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Revista NEP - Núcleo de Estudos Paranaenses, Curitiba, v. 7, n. 2, dez. 2021 Dossiê Imigração e Imigrantes no Paraná ISSN: 2447-5548 YVELISE FREITAS DE SOUZA ARCO-VERDE: UMA SÍNTESE BIOGRÁFICA DE UMA PERSONAGEM ACADÊMICA DA UFPR NA SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ Marcelo Gonçalves Marcelino1 João Batista da Silva Nascimento2 Resumo: O presente artigo procura analisar sociologicamente a trajetória da única mulher que ocupou a Secretaria de Estado da Educação do Paraná sendo professora de carreira da UFPR na segunda gestão consecutiva do governador Roberto Requião de Mello e Silva em 2008. A professora Yvelise tem uma longa carreira acadêmica desde a década de 1970 no setor de educação e carrega consigo capitais herdados da longa tradição familiar que sua biografia revela através do seu próprio depoimento numa transcrição da sua narrativa gravada3. A relevância desse objeto de pesquisa apresentado justifica-se à medida que as instituições de Estado, em especial no Brasil resistem em incluir as mulheres, mesmo que pertencentes as elites profissionais e acadêmicas e a própria classe dominante nos seus quadros de mais elevada estatura política administrativa. Yvelise representa o papel das mulheres que pertencem as frações da classe dominante com “capitais” herdados, acumulados e lapidados ao longo da sua trajetória e que demonstra empiricamente o paradoxo da ausência das mulheres nos altos postos da tecnocracia, das instituições políticas de Estado e das próprias empresas. Desta maneira procuramos identificar e analisar de forma sociológica como Yvelise se posiciona no campo educacional e no subcampo da UFPR e da própria Secretaria de Educação do Paraná como sendo apenas uma das seis mulheres que assumiram esse cargo desde a criação dessa instituição no final da década de 1940 no Paraná. Esse artigo esclarece ao mesmo tempo que essa abordagem sociológica a partir da biografia contada pela própria Yvelise precisa ser discutida com um viés crítico como aponta o sociólogo Pierre Bourdieu no que ele denomina como “ilusão biográfica”; mas ao mesmo tempo compreendemos que a crítica e a reflexão necessária não invalidam a narrativa biográfica como preâmbulo para um trabalho sociológico mais robusto no sentido de permitir outros apontamentos e incursões. Palavras chave: Instituições, Poder, Classe dominante, Mulheres. YVELISE FREITAS DE SOUZA ARCO-VERDE: A IOGRAPHICAL SYNTHESIS OF AN ACADEMIC CHARACTER FROM UFPR IN THE SECRETARY OF STATE OF EDUCATION IN PARANÁ Abstract: This article intends to sociologically analyze the trajectory of the only woman who occupied the Secretary of State for Education of Paraná as a career teacher at UFPR in the second consecutive term of governor Roberto Requião de Mello e Silva in 2008. Professor Yvelise has a long academic career since the 1970s in the education sector and carries with her capital inherited from the long family tradition that his biography reveals through his own testimony in a transcription of her recorded narrative. The relevance of this research object presented is justified as State institutions, 1 Bacharel em Ciências Econômicas, bacharel e licenciado em Ciências Sociais pela UFPR, licenciado em Matemática pela UTFPR, especialista em Sociologia Política, mestre em Sociologia e doutorando também em Sociologia pela UFPR. Email de contato: mgmarcelino@yahoo.com 2 Bacharel em Secretariado executivo trilíngue pela Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina – PE; licenciado em Letras Português e Espanhol pela UNICEB COC – Ribeirão Preto – Polo Curitiba; licenciado em Letras Inglês pelo Centro Universitário Estácio de Ribeirão Preto – Polo Curitiba; especialista em Coordenação Pedagógica pelo setor de Educação da UFPR, Mestrando em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná – UFPR. E-mail de contato: joaobatistarfb@gmail.com 3 Para publicação do referido artigo, consta em posse da Revista NEP o documento onde a professora Yvelise Freitas de Souza Arco-Verde autoriza publicação total ou parcial da referida entrevista, concedida ao pesquisador e mestrando João Batista da Silva Nascimento. 72 Revista NEP - Núcleo de Estudos Paranaenses, Curitiba, v. 7, n. 2, dez. 2021 Dossiê Imigração e Imigrantes no Paraná ISSN: 2447-5548 especially in Brazil, resist to include women, even if they belong to professional and academic elites and the ruling class itself in its highest administrative political stature. Yvelise represents the role of women who belong to the fractions of the ruling class with inherited, accumulated and polished "capitals" throughout their trajectory and which empirically demonstrates the paradox of the absence of women in the high positions of technocracy, political institutions of the State and companies themselves. In this way, we seek to identify and analyze in a sociological way how Yvelise positions herself in the educational field and in the subfield of UFPR and of the Paraná Department of Education itself as being just one of the six women who have assumed this position since the creation of this institution at the end of the 1940th in Paraná. This article clarifies at the same time that this sociological approach based on the biography told by Yvelise herself needs to be discussed with a critical perspective, as the sociologist Pierre Bourdieu points out in what he calls “biographical illusion”; but at the same time, we understand that criticism and the necessary reflection do not invalidate the biographical narrative as a preamble to a more robust sociological work, in the sense of allowing for other notes and incursions. Keywords: Institutions, Power, Ruling class, Women. Introdução Apesar da Secretaria de Estado da Educação ter sido criada no dia 13 de maio de 1947 na primeira gestão do então governador Moisés Lupion de Troya (1947-51), em plena ascensão do desenvolvimentismo no Brasil e no contexto da reconstrução do mundo pós segunda guerra mundial, a implementação de um sistema educacional mais integrado e robusto aconteceria apenas na gestão do governador Ney Aminthas de Barros Braga (1961-65), quando a Secretaria de Educação recebeu a companhia do Conselho Estadual de Educação e também da Fundepar (Fundação de Educação do Paraná) criada em 1962. A primeira gestão de Ney Braga é reconhecida por ser aquela onde o denominado “desenvolvimentismo” paranaense passa a ser considerado uma política estratégica de desenvolvimento econômico para o Estado e a educação estava inserida no bojo dessas transformações a despeito das controvérsias e contradições dessa dinâmica de pretenso esboço de planejamento capitalista em uma região periférica como o Paraná, pertencente a um país atrasado e dependente como o Brasil. A criação do Conselho Nacional de Educação, no início dos anos de 1960, propiciou que os Conselhos Estaduais fossem criados na esteira da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1961 – Lei Federal de dezembro desse mesmo ano e que propiciou o avanço da discussão da educação brasileira desde então. De acordo com o documento 70 anos de Educação em Revista (1947-2017): memória da educação em revista (2017, p. 8), tem-se: A primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN (Lei Federal n.° 4.024, de 20 de dezembro de 1961) fixou as finalidades do setor educacional a partir do Sistema Federal de Ensino e, a seguir, dos Sistemas Estaduais. Seu art. 11 determinou que a “União, os Estados e o Distrito 73 Revista NEP - Núcleo de Estudos Paranaenses, Curitiba, v. 7, n. 2, dez. 2021 Dossiê Imigração e Imigrantes no Paraná ISSN: 2447-5548 Federal organizarão os seus sistemas de ensino com observância da presente lei”. Era, por todos os modos, inovadora e viria a dar forma e conteúdo a uma estrutura ainda um tanto desencontrada, em matéria de atendimento à educação, que se esperava desde a Constituição de 1934, na qual já se preceituava o ordenamento educacional por meio de planos nacionais e estaduais, levados a efeito pelos respectivos sistemas de ensino. O art. 151 daquela Carta dizia ser competência dos Estados e do Distrito Federal “organizar e manter sistemas educativos nos territórios respectivos, respeitadas as diretrizes estabelecidas pela União”. Na época, foi criado o Conselho Nacional de Educação (CNE), com amplas atribuições, e se recomendava a criação, nas esferas estaduais, de “Conselhos de Educação com funções similares às do Conselho Nacional”. Foi somente no início da década de 1960 que as diretrizes educacionais, os primeiros conselhos de educação e um sistema integrado de ensino articulado começa a se desenvolver no país. Essa trajetória política institucional da educação apresenta desde a sua gênese constitutiva algo bastante comum e latente nas estruturas de poder no mundo e no Brasil e que está relacionado as mais diversas formas de discriminação, preconceito e opressão, isto é, um filtro social que restringe o acesso das mulheres aos espaços profissionais, acadêmicos, entre outros, como é o caso da Secretaria de Educação do Paraná, que desde sempre reproduziu o modus operandi da discriminação estrutural de gênero. No caso da educação esse processo se tornou ainda mais peculiar pelo aspecto que concerne ao papel das mulheres em cargos de coordenação, chefia e também nos mais elevados poderes da administração pública e mesmo nas organizações privadas. As mulheres historicamente sempre tiveram uma maior presença profissional na área da educação, principalmente nas primeiras décadas de construção dessa profissão até a redemocratização do país em meados da década de 1980. A partir de então a profissão de professor passou a ser exercida também por uma grande quantidade homens como consequência da própria divisão social internacional do trabalho no capitalismo contemporâneo, mesmo tendo as mulheres como a maioria na profissão; ainda mais, se levarmos em conta todos os níveis de ensino; no Brasil em particular. Essa introdução do problema apesar de provocativa no que concerne apenas aspectos gerais serve para fazermos algumas incursões teóricas necessárias, como a própria participação das mulheres na sociedade, em especial nos cargos da administração