Brasil X México: a disputa que vai muito além da Copa do Mundo

Na economia, os dois países já têm uma competição antiga e agora o cenário político também se mostra muito parecido nas duas nações

Rodrigo Tolotti

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SÃO PAULO – Na próxima segunda-feira (2), a seleção brasileira inicia sua disputa no mata-mata da Copa do Mundo contra o México, um adversário já tradicional em campo – são 4 jogos em mundiais, sem nenhuma derrota. Mas o que se vê nos últimos anos é também uma concorrência forte com os mexicanos fora das 4 linhas, incluindo não só uma corrida pelo melhor desempenho econômico, mas também pela atratividade de investimentos.

Se nos gramados a vantagem brasileira é clara, na economia e política a história é completamente diferente. Juntos, Brasil e México correspondem a mais de 60% do PIB (Produto Interno Bruto) da América Latina e metade da população da região, mas desde o século XX há um clima de disputa entre as duas economias. Enquanto apenas 2% das exportações brasileiras são para o México, o caminho é inverso é feito por apenas 1% do total exportado pelos mexicanos.

Por serem as duas maiores economias da América Latina, é comum ver os dois países disputando atenção não só de parceiros econômicos, mas também de investidores, e tanto para um quanto para o outro, os últimos anos não foram nada fáceis. Para se ter uma ideia, o México tem um dos parques industriais mais desenvolvidos do mundo, e tem grandes condições para exportar muitos produtos manufaturados que o Brasil importa, mas que hoje ainda é feita com outros países.

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No campo político, a história das duas nações começam a se encontrar e antes mesmo da partida pela Copa do Mundo, veremos um passo importante neste “confronto”. No domingo (1) os mexicanos vão às urnas para escolher seu novo presidente, e o candidato de esquerda Andrés Manuel López Obrador é apontado como o grande favorito.

Mais do que o pleito, é interessante ver a coincidência de pensamento entre os dois países. Diante de complicações econômicas e os temores da renegociação do Nafta (que se acabar pode afundar o México em uma crise), os eleitores querem escolher agora um nome que possa ser “diferente” dos políticos tradicionais.

Com isso, Obrador tem grande força e, segundo pesquisas e cientistas políticos, deve ser o vencedor. Para muitos especialistas, ele pode ser chamado de “Lula mexicano”. Se o petista tentou três vezes antes de conseguir ser eleito, o mexicano chega agora à sua terceira eleição na tentativa de finalmente se tornar presidente.

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Conhecido também pelo acrônimo AMLO, Obrador também trava uma dura briga, assim como Lula, contra os mercados e o mundo empresarial mexicano. Não é raro ver críticas de executivos contra ele, que sempre responde à altura. Porém, apesar de não ser o favorito do mercado, neste sentido o México sai na frente do Brasil, que afasta cada vez mais os investidores diante de suas incertezas políticas.

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Segundo analistas consultados pela Bloomberg, os riscos – incluindo a possível vitória de AMLO – foram totalmente precificados para os ativos mexicanos. Por outro lado, no Brasil espera-se que as ações continuem sofrendo antes das eleições de outubro. Para o gestor de recursos da AllianceBernstein, Morgan Harting, as preocupações com a política fiscal e monetária no Brasil exigem um prêmio de risco mais alto para que os ativos se tornem atrativos.

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E a preferência pelo México neste momento é cada vez mais clara. No início deste mês, o Bank of America Merrill Lynch ajustou sua alocação na América Latina, rebaixando as ações brasileiras de neutras para underweight e elevando as ações do México de neutras para overweight.

Apesar de toda essa disputa, o que se vê nos últimos dois anos é uma tentativa de aproximação entre México e Brasil, que ainda é muito gradual. Porém, as políticas de Donald Trump e o risco do fim do Nafta pode acelerar esta postura mais amigável entre ambas as economias, mesmo que para os investidores ainda seja preciso escolher entre um e outro.

Brasil favorito na Copa – mas retrospecto geral não ajuda

Dentro das quatro linhas, a seleção brasileira é favorita não só por ter – na teoria – os melhores jogadores, mas também pelo histórico. Em quatro confrontos por Copas do Mundo, o Brasil venceu três vezes o México e empatou uma vez. Melhor ainda, nenhuma vez os mexicanos conseguiram marcar um gol: 4×0 em 1950, 5×0 em 1954, 2×0 em 1962 e 0x0 em 2014. Todas as partidas ainda na fase de grupos.

Porém, quando deixamos as Copas de lado, o cenário muda bastante. Desde 2001 foram 14 confrontos entre as duas seleções, com seis vitórias para os mexicanos, cinco para o Brasil e três empates. Em competições sem ser a Copa, a situação complica bastante.

São quatro finais disputadas nos últimos 22 anos, e os brasileiros perderam todas: 2×0 na Copa Ouro de 1996; 4×3 na Copa das Confederações de 1999; 1×0 pela Copa Ouro de 2003; e 2×1 na Olimpíada de 2012. O próximo capítulo será na segunda-feira, o Brasil manterá sua escrita em Copas do Mundo ou o México manterá o histórico de vitórias em decisões?

Rodrigo Tolotti

Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.