Revista NEP - Núcleo de Estudos Paranaenses, Curitiba, v. 7, n. 2, dez. 2021
Dossiê Imigração e Imigrantes no Paraná
ISSN: 2447-5548
YVELISE FREITAS DE SOUZA ARCO-VERDE: UMA SÍNTESE
BIOGRÁFICA DE UMA PERSONAGEM ACADÊMICA DA UFPR
NA SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ
Marcelo Gonçalves Marcelino1
João Batista da Silva Nascimento2
Resumo: O presente artigo procura analisar sociologicamente a trajetória da única mulher que ocupou a Secretaria de
Estado da Educação do Paraná sendo professora de carreira da UFPR na segunda gestão consecutiva do governador Roberto
Requião de Mello e Silva em 2008. A professora Yvelise tem uma longa carreira acadêmica desde a década de 1970 no
setor de educação e carrega consigo capitais herdados da longa tradição familiar que sua biografia revela através do seu
próprio depoimento numa transcrição da sua narrativa gravada3. A relevância desse objeto de pesquisa apresentado
justifica-se à medida que as instituições de Estado, em especial no Brasil resistem em incluir as mulheres, mesmo que
pertencentes as elites profissionais e acadêmicas e a própria classe dominante nos seus quadros de mais elevada estatura
política administrativa. Yvelise representa o papel das mulheres que pertencem as frações da classe dominante com
“capitais” herdados, acumulados e lapidados ao longo da sua trajetória e que demonstra empiricamente o paradoxo da
ausência das mulheres nos altos postos da tecnocracia, das instituições políticas de Estado e das próprias empresas. Desta
maneira procuramos identificar e analisar de forma sociológica como Yvelise se posiciona no campo educacional e no
subcampo da UFPR e da própria Secretaria de Educação do Paraná como sendo apenas uma das seis mulheres que
assumiram esse cargo desde a criação dessa instituição no final da década de 1940 no Paraná. Esse artigo esclarece ao
mesmo tempo que essa abordagem sociológica a partir da biografia contada pela própria Yvelise precisa ser discutida com
um viés crítico como aponta o sociólogo Pierre Bourdieu no que ele denomina como “ilusão biográfica”; mas ao mesmo
tempo compreendemos que a crítica e a reflexão necessária não invalidam a narrativa biográfica como preâmbulo para um
trabalho sociológico mais robusto no sentido de permitir outros apontamentos e incursões.
Palavras chave: Instituições, Poder, Classe dominante, Mulheres.
YVELISE FREITAS DE SOUZA ARCO-VERDE: A IOGRAPHICAL
SYNTHESIS OF AN ACADEMIC CHARACTER FROM UFPR IN
THE SECRETARY OF STATE OF EDUCATION IN PARANÁ
Abstract: This article intends to sociologically analyze the trajectory of the only woman who occupied the Secretary of
State for Education of Paraná as a career teacher at UFPR in the second consecutive term of governor Roberto Requião de
Mello e Silva in 2008. Professor Yvelise has a long academic career since the 1970s in the education sector and carries
with her capital inherited from the long family tradition that his biography reveals through his own testimony in a
transcription of her recorded narrative. The relevance of this research object presented is justified as State institutions,
1
Bacharel em Ciências Econômicas, bacharel e licenciado em Ciências Sociais pela UFPR, licenciado em Matemática pela
UTFPR, especialista em Sociologia Política, mestre em Sociologia e doutorando também em Sociologia pela UFPR. Email de contato: mgmarcelino@yahoo.com
2
Bacharel em Secretariado executivo trilíngue pela Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina – PE; licenciado
em Letras Português e Espanhol pela UNICEB COC – Ribeirão Preto – Polo Curitiba; licenciado em Letras Inglês pelo
Centro Universitário Estácio de Ribeirão Preto – Polo Curitiba; especialista em Coordenação Pedagógica pelo setor de
Educação da UFPR, Mestrando em Sociologia pela Universidade Federal do Paraná – UFPR. E-mail de contato:
joaobatistarfb@gmail.com
3
Para publicação do referido artigo, consta em posse da Revista NEP o documento onde a professora Yvelise Freitas de
Souza Arco-Verde autoriza publicação total ou parcial da referida entrevista, concedida ao pesquisador e mestrando João
Batista da Silva Nascimento.
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especially in Brazil, resist to include women, even if they belong to professional and academic elites and the ruling class
itself in its highest administrative political stature. Yvelise represents the role of women who belong to the fractions of the
ruling class with inherited, accumulated and polished "capitals" throughout their trajectory and which empirically
demonstrates the paradox of the absence of women in the high positions of technocracy, political institutions of the State
and companies themselves. In this way, we seek to identify and analyze in a sociological way how Yvelise positions herself
in the educational field and in the subfield of UFPR and of the Paraná Department of Education itself as being just one of
the six women who have assumed this position since the creation of this institution at the end of the 1940th in Paraná. This
article clarifies at the same time that this sociological approach based on the biography told by Yvelise herself needs to be
discussed with a critical perspective, as the sociologist Pierre Bourdieu points out in what he calls “biographical illusion”;
but at the same time, we understand that criticism and the necessary reflection do not invalidate the biographical narrative
as a preamble to a more robust sociological work, in the sense of allowing for other notes and incursions.
Keywords: Institutions, Power, Ruling class, Women.
Introdução
Apesar da Secretaria de Estado da Educação ter sido criada no dia 13 de maio de 1947 na
primeira gestão do então governador Moisés Lupion de Troya (1947-51), em plena ascensão do
desenvolvimentismo no Brasil e no contexto da reconstrução do mundo pós segunda guerra mundial,
a implementação de um sistema educacional mais integrado e robusto aconteceria apenas na gestão do
governador Ney Aminthas de Barros Braga (1961-65), quando a Secretaria de Educação recebeu a
companhia do Conselho Estadual de Educação e também da Fundepar (Fundação de Educação do
Paraná) criada em 1962. A primeira gestão de Ney Braga é reconhecida por ser aquela onde o
denominado “desenvolvimentismo” paranaense passa a ser considerado uma política estratégica de
desenvolvimento econômico para o Estado e a educação estava inserida no bojo dessas transformações
a despeito das controvérsias e contradições dessa dinâmica de pretenso esboço de planejamento
capitalista em uma região periférica como o Paraná, pertencente a um país atrasado e dependente como
o Brasil.
A criação do Conselho Nacional de Educação, no início dos anos de 1960, propiciou que os
Conselhos Estaduais fossem criados na esteira da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional de 1961 – Lei Federal de dezembro desse mesmo ano e que propiciou o avanço da discussão
da educação brasileira desde então.
De acordo com o documento 70 anos de Educação em Revista (1947-2017): memória da
educação em revista (2017, p. 8), tem-se:
A primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN (Lei Federal n.° 4.024, de 20
de dezembro de 1961) fixou as finalidades do setor educacional a partir do Sistema Federal de Ensino
e, a seguir, dos Sistemas Estaduais. Seu art. 11 determinou que a “União, os Estados e o Distrito
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Federal organizarão os seus sistemas de ensino com observância da presente lei”. Era, por todos os
modos, inovadora e viria a dar forma e conteúdo a uma estrutura ainda um tanto desencontrada, em
matéria de atendimento à educação, que se esperava desde a Constituição de 1934, na qual já se
preceituava o ordenamento educacional por meio de planos nacionais e estaduais, levados a efeito
pelos respectivos sistemas de ensino. O art. 151 daquela Carta dizia ser competência dos Estados e
do Distrito Federal “organizar e manter sistemas educativos nos territórios respectivos, respeitadas as
diretrizes estabelecidas pela União”. Na época, foi criado o Conselho Nacional de Educação (CNE),
com amplas atribuições, e se recomendava a criação, nas esferas estaduais, de “Conselhos de
Educação com funções similares às do Conselho Nacional”.
Foi somente no início da década de 1960 que as diretrizes educacionais, os primeiros conselhos
de educação e um sistema integrado de ensino articulado começa a se desenvolver no país. Essa
trajetória política institucional da educação apresenta desde a sua gênese constitutiva algo bastante
comum e latente nas estruturas de poder no mundo e no Brasil e que está relacionado as mais diversas
formas de discriminação, preconceito e opressão, isto é, um filtro social que restringe o acesso das
mulheres aos espaços profissionais, acadêmicos, entre outros, como é o caso da Secretaria de Educação
do Paraná, que desde sempre reproduziu o modus operandi da discriminação estrutural de gênero. No
caso da educação esse processo se tornou ainda mais peculiar pelo aspecto que concerne ao papel das
mulheres em cargos de coordenação, chefia e também nos mais elevados poderes da administração
pública e mesmo nas organizações privadas.
As mulheres historicamente sempre tiveram uma maior presença profissional na área da
educação, principalmente nas primeiras décadas de construção dessa profissão até a redemocratização
do país em meados da década de 1980. A partir de então a profissão de professor passou a ser exercida
também por uma grande quantidade homens como consequência da própria divisão social
internacional do trabalho no capitalismo contemporâneo, mesmo tendo as mulheres como a maioria
na profissão; ainda mais, se levarmos em conta todos os níveis de ensino; no Brasil em particular.
Essa introdução do problema apesar de provocativa no que concerne apenas aspectos gerais
serve para fazermos algumas incursões teóricas necessárias, como a própria participação das mulheres
na sociedade, em especial nos cargos da administração pública e privada em espaços de poder
considerados hierarquicamente mais elevados, mesmo levando em conta que em alguns casos algumas
dessas mulheres pertençam a uma determinada elite acadêmica e profissional ou até mesmo como
membros da classe dominante e de extratos ou frações de classe da burguesia.
