vittata Espécie exótica Sarmento-Soares & Martins-Pinheiro, 2014 Cabeceira Meio Baixo - X - X - X X X X 20 11 14 39 VIEIRA Ordem Nome adotado nesse capítulo com a indicação da literatura usada para esse procedimento Moenkhausia vittata, segundo Silva & Malabarba (2016) Characidium sp. “cricaré” nova espécie, segundo Lopes (2015) Prochilodus sp., podendo ser P. lineatus ou P. costatus, baseado na foto em Sarmento-Soares & Martins-Pinheiro (2014) e contato com os respectivos autores Xenurolebias izecksohni, segundo Costa & Amorim (2014) Gymnotus sp., baseado em Albert & Crampton (2003) Pimelodella sp., baseado em Eschmeyer & Fong (2016) PEIXES A B C D E F Figura 3: Exemplos de espécies que ocorrem dentro dos limites da RNV. A) A piaba Hyphessobrycon bifasciatus; B) A traíra Hoplias malabaricus; C) O barrigudinho Phalloceros ocellatus; D) O sarapó Gymnotus sp.; E) O cará Geophagus brasiliensis e F) O cascudinho Otothyris travassosi. Fotos: Fábio Vieira. 373 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Conservação da ictiofauna na Reserva Natural Vale A RNV abriga uma fração expressiva da ictiofauna do rio Barra Seca, a qual deverá se mostrar ainda mais diversiicada após inventário detalhado. A RNV ainda é responsável por manter as únicas localidades com registros atuais da ocorrência de Xenurolebias izecksohni, uma espécie ameaçada de extinção e com distribuição conhecida exclusiva à área da RNV. Ainda que essas características chamem a atenção, deve-se destacar que as informações aqui incluídas são muito limitadas e se referem somente à presença das espécies e não a aspectos populacionais e de distribuição espacial, que podem ser diferentes entre as áreas internas e preservadas da RNV e as externas amplamente alteradas. A RNV apresenta um desenho bastante recortado (Figura 2), o que por si só não é desejável do ponto de vista da conservação. Adicionalmente vários cursos d’água que drenam a unidade possuem suas nascentes ou parte de seus cursos localizados em áreas particulares externas. Esses dois fatores associados tornam a conservação da ictiofauna mais complexa e difícil. Bons exemplos são as várias barragens construídas e as atividades agropastoris desenvolvidas nas áreas contíguas, cujos impactos (p. ex. disseminação de espécies exóticas, carreamento de insumos agrícolas, entre outros) para os ambientes aquáticos podem estar se refletindo na ictiofauna. Esses problemas foram elencados para a Rebio de Sooretama (SarmentoSoares & Martins-Pinheiro, 2014) e também se expressam de forma similar nos parques nacionais do Descobrimento e Pau Brasil, no sul da Bahia (obs. pes.). As opções para contornar esses problemas são as mesmas e vão desde o ideal, com a ampliação dos limites para incluir as drenagens em sua totalidade, até o manejo com limitação e uso adequado das propriedades de entorno. Apesar de estarem presentes alguns elementos indesejáveis para a conservação dos peixes, é inegável que pela RNV estar inserida em uma matriz ambiental extremamente alterada, certamente representa uma fonte atual e futura para dispersão, colonização e repovoamento de áreas onde populações de peixes tenham sido afetadas ou suprimidas na bacia do rio Barra Seca. 374 AGRADECIMENTOS A Samir G. Rolim pelo convite e oportunidade para escrever esse capítulo e não menos pela sua extrema paciência em aguardar sempre um pouco mais pela entrega do manuscrito. A Flávio C. T. Lima pela conirmação da identiicação de algumas espécies com lotes depositados na Coleção de Peixes do Museu de Zoologia da Unicamp (ZUEC-PIS). Ao Centro de Referência em Informação Ambiental, Cria (http://www.cria.org.br/); ao Sistema Brasileiro de Informações sobre Biodiversidade de Peixes, Museu Nacional, UFRJ (http://www.mnrj.ufrj.br/search. htm) e a California Academy of Sciences, Catalog of Fishes (http://researcharchive.calacademy.org/ research/ichthyology/catalog/fishcatmain.asp) pela possibilidade de acesso irrestrito aos bancos de dados sobre espécies de peixes. Ao Banco de Dados Geográico do Exército – BDGEx (http://www. geoportal.eb.mil.br/mediador) pela disponibilização dos dados das cartas topográicas em formato digital. 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Algumas espécies zoológicas e botânicas em vias de extinção no estado do E. Santo. 375 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Método empregado para sua prospecção e para o estabelecimento de área mínima para a perpetuação da espécie, em seu habitat natural. Boletim do Museu de Biologia Professor Mello Leitão, Série Proteção a Natureza, 16A: 1-43 Sanderson, J.; Alger, K.; Fonseca, G.A.B.; Galindo-Leal, C.; Inchausty, V.H.; Morrison, K. 2003. Biodiversity conservation corridors: planning, implementing, and monitoring sustainable landscapes. Washington, DC: Conservation International. 41p. Sarmento-Soares, L.M. & Martins-Pinheiro, R.F. 2014. A fauna de peixes na bacia do rio Barra Seca e na REBIO de Sooretama, Espírito Santo, Brasil. Boletim do Museu de Biologia Mello Leitão 35: 49–104 Sarmento-Soares, L.M., Martins-Pinheiro, R.F., Aranda, A.T. & Chamon, C.C. 2006. 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Haddad INTRODUÇÃO O conhecimento da fauna de anfíbios da Mata Atlântica foi intensiicado e melhor difundido a partir do início da década de 1990 com a publicação de inventários em forma de guias e livros contendo notas sobre a história natural das espécies (Heyer et al., 1990; Haddad & Sazima, 1992; Feio et al., 1998; Bertoluci, 2001; Izecksohn & Carvalho-eSilva, 2001; Ramos & Gasparini, 2004; Eterovick & Sazima, 2004; Pombal & Gordo, 2004; Freitas & Silva, 2005; Haddad et al., 2008; Cruz et al., 2009; Freitas, 2011; Gasparini, 2012; Haddad et al., 2013; Pimenta et al., 2014, entre outros). Entretanto, mesmo com esses trabalhos, muitas lacunas de conhecimento ainda persistem, inclusive em importantes áreas protegidas na Mata Atlântica. A primeira menção ao Espírito Santo em estudos herpetológicos se deu com a descrição da espécie Phyllodytes luteolus a partir de exemplares coletados na atual vila de Regência, em Linhares, no norte do estado, pelo naturalista alemão Príncipe Maximilian zu Wied-Neuwied (Wied-Neuwied, 1824). O botânico francês Augustin François César Prouvençal de Saint-Hilaire, que percorreu grande parte da costa brasileira entre 1816 a 1822, e Charles Frederick Hartt, que participou da Expedição Thayer, dirigida pelo lendário zoólogo suíço Jean Louis Rodolphe Agassiz, entre 1865 e 1866, também mencionaram a exuberância da loresta (Saint-Hilaire, 1974) [(sem paralelo, “nem mesmo no Pará”, segundo Hartt (1941)] e a diversidade e abundância da fauna do Espírito Santo, embora não mencionassem especiicamente os anfíbios. Somente no século passado surgiram na literatura os primeiros relatos sobre a anurofauna da região norte do Espírito Santo (Carvalho, 1948; Travassos & Freitas, 1948; Travassos et al., 1959; Aguirre, 1951; Bokermann, 1952; Ruschi, 1954; Travassos et al., 1964; Ruschi, 1978; Ruschi, 1980). Werner Carlos Augusto Bokermann, a partir de 1966, foi responsável pelo primeiro estudo realizado com o objetivo de mapear a ocorrência de anfíbios anuros na região do bloco lorestal do Refúgio Sooretama e cercanias, reportando a ocorrência de 23 espécies nesta área (Bokermann, 1966a). Posteriormente, ele descreveu quatro novas espécies de anfíbios a partir de exemplares coletados na região: Sphaenorhynchus palustris, Physalemus aguirrei e Physalemus obtectus, Allobates capixaba (Bokermann, 1966b; Bokermann, 1966c; Bokermann, 1967, respectivamente). Ainda no século passado, expedições organizadas pelo Professor Eugenio Izecksohn e seus então alunos (Oswaldo Luiz Peixoto, Carlos 377 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Alberto Gonçalves da Cruz e Sergio Potsch de Carvalho-e-Silva) encontraram e descreveram espécies de anuros ainda desconhecidas pela ciência, como o sapo-chifrudo (Proceratophrys laticeps), descoberto e descrito a partir de material coletado na Reserva Natural Vale (RNV) (Izecksohn & Peixoto, 1981), e a perereca (Scinax agilis), descoberta em uma área de “nativo”, lindeira à RNV (Cruz & Peixoto, 1982). Mais recentemente, outras espécies, como Leptodactylus thomei (Almeida & Angulo, 2006), Rhinella hoogmoedi (Caramaschi & Pombal, 2006) e Chiasmocleis quilombola (Tonini et al., 2014), também foram descritas envolvendo exemplares coletados na região de Linhares. Para a RNV, situada no norte do Espírito Santo, estudos pontuais referentes a amostragens por curtos períodos de tempo ou à descrição de novas espécies reúnem a maior parte dos registros, alguns dos quais carecem de espécimes-testemunho em coleções cientíicas. Paradoxalmente, a região de Linhares e Sooretama, onde está situada a RNV, é uma das áreas mais frequentemente visitadas por herpetólogos devido às facilidades e ótima infraestrutura encontradas. Isso permitiu o acúmulo de informações importantes para o diagnóstico da diversidade de espécies presentes na região (Nelson & Lescure, 1975; Pombal & Haddad, 1992; Dias & Cruz, 1993; Giaretta, 1996; Eterovick, 1999; Duryea et al., 2009; Dias et al., 2013; Tonini et al., 2014 ). Tais informações, associadas a amostragens de longa duração realizadas recentemente – e ainda em andamento em algumas áreas – e a registros realizados pelas equipes que atuam no grande remanescente vegetacional formado pela RNV e pela Reserva Biológica de Sooretama (RBS), permitem traçar um panorama mais abrangente da anurofauna da região, que representa um dos mais importantes maciços lorestais do Corredor Central da Mata Atlântica, o Bloco Linhares-Sooretama, que integra uma das áreas prioritárias para realização de pesquisas e conservação da biota do bioma Mata Atlântica (Ministério do Meio Ambiente et al., 2000). A partir de 2003, teve início um inventário de longa duração da anurofauna da RBS (Almeida & Gasparini, 2009) e, recentemente, a partir de 2012, também na RNV. No presente trabalho é 378 apresentada a lista comentada da anurofauna da RNV e adjacências, incluindo a RBS, a partir dos resultados obtidos em campo e da compilação das informações disponíveis na literatura e em coleções cientíicas. MATERIAL E MÉTODOS Expedições a campo foram realizadas na RNV, entre 2012 e 2015, para registrar a ocorrência de espécies de anfíbios. Para isso, foram instaladas armadilhas de intercepção e queda com cercasguia (pitfall traps with drift fences) em diferentes ambientes (florestas, campos nativos e bordas de áreas alagadas) (Heyer et al., 1994, Greenberg et al., 1994). Foi utilizada também a técnica de procura visual ativa (Campbell & Christman, 1982) nos mesmos locais de instalação das armadilhas e em pontos adicionais escolhidos aleatoriamente. Dados provenientes de inventários de longa duração realizados na RBS, entre 2003 e 2012, utilizando os mesmos métodos adotados na RNV, em diferentes pontos e tipos de ambientes, foram também considerados no presente estudo, uma vez que as duas áreas representam um maciço vegetacional contíguo. Adicionalmente, foram realizados levantamentos dos exemplares coletados na região de Linhares e/ou Sooretama (ressaltando que este último foi emancipado de Linhares em 1994) e que estão depositados em coleções cientíicas (Museu de Biologia Professor Mello Leitão – MBML, atualmente em transição para se tornar o Instituto Nacional da Mata Atlântica, situado em Santa Teresa/ES; Museu Nacional Rio de Janeiro - MNRJ/RJ; Coleção “Eugenio Izecksohn” - EI, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, em Seropédica/RJ; e Coleção “Célio Fernando Baptista Haddad” - CFBH, depositada na Universidade Estadual Paulista, em Rio Claro/ SP). Foi também realizada uma minuciosa busca nas principais coleções herpetológicas do Brasil cujos registros estão disponíveis na plataforma SpeciesLink (Centro de Referência em Informação Ambiental - CRIA), que adicionou à presente listagem os registros existentes no Museu de Zoologia da Universidade Estadual de Campinas GASPARINI ET AL. (Zuec), “Professor Adão José Cardoso”, em Campinas/SP. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram examinados em coleções zoológicas 604 exemplares coletados na RNV e 189 na RBS, correspondendo a um total de 50 espécies (incluindo material testemunho decorrente dos inventários realizados pelos próprios autores). Por meio dos registros constantes na literatura científica, 40 anfíbios foram listados para a RNV e/ ou para a RBS. Adicionalmente, 55 espécies foram registradas diretamente nos trabalhos de campo recentemente realizados na região. Somados, esses registros totalizaram 59 espécies com presença confirmada para a RNV e seu entorno imediato (Tabela 1). A grande maioria das espécies registradas (n = 53; 90%) é endêmica do bioma Mata Atlântica. Entre os táxons confirmados para a área de estudo, o sapinho-foguete (Allobates capixaba) é classificado como Criticamente em Perigo no estado do Espírito Santo (Gasparini et al., 2007). Esta mesma espécie e a rãzinha-dofolhiço (Leptodactylus cupreus) são classificadas como Deficiente em Dados na avaliação nacional, realizada pelo ICMBio em 2014 (MMA, 2014). As espécies conirmadas para a RNV e seu entorno imediato estão distribuídas em nove famílias, sendo Hylidae a mais numerosa, com 32 espécies, seguida por Leptodactylidae, com 11 espécies, Microhylidae, com sete espécies, Bufonidae, com quatro espécies, e Craugastoridae, Hemiphractidae, Ceratophryidae, Odontophrynidae e Aromobatidae, representadas cada uma por uma espécie. A maior parte das espécies registradas ocorre em ambientes lorestais (36 espécies; 61%), 20 espécies (34%) ocorrem em áreas brejosas abertas e três (5%) são restritas aos campos nativos. Várias espécies, entretanto, ocorrem também nas zonas de contato entre os diferentes ambientes amostrados (Tabela 1). Os anfíbios anuros apresentam uma grande diversidade de modos reprodutivos, que vão da oviposição em ambientes lênticos, com a existência de uma fase larval aquática, até o desenvolvimento direto, sem a fase larval (Haddad ANFÍBIOS & Prado, 2005). Dos 39 modos reprodutivos reconhecidos por Haddad & Prado (2005), 12 (31%) estão presentes entre as espécies com ocorrência conirmada para a região estudada. Isso traduz proporcionalmente a alta riqueza de micro ambientes disponíveis na RNV e em seu entorno, o que possibilita condições favoráveis para a reprodução e a ocorrência das espécies ali encontradas. Nas coleções consultadas, há registros de seis espécies de anfíbios coletados no município de Linhares que ainda não foram encontradas na área da RNV: Pipa carvalhoi, Hypsiboas crepitans, Phyllomedusa rohdei, Trachycephalus nigromaculatus, Macrogenioglottus alipioi e Thoropa miliaris. O hilídeo Hypsiboas crepitans é tipicamente encontrado em ambientes lênticos em áreas abertas e seus registros atualmente correspondem a áreas mais altas do município de Linhares. Sua ocorrência na área da RNV é possível, considerando a presença de áreas abertas. A rã Thoropa miliaris habita preferencialmente lajões rochosos à margem de riachos ou filetes de água sobre rochas em ambientes florestados. Desta forma, sua ocorrência na região pode estar limitada às porções mais internas da RBS, embora possa estar presente também em locais ainda não explorados na RNV. As demais espécies mencionadas provavelmente ocorrem na RNV, que apresenta ambientes semelhantes aos encontrados em áreas nas quais elas foram registradas. Além disso, é plausível que ocorram novos registros e, talvez, a descoberta de espécies ainda não descritas com a continuidade das pesquisas de médio e longo prazo em desenvolvimento na região. Cerca de 40% das espécies de anfíbios com ocorrência registrada no Espírito Santo (Almeida et al., 2011) estão presentes no Bloco Linhares-Sooretama. Desta forma, a região representa uma área extremamente importante para a conservação dos anfíbios no estado e no Corredor Central da Mata Atlântica como um todo. Considerando o grau de devastação das regiões circundantes, o maciço florestal composto pela RNV e pela RBS representa ainda uma importante matriz para a recuperação de áreas vizinhas atualmente degradadas. 379 380 FAMÍLIA / Espécie CRAUGASTORIDAE Haddadus binotatus (Spix, 1824) (Figura 1) HEMIPHRACTHIDAE Gastrotheca megacephala Izecksohn, Carvalho-e-Silva & Peixoto, 2009 HYLIDAE Aparasphenodon brunoi Miranda-Ribeiro, 1920 Dendropsophus anceps (Lutz, 1929) Dendropsophus berthalutzae (Bokermann, 1962) (Figura 2) Dendropsophus bipunctatus (Spix, 1824) Dendropsophus branneri (Cochran, 1948) (Figura 3) Dendropsophus elegans (Wied-Neuwied, 1824) (Figura 4) Dendropsophus giesleri (Mertens, 1950) Dendropsophus haddadi (Bastos & Pombal, 1996) L C O X X X X X X X X X X X Ambiente na RNV Distribuição Geográica (Endemismo) Desenvolvimento direto de ovos terrestres Serapilheira na loresta Mata Atlântica Ovos carregados em bolsa dorsal da fêmea. Desenvolvimento direto em miniaturas do adulto Bromélias nas áreas de Nativo e borda de loresta Mata Atlântica X X X Ovos e girinos exotróicos em água parada Ovos e girinos exotróicos em água parada Após a eclosão, girinos que caem em água parada Bromélias ou ocos de árvores na loresta Brejos em áreas abertas Poças temporárias na loresta Mata Atlântica Mata Atlântica Mata Atlântica X X X X Ovos e girinos exotróicos em água parada Ovos e girinos exotróicos em água parada Brejos em áreas abertas Brejos em áreas abertas Mata Atlântica Mata Atlântica e outros biomas X X Ovos e girinos exotróicos em água parada Brejos em áreas abertas Mata Atlântica X X X Poças temporárias na borda de loresta Brejos na borda de loresta Mata Atlântica Mata Atlântica X X Brejos Mata Atlântica X X X X Ovos e girinos exotróicos em água parada Após eclosão, girinos exotróicos que caem em água parada Após eclosão, girinos exotróicos que caem em água parada Ovos e girinos exotróicos em água parada Ovos e girinos exotróicos em água parada Brejos em áreas abertas Brejos em borda de loresta Todos os Biomas do Brasil Mata Atlântica X X Ovos e girinos exotróicos em água parada Brejos em áreas abertas Mata Atlântica Ovos e girinos exotróicos em água parada ou ovos e estágios larvais iniciais em pequenas piscinas naturais ou escavadas pelos machos. Após inundação, girinos exotróicos em poças ou riachos. Ovos e girinos exotróicos em água parada e/ou corrente Brejos em áreas abertas Mata Atlântica Poças temporárias no interior da loresta Mata Atlântica X X Dendropsophus gr. microcephalus Modo Reprodutivo Dendropsophus minutus (Peters, 1872) Dendropsophus seniculus (Cope, 1868) (Figura 5) Hypsiboas albomarginatus (Spix, 1824) X X Hypsiboas faber (Wied-Neuwied, 1821) (Figura 6) X X X Hypsiboas pombali (Caramaschi, Pimenta & Feio, 2004) X (Figura 7) X X FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Tabela 1: Anfíbios registrados na Reserva Natural Vale (RNV) e entorno imediato. A coluna “L” representa registros obtidos a partir da literatura, a coluna “C” representa registros nas coleções examinadas e a coluna “O” representa observações diretas realizadas na RNV e/ou na RBS. L C O Hypsiboas semilineatus (Spix, 1824) (Figura 10) Itapotihyla langsdorffii (Duméril & Bibron, 1841) Phyllodytes kautskyi Peixoto & Cruz, 1988 (Figura 8) Phyllodytes luteolus (Wied-Neuwied, 1824) (Figura 9) Phyllomedusa bahiana Lutz, 1925 X X X X X X X X X X X Phyllomedusa burmeisteri Boulenger, 1882 (Figura 11) Pseudis fusca Garman, 1883 Scinax agilis (Cruz & Peixoto, 1983) (Figura 12) Scinax alter (Lutz, 1973) (Figura 13) Scinax argyreornatus (Miranda-Ribeiro, 1926) (Figura 14) Scinax cuspidatus (Lutz, 1925) Scinax eurydice (Bokermann, 1968) Scinax fuscovarius (Lutz, 1925) (Figura 15) Sphaenorhynchus palustris Bokermann, 1966 Sphaenorhynchus pauloalvini Bokermann, 1973 X X X X X X Sphaenorhynchus planicola (Lutz & Lutz, 1938) Sphaenorhynchus prasinus Bokermann, 1973 Trachycephalus mesophaeus (Hensel, 1867) (Figura 16) LEPTODACTYLIDAE Leptodactylus cupreus Caramaschi, Feio & São Pedro, 2008 Leptodactylus fuscus (Schneider, 1799) Modo Reprodutivo Ambiente na RNV Distribuição Geográica (Endemismo) Mata Atlântica Brejos na borda de loresta Bromélias de grande porte na loresta Mata Atlântica Mata Atlântica Bromélias terrestres no Nativo Mata Atlântica Brejos na borda de loresta Mata Atlântica Brejos na borda de loresta Mata Atlântica Brejos em áreas abertas Bromélias no Nativo Mata Atlântica Mata Atlântica X X Ovos e girinos exotróicos em água parada Brejos em áreas abertas Mata Atlântica X X X Ovos e girinos exotróicos em água parada Brejos na borda de loresta Mata Atlântica X X X X X X X X Ovos e girinos exotróicos em água parada Ovos e girinos exotróicos em água parada Ovos e girinos exotróicos em água parada Brejos na borda de loresta Mata Atlântica Mata Atlântica Mata Atlântica e outros biomas X X X X X Ovos e girinos exotróicos em água parada Após a eclosão, girinos exotróicos que caem em água parada Ovos e girinos exotróicos em água parada Ovos e girinos exotróicos em água parada Ovos e girinos exotróicos em água parada Brejos e lagoas em áreas abertas Brejos na borda de loresta Mata Atlântica Mata Atlântica Brejos e lagoas em áreas abertas Brejos e lagoas em áreas abertas Brejos na borda e no interior de loresta Mata Atlântica Mata Atlântica Mata Atlântica Ninho de espuma com ovos e desenvolvimento inicial dos girinos em câmara subterrânea construída; após inundação, girinos exotróicos em água parada Ninho de espuma com ovos e desenvolvimento inicial dos girinos em câmara subterrânea construída; após inundação, girinos exotróicos em água parada Brejos na borda de loresta Mata Atlântica Margem de brejos e lagoas em áreas abertas Todos os Biomas do Brasil X X X X X X X X X X X ANFÍBIOS Brejos em áreas abertas X X Ovos e girinos exotróicos em água parada e/ou corrente Ovos e girinos exotróicos em água parada Ovos e girinos exotróicos em água acumulada em bromélias Ovos e girinos exotróicos em água acumulada em bromélias Após eclosão, girinos exotróicos que caem em água parada Após eclosão, girinos exotróicos que caem em água parada Ovos e girinos exotróicos em água parada Ovos e girinos exotróicos em água parada GASPARINI ET AL. FAMÍLIA / Espécie 381 382 L C O Leptodactylus latrans (Steffen, 1815) X X X Leptodactylus aff. mystacinus (Figura 17) X Leptodactylus natalensis Lutz, 1830 (Figura 18) Leptodactylus spixi Heyer, 1983 X X Adenomera thomei (Almeida & Ângulo, 2006) Physalaemus aguirrei Bokermann, 1966 (Figura 20) Physalaemus crombiei Heyer & Wolf, 1989 X X X Modo Reprodutivo Ambiente na RNV Distribuição Geográica (Endemismo) Ninho de espuma lutuante e girinos exotróicos em água parada Ninho de espuma com ovos e desenvolvimento inicial dos girinos em câmara subterrânea construída; após inundação girinos exotróicos em água parada Ninho de espuma lutuante em pequena piscina construída; girinos exotróicos em água parada Ninho de espuma com ovos e desenvolvimento inicial dos girinos em câmara subterrânea construída; após inundação girinos exotróicos em água parada Ninho de espuma em câmara subterrânea construída; girinos endotróicos completam desenvolvimento no ninho Margem de brejos e lagoas em áreas abertas Brejos na borda e no interior de loresta Mata Atlântica e outros biomas Brejos na borda e no interior de loresta Mata Atlântica Brejos na borda e no interior de loresta Mata Atlântica Brejos na borda e no interior de loresta Mata Atlântica Ninho de espuma lutuante e girinos exotróicos em água parada Ninho de espuma lutuante ou na serapilheira úmida; girinos exotróicos em água parada Ninho de espuma lutuante e girinos exotróicos em água parada Ninho de espuma lutuante ou na serapilheira úmida; girinos exotróicos em água parada Brejos e poças no interior de loresta Mata Atlântica Brejos e poças no interior de loresta Mata Atlântica Brejos e poças no interior de loresta Mata Atlântica Brejos e poças no interior de loresta Mata Atlântica Mata Atlântica X X X X Physalemus obtectus Bokermann, 1966 X X Physalaemus signifer (Girard, 1853) (Figura 19) CERATOPHRYIDAE Ceratophrys aurita (Raddi, 1823) ODONTOPHRYNIDAE Proceratophrys laticeps Izecksohn & Peixoto, 1981 (Figura 21) BUFONIDAE Rhinella crucifer (Wied-Neuwied, 1821) (Figura 22) Rhinella granulosa (Spix, 1824) (Figura 23) Rhinella hoogmoedi (Caramaschi & Pombal, 2006) (Figura 24) Rhinella schneideri (Werner, 1894) (Figura 25) X X X X X Ovos e girinos exotróicos em água parada Brejos e poças no interior de loresta Mata Atlântica X X X Ovos e girinos exotróicos em água parada e/ou corrente Riachos temporários no interior de loresta Mata Atlântica X X X Margem de brejos em áreas abertas Mata Atlântica X X Ovos e girinos exotróicos em água parada e/ou corrente Ovos e girinos exotróicos em água parada Margem de brejos em áreas abertas Mata Atlântica e outros biomas X X X Ovos e girinos exotróicos em água parada Poças temporárias no interior de loresta Mata Atlântica X X X Ovos e girinos exotróicos em água parada e/ou corrente Margem de brejos em áreas abertas Mata Atlântica e outros biomas FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE FAMÍLIA / Espécie AROMOBATIDAE Allobates capixaba (Bokermann, 1967) (Figura 26) MICROHYLIDAE Arcovomer aff. passarelli Carvalho, 1954 Chiasmocleis capixaba Cruz, Caramaschi & Izecksohn, 1997 Chiasmocleis quilombola Tonini, Forlani & Sá, 2014 Chiasmocleis schubarti Bokermann, 1952 (Figura 27) Dasypops schirchi Miranda-Ribeiro, 1924 (Figura 28) Myersiella microps (Duméril & Bibron, 1841) Stereocyclops incrassatus Cope, 1870 (Figura 29) TOTAL L C X X X X X X X O Modo Reprodutivo Ambiente na RNV Distribuição Geográica (Endemismo) Serapilheira; ovos terrestres; girinos exotróicos carregados para água pelos adultos Margem de brejos no interior de loresta Mata Atlântica X X Ovos e girinos exotróicos em água parada Ovos e girinos exotróicos em água parada Margem de brejos no interior de loresta Margem de brejos no interior de loresta Mata Atlântica Mata Atlântica X X X X Ovos e girinos exotróicos em água parada Ovos e girinos exotróicos em água parada Margem de brejos no interior de loresta Margem de brejos no interior de loresta Mata Atlântica Mata Atlântica X X X Ovos e girinos exotróicos em água parada Floresta Mata Atlântica X X X Desenvolvimento direto de ovos terrestres Mata Atlântica X 40 X 50 X 55 Ovos e girinos exotróicos em água parada Serapilheira densa e úmida no interior de loresta Margem de brejos no interior de loresta GASPARINI ET AL. FAMÍLIA / Espécie Mata Atlântica ANFÍBIOS 383 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE PERSPECTIVAS FUTURAS PARA A CONSERVAÇÃO A importância bioecológica da região de Linhares e Sooretama para a conservação já era reconhecida desde o final da década de 1940 (Travassos & Freitas, 1948; Aguirre, 1951), bem como as ameaças à época, claramente pontuadas por Travassos (1945): “Atualmente se faz uma grande devastação nas matas do norte do Estado. Dada a natureza do solo e escassez da água, somente acessível nas profundas ravinas, a destruição das florestas do planalto transformará esta bela região do nosso País em um semi deserto sujeito ao flagelo das secas e das enxurradas violentas. Infelizmente ainda não compreendemos que se possa explorar uma floresta sem destruí-la inteiramente, reduzindo a cinzas o que não for muito lucrativo transportar. O mau hábito de se reduzir a pastos pobres, pela ação brutal do fogo, extensas zonas do País está cada vez mais prejudicando o clima e reduzindo o rendimento do solo em função da área ocupada. Se não se cuidar, quanto antes, de impedir o arrasamento total do revestimento florestal do norte do Espírito Santo, em 50 anos o teremos transformado em um novo nordeste com as calamidades das secas e de enchentes das baixadas pelo rápido escoamento das águas. As profundas ravinas no fundo das quais correm diminutos córregos demonstram o violento efeito das águas nas épocas anteriores a formação do revestimento florestal, produto paciente do trabalho milenar da natureza, e que o homem procura, com auxílio do fogo, destruir em algumas décadas”. Infelizmente, as sombrias previsões profeticamente listadas por Travassos se concretizaram no norte do estado e a cobertura florestal remanescente no Bloco LinharesSooretama mostra a importância da região para manutenção da diversidade e conservação de anfíbios, corroborada pelo fornecimento de material utilizado na descrição de várias espécies de anfíbios na RNV e em seu entorno, desde 1980. Atualmente, mesmo as espécies aparentemente protegidas no interior da 384 floresta estão suscetíveis aos efeitos da antropização ocorrida em todo o entorno do Bloco Linhares-Sooretama. Neste sentido, ressalta-se que o efeito da fragmentação dos ambientes sobre a riqueza de espécies de anfíbios em diferentes áreas de Mata Atlântica é mais grave para aquelas que dependem da água para reprodução – a maioria das espécies –, as quais são mais sensíveis à fragmentação em função dos riscos associados à maior distância entre os fragmentos e os corpos d’água (Becker et al., 2007). Além disso, os córregos e os rios que umidificam o Bloco Linhares-Sooretama estão represados em sua maioria e, cada vez mais, disputados em suas porções a montante do grande bloco florestal para irrigação de lavouras, criação de rebanhos e aquicultura (Sarmento-Soares & Martins-Pinheiro, 2014). Um risco adicional é a contaminação por defensivos agrícolas e fertilizantes, os quais são utilizados em culturas no entorno da RNV e da RBS. Se carreados para os corpos d’água que atravessam estas áreas, esses químicos podem comprometer, a longo prazo, os ambientes reprodutivos de várias espécies de anfíbios. Desta forma, o novo desafio para a conservação dos anfíbios nesse grande bloco florestal está, portanto, centrado na gestão e qualidade da água dos córregos e dos rios que vertem para esse importante remanescente de Mata Atlântica. Figura 1: A rãzinha-do-folhiço ou rã-da-mata (Haddadus binotatus) habita o solo da mata de tabuleiro. Vive na serapilheira onde deposita seus ovos que se desenvolvem de forma direta. Foto: J. L. Gasparini. GASPARINI ET AL. ANFÍBIOS Figura 2: A pererequinha Dendropsophus berthalutzae habita a copa das árvores e deposita seus ovos em folhas e galhos que pendem sobre poças temporárias no interior da mata. Fotos: J. L. Gasparini. Figura 3: Casal da pererequinha Dendropsophus branneri em amplexo axilar sobre vegetação marginal em brejo na RNV. Foto: J. L. Gasparini. Figura 4: Casal de perereca-de-moldura (Dendropsophus elegans) em amplexo axilar sobre vegetação marginal em brejo na RNV. Foto: J. L. Gasparini. 385 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Figura 5: Perereca-da-mata (Dendropsophus seniculus) - macho vocalizando e casal em amplexo axilar sobre vegetação. A espécie apresenta reprodução explosiva após as chuvas fortes na primavera e no verão. Foto: A. P. Almeida e J. L. Gasparini, respectivamente. Figura 6: Casal de perereca-paneleira ou sapo-ferreiro (Hypsiboas faber) em amplexo dentro de uma pequena piscina escavada pelo macho. Foto: J. L. Gasparini. Figura 7: A perereca Hypsiboas pombali habita brejos e poças dentro de porções lorestadas úmidas na RNV. Foto: J. L. Gasparini. 386 GASPARINI ET AL. ANFÍBIOS Figura 8: Perereca-das-bromélias (Phyllodytes kautskyi) - macho em vista lateral e dentro de bromélia arborícola, vocalizando para atrair alguma fêmea. Foto: J. L. Gasparini. Figura 9: A pererequinha-das-bromélias (Phyllodytes luteolus) habita bromélias terrestres onde passam todo o seu ciclo de vida. Foto: J. L. Gasparini. 387 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Figura 10: A perereca-cacarejo (Hypsiboas semilineatus) habita brejos em áreas abertas na RNV. Foto: J. L. Gasparini. Figura 11: Macho da perereca-verde ou perereca-macaco (Phyllomedusa burmeisteri) empoleirado em seu sítio de vocalização na mata, sendo parasitado por um mosquito hematófago. Foto: J. L. Gasparini. 388 GASPARINI ET AL. Figura 12: A pererequinha Scinax agilis habita bromélias nos campos nativos da RNV. Foto: J. L. Gasparini. ANFÍBIOS Figura 13: A pererequinha Scinax alter, comum na vegetação marginal de brejos em áreas abertas da RNV. Foto: J. L. Gasparini. Figura 14: Pererequinha Scinax argyreornatus - macho vocalizando e casal em amplexo axilar. Espécie comum que habita brejos em ambientes lorestados da RNV. Foto: J. L. Gasparini. 389 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Figura 15: A perereca-de-banheiro (Scinax fuscovarius) habita brejos em áreas abertas da RNV. Foto: J. L. Gasparini. Figura 16: A perereca-grudenta (Trachycephalus mesophaeus) lagrada ingerindo a própria pele morta. Foto: J. L. Gasparini. Figura 17: A rã-da-mata (Leptodactylus aff. mystacinus) habita a serapilheira onde escava tocas para se abrigar e se reproduzir nos períodos chuvosos. Foto: J. L. Gasparini. Figura 18: A rãzinha-pingo-dechuva (Leptodactylus natalensis) habita áreas lodosas nas margens de brejos em ambientes lorestados. Foto: J. L. Gasparini. 390 GASPARINI ET AL. ANFÍBIOS Figura 19: A rãzinha-seta (Physalemus signifer) habita o chão da mata e deposita seus ovos em ninhos de espuma dentro de pequenas poças d’água. Foto: J. L. Gasparini. Figura 20: A rãzinha-do-folhiço (Physalaemus aguirrei) vive no denso tapete de folhas acumuladas no chão da mata. Foto: J. L. Gasparini. Figura 21: A rãzinha-chifruda ou intanha-pequena (Proceratophrys laticeps) se camula entre as folhas mortas no chão da mata. Foto: J. L. Gasparini. 391 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Figura 22: O sapo-cururu ou sapo-comum (Rhinella crucifer) habita preferencialmente brejos em áreas abertas. Foto: J. L. Gasparini. Figura 23: Casal de sapinho-da-terra ou sapinhogranuloso (Rhinella granulosa) em amplexo axilar na RNV. Foto: J. L. Gasparini. Figura 24: O sapinho-da-mata ou sapinho-orelhudo (Rhinella hoogmoedi) habita porções úmidas e bem conservadas de mata na RNV. Foto: J. L. Gasparini. Figura 25: O sapo-cururuzão ou sapo-boi (Rhinella schneideri) se hidratando em poça formada em estrada de terra no interior da RNV. Foto: J. L. Gasparini. Figura 26: O sapinho-foguete (Allobates capixaba), espécie endêmica e ameaçada de extinção, habita o folhiço no chão da mata. Foto: J. L. Gasparini. 392 GASPARINI ET AL. ANFÍBIOS Figura 27: Fêmea ovígera de rãzinha-da-mata (Chiasmocleis schubarti), habitante do folhiço no chão da mata. Foto: J. L. Gasparini. Figura 28: A rã-toupeira ou rã-cara-de-porco (Dasypops schirchi) – imago e adulto, é uma espécie que escava galerias subterrâneas no chão da mata. Foto: J. L. Gasparini. 