Rodriguésia 62(3): 547-561. 2011
http://rodriguesia.jbrj.gov.br
Estudos taxonômicos do gênero Calea (Asteraceae,
Neurolaeneae) no estado da Bahia, Brasil
Taxonomic studies of the genus Calea (Asteraceae, Neurolaeneae) in Bahia state, Brazil
Nádia Roque1,3 & Vitor Cavalcanti Carvalho2
Resumo
Asteraceae é a maior família das angiospermas com ca. 24.000 espécies e 1600-1700 gêneros com distribuição
cosmopolita. Calea L. contém aproximadamente 125 espécies que ocorrem em regiões tropicais e subtropicais
do Novo Mundo, sendo que o maior número de espécies é registrado para o Brasil. O gênero é facilmente
confundido com espécies de Aspilia e Wedelia. No entanto, Calea possui flores do raio pistiladas e pápus de
páleas livres, enquanto em Aspilia as flores do raio são neutras e o pápus geralmente é aristado e Wedelia, por
sua vez, possui flores do raio pistiladas e pápus coroniforme. O presente trabalho consiste no levantamento e
estudo taxonômico das espécies de Calea no estado da Bahia. Para esse estudo, foram realizadas viagens de
campo, além da análise de materiais depositados em herbários. No estudo realizado foram encontradas 10
espécies de Calea para o estado: C. angusta S.F. Blake, C. candolleana (Gardner) Baker, C. gardneriana
Baker, C. harleyi H. Rob., C. microphylla (Gardner) Baker, C. morii H. Rob., C. pilosa Baker, C. pinheiroi
H. Rob., C. purpurea G.M. Barroso e C. villosa Baker. As espécies diferenciam-se basicamente pelo arranjo
da sinflorescência (número de capítulos e tamanho do pedúnculo), tipo de capítulo (radiado × discóide),
receptáculo (paleáceo × epaleáceo), número de flores e tamanho das páleas do pápus. Dentre as espécies, C.
angusta é restrita à vegetação arbustiva sobre dunas litorâneas (Bahia e Sergipe), C. candolleana é a espécie
de maior distribuição geográfica no estado (BA, TO, GO, MG e PE), C. morii e C. pilosa são registradas apenas
para o estado da Bahia. As demais espécies dividem sua distribuição entre os estados da Bahia, Distrito
Federal, Goiás e Minas Gerais: C. gardneriana e C. purpurea (BA, GO), C. microphylla (BA, DF, GO), C. harleyi
e C. pinheiroi (BA e MG) e C. villosa (BA, GO, MG). Os resultados são apresentados por meio de chave de identificação,
descrições, distribuição geográfica, comentários e ilustrações inéditas das espécies.
Palavras-chave: Compositae, Aliança Heliantheae, taxonomia.
Abstract
Asteraceae is the largest family of angiosperms with ca. 24.000 species and 1600-1700 genera widely
distributed. Calea L. is represented in the tropical and subtropical regions by ca. 125 species. This genus is
very similar to Aspilia and Wedelia, however the former presents ligulate pistilate flowers and pappus
composed of free pales. The aim of this paper is to present a taxonomic survey of Calea in the state of Bahia.
The analyzed specimens included material collected in the field, as well as herbarium material. The following
10 species are known to occur in Bahia: C. angusta S.F. Blake, C. candolleana (Gardner) Baker, C. gardneriana
Baker, C. harleyi H. Rob., C. microphylla (Gardner) Baker, C. morii H. Rob., C. pilosa Baker, C. pinheiroi H.
Rob., C. purpurea G.M. Barroso e C. villosa Baker. The species are basically distinct by the sinflorescence
arrangement (heads number and peduncle size), head radiate or discoid, receptacle (paleaceous × epaleaceous),
flower numbers and pappus size. Within the genus, C. angusta is restricted to shrubby vegetation on dunes
(Bahia and Sergipe States), C. candolleana has the widest geographical distribution (BA, TO, GO, MG and
PE), C. pilose and C. morii are known only from Bahia. The other species occur in the Bahia, Distrito Federal,
Goiás and Minas Gerais states: C. gardneriana and C. purpurea (BA, GO), C. microphylla (BA, DF and GO), C.
harleyi and C. pinheiroi (BA e MG) and C. villosa (BA, GO, MG). Keys, descriptions, geographic distribution,
comments and illustrations are provided.
Key words: Compositae, Heliantheae Alliance, taxonomy.
1
Universidade Federal da Bahia, Instituto de Biologia, Depto. Botânica, Campus Universitário de Ondina s.n., 41290-170, Salvador, BA, Brasil.
Universidade Estadual de Feira de Santana, Depto. Ciências Biológicas, BR 116 km 03, Campus Universitário, 44031-460, Feira de Santana, BA, Brasil.
3
Autor para correspondência: nadiaroque@gmail.com
2
Roque, N. & Carvalho, V.C.
548
Introdução
Asteraceae é a maior família de angiospermas
com ca. 24.000 espécies e 1.600–1.700 gêneros de
distribuição cosmopolita (Funk et al. 2009). Recentes
estudos moleculares têm resultado em novos arranjos
sistemáticos na família e, segundo Panero & Funk
(2008), podem ser reconhecidos em Asteraceae 12
subfamílias e 43 tribos, um número muito superior aos
tradicionalmente aceitos (Bremer 1994). A família é
caracterizada pela inflorescência em capítulo, anteras
sinânteras e cipsela geralmente com um pápus (Roque
& Bautista 2008).
A Aliança Heliantheae sensu Panero (2007a) é
composta por 13 tribos e ca. 5.500 espécies ou 20–
25% das espécies de Asteraceae reconhecidas
(Baldwin 2009). Destas, a tribo Neurolaeneae contém
cinco gêneros e ca. 150 espécies com a maioria
representada nas áreas tropicais do México e América
do Sul (Panero 2007b). O gênero Calea L. é o maior da
tribo, com aproximadamente 125 espécies, sendo que
um grande número é registrado para o nordeste da
América do Sul e Brasil (Wussow et al. 1985; Pruski &
Urbatsch 1988).
Calea é facilmente confundida com espécies
dos gêneros Aspilia Thours e Wedelia Jacq. No
entanto, Aspilia possui flores do raio neutras,
constrição no ápice das cipselas e pápus geralmente
aristado; Wedelia, por sua vez, possui flores do raio
pistiladas e pápus coroniforme, enquanto que em
Calea as flores do raio, quando presentes, são
pistiladas e o pápus é composto de páleas livres, um
caráter diagnóstico para o gênero.
Segundo os estudos realizados por Baker (1884),
Pruski & Urbatsch (1988) e Pruski & Hind (1998), Calea
está representada no Brasil por ca. 85 espécies,
distribuídas nos estados do Distrito Federal, Bahia,
Minas Gerais, Goiás, Rio de Janeiro, São Paulo e
Paraná. Contudo, Mondin & Bringel (2010), na
listagem das espécies de Calea para a Flora do Brasil,
reconheceram para o gênero apenas 53 espécies
amplamente distribuídas pelo Brasil.
Pelo exposto, observa-se uma grande
divergência entre os resultados obtidos por meio dos
estudos taxonômicos em Calea ao longo dos anos e
a listagem de espécies para o Brasil recentemente
publicada (Mondin & Bringel 2010). Embora com focos
distintos, esses trabalhos fornecem dados
fundamentais para os estudos revisivos, cujo principal
enfoque será reconhecer, reavaliar e validar todos os
nomes até então aceitos e propostos para o gênero.
Sendo assim, o presente trabalho tem como
objetivo o estudo taxonômico das espécies de Calea
L. no estado da Bahia, que inclui o levantamento
florístico, identificação, descrição, tratamento
taxonômico, ilustrações inéditas e comentários
sobre as espécies, além da apresentação de chave
para a identificação específica.
Material e Métodos
O levantamento, identificação e descrição das
espécies de Calea para o estado da Bahia foram
baseadas a partir de materiais coletados por meio
de expedições botânicas cujos espécimes foram
depositados principalmente no herbário ALCB,
além da análise de exsicatas provenientes dos
herbários ALCB, CEPEC/CEPLAC, EAC, ICN, HRB,
HUEFS, SPF e US. Duplicatas dos herbários MBM,
RB e UB foram analisadas no herbário US. As siglas
e respectivas instituições encontram-se listadas
conforme Holmgren et al. (1990).
A descrição de Calea é uma compilação de toda
a variação encontrada nas espécies do gênero e literatura
específica. Para a identificação dos táxons foram
consultados protólogos, floras locais e regionais e,
quando possível, os espécimes-tipo (identificado pelo
sinal de exclamação quando analisado). As medidas
vegetativas foram obtidas com auxilio de régua
milimetrada e as estruturas florais foram medidas
utilizando-se papel milimetrado em estereomicroscópio.