pública e privada em espaços de poder considerados hierarquicamente mais elevados, mesmo levando em conta que em alguns casos algumas dessas mulheres pertençam a uma determinada elite acadêmica e profissional ou até mesmo como membros da classe dominante e de extratos ou frações de classe da burguesia. Nesses mais de 70 anos da Secretaria de Estado da Educação foram apenas seis mulheres a exercer o cargo de secretaria contando ciclos menores de transição e certamente isso, pelo menos, 74 Revista NEP - Núcleo de Estudos Paranaenses, Curitiba, v. 7, n. 2, dez. 2021 Dossiê Imigração e Imigrantes no Paraná ISSN: 2447-5548 demonstra o caráter excludente das mulheres nas posições de maior envergadura política administrativa. Esse artigo não propõe um aprofundamento maior no que tange a uma abordagem sociológica que envolve estudos de gênero mais densos e extensos, mas procura provocar a necessidade desse debate no interior e fora dos circuitos acadêmicos. Pretendemos nesse espaço acadêmico prosseguir com a tradição do Núcleo de Estudos Paranaenses – NEP do Programa de PósGraduação em Sociologia da UFPR de revelar os atores políticos e institucionais mais relevantes no cenário local, regional e nacional inseridos nos aparelhos de Estado dos mais variados. Nesse artigo procuramos discutir sociologicamente os relatos biográficos de uma das seis mulheres que assumiram o cargo de maior destaque na Secretaria de Educação do Paraná nos seus mais de 70 anos de existência desde o pós-segunda guerra. Chamamos a atenção mais uma vez de que foram poucas mulheres que assumiram a Secretaria de Educação mesmo sendo as mulheres a maioria nesse setor historicamente. O critério de escolha da nossa biografada é de que ainda assim foi a única mulher professora de carreira da UFPR a assumir esse cargo em toda a história, onde a sua trajetória acadêmica e profissional nos revela além da sua qualificação técnica uma pessoa repleta de “capitais” segundo Bourdieu, que a tornam uma mulher diferenciada devido a sua herança posicional de classe social carregada de capital familiar de posse material e educacional, apesar de não herdeira de riqueza da burguesia tradicional aparentemente. Porém, através dos seus relatos de vida é possível perceber que sua família carrega “capitais genealógicos” que a distingue socialmente. Um elemento importante que a diferencia de todas as outras mulheres no cargo que ocupou na Secretaria de Educação do Estado do Paraná não foram esses capitais de largada herdados e assimilados, mas a continuidade da sua trajetória no campo educacional acadêmico, como veremos adiante. Essa distinção social provém de relações familiares privilegiadas de pertencimento a uma classe social favorecida, que apesar de não ser da mais elevada “corte” burguesa, pertence a uma fração social da classe dominante pela via do patrimônio, da educação e dos circuitos sociais distintos da grande maioria da população. O acesso a uma educação familiar e institucional distinta a coloca numa posição de destaque com prestígio social típico das elites e da própria classe dominante. Grande parte dos indivíduos que partem de trajetórias onde o capital familiar de herança é bastante favorável desenvolvem aptidões e compartilham de experiências e saberes nos campos e subcampos aos quais são inseridos e penetram ao longo das suas trajetórias de vida. A probabilidade desses indivíduos permanecerem e reproduzirem seus capitais ao longo das suas vidas é bastante grande para os membros 75 Revista NEP - Núcleo de Estudos Paranaenses, Curitiba, v. 7, n. 2, dez. 2021 Dossiê Imigração e Imigrantes no Paraná ISSN: 2447-5548 da classe dominante e até mesmo para as frações de classe ou outras elites, principalmente no Brasil onde a mobilidade social é ainda mais restrita com altos índices de desigualdade social. Segundo Bourdieu (2008, p. 105): O caráter estatístico da relação que se estabelece entre o capital de origem e o capital de chegada é o que faz com que seja impossível dar conta das práticas em função unicamente das propriedades que definem a posição ocupada, em determinado momento, no espaço social: a afirmação de que os membros de uma classe que, na origem, dispunham de determinado capital econômico e cultural, estão votados, com determinada probabilidade, a uma trajetória escolar e social que conduz a determinada posição, implica dizer, de fato, que uma fração de classe – que não pode ser determinada a priori nos limites do sistema explicativo considerado – está destinada a desviar-se em relação à trajetória mais frequente para a classe no seu todo, empreendendo a trajetória, superior ou inferior, que era a mais provável para os membros de outra classe, e desclassificando-se, assim, pelo alto ou por baixo. O efeito de trajetória manifestado nesse momento, como e4m todos os casos em que indivíduos ocupantes de posições semelhantes em determinado momento estão separados por diferenças associadas à evolução, no decorrer do tempo, do volume e da estrutura de seu capital, ou seja, por sua trajetória individual, corre sério risco de ser mal compreendido. A correlação entre uma prática e a origem social – avaliada pela posição do pai, cujo valor real pode ter sofrido uma degradação dissimulada pela constância do valor nominal – é a resultante de dois efeitos (não forçosamente do mesmo sentido): por um lado, o efeito de inculcação diretamente exercida pela família ou pelas condições gerais de existência; por outro, o efeito de trajetória social propriamente dita, ou seja, o efeito exercido pelas disposições e as opiniões pela experiência da ascensão social ou do declínio – nesta lógica, a posição de origem é apenas o ponto de partida de uma trajetória, a referência em relação à qual define-se o sentido da carreira social. Uma carreira “bem sucedida” com aumentos das disposições econômicas, prestígio social elevado e inserções relevantes em “campos” e “subcampos” da vida acadêmica, profissional e social dependem do volume e da estrutura de capital acumulado e não apenas das condições herdadas do capital familiar. Mesmo que as mulheres não tenham tantas possibilidades de inserções diversas nas estruturas de poder assumindo funções de comando nas organizações privadas e instituições tecnocráticas, elas são peça chave na construção das estratégias familiares de poder historicamente. Segundo Oliveira (2016, p. 14): O papel social das mulheres é essencial para a reprodução familiar. Os papéis da mulher na formação do ethos e do habitus de classe acompanham a própria formação da linguagem, da personalidade e dos valores sociais das crianças. As construções sociais dos papéis sociais atribuídos às mulheres as colocam como o centro de afetos, emoções, sentimentos e alianças dentro das famílias. As estratégias familiares e de classe passam em boa parte pelas ações sociais e políticas das mulheres das grandes famílias, em suas próprias políticas e estratégicas, sejam elas muito antigas ou relativamente recentes. Muitas mulheres que cresceram e se desenvolveram no berço das estruturas familiares da classe dominante ou nas frações de classe mais privilegiadas como no caso da professora Yvelise construíram carreiras profissionais e acadêmicas de longa trajetória e procuraram se situar de forma relativamente 76 Revista NEP - Núcleo de Estudos Paranaenses, Curitiba, v. 7, n. 2, dez. 2021 Dossiê Imigração e Imigrantes no Paraná ISSN: 2447-5548 autônoma da dependência da órbita de influência da dominação masculina. Mesmo de origem familiar repleta de capitais hereditários muitos indivíduos da classe dominante sejam homens ou mulheres não tiveram carreiras profissionais e políticas com substância valorativa intelectual ou qualificação técnica de elevada competência. Ao mesmo tempo, alguns indivíduos demonstraram condições intelectuais e aptidões técnicas e profissionais que aproveitaram as condições de origem com seus capitais sociais e educacionais de berço familiar. No caso da professora Yvelise cabe uma incursão sociológica analítica a respeito da sua biografia utilizando o aporte teórico e conceitual de Marx, Bourdieu, Daniel Bertaux, Saint Martin e dos pesquisadores do Núcleo de Estudos Paranaenses – NEP. Desta maneira, iremos adentrar na síntese biográfica da professora Yvelise Arco-Verde a partir da gravação dos áudios da própria biografada que gentilmente cedeu seu espaço social para compartilhar a sua história de vida e que certamente contribui para compreendermos melhor como os capitais familiares de origem são cruciais para o desenvolvimento pessoal e das aptidões profissionais, políticas e culturais, onde a educação, a inserção nos círculos sociais da cultura, da escola, da universidade são alicerces que possibilitam conquistar mais “capitais” segundo Bourdieu, como também acumular, reproduzir e lapidar esses mesmos capitais. Isso não significa que os capitais de origem possam garantir uma trajetória de vida capaz de propiciar o avanço das posições sociais nos mais variados campos e subcampos da vida social por parte de quaisquer indivíduos e o próprio Bourdieu nos alerta sobre isso. Ao mesmo tempo essa abordagem teórica e conceitual possibilita que os indivíduos pertencentes as elites, a classe dominante e as frações de classe da burguesia de largada possam almejar condições muito mais favoráveis de alcançar espaços sociais, políticos e econômicos de poder ou com muitas vantagens e privilégios sociais e materiais. A transcrição dos áudios da professora Yvelise para a confecção desse artigo nos permitiu compreender melhor como o capital de origem familiar favorece na prática a construção da vida social e profissional dos indivíduos. No caso da professora da UFPR a única mulher a assumir o cargo de secretaria de educação do Paraná tornou nítida as contradições da sociedade brasileira. No momento da posse da secretaria Yvelise o governador Roberto Requião na época optou politicamente por um quadro político e mais qualificado tecnicamente; isso historicamente não reflete o caso brasileiro onde os cargos públicos são ocupados por razões na sua grande maioria estritamente políticos. De um lado, os filtros que estreitam ou dificultam a entrada das mulheres nos cargos mais 77 Revista NEP - Núcleo