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    Bárbara, a goleira que salvou Marta, luta pela confiança da torcida

    Brasil enfrenta a Zâmbia na manhã desta terça (27), já pensando nas quartas de final. A camisa 1, Pia garante, não muda

    Bárbara, goleira da seleção feminina de futebol nas Olimpíadas
    Bárbara, goleira da seleção feminina de futebol nas Olimpíadas Foto: Sam Robles/CBF

    Leandro Iamin, colaboração para a CNN

    Bárbara, 33 anos, é a goleira do Brasil e está confirmada para a partida desta terça (27), às 8h30, contra a Zâmbia, pela terceira e última rodada da primeira fase do futebol feminino nas Olimpíadas de 2020. A camisa 1 do Avaí/Kindermann já tem uma medalha olímpica em casa, de prata, conquistada em 2008. Treze anos depois, ela ainda sofre para conquistar a confiança da torcida.

    A goleira pernambucana foi elogiada na estreia contra a China, quando fez ao menos três difíceis defesas.

    Bastou, no entanto, uma falha no jogo dianteda Holanda para que voltasse à tona o debate sobre sua confiabilidade. Na transmissão da TV Globo, Galvão Bueno usou a expressão “mão-de-alface” para sintetizar o equívoco da goleira.

    Entre seus altos e baixos, duas certezas: seus erros são vistos com lente de aumento; e não há consenso denome substituto.

    Entre as grandes goleiras do futebol mundial, nenhuma é brasileira.

    Em uma lista de postulantes a camisa 1 do Brasil, vários são os nomes citados, mas nenhum goza de um apelo que pareça unanimidade. E, na ausência de uma unanimidade, Bárbara segue no time, pela experiência e confiança adquirida com o tempo. Sua escalação foi escolha de diferentes treinadores e treinadoras.

    goleira bárbara seleção brasileira de futebol
    Foto: Instagram/barbaragol1

    Rio-2016

    Pelas quartas de final do torneio olímpico, com o Mineirão lotado, Brasil e Austrália foram para a disputa por pênaltis. A quinta e última cobrança do Brasil era incumbência de Marta, que não converteu em gol. Por cerca de um minuto, o destino se impôs cruel com a principal jogadora brasileira. Mas Bárbara defendeu a cobrança seguinte, aquela que, se entrasse, eliminaria a seleção.

    A classificação veio um tanto depois, com drama, 7×6 nos penais, e o aliviado e mais apertado abraço de Marta, às lágrimas, foi nagoleira que corrigiu sua falha. A Rainha alagoana vivia, na época, dias de pressão com as pitorescas comparações entre ela e Neymar, cujo nome em algumas camisas era rasurado e trocado pelo nome de Marta. O time masculino teve desempenho péssimo na primeira fase, ao contrário do feminino.

    Foi o grande momento e a maior façanha de Bárbara na seleção. Mas, no Mundial de 2019, Bárbara voltou a ser criticada por bolas defensáveis contra Austrália e Itália, e, para parte considerável da opinião pública, Pia Sundhage deveria começar seu trabalho inaugurando uma nova fase na meta brasileira. Não foi o que aconteceu.

    Despedida

    Bárbara joga sua quarta e última Olimpíada. “É muito difícil chegar até a Seleção, mas permanecer é ainda mais”, afirma a goleira, que inicialmente era reserva em Pequim-2008, mas herdou a vaga quando Andreia, a titular de então, se lesionou logo na estreia.

    Na Copa do Mundo de 2015, a goleira foi Luciana, referência máxima da Ferroviária, que, nas oitavas de final, falhou no gol que classificou a Austrália. Quatro anos antes, na mais dolorosa derrota em mundiais, foi Andreia quem falhou em saída do gol no último minuto da prorrogação.

    São acontecimentos, portanto, relativamente repetidos e corriqueiros nas jornadas do Brasil em grandes competições, não necessariamente com Bárbara debaixo das traves, o que leva o debate para o desenvolvimento daposição no país, não para o endereço de uma só goleira.

    Base e componente racial

    De todas as posições do futebol, a goleira é a mais específica e que depende de mais treino. A sofisticação dos trabalhos de fundamentos desta posição aumentou muito nos últimos anos, exigindo até trabalhos com os pés, e está relacionada, no futebol profissional, ao contínuo treino de base. É difícil calcular o déficit técnico ao saber que Bárbara entrou em um campo de futebol pela primeira vez aos 16 anos. Muito tarde, mas nada diferente do que a maioria das goleiras de sua geração.

    A defasagem na posição mais específica do futebol está ligada a um preparo de longo prazo, no qual o Brasil falha há tempos como projeto. À parte a discussão sobre o refinamento técnico, um aspecto social faz parte de todo debate sobre goleiros no Brasil pelo menos desde 1950, quando Barbosa, do Vasco, tomou um gol diante de 200 mil brasileiros em uma final de Copa do Mundo contra o Uruguai.

    O icônico lance do gol de Gigghia encorajou o fortalecimento de um discurso racista que afirmava ser, o gol, um lugar para homens de confiança, e, portanto, um lugar impróprio para negros. A cor da pele é algo em comum entre Barbosa e Bárbara.

    Contra a Zâmbia é esperada uma fácil vitória, e o jogo sequer é eliminatório. A partir das quartas de final, a pressão em nome do “erro zero” tende a crescer. Veterana e experimentada, Bárbara tem uma jornada que pode reposicionar seu lugar na memória do torcedor.