As medidas de largura e diâmetro foram feitas na parte
mais larga da estrutura analisada. Os espécimes foram
analisados e as estruturas ilustradas sob com câmada
clara acoplada ao estereomicroscópio Olympus SZH10.
A morfologia das estruturas reprodutivas e vegetativas
foi caracterizada com base em Radford et al. (1974) e
Roque et al. (2009).
Nas descrições da lâmina foliar, os termos “ápice”,
“margem” e “base” foram suprimidos levando em
consideração a sequência padronizada dos mesmos. O
caráter - venação trinérvia ou uninérvia, comumente
aplicado por Baker (1884), não foi utilizado como
marcador taxonômico entre as espécies estudadas
devido à sua subjetividade. Em ramos de uma mesma
exsicata, observam-se folhas aparentemente trinervadas
e folhas cuja nervação é duvidosa.
Os materiais examinados, adicionais e/ou
selecionados seguem a ordem alfabética do município
e ordem cronológica das coletas. Para as espécies
C. angusta, C. candolleana e C. harleyi foram
selecionados os materiais mais representativos em
termos de variabiliade morfológica e abrangência
geográfica. Optou-se por incluir materiais adicionais
de outros estados para subsidiar o reconhecimento
e identificações futuras.
Rodriguésia 62(3): 547-561. 2011
O gênero Calea (Asteraceae) na Bahia
549
Resultados e Discussão
trilobado, patente, amarelas, raramente alvas; flores
do disco tubulosas, monoclinas, amarelas, raramente
alvas ou púrpuras; anteras com apêndice do conectivo
agudo, base curtamente sagitada, amarelas; ramos de
estilete truncado, ápice penicelado. Cipsela cilíndrica,
geralmente enegrescida pela presença de fitomelanina,
4–5 costelas, serícea, pubescente, glabra ou
glabrescente, carpopódio curvado (assimétrico) e/ou
decorrente, estipitado; pápus de páleas livres,
raramente fundidas na base, subiguais a desiguais,
margem e ápice erosas.
Segundo o levantamento realizado para o
estado da Bahia, o gênero Calea conta com 10
espécies que habitam preferencialmente áreas
abertas, em ambientes de caatinga, campos rupestres,
cerrado, restinga ou carrasco.
Calea L., Sp. Pl. 2: 1179. 1763. Tipo: Calea
jamaicensis (L.) L.
Ervas, subarbustos, arbustos, ou raramente
árvores ou lianas; algumas vezes com xilopódio e raízes
tuberosas. Folhas simples, opostas, raramente alternas,
verticiladas ou em roseta, subsésseis, sésseis ou
pecioladas. Capítulos radiados, heterogámos ou
discóides, homógamos, solitários ou em
sinflorescência terminal ou axilar, paniculado-tirsóide,
umbeliforme ou corimbiforme; brácteas involucrais
imbricadas 2–8 séries, estriadas, subiguais ou as mais
externas menores; receptáculo plano ou cônico,
paleáceo ou raramente epaleáceo. Flores do raio,
quando presentes, pistiladas, limbo inteiro ou
Chave de identificação para as espécies de Calea no estado da Bahia
1.
Capítulos homógamos, discóides; flores até 10 por capítulo.
2. Folhas 2,5–5,5 cm larg.; capítulo séssil; receptáculo paleáceo (páleas 1cm compr.); páleas do pápus
lanceoladas, 2–3 mm compr. ........................................................................................... 6. C. morii
2’. Folhas 0,6–2 cm larg.; capítulo pedunculado; receptáculo epaleáceo; páleas do pápus escamiformes,
até 0,5 mm compr.
3. Capítulo com 3 flores, brácteas involucrais e flores atropurpúreas; páleas do pápus
inconspícuas (ca. 0,1 mm compr.) ..................................................................... 9. C. purpurea
3’. Capítulo com 8–10 flores, brácteas involucrias verdes e flores amarelas; páleas do pápus ca.
0,5 mm compr., ovadas.
4. Lâmina foliar elíptica, serreada, atenuada; sinflorescência umbeliforme, três capítulos;
carpopódio inconspícuo ............................................................................. 4. C. harleyi
4’. Lâmina foliar ovada, crenada, truncada; sinflorecência corimbiforme, mais de três capítulos;
carpopódio decorrente nas costelas ........................................................ 8. C. pinheiroi
1’. Capítulos heterógamos, radiados; flores 15–55 por capítulo.
5. Capítulos com 1–2 brácteas folhosas na base, sésseis ou curtamente pedunculados (até 3 cm
compr.); páleas do receptáculo conduplicadas, persistentes.
6. Lâmina foliar elíptica, glabrescente na face adaxial; flores ca. 15; pápus 0,2 mm compr. ........
.................................................................................................................... 5. C. microphylla
6’. Lâmina foliar ovada, velutina; flores ca. 30; pápus 0,5 mm compr. ..................... 10. C. villosa
5’. Capítulos sem brácteas folhosas na base, pedúnculo 4–23 cm compr.; páleas do receptáculo, quando
presentes, planas, caducas.
7. Capítulos com páleas ausentes ou caducas, lineares; cipsela estrigosa, pápus (0,8)1–
1,5(2,0) mm larg.
8. Ramos pubescentes; lâmina foliar escabrosa a pubescente; pápus 0,8–1 mm compr.
9. Lâmina foliar 1,5–3(4) cm compr., oblonga a triangular, face adaxial escabrosa;
receptáculo paleáceo, páleas ca. 3mm compr., caducas ............. 2. C. candolleana
9’. Lâmina foliar 4–8 cm compr., elíptica, face adaxial pubescente; receptáculo epaleáceo
.............................................................................................................. 7. C. pilosa
8’. Ramos glabros; lâmina foliar glabra a glabrescente; pápus 1,2–1,5(2,0) mm compr. .......
................................................................................................................... 1. C. angusta
7’. Capítulos com páleas persistentes, lanceoladas; cipsela glabra e pápus até 0,2 mm compr ......
................................................................................................................... 3. C. gardneriana
Rodriguésia 62(3): 547-561. 2011
550
1. Calea angusta S. F. Blake, Contr. U.S. Natl. Herb.
26: 258. 1930. Galinsoga angustifolia Spreng., Neu
Entd. 2: 138. 1821. Tipo: BRASIL. BAHIA, Sellow 1001
(Tipo: P; Foto do tipo: US!).
Fig. 1a-f
Ageratum angustifolium Spreng., Syst. Veg. 3: 446.
1826. Tipo: BRASIL. BAHIA: Sellow 590 (Tipo: P;
Foto do Tipo: US!).
= Calea angustifolia Sch. Bip. ex Baker. Fl. bras. 6:
256. 1884, nom. illeg. (non Meyeria angustifolia
Gardner, Lond. Journ. Bot. 7: 417. 1848.).
Subarbustos ou arbustos, 0,3–2 m alt.; ramos
decumbentes, glabros. Folhas opostas, discolores,
cartáceas, aromáticas, lâmina foliar 3–6 (10) × 0,2–1,0
(2,5) cm, estreito-elíptica a elíptica, aguda a obtusa,
mucronulada, inteira a serrulada, levemente revoluta,
decorrente, glabras ou glabrescentes, sésseis a
subsésseis, pecíolo até 0,5 cm compr. Sinflorescência
terminal, cimosa, corimbiforme; capítulos laxos,
pedúnculo 8–23 cm compr. Capítulo radiado,
heterógamo; invólucro campanulado, 1–1,5 × 1 cm;
brácteas involucrais 3–4 séries, verdes, margem hialina,
glabras, as mais externas 7–9 × 2–3 mm, ovadas,
arredondadas, as mais internas 0,9–1,1 × 0,3–0,4 cm,
lanceoladas, obtusas; receptáculo cônico, paleáceo,
páleas ca. 3 mm × 0,2mm, lineares, planas, caducas.
Flores 45–52, flores do raio 10, 1,3–1,5 cm compr.,
corola 8–10 mm compr. (tubo da corola 2 mm compr.);
flores do disco 8 mm compr., corola ca. 4 mm compr.
(tubo 1 mm compr.), amarela, anteras ca. 2mm compr.,
estilete dilatado na base, ca. 4mm compr. Cipsela 4–
costada, 2,5–3 mm compr., estrigosa, levemente
estipitada, carpopódio assimétrico, decorrente nas
costelas; páleas do pápus 13–15, livres, subiguais,
1,2–1,5 (2,0) mm compr., elípticas.