Nesses mais de 70 anos da Secretaria de Estado da Educação foram apenas seis mulheres a
exercer o cargo de secretaria contando ciclos menores de transição e certamente isso, pelo menos,
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demonstra o caráter excludente das mulheres nas posições de maior envergadura política
administrativa. Esse artigo não propõe um aprofundamento maior no que tange a uma abordagem
sociológica que envolve estudos de gênero mais densos e extensos, mas procura provocar a
necessidade desse debate no interior e fora dos circuitos acadêmicos. Pretendemos nesse espaço
acadêmico prosseguir com a tradição do Núcleo de Estudos Paranaenses – NEP do Programa de PósGraduação em Sociologia da UFPR de revelar os atores políticos e institucionais mais relevantes no
cenário local, regional e nacional inseridos nos aparelhos de Estado dos mais variados.
Nesse artigo procuramos discutir sociologicamente os relatos biográficos de uma das seis
mulheres que assumiram o cargo de maior destaque na Secretaria de Educação do Paraná nos seus
mais de 70 anos de existência desde o pós-segunda guerra. Chamamos a atenção mais uma vez de que
foram poucas mulheres que assumiram a Secretaria de Educação mesmo sendo as mulheres a maioria
nesse setor historicamente. O critério de escolha da nossa biografada é de que ainda assim foi a única
mulher professora de carreira da UFPR a assumir esse cargo em toda a história, onde a sua trajetória
acadêmica e profissional nos revela além da sua qualificação técnica uma pessoa repleta de “capitais”
segundo Bourdieu, que a tornam uma mulher diferenciada devido a sua herança posicional de classe
social carregada de capital familiar de posse material e educacional, apesar de não herdeira de riqueza
da burguesia tradicional aparentemente. Porém, através dos seus relatos de vida é possível perceber
que sua família carrega “capitais genealógicos” que a distingue socialmente. Um elemento importante
que a diferencia de todas as outras mulheres no cargo que ocupou na Secretaria de Educação do Estado
do Paraná não foram esses capitais de largada herdados e assimilados, mas a continuidade da sua
trajetória no campo educacional acadêmico, como veremos adiante.
Essa distinção social provém de relações familiares privilegiadas de pertencimento a uma
classe social favorecida, que apesar de não ser da mais elevada “corte” burguesa, pertence a uma fração
social da classe dominante pela via do patrimônio, da educação e dos circuitos sociais distintos da
grande maioria da população. O acesso a uma educação familiar e institucional distinta a coloca numa
posição de destaque com prestígio social típico das elites e da própria classe dominante. Grande parte
dos indivíduos que partem de trajetórias onde o capital familiar de herança é bastante favorável
desenvolvem aptidões e compartilham de experiências e saberes nos campos e subcampos aos quais
são inseridos e penetram ao longo das suas trajetórias de vida. A probabilidade desses indivíduos
permanecerem e reproduzirem seus capitais ao longo das suas vidas é bastante grande para os membros
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da classe dominante e até mesmo para as frações de classe ou outras elites, principalmente no Brasil
onde a mobilidade social é ainda mais restrita com altos índices de desigualdade social.
Segundo Bourdieu (2008, p. 105):
O caráter estatístico da relação que se estabelece entre o capital de origem e o capital de chegada é o
que faz com que seja impossível dar conta das práticas em função unicamente das propriedades que
definem a posição ocupada, em determinado momento, no espaço social: a afirmação de que os
membros de uma classe que, na origem, dispunham de determinado capital econômico e cultural,
estão votados, com determinada probabilidade, a uma trajetória escolar e social que conduz a
determinada posição, implica dizer, de fato, que uma fração de classe – que não pode ser determinada
a priori nos limites do sistema explicativo considerado – está destinada a desviar-se em relação à
trajetória mais frequente para a classe no seu todo, empreendendo a trajetória, superior ou inferior,
que era a mais provável para os membros de outra classe, e desclassificando-se, assim, pelo alto ou
por baixo. O efeito de trajetória manifestado nesse momento, como e4m todos os casos em que
indivíduos ocupantes de posições semelhantes em determinado momento estão separados por
diferenças associadas à evolução, no decorrer do tempo, do volume e da estrutura de seu capital, ou
seja, por sua trajetória individual, corre sério risco de ser mal compreendido. A correlação entre uma
prática e a origem social – avaliada pela posição do pai, cujo valor real pode ter sofrido uma
degradação dissimulada pela constância do valor nominal – é a resultante de dois efeitos (não
forçosamente do mesmo sentido): por um lado, o efeito de inculcação diretamente exercida pela
família ou pelas condições gerais de existência; por outro, o efeito de trajetória social propriamente
dita, ou seja, o efeito exercido pelas disposições e as opiniões pela experiência da ascensão social ou
do declínio – nesta lógica, a posição de origem é apenas o ponto de partida de uma trajetória, a
referência em relação à qual define-se o sentido da carreira social.
Uma carreira “bem sucedida” com aumentos das disposições econômicas, prestígio social
elevado e inserções relevantes em “campos” e “subcampos” da vida acadêmica, profissional e social
dependem do volume e da estrutura de capital acumulado e não apenas das condições herdadas do
capital familiar. Mesmo que as mulheres não tenham tantas possibilidades de inserções diversas nas
estruturas de poder assumindo funções de comando nas organizações privadas e instituições
tecnocráticas, elas são peça chave na construção das estratégias familiares de poder historicamente.
Segundo Oliveira (2016, p. 14):
O papel social das mulheres é essencial para a reprodução familiar. Os papéis da mulher na formação
do ethos e do habitus de classe acompanham a própria formação da linguagem, da personalidade e
dos valores sociais das crianças. As construções sociais dos papéis sociais atribuídos às mulheres as
colocam como o centro de afetos, emoções, sentimentos e alianças dentro das famílias. As estratégias
familiares e de classe passam em boa parte pelas ações sociais e políticas das mulheres das grandes
famílias, em suas próprias políticas e estratégicas, sejam elas muito antigas ou relativamente recentes.
Muitas mulheres que cresceram e se desenvolveram no berço das estruturas familiares da classe
dominante ou nas frações de classe mais privilegiadas como no caso da professora Yvelise construíram
carreiras profissionais e acadêmicas de longa trajetória e procuraram se situar de forma relativamente
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autônoma da dependência da órbita de influência da dominação masculina. Mesmo de origem familiar
repleta de capitais hereditários muitos indivíduos da classe dominante sejam homens ou mulheres não
tiveram carreiras profissionais e políticas com substância valorativa intelectual ou qualificação técnica
de elevada competência. Ao mesmo tempo, alguns indivíduos demonstraram condições intelectuais e
aptidões técnicas e profissionais que aproveitaram as condições de origem com seus capitais sociais e
educacionais de berço familiar.
No caso da professora Yvelise cabe uma incursão sociológica analítica a respeito da sua
biografia utilizando o aporte teórico e conceitual de Marx, Bourdieu, Daniel Bertaux, Saint Martin e
dos pesquisadores do Núcleo de Estudos Paranaenses – NEP. Desta maneira, iremos adentrar na
síntese biográfica da professora Yvelise Arco-Verde a partir da gravação dos áudios da própria
biografada que gentilmente cedeu seu espaço social para compartilhar a sua história de vida e que
certamente contribui para compreendermos melhor como os capitais familiares de origem são cruciais
para o desenvolvimento pessoal e das aptidões profissionais, políticas e culturais, onde a educação, a
inserção nos círculos sociais da cultura, da escola, da universidade são alicerces que possibilitam
conquistar mais “capitais” segundo Bourdieu, como também acumular, reproduzir e lapidar esses
mesmos capitais. Isso não significa que os capitais de origem possam garantir uma trajetória de vida
capaz de propiciar o avanço das posições sociais nos mais variados campos e subcampos da vida social
por parte de quaisquer indivíduos e o próprio Bourdieu nos alerta sobre isso. Ao mesmo tempo essa
abordagem teórica e conceitual possibilita que os indivíduos pertencentes as elites, a classe dominante
e as frações de classe da burguesia de largada possam almejar condições muito mais favoráveis de
alcançar espaços sociais, políticos e econômicos de poder ou com muitas vantagens e privilégios
sociais e materiais.
A transcrição dos áudios da professora Yvelise para a confecção desse artigo nos permitiu
compreender melhor como o capital de origem familiar favorece na prática a construção da vida social
e profissional dos indivíduos. No caso da professora da UFPR a única mulher a assumir o cargo de
secretaria de educação do Paraná tornou nítida as contradições da sociedade brasileira.
No momento da posse da secretaria Yvelise o governador Roberto Requião na época optou
politicamente por um quadro político e mais qualificado tecnicamente; isso historicamente não reflete
o caso brasileiro onde os cargos públicos são ocupados por razões na sua grande maioria estritamente
políticos. De um lado, os filtros que estreitam ou dificultam a entrada das mulheres nos cargos mais
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elevados da administração pública e, de outro, como para muito além da “competência” e da
qualificação técnica e acadêmica, os governos mais adeptos a inserção de grupos políticos mais
igualitários e democráticos contribuíram naquele momento para a inserção de um quadro feminino
professora e pesquisadora da UFPR.
Para a pesquisa acadêmica o caso da professora Yvelise aponta para um estudo de caso
sociológico que contribui para a discussão de uma abordagem tanto marxista no que tange a sua
totalidade macroestruturante quanto inspirada em Bourdieu, Saint Martin, Bertaux e os aportes teóricos
e conceituais do NEP a partir das pesquisas na UFPR e também com outros autores de instituições que
pesquisam e estudam a genealogia da classe dominante, a teoria do parentesco e do nepotismo e das
trajetórias familiares.