de Estudos Paranaenses, Curitiba, v. 7, n. 2, dez. 2021 Dossiê Imigração e Imigrantes no Paraná ISSN: 2447-5548 elevados da administração pública e, de outro, como para muito além da “competência” e da qualificação técnica e acadêmica, os governos mais adeptos a inserção de grupos políticos mais igualitários e democráticos contribuíram naquele momento para a inserção de um quadro feminino professora e pesquisadora da UFPR. Para a pesquisa acadêmica o caso da professora Yvelise aponta para um estudo de caso sociológico que contribui para a discussão de uma abordagem tanto marxista no que tange a sua totalidade macroestruturante quanto inspirada em Bourdieu, Saint Martin, Bertaux e os aportes teóricos e conceituais do NEP a partir das pesquisas na UFPR e também com outros autores de instituições que pesquisam e estudam a genealogia da classe dominante, a teoria do parentesco e do nepotismo e das trajetórias familiares. Narrativas biográficas como discussão sociológica: aspectos críticos e metodológicos A biografia individual ou coletiva I(prosopografia) dos indivíduos não pode ser confundida como uma história de vida linear e sem levar em conta evidentemente os aspectos contextuais da vida social nas suas mais variadas dimensões e múltiplas interações e interfaces. Essa metodologia de investigação e pesquisa recuperada pela história e pela sociologia a partir da década de 1980 e já utilizada também na antropologia experimenta permanentes controvérsias. A despeito da crítica de Bourdieu provocativamente denominada de “ilusão biográfica” enfatizamos a relevância das pesquisas e estudos que envolvem a utilização do método biográfico e prosopográfico como sendo ferramentas e estratégias para determinadas incursões sociológicas. A proposta de Daniel Bertaux nos chama a atenção por considerar sem exagero os estudos que envolvem a ferramenta das análises sociológicas por intermédio das biografias um aporte metodológico de relevante alcance sociológico desde que abarque aspectos macroestruturantes e também do microcosmo, onde os indivíduos com suas trajetórias de vida específicas inseridos nos seus mais variados “campos” e “subcampos” interagem diante de aspectos macrossociais em contextos e conjunturas universais complexas. De acordo com Montagner (2007; p. 149-150): Bertaux propõe um mergulho nas experiências humanas, no vivido, em um oceano de saberes nativos e não explorados. Para ele, a experiência humana é portadora de saber sociológico, que exalta como 78 Revista NEP - Núcleo de Estudos Paranaenses, Curitiba, v. 7, n. 2, dez. 2021 Dossiê Imigração e Imigrantes no Paraná ISSN: 2447-5548 um achado inaudito. À parte este truísmo de base, para o autor, dá-se o caso de se conjugar e reconciliar a observação e a reflexão sobre o mundo social. Se a experiência humana se esforça para se elevar do particular ao geral, a teoria sociológica parte do geral (historicizado) para analisar as formas concretas e sempre renovadas de atualização, pois, para o autor, a experiência humana não ultrapassa os limites locais, sendo sempre mediada ou mediatizada (Bertaux, 1980). Através de um conjunto de críticas a outras abordagens, em especial ao empirismo americano e ao teoricismo francês, a novidade de seu approche biographique parece ser a proposta de união entre níveis de análise comumente tomados separadamente, o socio-estrutural (macro, objetivo) e o sociosimbólico (micro, subjetivo): a proposta é de se esforçar por reunir o pensamento do estrutural e do simbólico, e os superar para atingir um pensamento da práxis (Bertaux, 1980), que leve em conta a dinâmica entre estruturas e símbolos ou, se melhor, sua dialética. Bertaux tece críticas quanto ao papel da Sociologia no tratamento do mundo vivido, pois, para ele, a disciplina tende a esmagar o sujeito sob o peso dos procedimentos técnicos e metodológicos, ou então, tende a gerar uma teoria sobre o social sem considerar o que dizem os indivíduos. Mas vemos o retorno do recalcado nas suas formulações quanto ao método das histórias de vida. Ele afirma serem necessários cérebros ágeis e treinados para absorver a quintessência da experiência vivida, para colocá-la à distância afim de realizar sua crítica; e sobretudo para dar-lhe uma forma de expressão escrita (Bertaux, 1980). Esses cérebros ágeis, apesar de tudo, retirariam suas intuições magistrais de suas próprias experiências vividas, o que coloca como corolário que todo conhecimento sobre o social vem do mundo vivido, mesmo ao se transformar em uma quintessência. Como se vê, o bom filho à casa torna, e a experiência vivida só pode realizar-se através do intercurso de intelectuais capazes de sintetizar criticamente a práxis humana, que escapa do sujeito localizado no mundo social. Essa importante consideração de Bertaux, a partir de Montagner, procura fundamentar sociologicamente a relevância dos estudos que incluem a metodologia das biografias como estratégia de pesquisa e que foi de certa maneira recuperada nas últimas décadas por uma gama diversificada de professores e pesquisadores. As análises das trajetórias de vida que levam em conta as experiências dos indivíduos conectadas a contextos macro e múltiplos podem esclarecer com propriedade a importância desse método para explicações sociológicas que envolvem os próprios espaços microssociais, e também as macroestruturas que envolvem sistemas interacionistas mais complexos e dinâmicos no capitalismo contemporâneo, onde as instituições de Estado e as demais organizações privadas nacionais e internacionais estão dispostas. Nesse artigo nos propomos a analisar sociologicamente a trajetória de vida de um membro da fração burguesa; que apesar de não ser exatamente uma representante da classe dominante dos extratos preponderantes ou superiores, reflete em certa medida como os “capitais” de origem familiar de largada contribuem como elemento relevante na construção social dos sujeitos “privilegiados” pelo nascimento e possibilitam explicar como as elites são forjadas e a classe dominante controla e domina as instituições estratégicas de Estado e as grandes corporações pela via da herança dos “capitais familiares”. Este processo ocorre através da internalização dos dispositivos educacionais, culturais, políticos e econômicos em ambientes sociais favoráveis, herdados da longa duração e outros através de coalizões recentes pela via do compartilhamento com grupos sociais já estabelecidos. 79 Revista NEP - Núcleo de Estudos Paranaenses, Curitiba, v. 7, n. 2, dez. 2021 Dossiê Imigração e Imigrantes no Paraná ISSN: 2447-5548 A ex-secretária de Educação do Paraná e ainda professora do Departamento de Educação da UFPR, Yvelise de Souza Arco-Verde, representa o que denominamos de largada como sendo uma representante legítima da elite acadêmica e intelectual pertencente a uma fração proeminente da burguesia paranaense. Insistimos que a análise biográfica a partir dos seus próprios relatos gravados e transcritos nesse artigo, apesar das suas limitações em termos de parcialidade, contribuem em certa medida para refletirmos sociologicamente sobre como as elites e a própria classe dominante percorrem itinerários que envolvem necessariamente a aquisição de determinados “capitais” sejam de origem familiar; muito comum entre membros da classe dominante ou adquiridos através de portas de entrada que envolvem o compartilhamento de espaços sociais onde determinadas elites ou a classe dominante navegam em campos e subcampos característicos da distinção social desses grupos privilegiados. Segundo Charle (2006; p. 32): As biografias sociais permitem colocar à luz do dia as estratégias familiares de ascensão, de estagnação ou de reconversão que os diversos meios de elite ou da burguesia utilizam. A dinâmica dominante interna às elites, do polo intelectual ao polo econômico (pela ascensão) ou inversamente, do polo econômico ao polo cultural (pelo enobrecimento), dá conta de muitos processos anteriormente julgados em termos morais: traição de sua classe de origem, aburguesamento de um lado, traição do progresso, fuga para uma vida “de rendas” de outro. A história cega dos dominantes que era a história política clássica pode atualmente ser reinvestida graças a esse aporte de mediações finas entre posição social, posição ideológica e dinâmica social. Os historiadores começam a se engajar em definir as redes sociais que ligam as diversas elites, em delimitar os grupos de pressão, os movimentos de criação de diversas sociedades de pensamento ou partidos, colocando-os em relação com as divisões do espaço social da classe dominante nas diferentes épocas. Dessa forma, enfatiza-se que os relatos de vida quando utilizados com distanciamento crítico contribuem para a explicação sociológica de como as elites se posicionam nos mais variados campos de acordo com a maneira pela qual conseguem herdar, adquirir, acumular e ampliar seus diversos “capitais” ao longo da suas trajetórias de vida de acordo com as contingências da vida social em ambientes microespaciais e também de acordo com os ditames das regras do jogo institucionais subservientes a macroestrutura econômica e política. As regras do jogo que estão estabelecidas e que também são reconvertidas são internalizadas pelos agentes também de forma particular e sua adequação dependem da maneira como os membros da elite conseguem interagir no interior das disputas simbólicas, onde a dialética do poder exerce pressões das mais variadas, cada qual com a sua velocidade e potência setorial do subcampo específico e seus atores em disputa. O percurso da professora e ex-secretária da Educação do Paraná Yvelise de Souza Arco-Verde que assumiu essa pasta institucional na segunda gestão consecutiva do ex-governador Roberto Requião 80 Revista NEP - Núcleo de Estudos Paranaenses, Curitiba, v. 7, n. 2, dez. 2021 Dossiê Imigração e Imigrantes no Paraná ISSN: 2447-5548 de Mello e Silva, em 2008, reflete a maneira pela qual determinadas elites conseguem conquistar espaços de poder no interior das instituições de Estado, em particular uma mulher; a única professora da UFPR a assumir esse cargo em toda a história da Secretaria de Educação do Paraná. Uma representante de uma fração ou extrato da burguesia