Estudo inédito no Brasil comprova benefícios do contato com a natureza

Publicado em 10/09/2020

Sabe aquela sensação de bem-estar e felicidade depois de uma caminhada em meio à natureza? Um estudo inédito no Brasil, feito pela Universidade de Brasília e publicado na última edição da Heringeriana, revista científica do Jardim Botânico de Brasília, comprovou por meio de indicadores fisiológicos e testes psicológicos que praticar atividades em ambientes naturais traz inúmeros benefícios à saúde.

O palco desse trabalho foi o Cerrado preservado do Parque Nacional de Brasília.  O coordenador da pesquisa, professor Reuber Albuquerque Brandão, doutor em Ecologia pela UnB, explicou que estudos feitos em outros países já vinham demonstrando que cenários naturais contribuem para o bem-estar cognitivo e emocional das pessoas. Mas pela primeira vez um estudo brasileiro reconhece que a natureza presta um serviço importante para a saúde pública. E com os resultados da pesquisa é possível valorizar os argumentos da importância da preservação do meio ambiente.

“Sabíamos que já existiam indicadores e trabalhos demostrando essa relação benéfica em outras partes do mundo, mas não no Brasil, e queríamos testar isso aqui. O ser humano evoluiu em ambiente de savana, então é esperado que fosse mais agradável do que ambiente de florestas densas que podem causar claustrofobia. E o Cerrado é uma savana, um hotspot mundial da biodiversidade”, argumentou.

Segundo Reuber, a teoria da biofilia explica que, desde os primórdios, existe a percepção de que ambientes com mais recursos naturais e que fornecem mais alimento, abrigo e água proporcionam melhores condições de vida. Ao longo da história evolutiva, o ser humano acabou desenvolvendo uma recompensa psicológica associada ao contato com a natureza, especialmente lugares com maior riqueza de biodiversidade.

Testes psicológicos

Para comprovar os benefícios, os pesquisadores da UnB levaram 30 estudantes da universidade, escolhidos aleatoriamente, para passar 30 minutos no Parque Nacional de Brasília e depois 30 minutos caminhando no Setor Comercial Sul em dias alternados e sem aviso prévio.

“Antes das caminhadas nos dois ambientes (urbano e natural) a gente aplicou testes para medir o estado dos estudantes e depois fizemos a comparação para saber se aconteceu alguma mudança”, complementou.

Para fazer o estudo, foram utilizadas ferramentas da psicologia como testes de autoavaliação de felicidade, no qual participantes informam suas emoções seguindo uma escala, de foco e atenção, para medir a capacidade de concentração, e outro para causar cansaço mental nos voluntários, com o intuito de verificar a capacidade de restauração após os passeios.

E o resultado comprovou que após a caminhada no ambiente urbano, os voluntários reportaram diminuição das boas sensações, como felicidade, e aumento de sensações negativas, como agressividade e medo.

E após a atividade pelo ambiente natural, houve relatos de aumento da felicidade e emoções positivas, sensação de relaxamento e empatia com as pessoas e vontade de passar mais tempo no local. Além disso, os participantes tiveram melhores avaliações nos testes de foco.

“Há dois resultados importantes: o primeiro é que o contato com a natureza presta um serviço ecossistêmico e traz bem estar e sensações de liberdade e alegria. E isso em qualquer local com algum grau de diversidade seja no ambiente natural ou parques urbanos. O segundo é o efeito terapêutico que esses ambientes proporcionam, sendo uma poderosa ferramenta de saúde publica e acessível a diferentes classes sociais”, argumentou.

Preservação

Para o professor, as pessoas até percebem os benefícios do contato com a natureza, mas não têm a dimensão que isso causa na sociedade como um todo, pois além da saúde, existe a questão da preservação e conservação da biodiversidade. “Esse é o ganho em última escala. Quando as pessoas estão imersas no meio ambiente, elas acabam desenvolvendo mais empatia e, com isso, entendem a importância de preservar”, reforçou.

Reuber relatou, ainda, que é fato que quanto mais oportunidade de natureza na vida das pessoas, menores serão os eventos de depressão e tristeza. Isso sem falar nas questões imunológicas. “Desenvolvemos vários tipos de defesas estando no mato, brincando com terra, plantas e bichos. A natureza sempre fez parte da nossa história como espécie e essa nossa vida moderna e civilizada está cada vez mais cortando esse contato e não sabemos qual será o impacto disso”, concluiu.

Além do papel de fornecer recursos naturais, a natureza é essencial para a saúde do ser humano e estimular esse contato pode melhorar a qualidade de vida de toda a população e dos ecossistemas.

Revista Heringeriana

O artigo completo está na última edição da revista Heringeriana. Leia aqui!

A publicação é um dos pré-requisitos para a manutenção da classe A do JBB na classificação dos Jardins Botânicos do Brasil. A regulamentação é feita pelo CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e estabelece critérios técnicos como infraestrutura, qualificações do corpo técnico e pesquisadores, entre outros.

A diretora-executiva do Jardim Botânico, Aline De Pieri, acredita que esse é um dos grandes trabalhos desenvolvidos pela instituição. “A cada edição, publicamos artigos importantes para a biodiversidade e que contribuem com a preservação do meio ambiente, especialmente do Cerrado. A Heringeriana é um verdadeiro patrimônio do DF e nosso esforço tem sido no sentido de valorizar cada vez mais a pesquisa”, ressaltou.