Sítio Dos Sabores – J. Borges – Xilogravura Assinada

É impossível falar sobre a arte brasileira sem fazer referência à obra de J. Borges. Reconhecido como Mestre e Patrimônio Vivo de Pernambuco, ele é considerado por Ariano Suassuna o maior gravador popular do Brasil. Durante sua infância, José Francisco Borges (1935) trabalhou no roçado e frequentou a escola por apenas alguns meses. Na juventude, exerceu várias profissões, como mascate, pedreiro, carpinteiro e pintor de casas. Sua paixão pelos folhetos de cordel despertou uma habilidade expressiva para vendê-los em feiras populares. Ao longo do tempo, ele se familiarizou com as rimas e métricas desse gênero literário, passando a escrever suas próprias histórias. Seu sucesso foi imediato.

Naquela época, J. Borges não possuía recursos para encomendar clichês para ilustrar as capas dos cordéis. Mesmo sem ter domínio técnico, ele decidiu criar suas próprias matrizes de madeira. Esse foi o brilhante início de sua trajetória artística, que começou com o cordel e se consolidou na xilogravura. Autodidata, J. Borges deixa-se guiar pela espontaneidade de sua imaginação. Suas obras transcendem as noções convencionais de perspectiva e proporção, revelando uma maestria criativa. A partir dos anos 1970, suas xilogravuras ganharam dimensões maiores, retratando temas do folclore e do cotidiano nordestino, sempre com poesia e humor.

Tradicionalmente, as gravuras em madeira eram produzidas em preto. Quando coloridas, os artistas utilizavam várias matrizes, entalhando uma para cada cor. Inovador, J. Borges passou a aplicar múltiplas cores em uma única matriz, desenvolvendo uma técnica única de entintagem. Desde então, suas obras coloridas têm sido amplamente procuradas por galerias e colecionadores.

Hoje, com mais de 80 anos, J. Borges consolidou um estilo inigualável, perpetuado por seus filhos e familiares, transformando Bezerros (PE) em um dos principais polos da xilogravura brasileira. O Mestre recebeu reconhecimento internacional, com reportagens no The New York Times, um prêmio da UNESCO e a ilustração de um calendário da ONU. Ele também foi condecorado com a comenda da Ordem do Mérito Cultural (1999) e tem suas obras expostas em importantes museus nacionais e internacionais. Em 2023, o Presidente Lula presenteou o Papa Francisco com uma de suas xilogravuras.

SOBRE A TÉCNICA

A xilogravura é uma técnica milenar na qual o artista utiliza goivas e facas para entalhar uma placa de madeira. Assim, ele cria uma matriz, semelhante a um carimbo. Em seguida, a superfície dessa matriz é entintada manualmente com um rolo ou pincel, podendo ser em preto ou colorida. Devido ao baixo relevo, as partes esculpidas permanecem sem tinta.

Posteriormente, um papel é prensado sobre a matriz, resultando na impressão da gravura. O artista finaliza a obra assinando-a a lápis, o que valida sua autenticidade. Quando a edição é limitada, a numeração também é indicada. É interessante observar que o conteúdo é gravado na matriz de forma invertida e, após a impressão, ele aparece no papel com a orientação correta.