393 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Figura 29: A rã-folha ou rã-do-folhiço (Stereocyclops incrassatus) é uma espécie de hábitos fossoriais que se reproduz de forma explosiva após fortes chuvas. Foto: J. L. Gasparini. AGRADECIMENTOS As informações aqui apresentadas sobre a anurofauna da RNV e seu entorno são fruto de vários anos de pesquisas na região e que foram possíveis devido à colaboração de várias pessoas. Gostaríamos de externar nossos agradecimentos a A. C. Srbek-Araujo, L. Avelar, C. Kierulff e P. Soares, colaboradores em algum momento vinculados à Vale, e G. G. Sobrinho, E. Lima e A. Braga, do ICMBio/ RBS, por todo o apoio e estímulo à realização dos trabalhos. Aos amigos O. L. Peixoto e H. R. da Silva pela gentileza de enviarem a listagem revisada dos anfíbios provenientes da RNV depositados na coleção “Eugenio Izecksohn” da UFRRJ. Recebemos também, ao longo destes anos, diversas formas de apoio, seja por meio de orientações, recursos materiais ou auxílio nos trabalhos de campo. Desta forma, agradecemos a todos os amigos e colegas que colaboraram para a consolidação deste estudo, os quais são relacionados a seguir: A. Nunes, A. Gatti, B. Pimenta, O. L. Peixoto, C. A. 394 G. da Cruz, C. Paulino, D. Morellato, E. Izecksohn (in memorian), H. M. Oyamaguchi, I. Sazima, J. P. Pombal Jr., K. Zamudio, L. B. Nascimento, L. A. de Lima, M. Rocha, M. J. Unger, R. S. Bérnils, R. Lorenzutti, R. C. Bianchi, S. B. Lage, S. Vogel, V. Lopes e V. Boninsenha. Agradecemos também a cuidadosa revisão realizada por Daniel Loebmann e Pedro Luiz Peloso. Célio Haddad agradece ao auxílio #2013/50741-7, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e ao CNPq pela bolsa de Produtividade em Pesquisa. DEDICATÓRIA Este capítulo é dedicado à memória dos Drs. Werner Carlos Augusto Bokermann e Eugenio Izecksohn, pesquisadores de imensa importância para a herpetologia neotropical e que pesquisaram no Bloco Linhares-Sooretama; e também aos exalunos do Professor Eugenio Izecksohn - Drs. Oswaldo Luiz Peixoto, Carlos Alberto Gonçalves da GASPARINI ET AL. Cruz e Sérgio Potsch de Carvalho-e-Silva. Todos são importantes nomes da herpetologia brasileira e também pioneiros em pesquisas na RNV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aguirre, A.C. 1951. Sooretama - Estudo sobre o Parque de Reserva, Refúgio e criação de Animais Silvestres, “Sooretama”, no Município de Linhares, Estado do Espírito Santo. Rio de Janeiro, Ministério da Agricultura & Serviço de Informação Agrícola. Almeida, A.P. & Angulo, A.. 2006. 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Relatório da excursão do Instituto Oswaldo Cruz ao Parque de Reserva e Refúgio Sooretama, no Estado do Espirito Santo, em outubro de 1963. Boletim do Museu de Biologia Prof. Mello Leitão 23: 1–26. Wied-Neuwied, M.A.P. 1824. Abbildungen zur Naturgeschichte Brasiliens. Weimar, LandesIndustrie-Comptoir. FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE 24 A IMPORTÂNCIA DAS FLORESTAS DE TABULEIRO DO NORTE DO ESPÍRITO SANTO PARA A CONSERVAÇÃO DAS AVES DA MATA ATLÂNTICA Luís Fábio Silveira & Gustavo Rodrigues Magnago INTRODUÇÃO A ocupação do território e a riqueza da Mata Atlântica A Mata Atlântica foi a primeira formação vegetal do Novo Mundo com a qual os descobridores portugueses entraram em contato na América do Sul, no começo do século XVI, e, por quase dois séculos, permaneceu como a única porção do território mais intensamente desbravada pela Metrópole. Partindo do sul da Bahia, a exploração desse bioma deu-se muito lentamente a partir de núcleos instalados pelos portugueses nos atuais estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Pernambuco. A rendosa exploração do paubrasil, árvore que emprestou o seu nome ao país recém-descoberto (Ferraz, 1939; Barroso, 1941), atraiu a atenção de outros países europeus, que rapidamente empreenderam missões com o objetivo de instalar colônias na costa brasileira. Entre estas, destaca-se a malsucedida colônia francesa no Rio de Janeiro (a “França Antártica”) e a razoavelmente duradoura colônia holandesa no nordeste que, junto com a Companhia das Índias Ocidentais, dominou uma ampla área de Mata Atlântica ao norte do rio São Francisco, especializando-se na produção de açúcar. O Brasil demorou séculos para efetivamente colonizar seu interior e a sua porção setentrional. A abundância e a facilidade inicial da extração do pau-brasil, além das muitas riquezas naturais da Mata Atlântica, a instalação estratégica das primeiras cidades no litoral, a descoberta de ouro e diamantes em Minas Gerais e a instalação da Família Real Portuguesa no Rio de Janeiro, este último fato em 1808, mantiveram o eixo do desenvolvimento econômico sobre o bioma. Nele hoje se assentam cerca de 70% da população brasileira, sete das 10 cidades mais populosas do país e 11 das 17 cidades com mais de um milhão de habitantes no Brasil, onde, apenas nestas, vivem cerca de 34 milhões de pessoas (Galindo-Leal & Câmara, 2005; IBGE, 2013). Não é difícil imaginar a imensa e constante pressão sobre os recursos naturais, bióticos e abióticos, deste bioma. Originalmente, a Mata Atlântica se distribuía de forma ininterrupta desde 3º de latitude sul, até aproximadamente 30º de latitude sul, ocupando, em sua largura máxima, pouco mais de 800 km em direção ao interior (e chegando até a Argentina e o Paraguai), cobrindo uma área de aproximadamente 1.315.500 km2 que originalmente abrangiam desde áreas ao nível do mar até quase 3.000 metros de altitude. A Mata Atlântica é também cortada por alguns dos principais rios da América do Sul, como o São Francisco, o Paraná, o Paraíba do Sul, o Tietê, 397 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE o Iguaçu e o Doce. Esse bioma foi, especialmente durante o século XX, criminosamente dizimado para dar lugar às mais diversas atividades humanas. Como resultado, da Mata Atlântica restam apenas cerca de 12% da sua extensão lorestal original, em sua maior parte representada por remanescentes isolados e com tamanhos e formatos muito distintos (Ribeiro et al., 2009; Fsosma & Inpe, 2014). Algumas regiões, como as lorestas ao norte do rio São Francisco, não possuem mais de 4% da sua extensão original, e a funcionalidade do bioma nesta área está à beira do colapso, com as primeiras extinções sendo registradas recentemente (Pereira et al., 2014) em uma onda que não dá sinais de que vá arrefecer ou perder a intensidade. Contrastando com o elevado grau de ameaça, a Mata Atlântica é considerada uma das áreas mais diversas e ricas em espécies de todo o planeta. Silva & Casteleti (2003) estimam que na Mata Atlântica ocorram entre 1 e 8% de todas as espécies do planeta, enquanto o Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2000) lista para o bioma mais de 20.000 espécies de plantas vasculares, mais de 1.000 espécies de aves, 350 de peixes de água doce, 340 de anfíbios, 250 de mamíferos e cerca de 200 espécies de répteis. Todos estes grupos apresentam também um elevado número de espécies endêmicas, além de uma grande proporção de espécies também consideradas ameaçadas de extinção. A elevada riqueza de espécies, incluindo aí o grande número de espécies exclusivas deste bioma, aliado ao seu alto grau de devastação e ameaça, colocam a Mata Atlântica como um dos biomas prioritários para a conservação da biodiversidade no planeta (Eken et al., 2004; Mittermeier et al., 2004). A riqueza e a diversidade de espécies atualmente encontradas na Mata Atlântica são o resultado visível e palpável de milhões de anos de evolução, onde eventos de isolamento e de encontro com a Amazônia, de interação com outros biomas (adjacentes ou não) e de adaptações aos distintos ambientes e às diferentes condições climáticas e topográicas, proporcionaram os elementos necessários para que milhares de espécies hoje habitem esse bioma. Como resultado das complexas histórias evolutivas ali ocorridas, a fauna e a lora da Mata Atlântica não estão uniformemente distribuídas, existindo regiões com espécies animais 398 e vegetais particulares, únicas e insubstituíveis. As Florestas de Tabuleiro As lorestas de baixada ou de tabuleiros são aquelas que se distribuem do nível do mar até cerca de 100 m de altitude e, graças à sua facilidade de acesso, foram as primeiras exploradas e desmatadas pelos colonizadores. Os pioneiros caminhos que ligavam os núcleos habitacionais no início do povoamento do Brasil pelos portugueses, com exceção da penosa subida da Serra do Mar, entre São Vicente e São Paulo, davam-se principalmente através das lorestas de baixada. Desta forma, não é difícil imaginar que estas lorestas também foram as mais rapidamente suprimidas, tornando-se, atualmente, extremamente raras. Após a retirada da madeira, seguiu-se a ocupação das terras por atividades agrícolas e pastagens e, em alguns locais nas baixadas, estas deram lugar, mais recentemente, a grandes projetos de relorestamento para produção de celulose e carvão. É nesse contexto de alto grau de devastação das lorestas de tabuleiro, associado a altos níveis de diversidade e endemismo, que se situa a Reserva Natural Vale (RNV). A RNV localiza-se entre os municípios de Linhares e Jaguaré, ao norte do Espírito Santo. Possui 22.711 ha de extensão e é coberta principalmente por lorestas de tabuleiro, contando com uma menor porção de muçunungas e de campos nativos. É também adjacente à Reserva Biológica de Sooretama (RBS), que soma 24.000 ha. Estas duas reservas, adicionadas a outras duas reservas privadas da região, a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Mutum-Preto (379 ha) e a RPPN Recanto das Antas (2.212 ha), formam um bloco com cerca de 50.000 ha de vegetação nativa (Srbek-Araujo et al., 2014) e constituem o maior e mais valioso remanescente de loresta de baixada do bioma Mata Atlântica. A descoberta das aves brasileiras e da região de Linhares As aves compõem o grupo mais conhecido e popular de todos os animais. Por serem em sua maioria diurnas, de fácil observação e por chamarem a atenção por causa da plumagem e diferentes cantos, sempre foram objeto de muita atenção e de muitos estudos. Não causa surpresa SILVEIRA & MAGNAGO que, entre os primeiros animais brasileiros a serem descritos por Pero Vaz Caminha, em 1500, tenha igurado a arara-vermelha-grande (Ara chloropterus) e que entre as provas da descoberta do Novo Mundo pelos portugueses encontravamse araras e papagaios. Estes foram levados para Lisboa na nau comandada por Gaspar de Lemos, enquanto Pedro Álvares Cabral, Pero Vaz de Caminha e a maior parte da frota continuavam a viagem originalmente destinada à Índia. Graças às decisões portuguesas sobre as estratégias de colonização do Brasil, os recursos naturais e a fauna e lora brasileiras permaneceram muito pouco conhecidos (até mesmo e, paradoxalmente, pelos próprios portugueses) até a chegada da Família Real Portuguesa, em 1808, com a consequente e inevitável abertura dos portos às nações amigas (Schwarcz & Starling, 2015). Excetuado pelo breve período da ocupação holandesa no nordeste brasileiro, o país permaneceu historicamente fechado aos pesquisadores e estudiosos durante três séculos, com uma enorme extensão territorial completamente inexplorada e com sua biodiversidade inalterada. Até que, de repente, abre-se a oportunidade para ser, inalmente, estudado. Quem, tendo a oportunidade, não iria tentar gravar para sempre o seu nome na história da ciência apresentando para o mundo as novidades de um novo e desconhecido país? O Brasil, a partir da abertura dos portos, foi invadido por pesquisadores, principalmente alemães e austríacos, também impulsionados pelo grupo que veio acompanhando a arquiduquesa Maria Leopoldina, entusiasta das ciências naturais e recém-casada (por procuração) com o Príncipe Dom Pedro. É fato curioso e ainda muito pouco explorado pelos pesquisadores contemporâneos, o baixo número de ingleses pesquisando o Brasil. Estes, tal qual os alemães e austríacos, historicamente sempre se interessaram pela exploração cientíica e, aliados de primeira hora dos portugueses, estranhamente não se aproveitaram da oportunidade de explorar cientiicamente o Brasil antes dos cientistas de outros países. A invasão de pesquisadores que se sucedeu após a abertura dos portos foi, como se esperava, altamente benéica para o conhecimento da nossa biodiversidade. A porta de entrada no Brasil foi AVES a cidade do Rio de Janeiro. Logo, as primeiras explorações cientíicas começaram exatamente no bioma Mata Atlântica. Naturalistas célebres, como o Barão Georg Heinrich von Langsdorff, Friedrich Sellow, Johann Natterer, Johann Baptist von Spix e Carl von Martius, escreveram seu nome na história ao perscrutar, enfrentando as mais duras condições, uma parte importante do Brasil, contribuindo de forma inestimável para o conhecimento das nossas riquezas naturais em um momento em que as atividades humanas ainda não haviam impactado signiicativamente o nosso meio ambiente. O primeiro naturalista que percorreu a região de Linhares, quando esta ainda era um pequeno povoado, foi o célebre Príncipe Alexander Philipp Maximilian zu Wied-Neuwied, explorador alemão que se interessava não apenas pela fauna e lora, mas também com uma marcante atuação no campo da etnologia. O Príncipe desembarcou na cidade do Rio de Janeiro, em 1815, embarcando em Salvador para voltar à Alemanha, em 1817. Durante os dois anos em que permaneceu no Brasil, Wied trabalhou especialmente na Mata Atlântica de baixada, com breves incursões na Caatinga e no Cerrado. Ele passou pela região de Linhares em dezembro de 1815, onde registrou diversas espécies de aves. Durante os quase 100 anos subsequentes, esta região permanece sem qualquer exploração relevante, até que Ernst Garbe, naturalista-viajante do Museu Paulista (hoje Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo – MZUSP), percorreu a região em diversas viagens empreendidas nos anos de 1905, 1906, 1908, 1909 e 1926, coletando exemplares para este museu (Paynter & Traylor, 1991). Regiões próximas à RNV, igualmente ricas e desconhecidas, foram exploradas por outros naturalistas e coletores. A Lagoa Juparanã foi amostrada também por Ernst Garbe, em 1906, bem como pela ornitóloga alemã Emilia Snethlage (1925) e pelo naturalista alemão Emil Kaempfer (1929). Inventários mais detalhados na região onde se situa a RNV foram desenvolvidos pelos ornitólogos Adolf Schneider e Helmut Sick (19391942) e por Olivério Pinto (1942). A RBS foi também explorada, entre outros, por Álvaro Aguirre (entre 1939 e 1970), Helmut Sick (1954, 1961 e 1977) e, mais modernamente, por Dante 399 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Teixeira e David Snow (1979), Nigel Collar e Luiz Pedreira Gonzaga (1981) e Luiz Pedreira Gonzaga (1986) (Paynter & Traylor, 1991). Embora a região próxima à RNV fosse bastante explorada e razoavelmente bem conhecida, por outro lado, a própria RNV permanecia até mais recentemente como o “segredo mais bem guardado do Brasil” (Collar, 1985). Este capítulo tem como objetivo caracterizar a avifauna da RNV, com base em dados coletados ao longo dos últimos anos por diversos pesquisadores, destacando as espécies raras e ameaçadas de extinção com ocorrência conirmada para esta localidade. MATERIAL E MÉTODOS A lista das espécies de aves presentes na RNV foi elaborada a partir de consultas a artigos cientíicos, relatórios não publicados e dados de visitas feitas pelos autores e por outros pesquisadores. Os dados compilados, bem como detalhes da metodologia, são apresentados em Srbek-Araujo et al. (2014). RESULTADOS E DISCUSSÃO A exploração ornitológica da RNV começa apenas em meados da década de 1980. Diferentemente do observado nas regiões adjacentes à RNV, em que os registros das aves foram baseados principalmente na coleta de espécimes depositados em museus de história natural, o conhecimento sobre a avifauna da RNV está fundamentado principalmente em registros que não envolvem a coleta de exemplares. Desta forma, torna-se necessário, no futuro, uma melhor documentação das espécies, preferencialmente envolvendo a coleta de material testemunho, para proporcionar um reinamento dos estudos de taxonomia, sistemática e conservação das aves da Mata Atlântica. Segundo Srbek-Araujo et al. (2014), são confirmadas 391 espécies de aves para a RNV, o que representa 44% das aves registradas na Mata Atlântica, 21% das aves que ocorrem no Brasil e 60% do número de espécies que ocorrem no Espírito Santo. Além disso, na RNV já foram registrados 37 táxons endêmicos do Brasil, 51 ameaçados em nível estadual 400 e o impressionante número de 28 táxons considerados ameaçados nacionalmente (Tabela 1, para detalhes, ver Srbek-Araujo et al., 2014), bem como populações de espécies atualmente muito raras na Mata Atlântica, como o mutumdo-sudeste (Crax blumenbachi), o jacu-estalo (Neomorphus geoffroyi dulcis), o papagaiochauá (Amazona rhodocorytha) e o urutau-deasa-branca (Nyctibius leucopterus), reforçando a singularidade e a importância desta Floresta de Tabuleiro para a conservação das aves do bioma Mata Atlântica. Certamente, a RNV é uma das áreas no Brasil que abriga o maior número de aves ameaçadas de extinção em qualquer um dos biomas existentes no país. Além disso, as raríssimas Unidades de Conservação (UCs) onde ainda ocorrem florestas de tabuleiro apresentam número total de espécies inferior ao encontrado na RNV. No Espírito Santo, a RBS abriga 286 espécies, enquanto na Reserva Biológica de Una, na Bahia, já foram registradas 333 espécies. Outros remanescentes importantes, localizados no Rio de Janeiro, abrigam 275 espécies (Reserva Biológica de Poço das Antas) e 225 espécies (Reserva Biológica União) (Srbek-Araujo et al., 2014). Deve ser ressaltado, entretanto, que o tamanho desses fragmentos, seu estado de conservação e os esforços de amostragem são muito distintos entre as áreas citadas, o que pode influenciar no número de espécies registradas em cada uma destas localidades até o momento. A lista de aves da RNV começou a ser construída a partir das observações feitas tanto por ornitólogos brasileiros quanto por observadores de aves nativos e estrangeiros que, a partir da década de 1980, vêm frequentando de forma assistemática a Reserva. A RNV foi visitada por centenas de observadores de aves, bem como por ornitólogos, sendo um destino obrigatório e mundialmente reconhecido por aqueles que desejam conhecer melhor a avifauna de baixada da Mata Atlântica (Srbek-Araujo et al., 2014). Entre aqueles que contribuíram com suas observações para o conhecimento das espécies da RNV, destacam-se Derek Scott, Mike Brooke, Nigel Collar, Luiz Pedreira Gonzaga, José Fernando Pacheco e Paulo Sergio M. da Fonseca. Espécie Tinamiformes Huxley, 1872 Tinamidae Gray, 1840 Tinamus solitarius (Vieillot, 1819) Crypturellus soui (Hermann, 1783) Nome Popular em Português Nome Popular em Inglês End Status de Ameaça Estadual1 Nacional2 Registro macuco tururim Solitary Tinamou Little Tinamou Crypturellus noctivagus (Wied, 1820) Crypturellus variegatus (Gmelin, 1789) Crypturellus parvirostris (Wagler, 1827) Crypturellus tataupa (Temminck, 1815) Rhynchotus rufescens (Temminck, 1815) Anseriformes Linnaeus, 1758 Anatidae Leach, 1820 Dendrocygninae Reichenbach, 1850 Dendrocygna viduata (Linnaeus, 1766) Dendrocygna autumnalis (Linnaeus, 1758) jaó-do-sul inhambu-anhangá inhambu-chororó inhambu-chintã perdiz Yellow-legged Tinamou Variegated Tinamou Small-billed Tinamou Tataupa Tinamou Red-winged Tinamou irerê asa-branca White-faced Whistling-Duck Black-bellied Whistling-Duck F, M F, M Cairina moschata (Linnaeus, 1758) Sarkidiornis sylvicola Ihering & Ihering, 1907 Amazonetta brasiliensis (Gmelin, 1789) Anas bahamensis Linnaeus, 1758 Netta erythrophthalma (Wied, 1832) Galliformes Linnaeus, 1758 Cracidae Rainesque, 1815 Penelope superciliaris Temminck, 1815 Ortalis araucuan (Spix, 1825) pato-do-mato pato-de-crista pé-vermelho marreca-toicinho paturi-preta Muscovy Duck Comb Duck Brazilian Teal White-cheeked Pintail Southern Pochard F, M F, M F, M F F jacupemba aracuã-de-barriga-branca Rusty-margined Guan East Brazilian Chachalaca X mutum-de-bico-vermelho Red-billed Curassow X uru Spot-winged Wood-Quail Crax blumenbachii Spix, 1825 Odontophoridae Gould, 1844 Odontophorus capueira (Spix, 1825) CR X CR EN SILVEIRA & MAGNAGO Tabela 1: Aves com ocorrência conirmada para a Reserva Natural Vale (Linhares/ES), sudeste do Brasil (baseado em dados apresentados em SrbekAraujo et al., 2014). Legenda: Endemismo (End). Status de Ameaça: VU = Vulnerável; EN = Em Perigo; CR = Criticamente em Perigo; RE = Regionalmente Extinta. Documentação do Registro - F = Registro Fotográico; G = Gravação de Vocalização; M = Observado por múltiplos observadores/pesquisadores e em diferentes ocasiões; A = Registrado por vocalização (registro auditivo sem gravação); O = Observado por apenas um observador/pesquisador. 1 Espécies ameaçadas em nível estadual conforme Simon et al. (2007). 2 Espécies ameaçadas em nível nacional segundo MMA (2014). F, G, M F, G, M VU F, G, M G, M G, M G, M G, M F, M F, G, M CR EN CR F, G, M G, M AVES 401 402 Podicipediformes Fürbringer, 1888 Podicipedidae Bonaparte, 1831 Tachybaptus dominicus (Linnaeus, 1766) Podilymbus podiceps (Linnaeus, 1758) Ciconiiformes Bonaparte, 1854 Ciconiidae Sundevall, 1836 Ciconia maguari (Gmelin, 1789) Suliformes Sharpe, 1891 Fregatidae Degland & Gerbe, 1867 Fregata magnificens Mathews, 1914 Phalacrocoracidae Reichenbach, 1849 Phalacrocorax brasilianus (Gmelin, 1789) Anhingidae Reichenbach, 1849 Anhinga anhinga (Linnaeus, 1766) Pelecaniformes Sharpe, 1891 Ardeidae Leach, 1820 Tigrisoma lineatum (Boddaert, 1783) Cochlearius cochlearius (Linnaeus, 1766) Botaurus pinnatus (Wagler, 1829) Ixobrychus exilis (Gmelin, 1789) Nycticorax nycticorax (Linnaeus, 1758) Butorides striata (Linnaeus, 1758) Bubulcus ibis (Linnaeus, 1758) Ardea cocoi Linnaeus, 1766 Ardea alba Linnaeus, 1758 Pilherodius pileatus (Boddaert, 1783) Egretta thula (Molina, 1782) Egretta caerulea (Linnaeus, 1758) Threskiornithidae Poche, 1904 Mesembrinibis cayennensis (Gmelin, 1789) Platalea ajaja Linnaeus, 1758 Cathartiformes Seebohm, 1890 Cathartidae Lafresnaye, 1839 Cathartes aura (Linnaeus, 1758) Cathartes burrovianus Cassin, 1845 Coragyps atratus (Bechstein, 1793) Nome Popular em Português Nome Popular em Inglês End Status de Ameaça Estadual1 Nacional2 Registro mergulhão-pequeno Least Grebe M mergulhão-caçador Pied-billed Grebe F, M maguari Maguari Stork tesourão Magniicent Frigatebird M biguá Neotropic Cormorant F, M biguatinga Anhinga F, M socó-boi arapapá socó-boi-baio socoí-vermelho savacu socozinho Rufescent Tiger-Heron Boat-billed Heron Pinnated Bittern Least Bittern Black-crowned Night-Heron Striated Heron F, M F F O F, M F, M garça-vaqueira garça-moura garça-branca-grande garça-real garça-branca-pequena garça-azul Cattle Egret Cocoi Heron Great Egret Capped Heron Snowy Egret Little Blue Heron F, M F, M F, M F, M F, M F, M coró-coró colhereiro Green Ibis Roseate Spoonbill CR RE F, M O F urubu-de-cabeça-vermelha Turkey Vulture F, M urubu-de-cabeça-amarela urubu-de-cabeça-preta Lesser Yellow-headed Vulture Black Vulture F, M F, M FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Espécie Sarcoramphus papa (Linnaeus, 1758) Accipitriformes Bonaparte, 1831 Pandionidae Bonaparte, 1854 Pandion haliaetus (Linnaeus, 1758) Nome Popular em Português Nome Popular em Inglês End Status de Ameaça Nacional2 Estadual1 VU Registro urubu-rei King Vulture F, M águia-pescadora Osprey F, M gavião-de-cabeça-cinza caracoleiro gavião-tesoura gaviãozinho Gray-headed Kite Hook-billed Kite Swallow-tailed Kite Pearl Kite F, G, M F, M F, M O gavião-peneira gavião-ripina gavião-bombachinha gavião-do-banhado White-tailed Kite Double-toothed Kite Rufous-thighed Kite Long-winged Harrier M F, M F, M O sovi gavião-caramujeiro gavião-pernilongo gavião-caboclo gavião-pombo-pequeno gavião-preto gavião-carijó gavião-de-rabo-branco gavião-pedrês gavião-de-cauda-curta Plumbeous Kite Snail Kite Crane Hawk Savanna Hawk White-necked Hawk Great Black-Hawk Roadside Hawk White-tailed Hawk Gray Hawk Short-tailed Hawk gavião-de-rabo-barrado gavião-real gavião-pega-macaco gavião-pato gavião-de-penacho Zone-tailed Hawk Harpy Eagle Black Hawk-Eagle Black-and-white Hawk-Eagle Ornate Hawk-Eagle carão Limpkin F, G, M saracura-três-potes saracura-do-mato saracura-lisa sanã-castanha Gray-necked Wood-Rail Slaty-breasted Wood-Rail Uniform Crake Russet-crowned Crake F, M O F, G, M F, G, M SILVEIRA & MAGNAGO Espécie Accipitridae Vigors, 1824 Leptodon cayanensis (Latham, 1790) Chondrohierax uncinatus (Temminck, 1822) Elanoides forficatus (Linnaeus, 1758) Gampsonyx swainsonii Vigors, 1825 Elanus leucurus (Vieillot, 1818) Harpagus bidentatus (Latham, 1790) Harpagus diodon (Temminck, 1823) Circus buffoni (Gmelin, 1788) Ictinia plumbea (Gmelin, 1788) Rostrhamus sociabilis (Vieillot, 1817) Geranospiza caerulescens (Vieillot, 1817) Heterospizias meridionalis (Latham, 1790) Amadonastur lacernulatus (Temminck, 1827) Urubitinga urubitinga (Gmelin, 1788) Rupornis magnirostris (Gmelin, 1788) Geranoaetus albicaudatus (Vieillot, 1816) Buteo nitidus (Latham, 1790) Buteo brachyurus Vieillot, 1816 Buteo albonotatus Kaup, 1847 Harpia harpyja (Linnaeus, 1758) Spizaetus tyrannus (Wied, 1820) Spizaetus melanoleucus (Vieillot, 1816) Spizaetus ornatus (Daudin, 1800) Gruiformes Bonaparte, 1854 Aramidae Bonaparte, 1852 Aramus guarauna (Linnaeus, 1766) Rallidae Rainesque, 1815 X VU VU CR VU VU CR VU F, M F, M F, M F, M F, M M F, M F, M F, M F, M O F, G, M M F, M F, M AVES Aramides cajaneus (Statius Muller, 1776) Aramides saracura (Spix, 1825) Amaurolimnas concolor (Gosse, 1847) Laterallus viridis (Statius Muller, 1776) VU 403 404 Laterallus melanophaius (Vieillot, 1819) Laterallus exilis (Temminck, 1831) Porzana albicollis (Vieillot, 1819) Pardirallus nigricans (Vieillot, 1819) Gallinula galeata (Lichtenstein, 1818) Porphyrio martinicus (Linnaeus, 1766) Charadriiformes Huxley, 1867 Nome Popular em Português Nome Popular em Inglês End Status de Ameaça Estadual1 Nacional2 Registro sanã-parda sanã-do-capim sanã-carijó Rufous-sided Crake Gray-breasted Crake Ash-throated Crake F, G, M O G, M saracura-sanã frango-d’água-comum frango-d’água-azul Blackish Rail Common Gallinule Purple Gallinule M F, M F, M batuíra-de-esporão quero-quero batuiruçu-de-axila-preta batuíra-de-coleira Pied Lapwing Southern Lapwing Black-bellied Plover Collared Plover F F, M F F pernilongo-de-costas-brancas White-backed Stilt F maçarico-solitário vira-pedras Solitary Sandpiper Ruddy Turnstone F F maçarico-branco Sanderling F jaçanã Wattled Jacana F, G, M trinta-réis-grande Large-billed Tern F rolinha-de-asa-canela rolinha-roxa Plain-breasted Ground-Dove Ruddy Ground-Dove M F, M fogo-apagou rolinha-picui pararu-azul pomba-trocal pombão pomba-galega pomba-de-bando juriti-pupu juriti-gemedeira juriti-vermelha Scaled Dove Picui Ground-Dove Blue Ground-Dove Scaled Pigeon Picazuro Pigeon Pale-vented Pigeon Eared Dove White-tipped Dove Gray-fronted Dove Violaceous Quail-Dove F, G, M F, M F, G, M F, G, M F, G, M F, M F F, G, M F, M M Charadriidae Leach, 1820 Vanellus cayanus (Latham, 1790) Vanellus chilensis (Molina, 1782) Pluvialis squatarola (Linnaeus, 1758) Charadrius collaris Vieillot, 1818 Recurvirostridae Bonaparte, 1831 Himantopus melanurus Vieillot, 1817 Scolopacidae Rainesque, 1815 Tringa solitaria Wilson, 1813 Arenaria interpres (Linnaeus, 1758) Calidris alba (Pallas, 1764) Jacanidae Chenu & Des Murs, 1854 Jacana jacana (Linnaeus, 1766) Sternidae Vigors, 1825 Phaetusa simplex (Gmelin, 1789) Columbiformes Latham, 1790 Columbidae Leach, 1820 Columbina minuta (Linnaeus, 1766) Columbina talpacoti (Temminck, 1811) Columbina squammata (Lesson, 1831) Columbina picui (Temminck, 1813) Claravis pretiosa (Ferrari-Perez, 1886) Patagioenas speciosa (Gmelin, 1789) Patagioenas picazuro (Temminck, 1813) Patagioenas cayennensis (Bonnaterre, 1792) Zenaida auriculata (Des Murs, 1847) Leptotila verreauxi Bonaparte, 1855 Leptotila rufaxilla (Richard & Bernard, 1792) Geotrygon violacea (Temminck, 1809) CR FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Espécie Geotrygon montana (Linnaeus, 1758) Cuculiformes Wagler, 1830 Cuculidae Leach, 1820 Piaya cayana (Linnaeus, 1766) Coccyzus melacoryphus Vieillot, 1817 Coccyzus euleri Cabanis, 1873 Crotophaga major Gmelin, 1788 Crotophaga ani Linnaeus, 1758 Guira guira (Gmelin, 1788) Tapera naevia (Linnaeus, 1766) Neomorphus geoffroyi (Temminck, 1820) Strigiformes Wagler, 1830 Tytonidae Mathews, 1912 Tyto furcata (Temminck, 1827) Strigidae Leach, 1820 Megascops choliba (Vieillot, 1817) Megascops atricapilla (Temminck, 1822) Pulsatrix koeniswaldiana (Bertoni & Bertoni, 1901) Bubo virginianus (Gmelin, 1788) Strix virgata (Cassin, 1849) Strix huhula Daudin, 1800 Glaucidium minutissimum (Wied, 1830) Glaucidium brasilianum (Gmelin, 1788) Athene cunicularia (Molina, 1782) Asio clamator (Vieillot, 1808) Nyctibiiformes Yuri, Kimball, Harshman, Bowie, Braun, Chojnowski, Han, Hackett, Huddleston, Moore, Reddy, Sheldon, Steadman, Witt & Braun, 2013 Nome Popular em Inglês End Status de Ameaça Nacional2 Estadual1 Registro pariri Ruddy Quail-Dove F, M alma-de-gato papa-lagarta-acanelado papa-lagarta-de-euler anu-coroca Squirrel Cuckoo Dark-billed Cuckoo Pearly-breasted Cuckoo Greater Ani F, G, M F, M F, M F, G, M anu-preto anu-branco Smooth-billed Ani Guira Cuckoo F, G, M F, G, M saci jacu-estalo Striped Cuckoo Rufous-vented Ground-Cuckoo coruja-da-igreja American Barn Owl F, M corujinha-do-mato corujinha-sapo murucututu-de-barriga-amarela Tropical Screech-Owl Black-capped Screech-Owl Tawny-browed Owl F, M F, G, M F, G, M jacurutu coruja-do-mato coruja-preta caburé-miudinho caburé coruja-buraqueira coruja-orelhuda Great Horned Owl Mottled Owl Black-banded Owl Least Pygmy-Owl Ferruginous Pygmy-Owl Burrowing Owl Striped Owl O F, G, M F, M F, G, M F, G, M F, M O mãe-da-lua-gigante mãe-da-lua-parda mãe-da-lua urutau-de-asa-branca Great Potoo Long-tailed Potoo Common Potoo White-winged Potoo bacurau-ocelado Ocellated Poorwill CR VU EN VU VU CR VU EN CR F, G, M F, M F, G, M F, M F, G, M F, G F, G, M AVES Nyctibiidae Chenu & Des Murs, 1851 Nyctibius grandis (Gmelin, 1789) Nyctibius aethereus (Wied, 1820) Nyctibius griseus (Gmelin, 1789) Nyctibius leucopterus (Wied, 1821) Caprimulgiformes Ridgway, 1881 Caprimulgidae Vigors, 1825 Nyctiphrynus ocellatus (Tschudi, 1844) Nome Popular em Português SILVEIRA & MAGNAGO Espécie 405 406 Lurocalis semitorquatus (Gmelin, 1789) Nyctidromus albicollis (Gmelin, 1789) Hydropsalis torquata (Gmelin, 1789) Nome Popular em Português Nome Popular em Inglês End Status de Ameaça Estadual1 Nacional2 Registro tuju bacurau bacurau-tesoura Short-tailed Nighthawk Pauraque Scissor-tailed Nightjar G, M F, G, M F, M Chordeiles acutipennis (Hermann, 1783) Apodiformes Peters, 1940 Apodidae Olphe-Galliard, 1887 Streptoprocne zonaris (Shaw, 1796) bacurau-de-asa-ina Lesser Nighthawk F, M taperuçu-de-coleira-branca White-collared Swift A, M Chaetura cinereiventris Sclater, 1862 andorinhão-de-sobre-cinzento Gray-rumped Swift F, M andorinhão-do-temporal andorinhão-do-buriti andorinhão-estofador Sick’s Swift Fork-tailed Palm-Swift Lesser Swallow-tailed Swift A, M O O balança-rabo-canela balança-rabo-de-bico-torto rabo-branco-mirim rabo-branco-rubro beija-lor-tesoura Hook-billed Hermit Rufous-breasted Hermit Minute Hermit Reddish Hermit Swallow-tailed Hummingbird beija-lor-cinza beija-lor-preto beija-lor-de-veste-preta beija-lor-vermelho beija-lor-de-garganta-azul besourinho-de-bico-vermelho beija-lor-de-fronte-violeta beija-lor-saira beija-lor-roxo Sombre Hummingbird Black Jacobin Black-throated Mango Ruby-topaz Hummingbird Blue-chinned Sapphire Glittering-bellied Emerald Violet-capped Woodnymph Rufous-throated Sapphire White-chinned Sapphire O F, M F, M M F, M F, M F, M F, M F, G, M beija-lor-de-bico-curvo beija-lor-de-barriga-branca beija-lor-de-banda-branca beija-lor-de-garganta-verde beija-lor-de-peito-azul estrelinha-ametista White-tailed Goldenthroat Plain-bellied Emerald Versicolored Emerald Glittering-throated Emerald Sapphire-spangled Emerald Amethyst Woodstar F, M F F, M F, M O O surucuá-grande-de-barriga-amarela surucuá-de-coleira White-tailed Trogon Collared Trogon Chaetura meridionalis Hellmayr, 1907 Tachornis squamata (Cassin, 1853) Panyptila cayennensis (Gmelin, 1789) Trochilidae Vigors, 1825 Glaucis dohrnii (Bourcier & Mulsant, 1852) Glaucis hirsutus (Gmelin, 1788) Phaethornis idaliae (Bourcier & Mulsant, 1856) Phaethornis ruber (Linnaeus, 1758) Eupetomena macroura (Gmelin, 1788) Aphantochroa cirrochloris (Vieillot, 1818) Florisuga fusca (Vieillot, 1817) Anthracothorax nigricollis (Vieillot, 1817) Chrysolampis mosquitus (Linnaeus, 1758) Chlorestes notata (Reich, 1793) Chlorostilbon lucidus (Shaw, 1812) Thalurania glaucopis (Gmelin, 1788) Hylocharis sapphirina (Gmelin, 1788) Hylocharis cyanus (Vieillot, 1818) Polytmus guainumbi (Pallas, 1764) Amazilia leucogaster (Gmelin, 1788) Amazilia versicolor (Vieillot, 1818) Amazilia fimbriata (Gmelin, 1788) Amazilia lactea (Lesson, 1832) Calliphlox amethystina (Boddaert, 1783) Trogoniformes A. O. U., 1886 Trogonidae Lesson, 1828 Trogon viridis Linnaeus, 1766 Trogon collaris Vieillot, 1817 EN X CR EN X EN EN O F, M F, G, M M F, M F, G, M F, G, M FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Espécie Nome Popular em Português Nome Popular em Inglês End Status de Ameaça Nacional2 Estadual1 Registro Coraciiformes Forbes, 1844 Alcedinidae Rainesque, 1815 Megaceryle torquata (Linnaeus, 1766) Chloroceryle amazona (Latham, 1790) martim-pescador-grande martim-pescador-verde Ringed Kingisher F, M Amazon Kingisher F, M Chloroceryle americana (Gmelin, 1788) martim-pescador-pequeno Green Kingisher M juruva-verde Rufous-capped Motmot M ariramba-de-cauda-ruiva Rufous-tailed Jacamar F, G, M macuru-de-barriga-castanha barbudo-rajado Buff-bellied Puffbird Crescent-chested Puffbird chora-chuva-de-cara-branca urubuzinho White-fronted Nunbird Swallow-winged Puffbird Momotidae Gray, 1840 Baryphthengus ruficapillus (Vieillot, 1818) Galbuliformes Fürbringer, 1888 Galbulidae Vigors, 1825 Galbula ruficauda Cuvier, 1816 Bucconidae Horsield, 1821 Notharchus swainsoni (Gray, 1846) Malacoptila striata (Spix, 1824) Monasa morphoeus (Hahn & Küster, 1823) Chelidoptera tenebrosa (Pallas, 1782) CR O F, M X CR VU SILVEIRA & MAGNAGO Espécie EN F, M F, M Piciformes Meyer & Wolf, 1810 Ramphastidae Vigors, 1825 Ramphastos vitellinus Lichtenstein, 1823 Selenidera maculirostris (Lichtenstein, 1823) Pteroglossus aracari (Linnaeus, 1758) Picidae Leach, 1820 Picumnus cirratus Temminck, 1825 tucano-de-bico-preto araçari-poca araçari-de-bico-branco Channel-billed Toucan Spot-billed Toucanet Black-necked Aracari pica-pau-anão-barrado White-barred Piculet F, M Melanerpes candidus (Otto, 1796) Melanerpes flavifrons (Vieillot, 1818) Veniliornis affinis (Swainson, 1821) Piculus flavigula (Boddaert, 1783) Piculus polyzonus (Valenciennes, 1826) Colaptes campestris (Vieillot, 1818) Celeus flavescens (Gmelin, 1788) Celeus flavus (Statius Muller, 1776) Celeus torquatus (Boddaert, 1783) pica-pau-branco benedito-de-testa-amarela picapauzinho-avermelhado pica-pau-bufador pica-pau-dourado-grande pica-pau-do-campo pica-pau-de-cabeça-amarela pica-pau-amarelo pica-pau-de-coleira White Woodpecker Yellow-fronted Woodpecker Red-stained Woodpecker Yellow-throated Woodpecker Brazilian Golden-green Woodpecker Campo Flicker Blond-crested Woodpecker Cream-colored Woodpecker Ringed Woodpecker F, M F, G, M F, G, M F, M F, M F, M F, G, M F, M F, G, M Dryocopus lineatus (Linnaeus, 