Narrativas biográficas como discussão sociológica: aspectos críticos e metodológicos
A biografia individual ou coletiva I(prosopografia) dos indivíduos não pode ser confundida
como uma história de vida linear e sem levar em conta evidentemente os aspectos contextuais da vida
social nas suas mais variadas dimensões e múltiplas interações e interfaces. Essa metodologia de
investigação e pesquisa recuperada pela história e pela sociologia a partir da década de 1980 e já
utilizada também na antropologia experimenta permanentes controvérsias. A despeito da crítica de
Bourdieu provocativamente denominada de “ilusão biográfica” enfatizamos a relevância das pesquisas
e estudos que envolvem a utilização do método biográfico e prosopográfico como sendo ferramentas
e estratégias para determinadas incursões sociológicas.
A proposta de Daniel Bertaux nos chama a atenção por considerar sem exagero os estudos que
envolvem a ferramenta das análises sociológicas por intermédio das biografias um aporte
metodológico de relevante alcance sociológico desde que abarque aspectos macroestruturantes e
também do microcosmo, onde os indivíduos com suas trajetórias de vida específicas inseridos nos seus
mais variados “campos” e “subcampos” interagem diante de aspectos macrossociais em contextos e
conjunturas universais complexas.
De acordo com Montagner (2007; p. 149-150):
Bertaux propõe um mergulho nas experiências humanas, no vivido, em um oceano de saberes nativos
e não explorados. Para ele, a experiência humana é portadora de saber sociológico, que exalta como
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um achado inaudito. À parte este truísmo de base, para o autor, dá-se o caso de se conjugar e
reconciliar a observação e a reflexão sobre o mundo social. Se a experiência humana se esforça para
se elevar do particular ao geral, a teoria sociológica parte do geral (historicizado) para analisar as
formas concretas e sempre renovadas de atualização, pois, para o autor, a experiência humana não
ultrapassa os limites locais, sendo sempre mediada ou mediatizada (Bertaux, 1980). Através de um
conjunto de críticas a outras abordagens, em especial ao empirismo americano e ao teoricismo francês,
a novidade de seu approche biographique parece ser a proposta de união entre níveis de análise
comumente tomados separadamente, o socio-estrutural (macro, objetivo) e o sociosimbólico (micro,
subjetivo): a proposta é de se esforçar por reunir o pensamento do estrutural e do simbólico, e os
superar para atingir um pensamento da práxis (Bertaux, 1980), que leve em conta a dinâmica entre
estruturas e símbolos ou, se melhor, sua dialética. Bertaux tece críticas quanto ao papel da Sociologia
no tratamento do mundo vivido, pois, para ele, a disciplina tende a esmagar o sujeito sob o peso dos
procedimentos técnicos e metodológicos, ou então, tende a gerar uma teoria sobre o social sem
considerar o que dizem os indivíduos. Mas vemos o retorno do recalcado nas suas formulações quanto
ao método das histórias de vida. Ele afirma serem necessários cérebros ágeis e treinados para absorver
a quintessência da experiência vivida, para colocá-la à distância afim de realizar sua crítica; e
sobretudo para dar-lhe uma forma de expressão escrita (Bertaux, 1980). Esses cérebros ágeis, apesar
de tudo, retirariam suas intuições magistrais de suas próprias experiências vividas, o que coloca como
corolário que todo conhecimento sobre o social vem do mundo vivido, mesmo ao se transformar em
uma quintessência. Como se vê, o bom filho à casa torna, e a experiência vivida só pode realizar-se
através do intercurso de intelectuais capazes de sintetizar criticamente a práxis humana, que escapa
do sujeito localizado no mundo social.
Essa importante consideração de Bertaux, a partir de Montagner, procura fundamentar
sociologicamente a relevância dos estudos que incluem a metodologia das biografias como estratégia
de pesquisa e que foi de certa maneira recuperada nas últimas décadas por uma gama diversificada de
professores e pesquisadores. As análises das trajetórias de vida que levam em conta as experiências
dos indivíduos conectadas a contextos macro e múltiplos podem esclarecer com propriedade a
importância desse método para explicações sociológicas que envolvem os próprios espaços
microssociais, e também as macroestruturas que envolvem sistemas interacionistas mais complexos e
dinâmicos no capitalismo contemporâneo, onde as instituições de Estado e as demais organizações
privadas nacionais e internacionais estão dispostas.
Nesse artigo nos propomos a analisar sociologicamente a trajetória de vida de um membro da
fração burguesa; que apesar de não ser exatamente uma representante da classe dominante dos extratos
preponderantes ou superiores, reflete em certa medida como os “capitais” de origem familiar de
largada contribuem como elemento relevante na construção social dos sujeitos “privilegiados” pelo
nascimento e possibilitam explicar como as elites são forjadas e a classe dominante controla e domina
as instituições estratégicas de Estado e as grandes corporações pela via da herança dos “capitais
familiares”. Este processo ocorre através da internalização dos dispositivos educacionais, culturais,
políticos e econômicos em ambientes sociais favoráveis, herdados da longa duração e outros através
de coalizões recentes pela via do compartilhamento com grupos sociais já estabelecidos.
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A ex-secretária de Educação do Paraná e ainda professora do Departamento de Educação da
UFPR, Yvelise de Souza Arco-Verde, representa o que denominamos de largada como sendo uma
representante legítima da elite acadêmica e intelectual pertencente a uma fração proeminente da
burguesia paranaense. Insistimos que a análise biográfica a partir dos seus próprios relatos gravados e
transcritos nesse artigo, apesar das suas limitações em termos de parcialidade, contribuem em certa
medida para refletirmos sociologicamente sobre como as elites e a própria classe dominante percorrem
itinerários que envolvem necessariamente a aquisição de determinados “capitais” sejam de origem
familiar; muito comum entre membros da classe dominante ou adquiridos através de portas de entrada
que envolvem o compartilhamento de espaços sociais onde determinadas elites ou a classe dominante
navegam em campos e subcampos característicos da distinção social desses grupos privilegiados.
Segundo Charle (2006; p. 32):
As biografias sociais permitem colocar à luz do dia as estratégias familiares de ascensão, de
estagnação ou de reconversão que os diversos meios de elite ou da burguesia utilizam. A dinâmica
dominante interna às elites, do polo intelectual ao polo econômico (pela ascensão) ou inversamente,
do polo econômico ao polo cultural (pelo enobrecimento), dá conta de muitos processos anteriormente
julgados em termos morais: traição de sua classe de origem, aburguesamento de um lado, traição do
progresso, fuga para uma vida “de rendas” de outro. A história cega dos dominantes que era a história
política clássica pode atualmente ser reinvestida graças a esse aporte de mediações finas entre posição
social, posição ideológica e dinâmica social. Os historiadores começam a se engajar em definir as
redes sociais que ligam as diversas elites, em delimitar os grupos de pressão, os movimentos de
criação de diversas sociedades de pensamento ou partidos, colocando-os em relação com as divisões
do espaço social da classe dominante nas diferentes épocas.
Dessa forma, enfatiza-se que os relatos de vida quando utilizados com distanciamento crítico
contribuem para a explicação sociológica de como as elites se posicionam nos mais variados campos
de acordo com a maneira pela qual conseguem herdar, adquirir, acumular e ampliar seus diversos
“capitais” ao longo da suas trajetórias de vida de acordo com as contingências da vida social em
ambientes microespaciais e também de acordo com os ditames das regras do jogo institucionais
subservientes a macroestrutura econômica e política. As regras do jogo que estão estabelecidas e que
também são reconvertidas são internalizadas pelos agentes também de forma particular e sua
adequação dependem da maneira como os membros da elite conseguem interagir no interior das
disputas simbólicas, onde a dialética do poder exerce pressões das mais variadas, cada qual com a sua
velocidade e potência setorial do subcampo específico e seus atores em disputa.
O percurso da professora e ex-secretária da Educação do Paraná Yvelise de Souza Arco-Verde
que assumiu essa pasta institucional na segunda gestão consecutiva do ex-governador Roberto Requião
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de Mello e Silva, em 2008, reflete a maneira pela qual determinadas elites conseguem conquistar
espaços de poder no interior das instituições de Estado, em particular uma mulher; a única professora
da UFPR a assumir esse cargo em toda a história da Secretaria de Educação do Paraná. Uma
representante de uma fração ou extrato da burguesia pertencente a elite acadêmica e no comando em
termos políticos administrativos institucionais de Estado mesmo sendo uma mulher; fato que chama a
atenção numa Secretaria que historicamente foi comandada por homens mesmo onde as mulheres
ainda são a maioria dos profissionais da educação.
De qualquer modo vale destacar a partir do exemplo da biografada como as elites acadêmicas
e administrativas se posicionam no contexto das disputas políticas econômicas e no interior do campo
e do subcampo, onde o setor de educação num setor que também é permeado por conflitos simbólicos
específicos e também macroestruturantes das disputas estratégicas do concreto.