Material selecionado: Alagoinhas, Catu, 12º09’29” S
38º22’61"W, 7.X.2002, N.G. Jesus et al. 1493 (ALCB,
HRB, HUEFS). Cairu, 14.IX.1993, L.M. Guedes et al. 100
(ALCB). Camaçari, 1.VII.1997, M.L. Guedes et al. 4832
(ALCB). Conde, 29.VIII.2002, N.G. Jesus et al. 1447 (HRB).
Entre Rios, 15.IV.2004, T. Ribeiro et al. 473 (ALCB,
HUEFS). Esplanada, 3.II.2002, J.R. Pirani et al. 4960
(ALCB, SPF). Itanagra, 20.IX.2008, A.R. Prates 106
(ALCB). Jandaíra, 19.VIII.1995, G. Hatschbach et al. 63157
(CEPEC, HRB, SPF, US). Lamarão do Passé, 10.VII.1994,
M.L. Guedes et al. 3335 (ALCB). Mata de São João,
18.VIII.1995, G. Hatschbach et al. 63093 (HUEFS, SPF,
US). Imbassaí, 18.VI.2003, G. Hatchbach et al. 75459 (US).
Salvador, 12.XII.2005, E.P. Queiroz et al. 1289 (HRB).
Material adicional examinado: SERGIPE: Rod. BR-101
no trecho Estância/Aracajú, Praia de Abais, 8.X.1983, J.G.
Jardim et al. 329 (ALCB, CEPEC).
Calea angusta é um nome novo proposto por
Blake (1930) para a espécie Galinsoga angustifolia
Spreng., uma vez que Calea angustifolia Sch.Bip. ex
Roque, N. & Carvalho, V.C.
Baker, que atualmente é um sinônimo de Calea
multiplinervia Less., é homônimo posterior de
Meyeria angustifolia Gardner.
Hind & Miranda (2008) citaram Calea angusta
para o Nordeste como restrita ao estado da Bahia,
ocorrendo em ambientes de restinga e campos
rupestres. Contudo, a partir da análise dos espécimes
em herbários, observou-se que os limites taxonômicos
entre Calea angusta, Calea candolleana e Calea
pilosa eram frequentemente confundidos, gerando
erros de identificação na grande parte das coleções
observadas (ver outros comentários em C.
candolleana e C. pilosa).
Sendo assim, esse trabalho reconhece Calea
angusta como uma espécie restrita a ambientes de
restinga e dunas no litoral da Bahia e Sergipe. A
espécie pode ser reconhecida pelos ramos gabros e
folhas glabras a glabrescentes, lâmina estreito-elíptica
a elíptica, aromáticas e pela presença do maior pápus
(páleas 1,2–1,5 (2,0) mm compr.) entre as espécies de
Calea da Bahia (Fig. 1a-f). O material coletado no
Município Mata de São João (G. Hatschbach et al.
63093), em região de restinga arbórea, apresentou as
folhas excepcionalmente largas (ca. 3 cm larg.).
2. Calea candolleana (Gardner) Baker. Fl. bras. 6(3):
256. 1884. Meyeria candolleana Gardner. London J.
Bot. 7: 414. 1848. Síntipos: BRASIL. PERNAMBUCO
(?): Serra de Batalha, 1841, G. Gardner 2903 (Síntipo:
K; Foto do tipo: HUEFS! US!) e GOIÁS, “in similar
situations near San Domingos”, V.1840, G. Gardner
4242 (tipo: K, US!).
Fig. 1g-k
Arbusto ereto a decumbente até 2 m alt., muito
ramificado; ramos pubescentes. Folhas opostas,
discolores, cartáceas, lâmina foliar 1,5–3(4) × 1–1,5(2)
cm, oblonga ou triangular, obtusa a aguda, serreada,
revoluta, decorrente, face adaxial escabrosa, face
abaxial híspida a pubescente com tricomas glandulares
capitados, sésseis a subsésseis, pecíolo até 4mm
compr. Sinflorescência terminal, cimosa, corimbiforme;
capítulos laxos, pedúnculo 4–16 cm compr. Capítulo
radiado, heterógamo; invólucro campanulado, 1,0–
1,5 × 1,0 cm; brácteas involucrais 3–4 séries, verdes,
margem hialina, glabras, as mais externas 0,5–1,0 ×
0,3–0,8 cm, ovadas, arredondadas, as mais internas
0,6–1 × 0,4 cm, elípticas, obtusas; receptáculo cônico,
paleáceo, páleas 4–10 × 0,2 mm, lineares, planas,
caducas. Flores ca. 55, as do raio 10, 1–1,5 cm compr.,
corola 1,1 mm compr. (tubo 1,5–2 mm compr.); flores
do disco 7–8 mm compr., corola 3,5–4 mm compr.
(tubo 0,8–1 mm compr.), amarela, anteras ca. 2 mm
compr., estilete dilatado na base, ca. 3,5 mm compr.
Rodriguésia 62(3): 547-561. 2011
O gênero Calea (Asteraceae) na Bahia
3 mm
b
2 mm
3 mm
551
2 mm
c
d
1 mm
f
1 mm
2 mm
2 cm
e
i
h
1 mm
a
2 cm
2 mm
j
g
k
Figura 1 – a-f. Calea angusta S.F. Blake – a. ramo florido; b. capítulo radiado; c. receptáculo cônico; d. flor do raio; e. flor
do disco em corte longitudinal evidenciando os estames e estilete; f. cipsela (Guedes et al. 4832). g-k. Calea candolleana
(Gardner) Baker – g. ramo florido; h. flor do raio; i. flor do disco; j. estilete; k. pápus de páleas (Harley et al. 25717).
Figure 1 – a-f. Calea angusta S.F. Blake – a. flowering shoot; b. radiate head; c. conic receptacle; d. ray floret e. disc floret showing
the stamen and style; f. cypselae (Guedes et al. 4832). g-k. Calea candolleana (Gardner) Baker – g. flowering shoot; h. ray floret; i. disc
flower; j. style; k. pappus of pales (Harley et al. 25717).
Rodriguésia 62(3): 547-561. 2011
552
Cipsela 4–costada, 2,5–3 mm compr., estrigosa,
carpopódio assimétrico, decorrente nas costelas;
páleas do pápus 12–13, livres, subiguais, ca. 1 mm
compr., elípticas.
Material selecionado: Abaíra, 19.XII.1991, R.M. Harley
& V.C. Souza H 50103 (HUEFS, SPF, US). Andaraí, 12º15S,
41º18W, 24.XI.2001, E.C. Oliveira & V.C. Carvalho 4
(HUEFS). Barra da Estiva, 16.II.1997, B. Stannard et al.
PCD 5749 (ALCB, CEPEC, HRB, HUEFS). Caetité,
28.IV.2008, M.L. Guedes et al. 14.276 (ALCB). Castro Alves,
18.V.1999, V.C. Souza et al. 22627 (HUEFS, SPF). Delfino,
5.III.1974, R.M. Harley 16791 (CEPEC). Ibicoara, 13.X.2007,
M.L. Guedes et al. 13831 (ALCB). Ituaçu, 13º48’S 41º17’W,
19.VII.1981, A.M. Giulietti et al. CFCR 1222 (ALCB, US).
Jacobina, 11º12’24”S, 40º28’55”W, 7.IV.2001, N.G. Jesus et
al. 1303 (CEPEC, HRB, HUEFS). Lençóis, 31.VIII.1994, R.
Orlandi et al. PCD 651 (ALCB, CEPEC, US). Morro do
Chapéu, 11º40’22”S 41º00’39”W, 9.XII.2006, M.L. Guedes
et al. 12971 (ALCB, HRB). Mucugê, 12º59’18”S,
41º20’27”W, 13.III.2004, N. Roque et al. 1092 (ALCB, HRB).
Palmeiras, 28.VIII.2008, P.D. Carvalho & S.C. Ferreira 416
(HUEFS). Paraguaçu, 13º9’S, 41º7’W, 13.IV.2001, L.J. Alves
et al. 65 (ALCB). Piatã, 25.III.2005, M.L. Guedes et al. 11.888
(ALCB, CEPEC). Pindobaçu, 10º41’35" S 40º22’45” W,
10.IV.2001, T. Ribeiro et al. 219 (ALCB, HRB, HUEFS).
Rio de Contas, 28.X.1988, R.M. Harley et al. 25717 (CEPEC,
HUEFS, SPF, US). Santa Terezinha, 16.V.1984, L.R. Noblick
et al. 3236 (CEPEC, HUEFS, US). Sento Sé, 2.IV.2002, E.R.