1766) Campephilus robustus (Lichtenstein, 1818) Cariamiformes Furbringer, 1888 Cariamidae Bonaparte, 1850 pica-pau-de-banda-branca pica-pau-rei Lineated Woodpecker Robust Woodpecker F, G, M O F, G, M VU X EN CR CR CR VU F, M F, G, M AVES 407 408 Cariama cristata (Linnaeus, 1766) Falconiformes Bonaparte, 1831 Falconidae Leach, 1820 Caracara plancus (Miller, 1777) Milvago chimachima (Vieillot, 1816) Herpetotheres cachinnans (Linnaeus, 1758) Micrastur ruficollis (Vieillot, 1817) Nome Popular em Português Nome Popular em Inglês End Status de Ameaça Estadual1 Nacional2 Registro seriema Red-legged Seriema F, M caracará carrapateiro acauã falcão-caburé Southern Caracara Yellow-headed Caracara Laughing Falcon Barred Forest-Falcon F, M F, G, M F, G, M F, G, M Micrastur mintoni Whittaker, 2002 falcão-críptico Cryptic Forest-Falcon F, G, M Micrastur mirandollei (Schlegel, 1862) Micrastur semitorquatus (Vieillot, 1817) Falco sparverius Linnaeus, 1758 Falco rufigularis Daudin, 1800 Falco femoralis Temminck, 1822 Psittaciformes Wagler, 1830 Psittacidae Rainesque, 1815 Primolius maracana (Vieillot, 1816) Diopsittaca nobilis (Linnaeus, 1758) falcão-tanatau falcão-relógio quiriquiri cauré falcão-de-coleira Slaty-backed Forest-Falcon Collared Forest-Falcon American Kestrel Bat Falcon Aplomado Falcon G F, G, M F, G, M F, M F, M maracanã-verdadeira maracanã-pequena Blue-winged Macaw Red-shouldered Macaw F, G, M O periquitão-maracanã periquito-rei tiriba-grande tiriba-de-orelha-branca tuim periquito-rico apuim-de-cauda-amarela maitaca-de-barriga-azul maitaca-verde White-eyed Parakeet Peach-fronted Parakeet Blue-throated Parakeet Maroon-faced Parakeet Blue-winged Parrotlet Plain Parakeet Golden-tailed Parrotlet Reichenow’s Parrot Scaly-headed Parrot F, M F, G, M F, G, M F, G, M F, G, M F, G, M O F, G, M F, G, M papagaio-moleiro curica chauá Mealy Parrot Orange-winged Parrot Red-browed Parrot zidedê choquinha-de-lanco-branco choquinha-de-rabo-cintado papa-formiga-pardo papa-formiga-vermelho Streak-capped Antwren White-lanked Antwren Band-tailed Antwren White-fringed Antwren Rusty-backed Antwren Psittacara leucophthalmus (Statius Muller, 1776) Eupsittula aurea (Gmelin, 1788) Pyrrhura cruentata (Wied, 1820) Pyrrhura leucotis (Kuhl, 1820) Forpus xanthopterygius (Spix, 1824) Brotogeris tirica (Gmelin, 1788) Touit surdus (Kuhl, 1820) Pionus reichenowi Heine, 1844 Pionus maximiliani (Kuhl, 1820) Amazona farinosa (Boddaert, 1783) Amazona amazonica (Linnaeus, 1766) Amazona rhodocorytha (Salvadori, 1890) Passeriformes Linnaeus, 1758 Thamnophilidae Swainson, 1824 Terenura maculata (Wied, 1831) Myrmotherula axillaris (Vieillot, 1817) Myrmotherula urosticta (Sclater, 1857) Formicivora grisea (Boddaert, 1783) Formicivora rufa (Wied, 1831) X X EN EN VU VU X X X EN VU VU VU CR X VU X VU EN F, G, M F, G, M F, G, M O F, G, M O F, M F, G, M FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Espécie Thamnomanes caesius (Temminck, 1820) Rhopias gularis (Spix, 1825) Dysithamnus plumbeus (Wied, 1831) Herpsilochmus rufimarginatus (Temminck, 1822) Nome Popular em Português ipecuá choquinha-de-garganta-pintada Nome Popular em Inglês End Cinereous Antshrike Star-throated Antwren X X Status de Ameaça Nacional2 Estadual1 CR VU G, M F choquinha-chumbo Plumbeous Antvireo chorozinho-de-asa-vermelha Rufous-winged Antwren Thamnophilus palliatus (Lichtenstein, 1823) choca-listrada Chestnut-backed Antshrike Thamnophilus ambiguus Swainson, 1825 Taraba major (Vieillot, 1816) Pyriglena leucoptera (Vieillot, 1818) Drymophila squamata (Lichtenstein, 1823) choca-de-sooretama choró-boi papa-taoca-do-sul pintadinho Sooretama Slaty-Antshrike Great Antshrike White-shouldered Fire-eye Scaled Antbird X F, G, M F, M F, G, M F, G, M cuspidor-de-máscara-preta Black-cheeked Gnateater X F, G, M tovacuçu Variegated Antpitta galinha-do-mato Rufous-capped Antthrush VU vira-folha-pardo Black-tailed Leaftosser CR arapaçu-liso arapaçu-bico-de-cunha arapaçu-rajado arapaçu-de-garganta-amarela arapaçu-de-bico-branco Plain-winged Woodcreeper Wedge-billed Woodcreeper Lesser Woodcreeper Buff-throated Woodcreeper Straight-billed Woodcreeper arapaçu-escamado arapaçu-de-garganta-branca Scaled Woodcreeper White-throated Woodcreeper bico-virado-miúdo bico-virado-carijó Plain Xenops Streaked Xenops casaca-de-couro-da-lama joão-de-barro barranqueiro-de-olho-branco Wing-banded Hornero Rufous Hornero White-eyed Foliage-gleaner limpa-folha-coroado trepador-sobrancelha joão-de-pau curutié Black-capped Foliage-gleaner Pale-browed Treehunter Rufous-fronted Thornbird Yellow-chinned Spinetail Conopophagidae Sclater & Salvin, 1873 Conopophaga melanops (Vieillot, 1818) Grallariidae Sclater & Salvin, 1873 Grallaria varia (Boddaert, 1783) Formicariidae Gray, 1840 Formicarius colma Boddaert, 1783 Scleruridae Swainson, 1827 Sclerurus caudacutus (Vieillot, 1816) Dendrocolaptidae Gray, 1840 Dendrocincla turdina (Lichtenstein, 1820) Glyphorynchus spirurus (Vieillot, 1819) Xiphorhynchus fuscus (Vieillot, 1818) Xiphorhynchus guttatus (Lichtenstein, 1820) Dendroplex picus (Gmelin, 1788) Lepidocolaptes squamatus (Lichtenstein, 1822) Xiphocolaptes albicollis (Vieillot, 1818) Xenopidae Bonaparte, 1854 Xenops minutus (Sparrman, 1788) Xenops rutilans Temminck, 1821 Furnariidae Gray, 1840 Furnarius figulus (Lichtenstein, 1823) Furnarius rufus (Gmelin, 1788) Automolus leucophthalmus (Wied, 1821) F, G, M F, G, M F, G, M X VU VU CR X O F, G, M CR F, G, M F, G, M F, G, M F, G, M F, G, M O G, M F, G, M F, G, M F, M X X F, M F, M F, G, M F, G, M G, M F F, M AVES Philydor atricapillus (Wied, 1821) Cichlocolaptes leucophrus (Jardine & Selby, 1830) Phacellodomus rufifrons (Wied, 1821) Certhiaxis cinnamomeus (Gmelin, 1788) EN Registro SILVEIRA & MAGNAGO Espécie 409 410 Synallaxis frontalis Pelzeln, 1859 Synallaxis spixi Sclater, 1856 Pipridae Rainesque, 1815 Ceratopipra rubrocapilla (Temminck, 1821) Manacus manacus (Linnaeus, 1766) Dixiphia pipra (Linnaeus, 1758) Oxyruncidae Ridgway, 1906 (1831) Oxyruncus cristatus Swainson, 1821 Nome Popular em Português Rhynchocyclidae Berlepsch, 1907 Mionectes oleagineus (Lichtenstein, 1823) Leptopogon amaurocephalus Tschudi, 1846 Rhynchocyclus olivaceus (Temminck, 1820) Tolmomyias sulphurescens (Spix, 1825) Tolmomyias poliocephalus (Taczanowski, 1884) Tolmomyias flaviventris (Wied, 1831) Todirostrum poliocephalum (Wied, 1831) Todirostrum cinereum (Linnaeus, 1766) Myiornis auricularis (Vieillot, 1818) End Status de Ameaça Estadual1 Nacional2 Registro pPetrim joão-teneném Sooty-fronted Spinetail Spix’s Spinetail F O cabeça-encarnada rendeira cabeça-branca Red-headed Manakin White-bearded Manakin White-crowned Manakin F, G, M F, G, M F, G, M araponga-do-horto Sharpbill O Whiskered Flycatcher F, M Onychorhynchidae Tello, Moyle, Marchese & Cracraft, 2009 Myiobius barbatus (Gmelin, 1789) assanhadinho Tityridae Gray, 1840 Schiffornis turdina (Wied, 1831) lautim-marrom Laniocera hypopyrra (Vieillot, 1817) chorona-cinza Tityra inquisitor (Lichtenstein, 1823) anambé-branco-de-bochecha-parda Tityra cayana (Linnaeus, 1766) anambé-branco-de-rabo-preto Pachyramphus viridis (Vieillot, 1816) caneleiro-verde Pachyramphus castaneus (Jardine & Selby, 1827) caneleiro Pachyramphus polychopterus (Vieillot, 1818) Pachyramphus marginatus (Lichtenstein, 1823) Pachyramphus validus (Lichtenstein, 1823) Cotingidae Bonaparte, 1849 Lipaugus vociferans (Wied, 1820) Xipholena atropurpurea (Wied, 1820) Procnias nudicollis (Vieillot, 1817) Cotinga maculata (Statius Muller, 1776) Carpornis melanocephala (Wied, 1820) Nome Popular em Inglês Thrush-like Schiffornis Cinereous Mourner Black-crowned Tityra Black-tailed Tityra Green-backed Becard Chestnut-crowned Becard caneleiro-preto caneleiro-bordado caneleiro-de-chapéu-preto White-winged Becard Black-capped Becard Crested Becard cricrió anambé-de-asa-branca araponga crejoá sabiá-pimenta Screaming Piha White-winged Cotinga White Bellbird Banded Cotinga Black-headed Berryeater abre-asa cabeçudo bico-chato-grande bico-chato-de-orelha-preta bico-chato-de-cabeça-cinza bico-chato-amarelo teque-teque ferreirinho-relógio miudinho Ochre-bellied Flycatcher Sepia-capped Flycatcher Olivaceous Flatbill Yellow-olive Flycatcher Gray-crowned Flycatcher Yellow-breasted Flycatcher Yellow-lored Tody-Flycatcher Common Tody-Flycatcher Eared Pygmy-Tyrant X VU CR F, G, M F, M F, M F, G, M F, G, M G, M G, M F, G, M F, G, M X EN CR VU X X CR VU CR VU VU X F, G, M F, M F, G, M M F, M F, G, M F, G, M F, G, M O M F, G, M M F, M F, G, M FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Espécie Nome Popular em Inglês End tachuri-campainha Hangnest Tody-Tyrant X poiaeiro-de-sobrancelha risadinha Southern Beardless-Tyrannulet F, M F, M Elaenia flavogaster (Thunberg, 1822) guaracava-de-barriga-amarela Yellow-bellied Elaenia F, M Elaenia mesoleuca (Deppe, 1830) Elaenia cristata Pelzeln, 1868 Elaenia chiriquensis Lawrence, 1865 Myiopagis caniceps (Swainson, 1835) tuque guaracava-de-topete-uniforme chibum guaracava-cinzenta Olivaceous Elaenia Plain-crested Elaenia Lesser Elaenia Gray Elaenia O O O F, M marianinha-amarela piolhinho capitão-de-saíra capitão-de-saíra-amarelo Yellow Tyrannulet Planalto Tyrannulet Gray-hooded Attila Bright-rumped Attila F F, M F, G, M F, G, M Hemitriccus nidipendulus (Wied, 1831) Tyrannidae Vigors, 1825 Ornithion inerme Hartlaub, 1853 Camptostoma obsoletum (Temminck, 1824) Capsiempis flaveola (Lichtenstein, 1823) Phyllomyias fasciatus (Thunberg, 1822) Attila rufus (Vieillot, 1819) Attila spadiceus (Gmelin, 1789) Nome Popular em Português Status de Ameaça Nacional2 Estadual1 Registro O White-lored Tyrannulet X VU VU Piratic Flycatcher Dusky-capped Flycatcher Swainson’s Flycatcher Short-crested Flycatcher Brown-crested Flycatcher Sirystes Grayish Mourner Great Kiskadee Lesser Kiskadee Cattle Tyrant O F, G, M O F, G, M F, G, M F, G, M F, G, M F, G, M F, M F, M Myiodynastes maculatus (Statius Muller, 1776) Megarynchus pitangua (Linnaeus, 1766) Myiozetetes similis (Spix, 1825) Tyrannus melancholicus Vieillot, 1819 Tyrannus savana Vieillot, 1808 Empidonomus varius (Vieillot, 1818) Conopias trivirgatus (Wied, 1831) Colonia colonus (Vieillot, 1818) Myiophobus fasciatus (Statius Muller, 1776) bem-te-vi-rajado neinei bentevizinho-de-penacho-vermelho suiriri tesourinha peitica bem-te-vi-pequeno viuvinha ilipe Streaked Flycatcher Boat-billed Flycatcher Social Flycatcher Tropical Kingbird Fork-tailed Flycatcher Variegated Flycatcher Three-striped Flycatcher Long-tailed Tyrant Bran-colored Flycatcher F, G, M F, G, M F, M F, G, M F, M F, M O O O lavadeira-mascarada freirinha guaracavuçu enferrujado Masked Water-Tyrant White-headed Marsh Tyrant Fuscous Flycatcher Euler’s Flycatcher F, M F, M F, M F, G, M Fluvicola nengeta (Linnaeus, 1766) Arundinicola leucocephala (Linnaeus, 1764) Cnemotriccus fuscatus (Wied, 1831) Lathrotriccus euleri (Cabanis, 1868) AVES Legatus leucophaius (Vieillot, 1818) bem-te-vi-pirata Myiarchus tuberculifer (d’Orbigny & Lafresnaye, 1837) maria-cavaleira-pequena Myiarchus swainsoni Cabanis & Heine, 1859 irré Myiarchus ferox (Gmelin, 1789) maria-cavaleira Myiarchus tyrannulus (Statius Muller, 1776) maria-cavaleira-de-rabo-enferrujado Sirystes sibilator (Vieillot, 1818) gritador Rhytipterna simplex (Lichtenstein, 1823) vissiá Pitangus sulphuratus (Linnaeus, 1766) bem-te-vi Philohydor lictor (Lichtenstein, 1823) bentevizinho-do-brejo Machetornis rixosa (Vieillot, 1819) suiriri-cavaleiro SILVEIRA & MAGNAGO Espécie 411 412 Contopus cinereus (Spix, 1825) Satrapa icterophrys (Vieillot, 1818) Xolmis irupero (Vieillot, 1823) Nome Popular em Português Nome Popular em Inglês End Status de Ameaça Estadual1 Nacional2 Registro papa-moscas-cinzento suiriri-pequeno noivinha Tropical Pewee Yellow-browed Tyrant White Monjita F, G, M F, M F pitiguari juruviara Rufous-browed Peppershrike Chivi Vireo G, M F, G, M Hylophilus thoracicus Temminck, 1822 vite-vite Lemon-chested Greenlet F, G, M Hirundinidae Rainesque, 1815 Pygochelidon cyanoleuca (Vieillot, 1817) Stelgidopteryx ruficollis (Vieillot, 1817) Progne tapera (Vieillot, 1817) Progne subis (Linnaeus, 1758) Progne chalybea (Gmelin, 1789) Tachycineta albiventer (Boddaert, 1783) Tachycineta leucorrhoa (Vieillot, 1817) Hirundo rustica Linnaeus, 1758 andorinha-pequena-de-casa andorinha-serradora andorinha-do-campo andorinha-azul andorinha-doméstica-grande andorinha-do-rio andorinha-de-sobre-branco andorinha-de-bando Blue-and-white Swallow Southern Rough-winged Swallow Brown-chested Martin Purple Martin Gray-breasted Martin White-winged Swallow White-rumped Swallow Barn Swallow F, M F, M F, M O F, M F, M F, M F, M corruíra catatau garrinchão-pai-avô Southern House Wren Thrush-like Wren Moustached Wren F, G, M F, G, M F, G, M japacanim Black-capped Donacobius F, M bico-assovelado Long-billed Gnatwren G, M sabiá-una sabiá-barranco sabiá-da-mata sabiá-laranjeira sabiá-poca sabiá-coleira Yellow-legged Thrush Pale-breasted Thrush Cocoa Thrush Rufous-bellied Thrush Creamy-bellied Thrush White-necked Thrush F, M F, M F, G, M F, M F, M O sabiá-da-praia sabiá-do-campo Tropical Mockingbird Chalk-browed Mockingbird Vireonidae Swainson, 1837 Cyclarhis gujanensis (Gmelin, 1789) Vireo chivi (Vieillot, 1817) Troglodytidae Swainson, 1831 Troglodytes musculus Naumann, 1823 Campylorhynchus turdinus (Wied, 1831) Pheugopedius genibarbis (Swainson, 1838) Donacobiidae Aleixo & Pacheco, 2006 Donacobius atricapilla (Linnaeus, 1766) Polioptilidae Baird, 1858 Ramphocaenus melanurus Vieillot, 1819 Turdidae Rainesque, 1815 Turdus flavipes Vieillot, 1818 Turdus leucomelas Vieillot, 1818 Turdus fumigatus Lichtenstein, 1823 Turdus rufiventris Vieillot, 1818 Turdus amaurochalinus Cabanis, 1850 Turdus albicollis Vieillot, 1818 Mimidae Bonaparte, 1853 Mimus gilvus (Vieillot, 1807) Mimus saturninus (Lichtenstein, 1823) Motacillidae Horsield, 1821 VU EN F, M F, M FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Espécie Anthus lutescens Pucheran, 1855 Passerellidae Cabanis & Heine, 1850 Zonotrichia capensis (Statius Muller, 1776) Ammodramus humeralis (Bosc, 1792) Arremon taciturnus (Hermann, 1783) Nome Popular em Português Nome Popular em Inglês End Status de Ameaça Nacional2 Estadual1 Registro caminheiro-zumbidor Yellowish Pipit F, M tico-tico tico-tico-do-campo Rufous-collared Sparrow Grassland Sparrow O O tico-tico-de-bico-preto Pectoral Sparrow O Parulidae Wetmore, Friedmann, Lincoln, Miller, Peters, van Rossem, Van Tyne & Zimmer 1947 Setophaga pitiayumi (Vieillot, 1817) Geothlypis aequinoctialis (Gmelin, 1789) mariquita pia-cobra Tropical Parula Masked Yellowthroat F, G, M F, G, M Icteridae Vigors, 1825 Psarocolius decumanus (Pallas, 1769) Cacicus haemorrhous (Linnaeus, 1766) Icterus pyrrhopterus (Vieillot, 1819) japu guaxe encontro Crested Oropendola Red-rumped Cacique Variable Oriole F, M F, G, M F, M Icterus jamacaii (Gmelin, 1788) Gnorimopsar chopi (Vieillot, 1819) Agelasticus cyanopus (Vieillot, 1819) Chrysomus ruficapillus (Vieillot, 1819) Molothrus rufoaxillaris Cassin, 1866 Molothrus oryzivorus (Gmelin, 1788) Molothrus bonariensis (Gmelin, 1789) Sturnella superciliaris (Bonaparte, 1850) Thraupidae Cabanis, 1847 Coereba flaveola (Linnaeus, 1758) corrupião graúna carretão garibaldi vira-bosta-picumã iraúna-grande vira-bosta polícia-inglesa-do-sul Campo Troupial Chopi Blackbird Unicolored Blackbird Chestnut-capped Blackbird Screaming Cowbird Giant Cowbird Shiny Cowbird White-browed Blackbird cambacica Bananaquit F, M Saltatricula atricollis (Vieillot, 1817) Saltator maximus (Statius Muller, 1776) Nemosia pileata (Boddaert, 1783) Tachyphonus coronatus (Vieillot, 1822) Ramphocelus bresilius (Linnaeus, 1766) Lanio cristatus (Linnaeus, 1766) Lanio pileatus (Wied, 1821) Tangara brasiliensis (Linnaeus, 1766) Tangara cyanomelas (Wied, 1830) bico-de-pimenta tempera-viola saíra-de-chapéu-preto tiê-preto tiê-sangue tiê-galo tico-tico-rei-cinza cambada-de-chaves sSaíra-pérola Black-throated Saltator Buff-throated Saltator Hooded Tanager Ruby-crowned Tanager Brazilian Tanager Flame-crested Tanager Pileated Finch White-bellied Tanager Silver-breasted Tanager F F, M F, M F, M F, M F, M F, M F, M F, M Tangara seledon (Statius Muller, 1776) Tangara sayaca (Linnaeus, 1766) Tangara palmarum (Wied, 1823) Tangara cayana (Linnaeus, 1766) saíra-sete-cores sanhaçu-cinzento sanhaçu-do-coqueiro saíra-amarela Green-headed Tanager Sayaca Tanager Palm Tanager Burnished-buff Tanager X X X X SILVEIRA & MAGNAGO Espécie F, M F, M O F, M F, M O F, M F, M AVES F, M F, M F, M F, M 413 414 Cissopis leverianus (Gmelin, 1788) Schistochlamys melanopis (Latham, 1790) Paroaria dominicana (Linnaeus, 1758) Nome Popular em Português Nome Popular em Inglês tietinga sanhaçu-de-coleira cardeal-do-nordeste Magpie Tanager Black-faced Tanager Red-cowled Cardinal Tersina viridis (Illiger, 1811) Dacnis cayana (Linnaeus, 1766) Cyanerpes cyaneus (Linnaeus, 1766) Chlorophanes spiza (Linnaeus, 1758) saí-andorinha saí-azul saíra-beija-lor saí-verde Swallow Tanager Blue Dacnis Red-legged Honeycreeper Green Honeycreeper Hemithraupis ruficapilla (Vieillot, 1818) End Status de Ameaça Estadual1 Nacional2 Registro O F, M F, M X M F, M F, M O saíra-ferrugem Rufous-headed Tanager Hemithraupis flavicollis (Vieillot, 1818) Conirostrum speciosum (Temminck, 1824) Sicalis flaveola (Linnaeus, 1766) Sicalis luteola (Sparrman, 1789) Emberizoides herbicola (Vieillot, 1817) Volatinia jacarina (Linnaeus, 1766) Sporophila collaris (Boddaert, 1783) Sporophila nigricollis (Vieillot, 1823) Sporophila ardesiaca (Dubois, 1894) saíra-galega iguinha-de-rabo-castanho canário-da-terra-verdadeiro tipio canário-do-campo tiziu coleiro-do-brejo baiano papa-capim-de-costas-cinzas Yellow-backed Tanager Chestnut-vented Conebill Saffron Finch Grassland Yellow-Finch Wedge-tailed Grass-Finch Blue-black Grassquit Rusty-collared Seedeater Yellow-bellied Seedeater Dubois’s Seedeater Sporophila caerulescens (Vieillot, 1823) Sporophila leucoptera (Vieillot, 1817) Sporophila bouvreuil (Statius Muller, 1776) Sporophila angolensis (Linnaeus, 1766) Tiaris fuliginosus (Wied, 1830) Cardinalidae Ridgway, 1901 Habia rubica (Vieillot, 1817) Caryothraustes canadensis (Linnaeus, 1766) Cyanoloxia brissonii (Lichtenstein, 1823) coleirinho chorão caboclinho curió cigarra-do-coqueiro Double-collared Seedeater White-bellied Seedeater Cooper Seedeater Chestnut-bellied Seed-Finch Sooty Grassquit tiê-do-mato-grosso furriel azulão Red-crowned Ant-Tanager Yellow-green Grosbeak Ultramarine Grosbeak F, G, M F, G, M O im-im gaturamo-verdadeiro im-im-grande ferro-velho Purple-throated Euphonia Violaceous Euphonia Orange-bellied Euphonia Chestnut-bellied Euphonia F, G, M F, G, M F, M O pardal House Sparrow F, M Fringillidae Leach, 1820 Euphonia chlorotica (Linnaeus, 1766) Euphonia violacea (Linnaeus, 1758) Euphonia xanthogaster Sundevall, 1834 Euphonia pectoralis (Latham, 1801) Passeridae Rainesque, 1815 Passer domesticus (Linnaeus, 1758) X O X F, G, M F, M F, M F, M F, M F, M F, M F, M F, M CR F, M F, G, M F, M F, M O FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Espécie SILVEIRA & MAGNAGO Existem espécies ou grupos de espécies de aves cuja presença é considerada como um indicador importante da qualidade e do grau de conservação de uma determinada área, seja ela lorestal ou não. Neste grupo estão incluídos gaviões e outras aves de rapina de grande porte que necessitam de presas maiores e de grandes territórios para se manter, bem como papagaios e outros psitacídeos que só nidiicam em árvores com cavidades compatíveis com seu tamanho e que são encontradas apenas em lorestas maduras e bem preservadas. Outro grupo indicador importante compreende espécies que são caçadas para o consumo da carne pelo homem. Este grupo inclui aves frugívoras de médio-grande porte que também precisam de grandes territórios, que ocorrem em baixas densidades, que demoram para atingir a maturidade sexual e que produzem poucos ilhotes por estação reprodutiva, o que torna sua conservação uma tarefa ainda mais complexa. Na RNV todos esses grupos estão muito bem representados, atestando de maneira inequívoca o alto grau de conservação desta loresta. A presença frequente da harpia ou gavião-real (Harpia harpyja; Figura 1), incluindo registros recentes (SrbekAraujo & Chiarello, 2006; Aguiar-Silva et al., 2012; AVES Magnago, 2015), demonstra que esta reserva abriga uma pequena população deste gavião, hoje praticamente extinto na Mata Atlântica, onde as poucas populações remanescentes encontramse isoladas umas das outras. Harpias consomem mamíferos de médio-grande porte, como macacos, ouriços, preguiças e tamanduás-decolete, auxiliando no controle de suas populações. O gavião-de-penacho (Spizaetus ornatus), de maneira similar à harpia, é hoje também muito raro na Mata Atlântica, onde era outrora registrado desde Alagoas até o Rio Grande do Sul e Argentina. Embora comum na Amazônia, hoje é diicilmente visto na Mata Atlântica, sendo a RNV uma das únicas localidades neste bioma onde a espécie é ainda vista com alguma regularidade. A RNV é ainda mais importante para a conservação dos frugívoros de médio-grande porte, notadamente aqueles pertencentes às Ordens Tinamiformes e Galliformes. Macucos e inhambus possuem um papel essencial na regeneração das lorestas, disseminando as sementes de árvores frutíferas que são coletadas no solo. Vivem solitários ou em casais e vagueiam pelo chão das lorestas mais bem conservadas, Figura 1: A harpia ou gavião-real é uma ave praticamente extinta na Mata Atlântica, mas ainda há indivíduos se reproduzindo na RNV. Foto: Gustavo Magnago. 415 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE geralmente ocupando territórios extensos. Por causa da sua carne, foram intensamente caçados por toda Mata Atlântica e desapareceram daquelas áreas onde o desmatamento foi intenso ou de fragmentos onde houve modiicações importantes na estrutura da vegetação. O macuco (Tinamus solitarius) é a maior espécie da Família Tinamidae na Mata Atlântica e foi considerado abundante em toda a sua ampla distribuição neste bioma, sendo encontrado antigamente desde o estado de Pernambuco até a Argentina e Paraguai (Amaral & Silveira, 2004). Hoje, extinto na imensa maioria das localidades, pode ser visto com relativa facilidade em algumas UCs localizadas em matas de altitude no estado de São Paulo (Parque Estadual Intervales, por exemplo), mas praticamente desapareceu das matas de baixada em todo o Brasil (Amaral & Silveira, 2004). Em situação parecida encontra-se o jaó-do-sul (Crypturellus noctivagus noctivagus), que consta na lista nacional de espécies ameaçadas e que tem na RNV um dos seus últimos redutos, motivo pela qual a RNV é especialmente importante para a conservação destas espécies, visto que é uma das únicas localidades onde estas aves podem ainda ser registradas nas matas de baixada. Certamente, a ave mais emblemática hoje vivendo na RNV e que ajudou a tornar esta reserva mundialmente famosa e reconhecida para a conservação das aves da Mata Atlântica é o mutum-do-sudeste (Crax blumenbachii; Figura 2). Este grande mutum (a maior espécie da Família Cracidae vivendo na Mata Atlântica) foi descrito pelo naturalista Spix, em 1825, e batizado em homenagem ao seu orientador, Johann Friedrich Blumenbach, naturalista e antropólogo alemão. Os exemplares que foram utilizados para a descrição deste mutum foram coletados ainda bem próximos da cidade do Rio de Janeiro, o que indica como a espécie era facilmente obtida naquela época. Este mutum distribuía-se desde o sul da Bahia até o centro-sul do Rio de Janeiro, chegando também até o leste de Minas Gerais, sempre em áreas de loresta de baixada ou tabuleiros (Silveira et al., 2005). Os maiores indivíduos podiam chegar a pesar cerca de 4,5 kg, o que fazia desta ave uma cobiçada peça de caça. Esta ave serviu de alimento para todos os naturalistas que passaram pelo seu hábitat durante o século XIX e não era incomum encontrar acampamentos de índios (incluindo os temidos botocudos) repletos de penas e restos destas aves, conforme apontado diversas vezes pelo Príncipe de Wied-Neuwied (Wied, 1820). Contudo, o Figura 2: Macho do mutum-do-sudeste. A conservação desta espécie endêmica da Mata Atlântica brasileira e extremamente ameaçada de extinção depende fundamentalmente da preservação das lorestas da região na qual se insere a RNV, onde são vistas as maiores populações desta espécie. Foto: Gustavo Magnago. 416 SILVEIRA & MAGNAGO mutum-do-sudeste necessita de áreas bem conservadas, sendo muito sensível à fragmentação e à degradação do seu ambiente. Durante o século XX, com o avanço das frentes de desmatamento no sudeste brasileiro, foi rapidamente extinto no estado do Rio de Janeiro e em Minas Gerais, onde hoje só sobrevivem populações reintroduzidas (Silveira et al., 2005). No Espírito Santo e na Bahia as populações remanescentes foram rapidamente extirpadas e em poucas décadas este mutum passou de espécie razoavelmente comum para uma das aves mais ameaçadas de desaparecer em toda a América do Sul (Silveira et al., 2005). Embora ainda existam populações vivendo em algumas UCs no sul da Bahia, registros recentes neste estado são muito raros. A maioria dos parques do sul da Bahia foi invadida ou não conta com um mínimo sistema de vigilância e proteção contra caçadores, os quais não deixam de perseguir a espécie, fazendo com que o número de indivíduos nestas áreas seja muito baixo e, em alguns casos, levando-a a ser considerada provavelmente extinta localmente. Por outro lado, há um bom número de mutuns-do-sudeste vivendo na RNV (SrbekAraujo et al., 2012), o que torna esta reserva o local mais importante do planeta para o estudo e para a conservação desta espécie. O mutum-do- AVES sudeste pode ser visto especialmente na porção norte da RNV, em pares ou em pequenos grupos familiares, e sua reprodução foi recentemente bem documentada (Alves, 2014). A espécie ocorre também na RBS, embora estimativas mais precisas sobre o número de indivíduos e seu status nesta reserva sejam ainda inexistentes. Neste panorama, hoje a RNV é considerada a maior garantia para a conservação deste endemismo da Mata Atlântica de baixada. CONSIDERAÇÕES FINAIS Conforme descrito na introdução, as matas de tabuleiros foram as que mais sofreram com o desmatamento e a descaracterização em todo o bioma. Boa parte dos 12% que restaram da Mata Atlântica está concentrada nas áreas em terrenos mais altos, onde estão hoje também os fragmentos maiores e com maior conectividade. Nestas lorestas de baixada evoluíram durante milhões de anos, aves e outros organismos únicos e que nelas icaram restritos em virtude de suas exigências ambientais, comportamentais e climáticas. Assim sendo, a derrubada destas matas leva consigo toda uma comunidade única de seres vivos. A importância da RNV para a conservação das aves Figura 3: As maiores populações do chauá, espécie endêmica da Mata Atlântica brasileira e ameaçada de extinção, são encontradas na RNV. Foto: Gustavo Magnago. 417 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE de baixada é ainda maior porque, nesta reserva, estão provavelmente as maiores populações mundiais de aves endêmicas e ameaçadas da Mata Atlântica, como as do papagaio-chauá (Amazona rhodocorytha; Figura 3), da tiriba-de-orelhabranca (Pyrrhura leucotis; Figura 4), da tiribagrande (P. cruentata), da maitaca-de-barrigaazul (Pionus reichenowi), do surucuá-de-coleira (Trogon collaris eytoni), do pica-pau-de-coleira (Celeus torquatus tinnunculus), do jacu-estalo (Neomorphus geoffroyi dulcis), do falcão-críptico (Micrastur mintoni; Figura 5) e do urutau-de-asabranca (Nyctibius leucopterus; Figura 6) (Costa et al., 2010, Simon & Magnago, 2013, Srbek-Araujo et al., 2014), este último recém-redescoberto na Mata Atlântica, onde não era visto por mais de 100 anos. Isso tudo torna a RNV hoje, a Reserva mais importante para a conservação das aves de baixada da Mata Atlântica. O superlativo número de 391 espécies já registradas na RNV, com tamanha Figura 4: A tiriba-de-orelha-branca é outra espécie endêmica da Mata Atlântica brasileira e ameaçada de extinção que conta com boas populações no interior das lorestas da RNV. Foto: Gustavo Magnago. Figura 5: O falcão-críptico permaneceu sem registros por quase 40 anos na Mata Atlântica, tendo sido redescoberto recentemente na RNV. Foto: Gustavo Magnago. 418 SILVEIRA & MAGNAGO AVES Figura 6: O urutau-de-asa-branca é uma das aves mais raras da região neotropical. Foi descrito com base em um único exemplar coletado na Mata Atlântica pelo Príncipe de Wied, no século XIX, e só foi reencontrado um século depois. Foto: Gustavo Magnago. concentração de táxons ameaçados em nível estadual e nacionalmente, demonstra por si só a importância desta área e reforça a necessidade de proteger contra incêndios e caçadores este último remanescente dessa formação vegetal hoje tão ameaçada quanto as aves que ali habitam. AGRADECIMENTOS Agradecemos aos inúmeros ornitólogos e observadores de aves que contribuíram com seus dados para a compilação da lista de aves da RNV. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientíico e Tecnológico (CNPq) pela bolsa de Produtividade em Pesquisa concedida a LFS. Aos pesquisadores, Ana Carolina Srbek de Araujo, Fábio Amaral e Marcelo Vasconcelos, que gentilmente revisaram este capítulo, contribuindo com sugestões importantes. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aguiar-Silva, F.H.; Sanaiotti, T.M.; Jaudoin, O.; Srbek-Araujo, A.C.; Siqueira, G.S. & Banhos, A. 2012. Harpy Eagle sightings, traces and nesting records at “Reserva Natural Vale”, a Brazilian Atlantic Forest remnant in Espírito Santo, Brazil. Revista Brasileira de Ornitologia 20 (2): 62-69. Alves, F. 2014. Densidade populacional, organização social e seleção de hábitat pelo mutum-do-sudeste Crax blumenbachii na Reserva Natural Vale, Linhares, Espírito Santo. 