<
>

Cristiane e Andressa Alves se juntam para detonar 'bagunça' no futebol feminino: 'Oba oba da Copa do Mundo acabou'

Acabou a Copa do Mundo feminina e o futebol voltou para a sua realidade. Após viver seu auge na considerada 'maior Copa de todos os tempos', as jogadoras dentro do Brasil estão decididas a, cada vez mais, mostrarem a sua força. E uma voz importante se manifestou: Cristiane Rozeira.

Veterana na seleção brasileira, Cris atua com a equipe há 19 anos e é uma das mais experientes do elenco. A exemplo, ela já anotou um hat-trick no primeiro jogo do Brasil no mundial e passou a assumir a 2ª colocação de maior artilheira de mundiais do país, atrás apenas de Marta.

Em 2017, após a demissão de Emily Lima, algumas jogadoras veteranas e ex-jogadoras escreveram uma carta para a CBF, cobrando igualdade de gênero dentro do futebol. Delas, assinaram Marcia Tafarel, Sissi, Juliana Cabral, Formiga, Cristiane, Fran, Rosana e Andréia Rosa.

Na época, Cris anunciou também sua aposentadoria da seleção, mas acabou voltando mais tarde. Em janeiro deste ano, em entrevista para a ESPN, Cristiane reconheceu que a Confederação realmente mudou algumas coisas, mas ressaltou: “Se não mudar a gente vai cobrar, se não mudar a gente vai falar e vai ser chata, a gente vai falar”.

Dito e feito. A artilheira publicou em sua conta do Instagram uma mensagem logo após Emily Lima expor as péssimas condições de logística que as jogadoras do Santos sofreram. “Copa do Mundo foi linda, todo mundo amou. As pessoas ficaram felizes em conhecer nosso trabalho, porém, aquele oba oba todo acabou. O que tem rolado depois de toda essa passagem? Bagunça”, diz o começo do texto de Cris.

View this post on Instagram

Copa do mundo foi linda, todo mundo amou, as pessoas ficaram felizes em conhecer nosso trabalho, porém aquele oba oba todo acabou. O que tem rolado depois de toda essa passagem? Bagunça, falta de apoio de alguns clubes com as atletas, falta de logística e brasileiro sub 18 jogando de dois em dois dias. E aiiii ??? Será que não tá na hora de realizar uma reciclagem nas pessoas que colocamos para trabalhar com a modalidade no país? Colocar pessoas que queiram realmente mudar esse cenário, pessoas que sejam PROFISSIONAIS. Vai ser sempre na bunda das atletas em ano de competição? Eu acho que tá na hr de darmos as mãos de verdade e brigar por algo melhor. Meu puxão de orelha é pra geral: Confederação, Federações, Clubes e nós atletas em certas situações tmb. Quer ver isso aqui evoluir de verdade? Ganhar uma Copa e uma Olimpíada? Faça por onde desde cedo, planeje nem que seja a longo prazo, mas tentem fazer algo efetivo para mudar o cenário nacional que envolve o futebol feminino!

A post shared by Cristiane Rozeira (@crisrozeira) on

Ela também cobrou uma reciclagem nas pessoas que trabalham com a modalidade no país, algo que ela já havia dito na entrevista de janeiro. “Vamos enxergar as coisas de um modo geral, senta com as atletas e conversem (...) E as pessoas que estejam dentro da modalidade, queiram e tenham o interesse em fazer ela crescer, não coloque pessoas aleatórias. Coloca a pessoa que quer ajudar e desenvolver”.

MANIFESTOS ‘PÓS-COPA’

O discurso de Marta depois da derrota para a França na Copa do Mundo, gerou muitas controversas, mas, por outro lado, pode ter sido um despertar para que outras jogadoras se manifestassem também.

Em entrevista para a ESPN, após derrota do Santos por 3 a 2 pelo rival Corinthians pela 6ª rodada do Campeonato Paulista, em maio, a técnica Emily Lima afirmou que falta união entre os próprios clubes e jogadoras para que o futebol feminino, de fato, seja valorizado.

Na última terça-feira (17), algumas jogadoras das Sereias da Vila publicaram em suas redes sociais indignações com a falta de apoio e profissionalismo, com destaque para o que escreveu Patricia Sochor em texto intitulado de “Nos pedem para ser profissionais”.

Mais tarde, Cristiane decidiu se posicionar nas redes sociais e, ainda nesta manhã, Andressa Alves, recém-contratada pela Roma, também decidiu se manifestar.

Assim como Cris, Andressa deixou claro que ‘o oba oba acabou’ e cobrou valorização de Confederações, Federações e Clubes. “Nos tratem como profissionais, somos atletas, mas antes somos pessoas e temos famílias que precisam da gente. Então por que não podemos falar? Por que temos que aceitar tanta falta de profissionais no comando da modalidade, tanta falta de respeito com o próximo?”