Souza et al. 142 (ALCB, HUEFS). Umburanas, 10º22’S,
41º19’W, 10.IV.1999, L.P. de Queiroz et al. 5220 (HUEFS).
Utinga, 12º3’10”S, 41º7’33”W, 10.IX.1999, R.P. Oliveira et
al. 204 (HUEFS).
Material adicional examinado: MINAS GERAIS. Várzea
da Palma, 12.III.1995, G. Hatchsbach et al. 61781 (US).
Calea candolleana ocorre preferencialmente
em áreas de campos rupestres, cerrado, borda de
mata ciliar e beira de estrada. A espécie apresenta
ampla distribuição geográfica, com registro para os
estados de Tocantins, Goiás, Minas Gerais, Bahia
e Pernambuco (Mondin & Bringel 2010). Por outro
lado, Hind & Miranda (2008) citam C. candolleana
com distribuição no Nordeste restrita ao estado da
Bahia. A citação de Calea candolleana para
Pernambuco se dá através da etiqueta do materialtipo e que, semelhante a C. mycrophylla, pode estar
equivocada. Estudos sobre o percurso realizado por
Gardner no Brasil podem elucidar com exatidão as
localidades-tipo de várias espécies por ele descritas.
Calea candolleana pode ser confundida com
C. angusta e C. pilosa, mas diferencia-se da primeira
pelo tipo de hábitat (campos rupestres e cerrado vs.
restinga), enquanto C. angusta apresenta ramos
glabros (vs. pubescentes), lâmina estreito-elíptica a
elíptica (vs. oblonga a triangular), glabras a
glabrescentes (vs. híspida a pubescente) e pápus
Roque, N. & Carvalho, V.C.
maior. Calea candolleana diferencia-se de C. pilosa
pela formato da lâmina (oblonga vs. elíptica), tipo de
indumento (face adaxial escabrosa vs. pubescente)
e presença de páleas no receptáculo (vs. epaleáceo)
(Fig. 1g-k).
Os espécimes de C. candolleana coletados
nos Municípios de Morro do Chapéu e Jacobina,
Bahia, são particularmente característicos pelas
folhas triangulares, menores (1,5–3,5 × 0,4–0,7),
fortemente revolutas e sésseis. Devido à ampla
variação foliar encontrada ao longo dos espécimes
estudados, optou-se, então, pela ampliação dos
limites específicos.
A partir da análise dos protólogos e dos
materiais-tipo das espécies de Calea citadas para a
Bahia, observou-se que Calea bahiensis (Mattf.) H.
Rob. e C. angusta são reconhecidas pelos mesmos
caracteres diagnósticos, o que sugere que a primeira
seja sinonimizada em futuro trabalho revisivo no gênero.
3. Calea gardneriana Baker, Fl. bras. 6 (3): 255.
1884. Meyeria angustifolia Gardner, London J. Bot.
7: 414. 1848 (nom. illeg.) Tipo: BRASIL. GOIÁS,
Serra da Natividade, IV.1840, G. Gardner 3282
(Holótipo: K; Foto: US!).
Fig. 2a-d
Arbustos até 1,5 m alt.; ramos glabrescentes.
Folhas opostas, discolores, cartáceas, lâmina foliar
4–8 × 0,2–0,5 cm, linear, aguda, inteira, atenuada,
estrigosas, sésseis. Sinflorescência terminal, cimosa,
corimbiforme; capítulos laxos, pedúnculo 4–11 cm
compr. Capítulo radiado, heterógamo; invólucro
campanulado, 1–1,5 × 1–1,3 cm; brácteas involucrais
3–4 séries, verdes, margem hialina, glabras, as mais
externas 2–3 × 1–2 mm, ovadas, arredondadas, as
mais internas 3–10 × 2–4 mm, elípticas, obtusas;
receptáculo cônico, paleáceo, páleas 7–8 × 1 mm,
lanceoladas, aristadas, planas, persistentes. Flores
ca. 40, flores do raio ca. 10, 1,5–1,9 cm compr., corola
1,0–1,3 cm compr. (tubo 2 mm compr.), flores do disco
1,0 cm compr., corola ca. 5 mm compr. (tubo 1 mm
compr.), amarela, anteras ca. 3mm compr., estilete
dilatado na base, ca. 4mm compr. Cipsela 4–costada,
5–6 mm compr., cilíndrica, glabra, carpopódio
assimétrico e inconspícuo; páleas do pápus 12–15,
livres, subiguais, ca. 0,5 mm compr., elípticas.
Material examinado: Gentio do Ouro, 11º2’18”S
42º42’48”W, 24.VI.1996, M.L. Guedes et al. PCD 3043
(ALCB, CEPEC, HRB, HUEFS, SPF). Xique-Xique,
11º2’S e 42º42’W, II.1977, R. M. Harley 19078 (CEPEC).
Material adicional examinado : GOIÁS, Serra
D’ourada, Pohl 445 (US).
Calea gardneriana foi um nome novo proposto
por Baker (1884) para Meyeria angustifolia Gardner
Rodriguésia 62(3): 547-561. 2011
O gênero Calea (Asteraceae) na Bahia
2 mm
553
5 mm
c
b
3 mm
2 mm
2 cm
f
2 mm
g
e
0,5 mm
d
2 cm
a
h
Figura 2 – a-d. Calea gardneriana Baker – a. ápice do ramo florido; b. receptáculo cônico; c. pálea do receptáculo;
d. cipsela (Guedes et al. PCD 3043). e-h. Calea harleyi H. Rob. – e. ramo florido; f. capítulo discóide; g. flor do disco;
h. pápus de páleas (Roque et al. 651).
Figure 2 – a-d. Calea gardneriana Baker – a. flowering shoot apex; b. conic receptacle; c. receptacle pale; d. cypselae (Guedes et al.
PCD 3043). e-h. Calea harleyi H. Rob. – e. s flowering shoot; f. discoid head; g. disc floret; h. pappus of pales (Roque et al. 651).
que era um homônimo posterior para Ageratum
angustifolium Spreng.
Seguno Hind & Miranda (2008), os espécimes
PCD 3043 e Harley 19078 foram identificados
como Calea elongata (Gardner) Baker e,
possivelmente, o mesmo conceito taxonômico foi
seguido por Mondin & Bringel (2010). Contudo,
após a análise do síntipo “Pohl 445” de Calea
gardneriana (Gardner) Baker, concluiu-se que este
espécime mantinha os mesmos limites taxonômicos
Rodriguésia 62(3): 547-561. 2011
que os espécimes provenientes da Bahia. Uma vez
que nenhum espécime-tipo de Calea elongata foi
analisado e, segundo Baker (1884), a espécie é
restrita a Goiás, optou-se pela identificação destes
espécimes como Calea gardneriana.
Calea gardneriana ocorre em áreas de cerrado
e campos rupestres nos estados de Bahia e Goiás.
Dentre as espécies estudadas, C. gardneriana é a
única com lâmina foliar linear (4–8 × 0,3–0,4 cm) e
cipsela glabra com pápus inconspícuo (ca. 0,2 mm
554
compr.) (Fig. 2a-d). Calea gardneriana, assim como
C. candolleana, C. pilosa e C. angusta, apresentam
capítulos sem brácteas folhosas na base e
pedunculados.
4. Calea harleyi H. Rob., Phytologia 44(4): 272.
1979. Tipo: BRASIL. BAHIA. Barra da Estiva on
Ibicoara Road. 41º 18’W, 13º 35’S, Alt. ca. 1,100m,
29.I.1974, R.M. Harley 15586 (Holótipo: US!, Isótipo:
CEPEC!)
Fig. 2e-h
Arbustos 20–70 cm alt.; prostrados ou
cespitosos, glabros a levemente pubescentes. Folhas
opostas, discolores, cartáceas, lâmina foliar 2–4,5 × 0,6–
1,2 cm, elíptica, aguda a obtusa, serreada, levemente
revoluta, atenuada, estrigosas, glabrescentes,
subsésseis, pecíolo 2–8 mm compr. Sinflorescência
terminal, cimosa, umbeliforme, tricapitada; capítulos
laxos, pedúnculo 0,6–1,5 cm compr. Capítulo discóide,
homógamo; invólucro cilíndrico, 7–10 × 4–7 mm;
brácteas involucrais 4–5 séries, verdes, margem hialina,
glabras, as mais externas 5 × 1,5–2 mm, ovadas,
arredondadas, as mais internas 6 × 0,5 mm, lineares a
lanceoladas, obtusas; receptáculo cônico, glabro.