pertencente a elite acadêmica e no comando em termos políticos administrativos institucionais de Estado mesmo sendo uma mulher; fato que chama a atenção numa Secretaria que historicamente foi comandada por homens mesmo onde as mulheres ainda são a maioria dos profissionais da educação. De qualquer modo vale destacar a partir do exemplo da biografada como as elites acadêmicas e administrativas se posicionam no contexto das disputas políticas econômicas e no interior do campo e do subcampo, onde o setor de educação num setor que também é permeado por conflitos simbólicos específicos e também macroestruturantes das disputas estratégicas do concreto. Yvelise Freitas de Souza Arco-Verde: análise biográfica de uma elite acadêmica institucional e uma representante de um extrato da classe dominante paranaense Como já enfatizado, trata-se de analisar sociologicamente a trajetória da professora Yvelise a partir dos seus relatos que envolvem seus próprios áudios gravados e transcritos pelos autores desse presente artigo. Sendo assim, nos dispomos a apresentar sinteticamente seus relatos a partir da íntegra dos seus áudios, conforme transcrição em anexo, para a devida análise de uma maneira que possamos captar o conteúdo e o significado sociológico dos “capitais” herdados, conquistados e acumulados durante a sua trajetória de vida e como os mesmos estão dispostos no interior do campo e dos referidos subcampos da educação, isto é, a UFPR e a própria Secretaria de Educação do Paraná. Os dados específicos da entrevista são: Ficha Técnica Tipo de entrevista: Pessoal; Entrevistador: João Batista da Silva Nascimento; Técnica de gravação: Utilização de aparelho celular; 81 Revista NEP - Núcleo de Estudos Paranaenses, Curitiba, v. 7, n. 2, dez. 2021 Dossiê Imigração e Imigrantes no Paraná ISSN: 2447-5548 Local: Curitiba – PR - Brasil; Data: 09/10/2021 a 22/10/2021 Duração: 1h 27min 59 segundos; Áudios de celular: total de 9 áudios. Entrevista realizada no contexto da pesquisa sociológica acerca das Trajetórias e Carreiras dos Secretários de Educação do Paraná. A Família de Yvelise No decorrer da pesquisa objetiva-se fazer publicações de artigos acerca dos relatos feitos por personalidades ocupantes do cargo de Secretário (a) durante o período em que a pesquisa se propõe investigar. Temas: Trajetória pessoal incluída a família, formação primária e acadêmica, trajetória profissional. A primeira observação em relação a quaisquer incursões sociológicas das elites específicas refere-se a suas origens familiares como capitais de largada da sua trajetória de vida diante de um contexto social particular mais ao mesmo tempo amplo em relação a dinâmica econômica, política e cultural. Yvelise Freitas de Souza Arco-Verde nasceu em 13 de julho de 1957, filha de Milton Fernandes Stadler de Souza e Maria Zuleika Freitas de Souza, neta de Petrônio Romero Carneiro de Souza e Helena Schneider de Souza por parte do pai, e Francisco de Almeida Freitas e Iolanda Taques de Freitas, avós por parte da sua mãe. Sua mãe cursou até o ensino médio como dizemos hoje em dia, mas não construiu uma carreira profissional se dedicando mais a família no interior da casa, mas seu pai era advogado, sociólogo, professor universitário da PUC-PR, escritor, jornalista. Trabalhou na Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP) com o seu irmão Clóvis seu quinto irmão, ambos com uma visão política abertamente defensora da democracia. Foi Procurador Geral do Paraná após ter recebido a anistia entre o final da ditadura civil-militar-empresarial no Brasil e o início do processo de redemocratização. 82 Revista NEP - Núcleo de Estudos Paranaenses, Curitiba, v. 7, n. 2, dez. 2021 Dossiê Imigração e Imigrantes no Paraná ISSN: 2447-5548 Seu pai nasceu em 12 de agosto de 1929 e faleceu no dia 31 de outubro de 1990 num acidente de trânsito. Seus avós paternos tiveram seis filhos, dentre estes, Mário Augusto Stadler de Souza era militar e trabalhava no FMI (Fundo Monetário Internacional), foi Secretário de Agricultura do Paraná, Silvio Romero Stadler de Souza foi desembargador no Estado do Paraná, Newton Fernando Stadler de Souza o próprio pai já citado acima, Nelson Romero Stadler de Souza comandante da Polícia Militar do Paraná e Clóvis Stadler de Souza advogado e também funcionário da ALEP assim como seu pai e Mirthes de Souza Uchoa professora primária. Por parte dos filhos dos avós maternos não aparece nos relatos da professora Yvelise nenhuma menção em termos das suas formações educacionais e profissões respectivamente. Seu avô materno senhor Francisco de Almeida Freitas era general de carreira do exército brasileiro, um conhecedor de línguas como o inglês e o francês, além de um exímio matemático segundo relatos da professora Yvelise. Serviu no Rio de Janeiro, mas nos exames internos devido a sua colocação teve preferência de escolher as praças onde serviria mais tarde como Ponta Grossa, local inclusive onde conheceu sua primeira esposa senhora Iolanda Taques de Freitas que mais tarde veio a falecer ainda muito jovem vítima de tuberculose aos 35 anos de idade. Seu avô general herdou da sua primeira esposa falecida muitas posses de terras. Mais tarde casou-se novamente com a senhora Carmem da Fonseca Freitas e na sequência da sua carreira militar veio a servir no exército em Curitiba. Teve três filhos do primeiro casamento e dois no segundo. A professora Yvelise tem dois irmãos sendo que um deles é médico cardiologista atuante na Santa Casa e no Instituto Neurológico de Curitiba (INC) com o nome de Newton Fernando Stadler de Souza Filho e o outro é Décio Freitas de Souza que é empresário do ramo da educação na parte de seleção de pessoas. Yvelise é casada com Luiz Irlan Arco-Verde administrador de empresas, engenheiro de produção, atuou no Banco Bamerindus e no LLoyds Bank; mais tarde atuou em sua própria empresa de construção civil e posteriormente trabalhou no Lactec (Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento) com projetos na área de construção. A professora Yvelise tem dois filhos: João Henrique de Souza Arco-Verde graduado em Direito e trabalha na coordenadoria de Direitos Humanos na Câmara Municipal de Curitiba, graduado também em História e mestre em Direitos Humanos; a filha é Letícia de Souza Arco-Verde é psicóloga e pedagoga atuando na educação especial na escola pública e no colégio Bom Jesus. 83 Revista NEP - Núcleo de Estudos Paranaenses, Curitiba, v. 7, n. 2, dez. 2021 Dossiê Imigração e Imigrantes no Paraná ISSN: 2447-5548 Família explica e importa: uma análise sociológica dos relatos sobre a família da professora Yvelise Freitas de Souza Arco-Verde A partir da perspectiva da sociologia crítica no que tange as abordagens teóricas e conceituais de Marx e Bourdieu como preâmbulo da discussão sobre famílias e poder podemos de largada partirmos da hipótese de que as explicações de cunho sociológico no que diz respeito as biografias e trajetórias dos indivíduos que atingem uma estatura relevante nos espaços de poder nos diversos campos e subcampos da sociedade dependem dos “capitais” familiares de origem e dos demais “capitais” conquistados e lapidados no decorrer de suas carreiras e da sua própria vida particular. Assim, quem consegue desenvolver uma carreira profissional relevante em termos políticos, sociais e econômicos para si próprio, isto é, na direção da defesa dos seus interesses pessoais e com relevante influência social é porque conseguiu conquistar, lapidar e até mesmo reproduzir “capitais” no sentido bourdieusiano. Desta forma, a família originalmente tem grande peso nessa trajetória; o mesmo vale para quem não consegue obter as condições de uma vida social e economicamente digna para um ser humano viver. Não podemos afirmar strictu sensu que a professora Yvelise faz parte da “alta corte” da burguesia curitibana, paranaense ou brasileira, mas certamente podemos afirmar de forma provocativa no sentido sociológico que a nossa biografada pertence a uma elite acadêmica, intelectual, política e administrativa no campo da educação e nos subcampos da UFPR e da Secretaria de Educação do Paraná onde assumiu como secretaria na terceira gestão do então governador Roberto Requião de Mello e Silva. Sendo assim, começamos pela família como núcleo fundante dos capitais relevantes dos indivíduos. A começar pelo seu avô materno notamos uma distinção bastante relevante já que o senhor Francisco de Almeida Freitas era general do exército brasileiro, exímio matemático e poliglota. Serviu no exército primeiramente no Rio de Janeiro transferindo-se mais tarde para Ponta Grossa e por último Curitiba. Seu avô general herdou muitas posses de terras da sua primeira esposa falecida e teve no total três filhos. Os avós paternos não são mencionados pela professora, mas seus filhos sim em termos de formação educacional e profissional. Recuperando a passagem da síntese da transcrição acima vejamos o seguinte: “Seus avós paternos tiveram 6 filhos, dentre esses Mário Augusto Stadler de Souza era militar e trabalhava no FMI (Fundo Monetário Internacional), foi Secretário de Agricultura do Paraná, Silvio Romero Stadler de Souza foi desembargador no Estado do Paraná, Newton Fernando Stadler de 84 Revista NEP - Núcleo de Estudos Paranaenses, Curitiba, v. 7, n. 2, dez. 2021 Dossiê Imigração e Imigrantes no Paraná ISSN: 2447-5548 Souza o próprio pai já citado acima, Nelson Romero Stadler de Souza comandante da Polícia Militar do Paraná e Clóvis Stadler de Souza advogado e também funcionário da ALEP assim como seu pai e Mirthes de Souza Uchoa professora primária”. Encontramos nos seus tios e no próprio pai capitais muito importantes no que diz respeito a construção de uma trajetória socialmente distinta. Reparamos que Mário Augusto foi militar, trabalhou no FMI e ainda atuou como secretário da Agricultura no Estado do Paraná; Nelson Romero comandante da polícia militar do Paraná; Clóvis Stadler advogado e funcionário da ALEP; Silvio Romero desembargador do Estado do Paraná e o próprio pai o senhor Newton Fernando advogado, sociólogo, professor universitário, funcionário da ALEP e anistiado mais tarde ainda na ditadura civilmilitar-empresarial no Brasil. Concluiu a sua carreira como Procurador