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FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE 25 EFEITOS DA PROXIMIDADE E CONECTIVIDADE A UMA FLORESTA CONTÍNUA SOBRE PEQUENOS MAMÍFEROS Mariana Ferreira Rocha, Marcelo Passamani, Ludmilla Portela Zambaldi, Vinicius Chaga Lopes & Sergio Barbiero Lage INTRODUÇÃO A fragmentação de habitat pode ser entendida como um “processo no qual uma grande quantidade de habitat é transformada em remanescentes de menor tamanho, isolados uns dos outros por uma matriz de habitat diferente do original” (Wilcove et al., 1986). Seguindo este conceito, podem ser identiicados quatro efeitos diretos desse processo: I) aumento do número de fragmentos lorestais e II) consequente diminuição do tamanho dos remanescentes; III) perda da quantidade de vegetação original e IV) aumento do isolamento entre os fragmentos (Fahrig, 2003; Fernandez, 2004; Bennet & Saunders, 2010). Dentre esses efeitos, a redução do tamanho e o aumento do isolamento são particularmente importantes, uma vez que provocam perdas expressivas de diversidade (Macarthur & Wilson, 1967; Laurance et al., 1998; Chiarello, 1999; Ferraz et al., 2007; Vieira et al., 2009; Garmendia et al., 2013). A Mata Atlântica no estado do Espírito Santo possui um histórico de degradação e fragmentação resultante de mais de 500 anos de exploração (Pereira, 2007; Thomaz, 2010). Inicialmente coberto por quase 90% de lorestas (Pereira, 2007; Thomaz, 2010), o território capixaba detém atualmente pouco mais de 10% de sua cobertura lorestal original (SOS Mata Atlântica & Inpe, 2014). Ainda, a maioria dos fragmentos lorestais remanescentes é de pequeno tamanho e está isolada espacialmente. Essa situação é verdadeira também quando consideramos toda a extensão da Mata Atlântica no Brasil (Ribeiro et al., 2009). O bloco lorestal no qual se insere a Reserva Natural Vale (RNV) é um dos poucos remanescentes contínuos do Espírito Santo. Esta reserva possui 22.711 ha e representa quase 5% da área de loresta remanescente desse estado (SOS Mata Atlântica & Inpe, 2014). Juntamente com a Reserva Biológica de Sooretama e outras duas reservas particulares a elas conectadas (RPPN MutumPreto e RPPN Recanto das Antas), a RNV constitui um dos poucos remanescentes lorestais da Mata Atlântica brasileira com mais de 10.000 ha (ver Ribeiro et al., 2009), denominado Bloco LinharesSooretama. Este é reconhecidamente importante para a conservação da biodiversidade, uma vez que representa um dos 14 centros com alta diversidade vegetal no Brasil (Peixoto & Silva, 1997), é a área mais rica em espécies de mamíferos de toda a Mata Atlântica (Srbek-Araujo et al., 2014) e um dos últimos refúgios no Espírito Santo para várias espécies nacionalmente ameaçadas de extinção, como a onça-pintada (Panthera onca) e o tatucanastra (Priodontes maximus) (Chiarello, 1999; 421 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Marsden et al., 2001; Srbek-Araujo & Chiarello, 2006; Srbek-Araujo et al., 2014). A paisagem no entorno da RNV está constituída por diferentes tipos de matrizes, principalmente por pastagens e plantações de eucalipto, mamão e café (Rolim et al., 2005; Peixoto et al., 2008) e por fragmentos lorestais de diferentes tamanhos, formas e graus de isolamento. Alguns destes fragmentos possuem formato linear e estão localizados a diferentes distâncias da RNV. Fragmentos lineares conectados reduzem o isolamento e podem funcionar como estratégias de conservação em paisagens fragmentadas (Beier & Noss, 1998; Pardini et al., 2005). É provável que esses elementos ganhem importância em paisagens que ainda possuem grandes blocos de vegetação remanescente, uma vez que, em uma escala de paisagem, essas grandes lorestas podem promover um spillover de biodiversidade, funcionando como fonte de espécies e/ou benefícios para os fragmentos do entorno, aumentando o valor destes remanescentes menores para a conservação (Ricketts, 2004; Brudvig et al., 2009). Apesar disso, o conhecimento sobre o funcionamento de fragmentos lineares em paisagens que ainda detêm grandes remanescentes lorestais é incipiente, especialmente em nível nacional e no domínio da Mata Atlântica, apesar de ser fundamental para guiar estratégias de conservação. Nesse sentido, o objetivo geral do presente estudo foi analisar a composição, a estrutura e a diversidade da comunidade de pequenos mamíferos na RNV, em fragmentos lineares conectados a ela e em fragmentos lineares não conectados, visando avaliar como a proximidade com a loresta contínua inluencia a comunidade de pequenos mamíferos nos fragmentos lineares do entorno. Adicionalmente, também foi avaliado o efeito da presença de corredores de vegetação em paisagens que possuem grandes blocos de remanescente lorestal. As hipóteses desse trabalho foram: I) a distância dos fragmentos lineares até a loresta contínua inluencia a composição e a estrutura de pequenos mamíferos nestes fragmentos, sendo a comunidade de pequenos mamíferos nos fragmentos lineares conectados mais similar ao interior e à borda da loresta contínua em comparação com os fragmentos lineares não conectados; II) a diversidade alfa é 422 maior na loresta contínua (interior e borda) do que nos fragmentos lineares; III) a diversidade beta é maior nos sítios conectados (loresta contínua e fragmento linear conectado) do que no fragmento linear não conectado. MATERIAL E MÉTODOS Desenho Amostral A amostragem de pequenos mamíferos não voadores foi realizada em 20 sítios amostrais, distantes em média 6.917 m, e divididos em quatro tratamentos: (I) interior de loresta contínua; (II) borda de loresta contínua; (III) fragmentos lorestais lineares conectados à loresta contínua e (IV) fragmentos lorestais lineares não conectados, considerando cinco réplicas para cada tratamento (Figura 1 e Tabela 1). Todos os sítios amostrais estavam sobre a formação lorestal denominada Floresta Alta, segundo classiicação de Peixoto et al. (2008). Em cada sítio foi estabelecido um transecto com 100 m de comprimento contendo seis estações de captura em intervalos de 20 m. Em cada estação de captura foram dispostas duas armadilhas do tipo live-trap, sendo uma de arame galvanizado grande (45 x 16 x 16 cm) ou Sherman grande (45 x 12,5 x 14,5 cm) no solo, alternadas entre as estações de captura, e uma Sherman de menor tamanho (25 x 8 x 9 cm) a uma altura aproximada de dois metros, ixada em galhos de árvores. As armadilhas foram iscadas diariamente com uma mistura de banana, amendoim moído, fubá, sardinha ou óleo de fígado de bacalhau. Foram realizadas 40 noites de amostragem em cada sítio, distribuídas entre o período de abril de 2011 a abril de 2012. Em cada mês, 10 sítios eram selecionados para serem amostrados, contemplando todos os tratamentos, a im de evitar interferência da variação sazonal e temporal nos resultados obtidos. O esforço amostral total foi de 9.600 armadilhas-noite. Todos os indivíduos capturados foram identiicados em nível especíico, marcados com uma anilha metálica numerada (National Band and Tag Inc.) para posterior identiicação e soltos no mesmo local de captura, seguindo o método de capturamarcação-recaptura. Pelo menos um indivíduo de cada espécie capturada foi coletado como material testemunho, ROCHA ET AL. PEQUENOS MAMÍFEROS Figura 1: Mapa com a localização dos 20 sítios de amostragem de pequenos mamíferos na paisagem estudada Espírito Santo, Brasil. Tabela 1: Localização geográica dos 20 sítios de amostragem de pequenos mamíferos e suas respectivas distâncias até até a borda mais próxima da Reserva Natural Vale - Espírito Santo, Brasil. Sítios de amostragem Sítio 1 (interior de loresta contínua) Sítio 2 (interior de loresta contínua) Sítio 3 (interior de loresta contínua) Sítio 4 (interior de loresta contínua) Sítio 5 (interior de loresta contínua) Sítio 6 (borda de loresta contínua) Sítio 7 (borda de loresta contínua) Sítio 8 (borda de loresta contínua) Sítio 9 (borda de loresta contínua) Sítio 10 (borda de loresta contínua) Sítio 11 (fragmento linear conectado) Sítio 12 (fragmento linear conectado) Sítio 13 (fragmento linear conectado) Sítio 14 (fragmento linear conectado) Sítio 15 (fragmento linear conectado) Sítio 16 (fragmento linear não conectado) Sítio 17 (fragmento linear não conectado) Sítio 18 (fragmento linear não conectado) Sítio 19 (fragmento linear não conectado) Sítio 20 (fragmento linear não conectado) Coordenadas geográicas (24K) Latitude Longitude 399303 395623 401816 393415 394124 398674 395708 401635 392962 395461 398392 395799 401636 392869 395550 383956 390331 383803 386820 387811 7883774 7881088 7881282 7883960 7883886 7883480 7881489 7881936 7883873 7883569 7883347 7881459 7881994 7883698 7883482 7884474 7885008 7883629 7889272 7888306 Distância até a loresta contínua da RNV (log) 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 2,45 1,51 1,64 1,88 1,64 3,04 2,83 2,76 3,39 3,19 423 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE taxidermizado e depositado na Coleção de Mamíferos da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes-MAM). Todos os procedimentos envolvendo a captura e a marcação de pequenos mamíferos foram realizados sob autorização do órgão ambiental competente (Licença Sisbio n° 27369-4). Análise de Dados Cada sítio (ou transecto) foi considerado como uma unidade amostral. Os valores de diversidade alfa e beta foram obtidos para cada sítio por meio de regressões lineares de log de espécies e log de indivíduos (Hubbell, 1997) usando o modelo linearizado de Arrhenius (1922), onde Log S = Log c + z LogA, sendo: S = riqueza de espécies, c = intercepto da regressão (diversidade alfa) e z = inclinação da regressão (diversidade beta). Foram utilizados os conceitos de diversidade alfa e beta propostos por Hubbell (1997). Dessa forma, em um modelo de regressão linear, a diversidade alfa é representada pelo intercepto da regressão e corresponde ao número de espécies adicionadas considerando um número mínimo de amostras (no presente estudo, os indivíduos foram considerados como amostras). Já a diversidade beta é representada pela inclinação das linhas (valor de z) e é maior quando a linha é mais inclinada, signiicando que um maior número de espécies é adicionado quando mais indivíduos são amostrados. A diversidade alfa e beta foram comparadas entre os sítios amostrados através do Teste F e dos intervalos de coniança. Uma linha de tendência foi inserida no gráico de dispersão dos valores obtidos utilizando uma função linear para obter os valores de ajuste e coniabilidade para cada caso a partir do R2. Para veriicar a composição de espécies e a estrutura da comunidade de pequenos mamíferos nos sítios amostrados, foi realizada uma análise de ordenação não-métrica (NMS, do inglês Nonmetric Multidimensional Scaling) com 1.000 aleatorizações. Após essa análise exploratória, foi usada a análise ANOSIM (do inglês Analysis of Similarity) para veriicar a similaridade na composição de espécies entre os tratamentos. Para isso, foi utilizado o índice de Jaccard. Para analisar os dados de estrutura da comunidade, foi considerada a abundância relativa de cada espécie 424 capturada em cada sítio e também foi utilizado o ANOSIM, porém, adotando o índice de similaridade de Bray-Curtis. As análises NMS foram realizadas no programa Primer v6. Para veriicar a inluência da conectividade promovida pelos corredores de vegetação (neste estudo chamado de fragmentos lorestais lineares), todos os parâmetros descritos anteriormente foram comparados entre os sítios amostrados. Para veriicar se a distância em relação à loresta contínua inluencia a composição e a estrutura da comunidade de pequenos mamíferos, foram construídos modelos gerais linearizados (GLM, do inglês General Linear Models) considerando a distância até a loresta contínua como variável preditora (ver dados de distância de cada sítio até a loresta contínua apresentados na Tabela 1). Os eixos gerados pelo NMS serviram como proxy da composição e estrutura da comunidade (para detalhes, ver Barlow et al., 2010; Magnago et al., 2014) e foram considerados como variável resposta. A autocorrelação espacial dos resíduos para todos os modelos citados foi verificada por meio de correlograma I de Moran (Diniz-Filho et al., 2003). O número e o intervalo entre classes de distância dos correlogramas seguiu o default do programa SAM 4.0 (Rangel et al., 2010). A significância da autocorrelação espacial dos resíduos foi avaliada pela correção sequencial de Bonferroni (Fortin & Dale, 2005). Os resíduos dos modelos que consideraram a estrutura da comunidade não apresentaram autocorrelação espacial, uma vez que todos os coeficientes I de Moran foram menores do que 0,25 e não foram significativos. Porém, os resíduos dos modelos de composição apresentaram autocorrelação espacial em pelo menos uma classe de distância do correlograma e, portanto, foram adotadas medidas corretivas para lidar com a autocorrelação espacial (Diniz-Filho et al., 2003). Filtros espaciais foram gerados e incluídos como variáveis fixas nesses modelos. Os filtros espaciais foram obtidos pelo método de “Moran’s Eigenvector Map” (MEM), a partir de uma matriz das coordenadas geográficas das amostras, por meio do pacote ‘spacemakeR’ (DRAY et al., 2006) do programa R. Análise de redundância ROCHA ET AL. PEQUENOS MAMÍFEROS foi executada entre a variável resposta de cada modelo e os filtros espaciais gerados e os filtros foram selecionados pela função ‘forward.sel’ do pacote ‘packfor’ (Dray et al., 2009) do programa R. Após incluir os filtros espaciais, novamente foi verificada a autocorrelação espacial dos resíduos dos modelos e o resultado apresentado mostrou que os modelos de composição foram corrigidos. Dessa forma, o modelo GLM para verificar a influência da distância da floresta na composição de pequenos mamíferos foi construído usando os filtros espaciais como variáveis fixas. A família de distribuição usada foi Gaussian, uma vez que a variável resposta (scores NMS) não era de contagem. Para o modelo considerando a estrutura da comunidade, o mesmo procedimento foi adotado, porém, sem considerar os filtros espaciais já que os resíduos dos modelos não apresentaram autocorrelação espacial. Todas as análises relacionadas aos modelos GLM foram realizadas no programa R 2.15.3. Modelos GLM foram construídos também para comparar a abundância total entre os sítios amostrados, usando a família de distribuição negative binomial. Para todas as análises estatísticas descritas foram considerados signiicativos valores de p≤0,05. RESULTADOS Foram capturados 150 indivíduos de 12 espécies de pequenos mamíferos nos 20 sítios de amostragem (Tabela 2, Figura 2). A diversidade alfa foi signiicativamente maior no fragmento linear não conectado e menor no interior da loresta contínua, quando comparada com os fragmentos lineares (Tabela 3 e Figura 3). De maneira oposta, a diversidade beta foi signiicativamente maior no interior da loresta contínua, não diferindo signiicativamente entre a borda da loresta contínua e o fragmento linear conectado, e apresentando menor valor no fragmento linear não conectado (Tabela 3 e Figura 3). A análise de NMS evidenciou que o fragmento linear conectado possui maior similaridade com a loresta contínua do que o fragmento linear não conectado, tanto em relação à composição de espécies quanto à estrutura da comunidade (Figura 4). Esses resultados foram corroborados pela análise de similaridade ANOSIM que mostrou que a composição da comunidade de pequenos mamíferos no fragmento linear conectado é similar ao interior (R = - 0,046; p = 0,627) e à borda da loresta contínua (R = - 0,014; p = 0,5). O mesmo resultado foi observado quando considerada a Tabela 2: Espécies de pequenos mamíferos e número de indivíduos capturados por sítio de amostragem na Reserva Natural Vale e nos fragmentos lineares do entorno. FCI = interior da loresta contínua, FCB = borda da loresta contínua, FLC = fragmento linear conectado à loresta contínua, FLNC = fragmento linear não conectado, DP = desvio padrão. Espécies Marsupiais Caluromys philander (Linnaeus, 1758) Didelphis aurita Wied-Neuwied, 1826 Gracilinanus microtarsus (Wagner, 1842) Marmosa murina (Linnaeus, 1758) Marmosa paraguayana (Tate, 1931) Marmosops incanus (Lund, 1840) Metachirus nudicaudatus (É. Geoffroy St.-Hilaire, 1803) Monodelphis americana (Müller,1776) Roedores Nectomys squamipes Brants, 1827 Trinomys setosus (Desmarest, 1817) Rattus rattus (Linneaus 1758) Abundância total (±DP) FCI Sítios de amostragem FCB FLC FLNC 1 8 1 1 0 4 0 1 0 24 1 4 6 5 1 1 1 4 4 4 0 4 0 1 0 11 1 10 0 16 1 0 0 0 1 0 0 3 4 0 1 4 22 0 17 (±1,67) 45 (±3,24) 23 (±1,81) 65 (±5,20) 425 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Figura 2: Espécies de pequenos mamíferos capturadas na Reserva Natural Vale e nos fragmentos lineares amostrados. Da esquerda para direita, de cima para baixo: Caluromys philander, Didelphis aurita, Gracilinanus microtarsus, Marmosops incanus, Metachirus nudicaudatus, Marmosa murina, Marmosa paraguayana e Trinomys setosus. Fotos: Mariana F. Rocha e Sergio B. Lage. Figura 3: Relação entre riqueza de espécies e número de indivíduos ajustada por regressões lineares mostrando que a diversidade alfa e beta se comportam de maneira oposta nos tratamentos considerados. Legenda: círculo preto = interior da loresta contínua, círculo branco = borda da loresta contínua, triângulo branco = fragmento linear conectado, triângulo cinza = fragmento linear não conectado. abundância (fragmento conectado x interior: R = 0,076; p = 0,246; fragmento conectado x borda: R = 0,104; p = 0,198). Entretanto, a composição de espécies no fragmento linear não conectado foi dissimilar ao interior (R = 0,48; p = 0,008) e à borda da loresta contínua (R = 0,42; p = 0,016). A estrutura da comunidade seguiu o mesmo padrão, sendo altamente dissimilar entre o fragmento linear não conectado e a loresta contínua (fragmento não conectado x interior: R = 0,6; p = 0,008; fragmento não conectado x borda: R = 0,56; p = 0,008). Os dados obtidos evidenciam que a proximidade com a loresta contínua inluencia tanto a composição de espécies quanto a estrutura da comunidade de pequenos mamíferos nos fragmentos lineares do entorno (Tabela 4). Nesse sentido, ambos (composição e abundância de indivíduos) diferem à medida que a distância da loresta contínua aumenta (Figura 5). Tabela 3: Valores de signiicância do teste F para a diversidade alfa (intercepto) e beta (inclinação) de pequenos mamíferos não voadores entre os sítios amostrados. Diferentes letras denotam diferenças signiicativas entre as comparações par a par dos intervalos de coniança. FCI = interior de loresta contínua, FCB = borda da loresta contínua, FLC = fragmento linear conectado à loresta contínua, FLNC = fragmento linear não conectado. Estimador Log c (intercepto) Z (inclinação) FCI FCB FLC FLNC 0,021*(±0,021)a 0,667*(±0,022)a 0,025*(±0,021)a 0,534 (±0,015)b 0,142*(±0,063)b 0,568*(±0,057)b 0,287*(±0,081)c 0,313*(±0,052)c Z (inclinação) = diversidade beta (±IC); Log c (intercepto) = alfa-diversidade (±IC) *p < 0,001 426 ROCHA ET AL. PEQUENOS MAMÍFEROS DISCUSSÃO A comunidade de pequenos mamíferos nos fragmentos lineares conectados à RNV foi similar à loresta contínua, para todos os parâmetros analisados, enquanto nos fragmentos lineares não conectados os resultados diferiram signiicativamente da loresta contínua, principalmente dos sítios localizados no seu interior. Isso demonstra que a distância dos fragmentos lineares até a loresta contínua interfere signiicativamente na comunidade de pequenos mamíferos presentes nesses fragmentos, conirmando a primeira hipótese proposta neste trabalho. Dessa forma, a RNV, por ser um grande remanescente lorestal e ocupar grande parte da paisagem (Peixoto et al., 2008), pode se enquadrar no modelo de spillover (ver Brudvig et al., 2009), inluenciando a composição e estrutura da comunidade de pequenos mamíferos nos fragmentos lineares mais próximos. A importância das lorestas contínuas para manutenção da riqueza, composição e estrutura da biota nativa silvestre em fragmentos lineares conectados também foi observada em outros estudos realizados em lorestas tropicais com pequenos e grandes vertebrados, invertebrados e angiospermas (ver Lima & Gascon, 1999; Bolger et Figura 4: Análise de Ordenação Não-Métrica (NMS) evidenciando o espaço dimensional ocupado pelos sítios de amostragem em relação à similaridade na composição de espécies (a) e na estrutura da comunidade (b) de pequenos mamíferos. Legenda: círculo preto = interior da loresta contínua, círculo branco = borda da loresta contínua, triângulo branco = fragmento linear conectado, triângulo cinza = fragmento linear não conectado. Tabela 4: Sumário dos modelos gerais linearizados (GLMs) construídos para veriicar o efeito da distância da loresta contínua na composição de espécies (a) e estrutura da comunidade (b) de pequenos mamíferos. O modelo para composição de espécies foi construído considerando o MEM como variável ixa. Dist.RNV = distância da loresta contínua; MEM = mapas de autovetor de Moran (em inglês Moran’s eigenvector maps). (a) Composição (scores nms1) ~ dist.RNV + MEM Variável Dist.RNV MEM Estimate -0,3116 0,2565 Erro padrão 0,1025 0,5987 Valor de t 2,503 -1,668 p 0,0228 0,1136 (b) Estrutura (scores nms1) ~ dist.RNV Variável Dist.RNV Estimate 0,2763 Erro padrão 0,1069 Valor de t 2,586 p 0,0187 427 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Figura 5: Mudanças na composição de espécies (a) e estrutura da comunidade (b) de pequenos mamíferos em função da distância em relação à loresta contínua, com base em modelos gerais linearizados (GLM). Legenda: Círculo preto = interior da loresta contínua, círculo branco = borda da loresta contínua, triângulo branco = fragmento linear conectado, triângulo cinza = fragmento linear não conectado. al., 2001; Pardini et al., 2005; Hawes et al., 2008; Martensen et al., 2008; Lees & Peres, 2008; Barlow et al., 2010; Rocha et al., 2011; Castro & van den Berg, 2013). Os resultados obtidos corroboram a hipótese de que os fragmentos lineares conectados apresentaram maior diversidade beta do que os não conectados. Nesse sentido, a conectividade estrutural com a loresta contínua também parece inluenciar a diversidade beta de pequenos mamíferos nos sítios amostrados, uma vez que contribui para aumentar o turnover de espécies e indivíduos (Pardini et al., 2010), resultando em uma comunidade de pequenos mamíferos mais heterogênea e, consequentemente, uma maior diversidade beta nos fragmentos lineares conectados. Da mesma forma, a menor diversidade beta (comunidade mais homogênea) nos fragmentos lineares não conectados pode ser uma consequência do isolamento dessas áreas, uma vez que o turnover está relacionado ao deslocamento dos indivíduos (Hubbell, 1997; Condit et al., 2002). Dessa forma, os resultados apresentados corroboram estudos anteriores (p. ex. Condit et al., 2002; Pardini et al., 2005; Rocha et al., 2011; Mesquita & Passamani, 2012), demostrando a importância da conectividade provida pelos fragmentos lineares na redução do isolamento de populações/espécies e no aumento do turnover em paisagens fragmentadas. 428 Ao contrário do que foi hipotetizado, os fragmentos lineares apresentaram maior diversidade alfa do que a loresta contínua. Contudo, essa resposta provavelmente se deve ao efeito da amostragem, mais do que à diferença entre os tratamentos. Como os fragmentos lineares têm menor tamanho que a loresta contínua e a amostragem foi a mesma para todas as áreas (mesmo número de transectos e de armadilhas e mesma quantidade de dias amostrados), foi capturado um maior número de espécies nos fragmentos lineares, uma vez que nestes as espécies provavelmente encontram-se mais aninhadas. Assim, se a amostragem considerasse toda a área dos remanescentes estudados, seria esperado, de acordo com a relação espécie-área (ver Rosenzweig, 1995; Hubbell, 1997), que a diversidade alfa fosse maior na loresta contínua e menor nos fragmentos lineares. Essa colocação é corroborada pelo fato de os fragmentos pequenos possuírem um subconjunto de espécies encontradas em fragmentos maiores e com vegetação primária (Louzada et al., 2010; Hill et al., 2011; Menezes & Fernandez, 2013), conforme proposto inicialmente. Diante dos resultados obtidos, conclui-se que, em relação à comunidade de pequenos mamíferos, a loresta contínua na qual se insere a RNV exerce grande inluência sobre os fragmentos lineares do entorno, funcionando como uma área de spillover, o que pode aumentar o valor destes remanescentes ROCHA ET AL. para a conservação e, consequentemente, aumentar sua importância na paisagem fragmentada. Também foi possível observar que tanto a proximidade quanto a conectividade dos fragmentos em relação à RNV são importantes variáveis que inluenciam a composição, a estrutura da comunidade e a diversidade beta de pequenos mamíferos nos fragmentos lineares dessa paisagem. Desta forma, a similaridade com a loresta contínua indica que a manutenção e proteção de fragmentos lineares conectados a grandes blocos lorestais pode representar uma estratégia importante para a conservação da biodiversidade em paisagens fragmentadas. AGRADECIMENTOS À Vale S.A. pelo apoio logístico concedido para realização deste trabalho; Fibria Celulose S/A e Caliman por autorizar os trabalhos nos fragmentos em suas propriedades; Átilla Colombo Ferreguetti pelo auxílio nas atividades de campo; Leila Meyer pela contribuição essencial com as análises de autocorrelação espacial; Yuri Leite, Leonora Pires Costa, Jeronymo Dalapicolla e Rafaela Duda pela ajuda com a identiicação de espécimes; Ana Carolina Srbek de Araujo pelo convite para participar desse capítulo e pelas sugestões no texto; Yuri Leite e Diogo Loretto pela revisão do capítulo e importantes contribuições; Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa de estudos concedida à primeira autora para realização de suas atividades de doutorado no Brasil e na Austrália através do Programa de Doutorado Sanduíche (número do processo 1295/12-8). Esse capítulo foi gerado a partir de informações obtidas durante o doutorado da primeira autora. 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Peracchi INTRODUÇÃO O Brasil é considerado um país megadiverso, sendo o primeiro no mundo em diversidade de lora (Forzza et al., 2012) e o quarto em diversidade de fauna (Williams et al., 2001). Morcegos contribuem com pelo menos 178 espécies para a mastofauna brasileira (Nogueira et al., 2014) e têm em Phyllostomidae a família mais numerosa, com 92 espécies. Essa família se destaca ainda por apresentar grande diversidade ecológica, incluindo espécies que se alimentam de insetos, pequenos vertebrados, frutos, néctar, folhas, sementes e sangue (Altringham, 2011). Por meio das interações ecológicas das quais participam, morcegos proveem importantes serviços ecossistêmicos (Kunz et al., 2011), dentre os quais pode-se destacar a dispersão de sementes, deinida por Stoner & Henry (2010) como a remoção das sementes e sua deposição em locais distantes das plantas parentais. Na região neotropical, morcegos consomem frutos de pelo menos 546 espécies de plantas, em 191 gêneros e 62 famílias (Lobova et al., 2009). Dentre essas espécies, algumas parecem depender exclusivamente dos morcegos para sua dispersão (Sazima et al., 2003; Thies & Kalko, 2004), enquanto outras, importantes nos estágios iniciais da sucessão lorestal, têm papel de destaque na dieta desses mamíferos (Muscarella & Fleming, 2007). Além disso, morcegos são reconhecidos pela qualidade da dispersão que promovem, geralmente consumindo frutos maduros, os quais transportam para longe da planta-mãe, e defecando sementes em voo, frequentemente sobre áreas abertas propícias à germinação (Lobova et al., 2009). Salvo por um único gênero (Chiroderma), morcegos não daniicam as sementes durante a mastigação ou em seu trato gastrointestinal (Nogueira & Peracchi, 2003). Morcegos neotropicais considerados especializados na frugivoria pertencem às subfamílias Stenodermatinae, Carolliinae e Rhinophyllinae (sensu Baker et al., 2016) e ocorrem em todos os biomas brasileiros (Reis et al., 2007). A Mata Atlântica abriga signiicativa riqueza nesse grupo (22 espécies), embora esteja hoje bastante fragmentada – mais de 80% de seus remanescentes tem área menor do que 50 ha – e representada por apenas 12,5% de sua cobertura original (Ribeiro et al., 2009; SOS Mata Atlântica & Inpe, 2014). A Reserva Natural Vale (RNV), no estado do Espírito Santo, possui cerca de 22.711 ha e é contígua à Reserva Biológica de Sooretama, que por sua vez abarca cerca de 24.000 ha (Chiarello, 2000). Essas reservas totalizam quase 50.000 ha de áreas lorestais, representando uma oportunidade singular para pesquisa biológica, principalmente quando se considera que maiores fragmentos de Mata Atlântica ocorrem apenas em 433 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE latitudes mais altas, onde se espera uma redução no número de espécies de morcegos (Willig et al., 2003; Ramos-Pereira & Palmeirim, 2013). A RNV tem sido objeto de pesquisas de campo com morcegos desde a década de 1970 (Peracchi & Albuquerque, 1993; Pedro & Passos, 1995; Peracchi et al., 2011; Srbek-Araujo et al., 2012; Nogueira et al., 2012) e os resultados apontam para uma riqueza recorde na Mata Atlântica (Peracchi et al., 2011). As 50 espécies assinaladas na mais recente lista publicada para a reserva (Srbek-Araujo et al., 2014) correspondem a, respectivamente, 70 e 43% do que já foi registrado para Chiroptera no estado do Espírito Santo (Pimenta et al., 2014; Hoppe et al., 2014a, b) e no bioma atlântico (Paglia et al., 2012) (a lista atualizada de morcegos da RNV pode ser encontrada na Tabela 1). Morcegos frugívoros representam 1/3 Tabela 1: Relação das espécies de Chiroptera registradas na Reserva Natural Vale, estado do Espírito Santo, sudeste do Brasil. Espécies assinaladas com um asterisco foram registradas em estudos anteriores realizados na reserva (Peracchi et al., 1993, Pedro & Passos, 1995). 434 Família/subfamília Família/subfamília Emballonuridae/Emballonurinae Rhynchonycteris naso (Wied-Neuwied, 1820) Saccopteryx bilineata (Temminck, 1838) Saccopteryx leptura (Schreber, 1774) Phyllostomidae/Micronycterinae Lampronycteris brachyotis (Dobson, 1879) Micronycteris hirsuta (Peters, 1869) Micronycteris megalotis (Gray, 1842) Micronycteris microtis Miller, 1898 Micronycteris minuta (Gervais, 1856) Phyllostomidae/Desmodontinae Desmodus rotundus (E. Geoffroy, 1810) Phyllostomidae/Phyllostominae Chrotopterus auritus (Peters, 1856) Lophostoma brasiliense Peters, 1866 Mimon crenulatum (É. Geoffroy, 1803) Phyllostomus discolor (Wagner, 1843) Phyllostomus hastatus (Pallas, 1767) Tonatia bidens (Spix, 1823) Tonatia saurophila Koopman & Williams, 1951 Trachops cirrhosus (Spix, 1823) Phyllostomidae/Glossophaginae Anoura caudifer (É. Geoffroy, 1818)* Anoura geoffroyi Gray, 1838 Dryadonycteris capixaba Nogueira, Lima, Peracchi & Simmons, 2012 Glossophaga soricina (Pallas, 1766) Phyllostomidae/Lonchophyllinae Lonchophylla mordax Thomas, 1903* Phyllostomidae/Carolliinae Carollia brevicauda (Schinz, 1821) Carollia perspicillata (Linnaeus, 1758) Phyllostomidae/Glyphonycterinae Trinycteris nicefori Sanborn, 1949 Phyllostomidae/Rhinophyllinae Rhinophylla pumilio Peters, 1865 Phyllostomidae/Stenodermatinae Artibeus fimbriatus Gray, 1838 Artibeus lituratus (Olfers, 1818) Artibeus obscurus (Schinz, 1821) Artibeus planirostris (Spix, 1823) Chiroderma villosum Peters, 1860 Dermanura cinerea Gervais, 1856 Dermanura gnoma (Handley, 1987) Platyrrhinus lineatus (É. Geoffroy, 1810) Platyrrhinus recifinus (Thomas, 1901) Pygoderma bilabiatum (Wagner, 1843) Sturnira lilium (É. Geoffroy, 1810) Sturnira tildae de la Torre, 1959 Uroderma magnirostrum Davis, 1968 Vampyressa pusilla (Wagner, 1843) Noctilionidae Noctilio leporinus (Linnaeus, 1758) Molossidae/Molossinae Cynomops planirostris (Peters, 1866) Molossus molossus (Pallas, 1766) Molossus rufus É. Geoffroy, 1805 Vespertilionidae/Vespertilioninae Eptesicus diminutus Osgood, 1915 Eptesicus furinalis (d’Orbigny and Gervais, 1847) Lasiurus blossevillii ([Lesson, 1826]) Lasiurus ega (Gervais, 1856) Vespertilionidae/Myotinae Myotis albescens (É. Geoffroy, 1806) Myotis nigricans (Schinz, 1821) LIMA ET AL. das espécies registradas na Reserva, mas pouco se sabe sobre suas interações com a lora local ou mesmo nas matas de tabuleiro de forma geral. Pedro & Passos (1995) reportaram o consumo de uma cucurbitácea por Phyllostomus hastatus, de infrutescências de Cecropia sp. por Platyrrhinus recifinus e de solanáceas e Piper arboreum por Carollia perspicillata. O presente trabalho descreve a chuva de sementes proporcionada por morcegos frugívoros em áreas de borda e matrizes adjacentes a estas áreas na RNV, bem como apresenta as interações entre as espécies de morcegos e os frutos dos quais se alimentam. MATERIAL E MÉTODOS Chuva de Sementes A chuva de sementes produzida pelos morcegos na RNV foi estudada por meio de coletores de sementes. Esses coletores foram instalados em quatro parcelas, cada uma com 900 m2 e situadas em áreas de borda de mata e nas suas adjacências MORCEGOS Figura 1, pontos 1, 2, 3 e 4). Em cada parcela foram colocados 18 coletores, seis na borda da mata (10 m em direção ao interior da mata, partindo-se das últimas árvores antes da área aberta) e 12 na área aberta adjacente (matriz). Nessa última área, os coletores foram dispostos em duas ileiras de seis coletores, a primeira a 10 m da borda e a segunda a 20 m dela (Figura 2). A distância entre os coletores de uma mesma ileira foi de 5 m. A estrutura dos coletores foi confeccionada com tubos de PVC de 25 mm de diâmetro, com dimensões de 100 cm x 100 cm (Figura 3). Como material de anteparo das sementes, foi utilizada uma tela em nylon com malha de 1 mm, com 10 cm de profundidade. O anteparo permaneceu a uma altura de 30 cm do solo, evitando que as sementes fossem predadas por roedores (Gorchov et al., 1993). Os coletores foram vistoriados ao longo de dois anos (setembro de 2009 a agosto de 2011), com um esforço mensal de dez dias de amostragem. As vistorias foram realizadas duas vezes por dia, uma no início da manhã, para recolher os diásporos1 Figura 1: Mapa da Reserva Natural Vale, estado do Espírito Santo, sudeste do Brasil, com localização das parcelas (sítios 1 a 4) onde foram instalados coletores de sementes e efetuadas capturas de morcegos com redes de neblina, e sítios onde foram realizadas apenas capturas com rede de neblina (pontos 5 a 14). 1 Como a unidade de dispersão pode variar de entre as espécies (p. ex., sementes em Solanum spp. e frutos em Ficus spp.), foi adotado o termo mais genérico “diásporo”, conforme sugerem Lobova et al. (2009). 435 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE provenientes da dispersão por morcegos, e outra ao inal da tarde, para o recolhimento do material depositado pelas aves. Os diásporos retirados dos coletores foram acondicionados em envelopes de papel e levados ao laboratório para análise sob microscópio estereoscópico. A identiicação desse material foi feita com o auxílio de pranchas fornecidas por Lobova et al. (2009) e a partir de consulta a uma coleção de referência de sementes da área de estudo, além de consultas ao curador do herbário da RNV, Geovane S. Siqueira. Cada espécie foi classiicada quanto à sua síndrome de dispersão (autocórica, anemocórica e zoocórica) (Noguchi et al., 2009; Silva & Rodal, 2009), estágio sucessional (pioneira, secundária inicial e secundária tardia) (Rolim et al., 1999), hábito (trepadeira, arbusto e árvore) e tipo de dispersão (endozoocórica e estomatocórica). Dados em Lobova et al. (2009) também foram utilizados nessas classiicações. Pelo menos uma amostra de cada espécie ou morfoespécie vegetal registrada no presente estudo encontra-se depositada como testemunho no Laboratório de Mastozoologia da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Figura 2: Representação esquemática de parcela instalada em área de borda de mata e matriz adjacente na Reserva Natural Vale, estado do Espírito Santo, sudeste do Brasil, mostrando a distribuição dos coletores de sementes. 436 Figura 3: Coletor de sementes (1 m2) utilizado na Reserva Natural Vale, estado do Espírito Santo, sudeste do Brasil, para amostragem da chuva de sementes. Foto: Isaac P. Lima. Amostragem em Redes de Neblina Além da chuva de sementes, foram estudadas as interações entre morcegos frugívoros e frutos por meio de amostragens em redes de neblina, a partir das quais foi possível obter, diretamente dos morcegos, tanto amostras fecais (endozoocoria) quanto diásporos transportados oralmente (estomatocoria). Os dados utilizados nessa análise foram obtidos em diversos sítios dentro da Reserva (p. ex., borda e interior de mata, sobre coleções de água), incluindo as parcelas onde foram instalados os coletores (Figura 1, pontos de 1 a 14). O esforço de captura, calculado de acordo com Straube & Bianconi (2002), foi de 147.900 m2.h de rede. As amostragens foram feitas entre dezembro de 2007 e novembro de 2012, envolvendo redes de neblina armadas ao nível do solo e expostas, usualmente, por quatro horas em seguida ao pôr do sol. Como houve sobreposição entre o período de amostragem LIMA ET AL. com coletores e redes nas parcelas, foi mantida uma distância de cerca de 100 metros entre esses dispositivos, visando evitar eventual interferência do chamado de “distress” de morcegos capturados nas redes sobre a chuva de sementes. Essas vocalizações poderiam atrair outros morcegos para o ponto de captura (p. ex., Simmons & Voss, 1998) e incrementar artiicialmente o número de sementes depositadas nos coletores. Os morcegos capturados eram analisados quanto à presença de diásporos transportados oralmente e, em seguida, eram colocados individualmente em sacos de pano, onde eram mantidos por pelo menos 30 minutos antes da soltura para obtenção das amostras fecais. Os diásporos transportados oralmente eram acondicionados individualmente em sacos plásticos etiquetados. Após soltura dos morcegos, os sacos de pano eram guardados e vistoriados em laboratório para acondicionamento das amostras fecais em sacos plásticos individualmente etiquetados. Os procedimentos de identiicação e tombamento de testemunho desse material foram os mesmos descritos para as sementes obtidas nos coletores. O Laboratório de Mastozoologia da UFRRJ também abriga material testemunho referente aos morcegos da RNV, capturados e colecionados de acordo com licença emitida pelo ICMBio/ Sisbio (158 9-1). Esses morcegos encontram-se preservados sob a forma de pele cheia ou em meio líquido (álcool 70%). Análise de Dados Para avaliar se os esforços amostrais nos diferentes métodos foram suicientes para detectar a riqueza de interações entre morcegos e frutos na RNV, foram construídas curvas do coletor randomizadas. Tendo em vista que não houve estabilização em nenhum dos casos, foram empregados estimadores não paramétricos de riqueza de espécies. Em ambos os casos as análises foram efetuadas no programa R (R Core Team, 2015), utilizando-se o pacote Vegan (Oksanen et al., 2015). Foi avaliada ainda a importância de cada espécie frugívora no processo de dispersão MORCEGOS de sementes a partir do índice de importância de dispersão (IID), proposto por Galindo-González et al. (2000). Este índice é dado pela fórmula IID = (S × B)/1000, onde S é a porcentagem de amostras fecais com sementes obtidas de uma dada espécie de morcego e B é a abundância relativa dessa espécie, aqui representada por sua frequência relativa de captura. RESULTADOS Chuva de Sementes Os coletores receberam 3.570 diásporos, dos quais 3.527 foram identiicados pelo menos em nível de família e 43 apenas até morfoespécie. Foram reconhecidas 37 famílias e 95 espécies ou morfoespécies no primeiro grupo, e 17 morfoespécies no segundo, totalizando 112 espécies ou morfoespécies (Tabela 2). A grande maioria dos diásporos que alcançaram os coletores foi classiicada como zoocórica (n = 1.742; 49%) ou anemocórica (n = 1.519; 43%), icando as autocóricas com menos de 10% do total (n = 266) (Figura 4A). O número de espécies de plantas com diásporos zoocóricos nos coletores, entretanto, foi superior ao dobro do observado para os anemocóricos (n = 73 vs. 28), enquanto os autocóricos (n = 11) permanecem em pequena proporção (Figura 4B). Dos 1.742 diásporos zoocóricos, 1.127 chegaram aos coletores durante a noite (65%), sendo a maioria deles (n = 1.118; 99%) atribuída aos morcegos2. Esses diásporos associados à quiropterocoria permitiram a identiicação de 15 espécies, pertencentes a 11 famílias, icando apenas quatro diásporos reportados apenas como morfoespécies (Tabela 2). Frutos do gênero Ficus corresponderam a 77% dos diásporos identiicados pelo menos em nível de gênero e foram reconhecidos em quatro espécies. O segundo táxon com maior representatividade foi Solanum, com 14% dos diásporos, icando em terceiro Phyllodendron, com 5%. As famílias com maior representatividade de espécies foram Moraceae (n = 4) e Urticaceae (n = 2). Os coletores localizados na área aberta 2 A associação desses diásporos com morcegos e não com outros animais noturnos (p. ex., marsupiais, roedores arborícolas) foi feita através de suas características (p. ex., tamanho, dureza) e do tamanho das fezes nas quais eles foram coletados (nos casos de endozoocoria). Descartouse também a possibilidade de aves empoleiradas em repouso sobre os coletores da mata terem contribuído para a chuva de sementes nesse local, já que o material fecal nesse grupo apresenta depósito de ácido úrico (pasta branca insolúvel em água), sendo facilmente identiicável. 