Flores 8–10, ca. 6 mm compr., corola 3–4 mm (tubo 0,8–
1 mm compr.), amarela, anteras ca. 2mm compr., estilete
dilatado na base, 3,5–4mm compr. Cipsela 4–costada,
ca. 3 mm compr., levemente estrigoso nas costelas,
glabrescente, carpopódio assimétrico, inconspícuo;
páleas do pápus ca. 12, livres, subiguais, ca. 0,5 mm
compr., ovadas.
Material selecionado: Abaíra, 2.II.1992, J.R. Pirani et al. H
51467 (CEPEC, HUEFS, SPF, US). Água Quente,
11.XII.1988, R.M. Harley et al. 27206 (HUEFS, SPF, US).
Barra da Estiva, 22.III.1980, Harley et al. 20764 (CEPEC).
Brejo de Cima, 15.XII.1984, B. Stannard et al. CFCR 6943
(SPF, US). Caetité, 8.III.1994, V.C. Souza et al. 5360 (ALCB,
US). Campo Formoso, 10º30’49”S, 40º18’25”W,
14.VIII.1999, E. Miranda-Silva et. al. 199 (ALCB, HUEFS).
Ibicoara (Ibiquara), 13º25’S, 41º18’W, 20.XI.1988, R.M.
Harley et al. 26976 (ALCB, CEPEC, SPF, US). Igaporã,
10.III.1998, G. Hatschbach et al. 67589 (US). Lençóis,
25.IV.1979, L.R. Noblick 1232 (ALCB). Mucugê, 1.V.2003,
N. Roque et al. 651 (ALCB, CEPEC, SPF). Piatã, 10.X.2009,
N. Roque et al. 2274 (ALCB). Rio de Contas, 18.III.1998, G.
Hatschbach et al. 67894 (ALCB, US). Seabra, 20.III.1980,
G.C. Pinto 122 (HRB). Sebastião Laranjeiras, 14º34’S,
42º44’W, 17.IX.1980, S.B. da Silva 135 (CEPEC, HRB).
Material adicional examinado: MINAS GERAIS,
Bocaiúva, BR-367, 20.XI.1997, G. Hatschbach et al. 67306
(US). Botumirim, 15.II.2003, F. França et al. 4410 (HUEFS).
Monte Azul, 18.IV.1996, G. Hatschbach et al. 65058 (US).
Calea harleyi, até então conhecida apenas
para o estado da Bahia (Hind & Miranda 2008;
Mondin & Bringel 2010), agora tem sua distribuição
Roque, N. & Carvalho, V.C.
geográfica estendida para Minas Gerais. Ocorre em
áreas de cerrado de altitude em afloramento rochoso,
carrasco, caatinga, campos gerais, beira de riacho,
campos rupestres e em vegetação antrópica. Nestes
ambientes ocorre em solo arenoso e afloramento
rochoso e apresenta xilopódio evidente.
Calea harleyi é característica pelos capítulos
discóides, homógamos e diferencia-se das demais
espécies com capítulos discóides (C. morii,
C.pinheiroi e C. purpurea) pelas folhas elípticas,
sinflorescência em umbela tricapitada e 8–10 flores
por capítulo (Fig. 2e-h).
5. Calea microphylla (Gardner) Baker, Fl. bras. 6
(3): 260. 1884. Meyeria microphylla Gardner. Lond.
Journ. Bot. 7: 413.1848. Tipo: BRASIL. BAHIA: “in
udis ad ripas Rio Preto”, IX.1839, G. Gardner 2904
(Holótipo: K; Foto do Tipo: US!).
Fig. 3a-i
Arbusto até 50 cm alt.; ramos pubescentes.
Folhas opostas, discolores, membranáceas, lâmina
foliar 0,5–1,0(1,5) × 0,3–0,8 cm, elíptica, aguda a
obtusa, serreada, decorrente, face adaxial
glabrescente, face abaxial pubescente, subsésseis,
pecíolo 1–3 mm compr. Sinflorescência terminal,
cimosa, umbeliforme; capítulos laxos, pedúnculos
1–3cm compr. Capítulo radiado, heterógamo, 1–2
séries brácteas folhosas na base, ovadas a oblongas,
4–5 × 2–3 mm, pubescentes; invólucro campanulado,
1 × 0,5–1 cm; brácteas involucrais 3–4 séries, verdes,
margem hialina, as mais externas 2–4 × 1–2 mm,
ovadas, arredondadas, ápice seríceo, glabrescentes,
as mais internas 5–8 × 2–3 mm, lineares a elípticas,
obtusas, glabras; receptáculo levemente côncavo,
paleáceo, páleas 5–6 × 1 mm, lanceoladas, aristadas,
conduplicadas, persistentes. Flores ca. 15, as do raio
5, 1,0–,3 cm compr., corola 6–7 mm compr. (tubo 1,5
mm compr.); flores do disco 8–9 mm compr., corola
3,5–4 mm compr. (tubo 1–1,5 mm compr.), amarela,
anteras ca. 2,5mm compr., estilete dilatado na base,
ca. 4mm compr. Cipsela 4–costada, 3–4 mm compr.,
glabrescente, carpopódio assimétrico, decorrente nas
costelas; páleas do pápus ca. 16, livres, subiguais,
0,3–0,5 mm compr., elípticas.
Material examinado: Barreiras, 11º38S, 45º15W,
5.IV.1978, C.A. Miranda 255 (HRB). Correntina, 13º20’S,
44º38’W, III.1991, L.G. Viollati et al. 188 (ALCB, SPF).
Formosa do Rio Preto, 10º53’23’’, 45º14’46’’, 28.III.2000,
R.M. Harley et al. 53733 (ALCB, CEPEC, HRB, HUEFS).
Riachão das Neves, 6.IV.2005, J.G. Carvalho-Sobrinho et
al. 417 (ALCB). São Desidério, 13.IV.2005, L.P. de Queiroz
et al. 10264 (HUEFS).
Material adicional examinado: DISTRITO FEDERAL:
4.IV.1983, J.H. Kirkbride Jr 5147 (US). GOIÁS: Chapada
das Mangabeiras, 30.II.1978, C.A. Miranda 192 (HRB).
Rodriguésia 62(3): 547-561. 2011
O gênero Calea (Asteraceae) na Bahia
4 mm
b
2 cm
0,5 mm
f
n
3 mm
2 mm
0,5 mm
i
1 mm
j
g
h
2 cm
3 mm
m
1 mm
1 mm
e
k
a
d
o
p
1 mm
2 mm
l
c
2 mm
5 mm
4 mm
2 mm
555
q
Figura 3 – a-i. Calea microphylla (Gardner) Baker – a. ramo florido; b. folha (face adaxial); c. capítulo radiado; d. flor
do raio; e. flor do disco e pálea do receptáculo; f. receptáculo; g. estilete; h. cipsela; i. pápus de páleas (Harley et al.
53733). j-q. Calea morii H. Rob. – j. ramo florido; k. capítulo discóide; l. flor do disco e pálea do receptáculo; m. flor em
corte longitudinal evidenciando estames e estilete; n. ramos do estilete; o. estames com anteras sinânteras; p. cipsela;
q. brácteas involucrais (Ganev 3579).
Figure 3 – a-i. Calea microphylla (Gardner) Baker – a. flowering shoot; b. daxial leaf; c. radiate head; d. ray floret; e. disc floret and
receptacle pale; f. receptacle; g. style; h. cypselae; i. pappus of pales (Harley et al. 53733). j-q. Calea morii H. Rob. – j. flowering shoot;
k. discoid head; l. disc floret and receptacle pale; m. floret showing stamen and style; n. style branches; o. stamens with synantherous
anthers; p. cypselae; q. involucre bracts (Ganev 3579).
Cristalina, 10.II.1990, G. Hatschbach et al. 53778 (HRB). São
Domingos, 14.IV.2005, E.B. de Souza et al. 1172 (HUEFS).
Baker (1884) cita o material-tipo de Calea
microphylla para Pernambuco (Habitat in prov.
Pernambuco, in udis ad ripas Rio Preto: Gardner
n. 2904!), contudo, acredita-se que o Rio Preto
citado refere-se, na verdade, ao Município Formosa
do Rio Preto, no estado da Bahia (ver comentários
em C. candolleana). As listagens preliminares de
Rodriguésia 62(3): 547-561. 2011
Calea para o Nordeste (Hind & Miranda 2008) e
para o Brasil (Mondin & Bringel 2010) corroboram
que a espécie não estende sua distribuição para o
estado de Pernambuco.
Calea microphylla ocorre em áreas de cerrado,
cerradão, campo rupestre e afloramento rochoso nos
estados da Bahia, Distrito Federal e Goiás.