Yvelise Freitas de Souza Arco-Verde: análise biográfica de uma elite acadêmica institucional e
uma representante de um extrato da classe dominante paranaense
Como já enfatizado, trata-se de analisar sociologicamente a trajetória da professora Yvelise a
partir dos seus relatos que envolvem seus próprios áudios gravados e transcritos pelos autores desse
presente artigo. Sendo assim, nos dispomos a apresentar sinteticamente seus relatos a partir da íntegra
dos seus áudios, conforme transcrição em anexo, para a devida análise de uma maneira que possamos
captar o conteúdo e o significado sociológico dos “capitais” herdados, conquistados e acumulados
durante a sua trajetória de vida e como os mesmos estão dispostos no interior do campo e dos referidos
subcampos da educação, isto é, a UFPR e a própria Secretaria de Educação do Paraná. Os dados
específicos da entrevista são:
Ficha Técnica
Tipo de entrevista: Pessoal;
Entrevistador: João Batista da Silva Nascimento;
Técnica de gravação: Utilização de aparelho celular;
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Local: Curitiba – PR - Brasil;
Data: 09/10/2021 a 22/10/2021
Duração: 1h 27min 59 segundos;
Áudios de celular: total de 9 áudios.
Entrevista realizada no contexto da pesquisa sociológica acerca das Trajetórias e Carreiras dos
Secretários de Educação do Paraná.
A Família de Yvelise
No decorrer da pesquisa objetiva-se fazer publicações de artigos acerca dos relatos feitos por
personalidades ocupantes do cargo de Secretário (a) durante o período em que a pesquisa se propõe
investigar. Temas: Trajetória pessoal incluída a família, formação primária e acadêmica, trajetória
profissional.
A primeira observação em relação a quaisquer incursões sociológicas das elites específicas
refere-se a suas origens familiares como capitais de largada da sua trajetória de vida diante de um
contexto social particular mais ao mesmo tempo amplo em relação a dinâmica econômica, política e
cultural.
Yvelise Freitas de Souza Arco-Verde nasceu em 13 de julho de 1957, filha de Milton
Fernandes Stadler de Souza e Maria Zuleika Freitas de Souza, neta de Petrônio Romero Carneiro de
Souza e Helena Schneider de Souza por parte do pai, e Francisco de Almeida Freitas e Iolanda Taques
de Freitas, avós por parte da sua mãe. Sua mãe cursou até o ensino médio como dizemos hoje em dia,
mas não construiu uma carreira profissional se dedicando mais a família no interior da casa, mas seu
pai era advogado, sociólogo, professor universitário da PUC-PR, escritor, jornalista. Trabalhou na
Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP) com o seu irmão Clóvis seu quinto irmão, ambos com uma
visão política abertamente defensora da democracia. Foi Procurador Geral do Paraná após ter recebido
a anistia entre o final da ditadura civil-militar-empresarial no Brasil e o início do processo de
redemocratização.
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Seu pai nasceu em 12 de agosto de 1929 e faleceu no dia 31 de outubro de 1990 num acidente
de trânsito. Seus avós paternos tiveram seis filhos, dentre estes, Mário Augusto Stadler de Souza era
militar e trabalhava no FMI (Fundo Monetário Internacional), foi Secretário de Agricultura do Paraná,
Silvio Romero Stadler de Souza foi desembargador no Estado do Paraná, Newton Fernando Stadler de
Souza o próprio pai já citado acima, Nelson Romero Stadler de Souza comandante da Polícia Militar
do Paraná e Clóvis Stadler de Souza advogado e também funcionário da ALEP assim como seu pai e
Mirthes de Souza Uchoa professora primária.
Por parte dos filhos dos avós maternos não aparece nos relatos da professora Yvelise nenhuma
menção em termos das suas formações educacionais e profissões respectivamente. Seu avô materno
senhor Francisco de Almeida Freitas era general de carreira do exército brasileiro, um conhecedor de
línguas como o inglês e o francês, além de um exímio matemático segundo relatos da professora
Yvelise. Serviu no Rio de Janeiro, mas nos exames internos devido a sua colocação teve preferência
de escolher as praças onde serviria mais tarde como Ponta Grossa, local inclusive onde conheceu sua
primeira esposa senhora Iolanda Taques de Freitas que mais tarde veio a falecer ainda muito jovem
vítima de tuberculose aos 35 anos de idade. Seu avô general herdou da sua primeira esposa falecida
muitas posses de terras. Mais tarde casou-se novamente com a senhora Carmem da Fonseca Freitas e
na sequência da sua carreira militar veio a servir no exército em Curitiba. Teve três filhos do primeiro
casamento e dois no segundo. A professora Yvelise tem dois irmãos sendo que um deles é médico
cardiologista atuante na Santa Casa e no Instituto Neurológico de Curitiba (INC) com o nome de
Newton Fernando Stadler de Souza Filho e o outro é Décio Freitas de Souza que é empresário do ramo
da educação na parte de seleção de pessoas.
Yvelise é casada com Luiz Irlan Arco-Verde administrador de empresas, engenheiro de
produção, atuou no Banco Bamerindus e no LLoyds Bank; mais tarde atuou em sua própria empresa
de construção civil e posteriormente trabalhou no Lactec (Instituto de Tecnologia para o
Desenvolvimento) com projetos na área de construção. A professora Yvelise tem dois filhos: João
Henrique de Souza Arco-Verde graduado em Direito e trabalha na coordenadoria de Direitos Humanos
na Câmara Municipal de Curitiba, graduado também em História e mestre em Direitos Humanos; a
filha é Letícia de Souza Arco-Verde é psicóloga e pedagoga atuando na educação especial na escola
pública e no colégio Bom Jesus.
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Família explica e importa: uma análise sociológica dos relatos sobre a família da
professora Yvelise Freitas de Souza Arco-Verde
A partir da perspectiva da sociologia crítica no que tange as abordagens teóricas e conceituais
de Marx e Bourdieu como preâmbulo da discussão sobre famílias e poder podemos de largada
partirmos da hipótese de que as explicações de cunho sociológico no que diz respeito as biografias e
trajetórias dos indivíduos que atingem uma estatura relevante nos espaços de poder nos diversos
campos e subcampos da sociedade dependem dos “capitais” familiares de origem e dos demais
“capitais” conquistados e lapidados no decorrer de suas carreiras e da sua própria vida particular.
Assim, quem consegue desenvolver uma carreira profissional relevante em termos políticos, sociais e
econômicos para si próprio, isto é, na direção da defesa dos seus interesses pessoais e com relevante
influência social é porque conseguiu conquistar, lapidar e até mesmo reproduzir “capitais” no sentido
bourdieusiano. Desta forma, a família originalmente tem grande peso nessa trajetória; o mesmo vale
para quem não consegue obter as condições de uma vida social e economicamente digna para um ser
humano viver.
Não podemos afirmar strictu sensu que a professora Yvelise faz parte da “alta corte” da
burguesia curitibana, paranaense ou brasileira, mas certamente podemos afirmar de forma provocativa
no sentido sociológico que a nossa biografada pertence a uma elite acadêmica, intelectual, política e
administrativa no campo da educação e nos subcampos da UFPR e da Secretaria de Educação do
Paraná onde assumiu como secretaria na terceira gestão do então governador Roberto Requião de
Mello e Silva.
Sendo assim, começamos pela família como núcleo fundante dos capitais relevantes dos
indivíduos. A começar pelo seu avô materno notamos uma distinção bastante relevante já que o senhor
Francisco de Almeida Freitas era general do exército brasileiro, exímio matemático e poliglota. Serviu
no exército primeiramente no Rio de Janeiro transferindo-se mais tarde para Ponta Grossa e por último
Curitiba. Seu avô general herdou muitas posses de terras da sua primeira esposa falecida e teve no total
três filhos. Os avós paternos não são mencionados pela professora, mas seus filhos sim em termos de
formação educacional e profissional. Recuperando a passagem da síntese da transcrição acima vejamos
o seguinte: “Seus avós paternos tiveram 6 filhos, dentre esses Mário Augusto Stadler de Souza era
militar e trabalhava no FMI (Fundo Monetário Internacional), foi Secretário de Agricultura do Paraná,
Silvio Romero Stadler de Souza foi desembargador no Estado do Paraná, Newton Fernando Stadler de
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Souza o próprio pai já citado acima, Nelson Romero Stadler de Souza comandante da Polícia Militar
do Paraná e Clóvis Stadler de Souza advogado e também funcionário da ALEP assim como seu pai e
Mirthes de Souza Uchoa professora primária”.
Encontramos nos seus tios e no próprio pai capitais muito importantes no que diz respeito a
construção de uma trajetória socialmente distinta. Reparamos que Mário Augusto foi militar, trabalhou
no FMI e ainda atuou como secretário da Agricultura no Estado do Paraná; Nelson Romero
comandante da polícia militar do Paraná; Clóvis Stadler advogado e funcionário da ALEP; Silvio
Romero desembargador do Estado do Paraná e o próprio pai o senhor Newton Fernando advogado,
sociólogo, professor universitário, funcionário da ALEP e anistiado mais tarde ainda na ditadura civilmilitar-empresarial no Brasil. Concluiu a sua carreira como Procurador Geral do Paraná e faleceu num
acidente de trânsito em 1990. Uma observação importante em relação aos filhos dos avós paternos que
foram 5 homens e uma mulher, sendo essa uma professora primária. A senhora Mirthes de Souza
Uchoa a única mulher e que seguiu a carreira do magistério; e, ao contrário de todos os outros homens
não assumiu cargos considerados de maior prestígio social de estatura política e econômica como os
demais servidores do Estado.
Segundo Saint Martin (2008, p. 46):
Em seu uso científico, para a maioria dos pesquisadores, “elites” designa “todos aqueles que se
encontram no topo da hierarquia social e aí exercem funções importantes, as quais são valorizadas e
reconhecidas publicamente através de rendas importantes, diferentes formas de privilégio, de
prestígio e de outras vantagens oficiais ou oficiosas” como explica Giovanni Busino, pode-se
acrescentar, para ser mais preciso, que as elites ocupam as posições de poder político, administrativo,
econômico, militar, cultural, religioso. É necessário acrescentar, como sublinha Christophe Charle,
que “por definição, não se faz parte das elites “em si”, deve-se fazer parte delas para os outros”.