437 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Tabela 2: Espécies de plantas amostradas em coletores de sementes em áreas de borda de mata e matrizes adjacentes na Reserva Natural Vale, estado do Espírito Santo, sudeste do Brasil, com respectivos números de diásporos e classiicação quanto à síndrome de dispersão. Família Espécie Nome popular ANACARDIACEAE Astronium concinum Astronium graveolens Xylopia sericea Annonaceae Forsteronia sp. Forsteronia leptocarpa Phyllodendron sp. Euterpe oleracea3 Geonoma sp. Asteraceae Aspidoserma ilustre Bignoniaceae 1 Bignoniaceae 2 Bignoniaceae 3 Handroanthus arianeae Handroanthus serratifolia Sparattosperma leucanthum Zeyheria tuberculosa Cordia acutifolia Cordia sp. Opuntia brasiliensis Apuleia leiocarpa Aspidosperma pyricollum Caesalpiniaceae Chamaecrista ensiformis Dialium guianensis Poeppigia procera Senna multijuga Senna sp. Kielmeyera membranacea Vismia martiana Vismia martiana Terminalia mameluco Erythroxylum sp. Euphorbiaceae Senefeldera veticillata Platypodium elegans Piptadenia adiantoides Fabaceae Lonchocarpus cultratus Caesaria sp. Humiriastrum mussunungense Lauraceae gonçalo-alves aderne pindaíba-branca ANNONACEAE APOCYNACEAE ARACEAE ARECACEAE ASTERACEAE APOCYNACEAE BIGNONIACEAE BORAGINACEAE CACTACEAE CAESALPINIACEAE CLUSIACEAE COMBRETACEAE ERYTHROXYLACEAE EUPHORBIACEAE FABACEAE FLACOURTIACEAE HUMIRIACEAE LAURACEAE 3 Espécie exótica oriunda da Amazônia. 438 cipó-gril palmito-açaí dente-de-leão tambú-pequiá ipê-preto ipê-amarelo cinco-folhas ipê-felpudo mandacaru garapa pequiá-sobre jaúna jataipeba côco-d’óleo angico-branco durce copiã copiã pelada sucanga uruvalheira arranha-gato óleo-amarelo casca-dura Nº de diásporos Síndrome de dispersão 9 36 1 1 2 4 59 6 2 69 4 2 2 3 100 19 284 189 4 3 23 24 1 1 21 1 5 3 1 19 18 7 31 1 3 1 8 3 1 1 6 1 2 Ane Ane Orn Orn Ane Ane Qui Orn Zoo Ane Ane Zoo Ane Auto Ane Ane Ane Ane Orn Zoo Orn Ane Ane Auto Auto Orn Ane Auto Orn Ane Orn Qui Ane Zoo Zoo Zoo Ane Auto Auto Auto Zoo Qui Orn LIMA ET AL. Família LORANTHACEAE MALPIGHIACEAE MELIACEAE MENISPERMACEAE MIMOSACEAE MORACEAE MYRTACEAE NYCTAGINACEAE PASSIFLORACEAE PERACEAE PIPERACEAE POACEAE MORCEGOS Espécie Licaria bahiana Ocotea sp. Phoradendron coriaceum Byrsonima sericea Byrsonima stipulacea Byrsonima stipulacea Heteropterys oberdanii Trichilia pseudostipularis Menispermaceae Acacia mangium4 Albizia niopoides Albizia pedicellaris Albizia polycephala Inga laceifolia Inga laceifolia Inga sp. Leguminosa Mimosaceae 1 Mimosaceae 2 Siparuna sp. Zornia latifolia Brosimum sp. Ficus gomelleira Ficus gomelleira Ficus nymphaeifolia Ficus sp. 1 Ficus sp. 1 Ficus sp. 2 Ficus sp. 3 Ficus sp. 4 Helicostylis tomentosa Eugenia excelsa Eugenia sp. 1 Eugenia sp. 2 Eugenia uniflora Myrtaceae 1 Myrtaceae 2 Plinia trunciflora Psidium sp. Psidium sp. Bougainvillea praecox Passiflora ceratocarpa Passiflora sp. 1 Passiflora sp. 2 Peraceae Piperaceae Melinis repens Poaceae Nome popular canela-chapéu imbuia erva-de-passarinho muricí-do-brejo muricí muricí mucunã-vermelho amora-da-mata acácia farinha-seca jueirana-branca manjolo ingá ingá ingá arranha-gato arrozinho-do-campo mata-pau mata-pau apuí igueira igueira igueira igueira igueira jaquinha goiabeira-vermelha jamelão pitanga jabuticaba capa-garrote maracujá-preto capim-seda Nº de diásporos Síndrome de dispersão 1 4 41 7 11 6 1 1 1 86 1 15 3 12 1 1 17 14 1 1 230 1 197 102 566 81 42 20 5 83 1 3 37 1 3 1 3 11 2 2 41 1 5 2 1 9 658 15 Orn Qui Orn Orn Qui Orn Ane Zoo Zoo Orn Ane Orn Ane Orn Qui Zoo Auto Auto Ane Zoo Auto Zoo Qui Orn Qui Qui Orn Qui Orn Orn Zoo Orn Orn Zoo Orn Zoo Zoo Orn Orn Qui Ane Zoo Orn Qui Ane Orn Ane Orn 4 Espécie exótica oriunda da Austrália. 439 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Família Espécie RUBIACEAE RUTACEAE SAPINDACEAE Posoqueria latifolia fruta-de-macaco Dictyoloma sp. Serjania sp. Sapindaceae Sapotaceae Solanaceae Solanum sp. 1 Solanum sp. 1 Solanum sp. 2 Cecropia hololeuca embaúba Cecropia hololeuca embaúba Cecropia glaziovii embaúba Indeterminada (Fezes de ave)1 Indeterminada (semente branca) Indeterminada (semente crenada) Indeterminada 1 Indeterminada (semente comprida) Indeterminada 13 Indeterminada 2 Indeterminada 3 Indeterminada (Fruto amarelo) Indeterminada (semente rugosa) Indeterminada (Fruto verde) Indeterminada (semente vermelha) Indeterminada (semente achatada) Indeterminada (semente alada) Indeterminada 16 Indeterminada (Fezes Ave) 2 Indeterminada 4 SAPOTACEAE SOLANACEAE URTICACEAE INDETERMINADAS Total Nome popular Nº de diásporos Síndrome de dispersão 2 3 2 5 12 1 3 151 2 8 6 3 8 1 2 2 2 2 2 1 1 1 1 1 1 1 13 3 1 3.570 Zoo Ane Ane Zoo Orn Orn Orn Qui Orn Qui Orn Qui Orn Zoo Zoo Zoo Zoo Zoo Zoo Zoo Zoo Zoo Zoo Qui Ane Ane Orn Orn Orn Figura 4: Frequência de ocorrência das síndromes de dispersão observadas em plantas registradas em coletores de sementes em áreas de borda e matrizes adjacentes na Reserva Natural Vale, estado do Espírito Santo, sudeste do Brasil. Legenda: (A) Dados organizados de acordo com o número de morfoespécies e (B) número de diásporos. 440 LIMA ET AL. MORCEGOS receberam juntos diásporos de nove espécies, o que representa cerca de 50% das espécies encontradas na borda (Tabela 2). Das 15 espécies quiropterocóricas identiicadas nos coletores, 60% são típicas de estágios iniciais de sucessão ecológica (pioneiras = 3; secundárias iniciais = 6) e 67% são de porte arbóreo (Tabela 3). Em número de diásporos, espécies arbóreas também dominaram os coletores, principalmente em função da elevada frequência de frutos de Ficus spp. nas amostras. Quanto ao tipo de dispersão, a maioria das espécies foi classiicada como endozoocórica (87%), com apenas duas espécies associadas à estomatocoria. A curva do coletor para espécies presentes na chuva de sementes proporcionada pelos morcegos não evidenciou estabilização (Figura 5), sugerindo que a riqueza de plantas quiropterocóricas que alcançam as áreas de borda e matrizes adjacentes na RNV foi apenas parcialmente amostrada. Estimadores de riqueza de espécies sugerem que esforço adicional com coletores de sementes poderia resultar em lista de cerca de 20 espécies com diásporos levados até a borda da mata e adjacências pelos morcegos (Chao = 19±4,05; Jack 1 = 22±2,63; Jack 2 = 23; Bootstrap = 18±1,51). Figura 5: Curva do coletor para espécies vegetais presentes na chuva de sementes durante o período noturno em áreas de borda e matrizes adjacentes na Reserva Natural Vale, estado do Espírito Santo, sudeste do Brasil. Tabela 3: Número de diásporos zoocóricos obtidos no período noturno em coletores de sementes situados na borda da mata e em matrizes adjacentes na Reserva Natural Vale, estado do Espírito Santo, sudeste do Brasil. Família/Espécie Byrsonima stipulacea Cecropia glaziovii Cecropia hololeuca Ficus gomelleira Ficus nymphaeifolia Ficus sp. 1 Ficus sp. 2 Humiriastrum mussunungense Indeterminada (Fruto amarelo) Indeterminada (semente branca) Indeterminada (semente rugosa) Indeterminada 2 Inga laceifolia Ocotea sp. Passiflora sp. 2 Phyllodendron sp. Psidium sp. Solanum sp. 1 Vismia martiana Total Borda 11 3 8 105 557 39 11 1 1 1 1 2 1 3 1 59 804 10 m 20 m 92 9 42 9 1 1 77 3 214 2 74 4 100 Total % ES* Hábito 11 3 8 197 566 81 20 1 1 1 1 2 1 4 2 59 2 151 7 1.118 0,98 0,27 0,72 17,62 50,63 7,25 1,79 0,09 0,09 0,09 0,09 0,18 0,09 0,36 0,18 5,28 0,18 13,51 0,63 100 SI PI PI SI SI SI SI Arbóreo Arbóreo Arbóreo Arbóreo Arbóreo Arbóreo Arbóreo Arbóreo ST ST ST Arbóreo Arbustivo Trepadeira Trepadeira Arbustivo Arbustivo Arbóreo PI SI *Espécies classiicadas quanto ao seu estágio sucessional (ES) (PI - pioneiras, SI - secundárias iniciais e ST - secundárias tardias) e hábito. **Espécies sem classiicação (mais de um estágio no gênero ou espécie de classiicação indeinida). 441 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Figura 6: Exemplos de morcegos frugívoros especializados (A - Carollia perspicillata, B - Artibeus lituratus, C Rhinophylla pumilio, D - Sturnira tildae, E - Chiroderma villosum) e onívoro (F - Phyllostomus hastatus) com presença de diásporos em fezes coletadas na Reserva Natural Vale, estado do Espírito Santo, sudeste do Brasil. A ordem das espécies está de acordo com o índice de importância do dispersor (ver Tabela 4). Fotos: Marcelo R. Nogueira. 442 LIMA ET AL. MORCEGOS Tabela 4: Filostomídeos para os quais foram obtidas amostras fecais positivas para diásporos na Reserva Natural Vale, estado do Espírito Santo, sudeste do Brasil, e respectivos valores de número total de capturas (N), número total de sementes recolhidas nas fezes (NTSF), número de amostras fecais coletadas (NAF) e índice de importância do dispersor (IID). Táxon Artibeus lituratus (Olfers, 1818) Carollia perspicillata (Linnaeus, 1758) Artibeus obscurus (Schinz, 1821) Rhinophylla pumilio Peters, 1865 Platyrrhinus recifinus (Thomas, 1901) Sturnira lilium (É. Geoffroy, 1810) Dermanura gnoma (Handley, 1987) Dermanura cinerea (Gervais, 1856) Phyllostomus hastatus (Pallas, 1767) Chiroderma villosum Peters, 1860 Sturnira tildae de la Torre, 1959 Vampyressa pusilla (Wagner, 1843) Uroderma magnirostrum Davis, 1968 Total N % NTSF % NAF % IID 384 336 101 75 45 35 18 32 3 25 5 16 1 1.076 27,4 24 7,2 5,4 3,2 2,5 1,3 2,3 0,2 1,8 0,4 1,1 0,1 8.828 7.205 313 733 81 416 34 27 577 179 27 196 4 18.620 47,4 38,7 1,7 3,9 0,4 2,2 0,2 0,1 3,1 1,0 0,1 1,1 0,02 77 145 9 17 8 10 1 3 2 3 2 7 1 285 27,02 50,88 3,16 5,96 2,81 3,51 0,35 1,05 0,70 1,05 0,70 2,46 0,35 0,74 1,22 0,02 0,03 0,01 0,01 0,00046 0,00242 0,00014 0,00189 0,00028 0,00270 0,00004 Amostragem com Redes de Neblina Durante a amostragem de morcegos na RNV foram capturados 1.694 indivíduos, dos quais 1.380 pertencem à família Phyllostomidae, onde estão os potenciais dispersores de sementes. Foram identiicadas 31 espécies pertencentes a essa família, incluindo grupos especializados na frugivoria (Stenodermatinae, Carollinae e Rhinophyllinae) e grupos que podem incluir frutos em sua dieta, mas que não são especializados (Glossophaginae, Phyllostominae e Micronycterinae; ver Tabela 1 para a lista completa da quiropterofauna da RNV). No primeiro grupo estão 79% dos indivíduos e 52% das espécies de Phyllostomidae amostradas, icando o segundo grupo com 17% e 45%, respectivamente. Amostras fecais contendo diásporos e, em frequência bem menor, transporte oral de diásporos, foram registradas apenas para frugívoros especializados (n = 12 spp.) e para o onívoro Phyllostomus hastatus (Figura 6) (Tabela 4). A partir das capturas dos morcegos obtevese 285 amostras (fecais e orais) que totalizaram 18.620 diásporos, identiicados em 23 espécies de 11 famílias (Tabela 3). Urticaceae e Solanaceae foram as famílias com maior representatividade em número de amostras (25% cada; Figura 7), o que reletiu o uso de Cecropia spp. por estenodermatíneos, principalmente A. lituratus, e de Solanum spp. por C. perspicillata. Urticaceae (33%) e Solanaceae (17%) também dominaram a amostra em número de diásporos, vindo em seguida Piperaceae e Melastomataceae, ambas com 15%. Quanto à riqueza, Solanaceae e Moraceae, cada uma com quatro espécies, e Urticaceae, Piperaceae e Araceae (Figura 8 e 9), cada uma com três, se destacaram das demais famílias, a maioria com apenas um representante. A curva do coletor relativa às amostras fecais de morcegos capturados em rede sugere que esforço adicional implicaria na descoberta de novas interações entre morcegos e frutos na RNV (Figura 10), podendo chegar a cerca de 30 espécies (Chao = 27±4,05; Jack 1 = 30±2,62; Jack 2 = 31; Bootstrap = 26±1,59). Figura 7: Porcentagem de amostras, sementes e espécies das famílias vegetais provenientes da captura de morcegos amostrados com redes de neblina na Reserva Natural Vale, estado do Espírito Santo, sudeste do Brasil. 443 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Figura 8: Diásporos de Moraceae (A - Ficus gomeleira e B - Ficus nymphaeifolia), Melastomataceae (C - Miconia cinnamomifolia), Arecaceae (D e E) e Clusiaceae (F - Vismia martiana) encontrados em fezes de morcegos capturados com redes de neblina na Reserva Natural Vale, estado do Espírito Santo, sudeste do Brasil. Fotos: Isaac P. Lima. Barras de escala = 1 mm. 444 LIMA ET AL. MORCEGOS Figura 9: Diásporos de Solanaceae (A - Solanum sp.1 e B - Solanum sp.2), Urticaceae (C - Cecropia hololeuca), Myrtaceae (D - Psidium sp.), Passiloraceae (E - Passiflora sp.) e Piperaceae (F - Piper sp.) encontrados em fezes de morcegos capturados com redes de neblina na Reserva Natural Vale, estado do Espírito Santo, sudeste do Brasil Fotos: Isaac P. Lima. Barras de escala = 1 mm. 445 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Figura 10: Curva do coletor relativa às amostras fecais de morcegos capturados com redes de neblina durante o período noturno na Reserva Natural Vale, estado do Espírito Santo, sudeste do Brasil. Assim como na amostragem por meio dos coletores, interações identificadas pelas amostras fecais e por diásporos transportados oralmente mostram um predomínio no uso de espécies pioneiras e secundárias iniciais (82%) e de porte arbóreo (59%). Além disso, também predominou a endozoocoria (91%), havendo apenas duas espécies cujo diásporo foi trazido na boca dos morcegos (estomatocoria). Essas espécies estomatocóricas foram as mesmas registradas nos coletores de sementes (Byrsonima stipulacea e Humiriastrum mussunungense). Também foi registrado o uso de uma espécie exótica, a Mimosaceae australiana Acacia mangium, por morcegos. Artibeus lituratus e C. perspicillata (Figura 6) foram os morcegos mais abundantes na RNV, representando, respectivamente, 27% e 24% das capturas entre os indivíduos dos quais se obteve amostras fecais ou orais, enquanto a terceira espécie mais abundante, Artibeus obscurus , correspondeu a apenas 7% da amostra (Tabela 4). Embora ambos representem cerca de 25% das capturas, C. perspicillata alcançou IID quase duas vezes maior do que A. lituratus, tendo apresentado amostras fecais positivas para diásporos em cerca de 50% das capturas, contra 27% dessa última espécie. Em número de diásporos, tanto A. lituratus (47%) 446 quanto C. perspicillata (39%) tiveram elevada contribuição (Tabela 5). Carollia perspicillata consumiu frutos de 14 espécies em nove famílias, mas 88% de suas amostras fecais continham diásporos de apenas três famílias (Solanaceae, 55%; Clusiaceae, 39% e Piperaceae, 33%), com um gênero em cada (Solanum, Vismia e Piper). Artibeus lituratus interagiu com um número similar de espécies (n = 12) e com o mesmo número de famílias, mas 87% de suas amostras fecais/orais eram de Urticaceae (49%) e Moraceae (18%), com apenas dois gêneros representados (Cecropia e Ficus). Embora A. lituratus e C. perspicillata tenham preferências alimentares distintas, elas compartilham seis itens alimentares (Tabela 5). Artibeus obscurus e P. recifinus apresentaram padrão similar ao de A. lituratus (dominância de Cecropia spp.), enquanto Vampyressa pusilla utilizou principalmente Ficus spp.. Para Sturnira spp. (Figura 6), apenas uma dentre as 12 amostras fecais obtidas não continham diásporos pertencentes ao gênero Solanum. Chiroderma villosum (Figura 6) consumiu apenas Ficus sp. e apresentou número relativamente elevado de sementes nas três amostras fecais obtidas para essa espécie (n = 47, 65 e 67). Rhinophylla pumilio (Figura 6) foi a terceira espécie em número de amostras fecais e interagiu com nove plantas de seis famílias (Tabela 5). Houve domínio de Clusiaceae (41%) nas amostras dessa espécie, mas o consumo de Araceae também deve ser destacado, visto que 50% das amostras fecais nas quais essa família foi registrada foram produzidas por R. pumilio (C. perspicillata e A. lituratus produziram as demais). Outras interações que merecem destaque são as de B. stipulacea e H. mussunungense (Figura 11) com A. lituratus. Esse morcego foi o único observado consumindo frutos dessas plantas, sendo a última delas endêmica da Floresta de Muçununga da RNV. Itens alimentares Vismia martiana Cecropia glaziovii Piper sp.1 Solanum sp.1 Solanum sp.2 Ficus sp.1 Cecropia sp. Ficus sp.2 Cecropia hololeuca Psidium sp. Phyllodendron sp. Byrsonima stipulacea Miconia cinnamomifolia Acacia mangium Araceae Ficus sp.3 Piper sp.2 Humiriastrum mussunungense Piper sp.3 Solanum sp.3 Myrtaceae Ficus clusifolia Solanaceae Total de amostras fecais Total de itens alimentares Total de diásporos Família Hábito Clu Urt Pip Sol Sol Mor Urt Mor Urt Myr Ara Mal Mel Mim Ara Mor Pip Hum Pip Sol Myr Mor Sol Arbóreo Arbóreo Arbustivo Arbustivo Arbustivo Arbóreo Arbóreo Arbóreo Arbóreo Arbóreo Trepadeira Arbóreo Arbóreo Arbóreo Trepadeira Arbóreo Arbóreo Arbóreo Arbustivo Arbustivo Arbóreo Arbóreo Arbustivo Disp. Al Cp Endo Endo Endo Endo Endo Endo Endo Endo Endo Endo Endo Esto Endo Endo Endo Endo Endo Esto Endo Endo Endo Endo Endo 1 30 3 1 40 3 31 26 26 13 14 5 5 2 1 1 Sl Rp 1 7 1 2 Cv 1 1 1 1 St Vp Um 1 7 2 1 Pr Ao 5 1 Ph Dg Dc 2 2 1 3 1 4 1 1 1 3 1 5 6 2 2 2 2 1 1 2 2 1 1 1 1 1 77 145 12 15 8.828 7.205 10 3 416 1 17 9 733 3 2 179 8 5 81 2 1 27 7 3 196 1 1 4 9 6 313 2 1 577 1 1 34 3 1 27 Total % 48 43 37 37 30 21 18 11 10 6 4 2 3 2 3 2 2 1 1 1 1 1 1 285 16,8 15,1 13,0 13,0 10,5 7,4 6,3 3,9 3,5 2,1 1,4 0,7 1,1 0,7 1,1 0,7 0,7 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 0,4 100 LIMA ET AL. Tabela 5: Espécies de plantas classiicadas por hábito e tipo de dispersão (endozoocórica e estomatocórica) e sua representatividade em amostras fecais ou transportadas oralmente por morcegos capturados na Reserva Natural Vale, estado do Espírito Santo, sudeste do Brasil. 18.620 MORCEGOS Siglas empregadas são como se segue: Al = Artibeus lituratus; Cp = Carollia perspicillata; Sl = Sturnira lilium; Rp = Rhinophylla pumilio; Cv = Chiroderma villosum; Pr = Platyrrhinus reciinus; St = Sturnira tildae; Vp = Vampyressa pusilla; Um = Uroderma magnirostrum; Ao = Artibeus obscurus; Ph = Phyllostomus hastatus; Dg =Dermanura gnoma. Ara = Araceae; Clu = Clusiaceae; Hum = Humiriaceae; Mal = Malpighiaceae; Mel = Melastomataceae; Min = Mimosaceae; Mor = Moraceae; Myr = Myrtaceae; Pip = Piperaceae; Sol = Solanaceae; Urt = Urticaceae. 447 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Figura 11: Fruto de Humiriastrum mussunungense encontrado em rede de neblina ao lado de Artibeus lituratus na Reserva Natural Vale, estado do Espírito Santo, sudeste do Brasil. Foto: Isaac P. Lima. Barra de escala = 1 cm. DISCUSSÃO A importância da zoocoria tem sido amplamente demonstrada para lorestas tropicais, principalmente em lorestas mais úmidas como a Mata Atlântica (Piña-Rodrigues & Aguiar, 1993; Pivello et al., 2006; Venzke et al., 2014). Mesmo dentro desse bioma parece haver um gradiente com aumento da proporção de zoocóricas das formações caducifólias para as ombróilas (Almeida-Neto et al., 2008). A elevada proporção de zoocóricas aqui reportada para áreas de borda na RNV é, portanto, compatível com a localização dessa reserva no domínio da loresta ombróila (IBGE, 1993), embora em análises mais detalhadas suas matas sejam classiicadas tanto como semidecíduas (Peixoto & Gentry, 1990; Massad et al., 2011) quanto intermediárias entre semidecíduas e ombróilas (Jesus & Rolim, 2005). Considerando-se apenas as plantas zoocóricas, 65% dos diásporos amostrados na RNV chegaram aos coletores durante a noite, evidenciando importante contribuição dos morcegos para esse modo de dispersão. As quatro famílias de plantas com maior representatividade nessa chuva noturna (Moraceae, Urticaceae, Solanaceae e Araceae) também apareceram em destaque nas amostras fecais, juntamente com Piperaceae e Clusiaceae. Essas seis famílias estão entre as sete mais frequentemente representadas na dieta de morcegos na região Neotropical e cinco delas 448 estão entre as seis mais consumidas na região central da Guiana Francesa, área bem estudada para interações entre morcegos e frutos (Lobova et al., 2009). Essa congruência deve-se, em parte, à forte relação de preferência entre alguns gêneros de morcegos e Cecropia, Ficus, Piper, Solanum e Vismia (Muscarella & Fleming, 2007; Mello et al., 2011). Embora alguma variação na predominância de uso desses gêneros possa existir, o que dependerá da abundância local dessas plantas (Gonçalves da Silva et al., 2008), o padrão está amplamente documentado na literatura e parece reletir um componente histórico (ilogenético), no qual subfamílias de morcegos estão associadas a gêneros/famílias de plantas em particular (Giannini & Kalko, 2005). Por trás dessas associações ancestrais, provavelmente está a disponibilidade espaço-temporal dos frutos desses gêneros, ricos em espécies na região Neotropical e com frutos ao longo das várias estações do ano (Fleming, 1986; Lobova et al., 2009). Por defecarem em voo, morcegos frequentemente transportam diásporos até áreas abertas (Gorchov et al., 1993), cumprindo importante papel na restauração natural de habitat (Jordano et al., 2006). Todavia, para que essa restauração tenha início, plantas típicas dos estágios iniciais da sucessão devem alcançar as áreas a serem restauradas e, nesse aspecto, os morcegos também se destacam. Dos cinco gêneros anteriormente mencionados como preferenciais no consumo por esses mamíferos, quatro (Cecropia, Piper, Solanum e Vismia) contêm espécies fortemente associadas à sucessão (Muscarella & Fleming, 2007). Dentre esses, apenas Solanum e Vismia foram encontrados nas linhas de coletores a céu aberto, mas tanto Piper quanto Cecropia devem chegar aos mesmos sítios por meio dos morcegos, visto que amostras fecais obtidas nas outras parcelas continham diásporos de ambos os gêneros (I.P. Lima, obs. pess.). O conjunto funcional tróico representado pelos morcegos frugívoros (obrigatórios ou facultativos) da RNV é bastante diversiicado, mesmo quando se considera apenas o subconjunto aqui identiicado como vetor de diásporos (para a lista de todos os Phyllostomidae conhecidos para a Reserva ver Tabela 1). Há representantes de quatro subfamílias e em diversas classes de tamanho (6 a 110 g), o que, aliado à elevada diversidade lorística LIMA ET AL. da Reserva, sugere ampla gama de interações (Fleming, 1991; Kalko et al., 1996; Lobova et al., 2009). Conforme esperado, A. lituratus e C. perspicillata, espécies mais comuns na RNV e com maiores índices de importância de dispersão, mantiveram como núcleo de sua dieta gêneros usualmente a elas associados (Cecropia e Ficus, e Piper e Vismia, respectivamente) (Gonçalves da Silva et al., 2008; Lobova et al., 2009; Mello et al., 2011). Carollia perspicillata também se alimentou muito frequentemente de solanáceas, o que já havia chamado a atenção de Pedro & Passos (1995) durante breve estudo na RNV. Esses autores sugeriram que a elevada intensidade no uso de solanáceas por C. perspicillata pode estar associada à abundância relativamente baixa de Sturnira spp. na Reserva (espécies fortemente associadas a essa família botânica), o que ainda precisa ser testado, levando-se em consideração a disponibilidade de piperáceas e solanáceas na região. Embora a maioria das espécies com as quais morcegos frugívoros interagiram na RNV apresente hábito arbóreo, as aráceas constituem notável exceção. Espécies dessa família são frequentemente epíitas, como os ilodendros, e têm sido registradas na dieta de diversos morcegos frugívoros (Lobova et al., 2009). Na RNV, como em outras áreas (Henry & Kalko, 2007; Lobova et al., 2009), foi encontrada em associação com R. pumilio e C. perspicillata. Também incomuns foram os registros de plantas estomatocóricas, o que pode não reletir a importância dos frutos com sementes grandes na dieta dos morcegos. Estudos em abrigos diurnos ou mesmo noturnos (p. ex., Zortéa & Chiarello, 1994) são necessários para avaliar um possível viés associado às redes e coletores de sementes. As poucas descobertas relativas à estomatocoria, entretanto, se mostraram importantes. Byrsonima stipulacea era indicada como possivelmente dispersa por morcegos e o presente estudo veio a conirmar essa interação. Já H. mussunungense trata-se de registro novo, tendo em vista que o gênero Humiriastrum ainda não havia sido assinalado na dieta de morcegos (Lobova et al., 2009). Essa planta é endêmica da muçununga, que, por sua vez, representa formação endêmica da Mata Atlântica, com áreas de ocorrência restritas ao norte do Espírito Santo e sul da Bahia (Simonelli et al., 2008). MORCEGOS Morcegos frugívoros são bem conhecidos por suas interações mutualísticas (Mello et al., 2011), mas em pelo menos duas situações podem ter impacto negativo nas comunidades em que atuam. A primeira delas seria quando morcegos atuam como predadores de diásporos e não como dispersores (Nogueira & Peracchi, 2003; Wagner et al., 2015). Embora morcegos do gênero Chiroderma apresentem modiicações morfológicas e comportamentais que aparentemente evoluíram para o uso eiciente dos recursos nutricionais das sementes de Ficus (Nogueira et al., 2005; Wagner et al., 2015), no presente estudo foi evidenciado um número relativamente elevado de diásporos não daniicados em amostras fecais de C. villosum. Ao contrário das amostras com poucos diásporos, que sugerem ter havido predação, mas não total (p. ex. alguns diásporos escapam da quebra e são engolidos), esses casos indicam que a adoção dessa estratégia pode ser facultativa. Na segunda situação de interação mutualística com impacto negativo, morcegos podem atuar como disseminadores de plantas exóticas, o que já foi demonstrado em relação a A. lituratus e Terminalia catappa (Sazima et al., 1994; Zortéa & Chiarello, 1994). No presente caso, o agente dispersor na RNV também é A. lituratus e a planta exótica em questão, a australiana A. mangium, representa sério risco à conservação da muçununga (Meira Neto, 2012). Essa espécie também tem sido cultivada em áreas de savana na Amazônia, onde seu potencial de dispersão natural por longas distâncias foi demonstrado (ca. 900 m das áreas cultivadas; Aguiar et al., 2014). Nesse caso, a ornitocoria foi sugerida como possível mecanismo de dispersão de longa distância (Aguiar et al., 2014), mas morcegos também podem estar envolvidos, conforme demonstrado no presente estudo. A RNV é uma das áreas mais ricas em espécies de plantas na Mata Atlântica (Peixoto & Gentry, 1990), suportando um grupo diversiicado de morcegos frugívoros (Peracchi et al., 2011). O presente trabalho vem somar aos dados inicialmente levantados por Pedro & Passos (1995) nessa Reserva, mostrando que morcegos contribuem para a chegada de diásporos de plantas pioneiras/sucessionais iniciais em áreas abertas e que eles interagem com diversiicado conjunto de 449 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE plantas, estimado em mais de 30 espécies. Assim como em outras áreas ricas em espécies de plantas com frutos carnosos (p. ex., Gonçalves da Silva et al., 2008; Lobova et al., 2009), também na RNV morcegos frugívoros retêm uma estrutura tróica baseada no uso de plantas-núcleo, adicionando elementos eventualmente típicos da lora local (H. mussunungense), no que aumentam sua importância como dispersores de sementes regionais e na Mata Atlântica de forma geral. AGRADECIMENTOS A Renato M. de Jesus pelo convite para realização deste estudo, permitindo a execução do projeto sobre a chuva de sementes na Reserva Natural Vale; a Ana Carolina Srbek de Araujo, pelo suporte logístico nos trabalhos de campo; ao Geovane S. Siqueira (curador do herbário da RNV), pela identiicação do material botânico e a Wesley R. Silva e Marcelo T. Nascimento pela revisão do manuscrito. Agradecemos também a FAPERJ, pelo suporte inanceiro concedido a Isaac P. Lima (processos E–26/100.021/2009) e Leandro R. Monteiro, ao CNPq, pelo apoio a Adriano L. Peracchi (processo 303622/2009–1) e Leandro R. Monteiro, e a Capes, pela bolsa PNPD concedida a Marcelo R. Nogueira. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aguiar Jr. A.; Barbosa, R.I.; Barbosa, J.B.F.; Mourão Jr., M. 2014. Invasion of Acacia mangium in Amazonian savannas following planting for forestry. Plant Ecology & Diversity 7(1-2): 359-369. Almeida-Neto, M.; Campassi, F.; Galetti, M.; Jordano, P. & Oliveira-Filho, A. 2008. Vertebrate dispersal syndromes along the Atlantic forest: broad-scale patterns and macroecological correlates. Global Ecology and Biogeography 17: 503–513. Altringham, J.D. 2011. Bats: from evolution to conservation. 2ed. Oxford, Oxford University Press. 330p. Baker, R.J.; Solari, S.; Cirranello, A. & Simmons, N.B. 2016. Higher level classiication of phyllostomid bats with a summary of DNA synapomorphies. Acta Chiropterologica 18(1): 1-38. Chiarello, A.G. 2000. Density and population size of mammals in remnants of Brazilian Atlantic Forest. 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Observations on the big fruit-eating bat, Artibeus lituratus in an urban reserve of south-east Brazil. Mammalia 58: 665– 670. FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE 27 ABUNDÂNCIA E DENSIDADE DE MAMÍFEROS DE MÉDIO E GRANDE PORTE NA RESERVA NATURAL VALE Átilla Colombo Ferreguetti, Walfrido Moraes Tomas & Helena de Godoy Bergallo INTRODUÇÃO Estimativas de abundância e densidade são cruciais no estudo de populações e para o monitoramento da vida silvestre, permitindo a comparação do status de conservação de espécies entre diferentes regiões. Com o monitoramento em longo prazo das populações em uma dada área, é possível avaliar também se há aumento, declínio ou estabilização da população ao longo do tempo (Soulé, 1986; Glanz, 1996). Nesse contexto, as estimativas de abundância e densidade têm um signiicado especial para a conservação de espécies raras e ameaçadas e são fatores importantes para determinação de quais estratégias de manejo e conservação devem ser adotadas em cada caso (Arita et al., 1990). Entre os mamíferos, as espécies de médio e grande porte são consideradas as mais susceptíveis à extinção em decorrência de impactos antrópicos (Krebs, 1978; Arita et al., 1990; Terborgh, 1994) e, apesar da importância dos estudos de abundância e densidade, a maior parte dos estudos relativos aos diferentes grupos de mamíferos em áreas de Mata Atlântica descreve a ocorrência das espécies, destacando a riqueza local, a frequência de utilização dos tipos lorestais, a distribuição geográica ou mudanças na dieta (p. ex. Hirsch & Chiarello, 2012; Souza & Alves, 2014; Magioli et al., 2015). Ainda há poucos estudos fornecendo dados sobre a abundância e, principalmente, a densidade de mamíferos de médio e de grande porte na Mata Atlântica (p. ex. Cullen Jr., 1997; Hernández et al., 2002; Galetti et al., 2009; Martins, 2010; Cassano et al., 2012; Srbek-Araujo, 2013). Os primatas são o grupo com maior número de trabalhos de abundância e densidade realizados neste bioma, embora a maioria deles tenha sido desenvolvida em áreas fragmentadas (p. ex. Price et al., 2002; Kierulff & Rylands, 2003; Bernardo & Galetti, 2004; Santana et al., 2008; Costa et al., 2012; Iurck et al., 2013). Não obstante, além do baixo número de estudos para a maioria das espécies de mamíferos de médio e de grande porte em áreas de Mata Atlântica, a falta de padronização na coleta e até mesmo na análise e na apresentação dos dados diiculta ou inviabiliza a comparação das informações apresentadas na maioria dos estudos (Chiarello & Melo, 2001; Desbiez et al., 2010). Um método frequentemente utilizado para obtenção de estimativas de abundância e densidade populacionais é a amostragem de distâncias (distance sampling) e está baseado na detecção silenciosa dos animais ao longo de transectos lineares (Buckland et al., 2001). A amostragem de distâncias consiste em um método simples e 453 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE barato que consegue cobrir grandes áreas em um curto período de tempo, sendo necessário que as espécies alvo possam ser diretamente observadas, que não haja erros de identiicação e que se obtenha um número suiciente de observações, sendo 60 para espécies comuns e 40 para espécies consideradas raras (Buckland et al., 2001). Esse método tem sido frequentemente utilizado para avaliar populações de mamíferos de médio e de grande porte em lorestas tropicais (Chiarello, 1999; Peres, 1999; Chiarello, 2000b; GonzalezSoliz et al., 2001; Galetti et al., 2009; Martins, 2010; Desbiez et al., 2010; Gopalaswamy et al., 2012; Norris et al., 2012). Há discussões sobre qual seria o delineamento amostral mais adequado para obtenção de resultados robustos em estimativas populacionais da fauna silvestre utilizando o método de amostragem de distâncias, as quais incluem discussões sobre qual a extensão ideal dos transectos e se deve haver independência entre os transectos (Peres, 1999; Magnusson, 2001; Ferrari, 2002). Magnusson (2001) argumenta que um único transecto, de preferência retilíneo, e de no mínimo 100 km seria o ideal para estimativas de populações da fauna silvestre. Com isso, evitase percorrer trilhas de pequeno comprimento repetidas vezes, o que pode superestimar a abundância de espécies que habitam a parte da loresta próximo ao transecto ou que utilizam o local devido à presença de árvores em frutiicação. Por outro lado, alguns pesquisadores defendem o uso de transectos de pequeno comprimento (1– 10 km) e, no caso de um transecto ser percorrido duas vezes no mesmo dia, um intervalo mínimo de uma hora deve ser estipulado entre as amostragens para que encontros com o mesmo indivíduo ou grupo de animais seja evitado e, dessa maneira, seja garantida a independência das amostragens (Peres, 1999; Ferrari, 2002). Além disso, transectos muito longos (100 km) só podem ser instalados em lorestas contínuas, como é o caso da Floresta Amazônica, enquanto em um contexto de paisagem fragmentada, como observado na Mata Atlântica, existe uma grande diiculdade em encontrar locais que comportem um transecto dessa extensão. Assim, diversos transectos de menor comprimento podem viabilizar os estudos, 454 principalmente em áreas com relevo acidentado e com limitações logísticas, o que diicultaria a abertura de trilhas retilíneas e extensas (Ferrari, 2002). Adicionalmente, considera-se que em um delineamento amostral com diferentes trilhas de menor tamanho, há maior probabilidade de se amostrar a heterogeneidade local e veriicar variações temporais e sazonais a partir do emprego de um menor esforço amostral por estação (Janson & Terborgh, 1980; Ferrari, 2002). Não se deve esquecer, entretanto, que há duas fontes de variação na contagem de espécimes em campo: a variação temporal e a variação espacial. A primeira pode ser captada a partir de levantamentos repetidos nos mesmos transectos, desde que a independência entre as amostragens seja garantida (os animais se movem o tempo todo e não se pode esperar que contagens no mesmo transecto resultem em números de avistamentos e distâncias perpendiculares idênticas às contagens anteriores). A segunda fonte de variação, por sua vez, é captada pela distribuição espacial dos transectos na área foco do levantamento populacional. Sob estes aspectos, a repetição de contagens nos mesmos transectos pode ser vantajosa, mesmo que implique em aumento na variância das estimativas (Buckland et al., 2001), o que pode ser facilmente resolvido com tamanhos amostrais maiores (reunião de um maior número de registros) (Buckland et al., 2001). A Reserva Natural Vale (RNV) está composta por um mosaico de habitat formado por três tipos principais de itoisionomias (Floresta de Tabuleiro, Muçununga e Campo Nativo), além das áreas de transição entre estas formações (ecótono) (adaptado de Jesus, 1987; Peixoto & Gentry, 1990), o que a torna um importante sítio para a conservação em razão de sua heterogeneidade singular. As primeiras estimativas de abundância e densidade de mamíferos de médio e grande porte realizadas na RNV foram geradas por Chiarello (1999, 2000a), há mais de 15 anos. Embora abranjam um pequeno número de espécies, os dados gerados nestes estudos podem ser considerados como o ponto de partida do monitoramento populacional de algumas das espécies de mamíferos de médio e grande porte presentes na RNV. Além destes dados, há outros dois estudos populacionais mais recentes desenvolvidos FERREGUETTI ET AL. na RNV, sendo um com macacos-prego-de-crista (Sapajus robustus; Martins, 2010) e outro com onças-pintadas (Panthera onca; Srbek-Araujo, 2013). Neste contexto, o objetivo desse trabalho foi avaliar o status das populações de mamíferos de médio e grande porte na RNV a partir da estimativa de abundância e densidade das espécies. Os resultados apresentados fornecem elementos que contribuem para o monitoramento em longo prazo das populações estudadas na RNV, subsidiando a deinição de estratégias de conservação. MATERIAL & MÉTODOS Para estimar a abundância e a densidade dos mamíferos de médio e de grande porte foram instalados quatro transectos com 5 km de extensão cada, seguindo o protocolo RAPELD. Este consiste na combinação entre protocolos MAMÍFEROS: ABUNDÂNCIA E DENSIDADE de avaliação rápida, como os inventários “RAP” (“Rapid Assessments Program Surveys” em inglês) realizados pela organização Conservação Internacional (“Conservation International”), e os Projetos Ecológicos de Longa Duração “Peld” (“Long-Term Ecological Research Program” em inglês) visando entender os processos ecológicos e realizar o monitoramento das populações ao longo do tempo (Magnusson et al., 2005). A escolha dos locais para instalação dos transectos teve como diretriz incluir o maior número possível de itoisionomias para abranger ao máximo a heterogeneidade ambiental da RNV (Figura 1). Assim, as trilhas incluíram Floresta de Tabuleiro, Floresta de Muçununga, Campo Nativo e ecótonos entre essas itoisionomias. Durante um período de 13 meses (abril/2013 a maio/2014), foram realizadas transecções lineares seguindo o método proposto por Buckland Figura 1: Mapa da Reserva Natural Vale, município de Linhares, Espírito Santo, com a localização dos transectos lineares amostrados (linhas vermelhas). 