Calea microphylla, assim como C. villosa, são
características pelas folhas diminutas (0,5–2,0 × 0,3–
556
1,3 cm), capítulos com 1–2 série de brácteas folhosas
na base, curto-pedunculados (1–3 cm compr.) e páleas
do receptáculo conduplicadas. Porém, C. microphylla
se caracteriza pela lâmina foliar elíptica, glabrescente
na face adaxial, número reduzido de flores (ca. 15) e
pápus ca. 0,2 mm compr. Diferentemente, C. villosa
apresenta indumento velutino persistente nas folhas
e ramos, lâmina foliar ovada, maior número de flores
por capítulo (ca. 30) e páleas do pápus maiores, ca.
0,5 mm compr. (Fig. 3a-i).
Segundo Mondin & Bringel (2010), Calea
teucriifolia (Gardner) Baker é uma espécie citada para a
Bahia, além dos estados de Mato Grosso, Goiás, Distrito
Federal e Minas Gerais. Contudo, ao analisar materiais
provenientes da região sudeste e os protólogos e
fototipos de C. microphylla e C. teucriifolia,
observou-se a clara sobreposição entre os caracteres
diagnósticos dessas espécies. Acredita-se que estudos
revisivos no gênero possam discutir objetivamente os
limites taxonômicos entre essas espécies.
6. Calea morii H. Rob., Phytologia 44(7): 437. 1979.
Tipo: BRASIL. BAHIA: Rio de Contas, base do
Pico das Almas, 22.VII.1979, King, R.M., S.A. Mori,
T.S. Santos & J.L. Hage 8097 (Isótipo: US!,
CEPEC!; Foto do tipo: HUEFS!).
Fig. 3j-q
Arbustos 1,2–2,5 m alt.; ramos pubescentes.
Folhas opostas, discolores, cartáceas, lâmina foliar
3,5–9,5 × 2,5–5,5 cm, largamente elíptica a ovada,
obtusa, denticulada, arredondada, face adaxial
glabrescente, face abaxial vilosa, peciolada, pecíolo
0,5–1 cm compr. Sinflorescência terminal, cimosa,
corimbiforme; capítulos congestos, sésseis a
subsésseis, pedúnculo 3–10 mm compr. Capítulo
discóide, homógamo; invólucro cilíndrico 2,5 × 0,5
cm; brácteas involucrais 4–6 séries, verdes, margem
hialina, ápice viloso, glabrescentes, as mais externas
2–3,5 × 1,5–2 mm, ovadas, obtusas, as mais internas
9–12 × 2–3 mm, lanceoladas a lineares, obtusas;
receptáculo cônico, paleáceo; páleas ca. 1 cm compr.,
lanceoladas, conduplicadas, persistentes. Flores 5,
ca. 1,2 cm compr., corola 6–8 mm compr. (tubo 2mm
compr.), amarela, anteras 2,5–3mm compr., estilete
dilatado na base, ca. 5mm compr. Cipsela 4–costada,
3,5–4 mm compr., estipitada, serícea, carpopódio
decorrente nas costelas; páleas do pápus 15–20, livrs,
subiguais, 2–3 mm compr., lanceoladas.
Material examinado: Abaíra, 13º17’S, 41º53’W,
18.VII.1994, W. Ganev 3579 (ALCB, HUEFS, SPF, US).
Ibicoara, 5.IX.1997, H.P. Bautista et al. 2256 (HRB).
Lençóis, 25.X.1996, D.J.N. Hind & L. Funch PCD 3786
(ALCB, CEPEC, HUEFS, SPF). Mucugê, 29.X.2005, J.G.
Carvalho-Sobrinho et al. 666 (CEPEC, HUEFS).
Roque, N. & Carvalho, V.C.
Palmeiras, 12º25’27"S, 41º28’41"W, 1.V.2003, N. Roque
et al. 656 (ALCB, CEPEC). Piatã, 13º13’S, 41º45’W,
5.IX.1996, R.M. Harley et. al 28282 (CEPEC, HUEFS,
SPF). Ponto Novo, 10º51’, 40º08’, 21.IX.2000, D.S.
Almeida 67 (ALCB). Rio de Contas, 13º52’S, 42º19’W,
25.VIII.1993, W. Ganev 2132 (HUEFS, US).
Urbatsch et al. (1986) considerou Calea morii
H.Rob., espécie até então conhecida apenas do
estado da Bahia, como sinônimo de Calea fruticosa
(Gardner) Urbatsch, Zlotsky & Pruski, uma espécie
cuja distribuição foi ampliada para o Distrito Federal,
Bahia, Goiás e Minas Gerais, e assim reconhecida
por Mondin & Bringel (2010) na lista das espécies
do gênero para o Brasil. Contudo, Pruski &
Urbatsch (1988) reapresentaram as espécies de
Calea sect. Lemmatium e revalidaram Calea morii
da sinonímia de Calea fruticosa, citando a espécie
como endêmica da Bahia.
Nesse trabalho, Calea morii é reconhecida
por ocorrer em vegetação de caatinga, campo
rupestre, cerrado, cerrado de altitude e carrasco no
estado da Bahia.
Calea morii, assim como C. harleyi, C. pinheiroi
e C. purpurea, são as únicas espécies reconhecidas
para a Bahia com capítulso discóides (Fig. 3j-q).
Contudo, Calea morii é facilmente distinta por reter
várias características diagnósticas, entre eles, as folhas
largamente elípticas ou ovadas, inflorescência
corimbosa, pluricéfala, capítulo cilíndrico, receptáculo
paleáceo e páleas do pápus lanceoladas, conduplicadas,
conspícuas (2–3 mm compr.) e persistentes.
7. Calea pilosa Baker, Fl. bras. 6(3): 257. 1884. Tipo:
BRASIL. In campis Brasiliae, Pohl 326 (Tipo: K;
Foto do Tipo: US!)
Fig. 4a-i
Subarbusto ereto, ca. 50 cm alt.; ramos
prostrados, pubescentes. Folhas opostas, discolores,
membranáceas, lâmina foliar 4,0–8,0 × 0,8–1,5 cm,
elíptica, obtusa, serrulada a serreada, plana a levemente
revoluta, decorrente, pubescentes, sésseis a
subsésseis, pecíolo até 5 mm compr. Sinflorescência
terminal, cimosa, corimbiforme; capítulos laxos,
pedúnculo 5–12 cm compr. Capítulo radiado,
heterógamo; invólucro campanulado, 1–1,5 × 1–
1,5 cm; brácteas involucrais 4 séries, verdes,
margem hialina, glabrescentes, as mais externas 4–
6 × 2–3 mm, ovadas, arredondadas, as mais internas
8–10 × 3–4 mm, oblongas, arredondadas; receptáculo
cônico, epaleáceo. Flores 45–50, as do raio ca. 10, 1,5–
2,0 cm compr., corola 1–1,2 mm compr. (tubo 2 mm
compr.); flores do disco 8–9 mm compr., corola 3,5–
4,5 mm compr. (tubo 1 mm compr.), amarela, anteras
2mm compr., estilete dilatado na base, 4 mm compr.
Rodriguésia 62(3): 547-561. 2011
O gênero Calea (Asteraceae) na Bahia
4 mm
557
2 mm
b
2 mm
c
2 cm
2 mm
d
e
1 mm
1 mm
1 mm
1 mm
a
i
f
g
h
Figura 4 – Calea pilosa Baker – a. ramo; b. capítulo radiado; c. flor do raio; d. flor do disco; e. receptáculo cônico;
f. estame; g. estilete; h. cipsela; i. pápus de páleas (Sant’ana et al. 118).
Figure 4 – Calea pilosa Baker – a. flowering shoot; b. radiate head; c. ray floret; d. disc floret; e; conic receptacle; f. stamen; g. style;
h. cypselae; i. pappus of pales (Sant’ana et al. 118).
Rodriguésia 62(3): 547-561. 2011
558
Cipsela 4 costelas, 3–3,5 mm compr., densamente
setulífera a esparsamente estrigosa, carpopódio
assimétrico e decorrente nas costelas; páleas do pápus
13–15, livres, subiguais, 0,8–1 mm compr., elípticas.
Material examinado: Canavieiras, M.L. Guedes et al. 93
(ALCB). Itacaré, 15.VII.1995, J.G. Jardim et al. 644
(ALCB, CEPEC, US). Nova Viçosa, 9.IV.1984, G.
Hatschbach et al. 47762 (CEPEC, US). Porto Seguro,
16º20’S, 39º2’W, 27.VII.1984, G.L. Webster 25071
(CEPEC). Santa Cruz de Cabrália, 13.XII.1991, S.C. de
Sant’ana et al. 118 (HRB, US).