Desta maneira devemos considerar relevante; no mínimo mencionarmos que as mulheres
terminam por ocupar os espaços de menor prestígio e poder na sociedade “pegando carona” no
exemplo familiar da professora Yvelise e que espelha até certo ponto o que acontece na sociedade,
mesmo em famílias com maiores “capitais” de herança. Vale também destacar que o termo mais
utilizado pelos acadêmicos das ciências sociais, na política em especial, carece de maiores explicações
quando utilizado de maneira genérica, mas segundo Saint Martin de forma imprecisa. As “elites”
podem ser inúmeras e não explicam com maior profundidade como os capitais são herdados,
conquistados, assimilados, acumulados, lapidados, reproduzidos, reconvertidos e compartilhados no
entrelaçamento e na complexidade dos diversos campos e subcampos da sociedade nos mais variados
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espaços de poder e esferas distintas. Para ser de uma elite precisa estar inserido em uma determinada
classe social, ou seja, de maneira genérica classe social subalterna, classe média e classe dominante.
No caso da professora Yvelise, até então sua herança familiar decorre de “capitais” econômicos
e sociais advindos dos extratos estamentais dos círculos militares, do aparelho jurídico e do
funcionalismo público do legislativo. Não são donos do capital no sentido empresarial, mas sua
herança decorre dos seus posicionamentos sociais em circuitos políticos, militares e administrativos
em níveis federal e estadual. A posse da terra aparece pela via do seu avô materno que herda várias
propriedades da sua primeira esposa. Ao mesmo tempo a professora Yvelise casou-se com “Luiz Irlan
Arco-Verde administrador de empresas, engenheiro de produção, atuou no Banco Bamerindus e no
LLoyds Bank; mais tarde atuou em sua própria empresa de construção civil e posteriormente trabalhou
no Lactec (Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento) com projetos na área de construção”. Um
dos seus irmãos é cardiologista e o outro empresário da educação posições relevantes nos seus
respectivos campos da saúde e da educação. Um dos seus filhos atua como advogado na área de direitos
humanos na câmara municipal de Curitiba e a outra filha como psicóloga e pedagoga do colégio Bom
Jesus. Apesar de não se firmarem como grandes capitalistas podemos a princípio admitir que a classe
social predominante dessa síntese biográfica familiar está mais posicionada como extrato da classe
dominante do que de uma classe popular.
De acordo com Mills (1979, p. 91-92):
A “situação de classe”, em seu sentido mais simples e objetivo, depende do montante e da fonte de
renda. Atualmente, o emprego, e não a propriedade, constitui a fonte de renda para a maior parte dos
indivíduos que recebem uma renda direta. As possibilidades de vender seus serviços no mercado de
trabalho, e não a compra e venda lucrativa de uma propriedade e suas produções, é que determinam
a vida da maioria dos indivíduos de classe média. Tudo o que eles podem comprar e os sonhos que
podem realizar dependem da renda proveniente de um emprego. Na nova classe média, os homens
trabalham para outros na propriedade dos outros. Isso explica muitas diferenças entre a antiga e a
nova classe média, assim como o contraste entre o antigo mundo dos pequenos proprietários e a
estrutura ocupacional da nova sociedade. Se a antiga classe média lutou contra as grandes
propriedades, em nome dos pequenos proprietários independentes, a nova classe média, como os
operários no capitalismo contemporâneo, desde o início esteve dependente da grande propriedade
para a segurança de seu emprego.
Nessa passagem de Mills procuramos posicionar os indivíduos de acordo com as suas
profissões, suas credenciais acadêmicas e seus atributos de negócios que envolvem certamente
profissões de prestígio como a medicina, o médio proprietário, o professor e os circuitos jurídicos e
militares pertencentes ao Estado. A complexidade cada vez maior envolvendo as carreiras de Estado,
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as profissões liberais e as ligações empresariais nos conduzem a dificuldades de encontrarmos uma
classificação mais próxima da realidade em termos de classe social. Mas, certamente partimos de
marcar uma posição social no que tange a família da professora Yvelise nos circuitos que envolvem
os extratos médios próximos a burguesia e não exatamente no interior da classe dominante. Desta
forma sugerimos apreendermos a carreira e a trajetória da própria professora Yvelise conforme seus
relatos.
Trajetória acadêmica e profissional da professora e ex-secretária de Educação do Paraná
Yvelise
A professora Yvelise desde cedo seguiu um caminho dos estudos voltados para a pesquisa e a
docência e antes mesmo da década de 1980 assumiu uma cadeira como professora substituta na UFPR.
No início da década de 1980 assumiu como professora concursada da UFPR e durante a sua carreira
também conquistou cargos administrativos de chefia no setor de ciências humanas, letras e artes da
própria universidade. Teve todo apoio familiar na construção da sua trajetória com pai e mãe presentes
na sua formação intelectual e cultural e em torno dela os avós de grande influência social como
descritos pela própria Yvelise. Suas referências continuam também através dos tios que contribuem
para a formação dos pilares de sua ascensão na conquista dos “capitais” necessários para a ascensão
intelectual e profissional. Seu auge profissional ocorreu em 2008 quando pela primeira e única vez
uma mulher professora da UFPR assumiu a cadeira de secretária de educação do Paraná e com isso
consolidou sua trajetória profissional, tornando-se com isso uma integrante da elite acadêmica e
profissional da educação obtendo um grau mais elevado de distinção. Mas essa posição que a ratifica
como membro de uma elite acadêmica e profissional da sua área não necessariamente a coloca numa
condição de ser membro da classe dominante como já explicamos. A partir da abordagem de
Poulantzas compreendemos que a construção genética-histórica dos indivíduos e como esses se
posicionam no (s) campo (s) e subcampo (s) segundo Bourdieu podem definir seu lugar na classe social
a qual estão inseridos ou vinculados.
No caso da professora Yvelise vale destacar toda a carga da herança familiar e suas interações
com o campo da educação ao longo da carreira, o matrimônio com um representante do extrato da
burguesia e a inserção dos filhos na composição dos capitais educacionais e profissionais sempre com
um destaque e prestígio social no interior das instituições de Estado ou na empresa privada, mesmo
como trabalhadores especializados.
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Segundo Poulantzas (1977; p. 57-58):
Com efeito, há uma leitura destes textos que deve ser afastada desde o início, pois que, em última
análise, se liga à problemática do “grupo social” que não se encontra em Marx: é a leitura históricogenética. Esta leitura, tomando os textos de Marx ao pé da letra, tal como se apresentam diretamente,
veria neles uma historiografia do processo de “gênese” da classe social. Estes diversos níveis teóricos
da análise de Marx constituiriam etapas históricas da formação de uma classe: massa indiferenciada
de indivíduos no início, ela organizar-se-ia em seguida em uma classe em si, para acabar, finalmente,
na classe-para-si. Esta leitura das análises de Marx reporta-se aliás a uma problemática historicista:
será conveniente assinalar aqui que é precisamente na teoria das classes que mais claramente se
manifesta o seu caráter inadequado. Poder-se-á nela distinguir duas correntes embora os seus
pressupostos sejam comuns. Trata-se, em ambas, de uma importação para o interior do marxismo do
esquema ontológico-genético da história, no sentido hegeliano do termo, e que se desenvolve sobre o
tema “são os homens que fazem a sua própria história”.
Não pretendemos nos estender nesse debate que encontra imbricadas interações e
possibilidades analíticas que envolvem filosofia, antropologia, sociologia e a própria história
evidentemente. Nesse caso podemos para efeito desse artigo provocar o debate acerca da determinação
das classes sociais e o referido posicionamento de alguns indivíduos perante essas estruturas dinâmicas
e complexas. O processo histórico e social deve-se levar em consideração no momento que
posicionamos determinadas biografias no contexto da análise sociológica das classes sociais. A
biografia da professora Yvelise não está completa sob o ponto de vista das suas gerações anteriores e
também foi realizada a partir do olhar no interior da sua família e que foi expressa através da sua
própria narrativa. Ao mesmo tempo conseguimos apreender relevantes aspectos sociológicos a serem
discutidos em torno dos estudos sobre biografias e das trajetórias de indivíduos pertencentes a elites
específicas e a própria classe dominante.
No que tange a esse artigo, vale destacar a importância desse debate no interior dos estudos
sobre elites e classe dominante, e no caso de um exemplo particular como no caso da professora
Yvelise, podemos estabelecer vínculos e distinções entre esses dois conceitos e ainda aproveitar para
afirmar polemicamente como pretende esse artigo provocativo que a biografia da professora Yvelise
narrada sinteticamente por ela mesma contém ricos elementos sociológicos de análise onde sua fala
corresponde ela própria uma narrativa de um membro de uma elite educacional assim como a sua
biografia reflete a de um membro representante da um extrato da classe dominante posicionada social
e historicamente. Essa posição social herdada e conquistada ao longo da sua trajetória independe da
posição política e ideológica no sentido político, mas sim da construção do seu ethos, do seu social e
cultural lapidado histórica e socialmente.