Geral do Paraná e faleceu num acidente de trânsito em 1990. Uma observação importante em relação aos filhos dos avós paternos que foram 5 homens e uma mulher, sendo essa uma professora primária. A senhora Mirthes de Souza Uchoa a única mulher e que seguiu a carreira do magistério; e, ao contrário de todos os outros homens não assumiu cargos considerados de maior prestígio social de estatura política e econômica como os demais servidores do Estado. Segundo Saint Martin (2008, p. 46): Em seu uso científico, para a maioria dos pesquisadores, “elites” designa “todos aqueles que se encontram no topo da hierarquia social e aí exercem funções importantes, as quais são valorizadas e reconhecidas publicamente através de rendas importantes, diferentes formas de privilégio, de prestígio e de outras vantagens oficiais ou oficiosas” como explica Giovanni Busino, pode-se acrescentar, para ser mais preciso, que as elites ocupam as posições de poder político, administrativo, econômico, militar, cultural, religioso. É necessário acrescentar, como sublinha Christophe Charle, que “por definição, não se faz parte das elites “em si”, deve-se fazer parte delas para os outros”. Desta maneira devemos considerar relevante; no mínimo mencionarmos que as mulheres terminam por ocupar os espaços de menor prestígio e poder na sociedade “pegando carona” no exemplo familiar da professora Yvelise e que espelha até certo ponto o que acontece na sociedade, mesmo em famílias com maiores “capitais” de herança. Vale também destacar que o termo mais utilizado pelos acadêmicos das ciências sociais, na política em especial, carece de maiores explicações quando utilizado de maneira genérica, mas segundo Saint Martin de forma imprecisa. As “elites” podem ser inúmeras e não explicam com maior profundidade como os capitais são herdados, conquistados, assimilados, acumulados, lapidados, reproduzidos, reconvertidos e compartilhados no entrelaçamento e na complexidade dos diversos campos e subcampos da sociedade nos mais variados 85 Revista NEP - Núcleo de Estudos Paranaenses, Curitiba, v. 7, n. 2, dez. 2021 Dossiê Imigração e Imigrantes no Paraná ISSN: 2447-5548 espaços de poder e esferas distintas. Para ser de uma elite precisa estar inserido em uma determinada classe social, ou seja, de maneira genérica classe social subalterna, classe média e classe dominante. No caso da professora Yvelise, até então sua herança familiar decorre de “capitais” econômicos e sociais advindos dos extratos estamentais dos círculos militares, do aparelho jurídico e do funcionalismo público do legislativo. Não são donos do capital no sentido empresarial, mas sua herança decorre dos seus posicionamentos sociais em circuitos políticos, militares e administrativos em níveis federal e estadual. A posse da terra aparece pela via do seu avô materno que herda várias propriedades da sua primeira esposa. Ao mesmo tempo a professora Yvelise casou-se com “Luiz Irlan Arco-Verde administrador de empresas, engenheiro de produção, atuou no Banco Bamerindus e no LLoyds Bank; mais tarde atuou em sua própria empresa de construção civil e posteriormente trabalhou no Lactec (Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento) com projetos na área de construção”. Um dos seus irmãos é cardiologista e o outro empresário da educação posições relevantes nos seus respectivos campos da saúde e da educação. Um dos seus filhos atua como advogado na área de direitos humanos na câmara municipal de Curitiba e a outra filha como psicóloga e pedagoga do colégio Bom Jesus. Apesar de não se firmarem como grandes capitalistas podemos a princípio admitir que a classe social predominante dessa síntese biográfica familiar está mais posicionada como extrato da classe dominante do que de uma classe popular. De acordo com Mills (1979, p. 91-92): A “situação de classe”, em seu sentido mais simples e objetivo, depende do montante e da fonte de renda. Atualmente, o emprego, e não a propriedade, constitui a fonte de renda para a maior parte dos indivíduos que recebem uma renda direta. As possibilidades de vender seus serviços no mercado de trabalho, e não a compra e venda lucrativa de uma propriedade e suas produções, é que determinam a vida da maioria dos indivíduos de classe média. Tudo o que eles podem comprar e os sonhos que podem realizar dependem da renda proveniente de um emprego. Na nova classe média, os homens trabalham para outros na propriedade dos outros. Isso explica muitas diferenças entre a antiga e a nova classe média, assim como o contraste entre o antigo mundo dos pequenos proprietários e a estrutura ocupacional da nova sociedade. Se a antiga classe média lutou contra as grandes propriedades, em nome dos pequenos proprietários independentes, a nova classe média, como os operários no capitalismo contemporâneo, desde o início esteve dependente da grande propriedade para a segurança de seu emprego. Nessa passagem de Mills procuramos posicionar os indivíduos de acordo com as suas profissões, suas credenciais acadêmicas e seus atributos de negócios que envolvem certamente profissões de prestígio como a medicina, o médio proprietário, o professor e os circuitos jurídicos e militares pertencentes ao Estado. A complexidade cada vez maior envolvendo as carreiras de Estado, 86 Revista NEP - Núcleo de Estudos Paranaenses, Curitiba, v. 7, n. 2, dez. 2021 Dossiê Imigração e Imigrantes no Paraná ISSN: 2447-5548 as profissões liberais e as ligações empresariais nos conduzem a dificuldades de encontrarmos uma classificação mais próxima da realidade em termos de classe social. Mas, certamente partimos de marcar uma posição social no que tange a família da professora Yvelise nos circuitos que envolvem os extratos médios próximos a burguesia e não exatamente no interior da classe dominante. Desta forma sugerimos apreendermos a carreira e a trajetória da própria professora Yvelise conforme seus relatos. Trajetória acadêmica e profissional da professora e ex-secretária de Educação do Paraná Yvelise A professora Yvelise desde cedo seguiu um caminho dos estudos voltados para a pesquisa e a docência e antes mesmo da década de 1980 assumiu uma cadeira como professora substituta na UFPR. No início da década de 1980 assumiu como professora concursada da UFPR e durante a sua carreira também conquistou cargos administrativos de chefia no setor de ciências humanas, letras e artes da própria universidade. Teve todo apoio familiar na construção da sua trajetória com pai e mãe presentes na sua formação intelectual e cultural e em torno dela os avós de grande influência social como descritos pela própria Yvelise. Suas referências continuam também através dos tios que contribuem para a formação dos pilares de sua ascensão na conquista dos “capitais” necessários para a ascensão intelectual e profissional. Seu auge profissional ocorreu em 2008 quando pela primeira e única vez uma mulher professora da UFPR assumiu a cadeira de secretária de educação do Paraná e com isso consolidou sua trajetória profissional, tornando-se com isso uma integrante da elite acadêmica e profissional da educação obtendo um grau mais elevado de distinção. Mas essa posição que a ratifica como membro de uma elite acadêmica e profissional da sua área não necessariamente a coloca numa condição de ser membro da classe dominante como já explicamos. A partir da abordagem de Poulantzas compreendemos que a construção genética-histórica dos indivíduos e como esses se posicionam no (s) campo (s) e subcampo (s) segundo Bourdieu podem definir seu lugar na classe social a qual estão inseridos ou vinculados. No caso da professora Yvelise vale destacar toda a carga da herança familiar e suas interações com o campo da educação ao longo da carreira, o matrimônio com um representante do extrato da burguesia e a inserção dos filhos na composição dos capitais educacionais e profissionais sempre com um destaque e prestígio social no interior das instituições de Estado ou na empresa privada, mesmo como trabalhadores especializados. 87 Revista NEP - Núcleo de Estudos Paranaenses, Curitiba, v. 7, n. 2, dez. 2021 Dossiê Imigração e Imigrantes no Paraná ISSN: 2447-5548 Segundo Poulantzas (1977; p. 57-58): Com efeito, há uma leitura destes textos que deve ser afastada desde o início, pois que, em última análise, se liga à problemática do “grupo social” que não se encontra em Marx: é a leitura históricogenética. Esta leitura, tomando os textos de Marx ao pé da letra, tal como se apresentam diretamente, veria neles uma historiografia do processo de “gênese” da classe social. Estes diversos níveis teóricos da análise de Marx constituiriam etapas históricas da formação de uma classe: massa indiferenciada de indivíduos no início, ela organizar-se-ia em seguida em uma classe em si, para acabar, finalmente, na classe-para-si. Esta leitura das análises de Marx reporta-se aliás a uma problemática historicista: será conveniente assinalar aqui que é precisamente na teoria das classes que mais claramente se manifesta o seu caráter inadequado. Poder-se-á nela distinguir duas correntes embora os seus pressupostos sejam comuns. Trata-se, em ambas, de uma importação para o interior do marxismo do esquema ontológico-genético da história, no sentido hegeliano do termo, e que se desenvolve sobre o tema “são os homens que fazem a sua própria história”. Não pretendemos nos estender nesse debate que encontra imbricadas interações e possibilidades analíticas que envolvem filosofia, antropologia, sociologia e a própria história evidentemente. Nesse caso podemos para efeito desse artigo provocar o debate acerca da determinação das classes sociais e o referido posicionamento de alguns indivíduos perante essas estruturas dinâmicas e complexas. O processo histórico e social deve-se levar em consideração no momento que posicionamos determinadas biografias no contexto da análise sociológica das classes sociais. A biografia da professora Yvelise não está completa sob o ponto de vista das suas gerações anteriores e também foi realizada a partir do olhar no interior da sua família e que foi expressa através da sua própria narrativa. Ao mesmo tempo conseguimos apreender relevantes aspectos sociológicos a serem discutidos em torno dos estudos sobre biografias e das trajetórias de indivíduos pertencentes a elites específicas e a própria classe dominante. No que tange a esse artigo, vale destacar a importância desse debate no interior dos estudos sobre elites e classe dominante, e no caso de um exemplo particular como no caso da professora Yvelise, podemos estabelecer vínculos e distinções entre esses dois conceitos e ainda aproveitar para afirmar polemicamente como pretende esse artigo provocativo que a biografia da professora Yvelise narrada sinteticamente por ela mesma contém ricos elementos sociológicos de análise onde sua fala corresponde ela própria uma narrativa de um membro de uma elite educacional assim como a sua biografia reflete a de um membro representante da um extrato da classe dominante posicionada social e historicamente. Essa posição social herdada e conquistada ao longo da sua trajetória independe da posição política e ideológica no sentido político, mas sim da construção do seu ethos, do seu social e cultural lapidado histórica e socialmente. 