Segundo Hind & Miranda (2008), Calea
pilosa tem sido coletada em áreas de restinga, mata
de encosta e área antrópica no estado da Bahia.
Curiosamente, a espécie não foi incluída por
Mondin & Bringel (2010) na lista da Flora do Brasil,
corroborando a fragilidade entre os limites
taxonômicos ainda pouco explorados da espécie.
É facilmente confundida com C. candolleana,
espécie amplamente distribuída, e desta diferenciase basicamente pela lâmina foliar maior (4–8 vs. 1,5–
3cm compr.), elíptica (vs. oblonga ou triangular),
pubescente (vs. glabro a glabescente) e receptáculo
epaleáceo (vs. paleáceo) (Fig. 4a-i).
8. Calea pinheiroi H. Rob., Phytologia 44(4): 272.
1979. Tipo: BRASIL. BAHIA: Delfino, 16l m NW of
Lagoinha (which is 5,5 km SW of Delfino) on side
road to Minas do Mimoso, Serra do Curral Feio,
41º20’W, 10º22’S, 08.III.1974, R.M. Harley, S.A.
Renvoize, C.M. Erskine, C. A. Brighton & R.
Pinheiro 17020 (Holótipo: US!; Isótipo: CEPEC!).
Fig. 5a-b
Arbusto ca. 25 cm alt.; ramos estrigosos.
Folhas opostas, cartáceas, lâmina foliar 1,5–2,5 ×
1–2 cm, ovada, obtusa, crenada, truncada,
estrigosas, subsésseis, pecíolo 3–5 mm compr.
Sinflorescência terminal, cimosa, corimbiforme;
capítulos congestos, pedúnculo até 6 cm compr.
Capítulo discóide, homógamo; invólucro
campanulado, 9–10 × 4–5 mm; brácteas involucrais
4–5 séries, verdes, margem hialina, glabras, as mais
externas 2–3 × 2 mm., ovadas, arredondadas, as
mais internas 5–6 mm × 1mm compr., elípticas,
obtusas; receptáculo cônico, epaleáceo. Flores
do disco 8, corola ca. 3,5 mm compr. (tubo da corola
1,3 mm compr.), amarela, anteras ca. 2mm compr.,
estilete dilatado na base, 4–5mm compr. Cipsela 4
costelas, 2,5–3 mm compr., esparsamente estrigosa,
carpopódio decorrente nas costelas; páleas do pápus
16–18, lives, subiguais, ca. 0,5 mm compr., ovadas.
Calea pinheiroi é uma espécie conhecida apenas
do seu holótipo procedente da caatinga no Recôncavo
Roque, N. & Carvalho, V.C.
Sul, Bahia (Hind & Miranda 2008). Contudo, segundo
Mondin & Bringel (2010), C. pinheiroi ocorre em áreas
de cerrado nos estados de Bahia e Minas Gerais.
Acredita-se que a descrição e ilustração inédita dessa
espécie no presente trabalho, juntamente com estudos
revisivos no gênero, possam reconhecer sua extensão
geográfica mais precisamente.
Dentre as espécies com capítulos discóides,
C. pinheiroi diferencia-se pela lâmina foliar ovada,
crenada, truncada, sinflorescência corimbosa com
mais de três capítulos e carpopódio decorrente nas
costelas (Fig. 5a-b).
9. Calea purpurea G.M. Barroso, Sellowia 26: 110.
1975. Tipo: BRASIL. BAHIA: Barreiras, Serra do
Espigão Mestre, 06.III.1972, W.R. Anderson, M.
Stieber, J.H. Kirkbride Jr 36632 (Isótipo: CEPEC!).
Fig. 5c-h
Subarbusto 40–50 cm alt.; ramos vilosos. Folhas
opostas, discolores, membranáceas, lâmina foliar 1–2 ×
0,7–1 cm, elíptica, denteada, decorrente, estrigosa,
sésseis a subsésseis, pecíolo até 2 mm compr.
Sinflorescência terminal, cimosa, corimbiforme;
capítulos congestos, pedúnculo 3–5 mm compr.
Capítulo discóide, homógamo; invólucro cilíndrico 6–
8 × 2–3 mm; brácteas involucrais 3-séries, atropurpúreas,
margem hialina, glabras, as mais externas ca. 2 × 2 mm,
ovadas, arredondadas, as mais internas ca. 5 × 2 mm,
elípticas, obtusas; receptáculo levemente cônico,
epaleáceo. Flores 3, corola 3,5–4 mm compr., tubo (1
mm compr.), atropurpúrea, estames ca. 2mm compr.,
estilete dilatado na base, 4–5mm compr. Cipsela 4–
costada, 4,5–5 mm compr., glabra, carpopódio
decorrente nas costelas, páleas do pápus ca. 16, fundidas
na base, subiguais, ca. 0,1 mm compr., escamiformes.
Material examinado: Barreiras, 26.I.2005, J. PaulaSouza et al. 4686 (HUEFS). Formosa do Rio Preto,
8.IV.1989, R.C. Mendonça et al. 1365 (US). Luiz Eduardo
Magalhães, 29.XI.2003, B.A. Anjos et al. 183 (ALCB).
Material adicional examinado: GOIÁS. Lizarda, Rio
das Pratas, 25.III.1978, C.A. Miranda 175 (HRB);
10º39’S, 46º54’W, 22.IV.1978, R.P. Orlandi 89 (HRB).
Mondin & Bringel (2010) citaram Calea
purpurea como endêmica do estado da Bahia e esse
trabalho reconhece a espécie com tendo
distribuição centrada em áreas de cerrado e solo
arenoso no extremo oeste da Bahia e Goiás.
Dentre as espécies com capítulos discóides,
Calea purpurea diferencia-se das demais,
principalmente, pelos capítulos com 3 flores, brácteas
involucrais e flores atropurpúreas e páleas do pápus
fundidas na base e inconspícuas (ca. 0,1 mm compr.)
(Fig. 5c-h).
Rodriguésia 62(3): 547-561. 2011
O gênero Calea (Asteraceae) na Bahia
3 mm
559
3 mm
d
1 mm
g
2 cm
1 mm
2 cm
a
1 mm
e
f
b
h
c
Figura 5 – a-b. Calea pinheiroi H. Rob.– a. ramo florido; b. capítulo discóide (Harley et al. 17020). c-h. Calea purpurea
G.M. Barroso – c. ramo florido; d. capítulo discóide; e. flor do disco; f. estame; g. estilete; h. cipsela (Anjos et al. 183).
Figure 5 – a-b. Calea pinheiroi H. Rob. – a. flowering shoot; b. discoid head (Harley et al. 17020). c-h. Calea purpurea G.M. Barroso
– c. flowering shoot; d. disc head; e. disc floret; f. stamen; g. style; h. cypselae (Anjos et al. 183).
10. Calea villosa Sch. Bip. ex Baker, Fl. bras. 6(3):
262. 1884. Síntipo: BRASIL. GOIÁS: “in campis
arenosis inter S. Pedro et Nostra Senhora
d’Abadia”, G. Garden 4243 (Tipo: K) e “praeterea”,
Pohl 450 (Tipo: B; Foto: US!).
Fig. 6a-g
Subarbustos ou arbustos, 0,3–1 m alt.; ramos
velutinos. Folhas opostas, discolores, papiráceas,
lâmina foliar 1–2 (2,5) × 0,5–1,3 (1,5) cm, ovada, aguda
a obtusa, serreada, atenuada, velutinas, sésseis a
subsésseis, pecíolo até 5 mm compr. Sinflorescência
terminal, cimosa, umbeliforme; capítulos laxos,
sésseis a pedunculados, pedúnculo até 1,5 cm compr.
Capítulo radiado, heterógamo, com 1–2 séries de
brácteas foliáceas na base, ovadas, obtusas, ca. 5 ×
3 mm, vilosas; invólucro campanulado, 0,8–1 × 0,8–
Rodriguésia 62(3): 547-561. 2011
1 cm; brácteas involucrais 4–séries, verdes, margem
hialina, glabras, as mais externas 3–6 × 2,5–3 mm,
obovadas, arredondadas, pubescentes, as mais
internas 0,7–1 × 0,4–0,5 mm, obovadas a elípticas,
arredondadas; receptáculo levemente côncavo,
paleáceo, páleas 5–7 × 1–2 mm, lanceoladas a
elípticas, aristadas, conduplicadas, persistentes.