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Considerações finais
Compreendemos a relevância das pesquisas e dos estudos sobre famílias, genealogias,
nepotismo, instituições e poder como uma agenda de trabalho necessária e urgente nas ciências sociais,
em particular nesse caso na sociologia política e histórica. As estratégias utilizadas que envolvem as
biografias e prosopografias como formas de capturar a essência relacionada ao poder e a dominação
de classe encontra respaldo, principalmente quando revela os caminhos, itinerários ou as trajetórias
dos indivíduos que detém poder na sociedade capitalista contemporânea. Parafraseando Oliveira “a
classe dominante tem nome e sobrenome” e precisa ser investigada no sentido de desnudar os
meandros desse poder e suas estratégias para o alcance dos privilégios e vantagens a disposição dos
mais afortunados nessa sociedade de classes.
Nesse artigo procuramos demonstrar de que maneira as narrativas descritas mesmo que de
forma sintética pela própria biografada podem contribuir; mesmo que incipiente para o debate acerca
da importância desse instrumento sociológico de captura de dados e informações. Para efeito desse
artigo trata-se de suscitar uma profícua discussão sobre essa metodologia de pesquisa em vários de
seus aspectos.
Nesse caso específico que envolve os relatos da professora Yvelise identificamos que se trata
imediatamente de uma elite acadêmica-intelectual ou educacional inserida no campo da educação e no
subcampo da UFPR passando por um período governamental na pasta de secretária de educação do
Paraná. Isso não significa que podemos inseri-la como membro da classe dominante, mesmo porque
teríamos que analisar sociologicamente seus capitais de herança e de acúmulo durante a sua trajetória
de vida. Se olharmos somente para a carreira acadêmica e profissional não conseguiremos captar da
maneira mais apropriada suas profundas vinculações sócio-históricas; mas se recuperarmos seus
áudios transcritos iremos perceber que se trata de uma pessoa com fortes heranças com traços
econômicos, socioeducacionais e políticos imbricados nos aparelhos de Estado pela via da herança da
posse da terra, segmento militar, político-jurídico e educacional.
Yvelise de Souza Arco-Verde não é necessariamente alguém que pertence ao núcleo duro da
classe dominante, mas está inserida nos tentáculos dos extratos da classe dominante que permeiam a
burocracia estatal através dos aparelhos de justiça, militares e políticos no funcionalismo público pela
via da Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP) e a educação através do seu pai; também ex-professor
no ensino superior e sua tia ex-professora primária. Não se trata aqui de estabelecer vínculos
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ideológicos e políticos pela via da classe social a qual pertence; que a princípio poderíamos classificar
como sendo pertencente a um extrato das camadas médias da sociedade, pelo contrário; o que
pretendemos é explicar a partir de Marx com a contribuição de Poulantzas como os indivíduos se
posicionam no “campo” e “subcampo” de acordo com a vinculação de seus “capitais” a partir de
Bourdieu. Sendo assim, sem receio da polêmica, muito pelo contrário, procuramos provocar esse
debate no que tange ao pertencimento de classe situando a professora Yvelise na condição de um
membro pertencente as frações de classe da burguesia ou camada social da burguesia sem um vínculo
imediato com o grande capital das corporações bilionárias restritas a parte superior do sistema amplo
de dominação do imperialismo ou mesmo da burguesia nacional. Yvelise apesar de ser uma funcionária
pública de carreira da Universidade Federal do Paraná está; a despeito da sua própria vontade e
concordância posicionada social e economicamente mais próxima da classe dominante do que a
esmagadora maioria dos brasileiros. A riqueza no Brasil é para muito poucos, mas pertencer
embrionariamente ao Estado a partir dos elos familiares a coloca numa perspectiva privilegiada perante
a sociedade brasileira, aproximando-se a burguesia pela via de um extrato ou fração da classe
dominante onde o Estado sempre esteve, desde a sua fundação ligado as estruturas da burguesia
inseridas no sistema colonial e agora com o imperialismo.
Bibliografia
BOURDIEU, P. A. Distinção: Crítica social do julgamento. São Paulo: Edusp; Porto Alegre, RS:
Zouk, 2008.
CHARLE, Christophe. In: HEINZ, Flavio (org.). Por outra história das elites. Rio de Janeiro: FGV,
2006.
MILLS, W. C. A nova classe média: White Collor. Rio de Janeiro: Zahar, 1979.
MONTAGNER, Miguel. Trajetórias e biografias: notas para uma análise bourdieusiana.
SOCIOLOGIAS, Porto Alegre, ano 9, nº 17, jan./jun.2007, p.240-264.
OLIVEIRA, Ricardo Costa de (org.). Família importa e explica: Instituições políticas e parentesco
no Brasil – São Paulo: LiberArs,2018.
POULANTZAS, Nicos. Poder Político e Classes Sociais. São Paulo: Martins Fontes, 1977.
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REVISTA 70 anos de Educação em Revista – memória da educação paranaense, Secretaria de
Estado da Educação – SEED, Curitiba, 2017.
SAINT-MARTIN, Monique de. Da reprodução às recomposições das elites: as elites
administrativas, econômicas e políticas na França. TOMO, Revista do Núcleo de Pós-Graduação e
Pesquisa em Ciências Sociais/Universidade Federal de Sergipe Nº 13 (2008). São Cristóvão SE,
NPPCS/UFS, n.13 jul./dez., 2008.
Recebido em: 12 nov. 2021.
Aceito em: 8 dez. 2021.
Entrevista em anexo
Início das transcrições dos áudios, concedidos pela professora Yvelise de Souza Arco-Verde
“Nasci em 13/ 07 de 1957, portanto tenho 64 anos, sessenta e quatro anos bem vividos, vivi
uma vida bastante tranquila, em termos pessoais uma vida tranquila.
Nasceu e viveu praticamente a vida toda aqui em Curitiba.
Meu pai era formado em direito e foi professor da PUC/PR, ele também foi vice reitor da PUC,
faleceu em um acidente carro em 1990, dedicou-se sempre a questão do Magistério superior, deu
aulas nos cursos de Direito e Jornalismo, era um homem com princípios socialistas muito fortes e
como jornalista, ele na década de 1960 ele era presidente do Sindicato Nacional dos Jornalistas e na
época da ditadura militar ele, houve uma perseguição muito forte aos jornalistas semelhante a que há
hoje e meu pai defendia bastante a categoria e também defendia a questão da Petrobras na luta pelo
Petróleo é nosso.
Nessa época meu pai foi caçado politicamente, ele era servidor do Estado, era jornalista e
lecionava, nesse momento ele tinha seu escritório de advocacia também.
Ele acabou perdendo os direitos políticos dele, foi afastado do Estado, até que chegou à lei da
Anistia.
Mas como foi um homem muito ativo, dinâmico e inteligente nesse período ele foi sempre muito
buscado pelos políticos da região, pelas pessoas que assumiam lideranças no Estado do Paraná.
Ele era escritor, publicou quase 10 livros, inclusive todos muito bem aceitos um deles é o
Anarquismo da Colônia Cecília que ele escreveu na década de 60.
Eles era muito bem casado com a minha mãe, cuja formação era voltada mais para o Lar, ela
estudou no Colégio interno no Cajuru, ele concluiu o Ensono Médio, mas era uma mulher com uma
formação sólida e voltada para cuidar da família, eu tive uma escola dentro de casa.
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Tive um pai socialista que defendia os direitos humanos, inclusive ele depois que ele faleceu,
mas ganhou um prêmio de direitos humanos, o maior prêmio do Brasil de Direitos Humanos, eu tinha
tudo isso dentro de casa.
Um pai que conversava diariamente comigo e com meus irmãos, um irmão mais velho que é
médico e outro mais novo que é empresário dono de uma empresa educacional.
Nós tivemos essa formação na perspectiva de olhar o outro e olhar para a sociedade de ter
empatia. Eu entendo que grande parte da minha formação e das minhas ideias vem dessa estrutura
sólida que eu tive de meus pais de minha família.
De acordo com as concepções dele eu estudei sempre em escola pública, desde o primário eu
estudei no colégio Julia Vanderlei, depois estudei no colégio Rio Branco que ficava algumas quadras
de minha casa; nós morávamos no Batel.
Depois eu mudei para faze a escola Normal no Colégio Lysímaco Ferreira da Costa, foi aí que
eu aprendi a ser professora, uma escola excelente.
Eu ainda com 17 anos fui para a Universidade Federal para fazer Pedagogia. Fui bolsista,
monitora e segui o curso, nesse momento aos 18 anos, conheci meu marido, namoramos 4 anos e nos
casamos e fomos morar no Água Verde, em apartamento nosso, depois de três anos tivemos nosso
primeiro filho, ele se chama João Henrique ele tem uma visão de mundo muito parecida com a minha
, ele é formado em direito, trabalha com a coordenadoria de direitos humanos, desenvolve algum
trabalho na Câmara Municipal trabalha num mandato defendo muito os direitos humanos, fez
graduação em história e fez mestrado em direitos humanos , tenho também minha filha Letícia que
nasceu três anos após o nascimento do João Henrique que também tem formação muito sólida, ela foi
para área da psicologia mas acabou trabalhando com Educação Especial , se envolveu com a área
da Educação e fez Pedagogia, hoje ela trabalha no Colégio Bom Jesus , ela atende como psicóloga
as demandas da educação especial e sobre a questão da inclusão.
Hoje eu estou aposentada e um dos maiores orgulhos de minha vida é ser avó, tenho três netos
um deles é neto postiço que é o Luiz Paulo um garoto adorável, filho da esposa de meu filho, ela trouxe
do primeiro casamento. Aí tem a Antonela e a Valentina que são filhas da Letícia uma de 4 anos e
outra de nove meses e tenho o Gael que está a caminho e nasce no início do ano que vem, filho de meu
filho.
