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    Blocos lançam manifesto pela realização do Carnaval de rua no Rio de Janeiro

    Grupos defendem que folia não é um evento que depende de alvará da prefeitura, mas uma manifestação cultural popular.

    Filipe BrasilPauline Almeidada CNN

    Rio de Janeiro

    Depois da mobilização pelo Carnaval de rua em São Paulo, o movimento também acontece no Rio de Janeiro. Um manifesto assinado por quase 130 blocos e associações foi lançado nesta segunda-feira (11) pelo direito aos desfiles.

    Os grupos também convocaram um ato público para a próxima quarta-feira (13), com o objetivo de marcar a posição pela folia.

    O manifesto destaca que o incentivo ao Carnaval está previsto na Lei Orgânica do Município e que cabe ao poder público garantir recursos e infraestrutura para a festa. Além disso, os organizadores defendem que a prefeitura não pode impedir a folia de rua.

    “Carnaval não é um evento social que depende de alvará do poder público, é uma expressão popular e um direito histórico conquistado na luta. A rua é do povo e nossa voz é livre”, descreve o documento.

    À CNN, a Riotur, empresa de turismo da prefeitura, responsável pela festa, divulgou que havia feito todos os preparativos para retomar o Carnaval de rua em 2022. No entanto, a paralisação do projeto inviabilizou a realização neste ano por conta do tempo de planejamento.

    “À época, o valor só da outorga para a Riotur era da ordem de R$ 6 milhões. A patrocinadora vencedora pagaria toda a infraestrutura que envolve o Carnaval de rua. Quando houve a decisão pela não realização do Carnaval de rua, todo o trabalho da Riotur com os inúmeros órgãos públicos (da prefeitura e do estado) foi paralisado”, divulgou o órgão.

    Kiko Horta, músico do Cordão do Boitatá, um dos blocos que assina o manifesto, aponta que haverá desfiles das escolas de samba na Sapucaí e na Intendente Magalhães (espaço das séries de acesso), além de festas privadas. Por isso, defende que não faz sentido a proibição aos blocos de rua.

    “Nesses dois anos, os blocos do Rio foram exemplares, ninguém saiu, todo mundo fez lockdown, toda essa rede de trabalhadores, de músicos, camelôs. Agora, não há justificativa para não poder ir para a rua. Porque o Carnaval de rua é a manifestação popular mais importante do Rio e gera enormes benefícios em termos culturais e econômicos”, colocou.

    Horta afirma que ninguém espera uma festa como a de 2019, antes da pandemia, mas argumenta que não deve haver repressão aos grupos que quiserem se manifestar, especialmente após o fim das restrições contra a Covid-19. Também pede uma força-tarefa da prefeitura e empresas para viabilizar a folia de rua.

    “Eu acredito que muitos blocos vão querer fazer um ato simbólico e estão no direito disso. Não é baderna, é um gesto de amor pela cidade”, declarou.

    Tentativa de negociação acaba sem consenso

    Nesta segunda-feira, segundo o gabinete do vereador Tarcísio Motta (PSOL), presidente da Comissão Especial do Carnaval da Câmara do Rio, o Município negou dois pedidos feitos pelo parlamentar.

    Na semana passada, Motta encaminhou à prefeitura uma solicitação para que os blocos Cordão da Bola Preta, Bafo da Onça e Cacique de Ramos pudessem se apresentar no Terreirão do Samba, tradicional espaço de shows do Rio. A Riotur informou que, na data solicitada, o espaço estará fechado, pois será seguido de um dia útil.

    Outro pedido era para que os blocos de matriz afro fizessem o ritual de lavagem do corredor cultural do bairro da Lapa, seguido de um baile na sede da Federação dos Blocos Afro e Afoxés (Febarj).

    O presidente Febarj, Paulo Cesar Xavier, afirmou que a manifestação é importante do ponto de vista cultural e que necessita de verba pública. Ele destacou que os dois anos de paralisação de eventos durante a pandemia deixaram um impacto financeiro intenso nos músicos, produtores culturais e na própria entidade.

    “Os blocos afro, juntamente com os blocos de rua, estão lutando para poder fazer o Carnaval”, declarou o presidente da Febarj, grupo que também assina o manifesto Ocupa Carnaval.

    Um dos signatários do manifesto, o Cordão da Bola Preta informou que fez a assinatura “por entender que o Carnaval de rua do Rio de Janeiro está sendo negligenciado pelo poder público”. No entanto, em nota, a assessoria do bloco disse que não há intenção de fazer um desfile no momento.

    “O objetivo é chamar a atenção da Prefeitura para o caso, uma vez que ela não apresentou uma solução para o setor ou se comunicou com os blocos para que se encontrassem maneiras de realizar os desfiles nas ruas”, diz a nota.

    O ato público dos grupos em defesa da folia de rua acontece às 17h desta quarta-feira, com saída da Candelária para a Cinelândia, no Centro do Rio de Janeiro.

    Já a Associação Independente dos Blocos de Carnaval de Rua da Zona Sul, Santa Teresa e Centro do Rio (Sebastiana) mantém a decisão tomada no início deste ano de não realizar desfiles em 2022. A entidade aponta que a prefeitura não teria como preparar a infraestrutura necessária para os 600 blocos da cidade desfilarem em apenas quatro dias.

    Questionada sobre como vai atuar em relação à possibilidade de blocos no próximo feriado e se haverá fiscalização, a Secretaria Municipal de Ordem Pública (Seop) informou que, no momento, ocupa-se apenas dos detalhes da operação para os desfiles na Sapucaí.

    Durante o Carnaval, entre o fim de fevereiro e o início de março, alguns grupos saíram pelas ruas da cidade mesmo sem autorização da prefeitura. Na época, as manifestações foram desmobilizadas pela Seop e Guarda Municipal.

    O Carnaval de rua foi cancelado pelo prefeito Eduardo Paes em janeiro, por conta da situação da Covid-19 na cidade. Na data, Paes disse que o planejamento exigia antecedência e que o cenário epidemiológico era incerto.

    Atualmente, por parte da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), “do ponto de vista epidemiológico, a única restrição em vigor na cidade é a obrigatoriedade do passaporte vacinal em eventos fechados”.

    A assessoria de imprensa do Cacique de Ramos informou que “de fato, a proposta para o carnaval simbólico no Terreirão foi avaliada positivamente”, mas que deve continuar sem desfiles, realizando apenas eventos fechados.

    Carnaval em São Paulo

    Na capital paulista, na tarde desta segunda, a prefeitura descartou a realização do Carnaval de rua neste mês de abril. No entanto, autoridades disseram que buscam uma data alternativa ainda este ano, com tempo hábil para organização da logística.