88 Revista NEP - Núcleo de Estudos Paranaenses, Curitiba, v. 7, n. 2, dez. 2021 Dossiê Imigração e Imigrantes no Paraná ISSN: 2447-5548 Considerações finais Compreendemos a relevância das pesquisas e dos estudos sobre famílias, genealogias, nepotismo, instituições e poder como uma agenda de trabalho necessária e urgente nas ciências sociais, em particular nesse caso na sociologia política e histórica. As estratégias utilizadas que envolvem as biografias e prosopografias como formas de capturar a essência relacionada ao poder e a dominação de classe encontra respaldo, principalmente quando revela os caminhos, itinerários ou as trajetórias dos indivíduos que detém poder na sociedade capitalista contemporânea. Parafraseando Oliveira “a classe dominante tem nome e sobrenome” e precisa ser investigada no sentido de desnudar os meandros desse poder e suas estratégias para o alcance dos privilégios e vantagens a disposição dos mais afortunados nessa sociedade de classes. Nesse artigo procuramos demonstrar de que maneira as narrativas descritas mesmo que de forma sintética pela própria biografada podem contribuir; mesmo que incipiente para o debate acerca da importância desse instrumento sociológico de captura de dados e informações. Para efeito desse artigo trata-se de suscitar uma profícua discussão sobre essa metodologia de pesquisa em vários de seus aspectos. Nesse caso específico que envolve os relatos da professora Yvelise identificamos que se trata imediatamente de uma elite acadêmica-intelectual ou educacional inserida no campo da educação e no subcampo da UFPR passando por um período governamental na pasta de secretária de educação do Paraná. Isso não significa que podemos inseri-la como membro da classe dominante, mesmo porque teríamos que analisar sociologicamente seus capitais de herança e de acúmulo durante a sua trajetória de vida. Se olharmos somente para a carreira acadêmica e profissional não conseguiremos captar da maneira mais apropriada suas profundas vinculações sócio-históricas; mas se recuperarmos seus áudios transcritos iremos perceber que se trata de uma pessoa com fortes heranças com traços econômicos, socioeducacionais e políticos imbricados nos aparelhos de Estado pela via da herança da posse da terra, segmento militar, político-jurídico e educacional. Yvelise de Souza Arco-Verde não é necessariamente alguém que pertence ao núcleo duro da classe dominante, mas está inserida nos tentáculos dos extratos da classe dominante que permeiam a burocracia estatal através dos aparelhos de justiça, militares e políticos no funcionalismo público pela via da Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP) e a educação através do seu pai; também ex-professor no ensino superior e sua tia ex-professora primária. Não se trata aqui de estabelecer vínculos 89 Revista NEP - Núcleo de Estudos Paranaenses, Curitiba, v. 7, n. 2, dez. 2021 Dossiê Imigração e Imigrantes no Paraná ISSN: 2447-5548 ideológicos e políticos pela via da classe social a qual pertence; que a princípio poderíamos classificar como sendo pertencente a um extrato das camadas médias da sociedade, pelo contrário; o que pretendemos é explicar a partir de Marx com a contribuição de Poulantzas como os indivíduos se posicionam no “campo” e “subcampo” de acordo com a vinculação de seus “capitais” a partir de Bourdieu. Sendo assim, sem receio da polêmica, muito pelo contrário, procuramos provocar esse debate no que tange ao pertencimento de classe situando a professora Yvelise na condição de um membro pertencente as frações de classe da burguesia ou camada social da burguesia sem um vínculo imediato com o grande capital das corporações bilionárias restritas a parte superior do sistema amplo de dominação do imperialismo ou mesmo da burguesia nacional. Yvelise apesar de ser uma funcionária pública de carreira da Universidade Federal do Paraná está; a despeito da sua própria vontade e concordância posicionada social e economicamente mais próxima da classe dominante do que a esmagadora maioria dos brasileiros. A riqueza no Brasil é para muito poucos, mas pertencer embrionariamente ao Estado a partir dos elos familiares a coloca numa perspectiva privilegiada perante a sociedade brasileira, aproximando-se a burguesia pela via de um extrato ou fração da classe dominante onde o Estado sempre esteve, desde a sua fundação ligado as estruturas da burguesia inseridas no sistema colonial e agora com o imperialismo. Bibliografia BOURDIEU, P. A. Distinção: Crítica social do julgamento. São Paulo: Edusp; Porto Alegre, RS: Zouk, 2008. CHARLE, Christophe. In: HEINZ, Flavio (org.). Por outra história das elites. Rio de Janeiro: FGV, 2006. MILLS, W. C. A nova classe média: White Collor. Rio de Janeiro: Zahar, 1979. MONTAGNER, Miguel. Trajetórias e biografias: notas para uma análise bourdieusiana. SOCIOLOGIAS, Porto Alegre, ano 9, nº 17, jan./jun.2007, p.240-264. OLIVEIRA, Ricardo Costa de (org.). Família importa e explica: Instituições políticas e parentesco no Brasil – São Paulo: LiberArs,2018. POULANTZAS, Nicos. Poder Político e Classes Sociais. São Paulo: Martins Fontes, 1977. 90 Revista NEP - Núcleo de Estudos Paranaenses, Curitiba, v. 7, n. 2, dez. 2021 Dossiê Imigração e Imigrantes no Paraná ISSN: 2447-5548 REVISTA 70 anos de Educação em Revista – memória da educação paranaense, Secretaria de Estado da Educação – SEED, Curitiba, 2017. SAINT-MARTIN, Monique de. Da reprodução às recomposições das elites: as elites administrativas, econômicas e políticas na França. TOMO, Revista do Núcleo de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais/Universidade Federal de Sergipe Nº 13 (2008). São Cristóvão SE, NPPCS/UFS, n.13 jul./dez., 2008. Recebido em: 12 nov. 2021. Aceito em: 8 dez. 2021. Entrevista em anexo Início das transcrições dos áudios, concedidos pela professora Yvelise de Souza Arco-Verde “Nasci em 13/ 07 de 1957, portanto tenho 64 anos, sessenta e quatro anos bem vividos, vivi uma vida bastante tranquila, em termos pessoais uma vida tranquila. Nasceu e viveu praticamente a vida toda aqui em Curitiba. Meu pai era formado em direito e foi professor da PUC/PR, ele também foi vice reitor da PUC, faleceu em um acidente carro em 1990, dedicou-se sempre a questão do Magistério superior, deu aulas nos cursos de Direito e Jornalismo, era um homem com princípios socialistas muito fortes e como jornalista, ele na década de 1960 ele era presidente do Sindicato Nacional dos Jornalistas e na época da ditadura militar ele, houve uma perseguição muito forte aos jornalistas semelhante a que há hoje e meu pai defendia bastante a categoria e também defendia a questão da Petrobras na luta pelo Petróleo é nosso. Nessa época meu pai foi caçado politicamente, ele era servidor do Estado, era jornalista e lecionava, nesse momento ele tinha seu escritório de advocacia também. Ele acabou perdendo os direitos políticos dele, foi afastado do Estado, até que chegou à lei da Anistia. Mas como foi um homem muito ativo, dinâmico e inteligente nesse período ele foi sempre muito buscado pelos políticos da região, pelas pessoas que assumiam lideranças no Estado do Paraná. Ele era escritor, publicou quase 10 livros, inclusive todos muito bem aceitos um deles é o Anarquismo da Colônia Cecília que ele escreveu na década de 60. Eles era muito bem casado com a minha mãe, cuja formação era voltada mais para o Lar, ela estudou no Colégio interno no Cajuru, ele concluiu o Ensono Médio, mas era uma mulher com uma formação sólida e voltada para cuidar da família, eu tive uma escola dentro de casa. 91 Revista NEP - Núcleo de Estudos Paranaenses, Curitiba, v. 7, n. 2, dez. 2021 Dossiê Imigração e Imigrantes no Paraná ISSN: 2447-5548 Tive um pai socialista que defendia os direitos humanos, inclusive ele depois que ele faleceu, mas ganhou um prêmio de direitos humanos, o maior prêmio do Brasil de Direitos Humanos, eu tinha tudo isso dentro de casa. Um pai que conversava diariamente comigo e com meus irmãos, um irmão mais velho que é médico e outro mais novo que é empresário dono de uma empresa educacional. Nós tivemos essa formação na perspectiva de olhar o outro e olhar para a sociedade de ter empatia. Eu entendo que grande parte da minha formação e das minhas ideias vem dessa estrutura sólida que eu tive de meus pais de minha família. De acordo com as concepções dele eu estudei sempre em escola pública, desde o primário eu estudei no colégio Julia Vanderlei, depois estudei no colégio Rio Branco que ficava algumas quadras de minha casa; nós morávamos no Batel. Depois eu mudei para faze a escola Normal no Colégio Lysímaco Ferreira da Costa, foi aí que eu aprendi a ser professora, uma escola excelente. Eu ainda com 17 anos fui para a Universidade Federal para fazer Pedagogia. Fui bolsista, monitora e segui o curso, nesse momento aos 18 anos, conheci meu marido, namoramos 4 anos e nos casamos e fomos morar no Água Verde, em apartamento nosso, depois de três anos tivemos nosso primeiro filho, ele se chama João Henrique ele tem uma visão de mundo muito parecida com a minha , ele é formado em direito, trabalha com a coordenadoria de direitos humanos, desenvolve algum trabalho na Câmara Municipal trabalha