Flores do raio ca. 10, 1–1,2 cm compr., corola ca. 7
mm compr. (tubo ca. 2 mm compr.); flores do disco
ca. 20, 7–9 mm compr., corola 4–5 mm compr (tubo
1,0–1,5 mm compr.), amarela, anteras ca. 2 mm compr.,
estilete dilatado na base, ca. 5 mm compr. Cipsela
4–costada, 4,5–4 mm compr., glabra, carpopódio
decorrente nas costelas; páleas do pápus ca. 11,
livres, subiguais, ca. 0,5 mm compr., elípticas.
Roque, N. & Carvalho, V.C.
560
pedunculados. No entanto distingue-se pelo
indumento das folhas (face adaxial velutina vs.
glabrescente), número de flores por capítulo (30 vs.
15) e tamanho do pápus (0,5mm vs. 0,2 mm compr.),
respectivamente (Fig. 6a-g).
Material examinado: Abaíra, 13º19’S, 41º51’W, 25.X.1993,
W. Ganev 2627 (HUEFS, SPF, US). Catolés, 29.XI.1999,
A.S. Conceição et al. 479 (HUEFS). Correntina, 25.IV.1980,
R.M. Harley 21755 (CEPEC). Piatã, 27.II.2009, M.L. Guedes
et al. 14628 (ALCB). Rio de Contas, 29.X.1988, R.M. Harley
et al. 25747 (CEPEC, HUEFS, SPF, US). Seabra, 12º18S,
41º50, 3.IX.1997, H.P. Bautista & J. Oubiña 2248 (HRB).
Material adicional examinado: MINAS GERAIS.
Grão Mogol, 14.II.2003, F. França et al. 4373 (HUEFS).
Agradecimentos
Os autores agradecem a todas as pessoas e
instituições que colaboraram para a conclusão deste
trabalho, especialmente aos curadores dos herbários
visitados que permitiram a análise e empréstimo do
material depositado. Ao Natanael Nascimento a arte
e ilustrações das espécies e aos pareceristas pelas
críticas e sugestões ao manuscrito.
2 mm
Calea villosa ocupa áreas com solos arenosos,
argilosos e afloramentos rochosos em vegetação de
campos rupestres, cerrados de altitude, campos gerais
e carrascos nos estados de Goiás, Bahia e Minas Gerais.
Callea villosa assemelha-se a C. microphylla
pelo tamanho reduzido das folhas e capítulos curto-
4 mm
b
d
1 mm
2 cm
e
a
f
2 mm
2 mm
2 mm
c
g
Figura 6 – Calea villosa Sch. Bip. ex Baker – a. ramo florido; b. folha (face adaxial); c. capítulo radiado; d. flor do raio;
e. flor do disco e pálea do receptáculo; f. estame; g. cipsela (Harley et al. 25747).
Figure 6 – Calea villosa Sch. Bip. ex Baker – a. flowering shoot; b. adaxial leaf; c. radiate head; d. Ray floret; e. disc floret and receptacle
pale; f. stamen; g. cypselae (Harley et al. 25747).
Rodriguésia 62(3): 547-561. 2011
O gênero Calea (Asteraceae) na Bahia
561
Referências
Baker, J.G. 1884. Compositae: Helianthoideae. In:
Martius C.F.P. von, Eichler, A.W. & Urban, I. Flora
brasiliensis. Munchen, Wien, Leipzig 6: 251-268.
Baldwin, B. G. 2009. The Heliantheae Alliance. In: Funk,
V.A.; Susanna, A.; Stuessy, T.F. & Bayer, R.J.
(eds.). Systematics, evolution, and biogeography of
the Compositae. IAPT, Vienna. Pp. 689-711.
Blake, S.F. 1930. Notes on certain type specimens of
American Asteraceae in European herbaria.
Contributions from the United States National
Herbarium 26: 258.
Bremer, K. 1994. Asteraceae – cladistics & classification.
Timber Press, Portland.
Funk, V.A.; Susanna, A.; Stuessy, T. & Bayer, R.J. (eds.).
2009. Systematics, evolution, and biogeography of
the Compositae. IAPT, Vienna.
Hind, D.J.N. & Miranda, E.B. 2008. Lista preliminar da
família Compositae na Região Nordeste do Brasil.
Royal Botanic Gardens, Kew.
Holmgren, P.K.; Holmgren, N.H. & Barnett, L.C. 1990.
Index Herbariorum. Part I: the herbaria of the world.
New York Botanical Garden. New York. 693p.
Magenta, M.A.G. 1998. As subtribos Ambrosiinae,
Galinsoginae e Coreopsidinae (Heliantheae –
Asteraceae) no estado de São Paulo. Dissertação
de Mestrado. Universidade de São Paulo, São
Paulo. 140p.
Mondin, C.A. & Bringel Jr., J.B.A. 2010. Calea. In:
Forzza, R.C. et al (eds.). Lista de espécies da flora
do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
Disponível em <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/2010/
FB103751>. Acesso em 16 Out 2010.
Panero, J.L. 2007. Heliantheae Alliance: Tribe
Neurolaeneae Rydb. In: Kadereit, J.W. & Jeffrey, C.
(eds.). Families and genera of vascular plants. Vol. 8.
Flowering plants. Eudicots. Asterales. Kubitzki’s
authoritative encyclopedia of vascular plants.
Springer-Verlag, Berlin, Heidelberg. Pp. 417-420.
Panero, J.L. 2007a [2006]. Key to the tribes of the
Heliantheae alliance. In: Kadereit, J.W. & Jeffrey,
C. (eds.). The families and genera of vascular plants.
Vol. 8. Flowering plants. Eudicots. Asterales.
Springer, Berlin. Pp. 391-395.
Panero, J.L. 2007b [2006]. Neurolaeneae. In: Kadereit,
J.W. & Jeffrey, C. (eds.). The families and genera of
vascular plants. Vol. 8. Flowering plants. Eudicots.
Asterales. Springer, Berlin. Pp. 417-420.
Panero, J.L. & Funk, V.A. 2008. The value of sampling
anomalous taxa in phylogenetic studies: Major clades
of the Asteraceae revealed. Molecular Phylogenetics
and Evolution 47: 757-782.
Pruski, J.F. 1984. Calea brittoniana and Calea
kiristiniae: two new Compositae from Brazil.
Brittonia 36: 98-103.
Pruski, J.F. 1998. Novelties in Calea (Compositae:
Heliantheae) from South America. Kew Bulletin
53: 683-693.
Pruski, J.F. & Urbatsch, L.E. 1988. Five new species of
Calea (Compositae: Heliantheae) from Planaltine
Brazil. Brittonia 40: 341-356.
Pruski, J.F. & Hind, D.J.N. 1998. Two new species of
Calea (Compositae: Heliantheae) from Serra do Grão
Mogol and vicinity, Minas Gerais, Brazil. Kew
Bulletin 53: 695-701.
Radford, A.E.; Dickison, W.C.; Massey, J.R. & Bell,
C.R. 1974. Vascular plants systematics. Harper &
Row Pub., New York. 891p.
Roque, N. & Bautista, H.P. 2008. Asteraceae:
caracterização e morfologia floral. Edufba, 79p.
Roque, N.; Keil, D.J. & Susanna, A. 2009. Illustrated
glossary of Compositae. Appendix A. In: Funk, V.A.;
Susanna, A.; Stuessy, T. & Bayer, R.J. Systematics,
evolution and biogeography of the Compositae.
IAPT, Vienna. Pp. 781-806.
Robinson, H. 1975. Studies in the Heliantheae
(Asteraceae). VI. Additions to the genus Calea.
Phytologia 32: 426-431.
Robinson, H. 1979a. Studies in the Heliantheae
(Asteraceae). XXII. Two new species of Calea from
Brazil. Phytologia 44: 436-441.
Robinson, H. 1979b. Studies in the Heliantheae
(Asteraceae). XIX. Four new species of Calea from
Brazil. Phytologia 44: 270-279.
Robinson, H. 1980. Studies in the Heliantheae
(Asteraceae). XXVII. A new species of Calea from
Brazil. Phytologia 47: 261-263.
Robinson, H. 1981. Studies in the Heliantheae
(Asteraceae). XXVIII. Additions to Calea and
Ichthyothere from Brazil. Phytologia 49: 10-13.
Urbatsch, L.E; Zlotsky, A. & Pruski, J.F. 1986. Revision
of Calea sect. Lemmatium (Asteraceae: Heliantheae)
from Brazil. Systematic Botany 11: 501-514.
Wussow, J.R.; Urbatsch, L.E. & Sullivan, G.A. 1985.
Calea (Asteraceae) in Mexico, Central America and
Jamaica. Systematic Botany 10: 241-267.
Artigo recebido em 08/04/2010. Aceito para publicação em 18/03/2011.
Rodriguésia 62(3): 547-561. 2011