455 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE et al. (2001) para amostragem de distâncias. Os transectos foram percorridos por um único observador, com uma caminhada de ida pela manhã, iniciando-se ao nascer do sol (entre 05:30 h e 06:30 h, de acordo com a época do ano), com tempo de espera no inal do transecto de aproximadamente três horas, e retorno pelo mesmo transecto no período da tarde (iniciado entre 13:00 h e 14:00 h). A ordem de execução da amostragem dos transectos foi alternada a cada mês. A velocidade utilizada durante a realização das transecções foi de aproximadamente 1 km/h. Ao todo foram percorridos 908 km igualmente distribuídos nos quatro transectos amostrados. A cada dia de amostragem, após a deinição do transecto a ser percorrido, a coleta de dados era executada da seguinte forma: quando um animal era avistado, era marcado o local onde o mesmo se encontrava para mensurar sua distância perpendicular em relação à trilha (em metros), com o auxílio de uma trena de 50 m, no caso de espécies terrestres. Para as espécies arborícolas, era mensurado o ângulo de avistamento do animal em relação ao transecto (u em graus), com o auxílio de um clinômetro, e aferidas com uma trena métrica a distância do avistamento em relação ao observador (em metros). Com base nestes valores, a distância perpendicular do animal até o transecto é calculada por trigonometria (Buckland et al., 2001). Para as espécies que ocorrem em grupos sociais, foi considerada apenas a posição do primeiro indivíduo detectado do grupo (Buckland et al., 2004). Posteriormente, com base no tamanho médio dos grupos avistados e com o auxílio de dados disponíveis na literatura, foi possível corrigir as estimativas geradas (Buckland et al., 2004). Para cálculo da abundância e da densidade das espécies, foram consideradas somente as áreas lorestais da RNV (tabuleiro, muçununga e ecótono), uma vez que nenhum mamífero de médio e grande porte foi detectado nas áreas de campo nativo da RNV. Dessa forma, em função da remoção dos trechos percorridos em áreas de campo nativo, um dos transectos passou a possuir 3,5 km de comprimento. As áreas de campo nativo foram também descontadas do tamanho total da Reserva para as estimativas de densidade, uma vez que houve quebra de uma das premissas do método 456 de amostragem de distâncias e isso poderia gerar ruídos nas análises (neste caso, a detecção deve ser 100% na linha do transecto; Buckland et al., 2001). Para as análises foi utilizado o programa Distance versão 6.2 (Buckland et al., 2001). O programa Distance utiliza as distâncias perpendiculares (animal-trilha) para estimar a faixa efetivamente amostrada na área de estudo (chamada “effective strip width” ou ESW) e modelar a função de detecção que melhor se adequa à probabilidade de detecção de um animal numa dada distância da trilha, gerando as respectivas estimativas de abundância e densidade (Laake et al., 1994; Buckland et al., 2001). O melhor modelo de detecção foi selecionado pelo Critério de Informação de Akaike (AIC) que se origina da minimização da informação (ou distância) de Kullback-Leibler (K-L) como base para a seleção de modelos (Akaike, 1973). A informação K-L é uma medida de distância entre o modelo verdadeiro e um modelo candidato, mas o modelo verdadeiro quase sempre é uma abstração, sendo desejável a obtenção de um bom modelo que represente satisfatoriamente a realidade. Burnham & Anderson (2002) recomendam usar o AIC para selecionar modelos somente quando o número de observações é igual ou maior do que 40. Esse número mínimo de observações permite obter estimativas acuradas. Para os gêneros Mazama e Dasypus, ambos representados na RNV por duas espécies com morfologia semelhante (Srbek-Araujo & Chiarello, 2013), foram consideradas inicialmente apenas as observações cuja identiicação da espécie pôde ser realizada com segurança a partir da detecção de peculiaridades de cada espécie. Para os registros que não puderam ser identiicados com segurança, foi utilizado método proposto por Ferreguetti et al. (2015) visando a inclusão dessas observações. Este método consiste na utilização da proporção dos indivíduos identiicados para cada espécie para atribuir uma classiicação taxonômica às observações não identiicadas a partir de 1.000 aleatorizações e empregando-se uma função de loop no pacote “Distance” do Programa R (Development Core Team, 2008; Miller, 2012). Este procedimento produz estimativas corrigidas baseadas no erro de detectabilidade de cada espécie (Ferreguetti et al., 2015). FERREGUETTI ET AL. As espécies amostradas foram categorizadas com relação ao grau de ameaça conforme a Lista de Espécies da Fauna Ameaçadas de Extinção no estado do Espírito Santo (Chiarello et al., 2007), a Lista Brasileira de Espécies Ameaçadas (MMA 2014) e a Lista Vermelha de Fauna Ameaçada produzida pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (“International Union for Conservation of Nature and Natural Resources”; IUCN, 2015). Essa categorização das espécies teve como objetivo principal veriicar o status de conservação da mastofauna de médio e grande porte da RNV. RESULTADOS Foram obtidos 1.452 registros de mamíferos de médio e grande porte na RNV, distribuídos entre 18 espécies (Tabela 1). As estimativas obtidas para as espécies citadas são apresentadas de forma resumida na Tabela 2. Para quatro espécies (Puma yagouaroundi, Leopardus pardalis, Eira barbara e Bradypus variegatus) não foi possível estimar a densidade em virtude do pequeno número de avistamentos. A seguir são apresentados os dados obtidos para as outras 14 espécies. Dasyprocta leporina - A faixa efetivamente amostrada para as cutias foi de 10,40 ± 0,58 m, com observações sendo obtidas de 0 até 27 m a partir da linha central do transecto. A densidade estimada para a área de estudo foi de 0,21 ± 0,01 indivíduo/ha e o tamanho populacional estimado foi de 5.815 ± 368 indivíduos. Guerlinguetus ingrami - A faixa efetivamente amostrada para os esquilos foi de 3,58 ± 0,55 m, com observações sendo obtidas de 0 até 22 m a partir da linha central do transecto. A densidade estimada para a área de estudo foi de 0,14 ± 0,02 indivíduo/ha e o tamanho populacional estimado foi de 3.360 ± 580 indivíduos. Euphractus sexcinctus - A faixa efetivamente amostrada para os tatus-peba foi de 7,50 ± 0,81 m, com observações sendo obtidas de 0 até 24 m a partir da linha central do transecto. A densidade estimada para a área de estudo foi de 0,04 ± 0,01 indivíduo/ha e o tamanho populacional estimado foi de 1.070 ± 162 indivíduos. Dasypus novemcinctus - A faixa efetivamente MAMÍFEROS: ABUNDÂNCIA E DENSIDADE amostrada para os tatus-galinha foi de 4,21 ± 0,64 m, com observações sendo obtidas de 0 até 24 m a partir da linha central do transecto. A densidade estimada para a área de estudo foi de 0,06 ± 0,01 indivíduo/ha e o tamanho populacional estimado foi de 1.506 ± 296 indivíduos. Callicebus personatus - A faixa efetivamente amostrada para os guigós foi de 14,32 ± 1,80 m, com observações sendo obtidas de 0 até 55 m a partir da linha central do transecto. A densidade estimada para a área de estudo foi de 0,10 ± 0,02 indivíduo/ha e o tamanho populacional estimado foi de 2.252 ± 372 indivíduos. Callithrix geoffroyi - A faixa efetivamente amostrada para os saguis-da-cara-branca foi de 14,96 ± 2,34 m, com observações sendo obtidas de 0 até 47 m a partir da linha central do transecto. A densidade estimada para a área de estudo foi de 0,33 ± 0,05 indivíduo/ha e o tamanho populacional estimado foi de 6.580 ± 1.120 indivíduos. Alouatta guariba - A faixa efetivamente amostrada para os bugios foi de 14,09 ± 2,48 m, com observações sendo obtidas de 0 até 45 m a partir da linha central do transecto. A densidade estimada para a área de estudo foi de 0,06 ± 0,01 indivíduo/ha e o tamanho populacional estimado foi de 1.321 ± 181 indivíduos. Sapajus robustus - A faixa efetivamente amostrada para os macacos-prego-de-crista foi de 21,64 ± 2,23 m, com observações sendo obtidas de 0 até 62 m a partir da linha central do transecto. A densidade estimada para a área de estudo foi de 0,16 ± 0,02 indivíduo/ha e o tamanho populacional estimado foi de 3.965 ± 458 indivíduos. Pecari tajacu - A faixa efetivamente amostrada para os catetos foi de 4,80 ± 1,23 m, com observações sendo obtidas de 0 até 25 m a partir da linha central do transecto. A densidade estimada para a área de estudo foi de 0,08 ± 0,02 indivíduo/ha e o tamanho populacional estimado foi de 2.025 ± 347 indivíduos. Tayassu pecari - A faixa efetivamente amostrada para os queixadas foi de 4,95 ± 0,96 m, com observações sendo obtidas de 0 até 23 m a partir da linha central do transecto. A densidade estimada para a área de estudo foi de 0,06 ± 0,01 indivíduo/ ha e o tamanho populacional estimado foi de 1.514 ± 256 indivíduos. Mazama americana - A faixa efetivamente 457 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE amostrada para os veados-mateiro foi de 3,95 ± 0,27 m, com observações sendo obtidas de 0 a 12 m a partir da linha central do transecto. A densidade estimada na área de estudo foi 0,15 ± 0,02 indivíduo/ha e o tamanho populacional estimado foi de 3.569 ± 354 indivíduos. Mazama gouazoubira - A faixa efetivamente amostrada para os veados-catingueiro foi de 5,07 ± 0,44 m, com observações obtidas 0 a 15 m a partir da linha central do transecto. A densidade na área de estudo foi estimada em 0,21 ± 0,02 indivíduo/ha e o tamanho populacional estimado foi de 5.816 ± 545 indivíduos. Tapirus terrestris - A faixa efetivamente amostrada para as antas foi de 10,80 ± 1,12 m, com observações sendo obtidas de 0 até 36 m a partir da linha central do transecto. A densidade estimada para a área de estudo foi de 0,03 ± 0,004 indivíduo/ha e o tamanho populacional estimado foi de 754 ± 110 indivíduos. Nasua nasua - A faixa efetivamente amostrada para os quatis foi de 8,08 ± 1,05 m, com observações sendo obtidas de 0 até 32 m a partir da linha central do transecto. A densidade estimada para a área de estudo foi de 0,12 ± 0,02 indivíduo/ ha e o tamanho populacional estimado foi de 3.042 ± 408 indivíduos. DISCUSSÃO As espécies registradas para a RNV no presente estudo correspondem a aproximadamente 42% das espécies de mamíferos de médio e grande porte com ocorrência conhecida para o estado do Espírito Santo (Moreira et al., 2008) e cerca de 37% das espécies deste grupo registradas na Mata Atlântica (Paglia et al., 2012). Adicionalmente, os registros obtidos no presente estudo correspondem a aproximadamente 49% das espécies de maior porte registradas para a Reserva (Srbek-Araujo et al., 2014). A ocorrência de nove espécies ameaçadas de extinção em, pelo menos, um dos níveis analisados (estadual, nacional e/ou global), como os porcos-do-mato, felinos, primatas e Tabela 1: Espécies registradas, categoria de ameaça e número de observações obtidas de abril/2013 a maio/2014 na Reserva Natural Vale, município de Linhares, Espírito Santo. Categorias de ameaça de extinção: Vulnerável (VU), Em Perigo (EN) e Criticamente Em Perigo (CR), de acordo com a lista vermelha da IUCN (2015), a lista nacional (BR) (MMA, 2014) e a lista de espécies ameaçadas do Espírito Santo (ES) (Chiarello et al., 2007). Espécie Categoria de Ameaça Dasyprocta leporina (Linnaeus, 1758) VUES 413 Guerlinguetus ingrami (Thomas, 1901) - 93 Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758) - 62 Dasypus novemcinctus (Linnaeus, 1758) - 49 Bradypus variegatus (Shinz, 1825) - Sapajus robustus (Kuhl, 1820) Callicebus personatus (É. Geoffroy, 1812) EN Alouatta guariba (Humboldt, 1812) 1 VU 93 VUIUCN; BR; ES ; 81 - 99 IUCN BR Callithrix geoffroyi (Humboldt, 1812) ES CRIUCN; BR Pecari tajacu (Linnaeus, 1758) 46 VU 75 VUIUCN; BR EPES 58 Mazama gouazoubira (Fischer, 1814) - 74 Mazama americana (Erxleben, 1777) - Tayassu pecari (Link, 1814) Tapirus terrestris (Linnaeus, 1758) 458 Número de Observações ES 44 VU IUCN; BR EP ES 63 Puma yagouaroundi (É. Geoffroy, 1803) VUES 2 Leopardus pardalis (Linnaeus, 1758) VU 1 ES Eira barbara (Linnaeus, 1782) - 8 Nasua nasua (Linnaeus, 1766) - 190 FERREGUETTI ET AL. MAMÍFEROS: ABUNDÂNCIA E DENSIDADE Tabela 2: Densidade (ind/ha) e tamanho populacional das espécies de mamíferos de médio e grande porte registradas no período de abril 2013 a maio 2014 na Reserva Natural Vale, município de Linhares, Espírito Santo. Os respectivos intervalos de coniança a 95% são também apresentados. As espécies estão ordenadas em ordem decrescente de abundância. Espécie Callithrix geoffroyi Densidade 0,33 (0,24 - 0,47) Tamanho Populacional 6.580 (5.420 - 8.650) Mazama gouazoubira 0,21 (0,19 - 0,23) 5.816 (5.271 - 6.361) Dasyprocta leporina 0,21 (0,19 - 0,24) 5.815 (5.136 - 6.584) Sapajus robustus 0,16 (0,12 - 0,19) 3.965 (2.856 - 4.850) Mazama americana 0,15 (0,13 - 0,16) 3.569 (3.215 - 3.923) Guerlinguetus ingrami 0,14 (0,10 - 0,20) 3.360 (2.394 - 4.718) Nasua nasua 0,12 (0,09 - 0,16) 3.042 (2.337 - 3.959) Callicebus personatus 0,10 (0,07 - 0,13) 2.252 (1.768 - 3.252) Pecari tajacu 0,08 (0,04 - 0,15) 2.025 (1.140 - 2.950) Tayassu pecari 0,06 (0,04 - 0,09) 1.514 (977 - 2.344) Dasypus novemcinctus 0,06 (0,04 - 0,09) 1.506 (1.024 - 2.215) Alouatta guariba 0,06 (0,04 - 0,09) 1.321 (1.101 - 1.441) Euphractus sexcinctus 0,04 (0,03 - 0,06) 1.070 (794 - 1.441) Tapirus terrestris 0,03 (0,02 - 0,04) 754 (567 - 1.005) anta, demonstra a importância da região para a conservação da fauna, bem como reforça a relevância da RNV para a conservação das espécies de mamíferos da Mata Atlântica. As premissas da amostragem de distâncias (Laake et al., 1994; Cassey & Mcardle, 1999; Buckland et al., 2001) foram atendidas no presente estudo, o que indica que as estimativas de abundância e densidade aqui apresentadas são coniáveis e podem ser empregadas no monitoramento das espécies de mamíferos de médio e grande porte amostradas na RNV e na comparação com outros estudos que tenham utilizado metodologia semelhante. Neste sentido, observa-se que, para todas as espécies analisadas, foram obtidas mais de 40 observações, sendo este o número mínimo de observações independentes necessárias para geração de estimativas precisas para espécies raras (Buckland et al., 2004). O esforço amostral empregado nesse estudo também foi superior ao preconizado para o método em questão (aproximadamente 250 km ou até que se tenha obtido 40 observações independentes; Buckland et al., 2001). Além disso, todos os animais foram detectados em sua posição original, ou seja, antes da detecção do observador e/ou fuga; os espécimes foram avistados principalmente próximos ao transecto e o número de avistamentos diminuiu quanto maior a distância em relação à trilha (Buckland et al., 2001). Nenhuma espécie cuja abundância e densidade populacional foram calculadas apresentou coeiciente de variação acima de 20%, que corresponde ao valor máximo recomendado para uma estimava de densidade acurada (Buckland et al., 2001). A densidade de D. leporina obtida no presente estudo foi cerca de 18% maior do que a densidade estimada por Chiarello (2000a) para a mesma espécie na RNV, o que pode estar relacionado a lutuações populacionais ao longo do tempo ou à diferença de esforço amostral empregado em cada estudo. Ressalta-se ainda que Chiarello (2000a) amostrou ao longo de estradas e que as cutias apresentam preferência pelo interior da loresta (Oliveira & Bonvicino, 2006; Mamede & Alho, 2008; Srbek-Araujo & Chiarello, 2013). Apesar disso, a densidade obtida para a espécie ainda pode ser considerada baixa para a área de estudo. A densidade das cutias varia de 40-63 indivíduos/km² ou 0,40-0,63 indivíduo/ha em outras localidades, sendo mais abundante em áreas onde a pressão de caça é baixa (Silvius & Fragoso, 2003; Jorge & Peres, 2005). A cutia é considerada de grande importância para as áreas de loresta em 459 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE razão de sua capacidade de dispersão secundária de sementes por meio do comportamento de estocagem (“scatterhoarding”) (Forget & Milleron, 1991; Almeida & Galetti, 2007; Pires & Galetti, 2012). Neste sentido, cabe destacar que, em decorrência do alto valor cinegético da cutia, associado à pressão de caça na RNV (Chiarello, 2000b), sua eliminação pode trazer consequências prejudiciais para diversas espécies arbóreas e também em nível ecossistêmico (Galetti & Dirzo, 2013; Jorge et al., 2013), sendo as populações de roedores de maior porte, como as cutias, suscetíveis à redução ou até mesmo à extinção local em áreas sujeitas à caça (Chiarello, 1999; Chiarello, 2000b; Cullen et al., 2000). O tamanho populacional de G. ingrami no presente estudo foi cerca de 45% menor do que aquele estimado por Chiarello (2000a). De forma similar ao apontado para as cutias, isso pode estar relacionado tanto a diferenças na localização dos transectos e no esforço empregado nos estudos, quanto à lutuação na população. O esquilo também é um roedor que realiza estocagem de sementes, apresentando, portanto, comportamento essencial para a dispersão e recrutamento de espécies vegetais (Henry, 1999). Porém, diferentemente de outros roedores, como a cutia, os esquilos realizam dispersão primária (retirada dos frutos na copa da árvore) e são mais lexíveis em relação à sua dieta (Ribeiro et al., 2010). As duas espécies de tatus amostradas no presente estudo, D. novemcinctus e E. sexcinctus, apresentaram tamanho populacional e densidade populacional semelhante a estudos realizados em outras regiões (McBee & Baker, 1982; Encarnação, 1987). O tamanho populacional e a densidade baixa dessas espécies estão diretamente relacionadas com a biologia das mesmas (Nowak, 1999). Apesar das espécies de tatus terem uma ampla distribuição por todos os biomas brasileiros, elas ocorrem em baixa densidade em função das suas peculiaridades isiológicas, como baixo metabolismo, baixa temperatura corpórea e utilização de alimentos com baixo teor energético (como formigas e/ou cupins), resultando em uma baixa taxa reprodutiva (Redford & Wetzel, 1985; Nowak, 1999). A baixa densidade dessas espécies também pode estar relacionada com o fato de 460 ambas serem cinegéticas e fortemente caçadas (Chiarello, 2000b; Peres, 2000; Sanches, 2001; Aguiar, 2004), além de também serem vítimas frequentes de atropelamentos rodoviários (Vieira, 1996; Fischer, 1997). Neste sentido, ressaltase que o Bloco Linhares-Sooretama, onde está localizada a RNV, é interceptado pela Rodovia BR101. O tatu-galinha, D. novemcinctus, apresentou abundância 50% maior do que E. sexcinctus (tatupeba), o que pode estar relacionado com o fato de o tatu-peba apresentar área de vida 10 vezes maior que o tatu-galinha e deslocamento diário de até 2.250 m (Layne & Glover, 1977; McBee & Baker, 1982; Encarnação, 1987). Os primatas apresentaram distância perpendicular média mais elevada do que as demais espécies amostradas e isso se deve ao habitat arborícola e forrageamento em bando, sendo geralmente mais barulhentos quando ativos (Emmons & Feer, 1997; Eisenberg & Redford, 1999), o que facilita a visualização destas espécies a uma maior distância, principalmente as espécies que se organizam em grupos sociais maiores (S. robustus e C. geoffroyi). As espécies do gênero Callithrix, de modo geral, apresentam maiores densidades populacionais quando comparadas com espécies de outros gêneros de primatas da Mata Atlântica (Stevenson & Rylands, 1988), justiicando o fato de a maior densidade estimada na RNV ser de C. geoffroyi, em comparação com os outros primatas e demais espécies amostradas nesse estudo. Chiarello (2000a) estimou tamanho populacional de 7.413 indivíduos (IC: 6.125 8.971) para C. geoffroyi na mesma área de estudo, estando o valor encontrado no presente estudo dentro do intervalo de coniança estimado pelo primeiro autor. As espécies do gênero Callithrix possuem, de forma geral, dieta generalista, composta de gomas, insetos, frutos e pequenos vertebrados (Emmons & Feer, 1997). Essa amplitude de itens na dieta permite a utilização das diferentes itoisionomias na RNV, podendo a população estar distribuída por toda a Reserva. Apesar de ser a menor espécie entre os primatas que ocorrem na RNV, C. geoffroyi é também uma das espécies que apresenta o maior sucesso de visualização durante a transecção em razão do tamanho do grupo e por sua vocalização de alerta, FERREGUETTI ET AL. apresentando assim um comportamento menos discreto do que os outros primatas (Shettleworth, 1998). Com relação aos demais primatas, S. robustus também apresentou tamanho populacional e densidade elevados. Esse fator pode estar relacionado com sua dieta, uma vez que os macacos-prego apresentam uma elevada plasticidade, podendo se alimentar de frutos, brotos, pedúnculos, lores, bases foliares, néctar e presa animal, incluindo invertebrados, aves, ovos, anfíbios, répteis e pequenos mamíferos (Izawa, 1978; Izawa, 1979; Freese & Openheimer, 1981; Brown et al., 1984; Fedigan, 1990). A detecção desta espécie durante a transecção também é favorecida, ressaltando que, durante o forrageamento, os primatas do gênero Sapajus utilizam todos os estratos arbóreos, podendo recorrer também ao chão da loresta (Martins, 2010). Além disso, os membros do grupo podem se espalhar num raio superior a 100 metros, mantendo contato vocal (Freese & Openheimer, 1981). Chiarello (2000a) estimou tamanho populacional de 4.439 - 5.741 indivíduos de S. robustus para a RNV; enquanto Martins (2010) estimou abundância entre 1.275 – 2.325 indivíduos desta espécie para a Reserva, aumentando em cinco vezes o esforço feito no estudo anterior. Porém, ambos os autores mantiveram as amostragens nas estradas da RNV. O presente estudo estimou tamanho populacional intermediário a esses dois trabalhos (3.965 ± 458 indivíduos), destacando diferenças na metodologia empregada em cada estudo. Deve-se considerar, entretanto, que os principais motivos para a diferença de resultados entre os estudos citados possam estar também relacionados à lutuação temporal e/ou espacial na população (Ezard et al., 2009). Apesar disso, é importante manter o monitoramento do macacoprego-de-crista na RNV para avaliar se a população está ou não sofrendo lutuações signiicativas, uma vez que a Reserva é considerada um hotspot para a conservação de S. robustus (Pinto et al., 2009). Os outros dois primatas registrados no presente estudo, C. personatus e A. guariba, tiveram tamanho populacional estimado comparativamente menor entre os primatas, o que também foi registrado por Chiarello (1995, 2000a). O baixo tamanho MAMÍFEROS: ABUNDÂNCIA E DENSIDADE populacional de guigós pode estar relacionado à dieta principalmente frugívora deste grupo (Heiduck, 1997). Frutos são itens alimentares mais raros, irregularmente distribuídos no espaço e no tempo, e mais disponíveis na estação úmida, o que pode resultar em um menor tamanho populacional para as espécies dependentes desse recurso (Morellato & Leitão-Filho, 1992). O guigó é uma espécie de hábitos crípticos, de difícil detecção e que forma pequenos grupos familiares que se deslocam rápido e sutilmente (Mason, 1974; Kinzey, 1983), diicultando sua detecção durante a transecção. O gênero Alouatta é principalmente arborícola, utilizando mais frequentemente o dossel superior e árvores emergentes (Crockett & Eisenberd, 1987), o que diiculta a detecção da espécie. O guigó geralmente ocorre em menor densidade, conforme observado no presente estudo e por Chiarello & Melo (2001), que estimaram 0,06 indivíduo/ha na RNV. A densidade de bugios estimada nesse estudo é compatível com o encontrado em outras áreas protegidas consideradas conservadas (Chiarello, 1993; Peres, 1997; Aguiar et al., 2003; Chiarello, 2003). Porém, a abundância de bugios estimada no presente estudo foi cerca de oito vezes maior do que a estimada por Chiarello & Melo (2001), que foi de 157 – 227 indivíduos. Considera-se que a baixa detecção dessas espécies não interfere negativamente nas estimativas aqui geradas, uma vez que o método de amostragem de distâncias conta com o pressuposto de que a detecção é sempre imperfeita (Buckland et al., 2001). Além disso, considera-se que os dados obtidos não estão subestimados, uma vez que as premissas do método foram alcançadas (tamanho da amostra, número de observações e detecções 100% na linha do transecto). As espécies da família Tayassuidae, T. pecari e P. tajacu, apresentam ampla distribuição, sendo onívoros, habitantes de lorestas e que vivem em grandes grupos sociais (Monteiro & Autino, 2004). Os catetos ocorrem em uma maior variedade de habitat, sobrevivendo mesmo em áreas perturbadas (Sowls, 1997). Essa adaptação a diversos ambientes justiicaria a abundância dos catetos ter sido cerca de 38% maior do que a abundância dos queixadas, uma vez que a RNV apresenta itoisionomias não lorestais (p.ex. campos nativos) 461 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE e os queixadas apresentam preferência por áreas de lorestas tropicais úmidas e densas (Nowak, 1999; Lee & Peres, 2008). Desbiez et al. (2009), por exemplo, demonstraram que no Pantanal os queixadas selecionam principalmente as lorestas e suas bordas, com uma menor frequência de uso do cerrado. Além disso, os queixadas ocorrem sempre próximo a fontes de água (Nowak, 1999; Lee & Peres, 2008), sendo os recursos hídricos considerados temporários e escassos em algumas regiões da RNV. Por formarem grupos maiores do que os catetos e ocuparem áreas de vida que podem variar de 22 a 109 km², além de sua preferência por habitat lorestados (Keuroghlian et al., 2004), os queixadas podem ser considerados indicadores de qualidade ambiental. As espécies do gênero Mazama apresentaram densidade e tamanho populacional compatíveis com o mínimo necessário para a conservação destas espécies em longo prazo (Duarte, 1996). Entretanto, Mazama gouazoubira ocorreu em densidade quase duas vezes maior do que M. americana, o que pode ser explicado pelo fato de esta ser a espécie mais abundante dentre os veados com ampla distribuição no Brasil (Duarte, 1996). Estudos com diferentes metodologias também encontraram densidades altas para M. gouazoubira, sendo 0,03 indivíduo/ha no Pantanal (Schaller, 1983) e 0,1 indivíduo/ha na Amazônia (Bodmer, 1989). Estimativas de densidade para M. americana são mais escassas, havendo registro de 0,002 indivíduo/ ha no Pantanal (Desbiez et al., 2010). Tapirus terrestris foi a espécie que teve os menores valores de abundância e densidade populacional estimados para a RNV. A anta é considerada o maior mamífero terrestre ocorrente no Brasil, apresentando um pequeno potencial reprodutivo, longo período de gestação e uma ampla área de vida (Eisenberg & Redford, 1999). Esses aspectos biológicos da espécie resultam em baixa densidade (Medici, 2010), sendo relativamente vulnerável a extinções locais em virtude de variações demográicas, ambientais e perdas de diversidade genética (Medici et al., 2007). Medici (2010) estimou para a anta uma população de aproximadamente 130 indivíduos no Parque Estadual Morro do Diabo (PEMD), em 462 São Paulo, o que seria aproximadamente seis vezes menor do que o valor estimado para essa espécie no presente estudo. A única espécie da Ordem Carnivora para a qual foram obtidos dados suicientes para gerar estimativas acuradas de abundância e densidade foi N. nasua, provavelmente porque é a única espécie desta ordem que forma bandos na RNV e também por ser mais abundante (Russel, 1996), facilitando sua visualização. Esta foi a espécie não arborícola que apresentou a maior distância de observação em relação ao centro do transecto. Os bandos de quatis geralmente são grandes, apresentando variações ao longo do ano, antes e depois do período reprodutivo, podendo chegar a até 30 indivíduos, em média, pós-período reprodutivo (Russel, 1996). A densidade estimada para o quati no presente estudo foi similar a valores encontrados em outras áreas ao longo da distribuição geográica do gênero. Hass & Valenzuela (2002) encontraram um valor em torno de 0,10 indivíduo/ha para Nasua narica no Arizona, e Schaller (1983) descreve que na fazenda Acurizal, no Pantanal Mato-Grossense, N. nasua foi o carnívoro com maior densidade registrada, apresentando cerca de 0,06 indivíduo/ ha na loresta decidual e de 0,13 indivíduo/ha na mata de galeria. Porém, Schaller (1983) utilizou o método de transecto por faixas amostrais, o que deixa de considerar os erros de detecção dos indivíduos, podendo gerar subestimativas. Outros estudos com quati registraram uma alta densidade para a espécie, com média de 0,42 indivíduo/ha no México (Valenzuela, 1998) e 0,33 indivíduo/ha no Parque do Prosa, no Mato Grosso do Sul (Costa, 2003). Existem indícios de que os quatis aumentam sua densidade na ausência de predadores de topo (Terborgh, 1994), o que não seria o caso do presente estudo, já que a RNV abriga populações de duas espécies de grandes felinos (onça-pintada, Panthera onca, e onça-parda, Puma concolor) (Srbek-Araujo et al., 2014). Vale ressaltar que o tamanho das populações varia (lutua) no tempo e em escala local e que valores de tamanho populacional menores com relação a estudos anteriores não signiicam necessariamente um declínio populacional (Ezard et al., 2009). Além disso, a existência de diferenças na abundância e na densidade das espécies entre diferentes localidades FERREGUETTI ET AL. pode ser atribuída principalmente às diferenças na composição e na estrutura do habitat (Sheldon, 1968; Pianka, 1967; August, 1983; Peres, 1997), na disponibilidade de recursos (Cody, 1981; Leighton & Leighton, 1983; Stevenson, 2001), na ocorrência de predadores (Cody, 1981; Wright, 1998), na plasticidade da dieta de algumas espécies (Robinson & Redford, 1986; Peres, 1997; Stevenson, 2001), na competição por recursos (Cody, 1981) e no grau de perturbação antrópica, como a caça ilegal e o desmatamento (Peres, 1997; Chiarello, 2000a; Wright, 2003). A elevada riqueza de espécies de médio e grande porte, juntamente com a presença de táxons ameaçados de extinção, demonstra que a manutenção de fragmentos lorestais grandes, como a RNV, pode ser determinante para a conservação de mamíferos. Neste sentido, ressaltase ainda que a RNV também mantém espécies que, apesar de ocorrerem em pequenos fragmentos no Espírito Santo, necessitam de grandes áreas de lorestas conservadas para sua sobrevivência em longo prazo, como a onça-parda (Chiarello, 1999). Os resultados apresentados no presente estudo contribuem para o melhor conhecimento e para a conservação das populações de mamíferos de médio e grande porte presentes na RNV, uma área protegida com potencial para abrigar populações viáveis de várias espécies de mamíferos de médio e grande porte (p. ex. T. terrestris, Medici, 2010; S. robustus, Martins, 2010), sendo fundamental a continuidade do monitoramento dessas espécies na área estudada. Entretanto, para conservação das espécies que habitam a RNV, é necessário considerar não apenas esta reserva isoladamente, mas todo o Bloco Linhares-Sooretama, o qual permite o incremento populacional e a manutenção da diversidade genética das populações ali presentes. Somente desse modo serão alcançadas maiores probabilidades de sobrevivência e manutenção das espécies de mamíferos de médio e grande porte em longo prazo. AGRADECIMENTOS Nós agradecemos à Vale / Instituto Ambiental Vale pelo apoio e permissão para realizar a pesquisa na Reserva Natural Vale. À Dra. Ana MAMÍFEROS: ABUNDÂNCIA E DENSIDADE Carolina Srbek-Araujo pelo convite para escrever esse capítulo e pela revisão detalhada do documento. Aos revisores pelas contribuições. ACF agradece à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa de estudos recebida. HGB agradece à FAPERJ (E26/201.267/2014), Prociência/UERJ e CNPq (307715/2009-4) pelo inanciamento de pesquisa e produtividade. Esse estudo faz parte do Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBioMA). Os dados foram coletados com o apoio do PPBio-MA (CNPq - 457458/2012-7) e FAPERJ (E-26/103.016/2011). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Aguiar, J.M. 2004. Species summaries and species discussions. 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Ocupava originalmente cerca de 15% do território brasileiro, estando atualmente restrita a apenas 13% de sua extensão original (SOS Mata Atlântica & Inpe, 2014). A área remanescente no bioma está dividida em cerca de 245 mil fragmentos e apenas 0,3% é maior do que 10.000 ha (Ribeiro et al., 2009). Além da perda total de área e da grande fragmentação do bioma, menos de 14% da cobertura vegetal remanescente está oicialmente protegida (Ribeiro et al., 2009). Apesar do cenário de degradação, a Mata Atlântica ainda abriga 298 espécies de mamíferos, entre os quais 30% são considerados endêmicos do bioma (Paglia et al., 2012), o que demonstra sua importância para a conservação da mastofauna brasileira. No estado do Espírito Santo, que está integralmente contido nos limites da Mata Atlântica, restam atualmente cerca de 11% da cobertura vegetal original, o que inclui áreas de floresta, restinga e mangue (SOS Mata Atlântica & Inpe, 2014). Pouco mais de 10% da área florestal remanescente no Espírito Santo estão contidos em um único fragmento, denominado Bloco Linhares-Sooretama, que representa a maior área florestal contínua do estado (baseado em dados disponíveis em SOS Mata Atlântica & Inpe, 2014). Este inclui a Reserva Biológica de Sooretama (RBS: aproximadamente 24.000 ha) e três áreas protegidas privadas: a Reserva Natural Vale (RNV: 22.711 ha), a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Recanto das Antas (2.212 ha) e a RPPN Mutum Preto (379 ha). Estudos recentes realizados na RNV confirmam a presença de 36 espécies de mamíferos de médio e grande porte na região, sendo seis endêmicas da Mata Atlântica (17%), 13 consideradas sob ameaça no Espírito Santo (36%) e 12 classificadas como ameaçadas em nível nacional (33%) (Tabela 1; para detalhes, ver Srbek-Araujo et al., 2014). O total de espécies de médio e grande porte registradas na RNV representa cerca de 47% das espécies de mamíferos de maior porte confirmadas para a Mata Atlântica e 17% de todos os médios e grandes mamíferos registrados no Brasil (baseado em dados disponíveis em Paglia et al., 2012). Em função da elevada riqueza de espécies contida na RNV, incluindo a presença de espécies raras e que atualmente já foram extintas em outras localidades da Mata Atlântica, o Bloco Linhares-Sooretama apresenta alta prioridade para conservação da mastofauna no Espírito Santo, sendo também uma área relevante para conservação da mastofauna da Mata Atlântica de forma geral (Srbek-Araujo et al., 2014). 469 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Tabela 1: Mamíferos de médio e grande porte com ocorrência conirmada para a Reserva Natural Vale (Linhares/ES), sudeste do Brasil. Espécies1 Nome Popular Ordem Cingulata Família Dasypodidae Cabassous tatouay (Desmarest, 1804) tatu-de-rabo-mole Dasypus novemcinctus Linnaeus, 1758 tatu-galinha Dasypus septemcinctus Linnaeus, 1758 tatu-galinha-pequeno Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758) tatu-peba Priodontes maximus (Kerr, 1792) tatu-canastra Ordem Pilosa Família Bradypodidae Bradypus variegatus Schinz, 1825 preguiça-comum Família Myrmecophagidae Tamandua tetradactyla (Linnaeus, 1758) tamanduá-mirim Ordem Primates Família Atelidae Alouatta guariba (Humboldt, 1812) bugio Família Cebidae Callithrix geoffroyi (Humboldt, 1812) mico-da-cara-branca Sapajus robustus (Kuhl, 1820) macaco-prego Família Pitheciidae Callicebus personatus (É. Geoffroy, 1812) sauá Ordem Carnivora Família Canidae Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766) cachorro-do-mato Família Procyonidae Nasua nasua (Linnaeus, 1766) quati Potos flavus (Schreber, 1774) jupará Procyon cancrivorus (G. Cuvier, 1798) mão-pelada Família Mustelidae Eira barbara (Linnaeus, 1758) irara Galictis cuja (Molina, 1782) furão Lontra longicaudis (Olfers, 1818) lontra Família Felidae Leopardus pardalis (Linnaeus, 1758) jaguatirica Leopardus guttulus (Hensel, 1872)6 gato-do-mato-pequeno Leopardus wiedii (Schinz, 1821) gato-maracajá Puma concolor (Linnaeus, 1771) onça-parda Puma yagouaroundi (É. Geoffroy, 1803) gato-mourisco Panthera onca (Linnaeus, 1758) onça-pintada Ordem Perissodactyla Família Tapiridae Tapirus terrestris (Linnaeus, 1758) anta Ordem Artiodactyla Família Tayassuidae Pecari tajacu (Linnaeus, 1758) catitu Tayassu pecari (Link, 1795) queixada 470 Endemismo2 Status de Ameaça3 Estadual4 Nacional5 CR X VU CR X X VU EN X VU VU VU VU VU EN CR VU VU VU VU VU EN VU VU EN VU SRBEK-ARAUJO & KIERULFF Espécies1 MAMÍFEROS: GRUPOS FUNCIONAIS Nome Popular Família Cervidae Mazama americana (Erxleben, 1777) veado-mateiro Mazama gouazoubira (G. Fischer, 1814) veado-catingueiro Ordem Rodentia Família Sciuridae Guerlinguetus ingrami (Thomas, 1901) esquilo Família Erethizontidae Chaetomys subspinosus (Olfers, 1818) ouriço-preto Coendou insidiosus (Lichtenstein, 1818) ouriço-cacheiro Família Caviidae Hydrochoerus hydrochaeris (Linnaeus, 1766) capivara Família Cuniculidae Cuniculus paca (Linnaeus, 1766) paca Família Dasyproctidae Dasyprocta leporina (Linnaeus, 1758) cutia Ordem Lagomorpha Família Leporidae Sylvilagus brasiliensis (Linnaeus, 1758) tapiti Endemismo2 Status de Ameaça3 Estadual4 Nacional5 X X VU VU VU 1 Lista elaborada com base nos dados apresentados em Srbek-Araujo et al. (2014). 2 Espécies endêmicas da Mata Atlântica de acordo com Paglia et al. (2012). 3 Status de Ameaça: VU = Vulnerável; EN = Em Perigo; CR = Criticamente em Perigo. 4 Espécies ameaçadas em nível estadual conforme Chiarello et al. (2007). 5 Espécies ameaçadas em nível nacional segundo MMA (2014). 6 Foi adotada a identiicação Leopardus guttulus, conforme divisão em nível especíico proposta para subespécies de Leopardus tigrinus (Schreber, 1775) por Trigo et al. (2013), com base em diferenças moleculares, e por Nascimento (2010), a partir de análises morfológicas. A riqueza de espécies, entretanto, é uma medida tradicional de biodiversidade baseada em valores que incorporam pouca ou nenhuma informação sobre as espécies propriamente ditas, resultando em uma avaliação limitada da comunidade. Por este motivo, estudos recentes têm utilizado, cada vez mais, medidas de biodiversidade que incluem informações mais detalhadas sobre as espécies, permitindo avaliar, por exemplo, a função que cada organismo desempenha na comunidade. Uma dessas medidas é denominada “diversidade funcional”. Sua utilização tem aumentado desde o inal da década de 1990 e passou a receber maior atenção da comunidade cientíica a partir de 2003-2005 (Petchey & Gaston, 2006). A diversidade funcional é um importante componente da biodiversidade (Petchey & Gaston, 2006) e pode ser deinida como o número, o tipo e a distribuição de funções desempenhadas pelos organismos em um ecossistema (Díaz & Cabido, 2001) ou a multiplicidade funcional dentro de uma comunidade (Tesfaye et al., 2003). Pode ser usada para descrever comunidades e ecossistemas com base nos nichos ou funções exercidas pelas espécies e não necessariamente na história evolutiva dos táxons (Petchey & Gaston, 2006), analisando as características funcionais que exercem inluência sobre os processos ecológicos que ocorrem no ambiente (Petchey & Gaston, 2006). A diversidade funcional pode ser avaliada com base em dados categóricos e em medidas contínuas, sendo a identificação do número de grupos funcionais presentes em uma comunidade uma das medidas possíveis (Petchey & Gaston, 2006). Esta abordagem é a mais antiga, representando a primeira medida de diversidade funcional proposta, e que ainda hoje é a mais comumente utilizada (Cianciaruso et al., 2009). O presente trabalho apresenta a caracterização da comunidade de mamíferos de médio e grande porte presente na RNV com base na determinação 471 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE dos grupos funcionais representados na região e pontua as principais ameaças que podem levar à extinção local de espécies e, consequentemente, de funções ecológicas a elas relacionadas, a exemplo do que tem sido observado em outras localidades da Mata Atlântica. MATERIAL E MÉTODOS Os mamíferos de médio e grande porte compreendem espécies com mais de 1 kg, tendo sido também incluídos no presente estudo o micoda-cara-branca (Callithrix geoffroyi = 230-350 g; Paglia et al., 2012) e o esquilo (Guerlinguetus ingrami = 125-216 g; Paglia et al., 2012) (Tabela 1). Apesar de apresentarem porte reduzido, estes táxons não são tradicionalmente classiicados como pequenos mamíferos (Fonseca, 1989), uma vez que sua amostragem é habitualmente realizada por meio de métodos empregados no estudo de espécies de médio e grande porte. Para a avaliação da comunidade de médios e grandes mamíferos foi montada uma matriz de “espécies x características” considerando as seguintes variáveis: dieta, peso, hábito locomotor (ocupação espacial) e horário de atividade. Dados referentes à dieta, ao peso e ao hábito locomotor das espécies foram obtidos em Paglia et al. (2012). As categorias de dieta consideradas no presente estudo são apresentadas nos resultados. Os valores de peso foram agrupados em oito categorias de tamanho: < 1 kg, 1-2 kg, 2-5 kg, 5-10 kg, 10-40 kg, 40-60 kg, 60-100 kg e > 100 kg. Quanto ao hábito locomotor, as espécies analisadas foram classiicadas como arborícolas, escansoriais, terrícolas, semifossoriais ou semiaquáticas, conforme apresentado em Paglia et al. (2012), exceto Procyon cancrivorus que foi classiicada como terrícola no presente estudo. O horário de atividade foi baseado em dados obtidos na RNV, entre 2005 e 2014, a partir de armadilhas fotográicas (Projeto Felinos - A.C. Srbek-Araujo, dados não publicados). As espécies analisadas foram classiicadas em seis categorias de horário de atividade baseadas na porcentagem de registros em cada período: diurno (≥90% diurno), preferencialmente diurno (7089% diurno), diurno/crepuscular (50% diurno e 472 50% crepuscular), diurno/noturno (cerca de 50% diurno e 50% noturno), noturno (≥90% noturno) e preferencialmente noturno (70-89% noturno). Para as espécies para as quais não há registros fotográicos disponíveis para a RNV (Priodontes maximus, Bradypus variegatus, Alouatta guariba, Callicebus personatus, Potos flavus, Lontra longicaudis, Leopardus guttulus, Chaetomys subspinosus e Coendou insidiosus), o horário de atividade foi deinido com base em informações reunidas em Reis et al. (2006). A determinação do número de grupos funcionais formados pelas espécies de mamíferos de médio e grande porte presentes na RNV foi realizada a partir de análises multivariadas classiicatórias (Análise de Cluster) baseadas em métodos hierárquicos (Tree Clustering) conforme orientações apresentadas em Petchey & Gaston (2006). Como regra de fusão foi empregado o Método do Vizinho Mais Distante (Complete Linkage) que determina a distância dos agrupamentos com base na maior distância entre quaisquer duas espécies em diferentes subgrupos (Statsoft, 2004). Como medida de distância foi adotado o Método da Porcentagem de Desacordo (Percent Disagreement) que é considerado ideal para análises que incluem dados categóricos (Statsoft, 2004). As análises estatísticas foram realizadas no Programa Statistica versão 7.1 (Statsoft, 2004). RESULTADOS E DISCUSSÃO Grupos Funcionais A comunidade de mamíferos de médio e grande porte presente na RNV está organizada em cinco grupos funcionais principais, compostos por 1 a 3 subgrupos funcionais e 2 a 11 espécies ao todo (Figura 1). A Figura 1 apresenta as associações entre as espécies de acordo com a dieta, o peso, o hábito locomotor e o horário de atividade. A dieta representou a característica funcional principal na deinição dos grupos e subgrupos, enquanto as outras características analisadas contribuíram especialmente na organização interna dos agrupamentos. Quanto mais semelhantes são as espécies, mais próximas elas se apresentam no diagrama, sendo a distância representada pelo número e pelo comprimento das linhas que SRBEK-ARAUJO & KIERULFF comunicam as espécies. As diferenças são medidas pelas distâncias sinalizadas na escala inferior (eixo x), variando de zero, entre as espécies que se sobrepõem, até mais de 0,5, indicando as espécies mais diferentes entre si. O Grupo Funcional 1 foi deinido como CARNÍVOROS, incluindo predadores estritos de invertebrados ou de vertebrados, abrangendo os subgrupos Mirmecófago, Carnívoro e Piscívoro. CARNÍVOROS representa o grupo com maior número de espécies, sendo a organização interna dos subgrupos Mirmecófago e Carnívoro deinida por diferenças no hábito locomotor e/ou no horário de atividade das espécies. Piscívoro foi o subgrupo mais distante entre os CARNÍVOROS, estando composto por uma única espécie (lontra, Lontra longicaudis). O Grupo Funcional 2 foi intitulado GENERALISTAS, uma vez que abrange espécies com dieta mais variada, estando representado pelos subgrupos Insetívoro/Onívoro e Frugívoro/ Onívoro. GENERALISTAS representa o segundo grupo mais diverso, estando formado por dois subgrupos funcionais com duas ou mais espécies com grande sobreposição dos caracteres analisados. Em GENERALISTAS, as espécies mais próximas diferiram em relação ao tamanho (tatus entre si) e ao horário de atividade [macaco-prego (Sapajus robustus) x jupará (Potos flavus); “quati (Nasua nasua) + irara (Eira barbara)” x mãopelada (Procyon cancrivorus)], havendo uma forte sobreposição entre quati e irara. O Grupo Funcional 3 foi denominado HERBÍVOROS ARBORÍCOLAS, incluindo espécies herbívoras que exploram verticalmente o ambiente, abrangendo os subgrupos Folívoro, Folívoro/Frugívoro e Frugívoro/Insetívoro/ Gomívoro. Entre os HERBÍVOROS ARBORÍCOLAS, os subgrupos Folívoro e Frugívoro/Insetívoro/ Gomívoro estão representados por uma única espécie cada (respectivamente: preguiça-comum, Bradypus variegatus; mico-da-cara-branca, Callithrix geoffroyi), sendo Frugívoro/Insetívoro/ Gomívoro o subgrupo mais distante em relação às outras espécies inseridas em HERBÍVOROS ARBORÍCOLAS. Neste grupo destaca-se também a forte sobreposição entre o ouriço-preto (Chaetomys subspinosus) e ouriço-cacheiro MAMÍFEROS: GRUPOS FUNCIONAIS (Coendou insidiosus), classiicados por Paglia et al. (2012) como Folívoro/Frugívoro e Frugívoro/ Folívoro, respectivamente. O Grupo Funcional 4 foi deinido como GRANÍVOROS, estando representado por espécies que se alimentam principalmente de sementes, entre outros itens de origem vegetal, e que estão inseridas no subgrupo Frugívoro/Granívoro. GRANÍVOROS constitui o grupo menos diverso, com apenas duas espécies com diferenciação relacionada ao tamanho e ao hábito locomotor, sendo o esquilo, Guerlinguetus ingrami, como arborícola; e a cutia, Dasyprocta leporina, como terrícola (Paglia et al., 2012). Finalmente, o Grupo Funcional 5, intitulado HERBÍVOROS TERRÍCOLAS, abrange espécies herbívoras que forrageiam na serrapilheira e/ou nos estratos mais baixos do sub-bosque, estando composto pelos subgrupos Frugívoro/Herbívoro e Herbívoro (pastador). Entre os HERBÍVOROS TERRÍCOLAS, as espécies mais próximas diferiram em relação ao tamanho e/ou horário de atividade, embora entre os Frugívoros/Herbívoros tenha havido uma grande sobreposição entre catitu (Pecari tajacu) e veado-catingueiro (Mazama gouazoubira). Segundo Lawton & Brown (1993), a análise de grupos funcionais assume que os membros de um mesmo agrupamento são funcionalmente idênticos, podendo haver completa redundância entre as espécies dentro dos grupos. Neste sentido, seria improvável que, em comunidades compostas por táxons funcionalmente redundantes, a perda aleatória de espécies resultasse em diminuição signiicativa da diversidade funcional (Mayield et al., 2010). Entretanto, na prática, observase que as comunidades geralmente apresentam redundância limitada e a extinção aleatória de algumas espécies pode resultar, na verdade, em perda signiicativa de diversidade funcional (Petchey & Gaston, 2002). Os dados obtidos para a comunidade de mamíferos de médio e grande porte presente na RNV demonstram que nem sempre a redundância entre as espécies que compõem um mesmo grupo é completa, conforme apontado também por Ciancaruso et al. (2009). Além da diferenciação associada à dieta, ao peso, ao hábito locomotor e ao horário de atividade, mesmo para 473 474 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Figura 1: Grupos funcionais compostos pelas espécies de mamíferos de médio e grande porte presentes na Reserva Natural Vale: Legenda: Grupo Funcional 1 = Carnívoros (Subgrupos: Mirmecófago – Mi, Carnívoro – Ca e Piscívoro – Pi), Grupo Funcional 2 = Generalistas (Subgrupos: Insetívoro/Onívoro – In/On e Frugívoro/ Onívoro – Fr/On), Grupo Funcional 3 = Herbívoros Arborícolas (Subgrupos: Folívoro – Fo, Folívoro/Frugívoro – Fo/Fr e Frugívoro/Insetívoro/Gomívoro – Fr/In/Go), Grupo Funcional 4 = Granívoros (Subgrupo: Frugívoro/Granívoro – Fr/Gr) e Grupo Funcional 5 = Herbívoros Terrícolas (Subgrupos: Frugívoro/Herbívoro – Fr/Hb e Herbívoro – Hb). SRBEK-ARAUJO & KIERULFF os pares de espécies que apresentaram forte sobreposição para todos os caracteres analisados no presente estudo, há outros atributos que podem contribuir para a caracterização do nicho efetivo de cada espécie, como, por exemplo, o detalhamento no uso e partilha dos recursos alimentares ou aspectos comportamentais e sociais, reforçando a importância da manutenção de todos os elementos que compõem as comunidades biológicas. Assim, quanto mais detalhadas forem as informações sobre cada espécie, maior se tornará a diferenciação e menor será a sobreposição/redundância entre os táxons analisados em uma comunidade. Entretanto, estas informações nem sempre estão disponíveis para a maioria das espécies. Os maiores valores de diversidade funcional registrados para mamíferos de médio e grande porte na Mata Atlântica estão relacionados a áreas com grande cobertura lorestal, maior heterogeneidade ambiental e baixos níveis de perturbação antrópica (Magioli et al., 2015), a exemplo do Bloco LinharesSooretama. Esses grandes remanescentes são considerados fundamentais para a manutenção dos serviços ecossistêmicos prestados pelas espécies de maior porte e para a conservação de mamíferos, funcionando como áreas de referência da função ecológica das comunidades de médios e grandes mamíferos em nível de bioma (Magioli et al., 2015). Principais Ameaças A diversidade funcional inluencia os processos, a dinâmica e a estabilidade dos ecossistemas, podendo ser empregada como uma ferramenta para prever as consequências funcionais das alterações ambientais causadas pelo homem (Petchey & Gaston, 2006). Assim, a partir da análise da diversidade funcional é possível, por exemplo, avaliar de forma mais acurada quais serão as consequências da extinção de espécies (Petchey & Gaston, 2006) e estimar as perdas que uma comunidade pode suportar antes que funções importantes sejam completamente perdidas (Cianciaruso et al., 2009). Os mamíferos de médio e grande porte são especialmente sensíveis à perda e fragmentação de hábitat, sendo as consequências destas ameaças agravadas por efeitos sinérgicos com outros fatores, como caça, incêndios lorestais e outros impactos MAMÍFEROS: GRUPOS FUNCIONAIS antrópicos sobre populações isoladas (Canale et al., 2012). A caça, por si só, pode ser considerada uma das principais ameaças à conservação de mamíferos de médio e grande porte, acarretando alterações na abundância das populações e na biomassa das comunidades, o que pode culminar com a extinção local dos táxons mais afetados (p. ex. Chiarello, 2000; Lopes & Ferrari, 2000; Galetti et al., 2009). Entre as espécies de maior porte, os grupos com maior longevidade, que apresentam baixos índices de aumento populacional e longo tempo de geração são ainda mais vulneráveis à extinção quando submetidos à pressão de caça, a exemplo do catitu, do queixada, dos veados e da anta (Bodmer et al., 1997). Embora a RNV conte com um aparato de vigilância contra caçadores que já foi considerado o mais eiciente do Espírito Santo (Chiarello, 2000), o número de eventos anuais relacionados à caça nesta reserva e na RBS variou entre 150 e quase 200 entre 2003 e 2013 (Kierulff et al., 2014). Assim, a pressão de caça no Bloco Linhares-Sooretama pode ser considerada elevada, sendo observada uma tendência de aumento nos últimos anos. As espécies mais caçadas na região são a paca, os tatus e a cutia (Kierulff et al., 2014), havendo também registros de abate de veados, anta, porcos-do-mato e capivara, entre outras espécies de mamíferos (Banco de Dados de Proteção Ecossistêmica RNV e RBS - Vale, dados não publicados). Embora os felinos não sejam alvo de caça para alimentação na Mata Atlântica, eles também podem ser vítimas da ação de caçadores, principalmente os grandes felinos, os quais são mortos por serem considerados ameaças para o homem e/ou para animais domésticos (Canale et al., 2012). Além disso, a atividade de caça aumenta a pressão sobre as populações de espécies consumidas pelos felinos, interferindo também na disponibilidade de recursos para os predadores naturais. Se nada for feito para intensiicar o combate à ação de caçadores e aumentar a proteção do Bloco Linhares-Sooretama, os efeitos da caça poderão acarretar alterações na comunidade de mamíferos e, consequentemente, em sua diversidade funcional, desencadeando mudanças que podem impactar a lora e outros elementos da fauna locais. Neste sentido, ressalta-se que apenas a existência de habitats adequados não garante a sobrevivência das espécies se a área não for protegida contra a 475 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE caça (Canale et al., 2012), resultando em “lorestas vazias” (Redford, 1992). Além dos efeitos da caça, o risco de atropelamentos de espécies de maior porte também deve ser apontado para o Bloco LinharesSooretama. A rodovia BR-101 intercepta o bloco no sentido norte-sul, dividindo-o em porções leste e oeste. Os atropelamentos de fauna têm se tornado um problema crescente em diferentes partes do mundo nos últimos anos (Baskaran & Boominathan, 2010) e podem apresentar efeito substancial na demograia das populações de espécies mais afetadas (Trombulak & Frissell, 2000). No trecho da rodovia BR-101 que intercepta o Bloco Linhares-Sooretama, destacamse registros de atropelamentos fatais de onçapintada e onça-parda, além de pequenos felinos (Srbek-Araujo et al., 2015), anta (Westermeyer, 2015), capivara, tatus, tamanduá-de-colete, primatas e cachorro-do-mato, entre outros (Samir G. Rolim, comunicação pessoal). A rodovia BR-101 será inteiramente duplicada no estado e há previsão de início das obras, mas ainda não há estudo de impacto ambiental para o projeto de duplicação do trecho que intercepta o Bloco Linhares-Sooretama ou o planejamento de medidas especiais para evitar ou reduzir o risco de atropelamento de fauna na região (para detalhes, ver Srbek-Araujo et al., 2015). As primeiras mobilizações para avaliação do problema foram iniciadas no inal de 2014, mas ainda não há ações concretas para a resolução da questão. Além das perdas já observadas, ressaltase que os mamíferos de médio e grande porte são especialmente suscetíveis a atropelamentos em estradas com pistas duplas e em vias de alta velocidade (Forman & Alexander, 1998), sendo esperada a intensiicação do impacto da rodovia BR-101 sobre as espécies afetadas após sua duplicação. Os cinco grupos funcionais identiicados para a RNV apresentam pelo menos uma espécie ameaçada de extinção em nível estadual (Chiarello et al., 2007) e, com exceção de GRANÍVOROS, isso também é observado para espécies ameaçadas nacionalmente (MMA, 2014) (Tabela 1). CARNÍVOROS representa o grupo funcional que reúne o maior número de táxons sob ameaça, possuindo seis espécies ameaçadas no estado e/ou no Brasil (55% das espécies inseridas 476 no grupo em análise). Quando analisado apenas o subgrupo Carnívoro, a representatividade de espécies ameaçadas se torna ainda maior (n = 5 ameaçadas no estado e/ou no país, 83% do subgrupo). As espécies inseridas neste subgrupo, especialmente os felinos, apresentam função essencial no controle das populações de presas que consomem, contribuindo para a estruturação de toda a comunidade. Outro subgrupo que merece destaque é Frugívoro/Herbívoro, que compõe o grupo HERBÍVOROS TERRÍCOLAS. Das seis espécies inseridas nesse subgrupo, três são ameaçadas no estado (Chiarello et al., 2007) e duas delas também em nível nacional (MMA, 2014) (50 e 33%, respectivamente), sendo a anta uma importante dispersora de sementes, especialmente de espécies com estruturas reprodutivas de maior porte, enquanto o catitu e o queixada são importantes predadores e dispersores de sementes, participando da dinâmica de regeneração natural, manutenção e estruturação das comunidades vegetais. Desta forma, mesmo que haja alguma sobreposição entre as espécies citadas, a falta de qualquer componente desses subgrupos pode acarretar uma série de alterações secundárias em virtude da perda ou redução de funções ecológicas essenciais nas comunidades das quais participam. De forma geral, os esforços de conservação da biodiversidade focam quase exclusivamente em listas de espécies, mas o número total de espécies e o número de táxons ameaçados são critérios que não reletem informações relacionadas à história evolutiva e às características biológicas das espécies (Mace et al., 2003) ou às funções ecológicas representadas nas comunidades. Entretanto, a ação humana pode causar signiicativas reduções não apenas no número de espécies, afetando também a diversidade funcional da comunidade (Cadotte et al., 2011). Este parâmetro é o que sofre os maiores declínios (Cadotte et al., 2011), ressaltando que a conservação de espécies por si só não garante a manutenção dos serviços ecossistêmicos cruciais à conservação dos ambientes naturais, sendo necessários esforços tanto para a conservação das espécies, quanto da diversidade funcional das comunidades (Diaz & Cabido, 2001). Uma vez que a funcionalidade dos ecossistemas é afetada pela perda das interações ecológicas, este último SRBEK-ARAUJO & KIERULFF MAMÍFEROS: GRUPOS FUNCIONAIS elemento deve ser avaliado como o principal componente da biodiversidade, considerando que a saúde dos ecossistemas é dependente da manutenção das interações entre as espécies (Valiente-Banuet et al., 2015). Além disso, a perda das interações ecológicas pode ocorrer antes do desaparecimento das espécies envolvidas nos processos, sendo as taxas de perda das interações mais aceleradas do que as taxas de extinção de espécies (Valiente-Banuet et al., 2015). Assim, apenas o registro da presença de espécies não é garantia que sua função está sendo realizada e um impacto prolongado sobre as populações de carnívoros e grandes herbívoros, por exemplo, pode causar declínio das funções desempenhadas por esses grupos, especialmente se suas populações forem muito pequenas. últimas áreas no estado com registros atuais de anta (Flesher & Gatti, 2010) e queixada (Chiarello et al., 2007), ressaltando que os grandes herbívoros enfrentam atualmente elevadas taxas de declínio em todo o mundo, o que tem levado à perda ou redução dos serviços ecológicos por eles realizados em áreas cada vez maiores em termos de extensão (Ripple et al., 2015). Assim, devido à integridade da comunidade de mamíferos de médio e grande porte presente na RNV é possível estimar, a partir dos resultados apresentados no presente trabalho, o quanto da diversidade funcional de mamíferos de médio e grande porte esperada para o bioma pode ter sido perdida em outras áreas, bem como detectar os grupos funcionais mais afetados pelas perdas de espécies em outras localidades. Além da riqueza de espécies, é fundamental que os grupos funcionais presentes na RNV e, portanto, CONSIDERAÇÕES FINAIS no Bloco Linhares-Sooretama sejam devidamente protegidos e conservados para manutenção dos No presente estudo foi adotada a abordagem de processos e da dinâmica que fazem desta uma grupos funcionais baseada em dados categóricos, das áreas mais importantes para conservação de considerando que não há informações disponíveis mamíferos na Mata Atlântica brasileira. sobre o nicho ecológico efetivo que permitissem medir as distâncias funcionais de forma mais AGRADECIMENTOS detalhada para todas as espécies de médios e grandes mamíferos presentes na RNV. Embora A.C. Srbek-Araujo é grata à Vale / Instituto haja limitações no uso de variáveis categóricas, Ambiental Vale por todo apoio ao desenvolvimento sobretudo em função da utilização de informações do Projeto Felinos na Reserva Natural Vale desde simplistas e que não permitem detectar divisões 2005. As autoras agradecem a Adriano Garcia mais reinadas entre as espécies (p. ex. Petchey Chiarello, Camila Righetto Cassano e Sérgio Lucena et al., 2004; Petchey & Gaston, 2006), as Mendes pela revisão do trabalho. análises realizadas no presente trabalho ilustram satisfatoriamente a diversidade de funções REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS presentes na comunidade analisada. Segundo Srbek-Araujo et al. (2014), a RNV Baskaran, N. & Boominathan, D. 2010. Road kill of animals by highway trafic in the tropical forests of pode ser considerada uma das últimas áreas da Mudumalai Tiger Reserve, southern India. Journal of Mata Atlântica a manter intacta sua comunidade de Threatened Taxa 2: 753-759. mamíferos de médio e grande porte. Neste sentido, destaca-se a presença de espécies endêmicas do Beisiegel, B.M.; Sana, D.A. & Moraes Jr, E.A. 2012. The jaguar in the Atlantic Forest. Cat News Special Issue bioma e ameaçadas de extinção, incluindo táxons 7: 14-18. que sofrem grande pressão de caça, sendo o Bloco Linhares-Sooretama o último refúgio de Bodmer, R.E.; Eisenberg, J.F. & Redford, K.H. 1997. Hunting and the Likelihood of Extinction of Amazonian onças-pintadas e tatus-canastra no Espírito Santo, Mammals. Conservation Biology 11: 460-466. representando também uma das últimas áreas a abrigar populações destas espécies em toda a Mata Cadotte, M.W.; Carscadden, K. & Mirotchnick, N. 2011. Beyond species: functional diversity and the Atlântica (Srbek-Araujo et al., 2009; Beisiegel et maintenance of ecological processes and services. al., 2012). Além destes táxons, o bloco é uma das 477 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE Journal of Applied Ecology 48: 1079–1087. Canale, G.R.; Peres, C.A.; Guidorizzi, C.E.; Gatto, C.A.F. & Kierulff, M.C.M. 2012. 