num mandato defendo muito os direitos humanos, fez graduação em história e fez mestrado em direitos humanos , tenho também minha filha Letícia que nasceu três anos após o nascimento do João Henrique que também tem formação muito sólida, ela foi para área da psicologia mas acabou trabalhando com Educação Especial , se envolveu com a área da Educação e fez Pedagogia, hoje ela trabalha no Colégio Bom Jesus , ela atende como psicóloga as demandas da educação especial e sobre a questão da inclusão. Hoje eu estou aposentada e um dos maiores orgulhos de minha vida é ser avó, tenho três netos um deles é neto postiço que é o Luiz Paulo um garoto adorável, filho da esposa de meu filho, ela trouxe do primeiro casamento. Aí tem a Antonela e a Valentina que são filhas da Letícia uma de 4 anos e outra de nove meses e tenho o Gael que está a caminho e nasce no início do ano que vem, filho de meu filho. Enfim minha vida pessoal sempre foi muito ligada a minha vida profissional, do ponto de vista familiar eu e meu marido temos laços muito estreitos com nossos filhos e com a família, nossos filhos sempre vem almoçar conosco a maioria dos finais de semana, e nos falamos todos os dias, tivemos que enfrentar alguns problemas sérios nesse transcurso , um deles foi um acidente de moto muito sério de moto em 2009 de meu marido já faz 12 anos e na sequência ele teve um câncer na medula que o deixou cadeirante, isso foi muito difícil nós tivemos que lidar com essa situação e nos adaptarmos ao novo cenário e condição dele. Aprendemos a refazer a vida de uma forma nova, diferente, passamos um tempo em Brasília para tratar o problema dele no Hospital Saha Kubistchek Fez um tratamento no centro de Neurologia necessárias as adaptações para viver com a nova condição de cadeirante. 92 Revista NEP - Núcleo de Estudos Paranaenses, Curitiba, v. 7, n. 2, dez. 2021 Dossiê Imigração e Imigrantes no Paraná ISSN: 2447-5548 Eu tenho minhas frentes de apoio que eu ajudo na comunidade, sei que é pouco frente as necessidades trazidas com a pandemia, além do mais o país passa por um momento muito difícil de perdas socias além do negacionismo e perda de direitos em geral. Eu perdi minha mãe faz alguns meses, nesse último ano que ia tinha 89 anos e já estava com Alzheimer, faz 30 dias que perdi minha sogra, perdi também três amigas muito próximas. Meu avô paterno se chamava, Petronio Romero Carneiro de Souza e da vó Helena Schneider Stadler de Souza. Meus avós maternos são, Francisco de Almeida Feitas e Iolanda Taques de Freitas, ela morreu muito cedo, minha mãe era muito pequena tinha apenas 8 anos e meu avô casou-se novamente, então quem eu conheci como avó foi a senhora Carmem da Fonseca Freitas. Meu avô Paterno o senhor Petrônio, ele veio de Pernambuco da Cidade de Nazaré da Mata, o irmão dele mais velho já estava morando aqui na região sul, onde ele tinha comprado terras, ele era um homem com muita influência política ali na região de Porto Amazonas, ele era um intendente do Paraná e tinha influência política ele próprio era um político, na época não havia eleição para ser Intendente, esse cargo era concedido pelo governo. O Nome dele era Raul Péricles de Souza irmão de meu avô Petronio, ele que acabou trazendo meu avô para morar aqui, meu avô era formado em direito, depois se tornou Juiz na cidade Palmeira, lá em Palmeira ele conheceu minha avó, ela era de uma família ali mesmo de Palmeira de origem Russa Alemã, Helena Schneider Stadler de Souza, eles casaram, tinham um armazém de secos e molhados. Minha avó era analfabeta, mas uma mulher com bons tratos, e boa formação familiar, eles tiveram 05 filhos homens e 01 filha mulher, todos estão falecidos com excesso da Tia Mirthes que foi a última filha a nascer. Meus tios, filhos de meu avô Paterno inclusive meu pai, tiveram cargos importantes, eram pessoas que estavam bem colocados socialmente. O primeiro era meu tio mais velho era militar e trabalhou no FMI, foi Secretário de Agricultura; O segundo era meu tio Silvio, que foi desembargador aqui no Paraná; o terceiro era meu pai Newton, advogado, professor Universitário; O quarto era meu tio Nelson, comandante da Polícia Militar; o quinto era o Clóvis que era advogado e atuou muito na ALEP; O sexto era minha Tia Mirthes, professora Primária. Todos eles vieram para Curitiba, só meu tio que era desembargador que ficou no interior, mas que mudou para Curitiba após os demais virem. Era uma família influentes e de altos e baixos no que se refere a política, era composta por irmão de direita e de esquerda. Um irmão militar era mais direitista e outros ligado a área de humanas e meu pai e o tio Clóvis, seu irmão mais novo que eram por assim dizer, as ovelhas negras da família por serem os adeptos da esquerda, abertamente, mas meu avô também embora tivesse uma concepção de mundo ainda muito forte em sua formação da questão do Nordeste, do coronelismo, ele também carregava 93 Revista NEP - Núcleo de Estudos Paranaenses, Curitiba, v. 7, n. 2, dez. 2021 Dossiê Imigração e Imigrantes no Paraná ISSN: 2447-5548 uma sensibilidade muito grande nas questões sociais, um homem de senso de justiça acima de tudo de muita justiça social. Minha avó era muito simples mas muito presente na vida de todos os filhos, eles tinham uma casa muito grande com muitas empregadas e sempre a casa estava cheia de netos e filhos, primas dela etc. Eu convivi muito com ela, meu pai morava em Curitiba e foi aqui que ele fez a vida aqui, já é uma outra constituição. Meu avô era General, nós o chamávamos de vô General. Chamava-se Francisco de Almeida Freita, ele fez carreira no Exército, era um homem muito estudioso e meigo, ele era auto didata, falava Francês, Inglês e ele aprendeu sozinho era excelente matemático e escrevia muito bem também, ele foi muito bem no exército, sempre passava nos exames em primeiro lugar, serviu no Rio de Janeiro, tirou em primeiro lugar no Brasil e aí ele pode escolher a praça onde ele ia servir aí ele escolheu Ponta Grossa e Curitiba. Lá em Ponta Grossa ele conheceu minha avó, Iolanda Tax de Freitas, eles casaram mas ela morreu muito cedo vítima de tuberculose, com 35 anos, ele herdou muitas terras da minha avó, a família dela tinha patrimônio grande mas eram pessoas simples do campo, meu avô casou-se novamente, com minha avó Carmem da Fonseca Freitas, ele havia conhecido ela no Rio de Janeiro quando ele serviu por lá, minha mãe era muito jovem quando a minha avó morreu, tinha 8 anos e logo foi colocada numa escola interna no Cajuru para estudar. Minha mãe tinha 05 irmãos também, 02 do primeiro casamento de meu avô e depois dois irmãos do segundo casamento Tio José Carlos e Tia Elza, estes dois ainda estão vivos. Agora imagina meu pai sendo taxado de Comunista, sendo caçado e tendo como sogro um General em plena ditadura militar, eram situações bastante contraditória, mas eram homens muito inteligentes e acabaram tratando de todas estas situações de forma muito pacífica. Meu filho: João Henrique de Souza Arco-Verde , ele é casado com Samara Alice da Silveira Arco-Verde, minha Filha: Letícia de Souza Arco-Verde Locatelli é casada com Ailton Gilberto Locatelli Netto, meu filho casado com a Samara, tem um enteado, filho de um relacionamento anterior da Samara , o menino se chama Luiz Paulo a Samara está grávida o bebê chamar-se-Gael e nasce em fevereiro , e minha filha Letícia que é casada com Ailton tem duas filhas, são elas Antonela de 4 anos e a Valentina de 9 meses. A Samara, esposa de meu filho é professora Pedagoga PSS e dá aula em uma escola privada “Umbrela”, na Educação Infantil. O Marido de minha filha, o Ailton ele trabalha no banco da Renault, gerenciamento financeiro, ele é Engenheiro de Produção. Meu marido: se chama Luiz Irlan Arco-Verde, formado em Administração, quando nos casamos ele trabalhava no Banco Bamerindus e depois no Banco Lloyds, depois como ele também tinha uma formação de Engenheiro, que ele estudou em Taubaté, ele abriu uma construtora, ele trabalhou muito tempo numa construtora depois ele fechou a construtora e foi trabalhar no LACTEC fazendo projetos na área de construção e justamente quando ele teve o acidente de moto e na sequência ele teve câncer e acabou sendo aposentado por invalidez, por conta das sequelas neurológicas e ficou cadeirante. 94 Revista NEP - Núcleo de Estudos Paranaenses, Curitiba, v. 7, n. 2, dez. 2021 Dossiê Imigração e Imigrantes no Paraná ISSN: 2447-5548 Data de nascimento de meu Pai Milton Fernandes Stadler de Souza 12/08 / 1929, faleceu em 31/10/1990 num acidente de carro. Ele foi advogado, jornalista, sociólogo, escritor, desenvolvia várias atividades ele sempre era chamado de professor Niltom, também deu aula sempre na PUC, ele terminou seus dias como procurador geral do Paraná isso depois que ele recebeu a Anistia. Data de nascimento de minha mãe, Maria Zuleica Freitas de Souza 05/09/1931 faleceu em 11/11 / 2020. Tenho dois irmãos: Nilton Fernandes Stadler de Souza Filho, Médico e trabalha na Santa Casa como Cardiologista e também trabalha Instituto Neurológico de Curitiba, ele é casado com a Estela. Meu irmão mais novo chama-se Décio Freitas Stadler de Souza que é empresário trabalha com educação na parte de recrutamento e seleção, ele é casado com Emili Habane de Souza. Data de nascimento de meus filhos: João nasceu em 05/05/84, minha filha nasceu em 16/04/87. Sobre os pais de meu esposo: Meu sogro chama-se Alcides Proman Arco-Verde, nasceu em 23/03/31, ele faleceu em julho de 1994, ele trabalhava como presidente IPMC ele era servidor municipal. Minha sogra chama-se Isaldi Capriglone Arco-Verde ela era estatística, faleceu em setembro de 2020, eles tinham mais um filho, Roberto José Arco-Verde que também trabalhou na Câmara Municipal ele tem como formação desenho industrial. Eu estudei o primário no Colégio Julia Wanderley, estudei lá do 1º ao 5º ano, após isso fez exame de admissão para entrar no ginásio no Colégio Rio Branco do 5º ao 8º ano, o Colégio ficava na esquina da rua onde morávamos. Na sequência que seria ensino Médio, mas ainda não se chamava Assim porque de acordo com a Lei 5692 já se chama segundo grau. Eu fui fazer a escola normal e estudei no Lysímaco Ferreira da Costa. Era um dos cursos melhores do país, aprendi a ser professora lá, me formei aos 16 anos, na ocasião as únicas Universidades aqui no Paraná era a Federal e a PUC , todos os alunos antes de tentar acessar a Universidade faziam cursinho, eu não fiz cursinho, me inscrevi direto fiz opção por direito, jornalismo e coloquei pedagogia como terceira opção, e eu acabei passando na terceira opção que era pedagogia , então eu ingressei no curso para ver o que era, e me encantei com o curso, gostei do curso, talvez por influência do Magistério que havia feito, e também pela receptividade dos professores. Os professores encontraram em mim uma reciprocidade muito boa, eu fui bolsista e sempre fui convidada para ser monitora até porque eu falava francês e inglês e isso tudo ajudava bastante. Me formei na Universidade com 20 anos quase completando 21, no ano que me formei, me formei em dezembro de 1979, e março do ano seguinte, abriu um concurso para colaboradora, não se tratava de um concurso público era um processo interno e eu fiz e passei e me tornei professora colaboradora da UFPR. Então com 21 anos eu já eram professora Universitária na UFPR e na sequência, abriu concurso público porque mudaram as regras do País para concurso, eu tirei 10 na 95 Revista NEP - Núcleo de Estudos Paranaenses, Curitiba, v. 7, n. 2, dez. 2021 Dossiê Imigração e Imigrantes no Paraná ISSN: 2447-5548 prova de didática, 10 na prova de escrita e na prova de título eu tinha o mínimo necessário, e eu passei no processo, me tornei professora titular da UFPR aos 21 anos. Na sequência eu lecionava em outro colégio também. E também comecei o Mestrado eram 5 anos e foi muito bom acabei aprofundando meus estudos numa mesma linha dos estudos de pedagogia, nós tínhamos um leque muito pequeno de cursos nesse momento no Paraná, no mestrado desenvolvi uma Tese que estava relacionada a educação infantil, eu era muito jovem estava tendo meus filhos e a educação infantil era algo que me atraía, fiz toda minha carreira dentro da Universidade, peguei alguns cargos administrativos dentro da Universidade. Pró-reitoria de Extensão de Cultura, nesta mesma época eu me preparava para fazer o Doutorado. Fui tentar o Doutorado em São Paulo, queria algo que desse conta das leituras que eu tive no mestrado mas que tivesse tido contato durante minha trajetória profissional, então eu acabei indo fazer meu mestrado na PUC de São Paulo. Foi a primeira vez que fui estudar numa instituição privada mas com bolsa integral da CAPES. Fui então estudar com grandes nomes de nossa educação uma vez que a PUC era uma regência no ensino, minha tese de doutorado era uma discussão sobre o tempo, uma abordagem filosófica sobre tempo, cronos e ciros, e finalmente uma tese de escola em tempo integral, completando as disciplinas do Doutorado, me provocaram muito, estudei muito o ano já era 2002, tudo foi muito desafiador. Eu já estava praticamente na metade de minha carreira profissional, ao mesmo tempo acabei desenvolvendo um trabalho nos EUA e na África e logo na sequência fui à França. Desenvolvi alguns trabalhos na área de minha pesquisa. Eu completo dizendo que sempre fui muito comprometida com tudo o que eu fazia e sempre fui muito estudiosa, a lida com a coisa pública, sempre foi muito responsável, fui diretora do CEAP Centro de Assessoramento da Universidade com a Educação Básica, fui diretora da TV educativa, depois vim para o Estado, no Estado fui como Secretária depois como superintendente, depois fui para Brasília como diretora do MEC de gestão e depois como secretária nacional de Ed básica. Todas estas experiências serviram como um mestrado por dia, foram muitos os ensinamentos. Toda essa vivência fez toda a diferença para minha formação profissional e humana., fiz teste de admissão, eu dei aula no curso de admissão como convidada, era um cursinho particular, mas dei aula de gramática e ganhei experiência, depois eu dei aula no colégio Nossa Senhora da Esperança, dei aula de todas as disciplinas, era ensino básico e era uma escola de freiras, aprendi muito sobre o pedagógico e a organização de uma escola. Nesse momento eu já estava cursando Pedagogia e quando me formei como já relatei fui trabalhar na UFPR, atuei também em algumas escolas de ensino básico para complementar a carga horária, dei aula de didática da matemática didática da língua portuguesa e depois participei orientando estágio do Magistério. Em março de 79 eu recebi um convite das minhas professores para fazer um teste para professor colaborador, não era concurso público, passei no processo e fui dar aula na Universidade nas turmas de Pedagogia, naquele mesmo ano abriu o concurso público como relatei anteriormente e eu passei no concurso e fui empossada como professora titular da UFPR, naquele mesmo ano eu me casei e como o senário político era muito inseguros, eu trabalhava na Universidade e também mantive meu trabalho na escola privada. Houve um processo de abertura de vagas na faculdade para conceder vagas para dedicação exclusiva e eu aí mudei e fiquei só dando aula na Universidade e pude também 96 Revista NEP - Núcleo de Estudos Paranaenses, Curitiba, v. 7, n. 2, dez. 2021 Dossiê Imigração e Imigrantes no Paraná ISSN: 2447-5548 me dedicar ao meu Mestrado, na sequência eu fui me envolvendo com trabalhos de comissões para organizar a Universidade e eu fui trabalhar nessa organização. Fui então convidada para ser chefe do departamento de educação dentro da UFPR, auxilie também a pró-reitoria de extensão e de pesquisa, nessa época havia muitas greves. Quando saí do departamento fui ser chefe da TV educativa da Universidade me foi designado que eu pudesse organizar um centro que pudesse assessorar as atividades com uso da tecnologia com a pesquisa para a educação básica., daí criamos o CEAP que auxiliava a educação básica junto à prefeitura de Curitiba e também com o Estado. Contribuímos para os estudos da escola de tempo integral, foi aí que alguns projetos foram desenvolvidos em parceria com o Governo Federal por meio do FNDE, muitas discussões foram desenvolvidas a partir das contribuições de meu trabalho nessa integração com a educação básica. Na sequência eu fui convidada pelo reitor da UFPR, professor José Henrique de Faria para ser coordenadora em um projeto de intermediação do ensino superior e educação básica, o projeto se chamava Professor de integração do 1º, 2º e 3º graus, eu continuei trabalhando junto ao FNDE e comecei também atuar nesse projeto como coordenadora. Eu trabalhei um tempo com essa grande tarefa e nesse momento com a saída do governo color, entra o ministro Murilio Hingel e propõe um novo programa educacional chamado PRONAICA, (Programa Nacional de Atenção e Integração à Criança e ao Adolescente) e as universidades foram chamadas no Brasil para apoiar o programa e eu fui convidada pela Universidade, para fazer a organização, era um grande programa com a construção dos CAICS, que eram os centros de atenção integral à criança e ao adolescente e fui chamada porque eu tive uma pequena experiência lá atrás quando trabalhei na Prefeitura, com as ETI's Escolas de Tempo Integral, primeiro do Requião e depois com os CEIS - Centro de Educação Integral do Lerner, nos dois eu atuei como assessora dos projetos ligada a Universidade. O Brasil era signatário dos programas de Educação para todos, era um enfrentamento grande da questão, evasão e de abandono escolar, a ideia era trazer esses alunos que não tivessem só atenção escolar, mas também uma atenção mais integral e que eu buscava nas minhas assessorias mostrar que a educação escolar não era restrita aos conteúdos escolares, mas sim era um processo muito mais abrangente de formação das crianças e dos adolescentes. Eu fiquei como coordenadora desse programa pela UFPR e nesse período fizemos muitos encontros para promover a educação continuada com os professores que iam atuar nessa área. Nesse processo a coordenação ficou vinculada a pró-reitoria de Educação e Cultura em todo território nacional e como eu estava ali naquela pró-reitoria, eu fui convidada para ser coordenadora de extensão da pró-reitoria, a professora Tânia Maria Barbicha assumiu a pró-reitoria de extensão, na mesma época o governo Federal criou o PROESTE um programa de extensão, com recursos que eram liberados através do FNDE, então para conseguir liberação desses recursos era necessário apresentar projetos junto ao FNDE, e conseguir mais recursos para fazer mais cursos com o pessoal do serviço público e eu também atuei nesse área. Nesse período a. professora Tânia ficou doente e eu acabei assumindo também a pró-reitoria de Cultura da UFPR ano era.96 até 99 mais ou menos. Entre outros nós trabalhamos no Projeto da banana, eram projetos voltados para a região do litoral, projeto da banana, projeto do palmito das outras, projeto da formação de professores, projeto de creches fui me envolvendo em todos os projetos. 97 Revista NEP - Núcleo de Estudos Paranaenses, Curitiba, v. 7, n. 2, dez. 2021 Dossiê Imigração e Imigrantes no Paraná ISSN: 2447-5548 Na sequência eu fui chamada pela ABC Agência Brasileira de Cooperação que funciona dentro do Itamarati, fui convidada para desenvolver um trabalho na África junto ao País São Tomé e Príncipe era um País que estava recentemente saindo de um processo de fechamento apoiado por Cuba, fechamento político então ele estava numa abertura e eles precisavam de apoio Internacional e por isso ele foi colocado em um grande de programa de países de Língua Portuguesa. Eu fui chamada para atuar nesse programa e fui para África atuar ali junto às outras equipes internacionais em São Tomé e Príncipe. Foi uma experiência muito rica, atendíamos a 33 escolas no país todo, e fizemos um trabalho de treinamento muito interessante. Pudemos trazê-los para cá para fazer avaliação e esse atendimento a essa população foi muito positivo. Eu estava finalizando estes projetos quando decidi iniciar meu Dourado, fiz o projeto e apresentei à Universidade PUC de São Paulo como local da minha formação de doutorado, foram 4 anos intensos, estudei com bolsa, estudei, Marx, Gramsci. Nesse meio tempo recebi uma ligação telefônica era o Governador Requião me convidado para participar de uma solenidade para assumir a Superintendência de Educação”. 98