View this post on Instagram

Falaaa galera queria deixar um recado na verdade um pedido, a Copa do mundo acabou e tivemos uma grande apoio das pessoas,realmente foi diferente a forma que vocês torceram e ficamos muitos felizes. Mais o Oba Oba acabou o que vemos é uma falta de respeito, logísticas, somos tratadas de qualquer forma isso é revoltante gostaria de saber porque tanto descaso com a modalidade, O Brasil realmente precisa evoluir Confederação, Federações, Clubes. Nos tratem como profissionais, somos atletas mais antes somos pessoas e temos famílias que precisam da gente. Então porque não podemos falar ? Porque temos que aceitar tanta falta de profissionais no comando da modalidade, tanta falta de respeito com o próximo ? Queremos apenas que nos dê condições de trabalho adequadas, vocês cobram tanto a modalidade pra vencer uma Copa do mundo ou Olimpíadas, e vocês estão certos em cobrar é um esporte de alto nível, representamos nosso país sabemos disso,mas acredite ninguém quer vencer mais do que a gente. Infelizmente quer saber isso está longe de acontecer, o maior motivo é o descaso com a modalidade. O que pedimos é que façam acontecer o crescimento no nosso país, as pessoas amam futebol independente do gênero, que não seja um apoio de 4 em 4 anos só em grandes competições. Seja a mudança para os outros países se espelharem,porque até hoje estamos muito longe de sermos exemplo para o resto do mundo.

A post shared by Andressa Alves (@andressaalves9oficial) on

PROTESTAR PENSANDO NA FUTURA GERAÇÃO

Na entrevista de Cristiane para a ESPN, ela afirmou que, depois da carta para a CBF, algumas coisas mudaram e deu exemplos, como a criação da Série A-2 do Brasileiro, algo inédito no feminino.

Cris recusou propostas de clubes ingleses e também de grandes europeus, como o Lyon e o ex-clube PSG, para vir ao Brasil. Além do desejo de viver perto da família, ela também afirmou ter aceitado jogar no São Paulo pela proposta de um ótimo projeto a longo prazo. Mas além disso, ela também quer ajudar a contribuir com o desenvolvimento da modalidade no país.

“Talvez a minha vinda possa ser a possibilidade de outras meninas quererem retornar e jogar no Brasil, a gente sente muita falta daqui”, disse. “Talvez seja uma porta para outros clubes terem um investimento legal, porque não adianta querer trazer sem investimento”, completou.

Apesar de discordar que os ‘times de camisa’ devam criar times femininos por obrigação, ela aposta que pode ser uma maneira de fazer a modalidade crescer de forma séria.

Para ela, lutar sozinha não faz sentido e, por isso, deixou bem claro que faz tudo pelas futuras gerações: “A gente não tem que fazer para si próprio, você tem que fazer pensando nas meninas, porque eu já fui uma das meninas que hoje sonham em ter as coisas e passam dificuldades”.

MESMO COM MÁS CONDIÇÕES, A VOLTA DE CRIS

Antes de retornar ao Brasil, Cris estava jogando no Changchun Dazhong Zhuoyue, da China. Apesar de estar recebendo bons salários, ela afirmou que não tinha condições de continuar lá, principalmente físicas, já que se lesionou muitas vezes e não teve suporte para se tratar. "Aprendi que dinheiro não é tudo", disse.

Ela contou que, em 2016, teve depressão por uma sucessão de fatos e não queria voltar par a seleção. Vindo lesionada de Paris, jogando as Olímpiadas sem descanso e férias, Cris seria uma veterana a menos para defender as cores verde e amarela.

“Depois dos jogos, ninguém me procurou. Ninguém teve a sensibilidade de me perguntar se estava bem por causa da lesão”. Cris jogou a disputa de terceiro lugar, contra o Canadá, lesionada. E a lesão só piorou.

Ela decidiu se afastar, mas em 2017, retornou sob os comandos de Emily Lima, que foi demitida com 10 meses no cargo de técnica. “Quando ela saiu, de novo, me bateu uma frustração. E as coisas que faltavam ainda. Sempre pedíamos e faltava, eu falei ‘pô, não é possível, se o presidente não tá sabendo o que tá acontecendo, se não tá chegando até ele, vou fazer chegar’ (...) A maneira na qual eu vi, era aquela. Fazer o vídeo, mostrar minha indignação, porque estou aqui dentro há 19 anos”.

Cris gravou uma série de vídeos em seu perfil do Instagram dizendo que havia sido a decisão mais difícil a ser tomada, mas que não tinha mais forças para aguentar. Ela também afirmou nos vídeos que tiraram a comissão sem que as jogadoras conseguissem entender.

Mas a jogadora garante que a opção de ter se aposentado naquela época não era por conta da volta de Vadão e sim, por ter visto tantas coisas erradas dentro da CBF durante anos não serem mudadas. “Não tenho nada contra o professor”, reiterou.

Pós Copa do Mundo, Cristiane deve voltar a jogar pelo São Paulo e pode compor o elenco das Olímpiadas de Tóquio, em 2020. Para ela, ter uma misto de gerações dentro da equipe é importante.

“O professor acha importante ter um grupo para juntar experiência e juventude. Acho isso muito bacana, porque a gente tem muito o que contribuir”, falou Cris, que também afirmou que Formiga é ‘de outro planeta’ e relembra: “Mas tem menina aqui que já tem experiência de Copa e Olimpíada”.

A Copa da França foi a última do trio Formiga, Marta e Cristiane.