Enfim minha vida pessoal sempre foi muito ligada a minha vida profissional, do ponto de vista
familiar eu e meu marido temos laços muito estreitos com nossos filhos e com a família, nossos filhos
sempre vem almoçar conosco a maioria dos finais de semana, e nos falamos todos os dias, tivemos
que enfrentar alguns problemas sérios nesse transcurso , um deles foi um acidente de moto muito sério
de moto em 2009 de meu marido já faz 12 anos e na sequência ele teve um câncer na medula que o
deixou cadeirante, isso foi muito difícil nós tivemos que lidar com essa situação e nos adaptarmos ao
novo cenário e condição dele.
Aprendemos a refazer a vida de uma forma nova, diferente, passamos um tempo em Brasília
para tratar o problema dele no Hospital Saha Kubistchek
Fez um tratamento no centro de Neurologia necessárias as adaptações para viver com a nova
condição de cadeirante.
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Eu tenho minhas frentes de apoio que eu ajudo na comunidade, sei que é pouco frente as
necessidades trazidas com a pandemia, além do mais o país passa por um momento muito difícil de
perdas socias além do negacionismo e perda de direitos em geral.
Eu perdi minha mãe faz alguns meses, nesse último ano que ia tinha 89 anos e já estava com
Alzheimer, faz 30 dias que perdi minha sogra, perdi também três amigas muito próximas.
Meu avô paterno se chamava, Petronio Romero Carneiro de Souza e da vó Helena Schneider
Stadler de Souza.
Meus avós maternos são, Francisco de Almeida Feitas e Iolanda Taques de Freitas, ela morreu
muito cedo, minha mãe era muito pequena tinha apenas 8 anos e meu avô casou-se novamente, então
quem eu conheci como avó foi a senhora Carmem da Fonseca Freitas.
Meu avô Paterno o senhor Petrônio, ele veio de Pernambuco da Cidade de Nazaré da Mata,
o irmão dele mais velho já estava morando aqui na região sul, onde ele tinha comprado terras, ele
era um homem com muita influência política ali na região de Porto Amazonas, ele era um intendente
do Paraná e tinha influência política ele próprio era um político, na época não havia eleição para ser
Intendente, esse cargo era concedido pelo governo.
O Nome dele era Raul Péricles de Souza irmão de meu avô Petronio, ele que acabou trazendo
meu avô para morar aqui, meu avô era formado em direito, depois se tornou Juiz na cidade Palmeira,
lá em Palmeira ele conheceu minha avó, ela era de uma família ali mesmo de Palmeira de origem
Russa Alemã, Helena Schneider Stadler de Souza, eles casaram, tinham um armazém de secos e
molhados.
Minha avó era analfabeta, mas uma mulher com bons tratos, e boa formação familiar, eles
tiveram 05 filhos homens e 01 filha mulher, todos estão falecidos com excesso da Tia Mirthes que foi
a última filha a nascer.
Meus tios, filhos de meu avô Paterno inclusive meu pai, tiveram cargos importantes, eram
pessoas que estavam bem colocados socialmente.
O primeiro era meu tio mais velho era militar e trabalhou no FMI, foi Secretário de
Agricultura; O segundo era meu tio Silvio, que foi desembargador aqui no Paraná; o terceiro era meu
pai Newton, advogado, professor Universitário; O quarto era meu tio Nelson, comandante da Polícia
Militar; o quinto era o Clóvis que era advogado e atuou muito na ALEP; O sexto era minha Tia
Mirthes, professora Primária.
Todos eles vieram para Curitiba, só meu tio que era desembargador que ficou no interior, mas
que mudou para Curitiba após os demais virem.
Era uma família influentes e de altos e baixos no que se refere a política, era composta por
irmão de direita e de esquerda.
Um irmão militar era mais direitista e outros ligado a área de humanas e meu pai e o tio
Clóvis, seu irmão mais novo que eram por assim dizer, as ovelhas negras da família por serem os
adeptos da esquerda, abertamente, mas meu avô também embora tivesse uma concepção de mundo
ainda muito forte em sua formação da questão do Nordeste, do coronelismo, ele também carregava
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uma sensibilidade muito grande nas questões sociais, um homem de senso de justiça acima de tudo de
muita justiça social.
Minha avó era muito simples mas muito presente na vida de todos os filhos, eles tinham uma
casa muito grande com muitas empregadas e sempre a casa estava cheia de netos e filhos, primas dela
etc. Eu convivi muito com ela, meu pai morava em Curitiba e foi aqui que ele fez a vida aqui, já é uma
outra constituição.
Meu avô era General, nós o chamávamos de vô General.
Chamava-se Francisco de Almeida Freita, ele fez carreira no Exército, era um homem muito
estudioso e meigo, ele era auto didata, falava Francês, Inglês e ele aprendeu sozinho era excelente
matemático e escrevia muito bem também, ele foi muito bem no exército, sempre passava nos exames
em primeiro lugar, serviu no Rio de Janeiro, tirou em primeiro lugar no Brasil e aí ele pode escolher
a praça onde ele ia servir aí ele escolheu Ponta Grossa e Curitiba.
Lá em Ponta Grossa ele conheceu minha avó, Iolanda Tax de Freitas, eles casaram mas ela
morreu muito cedo vítima de tuberculose, com 35 anos, ele herdou muitas terras da minha avó, a
família dela tinha patrimônio grande mas eram pessoas simples do campo, meu avô casou-se
novamente, com minha avó Carmem da Fonseca Freitas, ele havia conhecido ela no Rio de Janeiro
quando ele serviu por lá, minha mãe era muito jovem quando a minha avó morreu, tinha 8 anos e logo
foi colocada numa escola interna no Cajuru para estudar.
Minha mãe tinha 05 irmãos também, 02 do primeiro casamento de meu avô e depois dois
irmãos do segundo casamento Tio José Carlos e Tia Elza, estes dois ainda estão vivos.
Agora imagina meu pai sendo taxado de Comunista, sendo caçado e tendo como sogro um
General em plena ditadura militar, eram situações bastante contraditória, mas eram homens muito
inteligentes e acabaram tratando de todas estas situações de forma muito pacífica.
Meu filho: João Henrique de Souza Arco-Verde , ele é casado com Samara Alice da Silveira
Arco-Verde, minha Filha: Letícia de Souza Arco-Verde Locatelli é casada com Ailton Gilberto
Locatelli Netto, meu filho casado com a Samara, tem um enteado, filho de um relacionamento anterior
da Samara , o menino se chama Luiz Paulo a Samara está grávida o bebê chamar-se-Gael e nasce
em fevereiro , e minha filha Letícia que é casada com Ailton tem duas filhas, são elas Antonela de 4
anos e a Valentina de 9 meses.
A Samara, esposa de meu filho é professora Pedagoga PSS e dá aula em uma escola privada
“Umbrela”, na Educação Infantil.
O Marido de minha filha, o Ailton ele trabalha no banco da Renault, gerenciamento financeiro,
ele é Engenheiro de Produção.
Meu marido: se chama Luiz Irlan Arco-Verde, formado em Administração, quando nos
casamos ele trabalhava no Banco Bamerindus e depois no Banco Lloyds, depois como ele também
tinha uma formação de Engenheiro, que ele estudou em Taubaté, ele abriu uma construtora, ele
trabalhou muito tempo numa construtora depois ele fechou a construtora e foi trabalhar no LACTEC
fazendo projetos na área de construção e justamente quando ele teve o acidente de moto e na
sequência ele teve câncer e acabou sendo aposentado por invalidez, por conta das sequelas
neurológicas e ficou cadeirante.
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Data de nascimento de meu Pai Milton Fernandes Stadler de Souza 12/08 / 1929, faleceu em
31/10/1990 num acidente de carro. Ele foi advogado, jornalista, sociólogo, escritor, desenvolvia
várias atividades ele sempre era chamado de professor Niltom, também deu aula sempre na PUC, ele
terminou seus dias como procurador geral do Paraná isso depois que ele recebeu a Anistia.
Data de nascimento de minha mãe, Maria Zuleica Freitas de Souza 05/09/1931 faleceu em
11/11 / 2020.
Tenho dois irmãos: Nilton Fernandes Stadler de Souza Filho, Médico e trabalha na Santa Casa
como Cardiologista e também trabalha Instituto Neurológico de Curitiba, ele é casado com a Estela.
Meu irmão mais novo chama-se Décio Freitas Stadler de Souza que é empresário trabalha com
educação na parte de recrutamento e seleção, ele é casado com Emili Habane de Souza.
Data de nascimento de meus filhos:
João nasceu em 05/05/84, minha filha nasceu em 16/04/87.
Sobre os pais de meu esposo:
Meu sogro chama-se Alcides Proman Arco-Verde, nasceu em 23/03/31, ele faleceu em julho
de 1994, ele trabalhava como presidente IPMC ele era servidor municipal.
Minha sogra chama-se Isaldi Capriglone Arco-Verde ela era estatística, faleceu em setembro
de 2020, eles tinham mais um filho, Roberto José Arco-Verde que também trabalhou na Câmara
Municipal ele tem como formação desenho industrial.
Eu estudei o primário no Colégio Julia Wanderley, estudei lá do 1º ao 5º ano, após isso fez
exame de admissão para entrar no ginásio no Colégio Rio Branco do 5º ao 8º ano, o Colégio ficava
na esquina da rua onde morávamos.
Na sequência que seria ensino Médio, mas ainda não se chamava Assim porque de acordo com
a Lei 5692 já se chama segundo grau. Eu fui fazer a escola normal e estudei no Lysímaco Ferreira da
Costa.