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Em 2030, espera-se ter alcançado pobreza zero como um dos objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas (Griggs et al., 2013); em 2020, o objetivo é o de se ter extinção zero de espécies por causas não naturais, conforme deinido pela Convenção de Diversidade Biológica das Nações Unidas (Mittermeier et al., 2010); e no im de 2015, a conferência das partes da Convenção Quadro de Mudanças Climáticas, em Paris, concordou em não ultrapassarmos em 1,5 graus Celsius de aquecimento global até 2030 (Scarano, 2014a; Geden 2015). Essas metas, realistas ou não, indicam o claro reconhecimento pelas lideranças globais do momento de crise que o planeta atravessa e da necessidade de se agir decisivamente em direção à mitigação dessa crise. A crise planetária é sem precedentes, complexa, multifacetada e causada por variáveis interrelacionadas. A crise alimentar, a crise hídrica, a crise da biodiversidade, a crise climática, possuem estreita ligação com a crise econômica, a crise de liderança política, a crise de segurança pública e até de saúde pública. Somadas, essas várias crises já parecem implicar uma crise de valores. A sociedade chega a um ponto - como descreve Sardar (2002) ao discutir a fase pós-moderna que a ciência atravessa - no qual “os fatos são incertos, os interesses são altos, os valores estão em disputa, e a urgência é grande”. Esse período de mudanças que a sociedade atravessa parece clamar por um novo paradigma de desenvolvimento. O relatório da Avaliação Ecossistêmica do Milênio (MEA, 2005) concluiu que o componente ambiental da crise decorre de demandas sociais resultantes da combinação entre um padrão de consumo insustentável, especialmente nos países desenvolvidos, com a persistência da pobreza em países em desenvolvimento. Ainda que a relação entre desenvolvimento e degradação da natureza não seja linear - visto que tanto há países desenvolvidos que conseguiram manter sua natureza relativamente bem preservada, como há países com baixos índices de desenvolvimento e pouquíssima natureza preservada - historicamente, o desenvolvimento socioeconômico deu-se em detrimento da conservação da natureza na maioria dos países. Assim, parece existir uma relação mutuamente excludente (ou trade-off, em inglês) entre desenvolvimento socioeconômico e conservação da natureza. Com isso, predomina uma percepção que conservar a natureza implica obstáculo ao desenvolvimento e geração de renda, e vice-versa. O desenvolvimento que se dá às custas da degradação da natureza é insustentável, especialmente na sociedade contemporânea, para a qual o consumismo se tornou um valor e as demandas de consumo aumentam em relação exponencial com o aumento populacional (Bauman, 2011). As mudanças de uso da terra, em grande parte decorrente das demandas de 483 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE consumo e dos interesses que movem o mercado, culminaram no surgimento de 35 hotspots globais de biodiversidade, ou seja, locais com grande diversidade de espécies, altas taxas de endemismo e elevada proporção de habitats degradados (Mittermeier et al., 2011). O Brasil possui dois hotspots, a Mata Atlântica (onde a Reserva Natural Vale, tema desse livro, se insere) e o Cerrado. Paralelamente, o modelo de desenvolvimento tradicional hoje ameaça grandes extensões de cobertura natural do planeta, percebidas como fronteiras de expansão econômica. No Brasil, a Amazônia seja talvez o maior exemplo dessa segunda categoria (Nepstad et al., 2009; SoaresFilho et al., 2010). O reconhecimento que o modelo de desenvolvimento necessita de uma mudança de paradigma se tornou explícito globalmente na Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, ou Rio+20, realizada em 2012 no Rio de Janeiro, mas ainda existe uma grande lacuna entre discurso e prática (Scarano et al., 2012). Apesar de todos os compromissos globais que surgiram 20 anos antes, na conferência das Nações Unidas conhecida como Rio 92, governos têm fracassado em garantir práticas mais sustentáveis em seus países e emissão de carbono, degradação ambiental e pobreza persistem em taxas alarmantes. Já o setor privado - que responde pela maior parte dos produtos que a sociedade consome e gera 60% do Produto Interno Bruto do planeta (Sukhdev, 2012) – possui grande “pegada” ambiental, mas começa a reconhecer a necessidade de práticas mais sustentáveis. Embora até aqui a sociedade tenha fracassado em alcançar metas de sustentabilidade, no Rio+20 se começou a desenhar os “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável”, que foram anunciados pela ONU em setembro de 2015. Duas prioridades serão centrais aos vários objetivos: proteger os sistemas naturais que asseguram a vida na Terra e reduzir a pobreza (Griggs et al., 2013). A NECESSIDADE DE ADAPTAÇÃO Conciliar a conservação da natureza com a redução de pobreza implica uma mudança no paradigma de desenvolvimento, que até aqui se 484 deu em grande parte com base em degradação e uso não sustentável de recursos naturais e resultou em distribuição desigual de benefícios (Roe & Elliott 2010). Cientistas e lideranças políticas globais reconhecem ser precisamente a combinação entre conservação da natureza e redução de pobreza que será necessária para adaptar a sociedade ao novo quadro climático que vem se desenhando, uma vez que a) as pessoas mais vulneráveis aos efeitos perversos das mudanças climáticas são os pobres; e b) as localidades mais vulneráveis aos efeitos negativos das mudanças climáticas são as que menos possuem recursos naturais renováveis disponíveis (Fisher et al., 2014; Magrin et al., 2014). Uma vez que, mesmo em um cenário otimista de redução imediata e signiicativa de emissão de gases do efeito estufa, até 2100 a sociedade seguiria sentindo os efeitos do aumento de temperatura no planeta, foi ultrapassado o ponto até o qual a mitigação das emissões seria suiciente para garantir o bemestar humano. Como airmaram os cientistas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês), cujos volumes foram publicados entre setembro de 2013 e abril de 2014, entramos na “Era da Adaptação” na qual necessitamos, como sociedade, nos adaptar às mudanças climáticas já em curso (IPCC, 2014). Muitas vezes, quando se fala em adaptação, se imagina grandes obras de infraestrutura – diques para conter elevação do nível do mar, obras de contenção de encostas, transposição de rios, dessalinização, etc. Intervenções nessa escala, no âmbito da infraestrutura, são de alto custo e em geral visam recompor ou superar uma limitação imposta pelos recursos naturais (em geral, decorrentes da ausência destes). No entanto, tanto o IPCC como o PBMC (Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas) recentemente enfatizaram a importância de outro tipo de adaptação, que será particularmente relevante para a América Latina e o Brasil: a adaptação baseada em ecossistemas (Magrin et al., 2014; Souza-Filho et al., 2014). Esse é o nome dado ao conjunto de práticas multissetoriais, multiescalares e que são baseadas na premissa de que serviços ecossistêmicos reduzem a vulnerabilidade de sociedades às mudanças climáticas (Vignola et al., 2009). A adaptação baseada em ecossistemas inclui ações SCARANO & CEOTTO como o estabelecimento e o manejo efetivo de áreas protegidas, manejo comunitário de áreas silvestres, acordos e incentivos para conservação (por exemplo, os chamados pagamentos por serviços ambientais) e a restauração ecológica (Magrin et al., 2014). Para serem de fato adaptativas, tais iniciativas precisam reduzir a vulnerabilidade de sociedades, o que muitas vezes envolve mecanismos de geração de renda ou redução de pobreza associados (Abson & Termansen, 2011). Naturalmente que para que possam ser feitas intervenções que visem adaptação baseada em ecossistemas, será necessário que os ecossistemas naturais ainda existam ou sejam recuperáveis. Em geral, essa possibilidade vai ser maior em países em desenvolvimento, que ainda disponham de parte do capital natural, do que em países que já o perderam em grande parte. Decorre dessa discussão que aliar a redução da pobreza à conservação da natureza talvez seja a principal estratégia adaptativa às mudanças climáticas nos países em desenvolvimento que ainda dispõem de seus recursos naturais – como é o caso dos países latino-americanos (e.g, Scarano & Ceotto 2015). Conciliar redução de pobreza e conservação da natureza signiica equilibrar o tripé social, econômico e ambiental da sustentabilidade (Adams et al., 2004) e, em outras palavras, portanto, poderíamos airmar que o desenvolvimento sustentável é a principal forma das sociedades se adaptarem às mudanças climáticas (IPCC, 2014). A IMPORTÂNCIA DA BIODIVERSIDADE Uma vez que a conservação da natureza é reconhecidamente parte essencial ao desenvolvimento sustentável, a biodiversidade assume papel central na atualidade. A biodiversidade - termo cunhado pelo cientista norte-americano Edward O. Wilson (nascido em 1929) para deinir a diversidade biológica em vários níveis (ecossistemas, espécies e gens) - é particularmente rica no Brasil. Dentre os 17 países que abrigam 70% da riqueza de espécies do planeta, o Brasil é o mais megadiverso. Essa biodiversidade, por sua vez, é a garantia da oferta de diversos serviços ecossistêmicos que são vitais para a sobrevivência e o bem-estar humanos. Segurança alimentar, qualidade e quantidade de água, clima estável, diversidade cultural – são DESAFIOS PARA A CONSERVAÇÃO todos serviços ofertados pela biodiversidade, muitas vezes de maneira imperceptível. Não surpreende, portanto, que o Brasil seja o país que contém também a maior proporção de água doce supericial (12%), seja o segundo maior produtor de alimentos e possua o maior estoque de carbono (Scarano et al., 2010; 2012). Esse conjunto de fatos leva a duas importantes constatações: 1) se a biodiversidade está em crise e sua degradação avançar, a humanidade terá cada vez menos segurança alimentar, hídrica e climática; 2) se o Brasil for ineicaz em conservar sua biodiversidade, os impactos não serão apenas locais, mas também globais, no que diz respeito à produção de alimentos e balanços hidrológicos e atmosféricos. A crise da biodiversidade é evidente a partir da estimativa de que a taxa global de extinção de espécies é hoje pelo menos mil vezes superior às taxas históricas (Mace et al., 2005). Tamanha taxa de extinção foi atribuída pelo cientista norteamericano Jared Diamond (1989) a um “Quarteto Maligno” composto por destruição de habitats, ação predatória humana excessiva, espécies invasoras e cadeias de extinção. As evidências dos efeitos das mudanças climáticas sobre extinção e distribuição das espécies transformaram o “quarteto” de Diamond em “quinteto” (Thomas et al., 2004) e, apesar do reconhecimento de que as sinergias entre esses cinco vetores pode ser ainda mais ameaçadora, com frequência a conversão de ecossistemas naturais e consequente destruição de habitats é tida como o principal fator causal da extinção de espécies (Baillie et al., 2004). A velocidade da perda de espécies é aparentemente maior que a velocidade da ciência em reconhecer e nomear novas espécies. Por exemplo, estima-se que de 10 a 20% das plantas com lores são ainda desconhecidas para a ciência (Scheffers et al., 2012). Quanto ao clima, conforme aponta o relatório de avaliação do IPCC (Ciais et al., 2013), o século XX viu um aumento de 0,9 ºC na temperatura média do planeta. Para 2050, em um cenário otimista de baixas emissões de gases do efeito estufa, estimase um aumento adicional em 0,4-1,6 ºC, enquanto que, em um cenário “business as usual” (ou seja, cenário no qual são mantidas as taxas atuais de emissões), projeta-se um aumento de 1,4-2,6 485 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE ºC para 2050. Para o período de 2080 a 2100, o aumento projetado é de 2,6-4,8 ºC. Os cientistas concordam também que um aumento superior a 2,0 ºC na temperatura média do planeta seria suiciente para gerar efeitos negativos sobre a base da vida e do bem-estar no planeta. A crise ambiental resulta da sinergia e das interações entre a crise climática e a crise da biodiversidade. A inter-relação entre as duas crises talvez seja mais evidente na América Latina, onde a conversão de ecossistemas naturais é a principal causa da perda de biodiversidade e, ao mesmo tempo, é o principal vetor de mudanças climáticas (Magrin et al., 2014). Como exemplo do que se projeta em termos de panorama futuro das sinergias entre a crise da biodiversidade e da crise climática, alguns números e estimativas para a América Latina são contundentes: o turnover (ou taxa de rotatividade ou troca) de espécies de vertebrados até 2100 será de cerca de 90% em montanhas na América Central e nos Andes (Lawler et al., 2009); no Brasil, a distribuição de alguns grupos de aves e de plantas será deslocada para o sul, onde existe uma menor cobertura de habitats naturais; o branqueamento de corais ocorrerá com cada vez maior frequência e intensidade na América Central e, em menor proporção, na costa brasileira (Magrin et al., 2014). OS DESAFIOS DA CONSERVAÇÃO NO BRASIL E O CASO DA MATA ATLÂNTICA O principal desaio para a conservação da biodiversidade no Brasil é o de se tornar peça central ao processo de desenvolvimento do país e não um componente marginal ou, como é muitas vezes visto, antagônico. O fato de o Brasil ser o país mais megadiverso do planeta, e ao mesmo tempo possuir uma economia forte, lhe confere uma oportunidade ímpar de se tornar um modelo de desenvolvimento sustentável para o mundo. Entretanto, o país parece hesitar em seguir esse caminho, ou no mínimo dá sinais contraditórios. Se por um lado o Brasil tem, proporcionalmente ao seu território, uma das mais extensas coberturas de áreas protegidas por unidades de conservação e terras indígenas, por outro assistiu nos últimos sete anos à perda de 44.100 km2 de áreas sob proteção, especialmente 486 para a realização de empreendimentos diversos. Se por um lado possui uma legislação e um sistema de incentivo para promover uma agricultura de baixo carbono, por outro segue sofrendo com altas taxas de desmatamento ilegal. Se por um lado avançou no conhecimento e recuperação de espécies e ecossistemas ameaçados, por outro ainda é tímido na expansão cientíica e tecnológica para fontes alternativas de energia. Essa hesitação é apontada por várias publicações recentes (Scarano et al., 2012; Bernard et al., 2014; Ferreira et al., 2014; Loyola, 2014) e contrasta com a clara liderança exercida pelo país até alguns anos atrás no processo das convenções das Nações Unidas que surgiram a partir do Rio 92 (e.g., Mittermeier et al., 2010). Ainda, harmonizar conservação da natureza e desenvolvimento socioeconômico demandaria uma visão integrada do sistema de proteção, para além do sistema de unidades de conservação. As áreas protegidas dentro de propriedades privadas e produtivas, garantidas pelo Código Florestal, e todo o território cuja proteção é promovida por mecanismos de incentivos como pagamentos de serviços ambientais (tal qual o Programa Bolsa Verde, como exemplo em escala nacional – ver MMA, 2013), deveriam receber um tratamento integrado ao do sistema nacional de unidades de conservação e terras indígenas. As unidades de conservação e terras indígenas guardam também um enorme potencial de turismo sustentável até hoje não realizado, além de não serem devidamente recompensadas pelos serviços ambientais que asseguram para cidades e para a economia do país (e.g., Medeiros et al., 2011). Além disso, há um marcado déicit de proteção em biomas não lorestais, em comparação a biomas lorestais como o amazônico (Fonseca et al., 2010; Veldman et al., 2015). Apesar desse aclamado déicit de proteção em biomas não lorestais no Brasil, a Mata Atlântica é o bioma que mais perdeu cobertura natural desde o descobrimento do país. Apenas 11,7% da cobertura original do bioma persistem, com diferentes graus de conservação (Ribeiro et al., 2009). Ainda mais grave é o fato de que a maior parte do que restou da Mata Atlântica está agrupada em pequenos fragmentos lorestais: 83,4% dos quais possuem 50 hectares ou menos (Ribeiro et al., 2011). Tais SCARANO & CEOTTO fragmentos são pequenos demais para permitir a viabilidade e a prosperidade de muitas espécies que por vezes demandam uma cobertura lorestal contínua mais extensa. Não surpreende, dessa forma, que mais de 60% da fauna brasileira oicialmente ameaçada de extinção seja própria da Mata Atlântica: nada menos do que 380 espécies (Paglia et al., 2008). Quase 9% de todos os vertebrados terrestres conhecidos do bioma - e, dentre os endêmicos, um em cada quatro - são ameaçados de extinção (Canale et al., 2012). No caso da lora, o padrão se repete: cerca de 60% das espécies ameaçadas são da Mata Atlântica, ou 1.544 espécies (Martinelli et al., 2013). Ainda assim, a Mata Atlântica abriga uma das maiores diversidades biológicas do planeta, tanto nos níveis de ecossistemas e espécies, quanto genético. Isso a torna um dos 35 hotspots de biodiversidade e uma das cinco lorestas mais ameaçadas do planeta (ver revisões em Joly et al., 2014 e Scarano, 2014b). Esse panorama de degradação está em parte associado a um histórico de ocupação que hoje resulta no fato que mais de 60% da população brasileira vive atualmente no domínio desse bioma, que abriga inclusive algumas das maiores cidades e metrópoles nacionais, como Rio de Janeiro e São Paulo. Além da concentração populacional, a Mata Atlântica é também o motor da economia do país: responde por 70% do Produto Interno Bruto (PIB) e 2/3 da economia industrial (Martinelli et al., 2013). O histórico de ocupação que culminou com a concentração de atividades produtivas e da população na Mata Atlântica encontrou pouca resistência no bioma. A rede de áreas protegidas públicas e privadas da Mata Atlântica tem sido insuiciente para minimizar a fragmentação do bioma e a diversidade de isionomias e paisagens existentes (restingas, lorestas secas, campos de altitude, etc.). Por exemplo, áreas públicas de proteção integral, que excluem atividade humana em seu interior, cobrem apenas 2% do território da Mata Atlântica e estão espalhadas pelos 17 estados brasileiros que compõem o seu domínio. Além de poucas, essas áreas são em geral de tamanho reduzido – têm, em média, em torno de 10 mil hectares. Já as áreas de proteção privada, as chamadas RPPN (Reservas Particulares do Patrimônio Natural), têm em média apenas 200 DESAFIOS PARA A CONSERVAÇÃO hectares (Pinto et al., 2012). Em parte como relexo desse acanhado sistema de proteção, em 2013 a taxa de deslorestamento voltou a subir, pelo segundo ano consecutivo, atingindo o maior nível desde 2008. Entre 2012 e 2013 foram perdidos 23.948 hectares, ou 239 quilômetros quadrados de remanescentes lorestais. Minas Gerais, Bahia, Piauí e Paraná foram os estados brasileiros que mais desmataram; juntos, responderam por cerca de 92% da perda de área no período (SOS Mata Atlântica/INPE ,2014). A ameaça que a degradação representa para o bom luxo de serviços ecossistêmicos e, consequentemente, ao bem estar humano na Mata Atlântica, já demanda mais do que proteção de áreas remanescentes. Tanto para o presente, como imaginando a necessidade de adaptação às mudanças climáticas em curso, a Mata Atlântica necessita hoje de um grande esforço de restauração ecológica. Com isso, foi lançado em 2009 o “Pacto pela Restauração da Mata Atlântica”, uma iniciativa que conta com a adesão de mais de 200 instituições, incluindo governos, empresas, universidades e sociedade civil (Calmon et al., 2009). O Pacto visa promover a cooperação entre instituições para restaurar o bioma em larga escala, além de, em paralelo, apoiar os esforços de conservação dos remanescentes (Pinto et al., 2012). Essa iniciativa tem por objetivo restaurar 15 milhões de hectares de Mata Atlântica até 2050. Alcançar essa meta levaria a garantir uma cobertura de 30% da Mata Atlântica em relação à original, o que praticamente dobra a área do bioma existente atualmente. Tratase de um objetivo muito ambicioso, mas é o que seria necessário para se cumprir a principal lei ambiental brasileira, o Código Florestal (Melo et al., 2013). Portanto, a meta do Pacto corresponde exatamente às áreas de proteção permanente e às reservas legais em propriedades privadas que são exigidas por lei, mas que se encontram sem cobertura vegetal (Pinto et al., 2014). Atualmente, cerca de 58 mil hectares (apenas 0,03% da meta) encontram-se em restauração sob a ação do Pacto, o que indica clara necessidade de essa importante ação ganhar escala. Os mais de 30 anos de experiência e ações em restauração lorestal na Mata Atlântica, somados à grande capacidade cientíica existente no Brasil, sugerem que a 487 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE tecnologia necessária já está disponível (Pinto et al., 2012; Scarano, 2014b). A efetiva implementação do Pacto demandará projetos que gerem benefícios legais, sociais, ambientais e econômicos para proprietários e outros atores. A possibilidade de geração de renda e negócios a partir, por exemplo, da produção e do plantio de mudas ou da coleta de sementes, por vezes demandará treinamento e capacitação de atores locais (Pinto et al., 2014). Dessa forma, os esforços de restauração podem simultaneamente recuperar o capital natural e reduzir a pobreza, aumentando a resiliência da sociedade às mudanças climáticas (Scarano & Ceotto, 2015). Tais ações aumentam o potencial de sequestro de carbono e promovem organização comunitária, geração de renda e melhoria de vida em áreas rurais (Chazdon, 2008), como já vem sendo demonstrado em alguns trechos de Mata Atlântica (Calmon et al., 2011; Rodrigues et al., 2011). UM DESAFIO PARA A CIÊNCIA Desaios locais ou nacionais, como no caso da Mata Atlântica, até problemas globais impostos à conservação da biodiversidade, demandam ação com base em ciência. Entretanto, a característica predominantemente disciplinar da ciência dos dias de hoje gera dúvidas sobre sua capacidade em fornecer a tempo os instrumentos e orientações necessárias para que melhores práticas e políticas públicas possam surgir. A natureza inter- e transdisciplinar do desaio do desenvolvimento sustentável impõe a necessidade de uma ciência capaz de integrar múltiplas disciplinas (Simon & Schiemer, 2015). Dessa maneira, existe hoje um acirrado debate acerca do presente e do futuro da ciência da conservação da biodiversidade. Existem pelo menos três visões, não mutuamente excludentes, que discutimos a seguir: a) a tradicional ciência da conservação (TCC); b) a nova ciência da conservação (NCC); e c) a ciência da sustentabilidade. O intenso debate na literatura atual diz respeito às diferenças de perspectiva (e até mesmo ideológicas) entre as duas primeiras, a TCC e a NCC. Para resumir essa longa discussão (ver Soule, 2013; Doak et al., 2014; Kareiva, 2014; Miller et al., 2014), 488 a TCC é acusada de ser centrada na natureza exclusivamente, enquanto a NCC é acusada de antropocêntrica e utilitarista. Doak et al. (2014) fazem um balanço das principais críticas que essas duas abordagens recebem. Para os ‘novos conservacionistas’, a conservação tradicional, a) pode implicar problemas sociais ou econômicos, ao enfatizar a proteção da biodiversidade sem atentar para o bemestar humano; b) se baseia no mito da natureza pristina, que de fato não existe; c) assume, muitas vezes de maneira equivocada, que a natureza é inerentemente frágil e incapaz de se recuperar de intervenções humanas e d) falhou em proteger a biodiversidade já que, apesar de 13% do território do planeta estar dentro de áreas protegidas, as taxas de extinção de espécies continuam alarmantes. Por outro lado, para os conservacionistas tradicionais, a) a base cientíica da ‘nova conservação’ é fraca; b) as prioridades da NCC são de fundo ético e não cientíico; c) motivações econômicas nem sempre são predominantes e d) não há evidência que a NCC possa corrigir as eventuais falhas da conservação tradicional. Controvérsias à parte, naturalmente que resta a impressão que as duas abordagens são importantes e até certo ponto complementares. Todavia, a característica essencialmente transdisciplinar dos desaios globais – clima, biodiversidade, alimentos, etc. – demanda um tratamento cientíico também transdisciplinar e que, no Brasil, ainda é um tanto raro. A chamada “ciência da sustentabilidade” se propõe a oferecer esse tratamento. O surgimento do controvertido conceito de desenvolvimento sustentável na década de 1980 foi seguido da construção de uma ciência para tratar do tema. Essa ciência tem uma agenda de pesquisa que simultaneamente requer rigor cientíico transdisciplinar (Lang et al., 2012) e foco em promover impactos sociais positivos e mensuráveis (Bettencourt & Kaur, 2011). O desaio central consiste em integrar perspectivas de sociedades desenvolvidas e em desenvolvimento, de disciplinas teóricas e aplicadas, de ciência e política (Ascher 2007; Aronson, 2011). Com sua pouca idade – apenas cerca de 30 anos – a chamada ciência da sustentabilidade já tem um forte arcabouço teórico e até revistas cientíicas importantes inteiramente SCARANO & CEOTTO ou parcialmente dedicadas ao tema (Clark 2007; Bettencourt & Kaur, 2011). Contudo, a quantidade de estudos empíricos ainda é baixa e, de certa forma, desequilibrada no peso da contribuição de diferentes disciplinas. Schoolman et al. (2012) demonstraram que, apesar da proposta interdisciplinar, a ciência da sustentabilidade ainda tem diiculdades em integrar seus três pilares: econômico, social e ambiental. Artigos centrados no pilar ambiental são os que menos acessam os outros pilares e disciplinas. Além disso, por enquanto o impacto da pesquisa em sustentabilidade sobre as transformações sociais ainda é menor que o desejável (Wiek et al., 2012) e apenas uma quantidade reduzida de programas de educação superior no mundo se dedicam integralmente ao tema (Wiek et al., 2011). UMA OPORTUNIDADE PARA O SETOR PRIVADO O desaio atual da ciência – de buscar a abordagem necessária para reduzir o grau de incerteza em torno da base socioeconômica e ambiental que oferece aos tomadores de decisão (ver Scarano & Martinelli, 2010) - encontra paralelo no desaio que atravessa o setor corporativo privado de incorporar práticas que sejam ao mesmo tempo benéicas aos negócios e à sustentabilidade ambiental. Assim como para a ciência, a demanda por uma abordagem mais interdisciplinar que integre homem e natureza gera novas oportunidades de avanços no conhecimento e na solução de problemas. No setor privado a incorporação de valores ligados a boas práticas ambientais gera também novas oportunidades de negócios e de redução de riscos. Sukhdev (2012) airmou que para a efetiva solução de crises, como a da biodiversidade e do clima, atores do mundo corporativo deveriam migrar de “exploradores de bens comuns em interesse próprio” a “guardiões éticos de recursos planetários compartilhados”. Entre esses dois extremos situa-se um gradiente de corporações, que irão pender mais para um lado ou outro do espectro dependendo do seu tamanho, do setor onde atuam, de suas histórias, dos seus valores e do tipo de negócio no qual estão envolvidas (Salzmann et al., 2005; Bhattacharya & Managi, 2012; Boiral & Heras-Saizarbitoria, 2015). Quer DESAFIOS PARA A CONSERVAÇÃO seja para garantir o acesso a recursos naturais críticos ao negócio, quer seja por uma preocupação com a imagem e a marca (Rashid et al., 2014; Saha & Darnton, 2005), ou para responder a demandas locais ou internacionais por produtos sustentáveis (Winn & Pogutz, 2013), um número cada vez maior de empresas investe em projetos e ações de manejo da biodiversidade e ecossistemas, incluindo práticas de conservação e restauração. Se por um determinado período se deu a proliferação de um discurso “ambientalmente amigável” associado a determinadas práticas (Lavallée & Plouffe, 2004), hoje em dia, objetivos especíicos e quantiicáveis são cada vez mais comuns. Por exemplo, após um tímido início no ano 2000, hoje, em 2015, o número de corporações associadas à United Nations Global Compact – uma iniciativa da ONU que agrega corporações que se comprometem a “operar responsavelmente com base em princípios de responsabilidade universalmente aceitos” (ver www.unglobalcompact.org) – já chega a 8000. O surgimento de objetivos especíicos e quantiicáveis no setor privado quanto à biodiversidade tem sido possível, em parte, porque a sustentabilidade corporativa já se tornou especialidade acadêmica (Whiteman et al., 2013). Isso tem tornado possível a deinição de métricas, métodos, monitoramento e avaliação, ainda que a agenda de conservação da biodiversidade e sustentabilidade junto ao setor privado siga sendo vista com ceticismo por alguns (e.g, Macdonald, 2010). Exemplos de esforços voltados para a mensuração da sustentabilidade da prática corporativa têm se multiplicado, inclusive no Brasil (Orsato et al., 2015), mas de um modo geral - e ciente dos avanços da última década – ainda há muito o que progredir nesse tema (Salzmann et al., 2005). No que diz respeito à biodiversidade nas práticas corporativas, dentre os tipos de compromissos mais comuns, dois se destacam: 1) objetivos de perda líquida zero ou impacto líquido positivo e 2) objetivos de conservação de áreas naturais. Os dois objetivos não são mutuamente excludentes e, em vários casos, objetivos ligados à conservação pontuam nas estimativas de impacto líquido. Um determinado projeto alcança perda líquida zero quando os seus impactos sobre a 489 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE biodiversidade são equilibrados ou compensados por medidas como conservação, reabilitação, restauração e/ou compensação de impactos residuais que evitam ou minimizam perdas. Quando os ganhos excedem as perdas, se utiliza o termo “impacto positivo líquido”. Nos casos onde compensação é necessária, tais abordagens são por vezes denominadas “mitigação compensatória” (BBOP, 2012; Rainey et al., 2015). No inglês, o termo biodiversity offsets é empregado quando as etapas prévias da chamada “hierarquia da mitigação” já tiverem sido cumpridas: evitar, minimizar e compensar. Quando evitar, minimizar e compensar não bastarem para neutralizar os efeitos negativos do projeto sobre a biodiversidade, então o “offset” deve ser o próximo passo. Assim, embora na língua portuguesa por vezes sejam tratados como sinônimos, compensação e offset são ligeiramente diferentes. Como explicam Gonçalves et al. (2015), para que uma ação compensatória se qualiique como “biodiversity offset”, ela deve demonstrar adicionalidade, isto é, uma diferença positiva entre o resultado de quando a ação compensatória é executada em comparação com o momento anterior à ação. Trata-se, portanto, de uma ação que assegura balanço positivo e não simplesmente uma neutralização ou compensação do impacto. Contudo, muitas vezes ainda é difícil considerar todas as dimensões da biodiversidade (estruturais, funcionais, culturais, etc.), quando da realização desses cálculos. Como parte ou não de ações de compensação ou offset, algumas corporações investem na conservação de ecossistemas naturais. A criação de reservas privadas tem sido cada vez mais difundida (Bateman et al., 2015; Kamal et al., 2015) e novos mecanismos inanceiros têm sido desenhados para incentivar ainda mais a promoção de tais iniciativas no futuro próximo (Meißner, 2013). A difusão dessa prática por diferentes atores do setor privado se dá em diferentes formatos e começa a demandar uma taxonomia própria (Kamal et al., 2015). Um dos campos de pesquisa que se apresenta particularmente promissor é o de investigar o impacto da ação do setor privado sobre os chamados “limites planetários”, ou seja, limites que se forem ultrapassados o planeta ingressará em 490 um estado menos propenso ao desenvolvimento humano (Rockström et al., 2009). Três exemplos de limites estariam relacionados às mudanças climáticas, ao ciclo global de nitrogênio e à taxa de perda da biodiversidade (Whiteman et al., 2013). Novamente, offsets e áreas de conservação privadas dialogam diretamente com esses três limites planetários. A incorporação aos negócios de valores e práticas ligados à biodiversidade e serviços ambientais decorre da óbvia interdependência entre os dois campos (Houdet et al., 2012). Nesse sentido, esforços de compensação e offset, deinição de estratégias e planos de sustentabilidade corporativos e até mesmo o investimento direto em conservação de áreas naturais, por vezes tomam por base estudos de valoração econômica da biodiversidade e serviços ambientais. Em escala global, o estudo “The Economics of Ecosystems and Biodiversity in Business and Enterprise” (TEEB – Bishop, 2012; Kumar et al., 2013) possui grande relevância, por chamar a atenção para a importância dos serviços ecossistêmicos para os negócios e para as potenciais perdas econômicas decorrentes da perda da biodiversidade e da degradação desses serviços. O Brasil foi o primeiro país a realizar tal estudo em escala nacional (Pavese et al., 2012). Entretanto, como muitas vezes é o caso em novas disciplinas cientíicas, os métodos de valoração econômica de serviços ambientais também são alvo de ceticismo e crítica (Ring et al., 2010; Spangenberg & Settele, 2010). Para que a reconciliação entre conservação da natureza e desenvolvimento passe a direcionar as escolhas de investimentos e as políticas do país, os impactos de qualquer atividade produtiva deverão ser ponderados e contabilizados no processo de decisão, seja do investimento, da implantação ou da gestão. De fato, a natureza tem sido habitualmente desconsiderada nas escolhas econômicas e essa é a principal razão de fundo para a degradação dos serviços ecossistêmicos e a perda da biodiversidade. O risco de não se considerar as consequências associadas à perda da biodiversidade, com frequência será alto demais para o próprio negócio (Spangenberg, 2007). SCARANO & CEOTTO CONSIDERAÇÕES FINAIS: O PAPEL DA RESERVA NATURAL VALE A Vale possui uma política de sustentabilidade e gera relatórios anuais que são de acesso público (ver http:// www.vale.com/PT/aboutvale/sustainability/Paginas/ default.aspx). Várias das práticas e preocupações descritas acima compõem a rotina da empresa e também de algumas outras empresas do setor de mineração (ver Barkemeyer et al., 2015). Todavia,um importante destaque para a empresa nesse campo diz respeito à Reserva Natural Vale, que cumpre um importante papel no cenário da conservação e da ciência da biodiversidade, e em especial da Mata Atlântica, no Brasil. Seus cerca de 23 mil hectares protegem um trecho peculiar de Mata Atlântica, no Espírito Santo, que abriga uma grande diversidade de espécies e também uma notável diversidade de itoisionomias, que vão de lorestas a formações abertas (Peixoto et al., 2008). Por exemplo, em vários dos capítulos deste livro é relatada a alta diversidade de plantas (cerca de 2.000 angiospermas), de aranhas (cerca de 300 espécies), aves (391 espécies), borboletas (512 espécies), entre outros. Que uma empresa de mineração e energia proteja uma área tão importante, já é em si notável pelo fato de aparentemente essa ação não ser, à primeira vista, central ao negócio da empresa. Porém, mais que isso, a Vale abriga nas instalações da reserva excelente infraestrutura de pesquisa que inclui herbário, laboratório de sementes, acomodação para visitantes e, portanto, incentiva e promove nos seus domínios ações voltadas para a ciência e o ensino. Foi nessa Reserva, portanto, que muitos dos autores que contribuíram com capítulos para esse livro produziram signiicativos avanços à ciência da conservação, ecologia e também ao campo da restauração ecológica. Além disso, a Reserva possui um dos maiores viveiros de mudas de espécies de Mata Atlântica, com capacidade anual de produção de cerca de 3 milhões de mudas de mais de 800 espécies (Vale, 2010). O conhecimento desenvolvido na Reserva Natural Vale sobre restauração ecológica, tanto cientíico como prático, terá valor estratégico para o Brasil no momento em que o país lança seu Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (PLANAVEG; http://www.mma.gov.br/images/arquivo/80049/ Planaveg/PLANAVEG_20-11-14.pdf). Por tudo isso, mais do que seu importante papel DESAFIOS PARA A CONSERVAÇÃO na conservação e restauração de um importante trecho de Mata Atlântica, a Reserva Natural Vale cumpre um papel a nosso ver ainda mais importante: a reserva é um exemplo vivo de como o mundo corporativo pode atuar na criação de uma aliança entre negócios e zelo com a natureza. Resta imaginar um futuro no qual outras corporações, no Brasil ou fora, enxerguem a importância da natureza conservada para a sustentabilidade do planeta e dos seus próprios negócios, e possam vir a ter áreas tão bem protegidas e manejadas como a Reserva Natural Vale. Esse exemplo de conciliação entre conservação da natureza, ciência e desenvolvimento socioeconômico precisa ser cada vez mais conhecido e replicado. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Abson, D.J. & Termansen, M. 2011. Valuing ecosystem services in terms of ecological risks and returns. Conservation Biology 25(2): 250-258. Adams, W.M.; Aveling, R.; Brockington, D.; Dickson, B.; Elliott, J.; Hutton, J.; Roe, D.; Vira, B. & Wolmer, W. 2004. Biodiversity conservation and the eradication of poverty. Science 306: 1146-1149. Aronson, J. 2011. Sustainability science demands that we deine our terms across diverse disciplines. Landscape Ecology 26: 457-460. Ascher, W. 2007. 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Organizational Environment 26: 203-229. 495 FLORESTA ATLÂNTICA DE TABULEIRO: DIVERSIDADE E ENDEMISMOS NA RESERVA NATURAL VALE 496 pelas suas equipes de proissionais, competentes e zelosos, sempre hospitaleiros e colaborativos com O Papel da RNV na coleta de dados de espécies nativas que pudessem gerar conhecimento cientíico sobre manejo lorestal, monitorados periodicamente e por longo prazo se iniciou desde cedo nas terras de conhecimento gerado sobre as lorestas de tabuleiros, especialmente no que tange à conservação da daquela paisagem com suas enormes árvores emergentes foi marcante e deinitivamente dei minha conhecidas em termos lorísticos. encontra a maior diversidade desses mamíferos em toda a Mata Atlântica, o que por si só justiica a sua Além de constituir um dos últimos redutos da espetacular diversidade da lora do norte do Espírito Apoio: