A LENDA ABORÍGENE SOBRE O INSELBERG ULURU

A LENDA ABORÍGENE SOBRE O INSELBERG ULURU

“No início, o povo Mala, cujo nome provém do rufous hare-wallaby, espécie de marsupial semelhante a um pequeno canguru, hoje extinto na Austrália, caminhou da região Norte até uma caverna, considerada sagrada, no deserto existente na Austrália Central, para realizar uma cerimônia de iniciação (Inma).

Parte dos homens fez, decorou e ergueu o mastro cerimonial (Ngaltawata), dando início à Inma. Outro grupo saiu para caçar e um terceiro acendeu fogueiras e se pôs a consertar ferramentas e armas. De seu lado, as mulheres Mala, proibidas de participar dos rituais para não enfraquecer a força dos espíritos ancestrais que seriam invocados, acamparam com suas crianças em uma outra caverna, onde prepararam e armazenaram bolos de sementes (nyuma).

Em meio a esses preparativos, dois homens Wintalka (outro clã aborígene) se aproximaram e convidaram o povo Mala a participar de sua cerimônia. O convite foi recusado porque a Inma dos Mala já havia começado e, segundo a tradição, não poderia ser interrompida. Ao saber da negativa, que consideraram uma afronta, feiticeiros do povo Wintalka conjuraram um espírito maligno – o enorme cão-demônio chamado Kurpany, para atacar os Mala.

Enquanto Kurpany viajava em direção ao povo Mala, ia assumindo diferentes formas para se camuflar. Ainda assim, a deusa Luunpa, que tinha a aparência de um martim-pescador, pássaro típico da Oceania, conseguiu identificá-lo. Ela tentou alertar o povo Mala do perigo, mas ninguém lhe deu ouvidos e dois guerreiros acabaram sendo mortos. O restante do povo Mala fugiu para o sul da Austrália, tendo Kurpany em seu encalço.

O espírito desses ancestrais permanece no local da antiga Inma. Luunpa ainda vigia, mas agora ela é a grande rocha Uluru, em cuja superfície é possível ver as pegadas de Kurpany em direção ao sul, na perseguição ao povo Mala.”

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Foto1 (Earth Observatory/Nasa)

Essa é uma das lendas contadas pelos guias turísticos, muitos deles aborígenes, quando se chega aos pés do majestoso Uluru (Foto 1), rocha em cujo redor os Mala viveram por ao menos 30 mil anos, dando origem ao clã Anangu, que ainda habita o local. Uluru fica no Parque Nacional de Uluru-Kata Tjuta, próximo à cidade de Yulara. É o segundo maior monólito – definição rejeitada por geólogos, já que a denominação cientificamente correta é a de inselberg (montanha insular) – do mundo, atrás somente do Monte Augustus, na Austrália Ocidental.

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Foto2 (Cultural Heritage Online)

A formação possui 348 m de altura, 9,4 km de perímetro, elevando-se a 863 m acima do nível do mar e pode ter cerca de 2,5 km de extensão enterrados no subsolo. A rocha – originalmente cinza – parece mudar de cor em diferentes momentos do dia e do ano e ganha um tom avermelhado ao amanhecer e ao pôr do sol, devido ao óxido de ferro contido no arenito (Foto 2).

O arenito predominante em sua composição é do tipo arcósico, contendo abundância de feldspato (50% em média), 25 a 35% de quartzo e até 25% de fragmentos de rocha. Com o passar dos anos, a deformação dos sedimentos originais acabou por transformar as camadas ou planos de estratificação dos sedimentos (areia e cascalho), que originalmente eram horizontais em verticais.

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Foto3 (Matthew Drinkall)

Devido a sucessivos processos de erosão, a rocha possui hoje inúmeras fendas, cisternas e cavernas (Foto 3). Também é possível encontrar várias pinturas rupestres (Foto 4) realizadas por seus habitantes originários.

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Foto 4 (Stacey MacGregor/Reuters)

Entre novembro e março, principalmente, a ocorrência frequente de chuvas acaba formando cachoeiras semelhantes a fios prateados nas encostas do maciço (Fotos 5 e 6).

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Foto 5 (Daily Mail)
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Foto 6 (Michael J Barritt)

Uluru foi inicialmente chamado de Ayers Rock pelo explorador William Gosse, em 1873, em homenagem ao secretário-chefe da Austrália do Sul à época, sir Henry Ayers. O mesmo nome foi dado ao parque nacional criado pelo governo australiano em 1950. Em 1958, foi acrescentado o nome de Kata Tjuta, outro grupo de formações rochosas próximo a Uluru.

Em 1976 entrou em vigor a Lei dos Direitos Territoriais dos Aborígenes, reconhecendo seus direitos de propriedade de terras e manejo dos recursos nelas existentes. Apenas em 1985, os Anangu conseguiram recuperar a propriedade de Uluru-Kata Tjuta, após concordarem com seu arrendamento ao governo por 99 anos.

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