Era um dos cursos melhores do país, aprendi a ser professora lá, me formei aos 16 anos, na
ocasião as únicas Universidades aqui no Paraná era a Federal e a PUC , todos os alunos antes de
tentar acessar a Universidade faziam cursinho, eu não fiz cursinho, me inscrevi direto fiz opção por
direito, jornalismo e coloquei pedagogia como terceira opção, e eu acabei passando na terceira opção
que era pedagogia , então eu ingressei no curso para ver o que era, e me encantei com o curso, gostei
do curso, talvez por influência do Magistério que havia feito, e também pela receptividade dos
professores.
Os professores encontraram em mim uma reciprocidade muito boa, eu fui bolsista e sempre
fui convidada para ser monitora até porque eu falava francês e inglês e isso tudo ajudava bastante.
Me formei na Universidade com 20 anos quase completando 21, no ano que me formei, me
formei em dezembro de 1979, e março do ano seguinte, abriu um concurso para colaboradora, não se
tratava de um concurso público era um processo interno e eu fiz e passei e me tornei professora
colaboradora da UFPR. Então com 21 anos eu já eram professora Universitária na UFPR e na
sequência, abriu concurso público porque mudaram as regras do País para concurso, eu tirei 10 na
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prova de didática, 10 na prova de escrita e na prova de título eu tinha o mínimo necessário, e eu passei
no processo, me tornei professora titular da UFPR aos 21 anos.
Na sequência eu lecionava em outro colégio também. E também comecei o Mestrado eram 5
anos e foi muito bom acabei aprofundando meus estudos numa mesma linha dos estudos de pedagogia,
nós tínhamos um leque muito pequeno de cursos nesse momento no Paraná, no mestrado desenvolvi
uma Tese que estava relacionada a educação infantil, eu era muito jovem estava tendo meus filhos e
a educação infantil era algo que me atraía, fiz toda minha carreira dentro da Universidade, peguei
alguns cargos administrativos dentro da Universidade. Pró-reitoria de Extensão de Cultura, nesta
mesma época eu me preparava para fazer o Doutorado.
Fui tentar o Doutorado em São Paulo, queria algo que desse conta das leituras que eu tive no
mestrado mas que tivesse tido contato durante minha trajetória profissional, então eu acabei indo
fazer meu mestrado na PUC de São Paulo. Foi a primeira vez que fui estudar numa instituição privada
mas com bolsa integral da CAPES. Fui então estudar com grandes nomes de nossa educação uma vez
que a PUC era uma regência no ensino, minha tese de doutorado era uma discussão sobre o tempo,
uma abordagem filosófica sobre tempo, cronos e ciros, e finalmente uma tese de escola em tempo
integral, completando as disciplinas do Doutorado, me provocaram muito, estudei muito o ano já era
2002, tudo foi muito desafiador.
Eu já estava praticamente na metade de minha carreira profissional, ao mesmo tempo acabei
desenvolvendo um trabalho nos EUA e na África e logo na sequência fui à França. Desenvolvi alguns
trabalhos na área de minha pesquisa.
Eu completo dizendo que sempre fui muito comprometida com tudo o que eu fazia e sempre fui
muito estudiosa, a lida com a coisa pública, sempre foi muito responsável, fui diretora do CEAP
Centro de Assessoramento da Universidade com a Educação Básica, fui diretora da TV educativa,
depois vim para o Estado, no Estado fui como Secretária depois como superintendente, depois fui
para Brasília como diretora do MEC de gestão e depois como secretária nacional de Ed básica. Todas
estas experiências serviram como um mestrado por dia, foram muitos os ensinamentos.
Toda essa vivência fez toda a diferença para minha formação profissional e humana., fiz teste
de admissão, eu dei aula no curso de admissão como convidada, era um cursinho particular, mas dei
aula de gramática e ganhei experiência, depois eu dei aula no colégio Nossa Senhora da Esperança,
dei aula de todas as disciplinas, era ensino básico e era uma escola de freiras, aprendi muito sobre o
pedagógico e a organização de uma escola.
Nesse momento eu já estava cursando Pedagogia e quando me formei como já relatei fui
trabalhar na UFPR, atuei também em algumas escolas de ensino básico para complementar a carga
horária, dei aula de didática da matemática didática da língua portuguesa e depois participei
orientando estágio do Magistério.
Em março de 79 eu recebi um convite das minhas professores para fazer um teste para
professor colaborador, não era concurso público, passei no processo e fui dar aula na Universidade
nas turmas de Pedagogia, naquele mesmo ano abriu o concurso público como relatei anteriormente
e eu passei no concurso e fui empossada como professora titular da UFPR, naquele mesmo ano eu me
casei e como o senário político era muito inseguros, eu trabalhava na Universidade e também mantive
meu trabalho na escola privada. Houve um processo de abertura de vagas na faculdade para conceder
vagas para dedicação exclusiva e eu aí mudei e fiquei só dando aula na Universidade e pude também
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me dedicar ao meu Mestrado, na sequência eu fui me envolvendo com trabalhos de comissões para
organizar a Universidade e eu fui trabalhar nessa organização.
Fui então convidada para ser chefe do departamento de educação dentro da UFPR, auxilie
também a pró-reitoria de extensão e de pesquisa, nessa época havia muitas greves.
Quando saí do departamento fui ser chefe da TV educativa da Universidade me foi designado
que eu pudesse organizar um centro que pudesse assessorar as atividades com uso da tecnologia com
a pesquisa para a educação básica., daí criamos o CEAP que auxiliava a educação básica junto à
prefeitura de Curitiba e também com o Estado. Contribuímos para os estudos da escola de tempo
integral, foi aí que alguns projetos foram desenvolvidos em parceria com o Governo Federal por meio
do FNDE, muitas discussões foram desenvolvidas a partir das contribuições de meu trabalho nessa
integração com a educação básica.
Na sequência eu fui convidada pelo reitor da UFPR, professor José Henrique de Faria para
ser coordenadora em um projeto de intermediação do ensino superior e educação básica, o projeto
se chamava Professor de integração do 1º, 2º e 3º graus, eu continuei trabalhando junto ao FNDE e
comecei também atuar nesse projeto como coordenadora.
Eu trabalhei um tempo com essa grande tarefa e nesse momento com a saída do governo color,
entra o ministro Murilio Hingel e propõe um novo programa educacional chamado PRONAICA,
(Programa Nacional de Atenção e Integração à Criança e ao Adolescente) e as universidades foram
chamadas no Brasil para apoiar o programa e eu fui convidada pela Universidade, para fazer a
organização, era um grande programa com a construção dos CAICS, que eram os centros de atenção
integral à criança e ao adolescente e fui chamada porque eu tive uma pequena experiência lá atrás
quando trabalhei na Prefeitura, com as ETI's Escolas de Tempo Integral, primeiro do Requião e
depois com os CEIS - Centro de Educação Integral do Lerner, nos dois eu atuei como assessora dos
projetos ligada a Universidade.
O Brasil era signatário dos programas de Educação para todos, era um enfrentamento grande
da questão, evasão e de abandono escolar, a ideia era trazer esses alunos que não tivessem só atenção
escolar, mas também uma atenção mais integral e que eu buscava nas minhas assessorias mostrar
que a educação escolar não era restrita aos conteúdos escolares, mas sim era um processo muito mais
abrangente de formação das crianças e dos adolescentes.
Eu fiquei como coordenadora desse programa pela UFPR e nesse período fizemos muitos
encontros para promover a educação continuada com os professores que iam atuar nessa área.
Nesse processo a coordenação ficou vinculada a pró-reitoria de Educação e Cultura em todo
território nacional e como eu estava ali naquela pró-reitoria, eu fui convidada para ser coordenadora
de extensão da pró-reitoria, a professora Tânia Maria Barbicha assumiu a pró-reitoria de extensão,
na mesma época o governo Federal criou o PROESTE um programa de extensão, com recursos que
eram liberados através do FNDE, então para conseguir liberação desses recursos era necessário
apresentar projetos junto ao FNDE, e conseguir mais recursos para fazer mais cursos com o pessoal
do serviço público e eu também atuei nesse área.
Nesse período a. professora Tânia ficou doente e eu acabei assumindo também a pró-reitoria
de Cultura da UFPR ano era.96 até 99 mais ou menos. Entre outros nós trabalhamos no Projeto da
banana, eram projetos voltados para a região do litoral, projeto da banana, projeto do palmito das
outras, projeto da formação de professores, projeto de creches fui me envolvendo em todos os projetos.
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Na sequência eu fui chamada pela ABC Agência Brasileira de Cooperação que funciona
dentro do Itamarati, fui convidada para desenvolver um trabalho na África junto ao País São Tomé e
Príncipe era um País que estava recentemente saindo de um processo de fechamento apoiado por
Cuba, fechamento político então ele estava numa abertura e eles precisavam de apoio Internacional
e por isso ele foi colocado em um grande de programa de países de Língua Portuguesa. Eu fui
chamada para atuar nesse programa e fui para África atuar ali junto às outras equipes internacionais
em São Tomé e Príncipe.
Foi uma experiência muito rica, atendíamos a 33 escolas no país todo, e fizemos um trabalho
de treinamento muito interessante. Pudemos trazê-los para cá para fazer avaliação e esse atendimento
a essa população foi muito positivo. Eu estava finalizando estes projetos quando decidi iniciar meu
Dourado, fiz o projeto e apresentei à Universidade PUC de São Paulo como local da minha formação
de doutorado, foram 4 anos intensos, estudei com bolsa, estudei, Marx, Gramsci.
Nesse meio tempo recebi uma ligação telefônica era o Governador Requião me convidado
para participar de uma solenidade para assumir a Superintendência de Educação”.
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