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O incrível Uruguai x Gana da Copa do Mundo de 2010 feriu profundamente a África e agora pode selar o fim da 'Era Suárez/Cavani'

Luis Suárez salva bola em cima da linha com a mão em duelo contra Gana na Copa do Mundo de 2010 Getty Images

Comentarista dos canais ESPN conta como Gana poderá colocar fim na geração de Cavani e Suárez no Uruguai


Eu estava no aeroporto de Porto Elizabeth, pequena cidade litorânea onde poucas horas antes o Brasil havia sido eliminado pela Holanda nas quartas de final, quando começou em Johanesburgo o duelo que valia a segunda vaga para as semifinais da Copa do Mundo de 2010, na África do Sul: Uruguai x Gana. Era uma sexta-feira 2 de julho e fazia frio.

Enquanto esperava a chamada para o voo, consegui ver na sala de espera as imagens dos primeiros minutos da partida. Era o início da ‘Era Suárez/Cavani’ na Celeste, embora o craque do time fosse Diego Forlán, que ganhou a chuteira de ouro como melhor jogador daquele Mundial.

Cavani, para se encaixar no time, jogava aberto pela esquerda, ajudando na recomposição defensiva. O time do Maestro Óscar Tabarez alternava entre o 4-4-2 sem a bola e o 4-3-3 no ataque. E o posicionamento de Edinson era o que diferenciava os sistemas. Chamaram o embarque, e eu fui embora chateado com o fracasso do time de Dunga e sem poder acompanhar a seleção campeã das Copas de 1930 e 1950, esta última no Brasil e contra o Brasil na final.

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Enquanto eu decolava, no último minuto do primeiro tempo o atacante Muntari, camisa 11 de Gana, aproveitou que os volantes charrúas deram espaço e mandou uma bomba lá de longe (a cerca de 35 metros do gol). A bola quicou na entrada da pequena área, e o goleiro Muslera nem chegou perto de defendê-la. Na Copa da África, um país do continente estava a caminho de uma semifinal inédita.

Mas a comemoração não durou muito mais que o intervalo. No início do segundo tempo o lateral-esquerdo uruguaio Fucile sofreu uma dura falta de Pantsil (que levou cartão amarelo), na quina da área. Todo mundo esperava um cruzamento, mas Forlán arriscou direto e contou com a ajuda da misteriosa bola Jabulani para encobrir o goleiro Kingson, empatando o jogo.

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O tempo regulamentar terminou assim. Veio a prorrogação, e a igualdade se arrastou até os 119 minutos e 33 segundos. Foi quando o atacante ganês Adiyiha recebeu a bola pela direita e caiu ao se aproximar do mesmo Fucile. O árbitro português Olegário Benquerença marcou falta sob imensos protestos do lateral celeste. A transmissão não mostrou replay do lance. Era a última chance do jogo.

A África inteira estava em campo quando Pantsil levantou a bola na primeira trave. Kevin Prince Boateng ganhou de Diego Pérez e desviou de cabeça para o meio da pequena área. Muslera saiu atrasado e socou o vento. Suárez correu para a linha do gol e salvou com o joelho o chute à queima roupa de Appiah, mas a bola subiu e o mundo parou para ver quem chegaria nela primeiro.

Foi mais uma vez Adiyiha quem ganhou a disputa com uma forte cabeçada no alto, meio do gol. Muslera estava fora, mas além de Suarez, Fucile também tinha corrido para a última linha. O lateral esticou o braço esquerdo e não alcançou. O atacante usou as mãos para espalmar a pelota e salvar o que seria o gol da vitória de Gana.

Imediatamente expulso pelo pênalti cometido, Suárez saía chorando a caminho do vestiário quando ouviu a reação assustada da plateia no Estádio Soccer City. A cobrança de Asamoah Gyan explodiu no travessão e saiu.

Em seguida, o árbitro apitou o final do jogo. A decisão iria para os pênaltis, obviamente vencidos por um Uruguai muito mais confiante. Tanto que a última cobrança teve a audácia da cavadinha de Loco Abreu, repetindo a cobrança que tinha feito no Maracanã meses antes quando deu ao Botafogo o título carioca na final contra o Flamengo.

E eu? Quando desembarquei em Johanesburgo não tinha só ‘perdido’ a vaga do Brasil, mas também o maior jogo daquela Copa: o duelo de entrou para a história como um dos mais inusitados e emocionantes, mas deixou suas cicatrizes no futebol africano - que nunca mais teve uma chance tão grande de se classificar para as semifinais.

Estamos em 2022. O ciclo Suárez/Cavani vive seu último capítulo em Mundiais. E o confronto contra a seleção de Gana pode ser o último da dupla histórica na maior competição de futebol do planeta. Os dois, ao lado de Muslera, Godín e Cáceres, formam o quinteto de remanescentes no elenco celeste, ao contrário de Gana, hoje totalmente renovada. Mas com sede de revanche.

São as ironias do destino que o futebol e a vida proporcionam. Aquele Uruguai de 2010 parou na fase seguinte, derrotado pela Holanda e depois na disputa do terceiro lugar pela Alemanha. Aquele jogo foi, portanto, o marco de uma geração. E este pode ser o fim. Ou um renascimento. É esperar e ver o jogo, uma verdadeira decisão, na sexta-feira 2.